PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - ECONOMIA Director: José Manuel Fernandes Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho POL nº 5544 | Segunda, 30 de Maio de 2005 "Temos de perder a inércia e ir ao encontro das oportunidades que o mercado oferece" O presidente da Federação de Empresários Portugueses na Alemanha aponta três razões para a perda de quota das empresas nacionais na maior economia da zona euro: quebra de competitividade e falta de investimento nacionais e debilidade conjuntural germânica. A inversão da situação passa por parcerias Helena Ferro de Gouveia, Frankfurt As parcerias empresariais são o motor da competitividade e da internacionalização. Pelo que se deve promover as redes empresariais com capacidade de intervenção nos mercados em permanente renovação e novas estruturas de cooperação num quadro complexo de competitividade global. Para Duarte Branco, presidente da Federação de Empresários Portugueses na Alemanha (FEPA ), aqui reside o problema. As PME, que representam a esmagadora maioria das empresas portuguesas, não estão preparadas para participar neste processo. PÚBLICO - Portugal está perder quota de mercado na Alemanha e não só nos sectores dos têxteis e calçado. Que factores podem explicar este desenvolvimento ? Duarte Branco - Efectivamente podemos dizer que as relações económicas luso-alemãs têm arrefecido continuamente nos últimos cinco anos. Isso deve-se, sobretudo, a três factores. À quebra de competitividade da economia portuguesa, à debilidade conjuntural na Alemanha e à falta de investimento para fomentar as relações empresariais luso-alemãs. Embora a Alemanha ainda continue a ser o segundo parceiro comercial mais importante de Portugal e as exportações portuguesas para a Alemanha correspondam a quase 20 por cento do total das exportações portuguesas, facto é que, tanto as importações portuguesas da Alemanha como as alemãs de Portugal revelam um decréscimo em todos os sectores, à excepção do das máquinas, o único a registar um aumento das importações alemãs (dominado quase exclusivamente pela Autoeuropa). PÚBLICO - A globalização também ajudou? Duarte Branco - Como sabemos, as empresas alemãs, principalmente dos sectores referidos na pergunta, apostaram em Portugal como local de produção, devido, principalmente, ao baixo custo da mão-de-obra portuguesa. Entretanto a situação alterou-se completamente com a globalização dos mercados e Portugal tem perdido constantemente capacidade competitiva. Este não é um fenómeno típico português, mas sim europeu. Nós encontramo-nos hoje numa fase de reorientação a nível mundial e os desafios actuais exigem soluções actuais. Neste momento a Alemanha será um dos poucos países europeus que melhor tem superado a mutação estrutural dos últimos 10 anos. Precisamente porque tem apostado mais no conhecimento, na tecnologia e na qualidade topo de gama. PÚBLICO - O que fazer para alterar a situação Duarte Branco - As parcerias empresariais, principalmente as que envolvem empresas dos dois países, são o motor da competitividade e da internacionalização. Portanto, devemos promover as redes empresariais com capacidade de intervenção nos mercados em permanente renovação e novas estruturas de cooperação num quadro complexo de competitividade global. E é aqui que está o problema. As PME, que representam a esmagadora maioria das empresas portuguesas, não estão preparadas para participar neste processo. Por outro lado, a política, tanto na Alemanha como em Portugal, não consegue acompanhar a velocidade do processo de transformação estrutural dos mercados e dar os estímulos certos às empresas, porque ainda continua a apostar em estratégias antiquadas e parcialmente erradas. PÚBLICO - Considera que existem oportunidades na Alemanha para as empresas portuguesas? Duarte Branco - As oportunidades existem e continuarão sempre a existir. É preciso é que as empresas as conheçam e tenham interlocutores à altura, que lhes permitam explorá-las. Mas não podemos continuar a esperar que sejam os alemães a fazer os nossos trabalhos de casa, porque isso nunca irá acontecer. Os alemães têm a sua própria máquina montada, as suas estruturas próprias, com uma Câmara de Comércio em Lisboa, que - mal ou bem - funcionam, mas que defendem exclusivamente os seus interesses, o que é perfeitamente normal. Nós é que estamos claramente em desvantagem em termos de estruturas de apoio às empresas e pouco ou nada fazemos para defender os nossos interesses, as nossas marcas e aquilo que também temos de bom. Como se sabe a Alemanha é um mercado com 80 milhões de consumidores, onde uma presença portuguesa também representa vantagens estratégicas, mesmo em termos de expansão para a Europa Central e do Leste. Temos é de perder a inércia e ir ao encontro das oportunidades que o mercado oferece. PÚBLICO - Quais os sectores na Alemanha com maior potencial? Que estratégias se impõem? Duarte Branco - Segundo o que temos vindo a observar, o sector tecnológico pode ser prometedor para investimentos portugueses, mas como já disse, a Alemanha é um mercado com um potencial imenso e os sectores têxtil/malhas e de máquinas (sem contar os veículos automóveis), bem como os produtos semi-manufacturados e intermédios continuarão a ser importantes em termos de exportação para a Alemanha. Repito: temos de perder a inércia e ir ao encontro das oportunidades que o mercado alemão oferece, e que não são poucas. É claro que devemos apostar nos parceiros certos e aqui . A Federação de Empresários Portugueses na Alemanha está em condições de acompanhar de forma qualificada qualquer intenção de investimento na Alemanha. PÚBLICO - Como é que a FEPA ajuda os empresários Duarte Branco - A nossa Associação representa uma plataforma de contacto e apoio às empresas e oferece um amplo espectro de serviços, que vai desde os estudos de mercado ao desenvolvimento de projectos bilaterais. E isto sempre com o objectivo de reforçar a capacidade competitiva dos nossos associados e promover as parcerias empresariais lusoalemãs. Neste momento somos titulares de um projecto-modelo, co-financiado pela União Europeia, que consiste no desenvolvimento de um "check-up" empresarial adaptado às necessidades específicas de pequenas e médias empresas portuguesas e alemãs, um instrumento que permite ao empresários fazer o ponto da situação da sua empresa, detectar eventuais problemas e antecipar eventuais situações de crise. O objectivo é precisamente fomentar a capacidade competitiva das microempresas e das PME. No entanto, tem sido extremamente difícil motivar as autoridades portuguesas a aderirem e apoiarem este projecto. PÚBLICO - Quais são os entraves principais ao investimento directo na Alemanha? Duarte Branco - A Alemanha é um mercado de grande dimensão e extremamente competitivo. A estes dois aparentes problemas (que na verdade representam verdadeiras oportunidades) junta-se o problema da comunicação, que, no meu entender será o mais complicado. PÚBLICO - Como perspectiva 2005 Duarte Branco - Penso que a pior fase terá passado, embora os seus efeitos continuem a ter repercussões negativas sobre as nossas economias. A crise que se vive é expressão de um processo de ajustamento internacional que ainda durará algum tempo mas também tem um forte componente psicológico. Caberá, portanto, aos nossos governos, saber motivar e fomentar as pequenas e médias empresas e sobretudo a procura interna.