12º Simpósio de Ensino de Graduação AS BASES TEÓRICAS DA SOMATERAPIA Autor(es) RENATO BELLOTTI SENICATO Orientador(es) SILVIO DONIZETTI DE OLIVEIRA GALLO Resumo Simplificado A Somaterapia, enquanto prática psicoterápica corporal e de grupo se estruturou em bases teóricas dos campos filosófico, político, psicológico e ético. Tendo como seu criador o psiquiatra e pensador libertário Roberto Freire (1927-2008), a Soma destaca-se como uma técnica brasileira. Baseando-se em teorias que transpassam os campos citados, utilizamos o referencial teórico metodológico de pesquisa e revisão bibliográfica de cunho multirreferêncial para alcançar nosso objetivo, que é expor e problematizar as bases teóricas que organizam e constroem a Somaterapia enquanto técnica. Segundo o somaterapeuta João da Mata, a “espinha dorsal” do pensamento da Soma deriva da obra de Wilhelm Reich. Tendo sido contemporâneo de Freud, Wilhelm Reich (1897-1957) ajudou a difundir o pensamento psicanalítico, movimento com o qual rompeu posteriormente. Em Psicologia de massas do fascismo, Reich analisa a aceitação e a reprodução da dominação individual no campo coletivo. Caracterizando essa ideia como “servidão voluntária”, demonstra a noção de obediência e disciplina nas múltiplas formas de organização social, caracterizando a neurose como a produção do comportamento servil e voluntário. A inversão de Reich com relação à psicanálise consiste no fato de que ele passa a considerar as origens sociais e políticas da neurose e não mais origens antropológicas, presentes no campo da psicanálise. O cerne das problematizações de Reich reside no fato de que a produção da neurose, de origem social e política, não manifesta-se apenas no pensamento, mas no corpo, que reflete o emocional. Outra influência teórica sobre o conceito da Soma é a Antipsiquiatria, movimento da década de 1950, baseado nos estudos de Gregory Bateson sobre o duplo vínculo, comportamento que ao mesmo tempo afirma e nega algo, gerando estado de perturbação nas relações afetivas. Segundo João da Mata, a Soma se vale desses estudos com enfoque em uma “pragmática da comunicação humana”, ou seja, a forma como se dá a comunicação nas relações. A Gestaltterapia é uma escola da psicologia que também influenciou as bases teóricas da Soma. Com as contribuições de Friedrich Perls, que concentram o processo terapêutico no presente, há o desprendimento do passado, compreendido como importante para a elaboração da prática, vasculhando a vida e descobrindo questões que precisam de mudança. No interstício das bases teóricas de organização da Soma, está o pensamento anarquista, salientado por João da Mata “como fragmentação dos poderes e valorização dos indivíduos livres e em união e auto-organização”. Nesse sentido, baseando-se nos pressupostos anarquistas que tendem a pulverizar o poder nas relações, diminuindo a imposição e a dominação, o somaterapeuta sinaliza que o trabalho promove a manifestação dos próprios autoritarismos nas relações da micropolítica, sendo fundamental ao processo terapêutico associar o comportamento individual ao coletivo criando, para além da compreensão, novas formas de se relacionar, o que demonstra a conotação política da prática libertária. Com isso, pensamos com Freire ao citar Machado: “Caminante no hay caminho, se hace caminho al andar.”