UMinho | 2014 de um Laboratório de Análises e de um Ana Sofia Quintão Implementação Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Universidade do Minho Escola de Engenharia Ana Sofia Quintão Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Outubro de 2014 Universidade do Minho Escola de Engenharia Ana Sofia Quintão Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Dissertação de Mestrado Mestrado Integrado em Engenharia Biológica Trabalho Efetuado sob a orientação do Professor Doutor Nuno Cerca e da Doutora Lara Gonçalves Outubro de 2014 Declaração RepositóriUM: Dissertação de Mestrado Nome: Ana Sofia Silva Quintão N.º do Cartão de Cidadão/BI: Correio eletrónico: Curso: 13981179 Telefone/Telemóvel: 915495387 [email protected] Mestrado Integrado em Engenharia Biológica Área de Especialização: Ano de conclusão da dissertação: 2014 Ramo Tecnologia Química e Alimentar Escola de Engenharia, Departamento/Centro: Engenharia Biológica TÍTULO DA DISSERTAÇÃO/TRABALHO DE PROJETO Título em PT: Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Título em EN: Implementation of a Laboratory of Analysis and a System of Capsules in a Company of the Coffee Industry Orientador: Nuno Cerca Coorientador: Número de Unidades ECTS da Dissertação: Classificação ECTS com base no percentil (A a F): 30 Classificação em valores (0 a 20): 18 A- Declaro sob compromisso de honra que a dissertação agora entregue corresponde à que foi aprovada pelo júri constituído pela Universidade do Minho, UM. Declaro que concedo à Universidade do Minho e aos seus agentes uma licença não-exclusiva para arquivar e tornar acessível, nomeadamente através do seu repositório institucional, nas condições abaixo indicadas, a minha dissertação, em suporte digital. Concordo que a minha dissertação seja colocada no repositório da Universidade do Minho com o seguinte estatuto (assinale um): 1. Disponibilização imediata do trabalho para acesso universal; 2. Disponibilização do trabalho para acesso exclusivo na UM, durante o período de 1 ano, 3. 2 anos ou 3 anos, sendo que após o tempo assinalado autorizo o acesso universal. Disponibilização do trabalho de acordo com o Despacho RT-98/2010 c) (embargo # anos) Braga, 15 de Dezembro de 2014 Assinatura:_______________________________________ ii AGRADECIMENTOS Este segmento é dedicado a todos os que contribuíram para a realização desta dissertação, a todos eles deixo aqui o meu agradecimento. Agradeço desde já ao Professor Nuno Cerca pela orientação ao longo de todo o trabalho, pelo seu positivismo, disponibilidade e simpatia. Agradeço à Dra. Lara Gonçalves pela oportunidade que me proporcionou e pelos conhecimentos partilhados e também à empresa Meltino Café, desde à administração até aos colaboradores, que mostraram sempre grande disponibilidade e apoio ao longo dos 6 meses de estágio. Um agradecimento especial aos meus pais pelo apoio, confiança e tolerância incondicional. Um enorme obrigado ao Pedro Malheiro pelos “Cafés Computador” que tanto me ajudaram na elaboração desta dissertação e pelo otimismo, confiança, paciência e disponibilidade que teve comigo ao longo deste trabalho. Finalmente agradeço também aos meus amigos, em especial à Isabel Carvalho e à Filipa Peixoto pela amizade e por me ajudarem sempre que precisei. iii RESUMO O café é um produto altamente relevante para a economia mundial, envolvendo grandes movimentações financeiras em todo o mundo. Aliado ao aumento do seu consumo e à concorrência existente no segmento, isto leva a que as empresas se preocupem cada vez mais com a segurança alimentar e a qualidade do café. Assim sendo, surge a necessidade de analisar o café química, física e sensorialmente, de modo a certificar que este se encontra nas melhores condições para ser comercializado. Paralelamente a este crescimento de mercado e à exigência dos consumidores, o consumo de café em ambiente doméstico é cada vez mais uma tendência dos últimos anos. Surge assim um novo nicho de mercado – O sistema de cápsulas. Este é consequência de um maior consumo alimentar dentro do lar, mas principalmente da queda das patentes Nespresso e do desenvolvimento da oferta de café em cápsulas. Neste contexto, a empresa Meltino Café propõe a implementação de um laboratório de análises de café nas suas instalações juntamente com a implementação do sistema de cápsulas. Relativamente à implementação do laboratório de análises concluiu-se que a curto prazo seria pouco rentável para a empresa uma vez que os custos associados eram elevados. Quanto à implementação do sistema de cápsulas mostrou-se uma tarefa bem-sucedida uma vez que tanto a aquisição da máquina de cápsulas como o início da produção ficaram garantidos. PALAVRAS-CHAVE Café; Qualidade e Segurança alimentar; Análises físico-químicas; Sistema de Cápsulas de Café v ABSTRACT Coffee is a highly relevant product in the world’s economy, since it involves large financial transactions around the globe. Along with the increasing consumption of the product and the highly competitive market, companies are now more worried about food safety and the quality of the coffee. Therefore the coffee is analyzed chemically, physically and sensorially to make sure it is in the best condition when sold in the market. Matching this market growth and consumer’s demands is the new trend of drinking coffee in a homely environment. This leads to a new market niche – The capsules system. This is a consequence of the increasing food consumption at home, but mostly due to the fact that Nespresso patents have expired and the development of other coffee capsules. Therefore, Meltino Café company suggested the implementation of a laboratory in their premises with the objective of analyzing the coffee along with the implementation of a capsules system. The implementation of the laboratory was not possible since it would be unprofitable for the company in the short-term. Regarding the capsules system, it was a successful task since the production was secured along with the acquisition of the capsules machine KEYWORDS Coffee; Food Quality and Safety; Physico-chemical Analysis; Capsule Coffee System vii ÍNDICE Agradecimentos .................................................................................................................................. iii Resumo............................................................................................................................................... v Abstract............................................................................................................................................. vii Índice de Figuras .............................................................................................................................. xiii Índice de Tabelas .............................................................................................................................. xv Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrónimos .........................................................................................xvii 1. 2. Introdução .................................................................................................................................. 1 1.1. Motivação da Dissertação .................................................................................................... 1 1.2. Objetivos da Dissertação ..................................................................................................... 2 1.3. Estrutura da Dissertação ..................................................................................................... 2 Enquadramento Teórico .............................................................................................................. 3 2.1. A Empresa Meltino Café ...................................................................................................... 3 2.1.1. História ....................................................................................................................... 3 2.1.2. Missão ........................................................................................................................ 3 2.1.3. Visão ........................................................................................................................... 4 2.1.4. Valores ........................................................................................................................ 4 2.1.5. Política de Gestão ........................................................................................................ 4 2.1.6. Processo ..................................................................................................................... 4 2.1.7. Cafés Meltino – Lotes em Grão .................................................................................... 4 2.2. História do Café .................................................................................................................. 5 2.3. Mercado do Café ................................................................................................................. 6 2.3.1. No Mundo ................................................................................................................... 6 2.3.2. Em Portugal ................................................................................................................ 9 2.3.3. Novo Nicho de Mercado – Sistema de Cápsulas de Café ............................................ 12 2.4. Planta do Café................................................................................................................... 13 2.4.1. Coffea arabica ........................................................................................................... 14 2.4.2. Coffea canephora ...................................................................................................... 14 2.5. Da Planta ao Café Verde .................................................................................................... 15 ix 2.5.1. Cultivo ....................................................................................................................... 15 2.5.2. Colheita ..................................................................................................................... 16 2.5.3. Processamento .......................................................................................................... 16 2.5.4. Transporte ................................................................................................................. 18 2.6. 2.6.1. Receção do Café Verde .............................................................................................. 18 2.6.2. Armazenamento do Café Verde .................................................................................. 19 2.6.3. Limpeza .................................................................................................................... 19 2.6.4. Torrefação ................................................................................................................. 19 2.6.5. Arrefecimento ............................................................................................................ 19 2.6.6. Produção dos Lotes ................................................................................................... 20 2.6.7. Moagem .................................................................................................................... 20 2.6.8. Embalagem do Café Torrado...................................................................................... 20 2.6.9. Descafeinização ......................................................................................................... 21 2.7. 4. Caracterização Físico-química do Café Verde e do Café Torrado ......................................... 22 2.7.1. Café Verde................................................................................................................. 22 2.7.2. Café Torrado ............................................................................................................. 25 2.8. 3. Do Café Verde ao Café Torrado.......................................................................................... 18 Técnicas de análise do Café .............................................................................................. 28 2.8.1. Análises Físicas ......................................................................................................... 29 2.8.2. Análises Químicas ..................................................................................................... 30 2.8.3. Análise Sensorial ....................................................................................................... 32 Implementação do Laboratório de Análises de Café ................................................................... 34 3.1. Listagem dos Materiais ...................................................................................................... 34 3.2. Levantamento dos recursos existentes na empresa ............................................................ 35 3.3. Custos de Manutenção ...................................................................................................... 35 3.4. Custo das Análises no Laboratório Externo ......................................................................... 36 3.5. Orçamento ........................................................................................................................ 36 3.6. Realização das análises possíveis ...................................................................................... 38 3.7. Conclusões ....................................................................................................................... 40 Implementação do Sistema de Cápsulas ................................................................................... 42 x 4.1. Planeamento ..................................................................................................................... 42 4.2. Desenvolvimento de Conceito ............................................................................................ 43 4.3. Desenho de Sistemas e Desenho Detalhado ...................................................................... 45 4.4. Teste e Refinamento.......................................................................................................... 45 4.5. Início Produção ................................................................................................................. 45 4.6. Conclusões ....................................................................................................................... 46 Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 47 Anexo I – Implementação do Laboratório de Análises ........................................................................ 49 Anexo II – Implementação do Sistema de Cápsulas ........................................................................... 58 xi ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Instalações da empresa Meltino Café em Vila de Prado (3) ................................................. 3 Figura 2 – Os 20 maiores produtores mundiais de café verde em 2012 (7) ......................................... 6 Figura 3 – Os 20 maiores exportadores mundiais de café (verde, torrado, moído, etc.) em 2012 (8).... 7 Figura 4 – Os 20 maiores importadores mundiais de café (verde, torrado, moído, etc.) em 2012 (11) . 7 Figura 5 – Os 20 maiores reexportadores mundiais de café (verde, torrado, moído, etc.) em 2012 (12) .......................................................................................................................................................... 8 Figura 6 – Os 20 países importadores que mais consumiram café em 2012 (13)................................ 9 Figura 7 – Consumo Mundial de café de 2002 a 2012 (13) (14) ......................................................... 9 Figura 8 – Importação de café (verde, torrado, moído, etc.) de todas as origens para Portugal, de 2002 a 2012 (11) (15) .............................................................................................................................. 10 Figura 9 – Reexportação de café (verde, torrado, moído, etc.) de Portugal para todos os destinos, de 2002 a 2012 (12) (16) ..................................................................................................................... 10 Figura 10 – Consumo de café em Portugal de 2002 a 2012 (13) (14) .............................................. 11 Figura 11 – Penetração do café em cápsulas em Portugal de 2010 a 2013 (22) ............................... 13 xiii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Composição química do Café Verde arabica e robusta (30) .............................................. 23 Tabela 2 – Listagem do Material necessário à realização das análises propostas e respetivas especificações .................................................................................................................................. 35 Tabela 3 – Principais Custos de Manutenção associados a um laboratório de análise de café ............ 36 Tabela 4 – Nome da empresa, contacto e respetiva resposta de todas as empresas a quem foram pedidos orçamentos relativamente aos equipamentos e materiais precisos........................................ 37 Tabela 5 – Material necessário, respetivos preços e especificações para a implementação de um laboratório de análises ...................................................................................................................... 38 Tabela 6 – Peso e Percentagem de Defeitos em 300 gramas de Café Verde do Lote Brasil ................ 39 Tabela 7 – Tipo de Defeito, Número e Número de Defeitos Correspondentes em 300 gramas de Café Verde do Lote Brasil ......................................................................................................................... 40 Tabela 8 – Recursos Materiais, Humanos e Tecnológicos necessários para a realização das experiências/testes protótipo ............................................................................................................ 43 Tabela 9 – Resultados das experiências relativas ao Desenvolvimento de Conceito realizadas na empresa Meltino Café ....................................................................................................................... 44 xv LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS °C - Graus Celsius ABIC - Associação Brasileira da Indústria do Café AOAC - Association of Official Analytical Chemists EN - Norma Europeia g - Grama h - Hora HPLC - High-Performance Liquid Chromatography (Cromatografia Líquida de Alta Eficácia) ICO - International Coffee Organization ISO - International Organization for Standardization kg - Quilograma m/m - Massa por massa mg - Miligrama mL - Mililitro NP - Norma Portuguesa OHSAS - Occupational Health and Safety Assessment Services UV – Ultravioleta IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado POP - Procedimento Operacional Padrão COB - Classificação Oficial Brasileira xvii Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 1. INTRODUÇÃO 1.1. Motivação da Dissertação O café está entre as bebidas mais consumidas no mundo. Este é conhecido como um estimulante, propriedade que lhe é atribuída, sobretudo, devido à substância psicoativa cafeína. Embora não pertença ao grupo dos principais produtos agrícolas, como é o caso do trigo, arroz, óleos ou açúcar, com volumes de produção mundial muito superiores, o café ocupa um lugar de relevo no comércio internacional. O café é produzido principalmente em países de clima tropical do hemisfério sul, como o Brasil, Indonésia, Etiópia, México, Índia e outros, no entanto é mais consumido em países de clima frio e mais desenvolvidos do hemisfério norte como a União Europeia, o Japão e os Estados Unidos da América. Nos últimos 10 anos o consumo global de café cresceu a uma taxa média de 2,3% ao ano (1). Em Portugal o consumo per capita é de 4,1 kg/ano, fazendo deste, um país consumidor de café por excelência. O mercado nacional de café é disputado por diversas empresas concorrentes (Delta cafés, Nestlé, Nutricafés, New coffee, entre outras) (2). Estas dedicaram-se a este segmento de mercado, devido à longa tradição que o café tem entre o povo português. O crescimento de mercado e a exigência dos consumidores conduz à necessidade de sistemas de qualidade. Assim sendo, e de modo a garantir a segurança alimentar e a qualidade do café, as empresas deste segmento têm de adotar padrões de qualidade. Alguns destes padrões de qualidade exigem alguns requisitos que se traduzem-se em análises químicas, físicas e sensoriais, que devem ser realizadas por laboratórios, de acordo com as normas existentes para o efeito. Paralelamente a este crescimento de mercado surge um novo nicho, o sistema de cápsulas. Este nicho de mercado emerge como uma consequência de um maior consumo alimentar dentro do lar, bem como da queda das patentes Nespresso e do desenvolvimento da oferta de café em cápsulas. Tudo isto indica que o consumo de café em ambiente doméstico é uma tendência dos últimos anos, fazendo com que cada vez mais empresas do segmento invistam neste novo nicho de mercado. 1 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 1.2. Objetivos da Dissertação Os objetivos deste projeto foram a implementação de um laboratório de análises de café e de um sistema de cápsulas na empresa portuguesa Meltino Café. A implementação do laboratório implicou a elaboração de um estudo de mercado, o contato com fornecedores de modo a obter os custos associados aos materiais necessários, levantamento dos meios necessários às análises do café, presentes até à data na empresa, e realização das análises possíveis. Simultaneamente, efetuou-se a conceção do produto de acordo com uma metodologia de desenvolvimento de processos. Esta metodologia contempla seis fases, desde o planeamento até ao início de produção, no entanto, na presente dissertação, apenas serão descritas com pormenor as duas primeiras fases. Esta conceção de produto tem o objetivo de contribuir para a implementação de um sistema de cápsulas de café devidamente ajustado aos interesses e à realidade da empresa. 1.3. Estrutura da Dissertação Esta dissertação encontra-se dividida nos seguintes capítulos: Capítulo 1 – Faz uma breve introdução à dissertação, apresentando a motivação e os objetivos da mesma. Neste capítulo é também descrita a estrutura da tese; Capítulo 2 – Apresenta o enquadramento teórico de toda a dissertação, desde a descrição da empresa Meltino Café, até às técnicas de análise do café; Capítulo 3 – Descreve quais os passos necessários para a implementação do laboratório de análises de café na empresa Meltino Café; Capítulo 4 – Descreve todos os procedimentos essenciais para a implementação do sistema de cápsulas na empresa Meltino Café; Capítulo 5 – Apresenta todas as referências bibliográficas usadas ao longo da dissertação; Capítulo 6 – Apresenta os dois anexos da dissertação. Um é relativo à implementação do laboratório de análises de café e o outro à implementação do sistema de cápsulas. 2 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2. 2.1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO A Empresa Meltino Café 2.1.1. História A Meltino Café foi fundada em 1995, em Vila de Prado pelos dois sócios fundadores. A experiência de um no setor da importação do café verde associada à experiência do outro na torrefação trouxe, desde logo, resultados positivos. Cientes da forte concorrência que existe neste ramo de mercado adotaram como ponto de partida a satisfação dos clientes e o marketing relativamente ao produto. A sua imagem de marca era a torrefação a lenha dos grãos que chegavam de países como o Brasil, Etiópia, Índia, Costa Rica, entre outros. Em 2007, a Meltino Café inaugura uma nova unidade industrial em Braga de modo a aumentar a competitividade da empresa tanto a nível nacional como internacional. A torrefação passa então a ser gás, mantendo, no entanto, a sua qualidade e promovendo a capacidade e eficiência de produção da empresa (3). Atualmente, os planos de expansão nacionais e internacionais (EUA, França, Bélgica, Inglaterra, entre outros) revelam o empreendedorismo e a solidez da marca Meltino Café, que se afirma como uma referência no universo do café. Figura 1 – Instalações da empresa Meltino Café em Vila de Prado (3) 2.1.2. Missão A Meltino Café aposta no aperfeiçoamento e melhoria contínua dos processos produtivos da empresa, assegurando que o consumidor final irá obter um produto de qualidade e com valor acrescentado. 3 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.1.3. Visão A visão da Meltino Café é ser uma marca inovadora no seu segmento de mercado, reconhecida pela qualidade e posicionamento. 2.1.4. Valores Inovação, Qualidade, Solidez, Motivação, Confiança e Responsabilidade Social. 2.1.5. Política de Gestão Hoje em dia um ponto de diferenciação fundamental perante a concorrência é a adoção de políticas de gestão que reflitam o posicionamento das empresas enquanto entidades socialmente responsáveis. Estas normas são como catalisadores em todos os processos de decisão e fortalecem a imagem da marca na mente dos consumidores. A Meltino Café obteve o Certificado de Conformidade dos Sistemas de Gestão da Qualidade, Ambiental, da Saúde e Segurança no Trabalho e Segurança Alimentar em Julho de 2008. Sendo uma das primeiras empresas do setor alimentar a consegui-lo, assume então o compromisso de diariamente cumprir os requisitos descritos nas normas NP EN ISO 9001 (Qualidade), NP EN 14001 (Ambiente), OHSAS 18001/NP 4397 (Segurança e Saúde do Trabalho) e NP EN ISO 22000 (Segurança Alimentar). Sabendo que o êxito na implementação destas normas depende sobretudo dos seus colaboradores, a Meltino Café tenta envolver e dirigir toda a organização nesse sentido, motivando-os continuamente. 2.1.6. Processo O processamento realizado pela Meltino Café passa pela compra da matéria-prima (café verde); pela torrefação do café; pela moagem (no caso do descafeinado); por um embalamento primário em embalagens de 1 kg (café) e saquetas de 0,7 gramas (descafeinado e mono doses de café); por um embalamento secundário (em caixas de 10 kg); pelo armazenamento; e finalmente pela distribuição. Neste momento, estão a exportar para Inglaterra, Bélgica, França e EUA. 2.1.7. Cafés Meltino – Lotes em Grão É a partir de uma seleção de cafés de alta qualidade que os lotes de café Meltino são criados, combinado os melhores cafés arabica e robusta. Estes cafés têm qualidade garantida uma vez que são oriundos de regiões produtoras mundialmente conceituadas. 4 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Atualmente são 6, os lotes de café disponíveis na Meltino Café: o Lote Meltino Maximum, o Lote Meltino Ouro, o Lote Meltino Hotelaria, o Lote Meltino Expresso, o Lote Meltino Descafeinado Grão e brevemente, apenas no segmento particular, o Lote Meltino Domus (4). Cada um com diferentes blends e diferentes características organoléticas no entanto sempre com a qualidade e bom gosto do café. 2.2. História do Café A história da planta produtora de café, o cafeeiro, está envolta em vários mistérios e lendas. Uma das histórias mais relatadas conta que um pastor oriundo da província de Kaffa, na Etiópia, ficou surpreso com a agitação das suas cabras após terem consumido frutos vermelhos de um determinado arbusto. O pastor terá então comentado com um monge da região o comportamento dos seus animais. Este, por sua vez, resolveu experimentar os frutos mencionados pelo pastor sob a forma de uma infusão, apercebendo-se de que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto rezava ou após longas horas de estudo. Este fato depressa se espalhou pelos mosteiros, levando a uma grande procura da nova bebida (5). Na verdade a planta do café é originária da Etiópia, centro da África, onde ainda hoje faz parte da vegetação natural. No entanto, foi a Arábia a responsável pela difusão da cultura do café. O nome “café” não é proveniente da Kaffa, local de origem da planta, mas sim da palavra árabe qahwa ou kahoua, que significa vinho. Razão pela qual o café era conhecido como "vinho da Arábia”. O cafeeiro terá sido cultivado pela primeira vez em 575 no Iémen, sítio onde apenas era consumido como fruto in natura (6). Apenas no século XIV, o processo de torrefação foi desenvolvido, de modo a transformar o café na bebida que hoje tão bem reconhecemos. Inicialmente, a propagação do café enquanto bebida foi conseguida devido às suas propriedades benéficas e/ou a cultos religiosos. Posteriormente terão sido criadas lojas de venda de café, primeiro no mundo árabe e depois na Europa, o que conduziu ao desenvolvimento da cultura do cafeeiro. O café chegou à Europa em 1615, terá sido inserido em Portugal em 1712 e chegado ao norte do Brasil em 1727. 5 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.3. Mercado do Café 2.3.1. No Mundo Produtores Segundo a International Coffee Organization (ICO), em 2012, a produção de café verde foi liderada pelo Brasil com 50 826 000 sacos de café de 60 kg. Segue-se o Vietname com 22 030 000 sacos, a Indonésia com 12 730 000 sacos e a Colômbia com 10 371 000 sacos. Na figura 2 é possível Sacos de Café (60kg/saco) observar os 20 maiores produtores de café verde em 2012. 60.000.000 50.000.000 40.000.000 30.000.000 20.000.000 Equador Papua Nova Guiné Quénia Venezuela Tanzânia El Salvador Nicarágua Costa Rica Uganda Costa do Marfim México Guatemala Perú Honduras Índia Etiópia Colômbia Vietname Indónesia 0 Brasil 10.000.000 Figura 2 – Os 20 maiores produtores mundiais de café verde em 2012 (7) Da análise do gráfico é possível perceber que o café é principalmente produzido em países emergentes e subdesenvolvidos de clima tropical no hemisfério sul do planeta. Exportadores Relativamente à exportação é possível estabelecer uma relação entre produtores e exportadores. Em 2012 os maiores exportadores de café (verde, torrado, moído, etc.) foram o Brasil, o Vietname, a Indonésia e a Colômbia, exatamente os mesmos que em 2012 lideraram a produção mundial de café verde. A figura 3 apresenta os 20 maiores exportadores de café no Mundo; a correspondência entre estes e os produtores é evidente. 6 Sacos de Café (60kg/saco) Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 30.000.000 25.000.000 20.000.000 15.000.000 10.000.000 Quénia Camarões Tanzânia Papua Nova Guiné Costa Rica El Salvador Equador Costa do Marfim Uganda Nicarágua Etiópia México Perú Guatemala Índia Colômbia Honduras Vietname Brasil 0 Indonésia 5.000.000 Figura 3 – Os 20 maiores exportadores mundiais de café (verde, torrado, moído, etc.) em 2012 (8) De ressalvar que 73% do café produzido é consumido pelos países importadores e os restantes 27% pelos produtores (9). Os produtores/exportadores tem baixo consumo interno (exceto Brasil) e as exportações são bastante representativas. O Brasil, maior produtor e exportador global, detém cerca de 14% do consumo mundial (10) o que explica o fato de em 2012 ter produzido 50 826 000 sacos de café de 60 kg e apenas exportado 28 333 000 sacos. Importadores Em termos de importação os países que mais se destacaram em 2012, segundo a ICO, são os Estados Unidos da América com 26 066 000 sacos de café de 60 kg e a Alemanha com 21 816 000 sacos. Na Sacos de Café (60kg/saco) figura 4 estão representados os 20 maiores importadores mundiais de café em 2012. 30.000.000 25.000.000 20.000.000 15.000.000 10.000.000 0 EUA Alemanha Itália Japão França Bélgica Espanha Reino Unido Polónia Holanda Suíça Suécia Áustria Grécia Finlândia Portugal Dinamarca Roménia Eslováquia Hungria 5.000.000 Figura 4 – Os 20 maiores importadores mundiais de café (verde, torrado, moído, etc.) em 2012 (11) 7 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café De salientar que Portugal encontra-se nesta lista, com 1 028 000 sacos de café de 60 kg, conseguindo assim o 16º lugar de entre os 20. Reexportadores A reexportação consiste em importar produtos e exportá-los em seguida. Neste caso temos então países importadores que exportam uma segunda vez o café. Em 2012 os maiores reexportadores de café (verde, torrado, moído, etc.) foram a Alemanha, a Bélgica, os Estados Unidos da América e a Itália Sacos de Café (60kg/saco) (Figura 5). 14.000.000 12.000.000 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 Dinamarca Grécia Finlândia Bulgária Áustria Portugal Hungria República Checa Suécia Eslováquia França Reino Unido Suíça Holanda Polónia Itália Espanha EUA Bélgica 0 Alemenha 2.000.000 Figura 5 – Os 20 maiores reexportadores mundiais de café (verde, torrado, moído, etc.) em 2012 (12) Consumidores De acordo com a ICO, o país importador que mais café consumiu em 2012 foram os Estados Unidos da América com 22 238 000 sacos de café de 60 kg. Segue-se a Alemanha, o Japão e a França. Importante realçar que se neste ranking estivessem incluídos os países produtores, o Brasil teria um lugar de destaque entre o top 20 (10). Da análise da figura 6 é possível retirar que o café é sobretudo consumido em países desenvolvidos, de clima frio no hemisfério norte do globo. Estes consumidores/importadores tem elevado consumo, no entanto, dependem da importação. Portugal, mais uma vez, consegue o 16º ao nível de consumo de café. 8 Sacos de Café (60kg/saco) Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 25.000.000 20.000.000 15.000.000 10.000.000 Turquia República Checa Itália Noruega Portugal Dinamarca Bélgica Roménia Suíça Grécia Suécia Finlândia Áustria Polónia Holanda França Reino Unido Japão Alemanha 0 EUA 5.000.000 Figura 6 – Os 20 países importadores que mais consumiram café em 2012 (13) De uma perspetiva mais temporal, a observação da figura 7 permite perceber a evolução do consumo de café entre 2002 e 2012. Ao longo destes 10 anos o crescimento do consumo mundial de café é evidente o que, mais uma vez, revela a expansão deste mercado. Sacos de Café (60kg/saco) 73.000.000 72.000.000 71.000.000 70.000.000 69.000.000 68.000.000 67.000.000 66.000.000 65.000.000 64.000.000 63.000.000 Figura 7 – Consumo Mundial de café de 2002 a 2012 (13) (14) 2.3.2. Em Portugal Importação A partir da figura 8 observa-se que, de 2002 a 2012, a importação de café para Portugal cresceu ligeiramente; é a partir de 2010 que esse aumento é mais percetível. Em 2012 foram importados para Portugal 1 028 000 sacos de café de 60 kg de todas as origens. 9 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Sacos de Café (60kg/saco) 1.200.000 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 0 Figura 8 – Importação de café (verde, torrado, moído, etc.) de todas as origens para Portugal, de 2002 a 2012 (11) (15) Reexportação Segundo a ICO, também a reexportação em Portugal cresceu desde 2002 até 2012. Desde 2004 que o aumento é relativamente gradual atingindo um máximo de 213 000 sacos de café de 60 kg em 2012 (figura 9). Sacos de Café (60kg/saco) 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 0 Figura 9 – Reexportação de café (verde, torrado, moído, etc.) de Portugal para todos os destinos, de 2002 a 2012 (12) (16) Consumo O Consumo de café em Portugal de 2002 a 2012 segue exatamente o mesmo comportamento das importações no mesmo período. Isto significa que é possível observar um crescimento mais significativo a partir de 2010 (figura 10). 10 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Sacos de Café (60kg/saco) 900.000 800.000 700.000 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0 Figura 10 – Consumo de café em Portugal de 2002 a 2012 (13) (14) É interessante perceber que, por exemplo, dos 1 028 000 sacos de café de 60 kg importados para Portugal em 2012, 213 000 foram reexportados e os restantes 815 000 consumidos. O consumo de café em Portugal per capita é de 4,1 kg/ano; estima-se que os portugueses consomem em média 2,2 chávenas de café por dia e 80% da população são consumidores regulares de café (17). Segundo a Academia do Café, aproximadamente 76% dos portugueses continuam a beber café fora de casa, no entanto, o consumo doméstico tem vindo a aumentar nos últimos anos. Relativamente ao tipo de café, os portugueses continuam a preferir o café expresso e as novas máquinas de cápsulas ou pastilhas, que asseguram a extração de café de uma forma mais simples e limpa (17). Existem em Portugal 16 fabricantes relevantes no mercado de café; estes possuem 40 marcas em comercialização e representam 85% do mercado. Entre estes, é a Delta cafés, que sendo a maior empresa de torrefação de café em Portugal, é líder nacional do mercado de café. De considerar também a multinacional Nestlé que possui as marcas Tofa, Sical, Christina e Buondi e as tão conhecidas Nescafé e Nespresso. O grupo Nutricafés que tem as marcas Chave D’Ouro e Nicola. A empresa Torrié e a finalmente a empresa New Coffee que detém as marcas Sanzala, Caffècel, Caféeira, Bogani e Lavazza (2). Os restantes 15% do mercado estão repartidos por 15 empresas, cada uma com um volume de mercado apertado. 11 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.3.3. Novo Nicho de Mercado – Sistema de Cápsulas de Café O sistema de cápsulas de café, que hoje em dia se encontra tão amplamente distribuído pelos lares portugueses, é da responsabilidade da empresa Nestlé, fundada em 1866 na Suíça (18). Desde logo, esta empresa procurou novos mercados de crescimento na área alimentar. Em 1970, o departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (I&D) criou uma máquina de café expresso que usava cápsulas de café moído em porções específicas. Isto fez com que em 1976 fosse registada uma primeira patente do processo desenvolvido pelo I&D da Nestlé (19). No entanto, e por uma questão de maior independência no segmento, em 1986 a Nestlé decidiu criar uma nova empresa, a Nespresso, que iria continuar o desenvolvimento, produção e comercialização do Sistema Nespresso de forma mais exclusiva. O modelo de negócios usado pela empresa consistia na venda de máquinas de café expresso baratas, que apenas funcionavam com cápsulas de alumínio fechadas a vácuo que continham 5 gramas de uma mistura de cafés selecionados e que eram exclusivas para os seus equipamentos. Desta forma, e graças às patentes que foi registando, a Nespresso monopolizou este mercado durante cerca de 25 anos (20). No entanto, as empresas rivais resolveram pôr em causa as concessões públicas reivindicadas pela Nespresso, uma vez que estas se prolongam por um tempo limitado, normalmente 20 anos, e que ao fim desse período o objeto do direito de exclusividade cai em domínio público e pode ser usado por todos sem quaisquer restrições (21). Assim sendo desde 2010 que é possível comercializar cápsulas de café genéricas na Europa. Também o mercado Português de café não ficou alheio a esta mudança de paradigma relativamente ao sistema de cápsulas, verificando-se assim um maior enraizamento deste tipo de cafés nos lares portugueses. Segundo dados da consultora Kantar Wordpanel, que se baseou numa amostra de 4000 famílias de Portugal Continental, as cápsulas de café já entraram em cerca de metade dos lares portugueses. Em 2010 apenas 14% das famílias consumiam café em cápsulas. No entanto em 2011 esta percentagem chegou aos 26%; em 2012 aos 38% e finalmente em 2013 alcançava os 49,5% (figura 11). 12 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 50 45 40 Percentagem (%) 35 30 25 20 15 10 5 0 2010 2011 2012 2013 Figura 11 – Penetração do café em cápsulas em Portugal de 2010 a 2013 (22) O consumo de café em ambiente doméstico é claramente uma tendência dos últimos anos, isto surge como consequência de um maior consumo alimentar dentro do lar, bem como do desenvolvimento da oferta de café em cápsulas. Antes da queda das patentes da Nespresso, o elevado preço deste produto era considerado um obstáculo à massificação do seu consumo. No entanto, a vontade de ter em casa a mesma qualidade de café que se obtém fora da habitação aumentou a procura. Paralelamente, as máquinas de café em cápsulas atingiram preços mais baixos e tornaram-se um luxo bastante acessível para toda a população (22). 2.4. Planta do Café O cafeeiro (figura 12) é um arbusto que pertence ao género Coffea da família Rubiaceae, a qual inclui 500 géneros e mais de 6 000 espécies. Embora ainda não haja consenso relativamente ao número de espécies pertencentes a Coffea, estima-se que sejam cerca de 100. Atualmente são duas as espécies deste género com mais interesse económico: a Coffea arabica (café arábica) com cerca de 70% da produção mundial, e a Coffea canephora (café robusta) com aproximadamente 30% da produção mundial. 13 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Figura 12 – Planta do Café (Cafeeiro) (23) 2.4.1. Coffea arabica Coffea arabica é considerada a espécie de Coffea de maior qualidade. Este café surge nos países da América Central e do Sul, em alguns países Africanos, como a Etiópia (país de origem), o Quénia entre outros (figura 13). A região de produção e a tecnologia usada na obtenção do café verde conferem diferentes características organoléticas à bebida. O Brasil e a Etiópia produzem café arabica tipo natural ou de terreiro; já a Colômbia, a Guatemala, as Honduras, a Índia e o México produzem café arabica tipo suave. Geralmente as plantações deste café encontram-se a elevadas altitudes (entre os 800 e os 2000 metros), isto previne infestações por insetos e doenças e ajuda a conferir a este café a sua principal característica, a acidez (quanto maior a altitude mais acentuada será a acidez do café gerado). A sua produção pode atingir os 2,5 kg de café verde por planta e é a partir do 6º ano que se obtém o rendimento máximo da plantação. O grão tem uma forma achatada, uma fenda longitudinal, é volumoso, mede aproximadamente 15mm e apresenta uma cor azulada ou esverdeada. Os cafés arabicos são aromáticos, complexos, levemente ácidos e com um teor de cafeína baixo, entre 0,8% e 1,5% (24). 2.4.2. Coffea canephora A maior resistência a doenças e pragas da espécie Coffea canephora é uma das suas principais características. Este café surge na região central de África, em países como o Vietname, a Indonésia, a Costa do Marfim, o Uganda e os Camarões (figura 13). 14 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Atinge maiores produções em regiões de baixa altitude que variam entre o nível do mar até aos 600800 metros, e onde o clima é quente e húmido. A sua produção pode atingir os 2 kg de café verde por planta e é a partir do 5º ano que se obtém o rendimento máximo da plantação. O grão tem uma forma arredondada, mede entre 6 a 8 mm, apresenta uma cor de canela e, comparativamente ao café arabica, é menor e mais amargo. Os cafés robusta possuem sabores distintos como bom corpo, baixa acidez e um teor de cafeína mais elevado, que pode atingir os 2,5% e que lhe confere um sabor mais amargo (24). Figura 13 – Distribuição geográfica dos dois tipos de cultivo: Coffea Arabica e Coffea Canephora (r: café robusta; m: café robusta e arabica; a: café arabica) (25) 2.5. Da Planta ao Café Verde 2.5.1. Cultivo É através da combinação de um bom solo, água, sol, persistência e cuidado dos produtores que o café obtém todas as suas características. Quando todos estes requisitos se juntam, e alguns meses depois da floração do cafeeiro, este dá origem a um fruto avermelhado conhecido como cereja de café (26). A floração da planta do café depende da região, do clima e da altitude onde são cultivadas. A sua flor branca perde as pétalas alguns dias após ter sido fertilizada. Já a formação do fruto a partir da flor acontece dentro de 6 a 8 meses no café arabica e de 9 a 11 meses no café robusta. Geralmente, no mesmo galho, as cerejas de café desenvolvem-se em diferentes etapas de maturidade. Inicialmente, os frutos são verdes, no entanto quando amadurecem tornam-se vermelhos ou alaranjados; estes têm habitualmente 2 grãos. 15 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.5.2. Colheita A colheita é uma operação essencial no processamento do café. Frequentemente é efetuada à mão, recorrendo-se por vezes à ajuda de uma espécie de pente que vai mover os ramos até os frutos caírem no chão. Este método é o mais caro em termos de tempo e dinheiro, no entanto garante a qualidade do café uma vez que permite a eliminação de grãos muito verdes e amargos ou muito maduros e fermentados. Anualmente, a colheita envolve mais de 50% de toda a mão-de-obra usada na cultura de café, já que o modo como é feita é a base para a aquisição de uma boa matéria-prima (27). É também importante considerar a heterogeneidade da maturação das cerejas, uma vez que esta é um dos principais inconvenientes para a realização de uma boa colheita. 2.5.3. Processamento Após a colheita, há um conjunto de operações realizadas nos países produtores que visam a obtenção do café verde comercial. Ao longo dos anos cada região desenvolveu o seu próprio processo, no entanto, todos os procedimentos usados cingem-se a duas vias alternativas: a via seca e a via húmida. Ambas as vias têm um impacto direto sobre a qualidade e o custo do café; estas envolvem a remoção dos resíduos da safra e a eliminação das diversas camadas externas dos grãos. A característica fundamental da via seca é a secagem completa dos frutos, já a da via húmida é uma despolpagem dos frutos seguida de uma “fermentação” do café despolpado (5). A escolha da via de processamento varia de acordo com a tradição de cada produtor de café e os dos motivos de natureza económica. Geralmente, o café obtido por via húmida é mais caro e de qualidade superior. Teoricamente, qualquer espécie de café pode ser processada por qualquer um dos métodos, no entanto, habitualmente, recorre-se à via húmida para os cafés do tipo arabica, e à via seca para os cafés do tipo robusta. As cerejas de café processadas através da via seca são transformadas em “café coco” enquanto na via húmida são transformadas em “café pergaminho”. As principais diferenças são o número de camadas exteriores que ainda os envolvem; na via húmida quase todas as camadas exteriores do grão de café são removidas antes da secagem. As etapas executadas em cada uma das vias até à obtenção do café coco e do café pergaminho estão representadas na figura 14. 16 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Colheita Lavagem ou Seleção das Cerejas Receção Calibração das Cerejas Flutuação Secagem Seleção/ Calibração das Cerejas Despolpamento Repasse Fermentação Lavagem Secagem "Café coco" ou "Cereja seca" "Café Pergaminho" Figura 14 – Etapas do processamento das Cerejas de Café por via seca (à esquerda) e por via húmida (à direita) (28). Segue-se o benefício, esta fase é comum a ambas as vias e baseia-se na seguinte série de procedimentos: secagem, limpeza, descasque, polimento, calibração e catação. De modo a facilitar a remoção da casca, durante a secagem os grãos são desidratados até obterem uma humidade de cerca de 11%. Sucedem-se então a limpeza e o descasque, estas etapas consistem na separação de impurezas que os grãos ainda possam ter. O polimento surge para remover a última camada do grão, a “pele de prata”, no entanto, em grande parte dos casos, esta é eliminada aquando da torrefação. Segue-se a calibração, esta permite a obtenção de um produto final mais uniforme e com um valor comercial acrescentado. Finalmente acontece a catação, que consiste na eliminação manual ou eletrónica dos grãos irregulares e de corpos estranhos. Todos estes processos originam o café verde comercial. Este é armazenado em embalagens para venda e exportação. 17 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.5.4. Transporte O transporte do café verde pode levar a que este seja infetado por pestes e humidades, o que implica análises posteriores do produto. Quando chega ao destino, o café segue para um novo armazém ou diretamente para a torrefação. Se for armazenado corretamente, o café poderá durar vários anos (5). 2.6. Do Café Verde ao Café Torrado Geralmente, a produção do café torrado é feita nos países consumidores, uma vez que, após a torrefação, o café perde rapidamente as suas características organoléticas. A figura 15 apresenta todas as etapas para a produção do café torrado. Receção do Café Verde Armazenamento Limpeza Torrefação Arrefecimento Produção dos Lotes Moagem Embalagem Figura 15 – Etapas para a produção de café torrado moído (5). 2.6.1. Receção do Café Verde Usualmente o café verde chega aos países importadores em sacos de 60 kg. Estes são então descarregados e armazenados nas empresas de torrefação, onde, serão pesados e arrumados em paletes (5). Enquanto isto, o Controlo de Qualidade, analisa amostras de café verde para, assim, certificar que este está nas condições pretendidas/decretadas. 18 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.6.2. Armazenamento do Café Verde De modo a proteger o Café Verde de oscilações térmicas, é importante ter-se em atenção o tipo de materiais que se usam na construção do armazém. É essencial que neste não existam grandes variações ambientais. Habitualmente as paredes são pintadas de cores claras e tintas refletoras para prevenir grandes subidas de temperatura no interior do armazém. Este deve ter janelas ventiladoras ou ventiladores ao longo das paredes para regular a humidade relativa. A cobertura deve ser isolante do calor e da humidade. O pavimento deve ser impermeável e fortalecido devido às pressões das paletes e dos veículos, e apresentar uma leve inclinação para que ocorra a drenagem das águas (5). 2.6.3. Limpeza A limpeza do Café verde antes de este ser torrado permite a eliminação de determinadas impurezas que possam afetar a qualidade deste. Um exemplo disso é a inflamação, e a posterior combustão, das impurezas que pode levar à inclusão de sabores estranhos no café (5). 2.6.4. Torrefação A torrefação é o procedimento mais relevante e fundamental na qualidade do café. Durante este, o grão é sujeito a altas temperaturas, entre os 200 e os 250ºC, durante 6 a 30 minutos, dependendo do tipo de café. A torrefação leva a modificações químicas e físicas no café. As químicas, que derivam na destruição, modificação e formação de compostos do grão, são essenciais para a qualidade do café (5). Já as físicas, que são de caráter volátil, concedem ao café torrado o seu sabor característico. Quando as temperaturas convencionadas são transpostas, o café perde as suas qualidades, graças à perda gradual dos compostos voláteis. 2.6.5. Arrefecimento Para que a sobretorrefação não ocorra, os grãos devem ser arrefecidos imediatamente após a torrefação. O arrefecimento pode ser feito com injeção de água e por passagem de uma corrente de ar. Para além de baixar a temperatura rapidamente, este procedimento impede a perda dos tão valorizados compostos voláteis (5). 19 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.6.6. Produção dos Lotes Esta etapa consiste na mistura de cafés de diferentes origens; esta mistura permite a produção de lotes com as melhores características pretendidas pela empresa, sem esquecer as predileções dos consumidores. A mistura dos lotes pode ser efetuada antes ou depois da torrefação. Os motivos de quem a faz após a torrefação passam pelo fato de os vários tipos de café terem diferentes tempos de torrefação; assim procede-se à mistura após a torrefação das variadas origens de café em separado (5). Quem defende que a mistura deve ser feita antes da torrefação do café verde, só o faz quando as diferenças entre os vários cafés que o lote contém, são mínimas. Deste modo os cafés de qualidade inferior saem favorecidos, uma vez que as temperaturas de torrefação fixam mais facilmente os aromas do café de maior qualidade quando este é misturado com outro. Outro pró da mistura antes da torrefação é o fato de o café torrado ser bastante frágil; a mistura após a torrefação pode implicar a fragmentação do café (5). 2.6.7. Moagem A moagem permite aumentar a superfície de contato entre a água e o café. Deste modo a transferência de substâncias solúveis, emulsionáveis e voláteis é facultada. Os grãos não devem ser moídos logo após a torrefação, mas apenas quando estão sólidos e estaladiços (5). A moagem de café pode ser classificada como grossa, média, fina e extra fina, conforme o tamanho final das partículas (29) A escolha do tipo de moagem depende sobretudo do equipamento usado para a obtenção da bebida. Um grau de moagem excessivamente fino, ou pelo contrário, excessivamente grosseiro pode complicar a extração da bebida. Uma vez que o grau de moagem depende do procedimento que será adotado para a preparação da bebida, as embalagens devem ter a informação relativa ao grau de moagem (5). 2.6.8. Embalagem do Café Torrado De modo a aumentar a vida útil do café torrado e a garantir que este chega ao consumidor nas melhores condições possíveis, torna-se indispensável embalar o café. A principal função da embalagem é impedir que os aromas do café passem para o exterior ou que aromas exteriores se incorporem neste (5). De modo a minimizar a oxidação, o material das embalagens deve ter a capacidade de reduzir a passagem de raios UV (ultravioleta); este deve também, ser naturalmente seco, inodoro, 20 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café inócuo, e resistente ao manuseamento (rutura ou perfuração) e à pressão de gases interiores. Atualmente já se realizam desgaseificações (vácuo) de modo a remover o conteúdo gasoso da embalagem, para que este não interfira com as propriedades do café. No mercado existe uma grande variedade de tipos de embalagem para acondicionar o café torrado (5). Sistema de Cápsulas O Sistema de Cápsulas é um método relativamente recente de embalagem de café em cápsulas de alumínio hermeticamente fechadas. A cápsula possui um lacre pressurizado que protege os aromas e sabores do café moído por vários meses até este ser consumido. A embalagem do café em cápsulas requer a colocação da quantidade exata de café moído em cápsulas de alumínio envolvidas internamente com uma película protetora. A cápsula é então hermeticamente selada com uma folha de alumínio que preserva o café moído contra o ar, a luz e a humidade. Sendo um material 100% reciclável, o alumínio torna este tipo de embalagem amiga do ambiente. Para a preparação da bebida usando este tipo de embalagem é necessário o uso de máquinas especificamente concebidas para o efeito. 2.6.9. Descafeinização A descafeinização ocorre antes da torrefação do café verde. O processo consiste na remoção de mais de 97% da cafeína do café e baseia-se na dissolução, e posterior remoção da cafeína do café verde, recorrendo a um solvente ou a água. O café verde pode ser descafeinado através de um processo natural à base de água ou através de um processo químico de descafeinização. Na sua forma pura, a cafeína é um pó branco que se dissolve facilmente quando contacta com a água. Assim sendo, no procedimento à base de água, a cafeína contida nos grãos de café vai-se dissolvendo gradualmente à medida que a água entra em contacto com o café verde. Este método elimina a cafeína sem modificar o gosto final do café. Já no processo químico, os grãos são submersos em água e depois é utilizado um solvente, geralmente o cloreto de metileno ou o acetato de etílico, de modo a que o teor de cafeína na água seja absorvido. 21 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.7. Caracterização Físico-química do Café Verde e do Café Torrado As características organoléticas que fazem do café uma bebida tão saborosa e apreciada por todos devem-se ao elevado número de compostos que fazem parte da sua constituição. Contudo, os compostos presentes nos grãos de café verde são distintos daqueles existentes nos grãos de café torrado. 2.7.1. Café Verde Características Químicas São vários os fatores que influenciam a composição química do café verde, desde as características genéticas da planta (ex. C. arabica e C. canephora), as condições climáticas, as condições dos solos, as condições culturais e a via de processamento utilizada (via seca ou via húmida) (27). À semelhança da maioria dos produtos de origem vegetal, o café verde é constituído por açúcares, proteínas, lípidos e minerais. Os compostos que realmente o caraterizam são, essencialmente, a cafeína, a trigonelina e os ácidos clorogénicos. A tabela 1 apresenta, em termos genéricos, a composição em percentagem do café verde arabica e robusta relativamente à percentagem em base seca. 22 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Tabela 1 – Composição química do Café Verde arabica e robusta (30) Composto % em matéria seca Café arabica Café robusta Cafeína 1,2 2,2 Trigonelina 1,0 0,7 Cinzas (41%=K) 4,2 4,4 Ácido Clorogénico Total 6,5 10,0 Alifáticos 1,0 1,0 Quínico 0,4 0,4 Sacarose 8,0 4,0 Redutores 0,1 0,4 Polissacarídeos 44,0 48,0 Lignina 3,0 3,0 Pectina 2,0 2,0 Proteína 11,0 11,0 Aminoácidos Livres 0,5 0,8 Lípidos 16,0 10,0 Ácidos: Açúcares: Água A água é um dos principais constituintes do grão de café; a sua percentagem é variável e depende essencialmente do tipo de processamento e das condições de armazenamento. Independentemente de ser processado por via seca ou via húmida, o grão de café deve ser seco de modo que não exceda os 13% de humidade (5). Para valores superiores a 13% de humidade, o café verde torna-se passível a contaminações por todo o tipo de microrganismos. No grão de café existe água livre, que é facilmente eliminada por secagem, e água combinada que por sua vez é de difícil eliminação (27). Açúcares Aproximadamente metade da massa de um grão de café é composta por açúcares, estes funcionam como fontes de reserva. Os monossacarídeos, a glucose e vestígios de frutose, rafinose, manose, galactose e ribose, representam aproximadamente 1% da matéria seca. Quanto aos oligossacarídeos, a sacarose é o composto predominante; pode-se também encontrar vestígios de estaquiose e rafinose (5). Os polissacarídeos variam entre os 40-50% da matéria seca. São a porção mais relevante dos 23 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café açúcares e incluem principalmente a celulose e a hemicelulose. Os açúcares são indispensáveis uma vez que conferem maior qualidade ao café, principalmente aquando da torrefação (5). Lípidos Os lípidos são constituídos essencialmente por triglicerídeos, ácidos gordos livres, ésteres de álcoois, de esteróis e de ácidos gordos, diterpenos, esteróis e tocoferóis (5). O aumento da acidez do grão de café após a torrefação pode dever-se à modificação dos lípidos, daí estes serem essenciais para a qualidade do café. É graças a compostos com propriedades antioxidantes, como os tocoferóis, os fenóis e as ceras, que a composição de lípidos no café verde se mantém relativamente estável durante o armazenamento (5). Proteínas Durante o processo de torrefação, as proteínas são submetidas a alterações que facilitam a formação de novos compostos que influenciam positivamente as características organoléticas do café. As percentagens de proteína no grão de café podem ser bastante variáveis graças a complicações na extração. A proteína no grão de café divide-se em fração solúvel e fração insolúvel em água (5). Aminoácidos Livres Tal como as proteínas, os aminoácidos livres, são importantes porque permitem novos sabores aquando da torrefação. A constituição de aminoácidos livres permite a classificação quimiotaxonômica da planta do café. A arginina, a fenilalanina e a tirosina são características da C. canephora (café robusta); já o ácido pipecólico e o triptofano estão mais presentes em C. arabica (café arabica) (5). Cafeína As propriedades estimulantes do café devem-se principalmente à cafeína presente na sua constituição (28). O teor de cafeína e o seu efeito excitante depende de vários fatores como a espécie, a variedade e as condições de cultura do café. Geralmente, o café robusta tem mais percentagem de cafeína que o café arabica (5). Trigonelina Embora de uma forma menos tóxica e mais atenuada, a trigonelina atua de forma análoga à cafeína (27). Esta pouco ou nada interfere na qualidade do café, uma vez que tem um sabor menos amargo que o da cafeína, no entanto, a sua degradação pode levar à formação de produtos que modificam as características do café (5). 24 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Ácidos Orgânicos Os ácidos orgânicos encontrados no café são, essencialmente, o ácido acético, oxálico, pirúvico, sucínico, málico, cítrico, tartárico e lático. Os teores relativos de cada um deles podem variar se houver mau processamento ou armazenamento (5). Minerais A percentagem de minerais do café verde é de cerca de 4% em base seca. O potássio é o principal elemento, seguindo-se o cálcio, o magnésio, o fosforo e o enxofre. Independentemente da sua origem, cafés verdes processados por via seca têm maior conteúdo em minerais que os processados por via húmida (27). Físicas Cor A cor do grão de café verde varia de acordo com a espécie da planta do café. No caso da Coffea arabica (café arabica) o grão é geralmente verde ou amarelado; relativamente à Coffea canephora (café robusta) o grão usualmente apresenta-se acastanhado (5). Granulometria O tamanho do grão de café verde é bastante incerto e, tal como a cor, depende da espécie do cafeeiro. Normalmente, os grãos de café arabica são mais volumosos e compridos que os cafés robusta. Apesar do tamanho do grão ser uma particularidade individual hereditária, pode ser influenciado por condições climáticas, a altitude, a humidade do solo, a colheita e a idade do cafeeiro (27). 2.7.2. Café Torrado A torrefação é um procedimento que leva a importantes alterações químicas e físicas no grão de café. As características organoléticas do café torrado são uma fusão complexa de substâncias oriundas do café verde que se mantém constantes, mesmo com a torrefação, e de outras que se formam devido a modificações dos compostos do café verde durante a torrefação (27). 25 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Alterações Físicas Cor Aquando da torrefação, a cor do grão apresenta-se castanho-escuro ou mesmo negro, devido, principalmente, à caramelização dos açúcares (27). A cor do café torrado é um parâmetro frequentemente usado no controlo da qualidade do café, uma vez que esta representa o ponto ótimo da torrefação e a intensidade das transformações ocorridas (5). Aumento do volume do grão O aumento de volume começa a ser visível quando a temperatura de torrefação alcança os 150ºC (27). Este aumento é fomentado pela pressão dos gases oriundos do interior do grão de café, tais como o vapor de água, o dióxido e o monóxido de carbono. Habitualmente o café arabica aumenta mais de volume que o café robusta (5). Resistência à Pressão A resistência à pressão no café torrado é inferior relativamente à do café verde. Isto significa que, quanto maior for o grau de torrefação, mais quebradiço será o grão de café (5). Textura Interna Após a torrefação, o café verde, que antes tinha uma textura interna compacta, obtém uma textura cavernosa; isto acontece graças às elevadas temperaturas, que levam à expansão dos gases no interior do grão de café (5). Perda de Massa e Substâncias Voláteis As perdas de massa no grão de café torrado são de cerca de 14 a 23% (27). Estas acontecem de acordo com o tipo e intensidade da torrefação, a espécie da planta do café e a maneira como o café foi processado e armazenado. É a partir dos 200ºC que as transformações no grão se tornam especialmente intensas (5). A perda de massa pode ser pela libertação do dióxido de carbono, pela libertação da pele de prata ou pela perda de substâncias voláteis. Estas substâncias voláteis tendem a dissipar-se durante a torrefação, afetando, assim, as características organoléticas do café. 26 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Alterações Químicas Açúcares Durante a torrefação, os açúcares sofrem caramelização e dão origem a diversas substâncias voláteis. A sacarose, por sua vez, degrada-se formando glucose e frutose que mais tarde se transformam em pirazinas e oxazois; estes compostos são singulares para o aroma do café (5). Também os polissacarídeos se modificam estabelecendo ligações covalentes com proteínas e aminoácidos, formando, assim, produtos de pigmentação castanha, as melanoidinas (5). Lípidos A torrefação pouco ou nada altera a quantidade de lípidos no grão de café. No entanto, a temperatura da torrefação faz com que os lípidos se desloquem para a superfície do grão; isto pode ser considerado positivo, uma vez que assim os lípidos agem como uma película isolante que impede o desaparecimento de determinados aromas no café (5). Ácidos Numa torrefação média, as perdas de ácidos alifáticos são entre 15 a 16% (27). No entanto, os ácidos carboxílicos são formados por degradação térmica dos açúcares, aumentando assim o pH do café. O aumento da acidez dá-se, não só por causa destes ácidos, mas também devido à presença de ácido fosfórico e de outras substâncias formadas e decompostas aquando da torrefação. Proteínas e aminoácidos Durante a torrefação, as proteínas são degradadas em aminoácidos; estes por sua vez, originam o escurecimento do grão de café e levam à formação de aromas essenciais (5). Cafeína O ponto de sublimação da cafeína acontece aos 178ºC; uma vez que, durante a torrefação se atingem temperaturas acima dos 200ºC, seria de esperar que grande parte da cafeína se degradasse (27). No entanto, e devido à pressão existente no grão torrado, o ponto de sublimação poderá sofrer um aumento, e fazer com que as perdas de cafeína sejam razoavelmente pequenas. Trigonelina Ao contrário da cafeína, a trigonelina é rapidamente degradada durante a torrefação. As percentagens de trigonelina, que no café verde são muito baixas, tornam-se vestigiais no café torrado. A sua 27 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café degradação produz compostos como o ácido nicotínico e outras 29 substâncias voláteis que contribuem para o aroma do café torrado (5). 2.8. Técnicas de análise do Café A necessidade de sistemas de qualidade direcionados para o produto e ou processo, vêm, fundamentalmente, do incessante crescimento dos mercados, dos sucessivos progressos tecnológicos e do, sempre crescente, nível de exigência dos consumidores. Assim sendo, a qualidade surge como a principal forma de consumo de café, fazendo com que as empresas deste segmento, adotem protótipos de qualidade da matéria-prima e boas práticas de produção, para, assim, conservar, ao longo do tempo, o aroma e sabor tao característicos deste produto. A qualidade do café depende de diferentes fatores, os quais garantem a qualidade final do produto. Existem fatores pré e pós-colheita; os fatores pré-colheitas são, essencialmente, a espécie de café, o local de cultivo, a maturação dos grãos, a ocorrência de microrganismos e o resultado das adubações. Relativamente aos fatores pós-colheita evidenciam-se as fermentações, os processos de armazenamento após o processamento, a produção dos lotes e a torrefação (31). Por conseguinte, e de modo a garantir a segurança alimentar e a qualidade do café, torna-se fundamental que as empresas do ramo se certifiquem junto das entidades responsáveis e, cumpram os requisitos por estas estabelecidos. Alguns destes requisitos traduzem-se em análises químicas, físicas e sensoriais, que devem ser realizadas por laboratórios (externos ou internos à empresa), de acordo com as normas existentes para o efeito. Em Portugal, para que a comercialização do café torrado seja possível, existe o Decreto-Lei n. º78/2013 de 11 de Junho que define todas as análises químicas e físicas necessárias para tal. Neste Decreto-Lei, são 6 as análises requeridas; estas vão desde o teor de corpos estranhos ao café em relação à matéria seca, o teor de grãos defeituosos, excluindo os partidos, a perda de massa por secagem, o teor de cinza em relação à matéria seca, o extrato aquoso em relação à matéria seca e o teor de cafeína em relação à matéria seca (32). Todas estas análises têm limites máximos e/ou mínimos que devem ser respeitados; estes definem se o café torrado está ou não conforme. Caso se verifique que algum dos limites é excedido, a empresa responsável por o respetivo lote, corre o risco de ter de o retirar dos locais de venda. 28 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café É também importante salientar, que cada uma das análises está descrita em Normas Portuguesas (NP). No entanto, e caso o estado português ainda não as tenha definido, pode-se seguir as equivalentes Normas Europeias (EN), ISO’s ou procedimentos da AOAC (Association of Official Analytical Chemists). 2.8.1. Análises Físicas Teor de corpos de estranhos ao café e Teor de grãos defeituosos Relativamente à determinação de corpos estranhos e defeitos no café é usada a norma NP-1521:1985; esta Norma Portuguesa é equivalente à ISO-4149:1980. O procedimento consiste em atirar uma amostra seca de café torrado de 300 ± 0,1 g sobre uma superfície lisa, uniforme e plana. Uma vez espalhados, os grãos são examinados visualmente à luz do dia, isolados e agrupados de acordo com o definido na norma NP 1535:1977, relativa à terminologia do café. Seguidamente contam-se o número de unidades de cada uma das categorias de defeito do café e de corpos estranhos e pesam-se com aproximação de 0,1 g. Os resultados são apresentados em percentagem (m/m) (27). Segundo o Decreto-Lei n. º78/2013 de 11 de Junho os valores de grãos defeituosos não devem exceder os 5% e o teor de corpos estranhos ao café deve ser menor do que 0,5% (32). Perda de Massa por Secagem A determinação da perda de massa por secagem do grão de café torrado baseia-se na norma NP3659:1991. Começa-se por secar uma cápsula numa estufa regulada a 105 ± 1ºC. Ao fim de uma hora a capsula é retirada para um exsicador, arrefecida até à temperatura ambiente e pesada. Colocam-se então 10 g de grãos de café torrado, distribuídos uniformemente no fundo da cápsula e pesa-se o conjunto. Seguidamente estes seguem para a estufa regulada a 105 ± 1ºC, onde permanecem durante 16 horas ± 30 min. Terminado este intervalo de tempo, o conjunto cápsula mais café torrado, é inserido no exsicador, arrefecido até à temperatura ambiente e finalmente, pesado (27). As pesagens são feitas com aproximação de 0,1 g e os resultados apresentados em percentagem (m/m) e arredondados às décimas. Geralmente são efetuados ensaios simultâneos que por sua vez são realizados em triplicado. De acordo com o Decreto-Lei n. º78/2013 de 11 de Junho a perda de massa por secagem do café torrado não deve exceder os 5% (32). 29 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Teor de Cinza em relação à massa seca O teor de cinza é determinado de acordo com a NP-3913:1991. Pesam-se 5g de café torrado moído numa cápsula tarada; o conjunto segue então para a secagem em estufa a 105 ± 1ºC, até massa constante. Posteriormente cápsula mais café são colocados na mufla onde, gradualmente, vão atingir a temperatura de 525 ± 25ºC, até obtenção de um resíduo isento de partículas de carvão com uma coloração branca ou acinzentada. Este resíduo contido na cápsula é humedecido com algumas gotas de água e colocado em banho-maria, para assim arrefecer e secar. Posteriormente o resíduo deve continuar a secar numa placa de aquecimento. Seguidamente a cápsula volta à mufla a 525 ± 25ºC durante uma hora, sendo então retirada para um exsicador, arrefecida até à temperatura ambiente e pesada. Este último procedimento é repetido constantemente por períodos de 30 minutos até se obter massa contante (27). As pesagens são efetuadas com aproximação aos 0,1 mg e os resultados expressos em percentagem (m/m) relativamente à massa seca. O Decreto-Lei n. º78/2013 de 11 de Junho estabelece que o teor de cinzas em relação à matéria seca não deve ser maior do que 5% (32). 2.8.2. Análises Químicas Extrato Aquoso em relação à matéria seca Para a determinação do extrato aquoso recorre-se à Norma Portuguesa NP-3595:1993. O extrato seco indica a quantidade de extrato solúvel do café; esta análise fornece importantes informações principalmente quando há misturas de outros compostos no café. Este método consiste de uma extração a quente com água. Começa-se por pesar uma amostra de 2 g num gobelé de 50 mL. Seguidamente transfere-se a amostra para um erlenmeyer de 500 mL com junta esmerilhada com o auxílio de 200 mL de água quente. Adapta-se o refrigerador de refluxo ao frasco e deixa-se em ebulição durante uma hora. Finda a hora, transfere-se a solução ainda quente para um balão volumétrico de 500 mL, lava-se o frasco com 100 mL de água quente e transfere-se esta água para o balão. Resfria-se o balão e completa-se com água. Posteriormente filtra-se o preparado anterior para um frasco erlenmeyer de 500 mL. Pipeta-se 50 mL do filtrado e transfere-se para um gobelé de 100 mL previamente tarado em estufa a 105 ± 1ºC. Evapora-se em banho-maria até secagem. Finalmente, aquece-se em estufa a 105 ±1ºC por uma hora, coloca-se no exsicador até à temperatura ambiente e pesa-se. 30 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café O cálculo da percentagem (m/m) do extrato seco é feito de acordo com a equação 1, onde N é o peso de extrato aquoso e P o peso da amostra (33). Equação 1 Segundo o Decreto-Lei n. º78/2013 de 11 de Junho a percentagem de extrato aquoso em relação à matéria seca deve estar entre os 20% e os 35% (32). Teor de Cafeína em relação à matéria seca O teor de cafeína é determinado por HPLC de acordo com a NP-4195:1992; esta norma portuguesa é equivalente à ISSO 10095:1992. Começa-se por pesar 1 g ± 0,1 mg de café torrado moído, adicionam-se 4,5 ± 0,5 g de óxido de magnésio e 100 mL de água. Pesa-se esta mistura e coloca-se num banho de água a 90 ± 1ºC, com agitação contínua durante 20 minutos. Em seguida, a mistura é arrefecida e pesada novamente de modo a se verificar conservação da massa. Procede-se então à filtração através de um filtro Whatman nº 1, sem lavagem do resíduo sólido. Transfere-se uma alíquota de 2 mL para um balão volumétrico de 10 mL e completa-se com água destilada. Por fim homogeneiza-se a mistura, para que esta seja filtrada através de um filtro de 0,45 µm e fique pronta para a análise (5). Para a análise propriamente dita usa-se um equipamento de HPLC com características definidas de origem. Este deve ser calibrado devidamente e usado de forma correta, de acordo com os parâmetros determinados pelo fabricante. Antes da análise é necessário ocorrer a estabilização do fluxo da fase móvel. Segue-se a injeção de 20µL do extrato de cafeína. Terminadas a injeção da amostra em estudo passa-se à injeção de igual volume de solução padrão de cafeína. A quantificação faz-se recorrendo a uma curva de calibração obtida a partir de várias soluções de concentração conhecida. De acordo com o Decreto-Lei n. º78/2013 de 11 de Junho o teor de cafeína em relação à matéria seca deve ser no mínimo 0,7% (32). 31 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 2.8.3. Análise Sensorial Generalidades No sector alimentar é frequente recorrer-se à análise sensorial como forma de analisar os alimentos sob o ponto de vista do consumidor. De acordo com a Norma Portuguesa 4263:1994, esta pode ser definida como o “exame das características organoléticas de um produto pelos órgãos dos sentidos”, sendo “organolética” definida como “uma propriedade de um produto percetível pelos órgãos dos sentidos”. De um modo geral, esta análise permite descrever e medir os atributos sensoriais dos produtos, e determinar se as diferenças entre estes são encontradas e aceites pelos consumidores. Painel de Provadores Os resultados das análises sensoriais dependem sobretudo dos seus participantes, daí o painel de provadores ser um autêntico instrumento de medida. Este pode ser constituído por 3 tipos de participantes: os provadores, que podem ser candidatos caso nunca tenham participado em análises, ou os iniciados, quando já participaram; os provadores qualificados quando são escolhidos e treinados; e os peritos, quando evidenciam uma larga experiência e conhecimentos adicionais adquiridos. Para se tornarem habilitados a efetuar provas de café, os candidatos a provadores devem possuir alguns requisitos específicos como: interesse no plano de trabalho; reconhecerem sabores básicos; possuírem boa saúde, sem quaisquer infeções bucais ou nasais, e não usarem aparelhos ortodônticos ou dentaduras; terem apetite normal; demonstrarem capacidade para reproduzir julgamentos; possuírem boa memória sensorial; não terem aversão ao café; e terem disponibilidade de tempo para realizar os testes de forma tranquila (5). Descrição do Laboratório de Análise Sensorial O Laboratório de Análise Sensorial deve obedecer ao determinado na NP 4258:1993; deve ter um local de ensaio que permita o trabalho individual, uma zona para a preparação das amostras e um gabinete administrativo. Tipos de Teste Existem três tipos de testes de análise sensorial: os de descrição, com os quais é possível obter a descrição dos diversos atributos do produto; os de descriminação, que permitem identificar as 32 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café discrepâncias que possam existir entre os produtos; e por fim os de preferência (ou hedónicos), onde os provadores expressam a sua preferência. 33 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 3. IMPLEMENTAÇÃO DO LABORATÓRIO DE ANÁLISES DE CAFÉ Um dos objetivos desta dissertação foi a implementação de um laboratório de análises de café devidamente equipado na empresa Meltino Café, para a realização das análises enumeradas no Decreto-Lei n.º78/2013 de 11 de Junho. Ao longo deste capítulo serão abordados os principais aspetos envolvidos na implementação de um laboratório de análises de café, tais como a Listagem dos Materiais necessários e os custos e orçamentos associados ao mesmo. 3.1. Listagem dos Materiais Para a implementação do laboratório de análises de café na empresa Meltino Café foi fundamental, numa primeira fase, compor uma listagem de todos os materiais que seriam necessários. Assim sendo, e tendo em conta que todos os equipamentos precisos estão descritos nas Normas Portuguesas correspondentes, foi fácil perceber os materiais que seriam necessários. No entanto, e dado o volume da empresa, tornou-se indispensável reunir especificações acerca dos materiais para que se pudessem adquirir os equipamentos com as características mais adequadas às necessidades da empresa. Isto, mais tarde, acabou por facilitar o pedido de orçamentos. Na tabela 2 é possível observar os materiais, e as respetivas especificações, necessárias para a realização das 6 análises requeridas para a comercialização de café em Portugal. A balança semi-analítica ou de precisão é o equipamento mais indispensável de todos, uma vez que todas as 6 análises a requerem. A estufa de secagem, tal como o exsicador de vidro, são essenciais para as análises “Perda de massa por secagem”, “Teor de cinza em relação à matéria seca” e “Extrato aquoso em relação à matéria seca”. A Mufla é apenas utilizada para analisar o “Teor de cinza em relação à matéria seca”. Por outro lado o HPLC apenas é necessário para o “Teor de cafeína em relação à matéria seca”. Quanto ao material de vidro, é tão imprescindível quanto a balança semianalítica, já que para todas as análises requerem o uso destes materiais. 34 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Tabela 2 – Listagem do Material necessário à realização das análises propostas e respetivas especificações Material Balança Semi-Analítica ou de Precisão Estufa de Secagem Mufla Exsicador de vidro - HPLC - Material de vidro Capacidade: entre 520g e 2200g; Leitura: ≤ 0,01g; Volume: entre 56 e 126 L Temperatura: de 1100ºC a 1200ºC; Capacidade: de 3 a 15 L Gobelé (50, 100, 200mL); 3.2. Especificações Balões volumétricos (500mL); Erlenmeyer (500 mL); Refrigerador de Refluxo; Cadinhos; Levantamento dos recursos existentes na empresa Dado que a empresa Meltino Café já dispunha de alguns materiais de laboratório associados a medições de controlo de qualidade, foi feito um levantamento destes meios para perceber se seria possível realizar, sem recurso à aquisição de novos equipamentos e materiais, alguma das análises pretendidas na própria empresa. Um dos materiais que a empresa já tinha nas suas instalações era uma balança analítica. Esta era usada especificamente ao nível do controlo da qualidade para pesagens de produtos já embalados, o que implica que, de qualquer maneira a Meltino Café teria de adquirir este equipamento para o laboratório de análises. No entanto, este recurso permitiu realizar, experimentalmente, uma das análises referidas no Decreto-Lei nº78/2013, o “Teor de corpos de estranhos ao café e o Teor de grãos defeituosos”, uma vez que para a realização desta análise, apenas seria necessário o uso de uma balança analítica. 3.3. Custos de Manutenção É também importante referir que, a médio/longo prazo, existem outros custos associados à implementação de um laboratório deste género, estes podem ser apontados como custos de manutenção. A tabela 3 enumera os principais custos de manutenção que este laboratório 35 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café eventualmente teria. No entanto, o valor destes custos não é fácil de averiguar ao certo, uma vez que estes podem resultar de diversas origens. Estes custos dependem, por exemplo, se as 6 análises requerem um ou mais quilogramas de café; se as análises serão realizadas uma ou várias vezes por ano; se serão realizadas a cada um dos lotes produzidos ou apenas às origens de café, etc. Sem um estudo mais elaborado e a longo prazo, não é possível prever estes custos ao certo, porém, para além do valor de aquisição dos equipamentos e materiais, é importante considera-los. Tabela 3 – Principais Custos de Manutenção associados a um laboratório de análise de café Quantidade de Café usado Reagentes usados Eletricidade gasta Limpeza dos materiais (detergentes específicos, água, etc.) 1 Colaborador qualificado 3.4. Custo das Análises no Laboratório Externo Atualmente a empresa Meltino Café envia amostras de café para um laboratório externo que realiza as análises exigidas para a comercialização de café em Portugal e retorna o resultado para a empresa. O preço anual que o laboratório externo impõe é de cerca de 432,90 €+ IVA. Contudo, a Meltino Café, uma empresa relativamente pequena mas em franco crescimento, está a expandir o seu negócio, e a aumentar o volume das suas receitas. Isto, certamente, irá acarretar um aumento no preço anual que o laboratório externo vai exigir. E uma vez que assim também ganharia alguma independência no seu segmento de mercado, a empresa reconheceu que se continuar a aumentar razoavelmente o seu volume de negócio, poderia implementar este laboratório e conseguir recuperar o investimento o mais cedo possível. 3.5. Orçamento Foram realizadas várias pesquisas e pedidos vários orçamentos relativos aos custos associados aos equipamentos necessários. As empresas a quem foram pedidos orçamentos, estão apresentadas na tabela 4. Todas as empresas foram contactadas via e-mail e todas elas estabeleceram contacto, agradecendo a consulta e o interesse, no entanto, apenas a Vitrilab - Material e Equipamento de 36 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Laboratório, Lda acabou por fornecer um orçamento pormenorizado com a maioria dos equipamentos requeridos. Tabela 4 – Nome da empresa, contacto e respetiva resposta de todas as empresas a quem foram pedidos orçamentos relativamente aos equipamentos e materiais precisos Nome da Empresa FuturLab, Material de Laboratório MC&S, Lda Forlab, Equipamentos e Consumíveis para Laboratório, Lda JMGS, Lda VREIS, tudo para laboratório Vitrilab - Material e Equipamento de Laboratório, Lda Paralab MDL- Material Didáctico e Laboratório, Lda MTB – Precision Tecnology Contacto [email protected] Resposta Negativa [email protected] Negativa [email protected] Negativa [email protected] Negativa [email protected] Negativa [email protected] Positiva [email protected] Negativa [email protected] Negativa [email protected] Negativa Assim sendo, os valores apresentados na tabela 5 (preço e especificações) foram obtidos com base num orçamento pormenorizado fornecido pela empresa Vitrilab - Material e Equipamento de Laboratório, Lda. (Anexo I). O único equipamento cujo preço e especificações não faziam parte do orçamento fornecido pela Vitrilab foi o HPLC. Esse dado foi conseguido a partir de uma página de internet intitulada Med Wow (34). Este sítio trata-se de uma plataforma mundial de comércio eletrónico de equipamentos médicos novos e semi-novos. Sendo uma plataforma mundial, o preço deste equipamento poderia não estar de acordo com a realidade de Portugal, ou seja, os valores que são cobrados por este mesmo equipamento nacionalmente poderiam ser diferentes. No entanto, e visto que nenhuma das empresas Portuguesas contactadas tinha um valor para este tipo de equipamento, considerou-se que se teria de recorrer ao mercado internacional para obtê-lo. Relativamente ao IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), todos os equipamentos já o têm incluído, o que significa que não há nenhum acréscimo aos valores apresentados na tabela 5. Finalmente, somando todos os valores exibidos na tabela 5, conclui-se que o custo de aquisição de todos os equipamentos e materiais ficaria por cerca de 6 391,00€. Este orçamento foi apresentado à direção da empresa Meltino Café que o examinou e achou que ainda não seria a ocasião ideal para adquirir os equipamentos, no entanto, mais tarde, poderão recorrer a este estudo e orçamento de modo a implementarem este laboratório. 37 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Tabela 5 – Material necessário, respetivos preços e especificações para a implementação de um laboratório de análises Material Preço (€) Balança de precisão de alto 690.00 rendimento Estufa de esterilização e secagem 910.00 Mufla Elétrica "Select-Horn" Exsicador de vidro 2 200.00 82.00 ≈ 75.00 Material de Vidro Especificações Calibração Interna; Capacidade de 600gr; Sensibilidade de 0,001gr; Modelo PLJ 600-3CM KERN Circulação Natural; Termostato regulador de temperatura; Termómetro analógico; Temperaturas reguláveis desde 40ºC até 250ºC; Capacidade de 80 litros Temperaturas reguláveis até 1150ºC; Capacidade de 3.6 litros Diâmetro de 250 mm; Torneia na tampa; Placa de porcelana Copos de precipitação de forma baixa (100, 250, 600 e 1000mL); Balões volumétricos marcados com 1 traço e rolha IN (100, 250 e 500mL); Cadinhos de porcelana forma alta (30 e 50 mL); Balões erlenmeyer boca estreita (250, 500 e 1000mL); Refrigerante reto com 400 mm de comprimento útil e com INM 29/32 HPLC 2 434,00 Total = Fabricante: Dionex Modelo VDM-2 Avaliação 100% 6 391,00 3.6. Realização das análises possíveis Como já foi referido no ponto 3.2., seria possível realizar nas instalações da empresa Meltino Café a análise relativa ao “Teor de corpos de estranhos ao café e ao Teor de grãos defeituosos”. Esta análise 38 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café é relativamente simples e intuitiva, e tem a particularidade de poder ser feita tanto com café verde como com café torrado. Habitualmente, é realizada com café verde, já que assim é mais fácil identificar os defeitos e corpos estranhos presentes em determinado lote (no entanto é importante ressalvar que a análise requerida no Decreto-Lei nº78/2013 deverá ser feita com café torrado). Foi então elaborado um Procedimento Operacional Padrão (POP) (Anexo I) para esta análise. Este POP intitulado “Análise e Controlo dos Defeitos do Café Verde” descreve pormenorizadamente as definições e os procedimentos necessários para a realização de toda a análise; Foi concebido tendo em conta a realidade da empresa Meltino Café e mais tarde, na eventualidade de a empresa começar a executar este procedimento nas suas instalações, será usado permanentemente. Seguindo o POP descrito, foram realizadas várias análises, no entanto, uma vez que os resultados foram bastante semelhantes, apenas irá ser apresentado um exemplo. A análise foi feita com 300 gramas de café verde de um lote com origem Brasil. A percentagem de defeitos foi de apenas 3,7% (tabela 6), ou seja, inferior aos 5% permitidos por lei, e não foram encontrados quaisquer corpos estranhos, cuja percentagem deveria ser inferior a 0,5%. Isto significa que este lote pode ser usado sem qualquer prejuízo para a Meltino Café. Tabela 6 – Peso e Percentagem de Defeitos em 300 gramas de Café Verde do Lote Brasil Lote Peso das Impurezas (g) Percentagem de Defeitos (%) Brasil 11,0 3,7 <5% Este protocolo permite também estabelecer uma relação entre o número de defeitos que os 300 gramas de café verde têm com o “tipo” a que pertencem. A tabela de Classificação Oficial Brasileira (COB) classifica o café desde o "Tipo 0" ao "Tipo 8", sendo que um "tipo" de menor número indica um café com menos defeitos. Geralmente, para efeito de exportação, o mercado trabalha com café "tipo 4 a 5" (35). Tal como a análise à percentagem de defeitos, também a classificação relativamente ao tipo foi satisfatória. A tabela 7 mostra que o café verde do lote Brasil analisado tinha 22 defeitos, o que significa que, de acordo com a COB, este lote é do tipo 4, o que o torna um lote aceitável tanto para comércio como para consumo. 39 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Tabela 7 – Tipo de Defeito, Número e Número de Defeitos Correspondentes em 300 gramas de Café Verde do Lote Brasil Tipo de Defeito Número Número de Defeitos Correspondente Preto 3 3 Comido 14 3 Verde 17 4 Partido 12 3 Ardido e/ou Marinheiro 13 6 Concha 8 3 Total de Defeitos = 22 ≈ Tipo 4 3.7. Conclusões Graças às suas características organoléticas diferenciadas e às suas propriedades estimulantes, o café é uma das bebidas mais consumidas a nível mundial. O interesse por esta comodidade é notável, fazendo com que cada vez mais se observe uma expansão do mercado de café. Este interesse aliado à procura pela qualidade e segurança alimentar traz a necessidade de certificação do produto e das empresas que o comercializam. Para isso é preciso analisar o café em laboratórios (internos ou externos às empresas), respeitando os critérios definidos pelos organismos responsáveis. Neste sentido, a empresa portuguesa Meltino Café sugeriu a implementação de um laboratório de análises de café nas suas instalações, de modo a se afirmar neste segmento de mercado. Assim sendo foi elaborado um orçamento detalhado de todos os materiais necessários, foram investigados os custos anuais das análises no laboratório externo e foi feito um levantamento dos recursos já existentes na empresa. O custo de todos os equipamentos e materiais, não incluindo os custos de manutenção, uma vez que não foi possível averiguar esses valores, foi de 6 391,00€. Já o custo anual das análises no laboratório externo foi de cerca de 432,90€+IVA. Contas feitas, foi claro perceber que, a curto prazo, a implementação de um laboratório na Meltino Café seria pouco rentável para a empresa. No entanto, e tendo em conta que a empresa está a crescer e a aumentar o seu volume de negócio, talvez, num futuro não muito longínquo, a Meltino Café considere a hipótese de implementar este laboratório, na esperança de recuperar rapidamente o aveludado investimento inicial. Relativamente aos equipamentos já presentes nas instalações, percebeu-se que um deles seria a balança analítica, o que iria permitir a realização de uma das 6 análises requeridas no Decreto-Lei nº78/2013. Essa análise, o “Teor de corpos de estranhos ao café e Teor de grãos defeituosos” acabou 40 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café por ser executada, experimentalmente, na empresa seguindo o POP elaborado para esse efeito (Anexo I). A experiência ocorreu de acordo com o previsto, e o resultado mostrou-se positivo, garantindo assim que seria possível realizar esta análise na Meltino Café. 41 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 4. IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE CÁPSULAS Um segundo objetivo desta dissertação foi a implementação de um sistema de cápsulas de café, devidamente ajustado aos interesses e à realidade da empresa Meltino Café. Ao longo deste capítulo irá ser descrita a conceção do produto ao nível de conceito, de desenho de sistemas, de teste e refinamento e de início de produção. Tudo isto de acordo com uma metodologia de desenvolvimento de processos que contempla 6 etapas: o Planeamento, o Desenvolvimento de Conceito, o Desenho de Sistemas, o Desenho Detalhado, o Teste e Refinamento e o Início de Produção. De modo a expandir o seu negócio e a aumentar o seu volume de receitas, a Meltino Café, tal como muitas outras empresas do seu segmento, decidiu investir neste novo nicho de mercado: o sistema de cápsulas. No entanto e porque cada café tem diferentes características, surge a necessidade de fazer conceção do produto para perceber e adaptar a produção destas cápsulas aos lotes Meltino Café. 4.1. Planeamento Inicialmente foi fundamental efetuar um planeamento de atividades a realizar e definir o objetivo e a estratégia a seguir. Nesta fase foi também importante estudar todos os recursos necessários, desde os meios materiais, humanos e tecnológicos (36). O objetivo desta tarefa foi iniciar a produção de cápsulas de café nas instalações da empresa Meltino Café. A estratégia seguida seria realizar as experiências a nível de desenvolvimento de conceito, contatar fornecedores, receber a máquina, realizar os testes e refinamentos já com a máquina operacional e finalmente iniciar a produção de cápsulas. No entanto, até à presente data, a máquina ainda não teria chegado à empresa Meltino Café, logo, a estratégia descrita não foi acompanhada até que se alcançasse o objetivo desta tarefa. Assim sendo, foi essencial perceber como todo o processo se iria desenvolver, mesmo antes de adquirir todos os equipamentos. Para isso, foram realizadas experiências que ajudaram a definir as melhores opções a tomar; como por exemplo, a moagem e a gramagem que iria garantir a melhor extração dos lotes Meltino Café. É importante salientar que estes testes consistiram na utilização de protótipos que simularam as soluções pretendidas e que foi a partir destes testes que se percebeu que 42 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café seria viável a sua aplicação real. Estas experiências exigiram alguns recursos os quais que se encontram enumerados na tabela 8. Tabela 8 – Recursos Materiais, Humanos e Tecnológicos necessários para a realização das experiências/testes protótipo Recursos Materiais Recursos Humanos Recursos Tecnológicos Cápsulas vazias; Rolo de Alumínio; Tesoura; Espátula; Suporte para a cápsula; Café em Grão; Balança de Precisão Digital 2 a 3 Pessoas; Folha Excel para registo; Ferro de Engomar Moinho de Café Computador; Máquina de café de cápsulas (Modelos: Nespresso Inissia; Nespresso U; Nespresso Essenza e Nespresso Pixie) 4.2. Desenvolvimento de Conceito Durante esta etapa foram definidas as diversas possibilidades e variações a serem testadas (36). Todas essas opções estão exibidas no Anexo II. Foi também nesta fase que se deu início às experiências que iriam revelar quais as melhores opções a tomar. Estes testes foram realizados nas instalações da empresa usando os recursos enumerados na tabela 8. É importante ressalvar que não foi seguido qualquer protocolo oficial. No entanto foi elaborado um protocolo base (Anexo II) que contém os materiais utilizados e os principais procedimentos que foram seguidos. Na tabela 9 é possível observar os resultados das treze experiências realizadas na Meltino Café. Para todos estes testes foi usada a máquina Nespresso Essenza, uma vez que as outras três máquinas (Nespresso Inissia; Nespresso U e Nespresso Pixie) ainda não teriam sido adquiridas pela empresa aquando da realização destes procedimentos experimentais. Os lotes de café usados foram o Lote Maximum e o Lote Ouro, pois são os melhores lotes em termos de sabor, qualidade e venda. 43 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Tabela 9 – Resultados das experiências relativas ao Desenvolvimento de Conceito realizadas na empresa Meltino Café Peso Resultado da Prova (Gramagem) (1 a 5) Grossa 5,4 g 2 Água passou rápido Maximum Grossa 5,4 g 2 Água passou rápido 3 Maximum Extra fina 5,2 g 3 Água saiu a conta-gotas 4 Maximum Fina 5,3 g 4 Nada a observar 5 Maximum Fina 5,2 g 4 Nada a observar 6 Maximum Fina 5,2 g 4 Nada a observar 7 Maximum Fina 5,4 g 4 Nada a observar 8 Ouro Grossa 5,1 g 2 Água passou rápido 9 Ouro Extra fina 5,4 g 3 Água saiu a conta-gotas 10 Ouro Extra fina 5,4 g 3 Água saiu a conta-gotas 11 Ouro Fina 5,2 g 4 Nada a observar 12 Ouro Fina 5,2 g 4 Nada a observar 13 Ouro Fina 5,2 g 4 Nada a observar Teste nº Lote de Café Moagem 1 Maximum 2 Observações Escala de 1 a 5, em que 1 – pior e 5 – melhor A moagem do café foi uma das opções que se revelou essencial para uma perfeita extração do café em cápsula: Quando o café estava pouco moído (moagem grossa) a água passava rapidamente e quase sem cor, no entanto, quando este se encontrava demasiado moído (moagem extra fina) a água saía a conta-gotas não permitindo a formação de creme no café. Durante as experiências, a moagem foi bastante explorada e só ao fim de cerca de 4 tentativas é que foi possível encontrar a moagem mais acertada, a moagem fina. Já o peso/gramagem do café não foi um parâmetro tão difícil de definir uma vez que pelas pesquisas elaboradas já havia a noção da quantidade de café a usar, que seria entre os 5,0 e os 5,5 gramas. Mais importante que o peso/gramagem foi a compressão do café na cápsula de café. Apesar de não ser um parâmetro quantificável, é bastante relevante ao nível da extração, pois uma compressão demasiado apertada, ou pelo contrário, pouco apertada faz com que o café não seja extraído da melhor forma. Relativamente à prova, foi seguida a Instrução de Trabalho IT 007 – Análise Sensorial do Café (Anexo II) já existente e elaborada na Meltino Café. No entanto, e para facilitar a visualização do resultado na tabela 9, foi feita uma média dos resultados dos cinco parâmetros avaliados durante a prova (doçura, acidez, intensidade da cor, intensidade do creme e corpo). Durante a prova cada um dos parâmetros é quantificado numa escala de 1 a 5. Sendo que “1” é a base, é a pior classificação e “5” é o topo, a melhor classificação. 44 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Finalmente é fundamental salientar que alguns dos parâmetros apresentados no Anexo II não chegaram a ser experimentados. Isto deveu-se ao fato de aquando destes testes, a empresa ainda não ter acesso a todos os equipamentos necessários: ainda só haviam adquirido a máquina Nespresso Essenza; não tinham os materiais de embalamento necessários para avaliar como o tempo de repouso iria influenciar a extração do café, entre outros. A presente dissertação, apenas incide detalhadamente sobre as duas primeiras fases, relativamente aos estágios do desenvolvimento de processos. 4.3. Desenho de Sistemas e Desenho Detalhado O desenho de sistemas permite identificar as opções mais adequadas tendo em conta os resultados obtidos com as experiências elaboradas na etapa anterior (Ponto 4.2.). Para cada uma destas escolhas é efetuada a conceptualização do processo como um todo, de onde resulta um desenho genérico do produto. Deste plano genérico constam as principais características e funções do sistema e todas as especificações necessárias para o desenho detalhado (36). Com o desenho detalhado, o projeto fica completamente definido e pronto a ser executado, tendo em conta que a identificação, negociação e contratualização dos fornecedores está também concluída. Desta fase resulta o processo totalmente desenvolvido e pronto a ser construído (36). No entanto e como a empresa Meltino Café adquiriu a máquina de cápsulas já totalmente construída e pronta a usar, estas duas fases foram meramente teóricas. 4.4. Teste e Refinamento Esta é uma etapa bastante importante, que permite fazer pequenas alterações ao processo de modo a melhorar o seu funcionamento. Durante esta fase de testes e refinamento é possível prevenir eventuais problemas que poderão surgir no início da produção (36). 4.5. Início Produção Finalmente, durante esta última fase irá ser implementado o novo sistema produtivo. Este deverá conter todos os componentes identificados nos pontos 4.2 e 4.3, acompanhados dos devidos ajustes resultantes do ponto 4.4. 45 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Um fator de grande importância nesta etapa é a formação dos recursos humanos, pois irá permitir a deteção e eliminação de possíveis problemas que o processo desenvolvido ainda possa ter (36). Estas duas últimas fases (Teste e Refinamento e Início de Produção) não foram possíveis de realizar uma vez que aquando da escrita desta dissertação a máquina de cápsulas ainda não teria chegado à empresa Meltino Café. 4.6. Conclusões O café é, atualmente, a bebida preparada mais consumida no mundo. A expansão deste mercado aliada à exigência dos consumidores fez com que emergisse um novo nicho de mercado, o Sistema de Cápsulas de Café. O crescimento deste nicho de mercado deve-se principalmente à queda das patentes Nespresso, a um maior consumo de café em ambiente doméstico e ao aumento da oferta de café em cápsulas. Nos últimos anos, o consumo de café dentro do lar tem-se mostrado uma tendência, fazendo com que as empresas do segmento invistam cada vez mais neste novo nicho de mercado. Também a Meltino Café não quis ficar aquém, resolvendo implementar este sistema de cápsulas na sua empresa. Sendo assim, seguiu-se uma metodologia de desenvolvimento de processos que incluiu um planeamento, um desenvolvimento de conceito, um desenho de sistemas, um desenho detalhado, teste e refinamento e início de produção. No entanto, e uma vez que aquando da escrita da presente dissertação a máquina de cápsulas de café ainda não teria chegado à empresa Meltino Café, apenas foram descritas com detalhe as duas primeiras fases do processo, o planeamento e o desenvolvimento de conceito. Assim, durante o planeamento, foi estipulado o objetivo - iniciar a produção de cápsulas de café nas instalações da empresa – a estratégia a seguir – fazer experiências a nível de desenvolvimento de conceito, contatar fornecedores, receber a máquina, realizar testes e refinamentos já com a máquina operacional e finalmente iniciar a produção de cápsulas – e estudar os recursos necessários – tabela 8 -. No decorrer da fase “Desenvolvimento de Conceito” concluiu-se, através dos resultados das experiências exibidos na tabela 9, qual a melhor moagem a ser usada, a moagem fina e provou-se qual seria a melhor gramagem, entre 5 a 5,5 gramas. 46 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Silva, Regina Helena Couto. Agronegócio em análise. Departamento de Pesquisas e Estudos Económicos. 2013. 2. HostelVendingPortugal. O mercado nacional de café. http://www.hostelvending.com.pt/vending-cafe/noticias/o- mercado-nacional-de-cafe. [Online] 2011. 3. Meltinocafé. História da Marca. http://meltino.pt/XXX/index.php?route=information/information&information_id=6. [Online] 2013. 4. —. Cafés, Chás & Outros. http://meltino.pt/XXX/index.php?route=information/information&information_id=12. [Online] 2013. 5. Marques, João Manuel Simões da Silva. 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Universidade Federal de Pelotas. 2008, pp. 34-46. 32. Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território. Decreto-Lei n.º 78/2013 de 11 de Junho. Diário da República, 1.ª série — N.º 111 — 11 de Junho de 2013. 2013. 33. Odair Zenebon, et al. Capítulo XII - Café, Chá e Derivados. Métodos Físico-Químicos para a Análise de Alimentos. IV edição, 1ª edição digital, 2008, pp. 491-501. 34. Wow, Med. Med Wow. http://pt.medwow.com/used-hplc-equipment/41.med. [Online] 2014. 35. Unicafé. Classificação - O processo para definição dos valores comerciais. http://www.unicafe.com.br/asp/system/empty.asp?P=43&VID=default&SID=205694771880170&S=1&C=20646. [Online] 2014. 36. Santos, César Miguel Baltazar Coelho da Silva. Desenvolvimento de um processo de desmembramento e separação de cápsulas de café. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa. Lisboa : s.n., 2011. 48 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café ANEXO I – IMPLEMENTAÇÃO DO LABORATÓRIO DE ANÁLISES i. Orçamento Vitrilab – Material e Equipamento de Laboratório, Lda. 49 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 50 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café ii. Procedimento Operacional Padrão PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO NºX - ANÁLISE E CONTROLO DOS DEFEITOS DO CAFÉ VERDE 1. Pág. 1de 5 OBJETIVO Determinar a percentagem de defeitos do café verde de modo a garantir que o produto final não excede os limites estabelecidos na legislação em vigor. 2. ÁREAS ENVOLVIDAS/RESPONSABILIDADES Receção da matéria-prima; Armazém; Garantia de qualidade. 3. DEFINIÇÕES Os defeitos encontrados no café verde podem ser de natureza intrínseca (grãos defeituosos) ou de natureza extrínseca (corpos estranhos). Os primeiros compreendem grãos defeituosos devido a mal formações, danos provocados por pestes, deterioração e falhas no processamento (ex. pretos, verdes, cocos, quebrados, ardidos, brocados); os segundos incluem todos os elementos estranhos ao café beneficiado (ex. paus, pedras). 3.1. Grãos Defeituosos 3.1.1. Mal formações Grãos Pretos Estes grãos apresentam uma superfície maioritariamente preta e enrugada. Alguns são inteiramente pretos, outros são castanho-acinzentados. Causas: O contato prolongado entre o grão de café verde e o solo acaba por provocar uma fermentação descontrolada no grão; colheita tardia. 1 Grão Preto = 1 Defeito 51 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Grãos Ardidos Estes grãos têm menor peso relativamente aos grãos normais e possuem uma superfície avermelhada. Esta é habitualmente enrugada, com coloração irregular e aspeto seco. Causas: Fermentação de grãos maduros na cereja devido a colheita tardia 2 Grãos Ardidos = 1 Defeito ou a contato prolongado com o solo. Grãos Verdes Escuro Grãos com uma cor verde escura mas com peso normal. Causas: Contato com água depois do descasque. 3 Grãos Verdes Escuro = 1 Defeito Grãos Chocos Grãos Chocos são grãos imaturos com uma coloração clara esverdeada e/ou acinzentada. Estes têm uma superfície dobrada que em partes pode ser preta ou castanha. Causas: Grãos subdesenvolvidos. 5 Grãos Chocos = 1 Defeito Grãos Verdes Estes grãos têm muito menos densidade que os grãos normais e apresentam uma cor clara esverdeada e acinzentada. Causas: Colheita de grãos imaturos. 5 Grãos Verdes = 1 Defeito 52 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 3.1.2. Danos provocados por Pestes Grãos Comidos Estes grãos são comidos por insetos. Os buracos têm diâmetros entre 0.5 e 1.5 mm. Causas: São atacados por insetos com o nome científico Hypothenemus Hampey, também conhecido como 5 Grãos Comidos = 2 Grãos Bastante Comidos = 1 Defeito 1 Defeito 3.1.3. broca-do-café ou caruncho. Deterioração Grãos Concha São grãos deformados com uma parede fina que se parece com uma concha. Causas: Fatores genéticos e /ou fisiológicos. Ocorre frequentemente quando, durante a floração, há chuvas intensas. 3 Grãos Concha = 1 Defeito Grãos Partidos São fragmentos, grandes ou pequenos, de grãos de café verde. Causas: Secagem incorreta, mau ajuste do descasque, paredes finas e frágeis. 5 Grãos Partidos = 1 Defeito 53 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 3.1.4. Falhas no Processamento Grãos Marinheiros Grãos que estão total ou parcialmente cobertos com casca. Causas: Separação incompleta do grão da cereja. 2 Marinheiros = 1 Defeito Grãos Cocos Cerejas de café totalmente secas que ainda contêm grãos. Causas: Ajustamento incorreto do descascador. Isto acontece frequentemente em cerejas com apenas um grão de café. 1 Coco = 1 Defeito Grãos Cascas Fragmentos de polpa seca. Causas: Mau descasque e limpeza. 1 Casca Grande 1 Defeito = 2 Cascas Médias = 3 Cascas Pequenas = 1 Defeito 1 Defeito 54 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café 3.2. Corpos Estranhos Pedras Pedras de várias formas e tamanhos incluindo pedras vulcânicas tais como pedras-pomes e tufos calcários. Causas: Má limpeza. Outros: As pedras podem danificar os 1 Pedra Grande = 5 1 Pedra Média Defeitos 2 Defeitos = 1 Pedra Pequena = moinhos. 1 Defeito Torrões Torrões de terra com vários tamanhos e composições (areia, barro, argila, etc.) 1 Torrão Grande = 1 Torrão Médio 5 Defeitos 2 Defeitos = 1 Torrão Pequeno = 1 Defeito Paus Paus com vários tamanhos e formas oriundos de árvores. Causas: Quando os métodos de colheita permitem que paus sejam também colhidos (ex. colheita mecanizada). 1 Pau Grande 5 Defeitos = 1 Pau Médio 2 Defeitos = 1 Pau Pequeno = 1 Defeito 55 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Tabela de Equivalências | Classificação Oficial Brasileira (COB) 4. 0 Defeitos corresponde ao Tipo 1 4 ~~ 2 12 ~~ 3 26 ~~ 4 46 ~~ 5 86 ~~ 6 160 ~~ 7 360 ~~ 8 MATERIAL DE TRABALHO UTILIZADO (RECURSOS NECESSÁRIOS) Balança sensível a 0,1g. 5. PROCEDIMENTO i. Retirar uma amostra de 300 gramas de cada lote de café que se pretende analisar; ii. Espalhar a amostra numa superfície lisa, uniforme e plana (preferencialmente preta); iii. Separar, retirando com as mãos, as impurezas e corpos estranhos contidos em cada amostra; ATENÇÃO: Corpos estranhos estão limitados a 0,5%; iv. Pesar os defeitos encontrados na balança de precisão e anotar os valores na ficha; v. Calcular a percentagem de defeitos do lote, que não deverá exceder os 5%, conforme o exemplo de cálculo abaixo. Exemplo de cálculo Uma empresa pretende obter sacas de café verde do lote A e do lote B. De cada lote foram retiradas uma amostra de 300 gramas, das quais as impurezas foram separadas e, em seguida, pesadas. Os resultados encontrados foram os seguintes: Lote Peso das Impurezas (g) Percentagem das Impurezas (%) A 5,6 1,9 <5% B 18,3 6,1>5% 56 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Cálculo da percentagem de defeitos de cada lote Lote A: Em 300 g ----> 5,6 g de impurezas Em 100 g ----> X __ g de impurezas Isso significa que a percentagem de impurezas do lote A foi de 1,9%, portanto inferior a 5%. Lote B: Em 300 g ----> 18,3 g de impurezas Em 100 g ----> X__ g de impurezas Portanto a percentagem de impurezas do lote B foi superior a 5%. Este lote deverá ser combinado com outros para ser utilizado e compor o blend. O resultado final não deve ultrapassar 5%. 6. REFERÊNCIAS NP-1521:1985 Decreto-Lei n.º78/2013 Elaborado por: Aprovado por: Revisar em: Revisado por: 57 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café ANEXO II – IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE CÁPSULAS i. Fichas de Experiências 58 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café ii. Protocolo Base para as Experiências de Desenvolvimento de Conceito Material: Cápsulas vazias; Rolo de Alumínio; Tesoura; Ferro de Engomar Moinho de Café Máquina de café de cápsulas (Modelos: Nespresso Espátula; Inissia; Nespresso U; Nespresso Essenza e Nespresso Suporte para a cápsula; Pixie) Café em Grão; Computador; Balança de Precisão Digital Procedimento: 1. Escolher o lote de café em grão (Lote Meltino Maximum, Lote Meltino Ouro, Lote Meltino Hotelaria, Lote Meltino Expresso, Lote Meltino Descafeinado Grão). 2. Moer o café (moagem grossa, média, fina ou extra fina). 3. Colocar a cápsula vazia na balança de precisão digital e tarar. 4. Encher a cápsula com a ajuda da espátula e de um suporte. 5. Comprimir o café na cápsula. 6. Pesar o conjunto cápsula mais café na balança já tarada (a gramagem do café deve ser entre 5 g e 5.5 g). 7. Recortar um quadrado de alumínio com 5 a 6 cm de lado. 8. Colocar o quadrado de alumínio sobre a abertura redonda da cápsula. 9. Com o ferro de engomar bem quente passar sobre o conjunto durante 3 a 6 segundos ou até selar. 10. Recortar o alumínio excedente. 11. Certificar que o alumínio aderiu à cápsula. 12. Colocar a cápsula cheia e selada na máquina Nespresso (Nespresso Inissia; Nespresso U; Nespresso Essenza ou Nespresso Pixie). 13. Extrair o café. 14. Fazer a prova sensorial, segundo a IT 007 – Análise Sensorial do Café, analisando a doçura, a acidez, a intensidade da cor, a intensidade do creme e o corpo do café extraído. 59 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Instrução de Trabalho IT 007 – Análise Sensorial do Café iii. INSTRUÇÃO DE TRABALHO Data: 13/03/2014 Revisão: 02 IT 007 – ANÁLISE SENSORIAL DO CAFÉ Pág. 60 de 2 OBJECTIVO: A presente instrução de trabalho destina-se a definir o modo de se proceder à análise sensorial do café, quer verde quer torrado, assim como as principais responsabilidades e os principais registos a efetuar por parte dos elementos intervenientes nas provas de café da Lanhoso – Torrefação de Cafés, Lda. 1. REFERÊNCIAS: Processo: Gestão da Produção IT 006 – Mistura e embalamento Código de Boas Práticas, Mod 002/SG 2. PROCEDIMENTO: 3.1. ANÁLISE SENSORIAL DO CAFÉ (VERDE, TORRADO E DESCAFEINADO) Para efetuar a análise sensorial do café verde, torrado ou descafeinado, os colaboradores do Serviço de Embalamento e/ou do Serviço de Torrefação, no caso do café torrado e descafeinado, providenciam a recolha de amostra de café, limpam o moinho e tiram dois cafés - bebida. Os intervenientes na análise de sensorial do café devem analisar 5 características: Doçura Acidez Intensidade da cor Quantidade de creme Corpo A quantificação destas características difere nos dois tipos de cafés verdes, arábicas e robustas e nos tipos de lotes produzidos. Assim, no caso do café verde os parâmetros são os seguintes: 60 Implementação de um Laboratório de Análises e de um Sistema de Cápsulas numa Empresa da Indústria do Café Características Tipo/Quantificação Doçura Acidez Intensidade da Cor Quantidade de Creme Corpo Arábica 3 4 3 3 3 Robusta 2 3 4 4 4 Escala de 1 a 5, em que 1 – menos e 5 – mais A concentração do nível de cafeína no descafeinado é avaliada, anualmente num laboratório externo. No caso dos lotes produzidos, os parâmetros encontram-se definidos nas especificações. Na quantificação das características são considerados os seguintes aspetos: Para se verificar a doçura, o provador degusta um pouco do café e verifica o nível de doçura do mesmo; O grau de acidez determina-se através da degustação, ou seja, após a prova do café o provador denota o nível de acidez; Quando um café apresenta um castanho com tonalidade muito escura, significa que o mesmo está demasiado torrado e, por vezes, até mesmo queimado. A cor ideal é um castanho mais claro (cor da avelã). A intensidade do creme mede-se através da introdução do açúcar, isto é, quando se adiciona o açúcar se este ficar sobre o creme e cair lentamente, significa que o café tem um nível de creme elevado. No caso de o açúcar cair de imediato, está-se perante um café com pouco creme. Se fica creme nas paredes da chávena, quer dizer que o café tem bastante creme. O corpo do café avalia-se pelo facto de um café estar muito diluído ou não e pela consistência. Logo, um café mais diluído e pouco consistente é um café que “enche pouco” a boca, é um café com pouco corpo. Já um café com corpo é aquele que é mais concentrado. Os resultados da prova são registados na “Ficha de Provas”, Mod 075/SG e comparados com os valores definidos nas especificações de cada produto. Perante produto não conforme procede-se de acordo com o P.G. 03 – Gestão da Melhoria. Nota: Todas as atividades descritas nesta instrução de trabalho são realizadas obedecendo ao conjunto de boas práticas de manipulação e higiene descritas no “Código de Boas Práticas”; Mod 002/SG. Elaborado por: Lara Gonçalves Aprovado por: Ilídio Santos Mod 002/SG.00 61