UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PESQUISA PLANO DE ATIVIDADES Período: 01 de agosto de 2014 a 31 de julho de 2015 () PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Magmatismo e Evolução Crustal da Amazônia – Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Geociências da Amazônia (INCT – GEOCIAM) Nome do Orientador: JEAN MICHEL LAFON Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Faculdade de Geologia Instituto/Núcleo: Instituto de Geociências Laboratório: Geologia Isotópica Pará - Iso Título do Plano de Trabalho: Geocronologia U-Pb em zircão de rochas graníticas da Suite Intrusiva Mapuera, Porção oeste do Domínio Erepecuru – Trombetas, Província Amazônia Central - sul do Escudo das Guianas. Nome do Bolsista: Sâmia Queiroz Vianna Tipo de Bolsa: PIBIC/ CNPq 1. INTRODUÇÃO: A região noroeste do Pará está inserida, segundo o modelo de compartimentação tectônica/geocronológica para o Cráton Amazônico na Província Amazônia Central (Santos et al. 2006), a qual é subdividida nos domínios Erepecuru-Trombetas e Iriri-Xingu, localizados respectivamente a norte e a sul da Bacia do Amazonas (Leal et al., 2015). A Suíte Intrusiva Mapuera compreende corpos batolíticos e stocks monzograníticos, sienograníticos, e de feldspato alcalino granitos, que afloram por toda a área estudada, mantendo relações de intrusão com as rochas vulcânicas do Grupo Iricoumé (Vasquez & RosaCosta 2008). No DET, os primeiros dados geocronológicos foram obtidos pelo método Rb-Sr em rocha total, indicando as respectivas idades de 1773 ± 53 Ma (Oliveira et al.,1975) e 1750 ± 30 Ma (Jorge João et al.,1984) para granitos dessa suíte. Leal et al., (2015) através do método Pb-Pb em zircão e interpretação de imagens aerogeofísicas, identificou idades de 1977 ± 4 Ma e 1982 ± 9 Ma nas rochas antes incorporados à Suíte Intrusiva Mapuera, o que levou a CPRM-Belém a sugerir uma nova denominação, Granito Caxipacoré, para as rochas anteriormente classificadas como sendo pertencentes a Suíte Intrusiva Mapuera. Sendo, portanto, estas possivelmente as representantes plutônicas do evento vulcânico de 1,99 Ga identificado por (Barreto et al., 2013). O presente trabalho foi iniciado pelo discente Rafael Guimarães, que durante os primeiros seis meses realizou extenso trabalho bibliográfico. Dando seguimento a esse trabalho, são apresentadas, neste relatório, as etapas que sucederam, com os resultados e as discussões obtidas. 2. LOCALIZAÇÃO: A área de estudo situa-se na porção noroeste do Estado do Pará, abrangendo geograficamente parte dos municípios de Oriximiná e Faro e com limite sudoeste com Estado do Amazonas (Figura 1). A área constitui o polígono da Folha Rio Mapuera (SA.21-V-B). Figura 1: Localização da folha Rio Mapuera no noroeste do Pará (Fonte: Leal 2015) 3. JUSTIFICATIVA: O Cráton Amazônico, tanto no Escudo das Guianas quanto no Escudo Brasil Central, foi marcado no final do Paleoproterozóico por um evento magmático orosiriano de grande escala, denominado Uatumã (Melo et al., 1978), lato sensu (~1,88 Ga), o qual produziu principalmente rochas vulcânicas efusivas e explosivas de composições félsicas a intermediárias, intrusões graníticas e, subordinadamente, corpos plutônicos máficos. Albuquerque (1922) foi o primeiro a descrever na região Amazônica, a existência de rochas vulcânicas. Entretanto, a definição de sequência vulcano-plutônica de composição ácida a intermediária com intercalações locais de arenitos, arcóseos e grauvacas, só viria em 1975 com os estudos deMontalvão (1975). Pessoa et al. (1977) denominaram de Grupo Uatumã somente as rochas vulcânicas piroclásticas e as rochas intrusivas, excluindo a cobertura sedimentar. Posteriormente, Melo et al., (1978) elevou a unidade à categoria de Supergrupo Uatumã. Esse magmatismo tem sido estudado em detalhe em diversas regiões do Cráton Amazônico, no qualrecebe diferentes denominações locais (Costiet al., 2000; Lamarão et al., 2002; 2005; Almeida, 2006; Fernandes et al., 2006; 2011; Ferronet al., 2006; 2009; Pierosanet al., 2009, 2011; Valério et al., 2009; 2011, Marques et al., 2014). Entretanto, as condições de acesso muito limitadas pela vasta cobertura vegetal e carência de estradas e/ou rodovias fizeram com que estudos geológicos e geocronológicos sistemáticos fossem praticamente ausentes em uma região do Escudo das Guianas, denominada de Domínio Erepecuru-Trombetas (Vasquez e Rosa-Costa, 2008), em que aflora uma associação vulcanoplutônica relacionada ao magmatismo Uatumã, cujas unidades vulcânicas foram enquadradas no Grupo Iricoumé e plutônicas nas Suites Intrusivas Água Branca e Mapuera, respectivamente. Apesar das rochas do Grupo Iricoumé e das Suítes Intrusivas terem sido reconhecidas no Domínio Erepecuru-Trombetas, a ausência de estudo de detalhe nessa região, dificultou qualquer tentativa de comparação com as demais regiões em que ocorre o magmatismo Uatumã. A área de estudo está localizada na porção meridional do Subdomínio Erepecuru-Trombetas Oeste, norte do Cráton Amazônico (Escudo das Guianas), porção setentrional da Província Amazônia Central (Figura 2). A área é limitada a sul pela cobertura paleozóica da Bacia do Amazonas e, a norte, por unidades metamórficas do embasamento. A unidade predominante é o Grupo Iricoumé, que exibe rochas vulcânicas efusivas e explosivas com texturas e estruturas muito bem preservadas, especialmente nas variedades piroclásticas soldadas. Figura 2: Províncias geocronológicas do Cráton Amazônico de acordo com os modelos de (A) Tassinari& Macambira (1999, 2004) e (B) Santos et al (2000, 2006), com a localização da área de estudo. Os primeiros resultados Pb-Pb em zircão apontam para dois episódios de vulcanismo com idades de 1,99 Ga e 1,89 Ga, respectivamente (Barreto, 2012; Barreto et al., 2013). Os principais tipos litológicos da Suíte Intrusiva Mapuera variam entre monzogranitos a sienogranitos, e ocasionalmente álcali-feldspato granitos, geralmente de coloração avermelhada ou acinzentada, de granulação média a grossa, isotrópicos, com texturas variando de equigranular a porfirítica, e variações de texturas rapakivi e granofírica, formando extensos batólitos e stocks, mantendo uma relação de intrusão com as rochas vulcânicas do Grupo Iricoumé (Jorge João et al., 1984; Vasquez & Rosa-Costa 2008). As características geoquímicas dos granitos da Suíte Intrusiva Mapuera são semelhantes às dos granitos tipo A, fracamente aluminosos a moderadamente peraluminosos podendo ser associados a estágios tardi a pós-orogênicos, com assinatura compatível com associações graníticas subalcalinas a alcalinas supersaturadas (Almeida 2006, Jorge João et al., 1984, Valério 2006). Os primeiros dados geocronológicos disponíveis no Domínio Erepecuru-Trombetas foram obtidos pelo método Rb-Sr em rocha total, revelando idades de 1773 ± 53 Ma (Oliveira et al., 1975) e 1750 ± 30 Ma (Jorge João, Santos, Faraco, 1984). Recentemente, Leal (2013) identificou um evento magmático mais antigo com idade de 1,98 Ga através de datação Pb-Pb em zircão nas rochas graníticas aflorantes ao longo do curso do rio Caxipacoré e que em trabalhos anteriores são cartografadas como Grupo Iricoumé. Do ponto de vista geológico, a área apresenta posicionamento geográfico estratégico, importante para o entendimento dos processos geológicos que levaram a formação da expressiva associação-vulcano plutônica orosiriana que caracteriza o Domínio ErepecuruTrombetas. Nesse contexto, um ponto fundamental a ser discutido é quanto à existência de um evento magmático orosiriano (vulcano-plutônico) mais antigo com idade de 1,99 Ga, identificado por Barreto et al. (2013) e Leal (2013). É importante definir qual a extensão desses eventos de 1,89 Ga (já identificado em trabalhos anteriores) e 1,99 Ga, assim como entender o contexto geodinâmico desses episódios magmáticos. Da obtenção da idade de formação, depende também a denominação de Suite Intrusive Mapuera, já que a mesma foi definida em áreas adjacentes como pertencente ao episódio magmático de 1,89 Ga. A justificativa desse plano de trabalho fundamenta-se na marcante escassez de informações geocronológicas detalhadas sobre as unidades magmáticas no Domínio Erepecuru-Trombetas, quando comparada aos dados existentes para o restante da porção central do Cráton Amazônico. Outra justificativa é a contribuição que os resultados do trabalho deverão fornecer para a elaboração do mapa geológico da região de Trombetas, atualmente em andamento na CPRMBelém, dando continuidade à estreita e produtiva colaboração técnico-científica entre os geólogos da CPRM-Belém e os pesquisadores do Laboratório de Geologia Isotópica da UFPA. O plano de trabalho constitui um complemento da dissertação de mestrado, atualmente em andamento na mesma área, desenvolvida pelo Estudante Rafael Estumano Leal, o qual deverá fornecer o suporte para os dados geocronológicos. 4. OBJETIVOS: O estudo tem como objetivo fornecer novos dados geocronológicos pelo método U-Pb em zircão por espectrometria de massa ICP-MS com Laser Ablation para rochas graníticas da Suite Intrusive Mapuera no Domínio Erepecuru-Trombetas, Província Amazônia Central, para contribuir na identificação dos episódios de granitogênese que ocorreram nesse setor da porção central do Cráton Amazônico durante o Orosiriano. Em específico, o estudo pretende trazer informações geocronológicas complementares quanto a existência de dois episódios distintos de magmatismo félsico orosiriano (1,99 Ga e 1,89 Ga) no setor estudado. O estudo deverá permitir investigar uma possível participação de crosta continental arqueana na fonte deste magmatismo pelo meio da identificação de zircão herdados nessas rochas paleoproterozoicas. Em escala regional, os resultados deverão permitir estabelecer correlação com rochas magmáticas similares e melhor estudadas em áreas adjacentes e auxiliar na discussão da idade de formação e a evolução do setor norte da Província Amazônia Central, dentro das propostas de compartimentação tectônica da porção centro leste do Cráton Amazônico. Em termo de formação de recursos humanos, esse plano de trabalho deverá proporcionar uma oportunidade para um estudante de graduação em geologia de familiarizar-se com os conceitos da geocronologia U-Pb em zircão e com o uso de ferramentas radiométricas na investigação da idade de rochas magmáticas, e, em âmbito mais amplo, da evolução da crosta continental da porção central do Cráton Amazônico. Deverá também permitir ao estudante se aperfeiçoar nas técnicas experimentais de análises geocronológicas pontuais por espectrometria de massa ICP-MS equipado com sistema de abrasão a laser, aproveitando a infra-estrutura laboratorial do Laboratório de Geologia Isotópica e outros laboratórios do IG da UFPA. 5. ATIVIDADES: 5.1 Atividades Previstas: I. Pesquisa bibliográfica Pesquisa bibliográfica sobre os conceitos da geocronologia U-Pb em zircão por ICPMS-LA, aplicada em rochas magmáticas e sobre o período Paleoproterozoico da Amazônia Central e a evolução geológica do Domínio Erepecuru-Trombetas. II. Preparação da amostra Acompanhamento dos processos de trituração, pulverização, concentração dos minerais pesados na Oficina de Preparação de Amostras (OPA) e no Laboratório de Separação de Minerais do IG III. Análise no MEV com catodoluminescência Obtenção das imagens por catodoluminescência no Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). IV. Análises isotópicas Acompanhamento das determinações das composições isotópicas de U e Pb por espectrometria de massa ICP-MS com laser ablation nos cristais selecionados, junto com análise de material de referência (padrão de zircão). V. Processamento dos dados analíticos Acompanhamento do refinamento dos dados analíticos em programas específicos. Correção de Pb de contaminação e de fracionamento isotópico. Cálculo das razões isotópicas 235 U/207Pb, 238U/206Pb e 207Pb/206Pb com os respectivos erros. Cálculo das idades são realizados em diagramas geocronológicos Concórdia com auxílio do programa ISOPLOT/EXCEL de Ludwig (2008). VI. Redação e divulgação Interpretação dos dados dentro do contexto geológico, elaboração do relatório final e divulgação dos resultados em evento científico. 5.2 Atividades Realizadas: I. Revisão Bibliográfica Pesquisa bibliográfica sobre os conceitos da geocronologia U-Pb em zircão por ICPMS-LA, aplicada em rochas magmáticas e sobre o período Paleoproterozoico da Amazônia Central, evolução geológica do Domínio Erepecuru-Trombetas e magmatismo Uatumã. II. Acompanhamento dos processos de trituração, pulverização, concentração dos minerais pesados na Oficina de Preparação de Amostras (OPA) e no Laboratório de Separação de Minerais do IG III. Análise no MEV com catodoluminescência Obtenção das imagens por catodoluminescência e de “backscattering” no Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). 6. MATERIAIS E MÉTODOS: A amostra a ser utilizada neste estudo foi coletada durante a execução do projeto do Mapa geológico do Estado do Pará (CPRM 2008) e cedida pela CPRM-Belém. Nessas campanhas de campo, os perfis e a coleta das amostras foram realizados ao longo dos rios Trombetas e Caxipacoré. As datações radiomêtricas U-Pb em zircão foram realizadas em uma amostra de rochas granítica com características petrográficas da Suíte Intrusiva Mapuera. A técnica utilizada é o método U-Pb em zircão por espectrometria de massa ICP-MS por abrasão a laser (Laser ablation) - ICP-MS-LA. Os princípios do método U-Pb em zircão são descritos em Faure e Mensing (2005). O espectrômetro de massa utilizado é um espectrômetro ICP-MS de marca ThermoFinnigan, modelo Neptune, equipado com multicoletores e multiplicadores de íons, enquanto que o sistema de laser ablation é um sistema de marca CETAC modelo LSX-213 G2. Os equipamentos se encontram no Laboratório de Geologia Isotópica - Pará-Iso do IG da UFPA. Uma descrição detalhada dos equipamentos bem como os protocolos analíticos para a determinação dos isótopos de U e Pb em cristais de zircão com ICP-MS-LA foi apresentada por Chemale Jr et al., (2012). O procedimento completo para a preparação das amostras, extração dos cristais de zircão e análises isotópicas pontuais de U e Pb por ICP-MS-LA incluem as seguintes etapas: - Trituração, pulverização e peneiramento das amostras. - Separação de minerais pesados por densidade e susceptibilidade magnética. - Separação dos cristais de zircão e inclusão em pastilhas de resina. - Obtenção de fotos de cada cristal por microscopia eletrônica de varredura com sistema de catodoluminescência e “backscattering”. As imagens são necessárias para a identificação das estruturas internas dos cristais e a escolha dos pontos de impactos do laser para análise isotópica. O equipamento utilizado o microscópio eletrônico de varredura marca Carl Zeiss modelo Leo 1430 VP do LABMEV do IG - UFPA. - Análise isotópica dos elementos U e Pb e determinação das concentrações desses elementos por ICP-MS-LA. As análises são realizadas de forma pontuais em cada cristal, com alternância de material de referência (zircão padrão GJ-1) para a determinação das concentrações e controle da qualidade analítica. - Redução dos dados analíticos em programas específicos para a obtenção das razões isotópicas 235 U/207Pb, 238U/206Pb e 207Pb/206Pb com os respectivos erros, após correção de Pb comum e de fracionamento isotópico. Uma vez aos dados analíticos devidamente reduzidos e processados, o tratamento dos dados e os cálculos da idade são realizados em diagramas geocronológicos Concórdia, com auxílio do programa ISOPLOT/EXCEL de Ludwig (2008). 7. RESULTADOS: O princípio de um microscópio eletrônico de varredura (MEV) consiste em utilizar um feixe de elétrons de pequeno diâmetro para explorar a superfície da amostra, ponto a ponto, por linhas sucessivas e transmitir o sinal do detector a uma tela catódica cuja varredura está perfeitamente sincronizada com aquela do feixe incidente. Por um sistema de bobinas de deflexão, o feixe pode ser guiado de modo a varrer a superfície da amostra segundo uma malha retangular. O sinal de imagem resulta da interação do feixe incidente com a superfície da amostra. O sinal recolhido pelo detector é utilizado para modular o brilho do monitor, permitindo a observação (Dedavid, 2007). 7.1 Imageamento por elétrons retroespalhados (“backscattering electron” – BSE) Os elétrons retroespalhados, por definição, possuem energia que varia entre 50eV até o valor da energia do elétron primário. Os elétrons retroespalhados, com energia próxima à dos elétrons primários, são aqueles que sofreram espalhamento elástico, e são estes que formam a maior parte do sinal de ERE. O sinal de BSE é resultante das interações ocorridas mais para o interior da amostra e proveniente de uma região do volume de interação abrangendo um diâmetro maior do que o diâmetro do feixe primário. A imagem gerada por esses elétrons fornece diferentes informações em relação ao contraste que apresentam: além de uma imagem topográfica (contraste em função do relevo) também se obtém uma imagem de composição (contraste em função do número atômico dos elementos presentes na amostra) (Dedavid, 2007) (Figuras 2B, 2D, 2F e 2H). 7.2 Imageamento por catodoluminescência A catodoluminescência provém de uma região próxima da superfície do material, mas de um volume de interação superior ao dos raios-X. A profundidade de penetração dos elétrons e consequentemente o volume de interação depende essencialmente da energia cinética dos elétrons. No entanto, nos cristais a transferência de energia pode depender de outros fatores como da estrutura cristalina, de grupos de ânions ou da interação de defeitos da estrutura vizinhos e devido à emissão ser distante do local de excitação (Remond et al., 2000) (Figuras 2A, 2C, 2E e 2G). DISCUSSÃO: As imagens obtidas no presente trabalho são referentes a pastilha ATR-R-153, e estão vinculadas a dissertação de mestrado do aluno Rafael Leal, obtidas através dos métodos descrito acima, no LAB-MEV do IG – UFPA. Morfologia: O zircão é do sistema tetragonal e mais frequentemente cresce como um cristal prismático com terminação dupla com razões de comprimento por largura variando de 1 até 5, que segundo Corfu et al., (2003) é resultado da velocidade de cristalização. Basicamente, o zircão apresenta formas piramidais {211} vs. {101} e formas prismáticas {100} vs. {110}, cujas tipologias estão demonstradas no diagrama de Pupin (1980). A maioria dos cristais imageados exibe formas subarredondadas à arredondadas, com exceção de alguns cristais cuja feição prismática mostra boa preservação. Em geral, são cristais subédricos a anédricos, subordinadamente de euédricos. Foram realizados dois tipos de imageamento com finalidade de auxiliar na seleção dos cristais e escolha dos pontos de impacto do laser durante a etapa de análises U-Pb com o LA-ICP-MS. As imagens geradas pela catodoluminescência, normalmente deveriam gerar imagens capazes de mostrar as estruturas presentes nos cristais, como zoneamentos, recristalização metamórfica, núcleo herdado, caso haja. A luminescência é fortemente influenciada por defeitos estruturais, que implicam diretamente no campo do cristal e como esta responderá ao processo. Como tratam-se de zircões que passaram por processo de metamictização, ou seja, a rede cristalográfica desse mineral foi parcial ou totalmente destruída, devido ao bombardeio de partículas radioativas, esses cristais apresentam diversas feições, como inclusões e fraturas, que condicionam a emissão dos espectros durante o processo da catodoluminescência, estando as imagens, portanto, diretamente relacionadas as condições de formação, de forma que esses processos complexos geram variações estruturais que se refletem no comportamento luminescente. Devido a essas características que os zircões estudados apresentam, as imagens obtidas não foram satisfatórias para serem usadas com objetivo de auxiliar no processo de datação. Evidenciando o avançado estágio de metamictização no quais os cristais de encontram, fator que, posteriormente, será importante para o processe de datação U-Pb. Em se tratando do imageamento “backscattering”, as imagens geradas pelos elétrons nesse processo fornecem diferentes informações relacionadas a contraste que, além de uma imagem topográfica, contraste em função do relevo, também apresenta uma imagem em função da composição, contraste em função do número atômico dos elementos presentes. Para este trabalho, as imagens geradas por “backscattering” apresentaram um resultado melhor e mais adequado aos fins previstos. É possível observar nos cristais fraturas, inclusões, além de porções já totalmente destruídas. Estas áreas se caracterizam inadequadas para aplicação do “spot”, nos processos de datação. Figura 3: Fotos geral da pastilha por Imageamento por elétrons secundários (SE). A) Relação Coluna X Linha da pastilha trabalhada, linhas de A a G e colunas de 1 a 5. B) Colunas de 6 a 9 e linhas de A a G. Esse tipo de organização é feita para maior facilidade em procedimentos posteriores como datação dos cristais. Figura 4: Imageamento individual de cristais de zircão. As imagens A, C, E e G representam imageamentos por catodoluminescência, enquanto as imagens B, D, F e H representam imageamento por elétrons retroespalhados. Comparativamente as imagens de “backscattering” apresentaram feições mais satisfatórias em relação as imagens de catodoluminescência. Enquanto, devido ao estágio avançado de metamictização no qual essas rochas se encontram, as imagens de catodoluminescência tiveram pouco aproveitamento, as imagens de “backscattering” permitiram uma imagem mais clara, tornando visível os defeitos presentes nos cristais. Devido à baixa qualidade dos zircões encontrados apenas um número pequeno de pontos foi analisado, e quando plotados no diagrama da Concórdia apresentam-se bastante dispersos (Figura 6). A idade obtida através da datação U-Pb, foi realizada pelo mestrando Rafael Leal, com o qual este trabalho ocorre associado. Foi encontrada uma 1870±14 Ma, (Figura 5) confirmando a idade da Suíte Intrusiva Mapuera Figura 5: Elipsoides gerados dos cristais analisados, sobre a curva da Concórdia. É possível observar uma grande dispersão que ocorre devido ao grau de metamictização dos cristais. Figura 6: Elipses plotadas no diagrama da concórdia referentes as idades obtidas. As circunferências representam as idades retiradas. É feita uma média e através de refinamentos foi obtida a idade final de 1870 ± 14 Ma 8. CONCLUSÕES: Através dos processos de imageamento no MEV por catodoluminescência e “backscattering”, onde houve uma atuação maior, obtiveram-se imagens com finalidade de auxiliar nos processos posteriores de datação geocronológica, demonstrando clara importância no processo. Por tratarem-se de zircões que sofreram intenso processo de metamictização as imagens de catodoluminescência não tiveram uma resposta de qualidade suficiente, as imagens retroespalhadas, contudo, mostraram uma resposta clara possibilitando a determinação de pontos (spots) adequados para datação. Os zircões selecionados apresentam-se pouco recomendados para o processo de datação, pois apresentam uma grande quantidade de inclusões e fraturas. Ainda assim é possível selecionar pontos para datações. 9. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ALMEIDA, M.E.; MACAMBIRA, M.J.B.; OLIVEIRA, E.C. Geochemistry na dzircon geochronology of the I-type high-K calc-alkalineand S-type granitoid rocks from southeastern Roraima, Brazil: Orosirian collisional magmatism evidence (1.97–1.96 Ga) in central portionofGuyanaShield. Precambrian Research, v. 155, n. 1-2, p. 69-97, 200 BARRETO, C.J.S.; LAFON, J.M.; ROSA-COSTA, L.T; LIMA, E.F. 2014. Palaeoproterozoic (~1.89 Ga) felsic volcanism of the Iricoumé Group, Guyana Shield, South America: geochemical and Sm-Nd isotopic constraints on sources and tectonic environment. International Geology Review, p. 12-21. CORFU F.; HANCHAR J.M; HOSKIN P.W.O; KINNY P. Atlas of zircon textures. In: Hanchar J.M & Hoskin P.W.O, Eds., Zircon, Vol 53, 469-500. Reviews in Mineralogy and Geochemistry, Mineralogical Society of America and Geochemical Society, Chantilly, Virginia. 2003. DEDAVID, B. A.; CARMEM, I.G; MACHADO, G. 2007 Microscopia eletrônica de varredura: aplicações e preparação de amostras: materiais poliméricos, metálicos e semicondutores [recurso eletrônico] – Porto Alegre: EDIPUCRS. JORGE JOÃO, X. S.; SANTOS, C. A.; FARACO, M. T. L. 1984. Projeto Trombetas-Mapuera: relatório final. v. I e II. Belém: DNPM/CPRM. LEAL, E.R.; ROSA-COSTA L.T.; LAFON J.M.; SILVA, C.S.R. 2015. Caracterização geológicogeofísica e geocronologia de plútons graníticos no domínio Erepecuru-Trombetas, Província Amazônia Central, noroeste do Pará, p. 11-17. LUDWIG, K.R. User’s manual for ISOPLOT/EX: a geochronological toolkit for Microsoft Excel (version 3.1). Berkeley Geochronology Center, Special Publication, v. 4, 71 p., 2008. PUPIN J.P. Zircon and granite petrology. Contributions to Mineralogy and Petrology Vol.73, p.207:220. 1980 REIS N.J., ALMEIDA M.E., RIKER S.L., FERREIRA A.L. 2006. Geologia e recursos minerais do Estado do Amazonas. Escala 1:1.000.000. Texto Explicativo. Manaus, Convênio CPRM/CIAMA-AM, 125 p. REMOND, G., PHILLIPS, M., & ROQUES-CARMES, C. (2000). Importance of Instrumental and Experimental Factors on the Intrepretation of Cathodoluminescence Data from Wide Band Gap Materials. Em M. Pagel, V. Barbin, P. Blanc, & D. Ohnenstetter, Cathodoluminescence in Geosciences (pp. 59-126). Springer-Verlag. SANTOS, J.O.S. 2003. 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Programa Geologia do Brasil: Integração, atualização e difusão de dados da Geologia do Brasil. Mapas geológicos estaduais. Escala 1:1.000.000. Texto explicativo. Belém. CPRM. p. 164-173. VASQUEZ M.L., KLEIN E.L., QUADROS M.L.E.S., BAHIA R.B.C., SANTOS A., RICCI P.S.F. SACHETT C.R., SILVA C.M.G., MACAMBIRA M.J.B. 1999. Magmatismo Uatumã na Província Tapajós: Novos dados geocronológicos. In: SBG-Núcleo Norte, 6º Simpósio de Geologia da Amazônia, Actas, p. 471-474. PARECER Levando em conta que o trabalho foi um primeiro contato com a geocronologia U-Pb em zircão e com a área de estudo e o fato de que a bolsista iniciou no PIBIC somente em março de 2015, na ocasião de substituição de bolsista, considero que o desempenho da Sâmia nas suas atividades analíticas e científicas foi bastante satisfatório. Conseguiu cumprir com a grande maioria das atividades previstas apesar de problemas com o espectrômetro de massa ICP-MS que prejudicaram a obtenção de dados geocronológicos e com a greve dos servidores técnicos que levou a uma paralisação parcial das atividades do laboratório. O relatório retrata adequadamente as atividades realizadas pela estudante e a discussão e interpretação está de acordo com os dados obtidos. O documento poderia ter sido melhorado em termos de redação e organização, porém essas imperfeições são devidas à participação da estudante em atividades curriculares de campo (campo II do curso de Geologia), nesse período de finalização do relatório, o que não permitiu uma dedicação maior à elaboração do texto final. Concluindo, estou satisfeito do desempenho da bolsista e estaremos dando continuidade às pesquisas ainda no âmbito do programa PIBIC. Em 10/08/2015 Prof. Jean Michel Lafon