Universidade Presbiteriana Mackenzie
HÁBITOS ALIMENTARES E ESTADO NUTRICIONAL DE TRABALHADORES
NOTURNOS DE UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA DA CIDADE DE GUARULHOS, SÃO
PAULO, BRASIL
Juliana Evangelista Lopes (IC) e Rosana Farah Simony Lamigueiro Toimil (Orientadora)
Apoio: PIBIC CNPq
Resumo
O presente trabalho teve o objetivo descrever os hábitos alimentares e estado nutricional de
trabalhadores de uma indústria metalúrgica da cidade de Guarulhos, São Paulo, Brasil. Foram
entrevistados 94 trabalhadores do sexo masculino entre 19 e 57 anos e aplicado um questionário por
meio de entrevista pessoal no local de trabalho. Para a classificação do estado nutricional utilizou-se
o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) (Peso/Altura²). Para a avaliação do hábito alimentar foi
aplicado um questionário a fim de avaliar a qualidade da alimentação e hábitos alimentares. A
avaliação do estado nutricional mostrou que 50% (n=47) da amostra apresentaram sobrepeso. As
refeições realizadas com mais freqüência foram o jantar (com 87,2%; n=82), seguido do almoço
(70,2%; n=66) e o lanche, (45,7%; n=43). Em relação ao tipo de alimentação, 52,1% (n=49) relataram
o consumo freqüente/muito frequente de gorduras e frituras e açúcares e doces (44,7%; n=42).
Observou-se que a substância estimulante mais consumida foi o café, (85,1%; n=80). Pode-se
observar que 60,8% (n=31) dos entrevistados afirmaram possuir doenças gástricas, como azia, úlcera
ou gastrite, dislipidemias (23,5%; n=12) e hipertensão (13,7%; n=7). Em relação aos efeitos da
privação do sono, observa-se que 33% (n=31) relataram alterações de humor ao trabalhar a noite e
30,9% (n=29) dificuldade ao adormecer. Aparentemente pôde-se o trabalho noturno traz como
conseqüências alguns problemas com a alimentação e como conseqüências sintomas
gastrointestinais. Devem ser implementadas maiores ações de saúde nestes trabalhadores de modo
a prevenir os problemas futuros de saúde.
Palavras-chave: Estado nutricional, consumo alimentar, trabalhadores noturnos
Abstract
This study aimed to describe the eating habits and nutritional status of workers of a metallurgical
industry of the city of Guarulhos, São Paulo, Brazil. We interviewed 94 male workers between 19 and
57 years and used a survey by personal interview in the workplace. For the classification of nutritional
status was used to calculate the Body Mass Index (BMI) (weight / height ²). For the evaluation of
eating habits has been applied a survey to assess the quality of food and eating habits. The
assessment of nutritional status showed that 50% (n = 47) of the sample were overweight. Meals that
were taken with more often was dinner (with 87.2%, n = 82), followed by lunch (70.2%, n = 66) and
snack (45.7%, n = 43). Regarding the type of food, 52.1% (n = 49) reported frequent consumption /
very frequent and frying fats and sugars and sweets (44.7%, n = 42). It was observed that the
stimulant was the most consumed coffee (85.1%, n = 80). It can be observed that 60.8% (n = 31) of
interviewees reported having gastric diseases, such as heartburn, ulcers or gastritis, dyslipidemia
(23.5%, n = 12) and hypertension (13.7%, n = 7). Regarding the effects of sleep deprivation, it is
observed that 33% (n = 31) reported mood changes when working at night and 30.9% (n = 29)
difficulty in falling asleep. Apparently night work could bring some problems as consequences with the
food and as consequences gastrointestinal symptoms. Further action should be implemented in the
health of workers to prevent future health problems.
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Key words: Nutritional status, food consumption, night workers.
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INTRODUÇÃO
O trabalho noturno é cada vez mais freqüente no mundo industrializado, envolvendo hoje
milhares de indivíduos. Este tipo de trabalho proporciona um cotidiano diferente do restante
da população em geral, acarretando complicações, principalmente em relação à alimentação
e saúde.
Estes trabalhadores possuem maior chance de desenvolver sobrepeso e/ou obesidade e
doenças cardiovasculares, devido à adoção de práticas alimentares incorretas. Realizou-se
este trabalho com esta população pelo fato da mesma apresentar risco nutricional
importante.
Neste contexto, o presente estudo, teve como objetivo, analisar o hábito alimentar e estado
nutricional de trabalhadores noturnos de uma indústria metalúrgica na cidade de Guarulhos
em São Paulo. Os objetivos específicos foram:
•
Coletar dados antropométricos peso (kg) e altura (m2).
•
Identificar os principais desvios nutricionais.
•
Caracterizar o consumo alimentar de trabalhadores noturnos.
•
Conhecer os possíveis impactos do trabalho por turnos na alimentação.
•
Determinar os sintomas e doenças mais freqüentes em relação à alimentação.
REFERENCIAL TEÓRICO
O homem se adapta a ciclos ambientais como o dia e a noite e as estações do ano. Essa
oscilações repetindo-se regularmente são denominadas de ritmos biológicos (OLIVEIRA,
2005). O funcionamento do organismo do ser humano funciona de acordo com um relógio
biológico, que funciona de acordo com os fatores ambientais externos e internos e possui
ritmos distintos (SILVA, 2010).
A ritmicidade biológica é determinada por organismos presentes nos próprios organismos e
todas as espécies vivas apresentam algum tipo de ritimicidade biológica (OLIVEIRA, 2005;
SCHIAVO, 2007; SILVA et al., 2010)., os quais influem nos fatores fisiológicos (força,
velocidade, energia e resistência) e nas habilidades motoras (coordenação e tempo de
reação) (OLIVEIRA, 2005).
Um ciclo baixo no ritmo cronobiológico pode ter efeito indesejado, com baixos níveis de
concentração, foco, motivação, força mental e resistência à dor, portanto, não se pode exigir
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o mesmo nível de produtividade desse trabalhador, comparado ao trabalhador diurno
(OLIVERA, 2005; SILVA, 2010).
O organismo possui diversos tipos de ritmos biológicos, sendo eles:
a) Ritmo circadiano: Leva cerca de um dia, este ritmo é responsável por coincidir com o
período do ciclo dia/noite de 24 horas. Neste ritmo encaixam-se a maioria das funções
fisiológicas, psicológicas e comportamentais (OLIVEIRA, 2005; SILVA, 2010).
b) Ritmo ultradiano: É o que mais possui freqüência que o ritmo circadiano, com ciclos de
duração inferiores a 24 horas de um dia (OLIVEIRA, 2005; SILVA, 2010).
c) Ritmo infradiano: Este possui freqüência menor que o ritmo circadiano, porém com ciclos
de duração superiores a 24 horas de um dia (OLIVEIRA, 2005; SILVA, 2010).
O trabalho por turno interfere na homeostase fisiológica, assim como os ritmos circadianos,
sono, alimentação e bem estar físico, mental e social. Nos trabalhadores noturnos há
alterações psicofisiológicas, considerando que o organismo sente a necessidade de se
adequar às situações do ambiente. Esta adaptação ocorre pelo fato da espécie humana ter
como característica ser diurna, e qualquer tipo de mudança pode levar a alterações
orgânicas na temperatura, nos hormônios, na psique, no comportamento e desempenho. As
características individuais, como idade, sexo, aptidão física e tipo de sistema circadiano
(matutino/vespertino), também podem influenciar no trabalho noturno, uma vez que o
organismo se comporta de modo diferente durante o dia e à noite. Além disso, o trabalho
noturno exerce influência no ritmo de trabalho do organismo, conhecido como ritmo
biológico, interferindo no ciclo sono e vigília. Isso pode levar ao aparecimento de problemas
na vida familiar, tendências depressivas e problemas gastrointestinais, devido às
modificações nos horários de ingestão de alimentos e alterações psíquicas (mau humor,
tristeza, desânimo e estresse), e fisiológicas (distúrbios gástricos, cardiovasculares e do
sono) (FISHER, et al 2004; OLIVEIRA, 2005).
Profissionais que trabalham à noite passam por uma fase de adaptação, devido a espécie
humana ser diurna, havendo algumas alterações orgânicas na temperatura, hormônios, no
comportamento e desempenho. Alguns ritmos biológicos são mais lentos para se
adequarem aos horários, um exemplo é a temperatura corporal (OLIVEIRA, 2005).
Desta forma o estresse gerado pelo trabalho noturno trás como conseqüências a
dessincronização do ritmo circadiano e alterações na vida social e familiar, os quais podem
interagir produzindo efeitos prejudiciais sobre o bem-estar geral físico e psicológico(REGIS,
1998; OLIVEIRA, 2005).
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A alteração no hábito alimentar do trabalhador é mais uma consequência da mudança no
ritmo circadiano, levando a problemas físicos, sociais e psicológicos. Aparentemente a
frequência, composição de refeições e a quantidade de calorias não sofrem muitas
alterações, porém observam-se mudanças quanto ao número e qualidade das refeições,
sendo frequente a omissão, um maior consumo de bebidas estimulantes (chá, café), e
tabaco (CRISTOFOLETTI, 2003; SILVA, 2007).
Alguns autores relatam que o trabalho em turnos pode levar ao maior consumo de lipídios
nas refeições, principalmente saturados, menor quantidade de carboidratos complexos,
como fibras, e maior ingestão de açúcar, comparando com trabalhadores do turno diurno.
Desta forma, a prevalência de distúrbios no metabolismo dos lipídios é comum, visto que
altos níveis de lipídios séricos estão associados aos horários das refeições, que
normalmente são realizadas a noite e na madrugada, elevando as taxas de colesterol total,
LDL colesterol e da razão LDL colesterol/HDL colesterol. O maior consumo de carboidratos
à noite também explica o aumento dos níveis de LDL colesterol (KNUTSSON et al, 1990;
LAITINEN, 1997; CRISTOFOLETTI, 2003).
Os ritmos biológicos podem ser modificados pelas mudanças nos horários das refeições,
com alterações na atividade enzimática de certos hormônios plasmáticos, alterando o
esvaziamento gástrico, como insulina e glucagon, e de certos metabólitos, como corpos
cetônicos, nitrogênio, colesterol e triglicérides (CRISTOFOLETTI, 2003).
Além disso, o trabalhador noturno geralmente possui o comportamento de alimentar-se com
pequenas refeições ao longo do turno do trabalho, que é caracterizado ao ato de “beliscar”,
sendo esses pequenos lanches formados por biscoitos, refrigerantes e sanduíches,
tornando a refeição rica em carboidratos. Desta forma, a composição da dieta e a
distribuição dos horários das refeições podem estar associadas ao aparecimento de
problemas de saúde (CRISTOFOLETTI, 2003).
As alterações gastrointestinais em trabalhadores noturnos são comuns, pois ocorre a noite
uma diminuição da secreção de suco gástrico necessário para a digestão. Cerca de 20-75%
dos trabalhadores sofrem de problemas gastrointestinais como, dispepsia, inchaço, azia, dor
abdominal, flatulência, irregularidade intestinal e a presença de úlceras, sendo esta última a
mais prevalente, além de desenvolverem gastroenterites e gastrites crônicas. Esse tipo de
trabalhador frequentemente sente-se fatigado, com variações de humor, apresentando
sensações de mal-estar e diminuição do alerta, o que impede o desenvolvimento adequado
de suas atividades, devido ao cansaço, má qualidade de sono, e aumento na ingestão de
substâncias estimulantes, como café e chá (MAIA, 1999; OLIVEIRA, 2005; GASPAR, 1998;
CRISTOFOLETTI, 2003).
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Além de problemas de sono e doenças gastrointestinais, os problemas cardiovasculares
também são comuns neste grupo de trabalhadores. Alguns autores demonstraram que,
quando se considera o tempo de exposição ao trabalho por turnos, há um aumento no
aparecimento destas doenças, devido às alterações no ritmo circadiano, bioquímicas,
psicológicas e comportamentais. A situação de stress possui influências diretas e indiretas
no organismo, sendo que, as influências diretas correspondem a efeitos no sistema
cardiovascular, pois aumentam as catecolaminas e cortisol, e efeitos na pressão sanguínea,
na taxa de batimentos cardíacos, nos processos trombócitos, no metabolismo de glicose e
de lipídeos. (WATERHOUSE et al, 1997; CRISTOFOLETTI, 2003; KNUTSSON, 1999;
SILVA, 2007).
METODOLOGIA
O estudo foi do tipo descritivo transversal, com abordagem quantitativa. A amostra de
estudo foi constituída por 94 funcionários de uma indústria metalúrgica da cidade de
Guarulhos em São Paulo, que trabalhavam no período noturno (22h00 às 06h00). A
empresa foi escolhida pelo fato do horário de trabalho por turno ser uma prática frequente
neste ramo de atividade.
Os dados foram obtidos por meio de um questionário composto por duas partes, que foi
aplicado no local de trabalho. A primeira era referente aos dados individuais (sexo, idade,
número de filhos e grau de instrução). A segunda abordou o impacto do trabalho por turno
na alimentação e sistema digestivo, avaliando a qualidade da alimentação, frequência das
refeições, sintomas e doenças mais freqüentes, hábitos de consumo, etc.
Para a classificação do estado nutricional, foram coletados os dados antropométricos peso
(kg) e altura (m) utilizando-se uma balança portátil da marca G-Tech® e estadiômetro marca
Sanny®, modelo Personal Caprice, ambos portáteis. Para a tomada do peso, os
trabalhadores estavam com os pés descalços colocados no centro da balança, com roupas
leves, neste caso o uniforme padrão da empresa. Na tomada de altura os indivíduos
permaneceram em posição supina, eretos, com a cabeça e o tronco esticados, e olhando
para o horizonte.
Em seguida foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) para a classificação do estado
nutricional, adotando-se os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) 1995, que
estabelece IMC < 18,5 kg/m² (baixo peso), IMC entre 18,5 – 24,5 kg/m² (normal), IMC entre
25,0 – 29,9 kg/m² (sobrepeso grau I), IMC entre 30,0 – 40,0 kg/m² sobrepeso grau II) e IMC
≥ 40,0 (sobrepeso grau III).
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Os dados coletados foram armazenados e analisados na forma de tabelas e gráficos
utilizando-se o software Microsoft Office Excel®, versão 2007.
Os procedimentos adotados na pesquisa respeitaram as diretrizes da resolução 196/96 que
regulamenta a ética na pesquisa com seres humanos. Foi devidamente explicado a todos os
trabalhadores da empresa o objetivo do estudo, seus procedimentos, participação voluntária
e sigilo das informações coletadas. Ao consentirem voluntariamente em participar do estudo,
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados 94 funcionários, todos do sexo masculino, com idades entre 19 e 57 anos.
A média de idades foi de 36,6 anos e verifica-se que a maior porcentagem (36,2%; n=34)
tinham entre 40 e 49 anos, eram casados (47,5%; n=70), tinham ensino médio completo
(71,3%; n=67) e 2 filhos (31,9%; n=30). (Tabela 1):
Tabela 1. Características sócio demográficas de trabalhadores noturnos de uma indústria metalúrgica da
cidade de Guarulhos, SP, 2011.
n
%
20 aos 29 anos
26
27,7
20 aos 29 anos
23
24,5
40 aos 49 anos
34
36,2
50 aos 59 anos
11
11,7
Casado(a)
70
74,5
Solteiro(a)
22
23,4
Divorciado(a) / viúvo(a)
2
2,1
Ensino fundamental
7
7,5
Ensino médio
67
71,3
Superior completo
8
8,5
Superior incompleto
6
6,4
Superior em andamento
6
6,4
nenhum
24
25,5
1 filho
23
24,5
2 filhos
30
31,9
3 filhos
13
13,8
4 filhos
4
4,3
94
100
Faixa etária
Estado civil
Grau de escolaridade
Nº de filhos
TOTAL
7
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Tabela 2. Classificação do estado nutricional segundo IMC em trabalhadores noturnos de uma indústria
metalúrgica da cidade de Guarulhos, SP, 2011.
CLASSIFICAÇÃO
n
%
Baixo peso
2
2,7
Eutrofia
32
34,1
Sobrepeso
47
50
Obesidade
13
13,9
TOTAL
94
100
A classificação do estado nutricional segundo o IMC mostrou que 50% (n=47) da amostra,
apresentaram sobrepeso, 13,9% (n=13) obesidade, 34,1% (n=32) eutróficos e 2,7% (n=2)
baixo peso.
Quanto questionados sobre o impacto do trabalho por turnos na alimentação, grande parte
dos trabalhadores (48%; n=45) relatou sentir diferenças na alimentação, quando comparado
ao período de férias e folgas e 36,2% (n=34) não conseguem fazer uma refeição equilibrada
e com qualidade. O trabalho noturno interfere na alimentação em 37,2% (n=35) dos
trabalhadores e 54,3% (n=51) relatam que o tempo disponível não é adequado para uma
boa refeição. Estes dados são semelhantes aos encontrados por Barreto (2008) que
realizou uma pesquisa com 45 trabalhadores de uma indústria produtora de papel no norte
de Portugal, e verificou que os mesmos sentem diferença na sua alimentação, comparada
ao período de férias ou folgas, não fazem uma alimentação equilibrada e com qualidade e
não conseguem fazer as suas refeições com calma e tranqüilidade.
Figura 1. Impacto do trabalho noturno na alimentação de trabalhadores noturnos de
uma indústria metalúrgica da Guarulhos, SP, 2011.
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Tabela 3. Frequência de refeições realizadas por trabalhadores noturnos de
uma indústria metalúrgica da cidade de Guarulhos, SP, 2011.
Almoço
Lanche
Jantar
n
%
n
%
n
%
Sempre ou quase sempre
66
70,2
43
45,7
82
87,2
Nunca ou quase nunca
28
29,8
51
54,3
12
12,8
TOTAL
94
100
94
100
94
100
Entre as refeições realizadas com mais freqüência estão o jantar (87,2%; n=82), seguido do
almoço (70,2%; n=66) e o lanche, (45,7%;n=43). Isso pode ser justificado pelo fato de serem
trabalhadores noturnos e realizarem o jantar no restaurante da própria empresa. Estes
resultados são semelhantes ao estudo de Barreto (2008), que verificou que 97,7%
realizavam o jantar, 95,4% o almoço, sendo o lanche o menos freqüente, com apenas
31,8% de respostas. Esta alimentação desequilibrada com o consumo excessivo de
determinados alimentos pode a longo prazo ter um efeito negativo na saúde dos
trabalhadores.
Figura 2. Frequência de alimentos consumidos por trabalhadores noturnos
de uma indústria metalúrgica da cidade de Guarulhos, SP, 2011.
Em relação ao tipo de alimentação, observa-se na figura 2 que cerca de 52,1% (n=49)
relataram o consumo freqüente/muito frequente de gorduras e frituras e açúcares e doces
(44,7%; n=42). O consumo muito raro/muito raro de frutas e verduras e leite e derivados
(27,7% e 43,6%), respectivamente. Verificou-se o consumo freqüente de gorduras e frituras
e excesso de açúcares e doces, que podem ser prejudiciais e gerar problemas de saúde,
como hipertensão, aumento dos níveis de colesterol, dislipidemias, excesso de peso, entre
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outros. No estudo de Di Lorenzo et al. (2003) onde foram avaliados 319 trabalhadores
noturnos de uma indústria química no sul da Itália, com idade entre 35 e 60 anos
encontráramos autores verificaram que os mesmos consumiam as refeições ricas em ácidos
graxos saturados e alimentos de alto índice glicêmico.
Figura 3. Consumo de substâncias estimulantes por trabalhadores noturnos de
uma indústria metalúrgica da cidade de Guarulhos, SP, 2011.
A figura 3 mostra a distribuição do consumo de substâncias estimulantes, como café,
refrigerantes, tabaco e bebidas alcoólicas, sendo que o café (85,1%; n=80) é a substância
mais consumida, seguindo de refrigerantes e bebidas açucaradas (45,7%; n=43), e tabaco
(12,8%; n=12). Isso pode ser justificado pelo fato do café manter o estado de vigília durante
o longo período de trabalho. No entanto, alguns dos entrevistados também referem
consumir álcool (27,3%; n=25) e tabaco (12,8%; n=12).
Tabela 4. Distribuição da porcentagem de doenças auto-referidas por trabalhadores
noturnos de uma indústria metalúrgica da cidade de Guarulhos, SP, 2011.
n
%
Doenças gástricas
31
60,8
Dislipidemias
12
23,5
Hipertensão
7
13,7
Diabetes
1
02,0
51
100
TOTAL DE RESPOSTAS
10
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A maior parte das doenças auto-referidas pelos trabalhadores, de certa forma envolvem o
aparelho gastrointestinal. Pode-se observar na tabela 4 que a maioria (60,8%; n=31)
afirmaram possuir doenças gástricas (azia, úlcera ou gastrite), dislipidemias (23,5%; n=12),
hipertensão (13,7%; n=7) e 1,9% (n=1) diabetes.
Este resultado era esperado, uma vez que é freqüente os problemas gastrointestinais
ocorrerem devido à mudança de rotinas, desequilibro entre horário das refeições e secreção
e motilidade gastrointestinal que diminuem à noite. (BARRETO, 2008; FISHER et al, 2003).
No âmbito da saúde física, associa-se o trabalho por turnos também com doenças
cardiovasculares. De acordo com Silva (1999), a relação entre o aparecimento destas
doenças e o trabalho noturno parecem resultar de um mecanismo direto de alterações
hormonais, bioquímicas ou neurodegenerativas. Num estudo realizado com operários
japoneses, que trabalhavam em turnos alternantes, Nakamura e col. (1997) observaram um
maior risco de ocorrência de doenças cardíacas, altos níveis de colesterol total e tendência
de obesidade nesses.
As doenças mais citadas neste estudo parecem estar associadas à alimentação
desequilibrada e aumento do consumo de estimulantes. Rodrigues e Canani (2007),
indivíduos que trabalham à noite, com até 50 anos de idade, possuem níveis de
triglicerídeos e de glicemia mais elevados e níveis mais baixos de HDL colesterol, quando
comparados aos indivíduos que trabalham apenas durante o dia. De acordo com Fisher et
al. (2003), como passar dos anos o trabalhador consegue controlar melhor sua vida em
função do trabalho noturno, porém, as alterações crônicas dos seus ritmos biológicos podem
comprometer sua saúde.
Tabela 5. Distribuição da porcentagem dos efeitos da privação do
sono em trabalhadores noturnos em uma indústria metalúrgica da
cidade de Guarulhos, SP, 2011.
Alterações de humor
Sempre ou
quase sempre
n
%
Nunca ou
quase nunca
n
%
31
63
33,0
67,0
Irritabilidade
27
28,7
67
71,3
Sensação de mal-estar
14
14,9
80
85,1
Fadiga
23
14,5
71
75,6
Lentidão do pensamento
12
12,7
82
87,2
Dificuldade em adormecer
29
30,9
65
69,2
Em relação aos efeitos da privação do sono (tabela 5), observou-se que 33% (n=31) dos
entrevistados relataram alterações de humor ao trabalhar a noite e 30,9% (n=29) afirmaram
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ter dificuldade ao adormecer. As sensações de mal-estar (14,9%; n=14), fadiga (14,5%;
n=23) e lentidão do pensamento (12,7%; n=12), também foram relatadas. A presença de
alterações de humor, irritabilidade e dificuldade em adormecer, além da sensação de malestar, fadiga e lentidão do pensamento vai de encontro ao estudo de Barreto (2008),
apresentando resultados semelhantes.
Isso é justificado pois o stress provocado pelas mudanças de horários, leva à modificações
do humor e como conseqüência maior irritabilidade, mal-estar e humor deprimido (SILVA,
1999).
Rodrigues e Canani (2007), entrevistou 23 pacientes do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre, e verificou a existência de distúrbios característicos como fadiga crônica, alteração
do padrão do sono e alterações do funcionamento intestinal estão associados ao trabalho
noturno, sendo um fator de risco para início de Diabetes Melittus (DM).
Em relação ao sono, é comum a dificuldade em adormecer. Dificuldades para dormir
durante o dia são muitas e queixas relativas a problemas de sono são comuns, tendo o sono
mais curto e não reparador. Iniciar e manter o sono são queixas freqüentes relatadas por
este tipo de população, além da fadiga, lentidão de pensamento e sensação de mal estar
(FISHER, 2003; BARRETO, 2008).
A queda dos níveis funcionais diários se dá pela privação total de sono, afetando tarefas que
requerem concentração e concentração (GASPAR; MORENO;MENNA-BARRETO, 1998;
FISHER, 2003; BARRETO, 2008).
No presente estudo encontram-se fatores limitantes como a análise da associação do tempo
de trabalho noturno e presença de doenças crônicas e problemas gastrointestinais, tamanho
da amostra e número de locais para coleta de dados.
CONCLUSÃO
Foi possível concluir que a maior parte dos entrevistados apresentaram problemas
relacionados com a alimentação e consequentemente doenças/sintomas gastrointestinais,
além de sobrepeso/obesidade. Devem ser trabalhadas pela área da saúde formas de
intervenção, de modo a prevenir os problemas associados ao trabalho noturno.
É fundamental uma ação preventiva para evitar uma má alimentação, sobrecargas e intensa
fadiga com suas conseqüências para a qualidade de vida desses trabalhadores, sendo de
extrema importância, chamar atenção dos profissionais de saúde para este problema, no
sentido de contribuírem para a prevenção e/ou minimização dos efeitos do trabalho noturno,
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através do desenvolvimento de estratégias de educação para a saúde, incluindo neste tipo
de trabalhador hábitos de vida saudáveis e vigilância periódica do seu estado de saúde
através de consultas médicas e exames de rotina.
REFERÊNCIAS
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Juliana Evangelista Lopes