UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
PLANO DE ATIVIDADES
Período: 01 de agosto de 2014 a 31 de julho de 2015
() PARCIAL
(X) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa: Magmatismo e Evolução Crustal da Amazônia – Instituto
Nacional de Ciências e Tecnologia de Geociências da Amazônia (INCT – GEOCIAM)
Nome do Orientador: JEAN MICHEL LAFON
Titulação do Orientador: Doutor
Faculdade: Faculdade de Geologia
Instituto/Núcleo: Instituto de Geociências
Laboratório: Geologia Isotópica Pará - Iso
Título do Plano de Trabalho: Geocronologia U-Pb em zircão de rochas graníticas da Suite
Intrusiva Mapuera, Porção oeste do Domínio Erepecuru – Trombetas, Província Amazônia
Central - sul do Escudo das Guianas.
Nome do Bolsista: Sâmia Queiroz Vianna
Tipo de Bolsa: PIBIC/ CNPq
1. INTRODUÇÃO:
A região noroeste do Pará está inserida, segundo o modelo de compartimentação
tectônica/geocronológica para o Cráton Amazônico na Província Amazônia Central (Santos et
al. 2006), a qual é subdividida nos domínios Erepecuru-Trombetas e Iriri-Xingu, localizados
respectivamente a norte e a sul da Bacia do Amazonas (Leal et al., 2015).
A Suíte Intrusiva Mapuera compreende corpos batolíticos e stocks monzograníticos,
sienograníticos, e de feldspato alcalino granitos, que afloram por toda a área estudada,
mantendo relações de intrusão com as rochas vulcânicas do Grupo Iricoumé (Vasquez & RosaCosta 2008).
No DET, os primeiros dados geocronológicos foram obtidos pelo método Rb-Sr em rocha
total, indicando as respectivas idades de 1773 ± 53 Ma (Oliveira et al.,1975) e 1750 ± 30 Ma
(Jorge João et al.,1984) para granitos dessa suíte.
Leal et al., (2015) através do método Pb-Pb em zircão e interpretação de imagens
aerogeofísicas, identificou idades de 1977 ± 4 Ma e 1982 ± 9 Ma nas rochas antes incorporados
à Suíte Intrusiva Mapuera, o que levou a CPRM-Belém a sugerir uma nova denominação,
Granito Caxipacoré, para as rochas anteriormente classificadas como sendo pertencentes a Suíte
Intrusiva Mapuera. Sendo, portanto, estas possivelmente as representantes plutônicas do evento
vulcânico de 1,99 Ga identificado por (Barreto et al., 2013).
O presente trabalho foi iniciado pelo discente Rafael Guimarães, que durante os
primeiros seis meses realizou extenso trabalho bibliográfico. Dando seguimento a esse trabalho,
são apresentadas, neste relatório, as etapas que sucederam, com os resultados e as discussões
obtidas.
2. LOCALIZAÇÃO:
A área de estudo situa-se na porção noroeste do Estado do Pará, abrangendo geograficamente
parte dos municípios de Oriximiná e Faro e com limite sudoeste com Estado do Amazonas
(Figura 1). A área constitui o polígono da Folha Rio Mapuera (SA.21-V-B).
Figura 1: Localização da folha Rio Mapuera no noroeste do Pará (Fonte: Leal 2015)
3. JUSTIFICATIVA:
O Cráton Amazônico, tanto no Escudo das Guianas quanto no Escudo Brasil Central, foi
marcado no final do Paleoproterozóico por um evento magmático orosiriano de grande escala,
denominado Uatumã (Melo et al., 1978), lato sensu (~1,88 Ga), o qual produziu principalmente
rochas vulcânicas efusivas e explosivas de composições félsicas a intermediárias, intrusões
graníticas e, subordinadamente, corpos plutônicos máficos.
Albuquerque (1922) foi o primeiro a descrever na região Amazônica, a existência de rochas
vulcânicas. Entretanto, a definição de sequência vulcano-plutônica de composição ácida a
intermediária com intercalações locais de arenitos, arcóseos e grauvacas, só viria em 1975 com
os estudos deMontalvão (1975). Pessoa et al. (1977) denominaram de Grupo Uatumã somente
as rochas vulcânicas piroclásticas e as rochas intrusivas, excluindo a cobertura sedimentar.
Posteriormente, Melo et al., (1978) elevou a unidade à categoria de Supergrupo Uatumã.
Esse magmatismo tem sido estudado em detalhe em diversas regiões do Cráton Amazônico,
no qualrecebe diferentes denominações locais (Costiet al., 2000; Lamarão et al., 2002; 2005;
Almeida, 2006; Fernandes et al., 2006; 2011; Ferronet al., 2006; 2009; Pierosanet al., 2009,
2011; Valério et al., 2009; 2011, Marques et al., 2014).
Entretanto, as condições de acesso muito limitadas pela vasta cobertura vegetal e carência
de estradas e/ou rodovias fizeram com que estudos geológicos e geocronológicos sistemáticos
fossem praticamente ausentes em uma região do Escudo das Guianas, denominada de Domínio
Erepecuru-Trombetas (Vasquez e Rosa-Costa, 2008), em que aflora uma associação vulcanoplutônica relacionada ao magmatismo Uatumã, cujas unidades vulcânicas foram enquadradas
no Grupo Iricoumé e plutônicas nas Suites Intrusivas Água Branca e Mapuera, respectivamente.
Apesar das rochas do Grupo Iricoumé e das Suítes Intrusivas terem sido reconhecidas no
Domínio Erepecuru-Trombetas, a ausência de estudo de detalhe nessa região, dificultou
qualquer tentativa de comparação com as demais regiões em que ocorre o magmatismo Uatumã.
A área de estudo está localizada na porção meridional do Subdomínio Erepecuru-Trombetas
Oeste, norte do Cráton Amazônico (Escudo das Guianas), porção setentrional da Província
Amazônia Central (Figura 2). A área é limitada a sul pela cobertura paleozóica da Bacia do
Amazonas e, a norte, por unidades metamórficas do embasamento. A unidade predominante é
o Grupo Iricoumé, que exibe rochas vulcânicas efusivas e explosivas com texturas e estruturas
muito bem preservadas, especialmente nas variedades piroclásticas soldadas.
Figura 2: Províncias geocronológicas do Cráton Amazônico de acordo com os modelos de (A) Tassinari& Macambira
(1999, 2004) e (B) Santos et al (2000, 2006), com a localização da área de estudo.
Os primeiros resultados Pb-Pb em zircão apontam para dois episódios de vulcanismo com
idades de 1,99 Ga e 1,89 Ga, respectivamente (Barreto, 2012; Barreto et al., 2013). Os
principais tipos litológicos da Suíte Intrusiva Mapuera variam entre monzogranitos a
sienogranitos, e ocasionalmente álcali-feldspato granitos, geralmente de coloração avermelhada
ou acinzentada, de granulação média a grossa, isotrópicos, com texturas variando de
equigranular a porfirítica, e variações de texturas rapakivi e granofírica, formando extensos
batólitos e stocks, mantendo uma relação de intrusão com as rochas vulcânicas do Grupo
Iricoumé (Jorge João et al., 1984; Vasquez & Rosa-Costa 2008).
As características geoquímicas dos granitos da Suíte Intrusiva Mapuera são semelhantes às
dos granitos tipo A, fracamente aluminosos a moderadamente peraluminosos podendo ser
associados a estágios tardi a pós-orogênicos, com assinatura compatível com associações
graníticas subalcalinas a alcalinas supersaturadas (Almeida 2006, Jorge João et al., 1984,
Valério 2006).
Os primeiros dados geocronológicos disponíveis no Domínio Erepecuru-Trombetas foram
obtidos pelo método Rb-Sr em rocha total, revelando idades de 1773 ± 53 Ma (Oliveira et al.,
1975) e 1750 ± 30 Ma (Jorge João, Santos, Faraco, 1984). Recentemente, Leal (2013)
identificou um evento magmático mais antigo com idade de 1,98 Ga através de datação Pb-Pb
em zircão nas rochas graníticas aflorantes ao longo do curso do rio Caxipacoré e que em
trabalhos anteriores são cartografadas como Grupo Iricoumé.
Do ponto de vista geológico, a área apresenta posicionamento geográfico estratégico,
importante para o entendimento dos processos geológicos que levaram a formação da
expressiva associação-vulcano plutônica orosiriana que caracteriza o Domínio ErepecuruTrombetas.
Nesse contexto, um ponto fundamental a ser discutido é quanto à existência de um evento
magmático orosiriano (vulcano-plutônico) mais antigo com idade de 1,99 Ga, identificado por
Barreto et al. (2013) e Leal (2013). É importante definir qual a extensão desses eventos de 1,89
Ga (já identificado em trabalhos anteriores) e 1,99 Ga, assim como entender o contexto
geodinâmico desses episódios magmáticos. Da obtenção da idade de formação, depende
também a denominação de Suite Intrusive Mapuera, já que a mesma foi definida em áreas
adjacentes como pertencente ao episódio magmático de 1,89 Ga.
A justificativa desse plano de trabalho fundamenta-se na marcante escassez de informações
geocronológicas detalhadas sobre as unidades magmáticas no Domínio Erepecuru-Trombetas,
quando comparada aos dados existentes para o restante da porção central do Cráton Amazônico.
Outra justificativa é a contribuição que os resultados do trabalho deverão fornecer para a
elaboração do mapa geológico da região de Trombetas, atualmente em andamento na CPRMBelém, dando continuidade à estreita e produtiva colaboração técnico-científica entre os
geólogos da CPRM-Belém e os pesquisadores do Laboratório de Geologia Isotópica da UFPA.
O plano de trabalho constitui um complemento da dissertação de mestrado, atualmente em
andamento na mesma área, desenvolvida pelo Estudante Rafael Estumano Leal, o qual deverá
fornecer o suporte para os dados geocronológicos.
4. OBJETIVOS:
O estudo tem como objetivo fornecer novos dados geocronológicos pelo método U-Pb em
zircão por espectrometria de massa ICP-MS com Laser Ablation para rochas graníticas da Suite
Intrusive Mapuera no Domínio Erepecuru-Trombetas, Província Amazônia Central, para
contribuir na identificação dos episódios de granitogênese que ocorreram nesse setor da porção
central do Cráton Amazônico durante o Orosiriano.
Em específico, o estudo pretende trazer informações geocronológicas complementares
quanto a existência de dois episódios distintos de magmatismo félsico orosiriano (1,99 Ga e
1,89 Ga) no setor estudado. O estudo deverá permitir investigar uma possível participação de
crosta continental arqueana na fonte deste magmatismo pelo meio da identificação de zircão
herdados nessas rochas paleoproterozoicas.
Em escala regional, os resultados deverão permitir estabelecer correlação com rochas
magmáticas similares e melhor estudadas em áreas adjacentes e auxiliar na discussão da idade
de formação e a evolução do setor norte da Província Amazônia Central, dentro das propostas
de compartimentação tectônica da porção centro leste do Cráton Amazônico.
Em termo de formação de recursos humanos, esse plano de trabalho deverá proporcionar
uma oportunidade para um estudante de graduação em geologia de familiarizar-se com os
conceitos da geocronologia U-Pb em zircão e com o uso de ferramentas radiométricas na
investigação da idade de rochas magmáticas, e, em âmbito mais amplo, da evolução da crosta
continental da porção central do Cráton Amazônico. Deverá também permitir ao estudante se
aperfeiçoar nas técnicas experimentais de análises geocronológicas pontuais por espectrometria
de massa ICP-MS equipado com sistema de abrasão a laser, aproveitando a infra-estrutura
laboratorial do Laboratório de Geologia Isotópica e outros laboratórios do IG da UFPA.
5. ATIVIDADES:
5.1 Atividades Previstas:
I.
Pesquisa bibliográfica
Pesquisa bibliográfica sobre os conceitos da geocronologia U-Pb em zircão por ICPMS-LA, aplicada em rochas magmáticas e sobre o período Paleoproterozoico da Amazônia
Central e a evolução geológica do Domínio Erepecuru-Trombetas.
II.
Preparação da amostra
Acompanhamento dos processos de trituração, pulverização, concentração dos minerais
pesados na Oficina de Preparação de Amostras (OPA) e no Laboratório de Separação de
Minerais do IG
III.
Análise no MEV com catodoluminescência
Obtenção das imagens por catodoluminescência no Microscópio Eletrônico de
Varredura (MEV).
IV.
Análises isotópicas
Acompanhamento das determinações das composições isotópicas de U e Pb por
espectrometria de massa ICP-MS com laser ablation nos cristais selecionados, junto com
análise de material de referência (padrão de zircão).
V.
Processamento dos dados analíticos
Acompanhamento do refinamento dos dados analíticos em programas específicos.
Correção de Pb de contaminação e de fracionamento isotópico. Cálculo das razões isotópicas
235
U/207Pb, 238U/206Pb e 207Pb/206Pb com os respectivos erros. Cálculo das idades são realizados
em diagramas geocronológicos Concórdia com auxílio do programa ISOPLOT/EXCEL de
Ludwig (2008).
VI.
Redação e divulgação
Interpretação dos dados dentro do contexto geológico, elaboração do relatório final e
divulgação dos resultados em evento científico.
5.2 Atividades Realizadas:
I.
Revisão Bibliográfica
Pesquisa bibliográfica sobre os conceitos da geocronologia U-Pb em zircão por ICPMS-LA, aplicada em rochas magmáticas e sobre o período Paleoproterozoico da Amazônia
Central, evolução geológica do Domínio Erepecuru-Trombetas e magmatismo Uatumã.
II.
Acompanhamento
dos
processos
de
trituração,
pulverização,
concentração dos minerais pesados na Oficina de Preparação de Amostras (OPA) e no
Laboratório de Separação de Minerais do IG
III.
Análise no MEV com catodoluminescência
Obtenção das imagens por catodoluminescência e de “backscattering” no Microscópio
Eletrônico de Varredura (MEV).
6. MATERIAIS E MÉTODOS:
A amostra a ser utilizada neste estudo foi coletada durante a execução do projeto do Mapa
geológico do Estado do Pará (CPRM 2008) e cedida pela CPRM-Belém. Nessas campanhas de
campo, os perfis e a coleta das amostras foram realizados ao longo dos rios Trombetas e
Caxipacoré.
As datações radiomêtricas U-Pb em zircão foram realizadas em uma amostra de rochas
granítica com características petrográficas da Suíte Intrusiva Mapuera. A técnica utilizada é o
método U-Pb em zircão por espectrometria de massa ICP-MS por abrasão a laser (Laser
ablation) - ICP-MS-LA. Os princípios do método U-Pb em zircão são descritos em Faure e
Mensing (2005).
O espectrômetro de massa utilizado é um espectrômetro ICP-MS de marca ThermoFinnigan, modelo Neptune, equipado com multicoletores e multiplicadores de íons, enquanto
que o sistema de laser ablation é um sistema de marca CETAC modelo LSX-213 G2. Os
equipamentos se encontram no Laboratório de Geologia Isotópica - Pará-Iso do IG da UFPA.
Uma descrição detalhada dos equipamentos bem como os protocolos analíticos para a
determinação dos isótopos de U e Pb em cristais de zircão com ICP-MS-LA foi apresentada por
Chemale Jr et al., (2012).
O procedimento completo para a preparação das amostras, extração dos cristais de zircão e
análises isotópicas pontuais de U e Pb por ICP-MS-LA incluem as seguintes etapas:
- Trituração, pulverização e peneiramento das amostras.
- Separação de minerais pesados por densidade e susceptibilidade magnética.
- Separação dos cristais de zircão e inclusão em pastilhas de resina.
- Obtenção de fotos de cada cristal por microscopia eletrônica de varredura com sistema de
catodoluminescência e “backscattering”. As imagens são necessárias para a identificação das
estruturas internas dos cristais e a escolha dos pontos de impactos do laser para análise
isotópica. O equipamento utilizado o microscópio eletrônico de varredura marca Carl Zeiss
modelo Leo 1430 VP do LABMEV do IG - UFPA.
- Análise isotópica dos elementos U e Pb e determinação das concentrações desses elementos
por ICP-MS-LA. As análises são realizadas de forma pontuais em cada cristal, com alternância
de material de referência (zircão padrão GJ-1) para a determinação das concentrações e controle
da qualidade analítica.
- Redução dos dados analíticos em programas específicos para a obtenção das razões isotópicas
235
U/207Pb, 238U/206Pb e 207Pb/206Pb com os respectivos erros, após correção de Pb comum e de
fracionamento isotópico. Uma vez aos dados analíticos devidamente reduzidos e processados,
o tratamento dos dados e os cálculos da idade são realizados em diagramas geocronológicos
Concórdia, com auxílio do programa ISOPLOT/EXCEL de Ludwig (2008).
7. RESULTADOS:
O princípio de um microscópio eletrônico de varredura (MEV) consiste em utilizar um
feixe de elétrons de pequeno diâmetro para explorar a superfície da amostra, ponto a ponto,
por linhas sucessivas e transmitir o sinal do detector a uma tela catódica cuja varredura está
perfeitamente sincronizada com aquela do feixe incidente. Por um sistema de bobinas de
deflexão, o feixe pode ser guiado de modo a varrer a superfície da amostra segundo uma
malha retangular. O sinal de imagem resulta da interação do feixe incidente com a superfície
da amostra. O sinal recolhido pelo detector é utilizado para modular o brilho do monitor,
permitindo a observação (Dedavid, 2007).
7.1 Imageamento por elétrons retroespalhados (“backscattering electron” – BSE)
Os elétrons retroespalhados, por definição, possuem energia que varia entre 50eV até o
valor da energia do elétron primário. Os elétrons retroespalhados, com energia próxima à
dos elétrons primários, são aqueles que sofreram espalhamento elástico, e são estes que
formam a maior parte do sinal de ERE.
O sinal de BSE é resultante das interações ocorridas mais para o interior da amostra e
proveniente de uma região do volume de interação abrangendo um diâmetro maior do que
o diâmetro do feixe primário. A imagem gerada por esses elétrons fornece diferentes
informações em relação ao contraste que apresentam: além de uma imagem topográfica
(contraste em função do relevo) também se obtém uma imagem de composição (contraste
em função do número atômico dos elementos presentes na amostra) (Dedavid, 2007)
(Figuras 2B, 2D, 2F e 2H).
7.2 Imageamento por catodoluminescência
A catodoluminescência provém de uma região próxima da superfície do material, mas
de um volume de interação superior ao dos raios-X. A profundidade de penetração dos
elétrons e consequentemente o volume de interação depende essencialmente da energia
cinética dos elétrons. No entanto, nos cristais a transferência de energia pode depender de
outros fatores como da estrutura cristalina, de grupos de ânions ou da interação de defeitos
da estrutura vizinhos e devido à emissão ser distante do local de excitação (Remond et al.,
2000) (Figuras 2A, 2C, 2E e 2G).
DISCUSSÃO:
As imagens obtidas no presente trabalho são referentes a pastilha ATR-R-153, e estão
vinculadas a dissertação de mestrado do aluno Rafael Leal, obtidas através dos métodos
descrito acima, no LAB-MEV do IG – UFPA.
Morfologia:
O zircão é do sistema tetragonal e mais frequentemente cresce como um cristal
prismático com terminação dupla com razões de comprimento por largura variando de 1
até 5, que segundo Corfu et al., (2003) é resultado da velocidade de cristalização.
Basicamente, o zircão apresenta formas piramidais {211} vs. {101} e formas prismáticas
{100} vs. {110}, cujas tipologias estão demonstradas no diagrama de Pupin (1980).
A maioria dos cristais imageados exibe formas subarredondadas à arredondadas, com
exceção de alguns cristais cuja feição prismática mostra boa preservação. Em geral, são
cristais subédricos a anédricos, subordinadamente de euédricos.
Foram realizados dois tipos de imageamento com finalidade de auxiliar na seleção dos
cristais e escolha dos pontos de impacto do laser durante a etapa de análises U-Pb com o
LA-ICP-MS. As imagens geradas pela catodoluminescência, normalmente deveriam gerar
imagens capazes de mostrar as estruturas presentes nos cristais, como zoneamentos,
recristalização metamórfica, núcleo herdado, caso haja. A luminescência é fortemente
influenciada por defeitos estruturais, que implicam diretamente no campo do cristal e como
esta responderá ao processo.
Como tratam-se de zircões que passaram por processo de metamictização, ou seja, a
rede cristalográfica desse mineral foi parcial ou totalmente destruída, devido ao bombardeio
de partículas radioativas, esses cristais apresentam diversas feições, como inclusões e
fraturas, que condicionam a emissão dos espectros durante o processo da
catodoluminescência, estando as imagens, portanto, diretamente relacionadas as condições
de formação, de forma que esses processos complexos geram variações estruturais que se
refletem no comportamento luminescente.
Devido a essas características que os zircões estudados apresentam, as imagens obtidas
não foram satisfatórias para serem usadas com objetivo de auxiliar no processo de datação.
Evidenciando o avançado estágio de metamictização no quais os cristais de encontram, fator
que, posteriormente, será importante para o processe de datação U-Pb.
Em se tratando do imageamento “backscattering”, as imagens geradas pelos elétrons
nesse processo fornecem diferentes informações relacionadas a contraste que, além de uma
imagem topográfica, contraste em função do relevo, também apresenta uma imagem em
função da composição, contraste em função do número atômico dos elementos presentes.
Para este trabalho, as imagens geradas por “backscattering” apresentaram um resultado
melhor e mais adequado aos fins previstos. É possível observar nos cristais fraturas,
inclusões, além de porções já totalmente destruídas. Estas áreas se caracterizam
inadequadas para aplicação do “spot”, nos processos de datação.
Figura 3: Fotos geral da pastilha por Imageamento por elétrons secundários (SE). A) Relação Coluna X Linha da
pastilha trabalhada, linhas de A a G e colunas de 1 a 5. B) Colunas de 6 a 9 e linhas de A a G. Esse tipo de organização
é feita para maior facilidade em procedimentos posteriores como datação dos cristais.
Figura 4: Imageamento individual de cristais de zircão. As imagens A, C, E e G representam imageamentos por catodoluminescência, enquanto as imagens B, D, F e H
representam imageamento por elétrons retroespalhados.
Comparativamente as imagens de “backscattering” apresentaram feições mais satisfatórias em
relação as imagens de catodoluminescência. Enquanto, devido ao estágio avançado de
metamictização no qual essas rochas se encontram, as imagens de catodoluminescência tiveram
pouco aproveitamento, as imagens de “backscattering” permitiram uma imagem mais clara,
tornando visível os defeitos presentes nos cristais.
Devido à baixa qualidade dos zircões encontrados apenas um número pequeno de pontos foi
analisado, e quando plotados no diagrama da Concórdia apresentam-se bastante dispersos (Figura
6). A idade obtida através da datação U-Pb, foi realizada pelo mestrando Rafael Leal, com o qual
este trabalho ocorre associado. Foi encontrada uma 1870±14 Ma, (Figura 5) confirmando a idade
da Suíte Intrusiva Mapuera
Figura 5: Elipsoides gerados dos cristais analisados, sobre a curva da Concórdia. É possível observar uma grande
dispersão que ocorre devido ao grau de metamictização dos cristais.
Figura 6: Elipses plotadas no diagrama da concórdia referentes as idades obtidas. As circunferências representam as idades
retiradas. É feita uma média e através de refinamentos foi obtida a idade final de 1870 ± 14 Ma
8. CONCLUSÕES:
 Através dos processos de imageamento no MEV por catodoluminescência e
“backscattering”, onde houve uma atuação maior, obtiveram-se imagens com finalidade
de auxiliar nos processos posteriores de datação geocronológica, demonstrando clara
importância no processo.
 Por tratarem-se de zircões que sofreram intenso processo de metamictização as imagens de
catodoluminescência não tiveram uma resposta de qualidade suficiente, as imagens
retroespalhadas, contudo, mostraram uma resposta clara possibilitando a determinação de
pontos (spots) adequados para datação.
 Os zircões selecionados apresentam-se pouco recomendados para o processo de datação,
pois apresentam uma grande quantidade de inclusões e fraturas. Ainda assim é possível
selecionar pontos para datações.
9. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
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PARECER
Levando em conta que o trabalho foi um primeiro contato com a geocronologia U-Pb em zircão e
com a área de estudo e o fato de que a bolsista iniciou no PIBIC somente em março de 2015, na
ocasião de substituição de bolsista, considero que o desempenho da Sâmia nas suas atividades
analíticas e científicas foi bastante satisfatório. Conseguiu cumprir com a grande maioria das
atividades previstas apesar de problemas com o espectrômetro de massa ICP-MS que prejudicaram
a obtenção de dados geocronológicos e com a greve dos servidores técnicos que levou a uma
paralisação parcial das atividades do laboratório. O relatório retrata adequadamente as atividades
realizadas pela estudante e a discussão e interpretação está de acordo com os dados obtidos. O
documento poderia ter sido melhorado em termos de redação e organização, porém essas
imperfeições são devidas à participação da estudante em atividades curriculares de campo (campo
II do curso de Geologia), nesse período de finalização do relatório, o que não permitiu uma
dedicação maior à elaboração do texto final. Concluindo, estou satisfeito do desempenho da bolsista
e estaremos dando continuidade às pesquisas ainda no âmbito do programa PIBIC.
Em 10/08/2015
Prof. Jean Michel Lafon
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