O Contacto Precoce Pele a Pele na Sala de Partos… O “Contacto pele a pele" entre a mãe e o recém-nascido imediatamente após o nascimento tem vindo a ser promovido na medida em que comporta benefícios para a saúde da díade (mãe e recém-nascido) ou tríade (mãe, pai e recém-nascido) saudáveis. Este procedimento consiste na colocação do recém-nascido despido ou só com fralda sobre o tórax materno e com o mesmo coberto com um cobertor aquecido nas duas horas imediatamente após o nascimento. Deve ser estabelecido em todos os nascimentos saudáveis e imediatamente após os mesmos, de forma contínua e prolongada, pois é nos momentos iniciais após o nascimento que se estabelece gradualmente a ligação afetiva mãe-bebé. Neste sentido, o intercâmbio pelo contacto corporal afeta positivamente e a longo prazo a qualidade dos cuidados e o envolvimento materno, e consequentemente o desenvolvimento e o bem-estar infantil. O contacto pele a pele é um poderoso estimulante dos sentidos, através do toque, odor e temperatura, além de promover o aumento da produção materna de oxitocina, conhecida também por “Hormona do Amor”, por estarem a ela associadas propriedades estimulantes do vínculo afetivo. As mães e os pais descrevem um sentimento de “orgulho e felicidade” quando o recém-nascido abre os olhos pela primeira vez, em resposta à sua voz e por as suas faces serem as primeiras a serem vistas pelo seu filho. Durante um parto normal o recém-nascido liberta hormonas que facilitam a aprendizagem olfativa e dilata as pupilas, mantendo os olhos abertos. A parturiente demonstra calma e satisfação, constituindo este o momento ideal para o estabelecimento do primeiro contacto. O recém-nascido é capaz de reconhecer o odor materno, pelo que o contacto pele a pele contribui para o conforto do recém-nascido, tornando-se mais calmo e com menos períodos de choro. Alguns minutos após o parto, o recém-nascido em contacto “pele a pele” abre os olhos e foca o seu olhar na face materna e nos mamilos, começa a movimentar as suas mãos, iniciando uma massagem rítmica na mama materna, seguindo-se um aumento dos níveis de oxitocina. O contacto precoce pele a pele constitui, assim, um poderoso estímulo sensorial que envolve o aquecimento do recém-nascido e a estimulação tátil e olfativa. Por outro lado, a oxitocina promove um aumento da temperatura da mama materna, providenciando o aquecimento do recém-nascido, estabilizando a sua temperatura, a sua frequência respiratória e o seu nível de glicémia, concorrendo para a promoção da adaptação do recém-nascido à vida extra-uterina. Além disso, estudos demonstram que quando se administra a injeção de vitamina K ao recém-nascido com este em contacto pele a pele verifica-se uma diminuição do choro. Assim, o contacto pele a pele, ao promover o início precoce e espontâneo da amamentação e ao acalmar a mãe e o recém-nascido, está também associado a um aumento da confiança das mães para cuidar dos seus bebés. Este contacto corpo a corpo iniciado no período de alerta do recém-nascido de baixo risco, possibilita o reconhecimento e a exploração pelo bebé do corpo materno, bem como a adaptação saudável à vida extrauterina com o mínimo de procedimentos de rotina, acalmando-o, facilitando a ligação mãe-bebé, promovendo a estabilização cardíaca, respiratória e da temperatura do recém-nascido, reduzindo o choro e o stresse e minimizando a perda de energia. Neste sentido, o contacto pele a pele revela-se uma intervenção benéfica para o bem-estar da mãe e do recém-nascido, por fortificar a vinculação e aumentar o sucesso e a duração do aleitamento materno, por fortalecer a confiança e diminuir a ansiedade recente da mãe e ter efeitos fisiológicos favoráveis no recém-nascido, nomeadamente, temperaturas mais elevadas e com menor variabilidade, glicémia mais elevada e melhor adaptação cardíaca e respiratória. Para além de se verificar menor choro e dor nos bebés. Adicionalmente, o contacto precoce pele a pele coloniza o recém-nascido com a flora bacteriana da pele materna antes de entrar em contacto com bactérias hospitalares, ajudando a prevenir infeções. Esta prática insere-se no quarto passo da política dos “Dez passos para o sucesso no aleitamento materno” definida pela Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), da OMS/ UNICEF (1991), que orienta para: Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento, ou seja, colocar os bebés em contacto pele a pele com as suas mães imediatamente após o parto durante, pelo menos, uma hora e encorajar as mães a reconhecerem quando os seus bebés revelam sinais que quererem mamar, oferecendo ajuda, quando necessário. Neste sentido, o início do contacto precoce mãe-filho contribui para o bem-estar do recém-nascido por respeitar os mecanismos fisiológicos e para o sucesso científico da amamentação. O papel do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde materna, obstétrica e ginecológica é, por isso, determinante na promoção do contacto precoce pele a pele e, subsequente, ligação da díade, na adaptação à vida extrauterina, no controlo da dor e stresse, nos cuidados maternos ao filho e na amamentação. Autoras: Enf.ªs Susana Franco; Débora Calafatinho; Liliane Abade; Márcia Ornelas e Sílvia Oliveira (Enfermeiras Especialistas em Enfermagem de Saúde Materna Obstétrica e Ginecológica)