908 Natalia Martinuzzi Castilho & Alex Silveira Filho O segundo componente consiste no capitalismo mundial, não somente como relação social, mas como uma totalidade heterogênea, um complexo no qual todas as formas de exploração social produzem mercadorias para um novo mercado mundial sob hegemonia do capital (QUIJANO, 2009, p. 6). O capitalismo mundial pode ser entendido como todo lugar hegemônico em que o capital como relação social possui uma configuração na qual estão presentes todas as demais formas historicamente conhecidas de exploração do trabalho. Formas concebidas pela racionalidade eurocêntrica enquanto précapitalistas foram, e continuam sendo articuladas, na matriz colonial de poder, para servir aos propósitos e necessidades do capital13. O entendimento dessa matriz colonial de poder proporciona um desvelamento dos elementos que determinam a fragilização dos direitos humanos assegurados constitucionalmente, como o direito à moradia, frente às pressões do mercado internacional em torno dos negócios lucrativos e oportunos que se tornaram os megaeventos esportivos a partir dos anos 90. Outro aspecto determinante para as renovações e rearticulações da matriz colonial de poder nos países periféricos como o Brasil consiste nas descontinuidades do processo de nacionalização e democratização desses países. O processo de independência dos Estados na América Latina não foi, portanto, um processo em direção ao desenvolvimento dos Estados-nação modernos, mas uma rearticulação da colonialidade do poder 13 em <http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/161/artigo2424971.asp>. Acesso em 01 de fevereiro de 2013. “Por ejemplo, el trabajo asalariado existe hoy, como al comienzo de su historia, junto con la esclavitud, la servidumbre, la pequeña producción mercantil, la reciprocidad. Y todos ellos se articulan entre sí y con el capital. El propio trabajo asalariado se diferencia entre todas las formas históricas de acumulación, desde la llamada originaria o primitiva, la plusvalía extensiva, incluyendo todas las gradaciones de la intensiva y todos los niveles que la actual tecnología permite y contiene, hasta aquellos en que la fuerza viva de trabajo individual es virtualmente insignificante. El capitalismo abarca, tiene que abarcar, a todo ese complejo y heterogéneo universo bajo su dominación.” (QUIJANO, 2000, p.350). I Seminário Internacional de Direitos Humanos e Democracia Os Direitos Humanos e a sua Proteção 25 e 26 de abril de 2013