ADUBAÇÃO NITROGENADA DO ALGODOEIRO HERBÁCEO IRRIGADO NO CARIRI CEARENSE
José Rodrigues Pereira1, Napoleão Esberard de Macedo Beltrão2, José Renato Cortez Bezerra3, José
Nilson de Oliveira4, Dalfran Gonçalves Vale4 (1)Embrapa Algodão, Campo Experimental de Barbalha.
Av. José Bernardino, S/N – Buriti, 63.180-000, Barbalha, CE, e-mail: [email protected];
(2) Embrapa Algodão, e-mail: [email protected]; (3)Embrapa Algodão, e-mail:
[email protected]; (4)Embrapa Algodão, e-mail: [email protected].
RESUMO
Sabendo-se que a pouca utilização de adubos e corretivos estão entre os fatores que afetam a
produtividade do algodoeiro herbáceo sob cultivo irrigado no Nordeste brasileiro e, que a extração de
elementos nutritivos pelo algodoeiro apresenta grandes variações em função da variedade, do clima,
da capacidade produtiva e da fertilidade do solo, entre outras, o presente trabalho, delineado em blocos
casualizados com três repetições, tendo quatro repetições por bloco, foi conduzido, no ano de 2000,
sob irrigação superficial por sulcos nas condições edafoclimáticas do Campo Experimental da Embrapa
Algodão, Barbalha, CE, localizado na microrregião Cariri Cearense, visando determinar o efeito de
doses crescentes de adubação nitrogenada (0, 100, 200, 300 e 400 kg/ha de N) sobre algumas
características agronômicas e tecnológicas da fibra da linhagem CNPA 97-2865 de algodoeiro
herbáceo. O rendimento de algodão em caroço, a altura de planta e o peso do capulho variaram
linearmente com os níveis crescentes de adubação nitrogenada; a percentagem e as características
tecnológicas da fibra não foram afetadas pela adubação nitrogenada; com exceção da percentagem e
da finura da fibra, as demais características estudadas apresentaram-se dentro dos padrões requeridos
pelo melhoramento de algodão e pela indústria têxtil nacional.
INTRODUÇÃO
No Nordeste, dentre os fatores que afetam a produtividade do algodoeiro na cultura irrigada, estão
a limitação da quantidade de água para irrigação, solos altamente infestados com a tiririca e a pouca
utilização de insumos, principalmente adubos e corretivos (Carvalho & Chiavegato,1999; Faria et al., 1994).
O nitrogênio é o nutriente que o algodoeiro retira do solo em maior proporção. É fundamental
no desenvolvimento da planta, principalmente dos órgãos vegetativos. Doses adequadas estimula o
crescimento e o florescimento, regulariza o ciclo da planta, aumenta a produtividade e melhora o
comprimento e a resistência da fibra; e doses elevadas aumenta o desenvolvimento vegetativo em
detrimento da produção e a formação tardia da carga do algodoeiro (Staut & Kurihara, 2001).
Entretanto, para o algodoeiro alcançar altos rendimentos é imprescindível, aliada à prática da
adubação em doses adequadas, a adoção de outros procedimentos que possam contribuir para o
sucesso da adubação. Condições de excesso ou falta de água, acidez e mau preparo do solo, são
algumas das causas que pode levar a prática de adubação a um insucesso (Carvalho et al., 1984).
A extração de nutrientes pelo algodoeiro apresenta grandes variações em função da variedade, do
clima, da capacidade produtiva e da fertilidade do solo, entre outras (Carvalho et al., 1999). Deste modo, o
presente trabalho visa determinar o efeito de doses crescentes de adubação nitrogenada sobre algumas
características agronômicas e tecnológicas de fibra da linhagem CNPA 97-2865 de algodoeiro herbáceo em
regime de irrigação por sulcos nas condições edafoclimáticas do Cariri Cearense.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no ano de 2000 no Campo Experimental da Embrapa Algodão,
Barbalha, CE, localizado na microrregião Cariri Cearense, com coordenadas de 7o 19´S, de 39o 18´ W
e 409,03m de altitude (DEPARTAMENTO NACIONAL DE METEOROLOGIA, 1992), sobre um
Neossolo Flúvico com pH de 6,3 e 70,0, 78,0, 9,0, 6,0 mmolc/dm3 de Ca+2, Mg+2, Na+, K+,
respectivamente, 7,44 mg/dm3 de P e 18,22 g/kg de matéria orgânica na camada arável. O solo tinha
276 e 390 g/kg de argila, respectivamente, nas camadas de 0-30 e 30-60 cm de profundidade.
O experimento foi delineado em blocos casualizados com três repetições, sendo os
tratamentos (0, 100, 200, 300 e 400 kg/ha de N), repetidos 4 vezes por bloco. A unidade experimental
teve área total de 5,4m x 3,0m (16,2m2), sendo útil a área de 1,8m x 3,0m (5,4m2), correspondente à
fileira dupla central. O preparo do solo foi efetuado com arado escarificador seguido de grade
niveladora e sulcador. Utilizou-se a linhagem de algodoeiro herbáceo CNPA 97-2865 plantada
manualmente em fileira dupla no espaçamento de 1,40m x 0,40m x 0,10m na densidade de 10 a12
sementes/m. Por ocasião do plantio, foi efetuada a adubação de fundação de 90-60 kg/ha de P2O5 e
K2O, na forma de superfosfato triplo e de cloreto de potássio, respectivamente, sendo o nitrogênio, de
acordo com os tratamentos, parcelado em 3 vezes (fundação, na forma de sulfato de amônio; desbaste
e floração, na de uréia). Utilizou-se o sistema de irrigação superficial com sulcos abertos no final, sendo
a reposição de água efetuada sempre que a cultura consumia 50% da água disponível, com lâmina
calculada em função da estimativa de evapotranspiração potencial e do coeficiente de cultivo (Kc). O
controle de pragas e de ervas daninhas foi feito a contento conforme recomendações de manejo da
Embrapa Algodão. Por ocasião da primeira colheita, foram tomados dados de altura em 10
plantas/parcela e coletadas amostras padrão (20 capulhos cada) para determinação de características
agronômicas e tecnológicas da fibra. No total, efetuou-se duas colheitas (dados de rendimento/parcela).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das características agronômicas da planta estudadas, apenas o rendimento de algodão em
caroço, a altura e o peso do capulho da linhagem CNPA 97-2865 de algodoeiro herbáceo variaram
linearmente com os níveis crescentes de adubação nitrogenada utilizados (Tabelas 1 e 2 e Figura 1).
As características tecnológicas da fibra não foram afetadas (Tabela 1).
Constata-se que, mesmo nas doses mais altas, não houve crescimento excessivo (104cm), nem
diminuição do peso do capulho (7,2g) ou queda de produção (4120 kg/ha), como esperado para altos níveis
de adubação nitrogenada em algodoeiro (Staut & Kurihara, 2001; Carvalho et al., 1999). Provavelmente, a
irrigação por sulco, o uso de uréia em cobertura associado ao pH elevado do solo e/ou o teor baixo em P
tenham favorecido uma maior perda do nitrogênio (volatilização/lixiviação) e/ou uma menor taxa de
absorção pela planta e, assim, reduzido a eficiência da adubação, pois a maior dose utilizada é até duas
vezes maior do que a necessária para o alcance da produção máxima (geralmente entre 150 e 250 kg/ha
de N). O alto nível (6,0 mmolc/dm3) de potássio e o pH próximo da neutralidade, indicando um
balanceamento adequado de cátions, torna o ambiente propício ao efeito positivo da adição de nitrogênio
ao solo (Carvalho et al., 1999). Entretanto, a eficiência de absorção, transporte e utilização do N varia entre
as plantas e também pode estar envolvida nessa alta necessidade de N pela linhagem utilizada.
Das características agronômicas estudadas (Tabela 2), apenas a percentagem de fibras (38%)
está abaixo do padrão mínimo requerido pelos programas de melhoramento de algodão no Brasil para
as cultivares atuais, enquanto as características tecnológicas da fibra, com exceção da finura,
preenchem as exigências da industria têxtil nacional (Freire & Costa, 1999; Beltrão & Santana, 2002).
CONCLUSÕES
O rendimento de algodão em caroço, a altura e o peso do capulho da linhagem CNPA 97-2865 de
algodoeiro herbáceo variaram linearmente com os níveis crescentes de adubação nitrogenada utilizados;
A percentagem e as características tecnológicas da fibra não foram afetadas pela adubação
nitrogenada nas condições edafoclimáticas locais; com exceção da percentagem e da finura da fibra,
as demais características apresentaram-se dentro dos padrões requeridos pelo melhoramento de
algodão e pela indústria têxtil nacional.
BIBLIOGRAFIAS
BELTRÃO, N.E. de M.; SANTANA, J.C.F. de. Atualidade algodoeira no brasil e no mundo. Bahia
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produtividade. In: CIA, E.; FREIRE, E.C.; SANTOS, W.J. dos. Cultura do algodoeiro. Piracicaba:
POTAFOS, p.1-8, 1999.
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DNMET, 6p., 1992.
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FREIRE, E.C.; COSTA, J. N. da. Objetivos e métodos utilizados nos programas de melhoramento do
algodão no Brasil. In: BELTRÃO, N.E. de M. O agronegócio do algodão no brasil. Brasília: Embrapa
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STAUT, L.A; KURIHARA, C.H. Calagem e adubação. In: Embrapa Agropecuária Oeste. Algodão:
tecnologia de produção. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste/Embrapa Algodão, cap.5, p.103123, 2001.
Tabela 1. Quadrado médio de variância do rendimento de algodão em caroço (kg/ha), altura de planta (cm), percentagem de fibras, peso do capulho
(g), comprimento S.L. 2,5% (mm), finura (mic), resistência (gf/tex), uniformidade (%) e alongamento (%) da linhagem CNPA 97-2865 de
algodoeiro herbáceo sob diferentes doses de adubação nitrogenada. Barbalha, CE. 2000
FV
GL Rendimento Altura
% Fibras
ns
ns
Blocos
228,72
5,22**
2
330925,52
**
**
Tratamentos 4
5428711,77
1327,08
0,64ns
Resíduo
314,22
0,92
53 315225,56
C.V.(%)
16,78
18,99
2,52
Ns Não significativo (Teste F)
*, ** Significativo a 5 e 1% de probabilidade (teste F)
P. Capulho
0,51ns
1,69**
0,34
8,55
Comprimento
1,90ns
0,07ns
0,82
2,79
Finura
0,115ns
0,044ns
0,072
5,37
Resistência
11,86*
2,32ns
3,95
6,01
Uniformidade
2,51ns
0,72ns
1,01
1,18
Alongamento
0,67ns
0,60ns
0,36
7,69
Tabela 2. Médias de rendimento de algodão em caroço (kg/ha), altura de planta (cm), percentagem de fibras, peso do capulho (g), comprimento S.L.
2,5% (mm), finura (mic), resistência (gf/tex), uniformidade (%) e alongamento (%) da linhagem CNPA 97-2865 de algodoeiro herbáceo sob
diferentes doses de adubação nitrogenada. Barbalha, CE. 2000
Nitrogênio (kg/ha)
000
100
200
300
400
MÉDIA
Rendimento
2384,17
3072,50
3348,67
3804,17
4120,42
3345,98
Altura
79,25
93,75
86,92
102,67
104,08
93,33
% Fibras
37,76
38,22
37,99
38,18
38,37
38,10
P. capulho
6,21
6,67
6,97
6,89
7,20
6,78
Comprimento
32,33
32,55
32,42
32,45
32,46
32,44
Finura
5,07
4,91
5,02
5,03
5,03
5,01
Resistência
32,34
33,14
33,51
33,07
33,28
33,07
Uniformidade
85,10
84,92
85,50
85,42
85,09
85,20
Alongamento
7,60
7,63
7,90
8,15
7,79
7,81
4300
4100
3900
Rendimento (kg/ha)
3700
3500
y = 4,2042x + 2505,2
R2 = 0,9768
3300
3100
2900
2700
2500
2300
0
100
200
300
400
Doses de nit rogênio (kg/ha)
110
Altura (cm)
100
y = 0,0586x + 81,618
R2 = 0,7758
90
80
70
0
100
200
300
400
Doses de nitrogênio (kg/ha)
7,5
7,3
7,1
Peso de 1 capulho (g)
6,9
6,7
y = 0,0022x + 6,348
R2 = 0,8623
6,5
6,3
6,1
5,9
5,7
5,5
0
100
200
300
400
Doses de nit rogênio (kg/ha)
Figura 1. Regressão do rendimento, da altura e do peso de capulho da linhagem CNPA 97-2865
de algodoeiro herbáceo em função de doses de nitrogênio. P<0,01
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