POLO Ervália se destaca na moda praia e coloca
no mercado 2,5 milhões de peças por ano
ECONOMIA Fábrica de Ponte Nova
produz 2 milhões de hóstias por dia
MINAS
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Zona
da Mata
Empresários reivindicam reforma
tributária para enfrentar a guerra
fiscal contra Rio e Espírito Santo
FIEMG.COM.BR
Editorial
PERSISTÊNCIA E EMPREENDEDORISMO
A Zona da Mata ocupa 6% do território mineiro, conta com 142 municípios, e tem população de mais de 2,2 milhões de habitantes. No
entanto, como diz o presidente da Federação
das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Francisco Campolina, “é preciso gritar para que o
governo nos ouça”. A região clama, há anos, pela
reforma tributária a fim de que novas indústrias
possam aportar na região que tem carga tributária de 18%, enquanto que no município vizinho,
o Rio de Janeiro, ela é de 2%. No Espírito Santo
é 1%. Lá no fim do túnel surge uma luz, ainda
incipiente, mas que pode ser a redenção da região. O governador Fernando Pimentel assinou,
no dia 10 de julho, decreto que institui grupo de
trabalho para estudar propostas de concessão
de benefícios tributários e econômicos para 142
municípios da Zona da Mata. Árduo caminho
pela frente.
Em Ponte Nova, fomos conhecer de perto a
Fábrica de Hóstias Nossa Senhora de Fátima,
criada em 1995 pelo ex-seminarista e engenheiro civil Ary Brum Júnior. A empresa produz 2
milhões de unidades por dia e vende para todo
o Brasil. A cidade ainda reserva outra surpresa,
como a mais antiga goiabada, Zélia, receita familiar de quase 100 anos. Em Patrocínio do Muriaé
e São Francisco do Glória ouvimos histórias de
empreendedorismo e dedicação de piscicultores.
A região produz 70% de peixes ornamentais do
país, cerca de 9 milhões de unidades por ano. Ervália abriga 15 confecções de roupas de praia que
produzem 2,5 milhões de peças por ano. Essas
empresas estão em busca do polo de beachwear.
Duas boas práticas com o café, uma em Araponga, onde o cultivo orgânico vem ganhando força,
e a outra em Espera Feliz, onde a produção familiar conquista mercado internacional.
A crise hídrica que também assola a região
revela uma degradação sem limites orquestrada pelas ações do homem. Na contramão, o
Parque Estadual Serra do Brigadeiro dá o bom
exemplo preservando 15 ha de rica biodiversidade, beleza e magia. E por falar em beleza,
conversamos com a advogada Stéfhanie Zanelli, de Ubá, a Miss Minas Gerais 2015. E não
podíamos deixar de provar o frango caipira com
palmito de embaúba feito com capricho por
Adaecy Xavier Vieira, lá no vilarejo conhecido
como Usina da Fumaça.
Ana Elizabeth Diniz, repórter
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4
VIVER Agosto - 2015
Pedro Vilela/Agência i7
Fotos da capa:
Pedro Vilela/Agência i7
Sumário
6 Entrevista
28 Ecoturismo
8 Negócios
Frango cozido com palmito de
brejaúba atrai turistas
Francisco Campolina, da Fiemg:
“Estamos gritando para que o
governo nos ouça”
A exuberância do Parque
Estadual Serra do Brigadeiro
34 Culinária
Ervália produz 2,5 milhões de
peças de moda praia por ano
15 Cafeicultura
Café de Espera Feliz conquista
mercado internacional
16 Economia
Empresa de Ponte Nova produz
40% das hóstias usadas no país
18 Piscicultura
Criação de peixe ornamental é
alternativa de renda
21 Empreendedorismo
Receita de família é segredo do
sucesso da Goiabada Zélia
22 Laticínios
Feira aproxima comunidade
científica e indústria
24 Crise hídrica
Rios e bacias da região sofrem
com ação do homem
10 Ali e Acolá
Ana Elizabeth Diniz
= COLUNAS
14 Agricultura
Cultivo de café orgânico cresce
em Pedra Redonda
13 Tenho Dito
O melhor e o pior da minha
cidade
32 Em imagens
A região pelas lentes de
Pedro Vilela
27 Premiação
Advogada de Ubá é eleita Miss
Minas Gerais
A região
Acaiaca
Além Paraíba
Alfredo Vasconcelos
Alto Rio Doce
Alvinópolis
Amparo do Serra
Antônio Carlos
Antônio Prado de Minas
Aracitaba
Araponga
Argirita
Astolfo Dutra
Barão de Monte Alto
Barbacena
Barra Longa
Barroso
Belmiro Braga
Bias Fortes
Bicas
Bom Jardim de Minas
Caiana
Cajuri
Canaã
Capela Nova
Caranaíba
Carandaí
Carangola
Cataguases
Chácara
Chiador
Cipotânea
Coimbra
Conceição da Barra de Minas
Coronel Pacheco
VIVER Agosto - 2015
Coronel Xavier Chaves
Descoberto
Desterro do Melo
Diogo de Vasconcelos
Divinésia
Divino
Dom Silvério
Dona Euzébia
Dores de Campos
Dores do Turvo
Ervália
Espera Feliz
Estrela Dalva
Eugenópolis
Ewbank da Câmara
Faria Lemos
Fervedouro
Goianá
Guaraciaba
Guarani
Guarará
Guidoval
Guiricema
Ibertioga
Itamarati de Minas
Jequeri
Juiz de Fora
Lagoa Dourada
Laranjal
Leopoldina
Lima Duarte
Madre de Deus de Minas
Mar de Espanha
Maripá de Minas
Matias Barbosa
Mercês
Miradouro
Miraí
Muriaé
Nazareno
Olaria
Oliveira Fortes
Oratórios
Orizânia
Paiva
Palma
Patrocínio do Muriaé
Paula Cândido
Pedra do Anta
Pedra Dourada
Pedro Teixeira
Pequeri
Piau
Piedade de Ponte Nova
Piedade do Rio Grande
Pirapetinga
Piraúba
Ponte Nova
Porto Firme
Prados
Recreio
Resende Costa
Ressaquinha
Rio Doce
Rio Novo
Rio Pomba
Rio Preto
Ritápolis
Rochedo de Minas
Rodeiro
Rosário da Limeira
Santa Bárbara do Monte
Verde
Santa Bárbara do Tugúrio
Santa Cruz de Minas
Santa Cruz do Escalvado
Santa Rita de Jacutinga
Santa Rita do Ibitipoca
Santana de Cataguases
Santana do Deserto
Santana do Garambéu
Santo Antônio do Aventureiro
Santo Antônio do Grama
Santos Dumont
São Francisco do Glória
São Geraldo
São João del Rei
São João Nepomuceno
São Miguel do Anta
São Sebastião da Vargem
Alegre
Sem-Peixe
Senador Cortes
Senador Firmino
Senhora dos Remédios
Sericita
Silveirânia
Simão Pereira
Tabuleiro
Teixeiras
Tiradentes
Tocantins
Tombos
Ubá
Urucânia
Viçosa
Vieiras
Visconde do Rio Branco
Volta Grande
5
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
ENTREVISTA
SOS
Zona da Mata
A LUTA DA REGIÃO, QUE FOI O BERÇO DA INDUSTRIALIZAÇÃO
EM MINAS GERAIS, PARA SOBREVIVER ECONOMICAMENTE
ANA ELIZABETH DINIZ
A
Zona da Mata ocupa 6% do território mineiro, conta com 142
municípios, e tem população
de mais de 2,2 milhões de habitantes.
No entanto, como diz Francisco Campolina, presidente da Fiemg – Regional Zona da Mata, “estamos gritando
para que o governo nos ouça”. Desde
2005 como dirigente da entidade, ele
defende a reforma tributária a fim de
que novas indústrias possam aportar
na região que tem carga tributária de
18%, enquanto que no município vizinho, o Rio de Janeiro, ela é de 2%.
O governador Fernando Pimentel assinou, no dia 10 de julho, decreto que
institui grupo de trabalho para estudar propostas de concessão de benefícios tributários e econômicos para
142 municípios da Zona da Mata.
Como o senhor avalia essa iniciativa?
O decreto é positivo e vem atender
uma reivindicação antiga, desde 2005.
Esse grupo de trabalho, do qual faço
parte como representante da Fiemg e
da classe produtiva da região, terá 90
dias para definir a reforma tributária.
Em 2009, o governo lançou um decreto de regime especial de tributação
que, na verdade, foi algo que não resolve totalmente o problema. O decreto condiciona um produto a ser fabricado e não a produção total da fábrica.
A nossa realidade é que em Minas Gerais o ICMS é de 18%, enquanto no Rio
6
de Janeiro é de 2%. No Espírito Santo
é 1%. Com isso, estamos perdendo
empresas para os estados vizinhos.
Desde 2005, a região conseguiu atrair
4 indústrias, sendo que uma retornou
para o Rio de Janeiro. Enquanto isso, a
cidade de Três Rios, no Rio, a 60 quilômetros de Juiz de Fora, contabilizou
196 indústrias.
Pode-se dizer que
essa conquista é fruto da atuação da
Frente Parlamentar
criada para defender o desenvolvimento econômico
da região?
Estamos gritando para que o
governo nos
ouça. A Frente Parlamentar conta com
deputados estaduais e federais da região
que estão se
fazendo ouvir.
No Encontro
Regional para
o Desenvolvimento da Zona da Mata
Mineira, evento
promovido
pela
Joice Castilho/Fiemg
Fiemg, estiveram presentes, além
dos deputados, mais de 50 prefeitos e
inúmeros representantes da Zona da
Mata e suas associações. O governo
estadual teve conhecimento da nossa
situação e parece que vai adotar uma
nova postura, o que é bom, porque ou
a gente encara a guerra fiscal junto ao
Rio de Janeiro e Espírito Santo ou vamos fechar as portas e mudar de atividade. Isso seria lamentável, uma vez
que Juiz de Fora foi a terceira cidade a
ser industrializada, depois do Rio de
Janeiro e Salvador. A primeira usina
hidrelétrica surgiu em Juiz de Fora e
depois veio a de Cataguases, que é
a segunda maior geradora do nosso
estado, só perdendo para a Cemig. A
região foi o berço da industrialização,
tudo começou aqui. Precisamos, com
urgência, de investimentos em infraestrutura, logística e encarar a guerra
fiscal para evitarmos a desestabilização social que acarreta desemprego e
menos recursos para estados e municípios. O que estamos plantando hoje
será colhido daqui a 20 anos, são iniciativas para garantir que nossos netos
tenham onde trabalhar.
Como está o processo da estrada que
dá acesso ao Aeroporto Regional
Itamar Franco, no município de Goianá?
Essa é outra luta antiga, a construção do
contorno de Goianá, que viabilizará
a transferência dos
fluxos dos veículos
para fora do perímetro urbano, um
trecho de 14 quilômetros. O governo
de Minas, por meio
da Secretaria de
Transportes e Obras
Públicas, autorizou
a emissão de ordens
de serviços para a
retomada imedia-
ta de obras prioritárias entre elas a de
Goianá, que já havia sido começada,
mas, por falta de pagamento, foi interrompida em setembro do ano passado. A empresa que ganhou a licitação
executou apenas obras de terraplanagem em um determinado trecho.
O que se vê lá é terra solta, árvores e
mato crescendo. No Fórum Regional
da Zona da Mata, no dia 17 de julho,
em Juiz de Fora, o governador Fernando Pimentel assinou ordem de despacho que prioriza a retomada das obras.
O estudo Perspectivas de Desenvolvimento para a Zona da Mata Mineira,
projeto de desenvolvimento socioeconômico e industrial elaborado pela
Fiemg, propõe a criação de um novo
distrito industrial em Juiz de Fora?
Sim. O último investimento no setor
industrial por parte do estado foi em
1982, quando a Mercedes-Benz veio
para Juiz de Fora. Nossas áreas industriais estão 100% ocupadas e não
dispomos de outro local para atrair
empresas. Para isso, teríamos que desapropriar áreas. Temos mais de 10
milhões de hectares disponíveis, mas
um distrito industrial requer boas estradas para suportar cargas pesadas,
infraestrutura, energia e gás. Para isso,
estamos pleiteando que o governo
invista em nossa região. Mas precisamos trabalhar nas questões de acessibilidade, desapropriar áreas, executar terraplanagem e disponibilizar
transmissão de energia. Temos muitos empresários querendo vir para cá,
mas para isso precisamos da reforma
tributária, uma área com boa infraestrutura e logística. Sem esse tripé não
há desenvolvimento industrial.
A alternativa para o remanejamento
do trânsito de caminhões na região
urbana de Juiz de Fora é a implantação do minianel viário de ligação
entre as rodovias BR–267 e BR–040.
Como está esse processo?
Ele terá 11 quilômetros e foi projeta-
do para aliviar o fluxo de carretas do
atual trecho da BR–267, no perímetro
urbano, para um contorno rodoviário
que eliminará as interferências com
o trânsito de veículos locais, cujos reflexos atuais são congestionamentos,
acidentes e deterioração das ruas e
avenidas, que não suportam a densidade de veículos pesados. A estimativa é remanejar 15 mil veículos que
usam a cidade como passagem. A
construção do minianel resultaria em
ganhos de produtividade, segurança e
redução dos custos de transporte para
os veículos em passagem pela cidade. Estamos falando em obra de 400
milhões de reais. O que vale isso para
o estado que tem 71 bilhões de orçamento? O custo dessa obra será a metade do valor gasto com a reforma do
Mineirão, realizada em 6 meses. Enquanto estamos parados, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando
Pezão, está trabalhando e expandiu o
ICMS de 2% para mais da metade das
cidades da Região dos Lagos e para o
norte do estado, além de criar mais 5
distritos industriais com 2% de ICMS.
Ele é um governador audacioso e
mostra para a população que não está
atrelado apenas ao setor do petróleo,
quer atrair indústrias de todo tipo.
Desde a época do Império tiramos
ouro e café. Hoje tiramos ouro, café e
cana-de-açúcar. Depois de 300 anos
continuamos vivendo do extrativismo
mineral e do solo.
O teatro Paschoal Carlos Magno vai
sair do papel, finalmente?
Um convênio de cooperação técnica e financeira entre a Codemig e a
prefeitura de Juiz de Fora, no valor
de 6 milhões de reais, assinado em
2014, foi revalidado recentemente.
A obra havia sido iniciada há 35 anos
e agora será realizada. Esse foi mais
um pleito da indústria, que contou
com a anuência da Codemig, o que
dá mais credibilidade ainda à gestão
atual da companhia.
7
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
NEGÓCIOS
Em busca do polo de
UAI BRASIL:
roupas para
artistas de novela
beachwear
ERVÁLIA ABRIGA 15 CONFECÇÕES DE ROUPAS
QUE PRODUZEM 2,5 MILHÕES DE PEÇAS POR ANO
ANA ELIZABETH DINIZ
E
mbora esteja longe do litoral, a
cidade de Ervália, com 19 mil habitantes, vem se destacando pela
produção de moda praia, negócio que
atrai novas empresas. Atualmente, 15
confecções produzem 2,5 milhões de
peças por ano, gerando cerca de 500
empregos diretos e faturamento de
37,5 milhões em 2014, segundo a Câmera de Dirigentes Logistas da cidade. As confecções representam 67%
da economia local, mesmo com o histórico de agronegócio do município.
Segundo Marcus Vinícius Mol
Silva, analista técnico do Sebrae da
8
microrregião de Viçosa, as fábricas
vendem para todo Brasil, sendo os
principais compradores o Espírito
Santo, Rio de Janeiro e o Nordeste. “Somente em 2013, impulsionadas pelo setor de confecção, foram
abertas 104 fábricas na cidade, mas
o maior destaque é para moda praia,
que abrange a criação e produção de
biquínis, maiôs, sungas e shorts de
banho, e, cada vez mais, amplia sua
presença no mercado nacional.”
Negócio que vai de encontro aos
números revelados pela Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit), que indicou curva
de crescimento do segmento no país
em 13,2% e do valor de produção em
117,7%, entre os anos de 2002 e 2009.
Esse cenário é reflexo da produção
anual, que soma 274 milhões de peças
por 2,3 mil empresas especializadas.
A participação do Sebrae junto às
empresas teve início este ano. “Algumas empresas buscavam assessoria
e o aperfeiçoamento do seu processo
produtivo e nos procuraram. Resolvemos investir nessa região. Nossa meta
é criar um polo de moda praia em Ervália. Nosso primeiro desafio tem sido
VIVER Agosto - 2015
quebrar a resistência de algumas empresas que ainda têm um perfil individualista. Nesse tipo de negócio é preciso um espírito de grupo. Vamos criar
uma governança, melhorar o design,
avaliar as tendências de mercado, visitar outras regiões, como o Rio de Janeiro, para absorvermos referências
positivas”, diz Marcus.
O analista antecipa que o Sebrae
já tem reunião agendada com a prefeitura de Ervália. “As confecções vão
disponibilizar as máquinas e a prefeitura vai ceder espaço e contratar o
profissional para capacitar as pessoas.
Isso vai permitir que a população adquira conhecimento específico para
um mercado em crescimento. Quem
estiver bem treinado tem mais chances de se sair bem.”
Uma jovem empresa que vem se
destacando em Ervália pelo empreendedorismo é a Acqua Minas, dos amigos Ronnie Anderson Franklin Alves,
31, e Bruno Eduardo da Silva Izair, 30.
Tudo começou em 2011, quando Ronnie, mecânico de máquinas de costura, abriu uma loja que vendia e dava
assistência técnica. Passou a conhecer
o mercado e chamou Bruno, amigo de
infância e representante comercial de
duas fábricas locais.
“Vi que o mercado era bom e incentivei o Bruno a entrar de sócio comigo. Tínhamos 30 mil reais e fizemos
empréstimo de 150 mil reais junto ao
BNDES. Começamos em uma garagem, de 100 metros quadrados, com
13 funcionários. Logo no primeiro
ano, nossas expectativas foram superadas. A estimativa eram 2.500 peças e
produzimos 15 mil. Achávamos que o
faturamento anual seria de 40 mil reais, foi de 300 mil reais”, conta Ronnie.
Em apenas 4 anos de empresa, os
jovens empresários passaram a ocupar espaço de 700 metros quadrados.
Hoje, são 55 funcionários e a produção é de 120 mil peças por ano, que comercializam com o Sudeste, Paraná e
Santa Catarina. A Acqua Minas produz
VIVER Agosto - 2015
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
BRUNO IZAIR
e Ronnie Alves:
120 mil peças por ano
NÚMEROS
z 264 milhões de peças é
a produção anual de moda praia
no Brasil
z 2 bilhões de dólares
por ano é o que o mercado
movimenta no país
z 12 bilhões de dólares é a
estimativa mundial
z 10,4 milhões de dólares
foi o volume que as confecções
brasileiras exportaram no
ano passado
z Estados Unidos (2,9 milhões de
dólares), Portugal (2,1 milhões de
dólares) e Itália (903,8 mil dólares)
foram os maiores compradores
z 2,3 mil confecções brasileiras
produzem moda praia
Fontes: Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e Global
Market Review of Swimwear and Beachwear.
biquíni, maiô, sunga, saída de praia,
moda para bebês, infantil, juvenil e
adulto, masculino e feminino e ainda
o tamanho plus size. “Nos primeiros
3 anos de atuação ficamos nivelados
com as outras fábricas, algumas bem
mais antigas. Estamos crescendo rapidamente, fruto de um planejamento arrojado. Nossa coleção 2016 já foi
lançada e estamos buscando referências para a próxima”, diz Ronnie.
O sócio Bruno, que no início era o
único vendedor, coordena hoje equipe de 17 representantes comerciais. A
empresa recebeu em 2014 o prêmio
Mérito Empresarial da Federaminas.
“A criação do polo de moda praia ainda está no começo, mas penso que
esse será um passo significativo, pois
temos qualidade e preço acessível.”
A marca Uai Brasil, dos empresários Jean Oliveira e Marina Salgado,
existe desde 2000, mas a fábrica teve
início em 2005. Fabrica biquíni, sunga, maiô, saída de praia, linha infantil
e adulto, que comercializa com todo
o Brasil. “Nossas peças já vestiram
artistas das novelas Malhação e Além
do Horizonte. Nosso foco é oferecer
ao mercado um produto de qualidade
e, para isso, investimos em máquina
de corte, de tecnologia brasileira, que
confere precisão de 100%. Além disso,
temos um rigoroso controle de qualidade”, diz Jean.
A fábrica trabalha com a Sayoart
e a Rosset, que estão entre os melhores fornecedores de matéria-prima
do mercado. Jean comenta que, nos
últimos 3 anos, surgiram 7 novas fábricas de moda praia na cidade, o que
aumentou a demanda por mão de
obra especializada. “Em um primeiro momento houve escassez de mão
de obra, mas que logo foi sanada. O
mercado está aberto para quem quer
trabalhar. Essa moda é sazonal, mas
apesar disso, ainda não senti os efeitos
da crise. Estou otimista, porém cauteloso, nada de grandes extravagâncias”, afirma.
9
ALI E ACOLÁ
POR ANA
ELIZABETH DINIZ
Rolezinho rural
No meio de uma tarde nublada, o
curral de uma fazenda no povoado
de Bom Jesus do Madeira, distrito
de Fervedouro, se tornou palco de
prestigiado evento rural: a pista de
10
laço. Jovens entre 16 e 20 e poucos
anos, todos a caráter, tentavam
laçar os bezerros. Cada laço valia 10
pontos. Hábeis no manejo da corda,
eles mostraram bom desempenho
em uma competição acirrada. Os
amigos se reúnem semanalmente
para o rolezinho rural, em que um
sempre se sagra o vencedor. Naquela
tarde, Nonô fez a melhor pontuação.
VIVER Agosto - 2015
Sem crise
e mais
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
O empresário Lauro Jorge Paes de Souza, 50, ex-professor de judô,
decidiu pegar pesado no segmento de luta e, em 2001, criou a Fight
Brasil, empresa que fabrica mais de 300 produtos como luvas de
boxe, caneleiras, quimonos, sacos de pancada e capacetes para
treino. A fábrica, localizada em Ervália, produz mais de 5 mil peças
por mês, vendidas para todos os estados. Atualmente, é a única
em Minas Gerais especializada no segmento. Com a alta do dólar,
os produtos importados se tornaram menos atrativos e a procura
pelos nacionais acelerou, o que foi ótimo para seu negócio que
não tem enfrentado crise. Atores e figurantes da novela Malhação,
assim como os equipamentos da academia são produzidos por
Lauro, que este mês leva sua fábrica para uma nova sede.
TV na praça
A tarde caída meio fria em São Francisco do Glória. Havia poucas pessoas
nas ruas. No centro da cidade, na
praça São Francisco de Assis, uma televisão comunitária permanecia ligada
para o entretenimento de um distinto
senhor que assistia, de pé mesmo,
à programação da tarde. Algumas
jovens passaram por lá e disseram que,
à noite e no horário das novelas, os
bancos se enchem de gente. Os olhares
ficam fixos, atentos, mas na hora dos
comerciais a prosa rola solta.
VIVER Agosto - 2015
Delícia gelada
Flávio Maciel dos Nascimento
Goncalves Rigueira, 40, começou vendendo verduras em casa.
O negócio não ia bem. Decidiu
reativar uma máquina de fazer
picolé usada pelo pai no passado
e que estava parada. Resolveu
criar, há 10 anos, a DeliGeli
Sorvetes, que utiliza a polpa de
frutas naturais. Sucesso garantido. Hoje, são 14 funcionários,
duas lojas em Ervália e 12 parceiros. Após muita pesquisa, Flávio
chegou a 34 sabores tradicionais
de picolés, 34 especiais, e 40 tipos
de sorvetes. Os preferidos são
coco com abóbora, queijo com
goiabada, coco com abacaxi,
leite condensado com morango,
iogurte com morango, abacaxi ao
vinho e biscoito recheado. Na alta
temporada, ele fabrica, por semana, 50 mil picolés, 250 baldes (10
litros) de sorvete e 3 mil sundaes.
Encomendas: (32) 3554-1149 e
(32) 8403-9352.
11
ALI E ACOLÁ
Pergaminho do café
Em terra que produz excelentes cafés orgânicos, nada mais
natural que o reaproveitamento
do pergaminho do grão, pelas mãos habilidosas da artesã
Maria Aparecida Gomes Costa
Assis, 41, conhecida como Suca.
Ela retira a massa que fica dentro dos grãos, mistura com um
grude feito de farinha de trigo
sem fermento, papel, palha do
café, vinagre para não mofar e
ácido bórico para aumentar a
durabilidade das peças. Daí ela
cria bandejas, porta-revistas,
pano de prato, guardanapo,
cachepós, gamelas. As peças são
vendidas em feiras. Os preços
variam de 5 a 70 reais.
Paola/Divulgação
O mais premiado do Brasil
Não é exagero dizer que o doce de leite
Viçosa é o melhor e mais delicioso do
Brasil. Sua pureza e qualidade vêm
12
sendo reconhecidas pelo
público e por especialistas.
A versão tradicional do
doce participa do evento
mais respeitado do país, o
Concurso Nacional de Produtos Lácteos, organizado
pela Epamig e pelo Instituto de Laticínios Cândido
Tostes, desde 2000, sendo
sempre premiado entre os
3 primeiros colocados. O
doce venceu o concurso
em 7 ocasiões: 2001, 2004,
2006, 2008, 2011, 2012 e
2013. Com as premiações,
ele se tornou o mais premiado em todas as edições
do concurso.
e mais
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
Abrigo para
foragidos
políticos
O surgimento da cidade de
Araponga está diretamente
ligado ao ciclo do ouro. Há
registros de que o primeiro
ouro das Minas Gerais foi
descoberto ali, por volta de
1693. Túneis eram abertos
para extrair o metal. Na antiga fazenda da Fundaça, os
túneis deram origem a várias
histórias. Uma delas diz que
um dos túneis foi fechado por
um enorme portão de ferro,
lacrando em seu interior um
tacho cheio de ouro, guardado pelas almas dos escravos
mortos em um desabamento.
Acredita-se também que,
no auge da revolução de 32,
os túneis tenham abrigado
os bernardistas, como eram
chamados os seguidores
do ex-presidente do Brasil,
Artur da Silva Bernardes, que
fugiam das tropas do governo
de Getúlio Vargas.
VIVER Agosto - 2015
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
tenho dito...
... o melhor e o pior da minha cidade
“Em Ervália as pessoas são amigas
e ajudam umas as outras. A vida é
tranquila, mas a cidade tem poucas
indústrias e falta emprego.”
Ronaldo Santos Souza, 17, atendente
Gosto de Viçosa pelo fato
de ser uma cidade tranquila,
apesar de alguns atos de
vandalismo. A universidade
traz benefícios. Sinto falta
de lazer. O cinema que tem é
pequeno e não há teatro.”
Lizane Cristina de Jesus Ferreira,
32, telefonista
Araponga é uma
cidade pacífica, de
povo acolhedor, e se
destaca pelo turismo e
pela produção de cafés
especiais. Acho que
esses atrativos tinham
que ser mais divulgados,
assim como suas belezas
naturais. Falta lazer.”
Elisângela Aparecida
Lopes, 41, professora
VIVER Agosto - 2015
Na verdade, São
Francisco do Glória
deixa muito a desejar.
Temos cachoeiras, mas
a política local não olha
pelo cidadão. O transporte
público é ruim, faltam
médicos. Para que tanta
obra? Seria melhor
investir no atendimento
às pessoas.”
Robson Pimentel, 23,
piscicultor
13
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
AGRICULTURA
De pai
para filho
CULTIVO DE
CAFÉ ORGÂNICO
CRESCE NA
COMUNIDADE DE
PEDRA REDONDA
LAVOURA DE café
orgânico de Edmar
Lopes (abaixo), com o
filho Pedro Lucas
ANA ELIZABETH DINIZ
C
ravado a 1.346 metros de altitude, no topo da comunidade de
Pedra Redonda, em Araponga,
fica o sítio de mesmo nome do agricultor Edmar Lopes, 44, que há 12
anos migrou para a produção do café
orgânico que tem conquistado vários
prêmios. Além de preservar o meio
ambiente, o produtor está experimentando a confortável sensação de melhorar a qualidade de vida da família e
já conta com a ajuda do filho, o adolescente Pedro Lucas Ramos Lopes,
12, que cuida de uma lavoura com 500
pés de café e já planeja plantar outros
500 até o final do ano.
Ao lado do pai, o garoto mostra
conhecimento da lida na lavoura e
vai respondendo com segurança a algumas perguntas. “Aqui produzimos
nosso próprio adubo, usando galhos
da bananeira e de árvores, esterco de
gado, porque a legislação brasileira
proíbe o esterco de galinha. Nada de
agrotóxico”, diz.
O pai consente com a fala assertiva do jovem aprendiz. No pátio de secagem, o produtor rural vai ensinando
o processo pelo qual o café passa. “Colho o café maduro e o coloco em uma
14
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
superfície totalmente telada durante
duas semanas, exposto ao ar, para
secar. Esse tipo de secagem permite
um grão mole, com acima de 91 pontos, metodologia criada pela Specialty
Coffee Association of America (SCAA),
quando a média é de 85 pontos.” Após
esse processo, o café é colocado por
mais uma semana no terreiro, quando
ele atinge 15 graus de umidade. Daí,
ele fica 30 dias armazenado para descansar e volta para tomar sol no terreiro até ficar com 11 de umidade.
Edmar diz que comercializa o café
cru, tipo exportação, com a cooperativa local, onde é novamente beneficiado até atingir 14 graus de umidade, o
padrão exigido internacionalmente.
Seu café é exportado para os Estados
Unidos e é certificado pela BCS Öko-Garantie, organismo independente
com sede na Alemanha, pela USDA
Organic, selo criado pelo Departamento de Agricultura dos EUA, pelo
selo Orgânico do Brasil, e participa do
fair trade, uma abordagem alternativa
ao comércio, baseada em parceria entre produtores e consumidores.
A propriedade de Edmar tem
6.800 pés de café orgânico. A saca (60
quilos) tem sido comercializada entre
100 e 120 libras acima do preço do café
tradicional. “Fico feliz com minha lavoura, pois sei que estou zelando pela
natureza e pelo meu próximo”, conta.
Atento à conversa, Pedro Lucas, orgulha-se de colher entre 20% e 30% da
produção total da propriedade.
VIVER Agosto - 2015
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
CAFEICULTURA
Produto
premiado
COM CULTIVO TOTALMENTE FAMILIAR EM ESPERA FELIZ,
CAFÉ CONQUISTA MERCADO INTERNACIONAL
ANA ELIZABETH DINIZ
Emater-MG/Divulgação
U
ma família do município de
Espera Feliz se tornou referência de qualidade na produção
de café, por meio do cultivo familiar,
que atravessa gerações por mais de
60 anos e começou com o pai do agricultor Onofre Alves de Lacerda. Atualmente, a propriedade Forquilha do
Rio conta com mão de obra dos filhos
e cônjuges de Onofre e de seus netos.
Ao todo, 15 pessoas cultivam uma
área plantada de 12 ha.
“São vários os fatores que influenciam na qualidade do nosso
café. O clima, o solo, a altitude de
cerca de 1.280 metros, e o trabalho
em família. Temos muito cuidado
com a finalização da produção, com
mão de obra qualificada. Fazemos
tudo com muita dedicação e contamos com a assistência técnica da
Emater-MG”, destaca o produtor
José Alexandre Abreu de Lacerda, filho do senhor Onofre.
A qualidade do café produzido
na fazenda começou a chamar atenção já nas primeiras participações em
etapas do Concurso de Qualidade dos
Cafés de Minas Gerais, realizado pela
Emater-MG. “Percebemos o potencial do produto e começamos a enviar
amostras para o concurso. O resultado foi excelente. Boas colocações em
concursos regionais, estaduais e, até,
em nível nacional”, diz Júlio de PauVIVER Agosto - 2015
JOSÉ ALEXANDRE e
Greciano na
propriedade
Forquilha do Rio
la Barros, técnico da Emater-MG que
presta assistência na propriedade da
família há 28 anos.
A produção rendeu vários títulos,
entre eles o primeiro lugar no 9º Concurso Nacional ABIC de Qualidade
do Café (2012), na Categoria Microlote. No Concurso de Qualidade dos
Cafés de Minas Gerais, é vencedor há
3 anos consecutivos, nas etapas Muriaé e Regional Matas de Minas. Foi o
primeiro colocado na etapa estadual
2012 (categoria cereja descascado).
Japão, Estados Unidos, Noruega
e Alemanha são alguns dos países interessados no café. Compradores de
diversos mercados têm procurado a
família para comprar a produção de
aproximadamente 400 sacas por ano.
A exportação do café representa aumento na renda da família. Ao comercializar o café com atravessadores da
região, a saca é vendida em média por
430 reais. Já no mercado internacional a família consegue comercializar
por 950 reais a saca. “A demanda tem
sido tão grande que mal conseguimos
atender”, conta José Alexandre.
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VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
ECONOMIA
Hóstias não
consagradas
EMPRESA DE PONTE NOVA PRODUZ
2 MILHÕES DE UNIDADES POR DIA E
VENDE PARA TODO O BRASIL
ANA ELIZABETH DINIZ
O
refrão “debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo, forjar
no trigo o milagre do pão...”
da música Cio da Terra, de Milton
Nascimento e Chico Buarque, parece permear a lida diária da Fábrica
de Hóstias Nossa Senhora de Fátima,
criada em 1995 pelo ex-seminarista e
engenheiro civil Ary Brum Júnior, 38,
em Ponte Nova.
“Todo negócio precisa ter inspiração e respiração. Tive a ideia de
montar a fábrica, por acaso, quando
fui comprar lâmpada de sacrário em
uma loja em Belo Horizonte e vi que
16
eles vendiam hóstia. Fiquei pensando naquilo e vi que era um bom negócio. Fiz e refiz as contas. Naquela
época (Plano Real) a energia elétrica e o trigo eram subsidiados pelo
governo e o câmbio não era livre. A
ideia vingou. A sorte tem que acontecer”, relembra Júnior.
Negócio inspirado e iniciado na
hora certa, quando a fabricação de
hóstias há muito havia extrapolado os conventos e as igrejas. “Até os
anos 1960, toda igreja produzia sua
própria hóstia, e o trigo vinha de Portugal. As irmãs e os padres fabrica-
Pedro Vilela/Agência i7
vam as hóstias e até o vinho litúrgico.
Era uma época em que havia mais
tempo e os religiosos tinham que se
revezar nas inúmeras tarefas domésticas. Hoje não há mais espaço e nem
tempo para se dedicar a essas funções. A produção até então era local,
limitada e artesanal. O mercado hoje
exige profissionalismo e, por isso,
nossa empresa surgiu no momento
oportuno”, diz o empresário.
Júnior contou com uma certa
ajuda do universo para iniciar seu
negócio. “Eu estava conversando
com amigos, quando um deles disse
que tinha uma máquina antiga de fabricação de hóstia, que estava parada há 40 anos, na igreja de São Sebastião. Fui lá, conversei com o padre e
consegui a máquina. Comecei produzindo em um cômodo acanhado
dentro da minha casa. Fabricava 10
VIVER Agosto - 2015
mil hóstias por dia e vendia em Ponte Nova e Viçosa. Trabalhavam comigo minha mãe, Zilda Brum, e meu
irmão Daniel Mares Brum. Um ano
depois era hora de decidir se continuávamos, investíamos para crescer
ou não. O mercado estava aberto.
Apostei no futuro.”
Para conquistar o mercado e novos clientes, o empresário diminuiu
seu lucro. “Em 1996, o custo unitário da hóstia era de 0,26 centavos e
o pacote com mil unidades era vendido a 5 reais, baixei o preço para
1,50 real. Fizemos financiamento de
20 mil reais que, na época, era suficiente para comprar 2 carros. Como
o imóvel era do meu pai, investi
em maquinário e capital de giro.
Com isso fui ganhando o mercado
e os padres ficavam impressionados
com a qualidade das hóstias.”
A fábrica é a maior do país e responsável por 40% do que é distribuído no Brasil. A produção diária é
de cerca de 2 milhões de unidades.
O pacote com mil unidades custa 5
reais e a produção é comercializada em todo o Brasil. Minas Gerais é
o estado que mais compra, seguido
do Nordeste e do Espírito Santo. Oitenta por cento do estado de Santa
Catarina e 90% do Rio Grande do
Norte compram as hóstias Nossa
Senhora de Fátima.
“Poderíamos vender mais para
Minas Gerais, mas a carga tributária onera o produto. A hóstia chega
mais barata em Porto Alegre do que
em Belo Horizonte, que está a 200
quilômetros de Ponte Nova. Outros
países têm nos procurado, mas não
temos interesse em exportar por
causa da burocracia. Eu trocaria,
tranquilamente, meu lucro pelos
impostos”, propõe Júnior.
A empresa conta com 39 funcionários. Além da mãe e do irmão,
que continuam firmes, o pai, Ary
Brum, 87, também integra a equipe.
Desde a primeira venda de hóstias,
VIVER Agosto - 2015
ARY BRUM JÚNIOR, com a
mãe Zilda: “Todo negócio
precisa de inspiração”
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
NÚMERO
40%
das hóstias
distribuídas no país
vêm da fábrica de
Ponte Nova
O PATRIARCA ARY BRUM: produção
consome 2 toneladas de farinha por dia
em 1996, a fábrica investiu cerca de
2 milhões de reais em maquinário
e infraestrutura, sendo 400 mil somente em 2014. Para este ano, a previsão é de investir em torno de 250
mil reais. Em 2013, a fábrica enviou
1,5 milhão de hóstias para a missa de
encerramento da Jornada Mundial
da Juventude, celebrada pelo papa
Francisco, em Guaratiba, na Zona
Oeste do Rio de Janeiro.
A hóstia tem o mesmo formato
e a mesma constituição, farinha de
trigo e água, desde os tempos de
Moisés. Sua fabricação está dentro
das normas canônicas. O processo de produção é simples, porém
trabalhoso e demanda grande escala de produção. O produto é tão
nobre que só 10% da matéria-prima
viram hóstia.
Para produzir 2 milhões de hóstias por dia são necessárias 2 toneladas, ou 40 sacos (50 quilos), sendo
que 200 viram hóstia, o restante é
descartado, ou seja, 1.800 quilos de
farinha de trigo vão parar no lixo. Isso
devido ao alto controle de qualidade.
A hóstia não pode ter nenhum defeito. Depois de irem para a prensa, elas
recebem os símbolos litúrgicos, que
são diversos. “Depois de consagrada,
a mistura de água e farinha de trigo,
se transforma no corpo de Cristo, em
matéria de salvação”, diz Júnior.
17
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
PISCICULTURA
Criaturas das
águas
MUNICÍPIOS DA ZONA DA MATA
PRODUZEM 70% DOS PEIXES
ORNAMENTAIS DO PAÍS, CERCA DE
9 MILHÕES DE UNIDADES POR ANO
ANA ELIZABETH DINIZ
A
s enormes estufas ao longo da
estrada denunciam a presença
de mais de 400 proprietários rurais que resolveram apostar na piscicultura ornamental como alternativa
de renda e, juntos, vendem cerca de
9 milhões de unidades por ano para
todo o Brasil. Os municípios de Barão
do Monte Alto, Eugenópolis, Patrocínio de Muriaé, Miradouro, Muriaé,
São Francisco do Glória e Vieiras fazem parte da região considerada polo
de piscicultura ornamental, sendo
responsável por 70% da produção de
peixes no Brasil, segundo dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
Já são 26,5 milhões desses peixinhos colorindo os aquários residenciais, contra 21,3 milhões de felinos e
18
37,1 milhões de cães, conforme levantamento recente da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para
Animais de Estimação (Abinpet).
Na Zona da Mata, o negócio, ainda incipiente, começou no início de
2000 e, em 2003, o Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural (Senar-MG)
já orientava os produtores rurais sobre as técnicas de criação fundamentais para o sucesso da atividade. “Eles
criavam os peixes sem informações
fundamentais como: biologia das espécies cultivadas, técnicas de desova,
larvicultura, prevenção de doenças,
alimentos de boa qualidade, legislação. Cada animal tem a água de sua
preferência, tipo de desova, temperatura e nível de adubação. O piscicultor tem que entender essas caracte-
rísticas e contar com profissional com
responsabilidade prestando assessoria”, diz Alexandre Rodrigues da Silva,
biólogo, especialista em piscicultura,
engenheiro de saneamento ambiental e instrutor do Senar-MG.
Segundo ele, as vantagens da piscicultura ornamental em relação à de
abate, são a obtenção de bons lucros
em terrenos pequenos, com tanque
pequenos e pouca água. “Existem até
piscicultores criando peixes, com alto
índice genético, em apartamentos.
Animais com alto potencial genético,
ou extremamente delicados em sua
biologia e com técnicas apuradas de
criação, são mais lucrativos, podendo
atingir 300 reais em média, por unidade. O investimento inicial depende das espécies e variedades que se
VIVER Agosto - 2015
pretende criar. Peixes mais rústicos
são mais baratos do que animais mais
selecionados e de hábitos exigentes,
como por exemplo os acarás discos”,
comenta Alexandre.
Quem se animou a mudar o rumo
profissional e não se arrepende é Cristiano Cunha de Paula, 36, proprietário
da Fazenda Pouso Alegre, com 3 ha,
em Patrocínio do Muriaé. “Trabalhei
na roça até os 18 anos, depois fui auxiliar de serviços gerais por mais 7 anos.
Em 2001, fui trabalhar em Brasília, mas
não gostei do agito da cidade. Sou simples. Voltei em 2003 e comecei a vender peixes criados aqui, em Ubá. Em
2004, eu já tinha algumas estufas, fui
visitar uma feira em São Paulo, conheci uma cliente e não parei mais”, diz.
Atualmente, Cristiano tem 13 estufas que abrigam 206 tanques onde
cria o barrigudinho, também chamado de guppy ou lebiste, peixe de comportamento pacífico, originário da
América Central e América do Sul, várias espécies de acarás, colisas, bettas
(originários das plantações de arroz
da Malásia), e o oscar, originário da
Amazônia. “Minha produção média
é de 4 mil a 5 mil unidades por mês.
Noventa por cento da produção eu
vendo para 4 clientes de São Paulo e
10% para Três Rios e Manhuaçu.”
Os tanques são de alvenaria, cobertos com lona e com água encanada, dentro de estufas ou telados para
proteger contra predadores como
pássaros e cobras. Cristiano explica
que o processo de criação começa
com a seleção das matrizes, que depois serão colocadas nos tanques e
acasaladas. Após a desova, os filhotes são levados para os tanques com
adubação, ambiente propício para o
desenvolvimento e, posteriormente,
são alimentados com ração.
A atividade exige dedicação. Cristiano conta com a ajuda da mãe e de
um funcionário. Trabalha muito, sem
final de semana, mas não se arrepende. “Até chegar aqui fiz diversos cursos
VIVER Agosto - 2015
CRISTIANO CUNHA:
“O mercado está em
crescimento, tudo o
que produzo
eu vendo”
A região é
muito pobre e
a piscicultura foi
a única saída para os
produtores”
Márcio Onibene, ao lado do
irmão Ronim
de piscicultura e administração rural
no Senar Minas, que foram importantes. De 2005 a 2010, a atividade virou
febre na região, mas logo o governo
bateu firme na fiscalização ambiental em função da crise de água e o financiamento para o setor foi afetado.
Hoje, trabalho para pagar as contas, o
preço da ração tem aumentado, o saco
que custava 20 reais pulou para 135 reais. Com tudo isso, terei que reajustar
o preço da unidade em torno de 20%.
Contudo, o mercado está em crescimento, tudo o que produzo eu vendo.”
A criação de peixes ornamentais
remunera melhor o produtor do que
o abate. O tempo para um peixe ficar no ponto de ser comercializado,
desde seu nascimento, é de 3 meses,
enquanto que para o abate demora
um ano e meio. Em São Francisco do
Glória fica a Fazenda São Carlos, sede
da Piscicultura Onibene, dos irmãos
Márcio e Ronim Onibene. Aí funciona uma distribuidora que conta com
102 associados de Miraí, Fervedouro,
Patrocínio do Muriaé, Barão do Monte
Alto, Miradouro, Vieiras e São Francisco do Glória, que produzem cerca de
200 mil peixes por mês, comercializados em São Paulo, Rio de Janeiro, BH e
Brasília. Um negócio que envolve mais
de 300 piscicultores e gera quase 400
empregos diretos.
Márcio conta que começou a criar
peixes ainda adolescente. “A região é
muito pobre e a piscicultura foi a única
saída para os produtores. Depois dela,
nossas vidas melhoraram 100%.” Os
irmãos criam peixes ornamentais
19
P I S C I C U LT U R A
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
QUANTO CUSTA
Betta macho
R$ 1 a unidade
Betta fêmea
R$ 0,25 a unidade
Lebiste
R$ 0,70 o casal
Acarás
R$ 1 a unidade
Saiba mais
z Segundo dados do Ministério da
Pesca e Aquicultura, o valor unitário
médio para peixes valorizou 744%
entre 2007 e 2012. Em 2013, a
exportação desses animais rendeu
10,5 milhões de dólares (33 milhões
de reais) de faturamento aos
criadores brasileiros, mais que o
dobro do registrado 6 anos antes
desde 1991. Dos 90 ha da propriedade,
apenas 4 são usados na piscicultura.
Empregam 18 funcionários e criam
150 espécies, como acará, barbus,
molinésia, espada, platy, japonês.
“Tenho hoje 250 tanques e produzo
30 mil unidades por mês. Nossa água
é de uma nascente que fica dentro da
propriedade e temos o maior cuidado
com o meio ambiente. A água que sai
dos tanques é tratada antes de ir para
o ribeirão do Glória”, observa Ronim.
Márcio lembra que a piscicultura
está em franco crescimento. “Hoje
temos mais tranquilidade para trabalhar e investir, por causa da legalização. Cerca de 70% dos piscicultores
estão legalizados e o restante em processo, porque a regularização é trabalhosa e onerosa. Os produtores rurais
querem andar dentro da lei, mas têm
dificuldades em relação à documentação. Somos muito cobrados pelas
autoridades. Precisamos de consultoria especializada para orientar quanto
à legalização.”
Para resolver problemas dessa natureza e percebendo o potencial do
20
polo na região, a Superintendência
Federal da Pesca e Agricultura de Minas Gerais promoveu o 1º Seminário
Estadual de Piscicultura Ornamental da Zona da Mata, que reuniu 200
pessoas entre piscicultores, entidades
e representantes de órgãos públicos,
para discutir o crescimento, legalização e qualidade na produção. O evento aconteceu na fazenda dos irmãos
Onibene e foi considerado um marco
porque trouxe à tona os potenciais e as
dificuldades da atividade.
Assessor do Ministério da Pesca
e Agricultura – Secretaria de Monitoramento e Controle –, Felipe Weber
Mendonça Santos destacou a força
regional e citou algumas políticas do
governo para o segmento. “Construímos e publicamos algumas normativas para melhorar a realidade do produtor e permitir o desenvolvimento
da atividade. O maior desafio deles
é a legalização. Não conhecíamos os
nomes de muitos deles e, agora, sabemos o porquê. Eles têm medo das dificuldades de regularização. Estamos
dispostos a revisar as normas de li-
cenciamento ambiental”, assegurou.
Vicente Protásio de Paiva, 37,
também teve que enfrentar essas dificuldades, mas diz ter valido a pena.
Sua propriedade, a Fazenda São Luiz,
toda pintada de verde com tanques a
perder de vista se destaca ao longe, na
zona rural de São Francisco do Glória.
Tudo muito organizado. “Comecei
lidando com peixe ainda moleque. Já
trabalhei em outras atividades, mas
acabei me afeiçoando à piscicultura
e estou no mercado há 10 anos. Sempre modernizo o negócio, a fim de
aumentar a produção, o lucro, e diminuir a mão de obra, que é uma dificuldade”, diz ele.
O piscicultor tem tino para o negócio. Apostou na criação do peixe
ciclídeo africano, porque seus vizinhos não trabalham com essa espécie.
“Comecei com 5 tanques e hoje tenho
55 escavados e 70 de alvenaria. Minha
produção mensal é de 10 mil unidades, entre 20 espécies que vendo para
atravessadores. Tudo o que produzo
eu vendo. Esse é um negócio que exige
muita dedicação.”
VIVER Agosto - 2015
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
EMPREENDEDORISMO
GOIABADA
ZÉLIA MANTÉM
RECEITA CASEIRA E
TRADICIONAL E É
A MAIS ANTIGA DE
PONTE NOVA
Segredo de
família
ANA ELIZABETH DINIZ
Pedro Vilela/Agência i7
O
nome da goiabada foi mudando à medida que o negócio
passava pelas mãos da família,
ganhava novos donos, mas a receita
da guloseima foi preservada. Os ingredientes, apenas goiaba vermelha
e açúcar, seguindo receita nascida na
cozinha da fazenda de Manoel Gonçalves Mol e Tereza Freitas Mol, que
começaram a produção caseira para
presentear os amigos e parentes.
Quem narra essa trajetória de sucesso é Renato Mol, 57, empresário,
proprietário da Fazenda Jatiboca, em
Ponte Nova, e neto do casal. “O sabor
apurado agradava e ganhava repercussão, as pessoas começaram a procurar o doce para comprar. Foi assim
que, na década de 1920, Teêta, Sinhazinha e Marta Mol, minhas tias, fundaram a fábrica de goiabada São José.
Com o passar dos anos, as irmãs mudaram o nome para Goiabada Celeste
e homenagear a primeira sobrinha.
Em 1960, um dos irmãos, Olavo Gonçalves Mol, meu pai, adquiriu a propriedade das irmãs, e proporcionou
um grande avanço na comercialização do produto e muda o nome para
Goiabada Zélia, minha mãe, hoje com
96 anos.”
A goiabada cascão é feita com a
casca da goiaba Paloma, em tacho de
cobre e no fogão à lenha. “Não abro
mão desse processo de fabricação
que confere ao doce um sabor arrebatador. Ela é cremosa na medida
certa”, diz Renato.
VIVER Agosto - 2015
RENATO MOL:
“Não abro mão
desse processo
de fabricação”
A fábrica ocupa área de mil metros quadrados e vai ganhar mais
200, provavelmente, até o final do
ano. A crise não afetou a empresa
que vai lançar este mês a bananada
e mangada. “Nossa área plantada é
de 15 ha, cerca de 5 mil pés. Oitenta por cento da goiaba vem de produção própria e 20% de pequenos
produtores de todo o Brasil. Nossos
maiores compradores são de Minas
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato
Grosso. A produção, durante a safra,
que acontece de fevereiro e abril, é
de 3 toneladas por dia, e na safrinha,
de outubro a novembro, de 700 a 800
quilos por dia”, revela o empresário.
A Goiabada Zélia está entre as
melhores do Brasil e ganhou, pelo
Estadão, o Expressões das Gerais, em
2013, e, em 2014, o prêmio Excelência
Empresarial criado pela Cia de Talentos. Ela está disponível no mercado
em 4 opções: lata de 800 gramas (a
mais cremosa), pote de 700, lata de
550 gramas (cremosa) e o tablete de
600 gramas até 25 quilos.
21
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
LATICÍNIOS
INOVALÁCTEOS,
UM DOS PRINCIPAIS
EVENTOS DA
AMÉRICA LATINA,
APROXIMA
COMUNIDADE
CIENTÍFICA E
INDÚSTRIAS
A nata da
TECNOLOGIA italiana
para fracionar queijos
tecnologia
ANA ELIZABETH DINIZ
N
ovidades em maquinário,
embalagens, insumos e produtos do setor lácteo, além
de novas tecnologias geradas para
melhoria dos processos de produção. Esse foi o foco do InovaLácteos que aconteceu em Juiz de Fora
em paralelo com o Minas Láctea,
um dos principais eventos do setor
laticinista da América Latina, cujo
objetivo é estimular a inovação no
setor, criando ambiente favorável
para novos negócios.
Realizado pela Empresa de
Pesquisa Agropecuária de Minas
Gerais (Epamig), o encontro congregou 4 dos principais eventos
do setor na América Latina: 30º
Congresso Nacional de Laticínios,
42ª Exposição de Máquinas, Equipamentos, Embalagens e Insumos
para a Indústria Laticinista (Expomaq), 41ª Exposição de Produtos
Lácteos (Expolac) e 30º Concurso
Nacional de Produtos Lácteos.
22
Nessa edição, 107 expositores e
especialistas de todo o Brasil trouxeram novidades e soluções tecnológicas para a cadeia de lácteos,
com foco na otimização da produção, na preservação de recursos
naturais e em alimentos funcionais. O evento reuniu mais de 10
mil participantes de todos os estados brasileiros e da Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Equador,
Estados Unidos, Espanha e Itália.
Segundo o coordenador do Minas Láctea 2015, Leandro Viana,
que é chefe-geral do Instituto de
Laticínios Cândido Tostes/Epamig, as expectativas de negócios
prospectados para o segundo semestre de 2015 são acima de 100
milhões de reais. “Os expositores
ficaram satisfeitos com os indicadores qualitativos da feira, como
relacionamento, discussões do
mercado e oportunidades de negócios”, diz.
Fotos: Erasmo Reis/Divulgação
ENCANTADO: formato de
cogumelo e recheado com mel
Para Lúcio Antunes, gerente de
negócios lácteos da Chr. Hansen,
empresa de biotecnologia presente em 135 países, que participa desde a primeira exposição, o
evento sempre agrega em relacionamento e novas oportunidades.
“Pela primeira vez promovemos,
em feira no Brasil, um novo conVIVER Agosto - 2015
Polo do Leite/Divulgação
INOVALÁCTEA: feira reuniu
brasileiros e estrangeiros
Luiz Carlos Costa Júnior/Divulgação
saúde”, comenta.
Tito Pegorini, consultor da
empresa italiana Facchinetti,
vendeu duas máquinas durante
o evento. “Batemos aqui a meta
de venda do ano”, diz. Durante o evento, a empresa realizou
demonstração do equipamento
para fracionar queijo em cunhas
de peso fixo, sem desperdício.
“Estamos satisfeitos por conseguir mostrar aos brasileiros
a importância da máquina para
o mercado.”
Pela primeira vez o produtor de leite de Taquaritinga (SP)
Daniel Sallum participou do
evento, em busca de equipamentos e informações tecnológicas para iniciar sua produção
de doce de leite e queijo curado.
“Participei do congresso cientíQUEIJO SILVESTRE:
fico e das exposições de máquiprimeiro lugar
nas e de produtos lácteos para
levar mais conhecimento para
ceito em iogurte, com a tecnologia
um negócio que estou comeAcidifix, que permite estagnação çando”, afirma.
do PH”, explica.
Durante o evento foram realiLúcio Antunes lembra o cres- zadas 10 palestras, 6 minicursos,
cimento do setor de lácteos e das concurso de produtos lácteos e 98
tecnologias apresentadas no even- empresas do Brasil e do exterior
to. “Trouxemos novas aplicações montaram estandes apresentande lactase, que é uma realidade de do seus lançamentos para o setor.
mercado, com foco em benefício à “É uma ótima oportunidade tanVIVER Agosto - 2015
to para a comunidade científica
quanto para as indústrias do setor
para atualizarem conhecimentos
e lançar produtos. Para a Epamig,
é fundamental criar esse ambiente de transferência de tecnologias e de negócios para estimular
o setor laticinista no Brasil. São
oportunidades que vêm ao encontro das demandas do mercado e
com as quais pretendemos levar
aos participantes uma visão estratégica de futuro, em que predomina a competitividade empresarial”, diz o presidente da Epamig,
Rui Verneque.
A exposição de produtos lácteos conquistou o público que pode
degustar mineiridades, como os
mais variados queijos, como o Encantado, com formato de cogumelo e recheado com mel, o Healthy
Cheese, que alia queijos processados aos benefícios de probióticos
e fibras alimentares e iogurtes. E o
exótico queijo com frutos do cerrado, como o baru, considerado afrodisíaco. As indústrias mostraram-se atentas aos apelos do mercado
consumidor apresentando produtos com redução de sódio e com
baixa lactose.
Segundo o coordenador da Expolac, Nelson Tenchini, cerca de
60 empresas apresentaram mais de
300 produtos no espaço dedicado a
promover a interação entre fabricantes, representantes comerciais
e consumidores. A miniusina Via
Láctea, idealizada pelo Instituto de
Laticínios Cândido Tostes reproduziu para o público o funcionamento de uma indústria de lácteos,
desde a análise da matéria-prima
até a distribuição do produto. Ao
final, os visitantes degustaram os
produtos e receberam informações sobre como produzir, quais os
equipamentos necessários, a importância da higiene na produção
e na qualidade dos alimentos.
23
Ana Elizabeth Diniz
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
CRISE HÍDRICA
Degradação
sem limites
RIOS E BACIAS DA ZONA DA MATA SOFREM COM
AÇÕES DO HOMEM
ANA ELIZABETH DINIZ
G
arantir o adequado tratamento
de resíduos e a sustentabilidade de rios e mananciais são os
principais desafios dos municípios
mineiros que integram o agrupamento de bacias do rio Paraíba do Sul,
composto pelas bacias Preto/Paraibuna e Pomba/Muriaé. A constatação foi feita durante o encontro
regional do Seminário Legislativo
Águas de Minas III - Os Desafios
da Crise Hídrica e a Construção da
Sustentabilidade, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais no início do mês, em Ubá.
Os impactos do lançamento do
esgoto bruto, da redução do nível das
24
represas e o aumento de ocupações irregulares vêm preocupando os comitês da região. Ainda em 2013, o Comitê de Bacia Hidrográfica dos Afluentes
Mineiros dos rios Preto e Paraibuna
destacou que os mananciais e nascentes da bacia estão em risco devido,
justamente, à poluição, ao impacto
de obras públicas e às ocupações irregulares. A bacia tem sido degradada
de forma difusa. Além do despejo de
esgoto bruto, estão presentes outros
fatores poluentes como agrotóxicos,
lixo, óleo e queimadas.
O relatório aponta que, mesmo
nas poucas cidades que possuem uma
estação de tratamento, como Juiz de
Fora, a capacidade de tratar o esgoto
gerado é de apenas 10%. Segundo a
presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica dos rios Pomba e Muriaé,
Maria Aparecida Borges Pimentel
Vargas, o lançamento de resíduos nos
rios reduz, significativamente, a qualidade da água e onera o custo de seu
tratamento. Para ela, a degradação
causada pelo despejo de esgoto sem
tratamento, além de gerar impactos
ambientais, torna ainda mais difícil
a remoção de impurezas, partículas
de sujeira e contaminantes da água,
a fim de prepará-la para o consumo.
Dessa forma, quanto maior o nível
de poluição, mais onerosas serão as
VIVER Agosto - 2015
Carlos Conde/Fiemg
etapas de tratamento efetuadas por
empresas como a Copasa.
Para recuperar os cursos d’água,
despoluí-los e preservar aqueles que
ainda não foram comprometidos
pela degradação, o comitê tem trabalhado com os gestores locais com
o objetivo de fomentar a elaboração
dos planos municipais de saneamento básico, instrumento de planejamento que estabelece diretrizes
para a prestação de serviços na área:
“Hoje, somente 3 municípios da bacia realizam tratamento do esgoto,
mas estão em andamento 184 planos”, afirmou a presidente.
A Zona da Mata é banhada por alguns rios das bacias do rio Doce e do
rio Grande, além dos rios Preto, Paraibuna, Pomba, Muriaé, Paraíba do Sul,
Peixe, Cágado, Bananal, Novo, Carangola, Gavião e Glória. “Todos foram
afetados de uma forma geral, mas alguns trechos de afluentes desses cursos de água é que sofreram mais o impacto da redução das chuvas, tendo
algumas de suas nascentes até secado
momentaneamente”, analisa Eduardo Araújo, analista ambiental do Núcleo do Instituto Mineiro de Gestão
das Águas (Igam), de Juiz de Fora.
Segundo ele, o número de municípios atingidos pelo racionamento
de água variou, principalmente, em
função do tipo e do local de captação.
“Em alguns municípios a captação
para abastecimento público acontece em pequenos afluentes que
apresentaram uma redução maior
nas suas vazões com menor pluviosidade do período, como Visconde
do Rio Branco, Astolfo Dutra, Coronel Pacheco, Mercês, Santa Bárbara
Monte Verde, Ubá e Recreio”.
Desmatamento, assoreamento
dos rios, ação de indústrias, poluição,
são as principais causas da escassez
hídrica. “A demanda crescente e a disponibilidade limitada desse precioso
recurso deveria provocar na consciência humana uma busca por atituVIVER Agosto - 2015
Foram criadas linhas
de financiamento para
selecionar projetos e
ações que contemplem
no mínimo uma das
ações definidas”
Thiago Santana
des mais coerentes de proteção dos
mananciais, com redução da poluição
e aumento na conservação. A poluição lançada nas águas compromete
sua qualidade, entre outros impactos ambientais. O desmatamento, as
queimadas e a ocupação irregular de
áreas que deveriam estar cobertas por
vegetação nativa, protegendo o solo
do desagregamento e carreamento de
partículas que terminam por assorear
os cursos de água, reduzem as calhas
desses cursos, piorando a qualidade
das águas e aumentando a infiltração
das chuvas nesses solos, o que é fundamental para abastecer os mananciais nos períodos de maior precipitação, para que nas secas os rios sejam
abastecidos pelas águas subterrâne-
as”, explica Eduardo.
Entretanto, diz o analista, “a equivocada ação do homem ao longo de
mais de um século de ocupação irregular dessa região teve seus efeitos
ampliados por uma enorme redução
das precipitações na região Sudeste,
que teve início no primeiro trimestre
de 2014 e se agravou até o primeiro trimestre de 2015, em função de diversos
efeitos climáticos. Isso, somado à incapacidade dos solos de receber e armazenar água, fez com que nascentes
e pequenos cursos de água secassem,
ou reduzissem suas vazões, diminuindo por sua vez o abastecimento de
reservatórios, levando a essa crítica situação de disponibilidade de recursos
hídricos que estamos enfrentando”.
Para Eduardo, a saída para evitar
um agravamento da crise hídrica com
a proximidade da estiagem do fim do
ano é trabalhar na recuperação das
áreas de recarga hídrica, principalmente dos mananciais responsáveis
pelo abastecimento público, com
medidas mecânicas, como a implantação de barraginhas e sistemas de
drenagem eficientes. “É preciso reflorestar essas e outras áreas, como as
matas ciliares, reduzir as queimadas,
os desmatamentos, o lançamento de
efluentes domésticos e industriais e
ampliar a rede de monitoramento e
de alerta. Essas são algumas ações do
Igam, Instituto Estadual de Florestas e
Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), no âmbito da Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), em
parceria com a Agência Nacional de
Águas, Comitês de Bacias, via Fundo
de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais
– (Fhidro), projeto Produtor de Águas,
Planos de Saneamento, etc”.
A bacia hidrográfica dos rios
Pomba e Muriaé situa-se na mesorregião da Zona da Mata, abrangendo
um total de 68 sedes municipais e
25
C R I S E H Í D R I CA
apresentando área de drenagem de
13.552 km2. Tem uma população estimada de 776.608 habitantes e seu
clima é considerado semiúmido, com
período seco durando entre quatro e
cinco meses por ano.
Perante a situação de escassez hídrica, o Instituto Mineiro de Gestão
das Águas (Igam), órgão gestor de recursos hídricos, estabeleceu diretrizes
e critérios gerais para a definição de
situação crítica de escassez hídrica e
estado de restrição de uso de recursos
hídricos superficiais nas porções hidrográficas do estado e prevenção de
eventos hidrológicos críticos.
Segundo o gerente de pesquisa e
desenvolvimento de recursos hídricos
do Igam, Thiago Figueiredo Santana,
o órgão opera o Sistema de Meteoro- linhas de ação definidas: saneamenlogia e Recursos Hídricos de Minas to básico, prevenção e mitigação de
Gerais, radares meteorológicos e a cheias, convivência com a seca e mitisala de situação. “O resultado desse gação da escassez hídrica e recuperatrabalho são os boletins do tempo e ção de nascentes, áreas de recarga híhidrometeorológicos e situação cli- drica, áreas degradadas e revegetação
mática, com destaque para os fenô- de matas ciliares, topos de morro e
menos adversos (enchentes, secas e demais áreas de proteção permanentemporais), atualizados diariamente”. tes e proteção de ecossistemas aquáticos”, diz Thiago.
Este ano, o Igam iniciou
Segundo o gerente, foo Plano Estadual de Seguram instituídos dois grupos
rança Hídrica criado para
de trabalho a fim de estarealizar diagnóstico e probelecer critérios de exceppor ações estruturais e não
NÚMERO
cionalidade de restrição de
estruturais em áreas críticas
uso para captações de água,
no estado, considerando a
diretrizes e critérios gerais
ocorrência de escassez por
para a definição de situação
condições naturais, por iné a capacidade
crítica de escassez hídrica e
certezas ligadas a questões
climáticas ou ainda por ex- de tratar o esgoto estado de restrição de uso
nas poucas
de recursos hídricos subtercesso de demanda, tendo
cidades que
râneos em Minas Gerais.
em vista a garantia da oferdispõem de
O Comitê da Bacia Hita de água para o abasteciestações
drográfica dos rios Preto e
mento humano e para as
Paraibuna abrange 30 muatividades produtivas.
“Foram criadas linhas de finan- nicípios da Zona da Mata Mineira e,
ciamento dentro do Fundo de Recu- em alguns deles, o racionamento é
peração, Proteção e Desenvolvimento uma realidade. “Juiz de Fora tem pasSustentável das Bacias Hidrográficas sado por rodízio no abastecimento.
de Minas Gerais (Fhidro), a fim de se- A cada dia determinadas regiões da
lecionar projetos, programas e ações cidade e bairros ficam sem receber
que contemplem no mínimo uma das água. Há casos também de municí-
10%
26
Evandro Rodney
POLUIÇÃO coloca
em risco paraísos
como o Ibitipoca
pios de menor porte que, no final do
ano passado e início deste ano, necessitaram de abastecimento via carros-pipa”, explica Matheus Machado
Cremonese, presidente do comitê.
Apesar disso, a situação da bacia
não é extremamente precária se comparada a outras regiões do estado e
mesmo com o Sudeste do Brasil. “Porém uma vez que os regimes de chuvas, perceptivelmente, estão fora dos
padrões esperados e também registrados em séries históricas, devemos
ficar atentos e buscar utilizar a água
de modo bastante racional e econômico”, ressalta Matheus.
Para evitar um agravamento da
crise, o comitê está seguindo as orientações do Igam, além de buscar informações junto aos municípios sobre
a real situação para que medidas paliativas sejam tomadas. “Levaremos
bastante tempo para que os mananciais e demais cursos d’água retornem
aos níveis satisfatórios, portanto será
necessária toda uma readequação do
consumo final e, inclusive, de alguns
sistemas de captação. Campanhas
educativas também vêm sendo utilizadas e são parte do processo que
contribui para um menor desperdício
de água”, finaliza Matheus.
VIVER Agosto - 2015
Tião Mourão
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
PREMIAÇÃO
Beleza bem
mineira
A ADVOGADA STÉFHANIE
ZANELLI, DE UBÁ, É A MISS
MINAS GERAIS 2015
ANA ELIZABETH DINIZ
A
advogada
Stéfhanie
Zanelli, 25, nascida em
Ubá, foi eleita Miss Minas Gerais em uma disputa
com outras 20 candidatas.
A morena de sorriso largo
e 1,75 m já trocou a rotina
de sua cidade por uma maratona de compromissos e
preparativos em Belo Horizonte, onde permanece até
o concurso Miss Brasil. “Já
estou pensando em me mudar para Belo Horizonte, pois
não é fácil cumprir a agenda
de Miss Minas Gerais morando em Ubá”, diz.
Formada pela Universidade Presidente Antônio
Carlos (Unipac) de Ubá,
Stéfhanie conta que vem de
uma família de advogados,
pai, mãe e tios. “Sempre trabalhei na área do direito. O
Miss Minas Gerais é a primeira experiência que tenho
trabalhando com imagem.
Após o período de reinado,
pretendo voltar a atuar como
advogada”, afirma.
A miss se diz extrovertida. “Adoro sair, mas também
curto ficar em casa com minha família, minha avó maVIVER Agosto - 2015
terna Lande, meus pais, Marcelo e Simoni, meus irmãos
Fernando e Marcelo, e meus
cachorrinhos Kauã e Zigg.”
Atualmente solteira, Stéfhanie Zanelli sonha em se
casar e ter uma família bem
grande. “Por enquanto meu
foco é a preparação para o
Miss Brasil, já o futuro a Deus
pertence. Sou católica e acredito de todo o coração em
Deus e no poder dele sobre
nossas vidas”, comenta.
A bela mineira se diz
comprometida com as causas dos indefesos: crianças, idosos, portadores de
necessidades especiais e
animais. Sonha com um
futuro melhor para os brasileiros. “Acredito que nós
trabalhamos muito e não
merecemos o que tem
acontecido no nosso país.
O Brasil é um país com
grande potencial, mas que
acaba não se destacando
por conta de más administrações. Como brasileira,
desejo para cada cidadão
um Brasil mais honesto,
igualitário e, principalmente, mais seguro”, espera.
27
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
ECOTURISMO
O céu
é o limite
A EXUBERÂNCIA DO PARQUE
ESTADUAL SERRA DO BRIGADEIRO E
A SUA RICA BIODIVERSIDADE
ANA ELIZABETH DINIZ
A
densa neblina, um capricho da
natureza, encobre quase o ano
todo o Parque Estadual Serra do
Brigadeiro, aumentando a sensação de
que o céu é o limite. As nuvens pairam
no cume das montanhas, criando uma
aura mágica. No inverno a temperatura pode chegar a 2 graus negativos.
Difícil descrever todos seus encantos
sem fazer injustiça. A alta umidade do
ar favorece o florescimento de orquí-
28
deas, samambaias, liquens e bromélias
que colorem o caminho e inebriam os
olhos dos viajantes. Os sauás fazem
algazarra encobertos pela densa mata
atlântica. Alegria incontida.
Mas esse paraíso esteve ameaçado. No início do século 20, a serra do
Brigadeiro começou a ser desmatada
para dar lugar a lavouras de café e pastagens. Na década de 1950, esse processo ficou acentuado com a chegada
da Belgo Mineira, que usava madeira
das árvores para os fornos de sua siderúrgica. Alguns moradores deixaram
suas roças e passaram a trabalhar derrubando árvores e produzindo carvão.
Atualmente, a região é marcada pela
agricultura familiar em pequenas propriedades. Muitos dos funcionários
do parque são moradores da região e
alguns vivenciaram o processo de regulamentação da unidade.
VIVER Agosto - 2015
O parque foi criado em 1996 em
conjunto com a comunidade, na
época, cerca de 800 famílias, e foi
aberto para visitação pública em
2005. “A criação e definição dos seus
limites remonta à década de 1980.
Foi fundamental a participação dos
moradores do entorno para garantir
a conservação do ecossistema, bem
como a preservação sociocultural.
Essa relação de parceria prevalece até
hoje. Isso permitiu uma mudança de
cultura no que se refere ao manejo do
solo. Alguns agricultores experimentaram o sistema agroflorestal e hoje
colhem os resultados, nas propriedades agroecológicas, o que garante
qualidade de vida, empoderamento
das famílias e maior proteção da microfauna, dos insetos e toda biodiversidade”, diz José Roberto Mendes de
Oliveira, técnico ambiental e gerente
do parque, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas.
Ele conta que a interação com a
comunidade se dá por meio de atividades de extensão nas áreas de educação ambiental, pesquisas científicas, manejo e proteção. “Fazemos
isso por meio de intercâmbios e reuniões promovidos diariamente.”
São inúmeras as trilhas que o visitante pode percorrer a fim de conhecer a exuberância do parque que
tem quase 15 mil ha e extensão de 176
quilômetros. Ele se forma por meio de
duas bacias hidrográficas, Rio Doce
e Paraíba do Sul, e por 8 municípios
(Araponga, Fervedouro, Miradouro,
Ervália, Sericita, Pedra Bonita, Muriaé
e Divino), além de seus 12 picos e vales. Aí imperam 2 biomas ameaçados
de desaparecer: a mata atlântica e os
campos de altitude.
Verdadeiro paraíso botânico, a
serra abriga um ecossistema rico em
espécies vegetais como cedro, candeia, embaúba, canjerana, jequitibá,
murici, peroba e palmito doce. A unidade de conservação é refúgio de espécies da fauna ameaçadas de extinVIVER Agosto - 2015
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
PARQUE SERRA
do Brigadeiro:
15 mil ha
ção, como o sauá, a onça-pintada, a
jaguatirica, o sapo-boi. Também podem ser observadas diversas espécies
de aves, como o pavó, o papagaio-do-peito-roxo e a araponga.
Desníveis naturais do relevo, com
uma sucessão de terrenos montanhosos formando vales, morros e pontes
naturais, são cenário ideal para a prática dos esportes de aventura como o
trekking, caving e rappel. Berço dos
afluentes da bacia dos rios Preto e
Doce, o percurso dos riachos e córregos vai desvelando curvas estratégicas e muitas surpresas para a prática
de rafting e boia-cross, atraindo esportistas de todo o Brasil.
Dentro do parque há muito que
se fazer e ver. O ponto mais alto é o
pico do Soares (1.985 m de altitude),
de onde se pode avistar todo o vale do
Brigadeiro. Vale uma caminhada até o
pico do Boné (1.870 m), que leva esse
nome por causa da sua aparência. Lá
de cima, tem-se uma magnífica vista
panorâmica de 360 graus. No trajeto
você passará por uma pequena corredeira sobre uma pinguela natural.
Que tal se esticar no lajeado do
Ouro, um afloramento de rochas graníticas, de água translúcida? A laje
está a 1.500 m e o clima lá é bem ameno, em torno de 20 graus. Se preferir
aventura, o local ideal é Cachoeirinha, uma corredeira de aproximadamente 20 m de desnível, localizada
bem próxima à Fazenda do Brigadeiro e à trilha. Depois da última queda,
há um poço perfeito para banhos,
com o fundo formado por uma rocha lisa. O cenário é deslumbrante e
os blocos de pedra contrastam com
o verde da mata ciliar. Para os mais
ousados, o vale das Piscinas, a 25 quilômetros da sede. É um regato que
escorre entre as rochas, formando
piscinas naturais com profundidades
que variam de 1 a 1,5 m.
Os encantos do parque se revelam
a todo instante. Existem inúmeras espécies de bromélias, típicas da mata
atlântica. Algumas são habitadas por
pererecas que as utilizam como território. A biodiversidade é desconcertante. Para se ter uma ideia, em toda
a Grã-Bretanha existem cerca de 50
espécies de árvores em área de 230
mil quilômetros quadrados. Na mata
atlântica existem cerca de 450 espécies em 0,01 quilômetro quadrado.
Na curva de uma trilha, em corrida acelerada ou pendurado em
árvore, a qualquer momento o turista pode se deparar com veado
mateiro, cachorro-do-mato, caxinguelê, preguiça-de-três-dedos ou
29
E COT U R I S M O
SALA DO PARQUE, a pousada Serra D’ Água e a ermida Antônio Martins, construída em 1908
macaco-prego, animais ameaçados
de extinção que encontram abrigo
nas matas.
Os pesquisadores identificaram, em área de distante acesso ao
público, 2 grupos independentes
de muriquis, também conhecidos
por monos-carvoeiros, animais que
ganharam esse nome porque suas
patas e face, manchadas de negro,
parecem sujas de carvão. Eles são os
maiores primatas das Américas. No
parque foram identificados 11 grupos, alguns com até 80 indivíduos.
Eles preferem as árvores altas onde
ficam protegidos dos predadores.
Agora, se você tem fé, dê uma paradinha na ermida Antônio Martins,
construída em 1908. No altar, sempre tem velas acesas com pedidos de
toda sorte de gente que o considera
quase um santo. Reza a lenda que
ele era caixeiro por profissão e viajava com sua pequena tropa de burros, comercializando mercadorias
pela região. Em frequentes visitas à
casa do fazendeiro Manoel Bittencourt Godinho, conhecido como Sô
Neco, ele enamorou-se de sua filha
Manuela e a engravidou. Como era
casado, fugiu com a moça. O fazendeiro pediu que uns jagunços seguissem a trilha, trouxessem sua filha de
volta e matassem o safado. Antônio
Martins foi barbaramente torturado
antes de morrer. Ele foi morto no
caminho da estrada de Araponga
para Fervedouro, próximo ao pico
do Grama. Familiares e amigos buscaram seu corpo e o enterraram no
cemitério de Araponga.
30
Nos anos seguintes, começaram
a surgir notícias de pessoas doentes
que tinham sido curadas após fazerem orações para a alma de Antônio
Martins. A ermida foi construída no
local de sua morte. Na região tornou-se tradição fazer uma caminhada
até lá para prestar homenagem à sua
memória. Toda Sexta-Feira da Paixão e no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, há romarias até
a ermida. É comum você conversar
com algum nativo e ele se despedir
assim: “Vai com Deus e que a alma
de Antônio Martins te proteja”.
A religiosidade faz parte da rotina da unidade de conservação. Peregrinos da comunidade de Careço, do
município de Ervália, sobem o pico
do Cruzeiro, nos dias 2 e 3 de maio
para enfeitar a cruz, em agradecimento à colheita. No dia em que se comemora Corpus Christi, na comunidade
de Dom Viçoso, que fica dentro do
parque, acontece uma romaria até a
Pedra do Cruzeiro. A comunidade de
Alegre, em Miradouro, celebra o dia
da Cruz no alto do Pico do Alegre.
A infraestrutura do parque foi
planejada em parceria com o Programa de Proteção da Mata Atlântica de
Minas Gerais (Promata-MG), com
recursos da Cooperação Financeira
Internacional Brasil-Alemanha. Foram gastos 1,25 milhão de reais na
construção do centro de pesquisa
com laboratórios e alojamento, posto de polícia ambiental, centro de visitantes, residências institucionais,
sede administrativa e reforma da antiga sede da fazenda Neblina.
E agora, um pouco de história.
Antes da chegada dos colonos portugueses, a região da serra do Brigadeiro foi habitada pelos índios puris,
nômades, que viviam da colheita de
frutos e raízes, da caça e pesca. Os
primeiros portugueses que chega-
CACHOEIRA e casa de
hóspedes (ao lado):
sossego dentro do parque
VIVER Agosto - 2015
POUSADA REFÚGIO dos Galdinos e os proprietários Adão Ângelo da Silva e Maria Sebastiana: parceria com a comunidade
ram à região chamaram esses índios
de arrepiados, por causa da maneira
como prendiam seus cabelos. Por
muito tempo, a região foi chamada
de serra dos Arrepiados. Há ainda
muitos descendentes dos índios puris, como Adão Ângelo da Silva, 62, e
Maria Sebastiana da Silva, 58, proprietários do Refúgio dos Galdinos,
que fica em Área de Proteção Ambiental (APA), no entorno do parque
Serra do Brigadeiro.
O casal trabalhava na agricultura familiar com leite, café e cereais.
“Um certo dia, o pessoal do Centro de
Pesquisa Cultural de Araponga veio
visitar minha propriedade e perguntou se eu e Maria não queríamos nos
preparar para receber turistas. Pensei
bastante e achei a ideia boa. Fizemos
cursos no Senar-MG, outros de educação ambiental em Pedra Redonda,
e sobre como servir bem os turistas,
oferecido pela Escola Agrícola dos Pu-
ris, em Araponga”, relembra Adão.
Desde 2010, o Refúgio dos Galdinos faz parte do projeto Boas Práticas
de Turismo de Base Comunitária na
Serra do Brigadeiro, criado para diversificar a renda e melhorar a qualidade
de vida das famílias que lá residem.
Eles se tornaram produtores do turismo comunitário, abrindo sua casa
para pessoas de todas as partes que
podem passar o dia com a família ou
mesmo se hospedar, usufruindo da
hospitalidade dos Galdinos e saboreando pratos preparados pela família
no fogão a lenha.
“Começamos oferecendo 2 quartos da casa e transformamos o antigo
paiol em mais 2. Hoje são 6 quartos.
Construímos um refeitório no meio
do nosso quintal, com árvores e a horta. Dos meus 4 filhos, 3 trabalham no
negócio”, diz Adão, enquanto sua mulher preparava o almoço.
O visitante ou hóspede pode reFotos: Pedro Vilela/Agência i7
laxar em três cachoeiras que ficam na
propriedade dos Galdinos: Três Quedas, Poço Redondo, Queda da Andorinhas ou fazer rapel. A diária do camping é de 15 reais por pessoa, mais 8
reais pelo café da manhã. A diária na
suíte é de 50 reais por pessoa, com
café da manhã, e no quarto, 40 reais
por pessoa, com café. A refeição custa
16 reais. A família recebe, com frequência, gente de vários países.
Após 5 anos trabalhando com o
turismo comunitário, Adão comemora e diz que não se arrepende. “O
trabalho é bom e o retorno é rápido.
O café demora 1 ano para produzir, o
bezerro leva de 3 a 4 anos até o abate,
o preço do leite no mercado não está
bom e nem o do café. Com o turismo
é melhor, o lucro vem mais rápido do
que pelejar com a agricultura.”
Adão diz que esse tipo de negócio
envolve comprometimento e parceria da comunidade. “Aqui na minha
propriedade, toda a família trabalha
para que os visitantes se sintam em
casa. Produzimos madeira de eucalipto, nossa horta é sem agrotóxico.
Da cana fazemos garapa, do leite
e da banana, doces. Cada um tem
uma função. Acordamos às 4 horas
e terminamos às 22. Os vizinhos são
nossos parceiros. Deles compramos
ovo, galinha, carne de porco e de boi,
leite, feijão, fubá”.
SERVIÇO: Para agendar sua visita ao
parque ligue para (32) 3721-7491 ou
pelo e-mail pebrigadeiro@meioambiente.
mg.gov.br. Conhecer o Refúgio dos Galdinos ligue para (32) 8405-6258 e (32)
8403-7658
VIVER Agosto - 2015
31
Em
imagens
Pedro Vilela/Agência i7
32
VIVER Agosto - 2015
VIVER Agosto - 2015
33
VIVE R M I NAS ZONA DA MATA
CULINÁRIA
Comida
de roça
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
FRANGO COZIDO
COM PALMITO DE
BREJAÚBA ATRAI TURISTAS
À USINA DA FUMAÇA
ANA ELIZABETH DINIZ
O
trajeto até a casa de
Adaecy Xavier Vieira,
61, cozinheira, é de terra e exige atenção. Para não se
perder vá perguntando onde
fica a casa da tia Daia. Todos a
conhecem no vilarejo conhecido como Usina da Fumaça.
É aí que ela nasceu, cresceu,
criou os filhos e estabeleceu
seu negócio, que não chega a
ser um restaurante. É na sua
casa que ela recebe pessoas
34
RECEITA
de todas as partes que vão degustar seu cardápio caseiro.
O palmito de brejaúba, que
confere gosto único ao prato, é colhido ali mesmo, no
quintal da sua casa. “É só
chover que ele brota e dá o
ano inteiro.” O frango usado
na receita é caipira e o tempero bem caseiro.
CONTATO: (32) 8441-3803 e
(32) 3725-0018.
FRANGO COM PALMITO DE
BREJAÚBA
INGREDIENTES
z
1 frango de 1,7 kg
z
1,7 kg de palmito
brejaúba
z
Cheiro verde a gosto
z
1 cebola
z
2 dentes de alho
z
1 colher (sopa) de sal
z
Pimenta malagueta a
gosto
MODO DE FAZER
Fritar o frango temperado
apenas com sal em
óleo quente até dourar.
Acrescente o alho e a
cebola, doure mais um
pouco e retire o excesso
de óleo. Acrescente água
fervente e o palmito.
Cozinhar por 20 a 30
minutos. Enfeitar o prato
com cebola e cheiro verde
VIVER Agosto - 2015
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Empresários reivindicam reforma tributária para