POLO Ervália se destaca na moda praia e coloca no mercado 2,5 milhões de peças por ano ECONOMIA Fábrica de Ponte Nova produz 2 milhões de hóstias por dia MINAS K www.revistaviverbrasil.com.br ŁŤŢţŧŁşŦŨ Zona da Mata Empresários reivindicam reforma tributária para enfrentar a guerra fiscal contra Rio e Espírito Santo FIEMG.COM.BR Editorial PERSISTÊNCIA E EMPREENDEDORISMO A Zona da Mata ocupa 6% do território mineiro, conta com 142 municípios, e tem população de mais de 2,2 milhões de habitantes. No entanto, como diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Francisco Campolina, “é preciso gritar para que o governo nos ouça”. A região clama, há anos, pela reforma tributária a fim de que novas indústrias possam aportar na região que tem carga tributária de 18%, enquanto que no município vizinho, o Rio de Janeiro, ela é de 2%. No Espírito Santo é 1%. Lá no fim do túnel surge uma luz, ainda incipiente, mas que pode ser a redenção da região. O governador Fernando Pimentel assinou, no dia 10 de julho, decreto que institui grupo de trabalho para estudar propostas de concessão de benefícios tributários e econômicos para 142 municípios da Zona da Mata. Árduo caminho pela frente. Em Ponte Nova, fomos conhecer de perto a Fábrica de Hóstias Nossa Senhora de Fátima, criada em 1995 pelo ex-seminarista e engenheiro civil Ary Brum Júnior. A empresa produz 2 milhões de unidades por dia e vende para todo o Brasil. A cidade ainda reserva outra surpresa, como a mais antiga goiabada, Zélia, receita familiar de quase 100 anos. Em Patrocínio do Muriaé e São Francisco do Glória ouvimos histórias de empreendedorismo e dedicação de piscicultores. A região produz 70% de peixes ornamentais do país, cerca de 9 milhões de unidades por ano. Ervália abriga 15 confecções de roupas de praia que produzem 2,5 milhões de peças por ano. Essas empresas estão em busca do polo de beachwear. Duas boas práticas com o café, uma em Araponga, onde o cultivo orgânico vem ganhando força, e a outra em Espera Feliz, onde a produção familiar conquista mercado internacional. A crise hídrica que também assola a região revela uma degradação sem limites orquestrada pelas ações do homem. Na contramão, o Parque Estadual Serra do Brigadeiro dá o bom exemplo preservando 15 ha de rica biodiversidade, beleza e magia. E por falar em beleza, conversamos com a advogada Stéfhanie Zanelli, de Ubá, a Miss Minas Gerais 2015. E não podíamos deixar de provar o frango caipira com palmito de embaúba feito com capricho por Adaecy Xavier Vieira, lá no vilarejo conhecido como Usina da Fumaça. Ana Elizabeth Diniz, repórter [email protected] Diretor-geral Paulo Cesar de Oliveira Diretor Gustavo Cesar Oliveira Diretora executiva Eliana Paula Editora-geral Maria Eugênia Lages Editora executiva Silvânia Arriel Repórter Ana Elizabeth Diniz Revisão Maria Ignez Villela Equipe de arte Adroaldo Leal, Gilberto Silva e Luciano Cabral Fotografia Agência i7 Gerente de marketing e eventos Larissa Lopes Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Gerente financeira Marcela Galan Entregas Fast Entregas Assistente comercial Sumaya Mayrink Departamento comercial (31) 3503-8888 Dária Mineiro, Márcia Perígolo e Sônia Beatriz [email protected] Tiragem 50.000 exemplares [email protected] www.revistaviverbrasil.com.br Viver Minas é uma publicação da VB Editora e Comunicação Ltda. São Paulo: Rua Joaquim Floriano, 397 - 2º andar - Itaim Bibi CEP: 04534-011 – Tel.: (11) 2127-0000/ 3198-3695 Minas Gerais: Rodovia MG–030, 8.625, torre 2, nível 4, Vale do Sereno, Nova Lima, MG – CEP: 34.000-000 – (31) 3503-8888 - www.revistaviverbrasil.com.br 4 VIVER Agosto - 2015 Pedro Vilela/Agência i7 Fotos da capa: Pedro Vilela/Agência i7 Sumário 6 Entrevista 28 Ecoturismo 8 Negócios Frango cozido com palmito de brejaúba atrai turistas Francisco Campolina, da Fiemg: “Estamos gritando para que o governo nos ouça” A exuberância do Parque Estadual Serra do Brigadeiro 34 Culinária Ervália produz 2,5 milhões de peças de moda praia por ano 15 Cafeicultura Café de Espera Feliz conquista mercado internacional 16 Economia Empresa de Ponte Nova produz 40% das hóstias usadas no país 18 Piscicultura Criação de peixe ornamental é alternativa de renda 21 Empreendedorismo Receita de família é segredo do sucesso da Goiabada Zélia 22 Laticínios Feira aproxima comunidade científica e indústria 24 Crise hídrica Rios e bacias da região sofrem com ação do homem 10 Ali e Acolá Ana Elizabeth Diniz = COLUNAS 14 Agricultura Cultivo de café orgânico cresce em Pedra Redonda 13 Tenho Dito O melhor e o pior da minha cidade 32 Em imagens A região pelas lentes de Pedro Vilela 27 Premiação Advogada de Ubá é eleita Miss Minas Gerais A região Acaiaca Além Paraíba Alfredo Vasconcelos Alto Rio Doce Alvinópolis Amparo do Serra Antônio Carlos Antônio Prado de Minas Aracitaba Araponga Argirita Astolfo Dutra Barão de Monte Alto Barbacena Barra Longa Barroso Belmiro Braga Bias Fortes Bicas Bom Jardim de Minas Caiana Cajuri Canaã Capela Nova Caranaíba Carandaí Carangola Cataguases Chácara Chiador Cipotânea Coimbra Conceição da Barra de Minas Coronel Pacheco VIVER Agosto - 2015 Coronel Xavier Chaves Descoberto Desterro do Melo Diogo de Vasconcelos Divinésia Divino Dom Silvério Dona Euzébia Dores de Campos Dores do Turvo Ervália Espera Feliz Estrela Dalva Eugenópolis Ewbank da Câmara Faria Lemos Fervedouro Goianá Guaraciaba Guarani Guarará Guidoval Guiricema Ibertioga Itamarati de Minas Jequeri Juiz de Fora Lagoa Dourada Laranjal Leopoldina Lima Duarte Madre de Deus de Minas Mar de Espanha Maripá de Minas Matias Barbosa Mercês Miradouro Miraí Muriaé Nazareno Olaria Oliveira Fortes Oratórios Orizânia Paiva Palma Patrocínio do Muriaé Paula Cândido Pedra do Anta Pedra Dourada Pedro Teixeira Pequeri Piau Piedade de Ponte Nova Piedade do Rio Grande Pirapetinga Piraúba Ponte Nova Porto Firme Prados Recreio Resende Costa Ressaquinha Rio Doce Rio Novo Rio Pomba Rio Preto Ritápolis Rochedo de Minas Rodeiro Rosário da Limeira Santa Bárbara do Monte Verde Santa Bárbara do Tugúrio Santa Cruz de Minas Santa Cruz do Escalvado Santa Rita de Jacutinga Santa Rita do Ibitipoca Santana de Cataguases Santana do Deserto Santana do Garambéu Santo Antônio do Aventureiro Santo Antônio do Grama Santos Dumont São Francisco do Glória São Geraldo São João del Rei São João Nepomuceno São Miguel do Anta São Sebastião da Vargem Alegre Sem-Peixe Senador Cortes Senador Firmino Senhora dos Remédios Sericita Silveirânia Simão Pereira Tabuleiro Teixeiras Tiradentes Tocantins Tombos Ubá Urucânia Viçosa Vieiras Visconde do Rio Branco Volta Grande 5 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA ENTREVISTA SOS Zona da Mata A LUTA DA REGIÃO, QUE FOI O BERÇO DA INDUSTRIALIZAÇÃO EM MINAS GERAIS, PARA SOBREVIVER ECONOMICAMENTE ANA ELIZABETH DINIZ A Zona da Mata ocupa 6% do território mineiro, conta com 142 municípios, e tem população de mais de 2,2 milhões de habitantes. No entanto, como diz Francisco Campolina, presidente da Fiemg – Regional Zona da Mata, “estamos gritando para que o governo nos ouça”. Desde 2005 como dirigente da entidade, ele defende a reforma tributária a fim de que novas indústrias possam aportar na região que tem carga tributária de 18%, enquanto que no município vizinho, o Rio de Janeiro, ela é de 2%. O governador Fernando Pimentel assinou, no dia 10 de julho, decreto que institui grupo de trabalho para estudar propostas de concessão de benefícios tributários e econômicos para 142 municípios da Zona da Mata. Como o senhor avalia essa iniciativa? O decreto é positivo e vem atender uma reivindicação antiga, desde 2005. Esse grupo de trabalho, do qual faço parte como representante da Fiemg e da classe produtiva da região, terá 90 dias para definir a reforma tributária. Em 2009, o governo lançou um decreto de regime especial de tributação que, na verdade, foi algo que não resolve totalmente o problema. O decreto condiciona um produto a ser fabricado e não a produção total da fábrica. A nossa realidade é que em Minas Gerais o ICMS é de 18%, enquanto no Rio 6 de Janeiro é de 2%. No Espírito Santo é 1%. Com isso, estamos perdendo empresas para os estados vizinhos. Desde 2005, a região conseguiu atrair 4 indústrias, sendo que uma retornou para o Rio de Janeiro. Enquanto isso, a cidade de Três Rios, no Rio, a 60 quilômetros de Juiz de Fora, contabilizou 196 indústrias. Pode-se dizer que essa conquista é fruto da atuação da Frente Parlamentar criada para defender o desenvolvimento econômico da região? Estamos gritando para que o governo nos ouça. A Frente Parlamentar conta com deputados estaduais e federais da região que estão se fazendo ouvir. No Encontro Regional para o Desenvolvimento da Zona da Mata Mineira, evento promovido pela Joice Castilho/Fiemg Fiemg, estiveram presentes, além dos deputados, mais de 50 prefeitos e inúmeros representantes da Zona da Mata e suas associações. O governo estadual teve conhecimento da nossa situação e parece que vai adotar uma nova postura, o que é bom, porque ou a gente encara a guerra fiscal junto ao Rio de Janeiro e Espírito Santo ou vamos fechar as portas e mudar de atividade. Isso seria lamentável, uma vez que Juiz de Fora foi a terceira cidade a ser industrializada, depois do Rio de Janeiro e Salvador. A primeira usina hidrelétrica surgiu em Juiz de Fora e depois veio a de Cataguases, que é a segunda maior geradora do nosso estado, só perdendo para a Cemig. A região foi o berço da industrialização, tudo começou aqui. Precisamos, com urgência, de investimentos em infraestrutura, logística e encarar a guerra fiscal para evitarmos a desestabilização social que acarreta desemprego e menos recursos para estados e municípios. O que estamos plantando hoje será colhido daqui a 20 anos, são iniciativas para garantir que nossos netos tenham onde trabalhar. Como está o processo da estrada que dá acesso ao Aeroporto Regional Itamar Franco, no município de Goianá? Essa é outra luta antiga, a construção do contorno de Goianá, que viabilizará a transferência dos fluxos dos veículos para fora do perímetro urbano, um trecho de 14 quilômetros. O governo de Minas, por meio da Secretaria de Transportes e Obras Públicas, autorizou a emissão de ordens de serviços para a retomada imedia- ta de obras prioritárias entre elas a de Goianá, que já havia sido começada, mas, por falta de pagamento, foi interrompida em setembro do ano passado. A empresa que ganhou a licitação executou apenas obras de terraplanagem em um determinado trecho. O que se vê lá é terra solta, árvores e mato crescendo. No Fórum Regional da Zona da Mata, no dia 17 de julho, em Juiz de Fora, o governador Fernando Pimentel assinou ordem de despacho que prioriza a retomada das obras. O estudo Perspectivas de Desenvolvimento para a Zona da Mata Mineira, projeto de desenvolvimento socioeconômico e industrial elaborado pela Fiemg, propõe a criação de um novo distrito industrial em Juiz de Fora? Sim. O último investimento no setor industrial por parte do estado foi em 1982, quando a Mercedes-Benz veio para Juiz de Fora. Nossas áreas industriais estão 100% ocupadas e não dispomos de outro local para atrair empresas. Para isso, teríamos que desapropriar áreas. Temos mais de 10 milhões de hectares disponíveis, mas um distrito industrial requer boas estradas para suportar cargas pesadas, infraestrutura, energia e gás. Para isso, estamos pleiteando que o governo invista em nossa região. Mas precisamos trabalhar nas questões de acessibilidade, desapropriar áreas, executar terraplanagem e disponibilizar transmissão de energia. Temos muitos empresários querendo vir para cá, mas para isso precisamos da reforma tributária, uma área com boa infraestrutura e logística. Sem esse tripé não há desenvolvimento industrial. A alternativa para o remanejamento do trânsito de caminhões na região urbana de Juiz de Fora é a implantação do minianel viário de ligação entre as rodovias BR–267 e BR–040. Como está esse processo? Ele terá 11 quilômetros e foi projeta- do para aliviar o fluxo de carretas do atual trecho da BR–267, no perímetro urbano, para um contorno rodoviário que eliminará as interferências com o trânsito de veículos locais, cujos reflexos atuais são congestionamentos, acidentes e deterioração das ruas e avenidas, que não suportam a densidade de veículos pesados. A estimativa é remanejar 15 mil veículos que usam a cidade como passagem. A construção do minianel resultaria em ganhos de produtividade, segurança e redução dos custos de transporte para os veículos em passagem pela cidade. Estamos falando em obra de 400 milhões de reais. O que vale isso para o estado que tem 71 bilhões de orçamento? O custo dessa obra será a metade do valor gasto com a reforma do Mineirão, realizada em 6 meses. Enquanto estamos parados, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, está trabalhando e expandiu o ICMS de 2% para mais da metade das cidades da Região dos Lagos e para o norte do estado, além de criar mais 5 distritos industriais com 2% de ICMS. Ele é um governador audacioso e mostra para a população que não está atrelado apenas ao setor do petróleo, quer atrair indústrias de todo tipo. Desde a época do Império tiramos ouro e café. Hoje tiramos ouro, café e cana-de-açúcar. Depois de 300 anos continuamos vivendo do extrativismo mineral e do solo. O teatro Paschoal Carlos Magno vai sair do papel, finalmente? Um convênio de cooperação técnica e financeira entre a Codemig e a prefeitura de Juiz de Fora, no valor de 6 milhões de reais, assinado em 2014, foi revalidado recentemente. A obra havia sido iniciada há 35 anos e agora será realizada. Esse foi mais um pleito da indústria, que contou com a anuência da Codemig, o que dá mais credibilidade ainda à gestão atual da companhia. 7 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA NEGÓCIOS Em busca do polo de UAI BRASIL: roupas para artistas de novela beachwear ERVÁLIA ABRIGA 15 CONFECÇÕES DE ROUPAS QUE PRODUZEM 2,5 MILHÕES DE PEÇAS POR ANO ANA ELIZABETH DINIZ E mbora esteja longe do litoral, a cidade de Ervália, com 19 mil habitantes, vem se destacando pela produção de moda praia, negócio que atrai novas empresas. Atualmente, 15 confecções produzem 2,5 milhões de peças por ano, gerando cerca de 500 empregos diretos e faturamento de 37,5 milhões em 2014, segundo a Câmera de Dirigentes Logistas da cidade. As confecções representam 67% da economia local, mesmo com o histórico de agronegócio do município. Segundo Marcus Vinícius Mol Silva, analista técnico do Sebrae da 8 microrregião de Viçosa, as fábricas vendem para todo Brasil, sendo os principais compradores o Espírito Santo, Rio de Janeiro e o Nordeste. “Somente em 2013, impulsionadas pelo setor de confecção, foram abertas 104 fábricas na cidade, mas o maior destaque é para moda praia, que abrange a criação e produção de biquínis, maiôs, sungas e shorts de banho, e, cada vez mais, amplia sua presença no mercado nacional.” Negócio que vai de encontro aos números revelados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que indicou curva de crescimento do segmento no país em 13,2% e do valor de produção em 117,7%, entre os anos de 2002 e 2009. Esse cenário é reflexo da produção anual, que soma 274 milhões de peças por 2,3 mil empresas especializadas. A participação do Sebrae junto às empresas teve início este ano. “Algumas empresas buscavam assessoria e o aperfeiçoamento do seu processo produtivo e nos procuraram. Resolvemos investir nessa região. Nossa meta é criar um polo de moda praia em Ervália. Nosso primeiro desafio tem sido VIVER Agosto - 2015 quebrar a resistência de algumas empresas que ainda têm um perfil individualista. Nesse tipo de negócio é preciso um espírito de grupo. Vamos criar uma governança, melhorar o design, avaliar as tendências de mercado, visitar outras regiões, como o Rio de Janeiro, para absorvermos referências positivas”, diz Marcus. O analista antecipa que o Sebrae já tem reunião agendada com a prefeitura de Ervália. “As confecções vão disponibilizar as máquinas e a prefeitura vai ceder espaço e contratar o profissional para capacitar as pessoas. Isso vai permitir que a população adquira conhecimento específico para um mercado em crescimento. Quem estiver bem treinado tem mais chances de se sair bem.” Uma jovem empresa que vem se destacando em Ervália pelo empreendedorismo é a Acqua Minas, dos amigos Ronnie Anderson Franklin Alves, 31, e Bruno Eduardo da Silva Izair, 30. Tudo começou em 2011, quando Ronnie, mecânico de máquinas de costura, abriu uma loja que vendia e dava assistência técnica. Passou a conhecer o mercado e chamou Bruno, amigo de infância e representante comercial de duas fábricas locais. “Vi que o mercado era bom e incentivei o Bruno a entrar de sócio comigo. Tínhamos 30 mil reais e fizemos empréstimo de 150 mil reais junto ao BNDES. Começamos em uma garagem, de 100 metros quadrados, com 13 funcionários. Logo no primeiro ano, nossas expectativas foram superadas. A estimativa eram 2.500 peças e produzimos 15 mil. Achávamos que o faturamento anual seria de 40 mil reais, foi de 300 mil reais”, conta Ronnie. Em apenas 4 anos de empresa, os jovens empresários passaram a ocupar espaço de 700 metros quadrados. Hoje, são 55 funcionários e a produção é de 120 mil peças por ano, que comercializam com o Sudeste, Paraná e Santa Catarina. A Acqua Minas produz VIVER Agosto - 2015 Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 BRUNO IZAIR e Ronnie Alves: 120 mil peças por ano NÚMEROS z 264 milhões de peças é a produção anual de moda praia no Brasil z 2 bilhões de dólares por ano é o que o mercado movimenta no país z 12 bilhões de dólares é a estimativa mundial z 10,4 milhões de dólares foi o volume que as confecções brasileiras exportaram no ano passado z Estados Unidos (2,9 milhões de dólares), Portugal (2,1 milhões de dólares) e Itália (903,8 mil dólares) foram os maiores compradores z 2,3 mil confecções brasileiras produzem moda praia Fontes: Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e Global Market Review of Swimwear and Beachwear. biquíni, maiô, sunga, saída de praia, moda para bebês, infantil, juvenil e adulto, masculino e feminino e ainda o tamanho plus size. “Nos primeiros 3 anos de atuação ficamos nivelados com as outras fábricas, algumas bem mais antigas. Estamos crescendo rapidamente, fruto de um planejamento arrojado. Nossa coleção 2016 já foi lançada e estamos buscando referências para a próxima”, diz Ronnie. O sócio Bruno, que no início era o único vendedor, coordena hoje equipe de 17 representantes comerciais. A empresa recebeu em 2014 o prêmio Mérito Empresarial da Federaminas. “A criação do polo de moda praia ainda está no começo, mas penso que esse será um passo significativo, pois temos qualidade e preço acessível.” A marca Uai Brasil, dos empresários Jean Oliveira e Marina Salgado, existe desde 2000, mas a fábrica teve início em 2005. Fabrica biquíni, sunga, maiô, saída de praia, linha infantil e adulto, que comercializa com todo o Brasil. “Nossas peças já vestiram artistas das novelas Malhação e Além do Horizonte. Nosso foco é oferecer ao mercado um produto de qualidade e, para isso, investimos em máquina de corte, de tecnologia brasileira, que confere precisão de 100%. Além disso, temos um rigoroso controle de qualidade”, diz Jean. A fábrica trabalha com a Sayoart e a Rosset, que estão entre os melhores fornecedores de matéria-prima do mercado. Jean comenta que, nos últimos 3 anos, surgiram 7 novas fábricas de moda praia na cidade, o que aumentou a demanda por mão de obra especializada. “Em um primeiro momento houve escassez de mão de obra, mas que logo foi sanada. O mercado está aberto para quem quer trabalhar. Essa moda é sazonal, mas apesar disso, ainda não senti os efeitos da crise. Estou otimista, porém cauteloso, nada de grandes extravagâncias”, afirma. 9 ALI E ACOLÁ POR ANA ELIZABETH DINIZ Rolezinho rural No meio de uma tarde nublada, o curral de uma fazenda no povoado de Bom Jesus do Madeira, distrito de Fervedouro, se tornou palco de prestigiado evento rural: a pista de 10 laço. Jovens entre 16 e 20 e poucos anos, todos a caráter, tentavam laçar os bezerros. Cada laço valia 10 pontos. Hábeis no manejo da corda, eles mostraram bom desempenho em uma competição acirrada. Os amigos se reúnem semanalmente para o rolezinho rural, em que um sempre se sagra o vencedor. Naquela tarde, Nonô fez a melhor pontuação. VIVER Agosto - 2015 Sem crise e mais Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 O empresário Lauro Jorge Paes de Souza, 50, ex-professor de judô, decidiu pegar pesado no segmento de luta e, em 2001, criou a Fight Brasil, empresa que fabrica mais de 300 produtos como luvas de boxe, caneleiras, quimonos, sacos de pancada e capacetes para treino. A fábrica, localizada em Ervália, produz mais de 5 mil peças por mês, vendidas para todos os estados. Atualmente, é a única em Minas Gerais especializada no segmento. Com a alta do dólar, os produtos importados se tornaram menos atrativos e a procura pelos nacionais acelerou, o que foi ótimo para seu negócio que não tem enfrentado crise. Atores e figurantes da novela Malhação, assim como os equipamentos da academia são produzidos por Lauro, que este mês leva sua fábrica para uma nova sede. TV na praça A tarde caída meio fria em São Francisco do Glória. Havia poucas pessoas nas ruas. No centro da cidade, na praça São Francisco de Assis, uma televisão comunitária permanecia ligada para o entretenimento de um distinto senhor que assistia, de pé mesmo, à programação da tarde. Algumas jovens passaram por lá e disseram que, à noite e no horário das novelas, os bancos se enchem de gente. Os olhares ficam fixos, atentos, mas na hora dos comerciais a prosa rola solta. VIVER Agosto - 2015 Delícia gelada Flávio Maciel dos Nascimento Goncalves Rigueira, 40, começou vendendo verduras em casa. O negócio não ia bem. Decidiu reativar uma máquina de fazer picolé usada pelo pai no passado e que estava parada. Resolveu criar, há 10 anos, a DeliGeli Sorvetes, que utiliza a polpa de frutas naturais. Sucesso garantido. Hoje, são 14 funcionários, duas lojas em Ervália e 12 parceiros. Após muita pesquisa, Flávio chegou a 34 sabores tradicionais de picolés, 34 especiais, e 40 tipos de sorvetes. Os preferidos são coco com abóbora, queijo com goiabada, coco com abacaxi, leite condensado com morango, iogurte com morango, abacaxi ao vinho e biscoito recheado. Na alta temporada, ele fabrica, por semana, 50 mil picolés, 250 baldes (10 litros) de sorvete e 3 mil sundaes. Encomendas: (32) 3554-1149 e (32) 8403-9352. 11 ALI E ACOLÁ Pergaminho do café Em terra que produz excelentes cafés orgânicos, nada mais natural que o reaproveitamento do pergaminho do grão, pelas mãos habilidosas da artesã Maria Aparecida Gomes Costa Assis, 41, conhecida como Suca. Ela retira a massa que fica dentro dos grãos, mistura com um grude feito de farinha de trigo sem fermento, papel, palha do café, vinagre para não mofar e ácido bórico para aumentar a durabilidade das peças. Daí ela cria bandejas, porta-revistas, pano de prato, guardanapo, cachepós, gamelas. As peças são vendidas em feiras. Os preços variam de 5 a 70 reais. Paola/Divulgação O mais premiado do Brasil Não é exagero dizer que o doce de leite Viçosa é o melhor e mais delicioso do Brasil. Sua pureza e qualidade vêm 12 sendo reconhecidas pelo público e por especialistas. A versão tradicional do doce participa do evento mais respeitado do país, o Concurso Nacional de Produtos Lácteos, organizado pela Epamig e pelo Instituto de Laticínios Cândido Tostes, desde 2000, sendo sempre premiado entre os 3 primeiros colocados. O doce venceu o concurso em 7 ocasiões: 2001, 2004, 2006, 2008, 2011, 2012 e 2013. Com as premiações, ele se tornou o mais premiado em todas as edições do concurso. e mais Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 Abrigo para foragidos políticos O surgimento da cidade de Araponga está diretamente ligado ao ciclo do ouro. Há registros de que o primeiro ouro das Minas Gerais foi descoberto ali, por volta de 1693. Túneis eram abertos para extrair o metal. Na antiga fazenda da Fundaça, os túneis deram origem a várias histórias. Uma delas diz que um dos túneis foi fechado por um enorme portão de ferro, lacrando em seu interior um tacho cheio de ouro, guardado pelas almas dos escravos mortos em um desabamento. Acredita-se também que, no auge da revolução de 32, os túneis tenham abrigado os bernardistas, como eram chamados os seguidores do ex-presidente do Brasil, Artur da Silva Bernardes, que fugiam das tropas do governo de Getúlio Vargas. VIVER Agosto - 2015 Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 tenho dito... ... o melhor e o pior da minha cidade “Em Ervália as pessoas são amigas e ajudam umas as outras. A vida é tranquila, mas a cidade tem poucas indústrias e falta emprego.” Ronaldo Santos Souza, 17, atendente Gosto de Viçosa pelo fato de ser uma cidade tranquila, apesar de alguns atos de vandalismo. A universidade traz benefícios. Sinto falta de lazer. O cinema que tem é pequeno e não há teatro.” Lizane Cristina de Jesus Ferreira, 32, telefonista Araponga é uma cidade pacífica, de povo acolhedor, e se destaca pelo turismo e pela produção de cafés especiais. Acho que esses atrativos tinham que ser mais divulgados, assim como suas belezas naturais. Falta lazer.” Elisângela Aparecida Lopes, 41, professora VIVER Agosto - 2015 Na verdade, São Francisco do Glória deixa muito a desejar. Temos cachoeiras, mas a política local não olha pelo cidadão. O transporte público é ruim, faltam médicos. Para que tanta obra? Seria melhor investir no atendimento às pessoas.” Robson Pimentel, 23, piscicultor 13 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA AGRICULTURA De pai para filho CULTIVO DE CAFÉ ORGÂNICO CRESCE NA COMUNIDADE DE PEDRA REDONDA LAVOURA DE café orgânico de Edmar Lopes (abaixo), com o filho Pedro Lucas ANA ELIZABETH DINIZ C ravado a 1.346 metros de altitude, no topo da comunidade de Pedra Redonda, em Araponga, fica o sítio de mesmo nome do agricultor Edmar Lopes, 44, que há 12 anos migrou para a produção do café orgânico que tem conquistado vários prêmios. Além de preservar o meio ambiente, o produtor está experimentando a confortável sensação de melhorar a qualidade de vida da família e já conta com a ajuda do filho, o adolescente Pedro Lucas Ramos Lopes, 12, que cuida de uma lavoura com 500 pés de café e já planeja plantar outros 500 até o final do ano. Ao lado do pai, o garoto mostra conhecimento da lida na lavoura e vai respondendo com segurança a algumas perguntas. “Aqui produzimos nosso próprio adubo, usando galhos da bananeira e de árvores, esterco de gado, porque a legislação brasileira proíbe o esterco de galinha. Nada de agrotóxico”, diz. O pai consente com a fala assertiva do jovem aprendiz. No pátio de secagem, o produtor rural vai ensinando o processo pelo qual o café passa. “Colho o café maduro e o coloco em uma 14 Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 superfície totalmente telada durante duas semanas, exposto ao ar, para secar. Esse tipo de secagem permite um grão mole, com acima de 91 pontos, metodologia criada pela Specialty Coffee Association of America (SCAA), quando a média é de 85 pontos.” Após esse processo, o café é colocado por mais uma semana no terreiro, quando ele atinge 15 graus de umidade. Daí, ele fica 30 dias armazenado para descansar e volta para tomar sol no terreiro até ficar com 11 de umidade. Edmar diz que comercializa o café cru, tipo exportação, com a cooperativa local, onde é novamente beneficiado até atingir 14 graus de umidade, o padrão exigido internacionalmente. Seu café é exportado para os Estados Unidos e é certificado pela BCS Öko-Garantie, organismo independente com sede na Alemanha, pela USDA Organic, selo criado pelo Departamento de Agricultura dos EUA, pelo selo Orgânico do Brasil, e participa do fair trade, uma abordagem alternativa ao comércio, baseada em parceria entre produtores e consumidores. A propriedade de Edmar tem 6.800 pés de café orgânico. A saca (60 quilos) tem sido comercializada entre 100 e 120 libras acima do preço do café tradicional. “Fico feliz com minha lavoura, pois sei que estou zelando pela natureza e pelo meu próximo”, conta. Atento à conversa, Pedro Lucas, orgulha-se de colher entre 20% e 30% da produção total da propriedade. VIVER Agosto - 2015 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA CAFEICULTURA Produto premiado COM CULTIVO TOTALMENTE FAMILIAR EM ESPERA FELIZ, CAFÉ CONQUISTA MERCADO INTERNACIONAL ANA ELIZABETH DINIZ Emater-MG/Divulgação U ma família do município de Espera Feliz se tornou referência de qualidade na produção de café, por meio do cultivo familiar, que atravessa gerações por mais de 60 anos e começou com o pai do agricultor Onofre Alves de Lacerda. Atualmente, a propriedade Forquilha do Rio conta com mão de obra dos filhos e cônjuges de Onofre e de seus netos. Ao todo, 15 pessoas cultivam uma área plantada de 12 ha. “São vários os fatores que influenciam na qualidade do nosso café. O clima, o solo, a altitude de cerca de 1.280 metros, e o trabalho em família. Temos muito cuidado com a finalização da produção, com mão de obra qualificada. Fazemos tudo com muita dedicação e contamos com a assistência técnica da Emater-MG”, destaca o produtor José Alexandre Abreu de Lacerda, filho do senhor Onofre. A qualidade do café produzido na fazenda começou a chamar atenção já nas primeiras participações em etapas do Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, realizado pela Emater-MG. “Percebemos o potencial do produto e começamos a enviar amostras para o concurso. O resultado foi excelente. Boas colocações em concursos regionais, estaduais e, até, em nível nacional”, diz Júlio de PauVIVER Agosto - 2015 JOSÉ ALEXANDRE e Greciano na propriedade Forquilha do Rio la Barros, técnico da Emater-MG que presta assistência na propriedade da família há 28 anos. A produção rendeu vários títulos, entre eles o primeiro lugar no 9º Concurso Nacional ABIC de Qualidade do Café (2012), na Categoria Microlote. No Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, é vencedor há 3 anos consecutivos, nas etapas Muriaé e Regional Matas de Minas. Foi o primeiro colocado na etapa estadual 2012 (categoria cereja descascado). Japão, Estados Unidos, Noruega e Alemanha são alguns dos países interessados no café. Compradores de diversos mercados têm procurado a família para comprar a produção de aproximadamente 400 sacas por ano. A exportação do café representa aumento na renda da família. Ao comercializar o café com atravessadores da região, a saca é vendida em média por 430 reais. Já no mercado internacional a família consegue comercializar por 950 reais a saca. “A demanda tem sido tão grande que mal conseguimos atender”, conta José Alexandre. 15 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA ECONOMIA Hóstias não consagradas EMPRESA DE PONTE NOVA PRODUZ 2 MILHÕES DE UNIDADES POR DIA E VENDE PARA TODO O BRASIL ANA ELIZABETH DINIZ O refrão “debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo, forjar no trigo o milagre do pão...” da música Cio da Terra, de Milton Nascimento e Chico Buarque, parece permear a lida diária da Fábrica de Hóstias Nossa Senhora de Fátima, criada em 1995 pelo ex-seminarista e engenheiro civil Ary Brum Júnior, 38, em Ponte Nova. “Todo negócio precisa ter inspiração e respiração. Tive a ideia de montar a fábrica, por acaso, quando fui comprar lâmpada de sacrário em uma loja em Belo Horizonte e vi que 16 eles vendiam hóstia. Fiquei pensando naquilo e vi que era um bom negócio. Fiz e refiz as contas. Naquela época (Plano Real) a energia elétrica e o trigo eram subsidiados pelo governo e o câmbio não era livre. A ideia vingou. A sorte tem que acontecer”, relembra Júnior. Negócio inspirado e iniciado na hora certa, quando a fabricação de hóstias há muito havia extrapolado os conventos e as igrejas. “Até os anos 1960, toda igreja produzia sua própria hóstia, e o trigo vinha de Portugal. As irmãs e os padres fabrica- Pedro Vilela/Agência i7 vam as hóstias e até o vinho litúrgico. Era uma época em que havia mais tempo e os religiosos tinham que se revezar nas inúmeras tarefas domésticas. Hoje não há mais espaço e nem tempo para se dedicar a essas funções. A produção até então era local, limitada e artesanal. O mercado hoje exige profissionalismo e, por isso, nossa empresa surgiu no momento oportuno”, diz o empresário. Júnior contou com uma certa ajuda do universo para iniciar seu negócio. “Eu estava conversando com amigos, quando um deles disse que tinha uma máquina antiga de fabricação de hóstia, que estava parada há 40 anos, na igreja de São Sebastião. Fui lá, conversei com o padre e consegui a máquina. Comecei produzindo em um cômodo acanhado dentro da minha casa. Fabricava 10 VIVER Agosto - 2015 mil hóstias por dia e vendia em Ponte Nova e Viçosa. Trabalhavam comigo minha mãe, Zilda Brum, e meu irmão Daniel Mares Brum. Um ano depois era hora de decidir se continuávamos, investíamos para crescer ou não. O mercado estava aberto. Apostei no futuro.” Para conquistar o mercado e novos clientes, o empresário diminuiu seu lucro. “Em 1996, o custo unitário da hóstia era de 0,26 centavos e o pacote com mil unidades era vendido a 5 reais, baixei o preço para 1,50 real. Fizemos financiamento de 20 mil reais que, na época, era suficiente para comprar 2 carros. Como o imóvel era do meu pai, investi em maquinário e capital de giro. Com isso fui ganhando o mercado e os padres ficavam impressionados com a qualidade das hóstias.” A fábrica é a maior do país e responsável por 40% do que é distribuído no Brasil. A produção diária é de cerca de 2 milhões de unidades. O pacote com mil unidades custa 5 reais e a produção é comercializada em todo o Brasil. Minas Gerais é o estado que mais compra, seguido do Nordeste e do Espírito Santo. Oitenta por cento do estado de Santa Catarina e 90% do Rio Grande do Norte compram as hóstias Nossa Senhora de Fátima. “Poderíamos vender mais para Minas Gerais, mas a carga tributária onera o produto. A hóstia chega mais barata em Porto Alegre do que em Belo Horizonte, que está a 200 quilômetros de Ponte Nova. Outros países têm nos procurado, mas não temos interesse em exportar por causa da burocracia. Eu trocaria, tranquilamente, meu lucro pelos impostos”, propõe Júnior. A empresa conta com 39 funcionários. Além da mãe e do irmão, que continuam firmes, o pai, Ary Brum, 87, também integra a equipe. Desde a primeira venda de hóstias, VIVER Agosto - 2015 ARY BRUM JÚNIOR, com a mãe Zilda: “Todo negócio precisa de inspiração” Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 NÚMERO 40% das hóstias distribuídas no país vêm da fábrica de Ponte Nova O PATRIARCA ARY BRUM: produção consome 2 toneladas de farinha por dia em 1996, a fábrica investiu cerca de 2 milhões de reais em maquinário e infraestrutura, sendo 400 mil somente em 2014. Para este ano, a previsão é de investir em torno de 250 mil reais. Em 2013, a fábrica enviou 1,5 milhão de hóstias para a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, celebrada pelo papa Francisco, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A hóstia tem o mesmo formato e a mesma constituição, farinha de trigo e água, desde os tempos de Moisés. Sua fabricação está dentro das normas canônicas. O processo de produção é simples, porém trabalhoso e demanda grande escala de produção. O produto é tão nobre que só 10% da matéria-prima viram hóstia. Para produzir 2 milhões de hóstias por dia são necessárias 2 toneladas, ou 40 sacos (50 quilos), sendo que 200 viram hóstia, o restante é descartado, ou seja, 1.800 quilos de farinha de trigo vão parar no lixo. Isso devido ao alto controle de qualidade. A hóstia não pode ter nenhum defeito. Depois de irem para a prensa, elas recebem os símbolos litúrgicos, que são diversos. “Depois de consagrada, a mistura de água e farinha de trigo, se transforma no corpo de Cristo, em matéria de salvação”, diz Júnior. 17 Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA PISCICULTURA Criaturas das águas MUNICÍPIOS DA ZONA DA MATA PRODUZEM 70% DOS PEIXES ORNAMENTAIS DO PAÍS, CERCA DE 9 MILHÕES DE UNIDADES POR ANO ANA ELIZABETH DINIZ A s enormes estufas ao longo da estrada denunciam a presença de mais de 400 proprietários rurais que resolveram apostar na piscicultura ornamental como alternativa de renda e, juntos, vendem cerca de 9 milhões de unidades por ano para todo o Brasil. Os municípios de Barão do Monte Alto, Eugenópolis, Patrocínio de Muriaé, Miradouro, Muriaé, São Francisco do Glória e Vieiras fazem parte da região considerada polo de piscicultura ornamental, sendo responsável por 70% da produção de peixes no Brasil, segundo dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Já são 26,5 milhões desses peixinhos colorindo os aquários residenciais, contra 21,3 milhões de felinos e 18 37,1 milhões de cães, conforme levantamento recente da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Na Zona da Mata, o negócio, ainda incipiente, começou no início de 2000 e, em 2003, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MG) já orientava os produtores rurais sobre as técnicas de criação fundamentais para o sucesso da atividade. “Eles criavam os peixes sem informações fundamentais como: biologia das espécies cultivadas, técnicas de desova, larvicultura, prevenção de doenças, alimentos de boa qualidade, legislação. Cada animal tem a água de sua preferência, tipo de desova, temperatura e nível de adubação. O piscicultor tem que entender essas caracte- rísticas e contar com profissional com responsabilidade prestando assessoria”, diz Alexandre Rodrigues da Silva, biólogo, especialista em piscicultura, engenheiro de saneamento ambiental e instrutor do Senar-MG. Segundo ele, as vantagens da piscicultura ornamental em relação à de abate, são a obtenção de bons lucros em terrenos pequenos, com tanque pequenos e pouca água. “Existem até piscicultores criando peixes, com alto índice genético, em apartamentos. Animais com alto potencial genético, ou extremamente delicados em sua biologia e com técnicas apuradas de criação, são mais lucrativos, podendo atingir 300 reais em média, por unidade. O investimento inicial depende das espécies e variedades que se VIVER Agosto - 2015 pretende criar. Peixes mais rústicos são mais baratos do que animais mais selecionados e de hábitos exigentes, como por exemplo os acarás discos”, comenta Alexandre. Quem se animou a mudar o rumo profissional e não se arrepende é Cristiano Cunha de Paula, 36, proprietário da Fazenda Pouso Alegre, com 3 ha, em Patrocínio do Muriaé. “Trabalhei na roça até os 18 anos, depois fui auxiliar de serviços gerais por mais 7 anos. Em 2001, fui trabalhar em Brasília, mas não gostei do agito da cidade. Sou simples. Voltei em 2003 e comecei a vender peixes criados aqui, em Ubá. Em 2004, eu já tinha algumas estufas, fui visitar uma feira em São Paulo, conheci uma cliente e não parei mais”, diz. Atualmente, Cristiano tem 13 estufas que abrigam 206 tanques onde cria o barrigudinho, também chamado de guppy ou lebiste, peixe de comportamento pacífico, originário da América Central e América do Sul, várias espécies de acarás, colisas, bettas (originários das plantações de arroz da Malásia), e o oscar, originário da Amazônia. “Minha produção média é de 4 mil a 5 mil unidades por mês. Noventa por cento da produção eu vendo para 4 clientes de São Paulo e 10% para Três Rios e Manhuaçu.” Os tanques são de alvenaria, cobertos com lona e com água encanada, dentro de estufas ou telados para proteger contra predadores como pássaros e cobras. Cristiano explica que o processo de criação começa com a seleção das matrizes, que depois serão colocadas nos tanques e acasaladas. Após a desova, os filhotes são levados para os tanques com adubação, ambiente propício para o desenvolvimento e, posteriormente, são alimentados com ração. A atividade exige dedicação. Cristiano conta com a ajuda da mãe e de um funcionário. Trabalha muito, sem final de semana, mas não se arrepende. “Até chegar aqui fiz diversos cursos VIVER Agosto - 2015 CRISTIANO CUNHA: “O mercado está em crescimento, tudo o que produzo eu vendo” A região é muito pobre e a piscicultura foi a única saída para os produtores” Márcio Onibene, ao lado do irmão Ronim de piscicultura e administração rural no Senar Minas, que foram importantes. De 2005 a 2010, a atividade virou febre na região, mas logo o governo bateu firme na fiscalização ambiental em função da crise de água e o financiamento para o setor foi afetado. Hoje, trabalho para pagar as contas, o preço da ração tem aumentado, o saco que custava 20 reais pulou para 135 reais. Com tudo isso, terei que reajustar o preço da unidade em torno de 20%. Contudo, o mercado está em crescimento, tudo o que produzo eu vendo.” A criação de peixes ornamentais remunera melhor o produtor do que o abate. O tempo para um peixe ficar no ponto de ser comercializado, desde seu nascimento, é de 3 meses, enquanto que para o abate demora um ano e meio. Em São Francisco do Glória fica a Fazenda São Carlos, sede da Piscicultura Onibene, dos irmãos Márcio e Ronim Onibene. Aí funciona uma distribuidora que conta com 102 associados de Miraí, Fervedouro, Patrocínio do Muriaé, Barão do Monte Alto, Miradouro, Vieiras e São Francisco do Glória, que produzem cerca de 200 mil peixes por mês, comercializados em São Paulo, Rio de Janeiro, BH e Brasília. Um negócio que envolve mais de 300 piscicultores e gera quase 400 empregos diretos. Márcio conta que começou a criar peixes ainda adolescente. “A região é muito pobre e a piscicultura foi a única saída para os produtores. Depois dela, nossas vidas melhoraram 100%.” Os irmãos criam peixes ornamentais 19 P I S C I C U LT U R A Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 QUANTO CUSTA Betta macho R$ 1 a unidade Betta fêmea R$ 0,25 a unidade Lebiste R$ 0,70 o casal Acarás R$ 1 a unidade Saiba mais z Segundo dados do Ministério da Pesca e Aquicultura, o valor unitário médio para peixes valorizou 744% entre 2007 e 2012. Em 2013, a exportação desses animais rendeu 10,5 milhões de dólares (33 milhões de reais) de faturamento aos criadores brasileiros, mais que o dobro do registrado 6 anos antes desde 1991. Dos 90 ha da propriedade, apenas 4 são usados na piscicultura. Empregam 18 funcionários e criam 150 espécies, como acará, barbus, molinésia, espada, platy, japonês. “Tenho hoje 250 tanques e produzo 30 mil unidades por mês. Nossa água é de uma nascente que fica dentro da propriedade e temos o maior cuidado com o meio ambiente. A água que sai dos tanques é tratada antes de ir para o ribeirão do Glória”, observa Ronim. Márcio lembra que a piscicultura está em franco crescimento. “Hoje temos mais tranquilidade para trabalhar e investir, por causa da legalização. Cerca de 70% dos piscicultores estão legalizados e o restante em processo, porque a regularização é trabalhosa e onerosa. Os produtores rurais querem andar dentro da lei, mas têm dificuldades em relação à documentação. Somos muito cobrados pelas autoridades. Precisamos de consultoria especializada para orientar quanto à legalização.” Para resolver problemas dessa natureza e percebendo o potencial do 20 polo na região, a Superintendência Federal da Pesca e Agricultura de Minas Gerais promoveu o 1º Seminário Estadual de Piscicultura Ornamental da Zona da Mata, que reuniu 200 pessoas entre piscicultores, entidades e representantes de órgãos públicos, para discutir o crescimento, legalização e qualidade na produção. O evento aconteceu na fazenda dos irmãos Onibene e foi considerado um marco porque trouxe à tona os potenciais e as dificuldades da atividade. Assessor do Ministério da Pesca e Agricultura – Secretaria de Monitoramento e Controle –, Felipe Weber Mendonça Santos destacou a força regional e citou algumas políticas do governo para o segmento. “Construímos e publicamos algumas normativas para melhorar a realidade do produtor e permitir o desenvolvimento da atividade. O maior desafio deles é a legalização. Não conhecíamos os nomes de muitos deles e, agora, sabemos o porquê. Eles têm medo das dificuldades de regularização. Estamos dispostos a revisar as normas de li- cenciamento ambiental”, assegurou. Vicente Protásio de Paiva, 37, também teve que enfrentar essas dificuldades, mas diz ter valido a pena. Sua propriedade, a Fazenda São Luiz, toda pintada de verde com tanques a perder de vista se destaca ao longe, na zona rural de São Francisco do Glória. Tudo muito organizado. “Comecei lidando com peixe ainda moleque. Já trabalhei em outras atividades, mas acabei me afeiçoando à piscicultura e estou no mercado há 10 anos. Sempre modernizo o negócio, a fim de aumentar a produção, o lucro, e diminuir a mão de obra, que é uma dificuldade”, diz ele. O piscicultor tem tino para o negócio. Apostou na criação do peixe ciclídeo africano, porque seus vizinhos não trabalham com essa espécie. “Comecei com 5 tanques e hoje tenho 55 escavados e 70 de alvenaria. Minha produção mensal é de 10 mil unidades, entre 20 espécies que vendo para atravessadores. Tudo o que produzo eu vendo. Esse é um negócio que exige muita dedicação.” VIVER Agosto - 2015 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA EMPREENDEDORISMO GOIABADA ZÉLIA MANTÉM RECEITA CASEIRA E TRADICIONAL E É A MAIS ANTIGA DE PONTE NOVA Segredo de família ANA ELIZABETH DINIZ Pedro Vilela/Agência i7 O nome da goiabada foi mudando à medida que o negócio passava pelas mãos da família, ganhava novos donos, mas a receita da guloseima foi preservada. Os ingredientes, apenas goiaba vermelha e açúcar, seguindo receita nascida na cozinha da fazenda de Manoel Gonçalves Mol e Tereza Freitas Mol, que começaram a produção caseira para presentear os amigos e parentes. Quem narra essa trajetória de sucesso é Renato Mol, 57, empresário, proprietário da Fazenda Jatiboca, em Ponte Nova, e neto do casal. “O sabor apurado agradava e ganhava repercussão, as pessoas começaram a procurar o doce para comprar. Foi assim que, na década de 1920, Teêta, Sinhazinha e Marta Mol, minhas tias, fundaram a fábrica de goiabada São José. Com o passar dos anos, as irmãs mudaram o nome para Goiabada Celeste e homenagear a primeira sobrinha. Em 1960, um dos irmãos, Olavo Gonçalves Mol, meu pai, adquiriu a propriedade das irmãs, e proporcionou um grande avanço na comercialização do produto e muda o nome para Goiabada Zélia, minha mãe, hoje com 96 anos.” A goiabada cascão é feita com a casca da goiaba Paloma, em tacho de cobre e no fogão à lenha. “Não abro mão desse processo de fabricação que confere ao doce um sabor arrebatador. Ela é cremosa na medida certa”, diz Renato. VIVER Agosto - 2015 RENATO MOL: “Não abro mão desse processo de fabricação” A fábrica ocupa área de mil metros quadrados e vai ganhar mais 200, provavelmente, até o final do ano. A crise não afetou a empresa que vai lançar este mês a bananada e mangada. “Nossa área plantada é de 15 ha, cerca de 5 mil pés. Oitenta por cento da goiaba vem de produção própria e 20% de pequenos produtores de todo o Brasil. Nossos maiores compradores são de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso. A produção, durante a safra, que acontece de fevereiro e abril, é de 3 toneladas por dia, e na safrinha, de outubro a novembro, de 700 a 800 quilos por dia”, revela o empresário. A Goiabada Zélia está entre as melhores do Brasil e ganhou, pelo Estadão, o Expressões das Gerais, em 2013, e, em 2014, o prêmio Excelência Empresarial criado pela Cia de Talentos. Ela está disponível no mercado em 4 opções: lata de 800 gramas (a mais cremosa), pote de 700, lata de 550 gramas (cremosa) e o tablete de 600 gramas até 25 quilos. 21 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA LATICÍNIOS INOVALÁCTEOS, UM DOS PRINCIPAIS EVENTOS DA AMÉRICA LATINA, APROXIMA COMUNIDADE CIENTÍFICA E INDÚSTRIAS A nata da TECNOLOGIA italiana para fracionar queijos tecnologia ANA ELIZABETH DINIZ N ovidades em maquinário, embalagens, insumos e produtos do setor lácteo, além de novas tecnologias geradas para melhoria dos processos de produção. Esse foi o foco do InovaLácteos que aconteceu em Juiz de Fora em paralelo com o Minas Láctea, um dos principais eventos do setor laticinista da América Latina, cujo objetivo é estimular a inovação no setor, criando ambiente favorável para novos negócios. Realizado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), o encontro congregou 4 dos principais eventos do setor na América Latina: 30º Congresso Nacional de Laticínios, 42ª Exposição de Máquinas, Equipamentos, Embalagens e Insumos para a Indústria Laticinista (Expomaq), 41ª Exposição de Produtos Lácteos (Expolac) e 30º Concurso Nacional de Produtos Lácteos. 22 Nessa edição, 107 expositores e especialistas de todo o Brasil trouxeram novidades e soluções tecnológicas para a cadeia de lácteos, com foco na otimização da produção, na preservação de recursos naturais e em alimentos funcionais. O evento reuniu mais de 10 mil participantes de todos os estados brasileiros e da Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Espanha e Itália. Segundo o coordenador do Minas Láctea 2015, Leandro Viana, que é chefe-geral do Instituto de Laticínios Cândido Tostes/Epamig, as expectativas de negócios prospectados para o segundo semestre de 2015 são acima de 100 milhões de reais. “Os expositores ficaram satisfeitos com os indicadores qualitativos da feira, como relacionamento, discussões do mercado e oportunidades de negócios”, diz. Fotos: Erasmo Reis/Divulgação ENCANTADO: formato de cogumelo e recheado com mel Para Lúcio Antunes, gerente de negócios lácteos da Chr. Hansen, empresa de biotecnologia presente em 135 países, que participa desde a primeira exposição, o evento sempre agrega em relacionamento e novas oportunidades. “Pela primeira vez promovemos, em feira no Brasil, um novo conVIVER Agosto - 2015 Polo do Leite/Divulgação INOVALÁCTEA: feira reuniu brasileiros e estrangeiros Luiz Carlos Costa Júnior/Divulgação saúde”, comenta. Tito Pegorini, consultor da empresa italiana Facchinetti, vendeu duas máquinas durante o evento. “Batemos aqui a meta de venda do ano”, diz. Durante o evento, a empresa realizou demonstração do equipamento para fracionar queijo em cunhas de peso fixo, sem desperdício. “Estamos satisfeitos por conseguir mostrar aos brasileiros a importância da máquina para o mercado.” Pela primeira vez o produtor de leite de Taquaritinga (SP) Daniel Sallum participou do evento, em busca de equipamentos e informações tecnológicas para iniciar sua produção de doce de leite e queijo curado. “Participei do congresso cientíQUEIJO SILVESTRE: fico e das exposições de máquiprimeiro lugar nas e de produtos lácteos para levar mais conhecimento para ceito em iogurte, com a tecnologia um negócio que estou comeAcidifix, que permite estagnação çando”, afirma. do PH”, explica. Durante o evento foram realiLúcio Antunes lembra o cres- zadas 10 palestras, 6 minicursos, cimento do setor de lácteos e das concurso de produtos lácteos e 98 tecnologias apresentadas no even- empresas do Brasil e do exterior to. “Trouxemos novas aplicações montaram estandes apresentande lactase, que é uma realidade de do seus lançamentos para o setor. mercado, com foco em benefício à “É uma ótima oportunidade tanVIVER Agosto - 2015 to para a comunidade científica quanto para as indústrias do setor para atualizarem conhecimentos e lançar produtos. Para a Epamig, é fundamental criar esse ambiente de transferência de tecnologias e de negócios para estimular o setor laticinista no Brasil. São oportunidades que vêm ao encontro das demandas do mercado e com as quais pretendemos levar aos participantes uma visão estratégica de futuro, em que predomina a competitividade empresarial”, diz o presidente da Epamig, Rui Verneque. A exposição de produtos lácteos conquistou o público que pode degustar mineiridades, como os mais variados queijos, como o Encantado, com formato de cogumelo e recheado com mel, o Healthy Cheese, que alia queijos processados aos benefícios de probióticos e fibras alimentares e iogurtes. E o exótico queijo com frutos do cerrado, como o baru, considerado afrodisíaco. As indústrias mostraram-se atentas aos apelos do mercado consumidor apresentando produtos com redução de sódio e com baixa lactose. Segundo o coordenador da Expolac, Nelson Tenchini, cerca de 60 empresas apresentaram mais de 300 produtos no espaço dedicado a promover a interação entre fabricantes, representantes comerciais e consumidores. A miniusina Via Láctea, idealizada pelo Instituto de Laticínios Cândido Tostes reproduziu para o público o funcionamento de uma indústria de lácteos, desde a análise da matéria-prima até a distribuição do produto. Ao final, os visitantes degustaram os produtos e receberam informações sobre como produzir, quais os equipamentos necessários, a importância da higiene na produção e na qualidade dos alimentos. 23 Ana Elizabeth Diniz VIVE R M I NAS ZONA DA MATA CRISE HÍDRICA Degradação sem limites RIOS E BACIAS DA ZONA DA MATA SOFREM COM AÇÕES DO HOMEM ANA ELIZABETH DINIZ G arantir o adequado tratamento de resíduos e a sustentabilidade de rios e mananciais são os principais desafios dos municípios mineiros que integram o agrupamento de bacias do rio Paraíba do Sul, composto pelas bacias Preto/Paraibuna e Pomba/Muriaé. A constatação foi feita durante o encontro regional do Seminário Legislativo Águas de Minas III - Os Desafios da Crise Hídrica e a Construção da Sustentabilidade, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais no início do mês, em Ubá. Os impactos do lançamento do esgoto bruto, da redução do nível das 24 represas e o aumento de ocupações irregulares vêm preocupando os comitês da região. Ainda em 2013, o Comitê de Bacia Hidrográfica dos Afluentes Mineiros dos rios Preto e Paraibuna destacou que os mananciais e nascentes da bacia estão em risco devido, justamente, à poluição, ao impacto de obras públicas e às ocupações irregulares. A bacia tem sido degradada de forma difusa. Além do despejo de esgoto bruto, estão presentes outros fatores poluentes como agrotóxicos, lixo, óleo e queimadas. O relatório aponta que, mesmo nas poucas cidades que possuem uma estação de tratamento, como Juiz de Fora, a capacidade de tratar o esgoto gerado é de apenas 10%. Segundo a presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica dos rios Pomba e Muriaé, Maria Aparecida Borges Pimentel Vargas, o lançamento de resíduos nos rios reduz, significativamente, a qualidade da água e onera o custo de seu tratamento. Para ela, a degradação causada pelo despejo de esgoto sem tratamento, além de gerar impactos ambientais, torna ainda mais difícil a remoção de impurezas, partículas de sujeira e contaminantes da água, a fim de prepará-la para o consumo. Dessa forma, quanto maior o nível de poluição, mais onerosas serão as VIVER Agosto - 2015 Carlos Conde/Fiemg etapas de tratamento efetuadas por empresas como a Copasa. Para recuperar os cursos d’água, despoluí-los e preservar aqueles que ainda não foram comprometidos pela degradação, o comitê tem trabalhado com os gestores locais com o objetivo de fomentar a elaboração dos planos municipais de saneamento básico, instrumento de planejamento que estabelece diretrizes para a prestação de serviços na área: “Hoje, somente 3 municípios da bacia realizam tratamento do esgoto, mas estão em andamento 184 planos”, afirmou a presidente. A Zona da Mata é banhada por alguns rios das bacias do rio Doce e do rio Grande, além dos rios Preto, Paraibuna, Pomba, Muriaé, Paraíba do Sul, Peixe, Cágado, Bananal, Novo, Carangola, Gavião e Glória. “Todos foram afetados de uma forma geral, mas alguns trechos de afluentes desses cursos de água é que sofreram mais o impacto da redução das chuvas, tendo algumas de suas nascentes até secado momentaneamente”, analisa Eduardo Araújo, analista ambiental do Núcleo do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), de Juiz de Fora. Segundo ele, o número de municípios atingidos pelo racionamento de água variou, principalmente, em função do tipo e do local de captação. “Em alguns municípios a captação para abastecimento público acontece em pequenos afluentes que apresentaram uma redução maior nas suas vazões com menor pluviosidade do período, como Visconde do Rio Branco, Astolfo Dutra, Coronel Pacheco, Mercês, Santa Bárbara Monte Verde, Ubá e Recreio”. Desmatamento, assoreamento dos rios, ação de indústrias, poluição, são as principais causas da escassez hídrica. “A demanda crescente e a disponibilidade limitada desse precioso recurso deveria provocar na consciência humana uma busca por atituVIVER Agosto - 2015 Foram criadas linhas de financiamento para selecionar projetos e ações que contemplem no mínimo uma das ações definidas” Thiago Santana des mais coerentes de proteção dos mananciais, com redução da poluição e aumento na conservação. A poluição lançada nas águas compromete sua qualidade, entre outros impactos ambientais. O desmatamento, as queimadas e a ocupação irregular de áreas que deveriam estar cobertas por vegetação nativa, protegendo o solo do desagregamento e carreamento de partículas que terminam por assorear os cursos de água, reduzem as calhas desses cursos, piorando a qualidade das águas e aumentando a infiltração das chuvas nesses solos, o que é fundamental para abastecer os mananciais nos períodos de maior precipitação, para que nas secas os rios sejam abastecidos pelas águas subterrâne- as”, explica Eduardo. Entretanto, diz o analista, “a equivocada ação do homem ao longo de mais de um século de ocupação irregular dessa região teve seus efeitos ampliados por uma enorme redução das precipitações na região Sudeste, que teve início no primeiro trimestre de 2014 e se agravou até o primeiro trimestre de 2015, em função de diversos efeitos climáticos. Isso, somado à incapacidade dos solos de receber e armazenar água, fez com que nascentes e pequenos cursos de água secassem, ou reduzissem suas vazões, diminuindo por sua vez o abastecimento de reservatórios, levando a essa crítica situação de disponibilidade de recursos hídricos que estamos enfrentando”. Para Eduardo, a saída para evitar um agravamento da crise hídrica com a proximidade da estiagem do fim do ano é trabalhar na recuperação das áreas de recarga hídrica, principalmente dos mananciais responsáveis pelo abastecimento público, com medidas mecânicas, como a implantação de barraginhas e sistemas de drenagem eficientes. “É preciso reflorestar essas e outras áreas, como as matas ciliares, reduzir as queimadas, os desmatamentos, o lançamento de efluentes domésticos e industriais e ampliar a rede de monitoramento e de alerta. Essas são algumas ações do Igam, Instituto Estadual de Florestas e Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), no âmbito da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), em parceria com a Agência Nacional de Águas, Comitês de Bacias, via Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais – (Fhidro), projeto Produtor de Águas, Planos de Saneamento, etc”. A bacia hidrográfica dos rios Pomba e Muriaé situa-se na mesorregião da Zona da Mata, abrangendo um total de 68 sedes municipais e 25 C R I S E H Í D R I CA apresentando área de drenagem de 13.552 km2. Tem uma população estimada de 776.608 habitantes e seu clima é considerado semiúmido, com período seco durando entre quatro e cinco meses por ano. Perante a situação de escassez hídrica, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), órgão gestor de recursos hídricos, estabeleceu diretrizes e critérios gerais para a definição de situação crítica de escassez hídrica e estado de restrição de uso de recursos hídricos superficiais nas porções hidrográficas do estado e prevenção de eventos hidrológicos críticos. Segundo o gerente de pesquisa e desenvolvimento de recursos hídricos do Igam, Thiago Figueiredo Santana, o órgão opera o Sistema de Meteoro- linhas de ação definidas: saneamenlogia e Recursos Hídricos de Minas to básico, prevenção e mitigação de Gerais, radares meteorológicos e a cheias, convivência com a seca e mitisala de situação. “O resultado desse gação da escassez hídrica e recuperatrabalho são os boletins do tempo e ção de nascentes, áreas de recarga híhidrometeorológicos e situação cli- drica, áreas degradadas e revegetação mática, com destaque para os fenô- de matas ciliares, topos de morro e menos adversos (enchentes, secas e demais áreas de proteção permanentemporais), atualizados diariamente”. tes e proteção de ecossistemas aquáticos”, diz Thiago. Este ano, o Igam iniciou Segundo o gerente, foo Plano Estadual de Seguram instituídos dois grupos rança Hídrica criado para de trabalho a fim de estarealizar diagnóstico e probelecer critérios de exceppor ações estruturais e não NÚMERO cionalidade de restrição de estruturais em áreas críticas uso para captações de água, no estado, considerando a diretrizes e critérios gerais ocorrência de escassez por para a definição de situação condições naturais, por iné a capacidade crítica de escassez hídrica e certezas ligadas a questões climáticas ou ainda por ex- de tratar o esgoto estado de restrição de uso nas poucas de recursos hídricos subtercesso de demanda, tendo cidades que râneos em Minas Gerais. em vista a garantia da oferdispõem de O Comitê da Bacia Hita de água para o abasteciestações drográfica dos rios Preto e mento humano e para as Paraibuna abrange 30 muatividades produtivas. “Foram criadas linhas de finan- nicípios da Zona da Mata Mineira e, ciamento dentro do Fundo de Recu- em alguns deles, o racionamento é peração, Proteção e Desenvolvimento uma realidade. “Juiz de Fora tem pasSustentável das Bacias Hidrográficas sado por rodízio no abastecimento. de Minas Gerais (Fhidro), a fim de se- A cada dia determinadas regiões da lecionar projetos, programas e ações cidade e bairros ficam sem receber que contemplem no mínimo uma das água. Há casos também de municí- 10% 26 Evandro Rodney POLUIÇÃO coloca em risco paraísos como o Ibitipoca pios de menor porte que, no final do ano passado e início deste ano, necessitaram de abastecimento via carros-pipa”, explica Matheus Machado Cremonese, presidente do comitê. Apesar disso, a situação da bacia não é extremamente precária se comparada a outras regiões do estado e mesmo com o Sudeste do Brasil. “Porém uma vez que os regimes de chuvas, perceptivelmente, estão fora dos padrões esperados e também registrados em séries históricas, devemos ficar atentos e buscar utilizar a água de modo bastante racional e econômico”, ressalta Matheus. Para evitar um agravamento da crise, o comitê está seguindo as orientações do Igam, além de buscar informações junto aos municípios sobre a real situação para que medidas paliativas sejam tomadas. “Levaremos bastante tempo para que os mananciais e demais cursos d’água retornem aos níveis satisfatórios, portanto será necessária toda uma readequação do consumo final e, inclusive, de alguns sistemas de captação. Campanhas educativas também vêm sendo utilizadas e são parte do processo que contribui para um menor desperdício de água”, finaliza Matheus. VIVER Agosto - 2015 Tião Mourão VIVE R M I NAS ZONA DA MATA PREMIAÇÃO Beleza bem mineira A ADVOGADA STÉFHANIE ZANELLI, DE UBÁ, É A MISS MINAS GERAIS 2015 ANA ELIZABETH DINIZ A advogada Stéfhanie Zanelli, 25, nascida em Ubá, foi eleita Miss Minas Gerais em uma disputa com outras 20 candidatas. A morena de sorriso largo e 1,75 m já trocou a rotina de sua cidade por uma maratona de compromissos e preparativos em Belo Horizonte, onde permanece até o concurso Miss Brasil. “Já estou pensando em me mudar para Belo Horizonte, pois não é fácil cumprir a agenda de Miss Minas Gerais morando em Ubá”, diz. Formada pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac) de Ubá, Stéfhanie conta que vem de uma família de advogados, pai, mãe e tios. “Sempre trabalhei na área do direito. O Miss Minas Gerais é a primeira experiência que tenho trabalhando com imagem. Após o período de reinado, pretendo voltar a atuar como advogada”, afirma. A miss se diz extrovertida. “Adoro sair, mas também curto ficar em casa com minha família, minha avó maVIVER Agosto - 2015 terna Lande, meus pais, Marcelo e Simoni, meus irmãos Fernando e Marcelo, e meus cachorrinhos Kauã e Zigg.” Atualmente solteira, Stéfhanie Zanelli sonha em se casar e ter uma família bem grande. “Por enquanto meu foco é a preparação para o Miss Brasil, já o futuro a Deus pertence. Sou católica e acredito de todo o coração em Deus e no poder dele sobre nossas vidas”, comenta. A bela mineira se diz comprometida com as causas dos indefesos: crianças, idosos, portadores de necessidades especiais e animais. Sonha com um futuro melhor para os brasileiros. “Acredito que nós trabalhamos muito e não merecemos o que tem acontecido no nosso país. O Brasil é um país com grande potencial, mas que acaba não se destacando por conta de más administrações. Como brasileira, desejo para cada cidadão um Brasil mais honesto, igualitário e, principalmente, mais seguro”, espera. 27 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA ECOTURISMO O céu é o limite A EXUBERÂNCIA DO PARQUE ESTADUAL SERRA DO BRIGADEIRO E A SUA RICA BIODIVERSIDADE ANA ELIZABETH DINIZ A densa neblina, um capricho da natureza, encobre quase o ano todo o Parque Estadual Serra do Brigadeiro, aumentando a sensação de que o céu é o limite. As nuvens pairam no cume das montanhas, criando uma aura mágica. No inverno a temperatura pode chegar a 2 graus negativos. Difícil descrever todos seus encantos sem fazer injustiça. A alta umidade do ar favorece o florescimento de orquí- 28 deas, samambaias, liquens e bromélias que colorem o caminho e inebriam os olhos dos viajantes. Os sauás fazem algazarra encobertos pela densa mata atlântica. Alegria incontida. Mas esse paraíso esteve ameaçado. No início do século 20, a serra do Brigadeiro começou a ser desmatada para dar lugar a lavouras de café e pastagens. Na década de 1950, esse processo ficou acentuado com a chegada da Belgo Mineira, que usava madeira das árvores para os fornos de sua siderúrgica. Alguns moradores deixaram suas roças e passaram a trabalhar derrubando árvores e produzindo carvão. Atualmente, a região é marcada pela agricultura familiar em pequenas propriedades. Muitos dos funcionários do parque são moradores da região e alguns vivenciaram o processo de regulamentação da unidade. VIVER Agosto - 2015 O parque foi criado em 1996 em conjunto com a comunidade, na época, cerca de 800 famílias, e foi aberto para visitação pública em 2005. “A criação e definição dos seus limites remonta à década de 1980. Foi fundamental a participação dos moradores do entorno para garantir a conservação do ecossistema, bem como a preservação sociocultural. Essa relação de parceria prevalece até hoje. Isso permitiu uma mudança de cultura no que se refere ao manejo do solo. Alguns agricultores experimentaram o sistema agroflorestal e hoje colhem os resultados, nas propriedades agroecológicas, o que garante qualidade de vida, empoderamento das famílias e maior proteção da microfauna, dos insetos e toda biodiversidade”, diz José Roberto Mendes de Oliveira, técnico ambiental e gerente do parque, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas. Ele conta que a interação com a comunidade se dá por meio de atividades de extensão nas áreas de educação ambiental, pesquisas científicas, manejo e proteção. “Fazemos isso por meio de intercâmbios e reuniões promovidos diariamente.” São inúmeras as trilhas que o visitante pode percorrer a fim de conhecer a exuberância do parque que tem quase 15 mil ha e extensão de 176 quilômetros. Ele se forma por meio de duas bacias hidrográficas, Rio Doce e Paraíba do Sul, e por 8 municípios (Araponga, Fervedouro, Miradouro, Ervália, Sericita, Pedra Bonita, Muriaé e Divino), além de seus 12 picos e vales. Aí imperam 2 biomas ameaçados de desaparecer: a mata atlântica e os campos de altitude. Verdadeiro paraíso botânico, a serra abriga um ecossistema rico em espécies vegetais como cedro, candeia, embaúba, canjerana, jequitibá, murici, peroba e palmito doce. A unidade de conservação é refúgio de espécies da fauna ameaçadas de extinVIVER Agosto - 2015 Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 PARQUE SERRA do Brigadeiro: 15 mil ha ção, como o sauá, a onça-pintada, a jaguatirica, o sapo-boi. Também podem ser observadas diversas espécies de aves, como o pavó, o papagaio-do-peito-roxo e a araponga. Desníveis naturais do relevo, com uma sucessão de terrenos montanhosos formando vales, morros e pontes naturais, são cenário ideal para a prática dos esportes de aventura como o trekking, caving e rappel. Berço dos afluentes da bacia dos rios Preto e Doce, o percurso dos riachos e córregos vai desvelando curvas estratégicas e muitas surpresas para a prática de rafting e boia-cross, atraindo esportistas de todo o Brasil. Dentro do parque há muito que se fazer e ver. O ponto mais alto é o pico do Soares (1.985 m de altitude), de onde se pode avistar todo o vale do Brigadeiro. Vale uma caminhada até o pico do Boné (1.870 m), que leva esse nome por causa da sua aparência. Lá de cima, tem-se uma magnífica vista panorâmica de 360 graus. No trajeto você passará por uma pequena corredeira sobre uma pinguela natural. Que tal se esticar no lajeado do Ouro, um afloramento de rochas graníticas, de água translúcida? A laje está a 1.500 m e o clima lá é bem ameno, em torno de 20 graus. Se preferir aventura, o local ideal é Cachoeirinha, uma corredeira de aproximadamente 20 m de desnível, localizada bem próxima à Fazenda do Brigadeiro e à trilha. Depois da última queda, há um poço perfeito para banhos, com o fundo formado por uma rocha lisa. O cenário é deslumbrante e os blocos de pedra contrastam com o verde da mata ciliar. Para os mais ousados, o vale das Piscinas, a 25 quilômetros da sede. É um regato que escorre entre as rochas, formando piscinas naturais com profundidades que variam de 1 a 1,5 m. Os encantos do parque se revelam a todo instante. Existem inúmeras espécies de bromélias, típicas da mata atlântica. Algumas são habitadas por pererecas que as utilizam como território. A biodiversidade é desconcertante. Para se ter uma ideia, em toda a Grã-Bretanha existem cerca de 50 espécies de árvores em área de 230 mil quilômetros quadrados. Na mata atlântica existem cerca de 450 espécies em 0,01 quilômetro quadrado. Na curva de uma trilha, em corrida acelerada ou pendurado em árvore, a qualquer momento o turista pode se deparar com veado mateiro, cachorro-do-mato, caxinguelê, preguiça-de-três-dedos ou 29 E COT U R I S M O SALA DO PARQUE, a pousada Serra D’ Água e a ermida Antônio Martins, construída em 1908 macaco-prego, animais ameaçados de extinção que encontram abrigo nas matas. Os pesquisadores identificaram, em área de distante acesso ao público, 2 grupos independentes de muriquis, também conhecidos por monos-carvoeiros, animais que ganharam esse nome porque suas patas e face, manchadas de negro, parecem sujas de carvão. Eles são os maiores primatas das Américas. No parque foram identificados 11 grupos, alguns com até 80 indivíduos. Eles preferem as árvores altas onde ficam protegidos dos predadores. Agora, se você tem fé, dê uma paradinha na ermida Antônio Martins, construída em 1908. No altar, sempre tem velas acesas com pedidos de toda sorte de gente que o considera quase um santo. Reza a lenda que ele era caixeiro por profissão e viajava com sua pequena tropa de burros, comercializando mercadorias pela região. Em frequentes visitas à casa do fazendeiro Manoel Bittencourt Godinho, conhecido como Sô Neco, ele enamorou-se de sua filha Manuela e a engravidou. Como era casado, fugiu com a moça. O fazendeiro pediu que uns jagunços seguissem a trilha, trouxessem sua filha de volta e matassem o safado. Antônio Martins foi barbaramente torturado antes de morrer. Ele foi morto no caminho da estrada de Araponga para Fervedouro, próximo ao pico do Grama. Familiares e amigos buscaram seu corpo e o enterraram no cemitério de Araponga. 30 Nos anos seguintes, começaram a surgir notícias de pessoas doentes que tinham sido curadas após fazerem orações para a alma de Antônio Martins. A ermida foi construída no local de sua morte. Na região tornou-se tradição fazer uma caminhada até lá para prestar homenagem à sua memória. Toda Sexta-Feira da Paixão e no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, há romarias até a ermida. É comum você conversar com algum nativo e ele se despedir assim: “Vai com Deus e que a alma de Antônio Martins te proteja”. A religiosidade faz parte da rotina da unidade de conservação. Peregrinos da comunidade de Careço, do município de Ervália, sobem o pico do Cruzeiro, nos dias 2 e 3 de maio para enfeitar a cruz, em agradecimento à colheita. No dia em que se comemora Corpus Christi, na comunidade de Dom Viçoso, que fica dentro do parque, acontece uma romaria até a Pedra do Cruzeiro. A comunidade de Alegre, em Miradouro, celebra o dia da Cruz no alto do Pico do Alegre. A infraestrutura do parque foi planejada em parceria com o Programa de Proteção da Mata Atlântica de Minas Gerais (Promata-MG), com recursos da Cooperação Financeira Internacional Brasil-Alemanha. Foram gastos 1,25 milhão de reais na construção do centro de pesquisa com laboratórios e alojamento, posto de polícia ambiental, centro de visitantes, residências institucionais, sede administrativa e reforma da antiga sede da fazenda Neblina. E agora, um pouco de história. Antes da chegada dos colonos portugueses, a região da serra do Brigadeiro foi habitada pelos índios puris, nômades, que viviam da colheita de frutos e raízes, da caça e pesca. Os primeiros portugueses que chega- CACHOEIRA e casa de hóspedes (ao lado): sossego dentro do parque VIVER Agosto - 2015 POUSADA REFÚGIO dos Galdinos e os proprietários Adão Ângelo da Silva e Maria Sebastiana: parceria com a comunidade ram à região chamaram esses índios de arrepiados, por causa da maneira como prendiam seus cabelos. Por muito tempo, a região foi chamada de serra dos Arrepiados. Há ainda muitos descendentes dos índios puris, como Adão Ângelo da Silva, 62, e Maria Sebastiana da Silva, 58, proprietários do Refúgio dos Galdinos, que fica em Área de Proteção Ambiental (APA), no entorno do parque Serra do Brigadeiro. O casal trabalhava na agricultura familiar com leite, café e cereais. “Um certo dia, o pessoal do Centro de Pesquisa Cultural de Araponga veio visitar minha propriedade e perguntou se eu e Maria não queríamos nos preparar para receber turistas. Pensei bastante e achei a ideia boa. Fizemos cursos no Senar-MG, outros de educação ambiental em Pedra Redonda, e sobre como servir bem os turistas, oferecido pela Escola Agrícola dos Pu- ris, em Araponga”, relembra Adão. Desde 2010, o Refúgio dos Galdinos faz parte do projeto Boas Práticas de Turismo de Base Comunitária na Serra do Brigadeiro, criado para diversificar a renda e melhorar a qualidade de vida das famílias que lá residem. Eles se tornaram produtores do turismo comunitário, abrindo sua casa para pessoas de todas as partes que podem passar o dia com a família ou mesmo se hospedar, usufruindo da hospitalidade dos Galdinos e saboreando pratos preparados pela família no fogão a lenha. “Começamos oferecendo 2 quartos da casa e transformamos o antigo paiol em mais 2. Hoje são 6 quartos. Construímos um refeitório no meio do nosso quintal, com árvores e a horta. Dos meus 4 filhos, 3 trabalham no negócio”, diz Adão, enquanto sua mulher preparava o almoço. O visitante ou hóspede pode reFotos: Pedro Vilela/Agência i7 laxar em três cachoeiras que ficam na propriedade dos Galdinos: Três Quedas, Poço Redondo, Queda da Andorinhas ou fazer rapel. A diária do camping é de 15 reais por pessoa, mais 8 reais pelo café da manhã. A diária na suíte é de 50 reais por pessoa, com café da manhã, e no quarto, 40 reais por pessoa, com café. A refeição custa 16 reais. A família recebe, com frequência, gente de vários países. Após 5 anos trabalhando com o turismo comunitário, Adão comemora e diz que não se arrepende. “O trabalho é bom e o retorno é rápido. O café demora 1 ano para produzir, o bezerro leva de 3 a 4 anos até o abate, o preço do leite no mercado não está bom e nem o do café. Com o turismo é melhor, o lucro vem mais rápido do que pelejar com a agricultura.” Adão diz que esse tipo de negócio envolve comprometimento e parceria da comunidade. “Aqui na minha propriedade, toda a família trabalha para que os visitantes se sintam em casa. Produzimos madeira de eucalipto, nossa horta é sem agrotóxico. Da cana fazemos garapa, do leite e da banana, doces. Cada um tem uma função. Acordamos às 4 horas e terminamos às 22. Os vizinhos são nossos parceiros. Deles compramos ovo, galinha, carne de porco e de boi, leite, feijão, fubá”. SERVIÇO: Para agendar sua visita ao parque ligue para (32) 3721-7491 ou pelo e-mail pebrigadeiro@meioambiente. mg.gov.br. Conhecer o Refúgio dos Galdinos ligue para (32) 8405-6258 e (32) 8403-7658 VIVER Agosto - 2015 31 Em imagens Pedro Vilela/Agência i7 32 VIVER Agosto - 2015 VIVER Agosto - 2015 33 VIVE R M I NAS ZONA DA MATA CULINÁRIA Comida de roça Fotos: Pedro Vilela/Agência i7 FRANGO COZIDO COM PALMITO DE BREJAÚBA ATRAI TURISTAS À USINA DA FUMAÇA ANA ELIZABETH DINIZ O trajeto até a casa de Adaecy Xavier Vieira, 61, cozinheira, é de terra e exige atenção. Para não se perder vá perguntando onde fica a casa da tia Daia. Todos a conhecem no vilarejo conhecido como Usina da Fumaça. É aí que ela nasceu, cresceu, criou os filhos e estabeleceu seu negócio, que não chega a ser um restaurante. É na sua casa que ela recebe pessoas 34 RECEITA de todas as partes que vão degustar seu cardápio caseiro. O palmito de brejaúba, que confere gosto único ao prato, é colhido ali mesmo, no quintal da sua casa. “É só chover que ele brota e dá o ano inteiro.” O frango usado na receita é caipira e o tempero bem caseiro. CONTATO: (32) 8441-3803 e (32) 3725-0018. FRANGO COM PALMITO DE BREJAÚBA INGREDIENTES z 1 frango de 1,7 kg z 1,7 kg de palmito brejaúba z Cheiro verde a gosto z 1 cebola z 2 dentes de alho z 1 colher (sopa) de sal z Pimenta malagueta a gosto MODO DE FAZER Fritar o frango temperado apenas com sal em óleo quente até dourar. Acrescente o alho e a cebola, doure mais um pouco e retire o excesso de óleo. Acrescente água fervente e o palmito. Cozinhar por 20 a 30 minutos. Enfeitar o prato com cebola e cheiro verde VIVER Agosto - 2015 ANUNCIE NA REVISTA QUE ENTRA NA CASA DE TODOS! A Revista Viver Casa traz para você dicas sempre atuais de decoração, móveis, estilo, arquitetura e mercado imobiliário, além de colunas e seções exclusivas com produtos e personalidades. LEIA E APROVEITE A VIVER CASA! A SUA CASA AGRADECE. revistavivercasa revistavivercasa.com.br (31) 3503 8888 VB Comunicação Um grupo editorial completo. 0UV]HsqVJYLKPIPSPKHKLLJVU[LKVKP]LYZPÄJHKV para todos os gostos. 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