Interações Complexas entre a Biodiversidade e Culturas Indígenas José Manuel Vieira Fragoso, http://www.stanford.edu/group/fragoso/ Scienitist Senior, Universidade de Stanford Trezentos a 500 milhões de pessoas no mundo pertencem a povos indígenas, representam 5000 grupos étnicos distintos e ocupam 20% da superfície habitável do planeta. Povos indígenas ocupam ou detêm títulos de 26% da Bacia Amazônica, amplamente definida para incluir a bacia do Orinoco. Isso é equivalente à extensão de terras designadas na atualidade como zonas protegidas categorias I-IV, sendo que os propostos corredores para a conservação da biodiversidade incluem extensas áreas indígenas. Embora haja provas de que na Amazônia as terras oficialmente reconhecidas como territórios indígenas sejam mais eficazes do que áreas protegidas no sentido de prevenir a degradação de florestas, há também evidências de que quando os povos indígenas se tornam sedentários e integrados nos sistemas socioeconômicos, eles exerçam uma pressão insustentável sobre vertebrados utilizados como caça. Tal sobre-exploração parece ser conseqüência de interações complexas entre as práticas de uso dos recursos, crescimento populacional, adoção de novas tecnologias e direta ou indireta influência da paisagem não-indígena circundante (estradas, cidades, mercado, empregos assalariados, agronegócio, etc.). A discussão do papel das terras indígenas na conservação tem sido, tradicionalmente, um equilíbrio entre direitos humanos e a conservação da biodiversidade. Adotando uma abordagem de conexão entre sistemas naturais-humanos surgem diferentes perspectivas e possivelmente diferentes formas de manejo e de achar soluções. Vertebrados têm sido persistentemente caçados nessas regiões por milênios e continuam a fornecer uma insubstituível fonte de proteínas para os povos indígenas. Esses animais fazem parte de sistemas espirituais complexos que governam as interações humanas com outros elementos do ambiente natural. Em um sistema interligado, a abundância de vertebrados não-humanos e os padrões de diversidade podem refletir padrões de uso humano de longo prazo, e sistemas de crenças espirituais. Mudanças em um componente desse sistema podem levar à resposta de outro. Nós descrevemos os padrões espaciais da biodiversidade e abundância de vertebrados para a região do Rupununi, Guiana, no Norte da América do Sul, e os relacionamos com práticas culturais dos povos indígenas, considerando uma região com aproximadamente 48.000 km2. Os resultados são consideramos quanto às suas implicações para outras regiões tropicais.