DANOS POR IMPACTO DE BAIXA ENERGIA EM COMPÓSITOS DE CARBONO/EPÓXI DE USO AERONÁUTICO Jane M. F. de Paiva 1, Sergio Mayer 2, Mirabel C. Rezende 1* 1 Divisão de Materiais/IAE/CTA – Centro Técnico Aeroespacial – [email protected]; [email protected]* Pça. Marechal do Ar Eduardo Gomes, 50, São José dos Campos/SP, CEP: 12228-904 2 EMBRAER – Empresa Brasileira de Aeronáutica – S. J. dos Campos/SP Damages by Low-Energy Impact on Carbon/Epoxy Composites Used in Aeronautical Industry Components in advanced polymeric composites used in aeronautical field can suffer damages by low-energy impacts. In this work were simulated low-energy impacts of 3.5, 7.3, 16 and 28 J on composites manufactured by using two different carbon fabrics and two epoxy matrices. Stereoscopy analysis of the impacted regions showed from which impact load initiated the crack propagation, identifying the type of damages as cracks, delamination and deformation. Introdução Compósitos poliméricos avançados são muito utilizados nas indústrias automobilística de competição, aeronáutica e espacial. Na área aeronáutica pode-se destacar os compósitos de matriz epóxi reforçados com tecido de fibras de carbono, que são usados para a fabricação de várias peças de uso externo, como flapes, carenagens, bordos de ataque, etc., os quais estão constantemente sujeitos a danos por impacto. Dentre os vários tipos de impacto, o de baixa energia é preocupante porque normalmente não causa dano identificável por inspeção visual. Os danos por impacto de baixa energia em aeronaves podem ser causados por atividades de manutenção e/ou operacionais. No caso de atividades operacionais os danos são atribuídos, principalmente, ao choque de pedras de granizo e objetos estranhos, tais como escombros na pista de pouso e decolagem. No caso de de manutenção, os danos podem ser causados durante o transporte, manuseio, estocagem e queda de ferramentas sobre os componentes em compósitos(1), (2). Os impactos de baixa energia são perigosos, porque podem ocasionar pequenas trincas e delaminação subsuperficial, que com o tempo podem se propagar, provocando a falha do componente em compósito durante o serviço, embora seu aspecto externo não se apresentasse comprometido(1). Impactos de baixa energia podem ser simulados experimentalmente através da queda de um impactador do tipo dardo ou esfera. Desta maneira, pode-se estimar a capacidade do material em resistir ao dano por impacto, através da determinação da absorção de energia, avaliação do tipo e da extensão do dano (2), que são justamente os objetivos deste trabalho. Os compósitos foram obtidos por laminação, utilizando-se pré-impregnados de resinas epóxi (F155 e F 584) com tecidos de fibras de carbono dos tipos PW (“Plain Weave”) e 8HS (“Eight Harness Satin”). Os pré-impregnados foram empilhados (0°,90°) sobre placas metálicas, vedados em sacos de vácuo e levados à cura em autoclave (0,7 MPa de pressão e 0,08 MPa de vácuo), atingindo a temperatura máxima de 121°C no caso da resina F155 e 177°C para a resina F584. Após a laminação, as placas dos compósitos processados foram inspecionadas por meio da técnica de ultra-som por coluna d’água, não sendo detectados defeitos de fabricação, como porosidades, trincas, delaminações, etc. Em seguida, foram cortados corposde-prova (100 mm x 100 mm x 3 mm) dos compósitos laminados e submetidos ao ensaio de impacto por queda de dardo (“tup or falling dart”). Experimental Obtenção dos compósitos Resultados e Discussão Analisando-se somente os valores de absorção de energia de impacto pelos compósitos citados na Tabela Ensaio de impacto por queda de dardo e análise da região submetida ao impacto Este ensaio de impacto foi realizado baseando-se na norma ASTM 5628 e em uma especificação técnica da Embraer. Utilizou-se um equipamento de impacto Instron, modelo Dynatup 930, com impactador do tipo dardo de 5,3 kg, com penetrador esférico (12,7 mm), o qual foi deixado cair sobre os corpos-de-prova a partir de diversas alturas, correspondendo, respectivamente, às energias de impacto de 3,5; 7,3; 16 e 28 J. As energias absorvidas pelos compósitos foram registradas em um sistema de aquisição de dados. Posteriormente, os corpos-de-prova foram fotografados e analisados em um estereoscópio (marca Zeiss, modelo Stemi SV11), dando-se ênfase na região impactada. Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 123 1 (3,5 J), observa-se que o compósito de matriz epóxi F155 reforçado com tecido do tipo PW apresentou um maior valor de energia absorvida. No entanto, quando se avalia o dano causado no material, com o auxílio de estereoscópio, observa-se que a absorção da energia de impacto ocasionou trincas neste tipo de compósito, as quais foram observadas na região impactada (Figura 1a) e no lado oposto ao impacto (Figura 1b). Quando isto acontece, a maior energia absorvida pelo compósito é também conseqüência do maior dano causado ao material(1). marca de deformação no centro da amostra, ocasionada pelo penetrador de ponta esférica, revelando um material de maior ductilidade, capaz de se deformar plasticamente sem sofrer dano. O lado oposto ao impacto não apresentou nenhuma alteração ou deformação (Figura 3b), demonstrando a maior capacidade deste laminado em resistir ao início da delaminação. Tabela 1 – Absorção de energia de impacto pelos compósitos submetidos à queda de dardo (3,5 J). Avaliação do dano por impacto observado por estereoscopia. Compósito F155/PW F155/8HS F584/8HS (a) Energia absorvida (J) 2,42 ± 0,03 2,24 ± 0,02 2,16 ± 0,05 Dano trincas início de trinca sem danos (b) Figura 1 – Imagens obtidas por estereoscopia, (a) da região impactada do compósito de matriz epóxi F155 reforçada com o tecido PW; (b) Lado oposto ao impacto (mesma amostra). Aumento de 12 X. Para comparação, na Figura 2 estão apresentadas as imagens referentes à região impactada do compósito F155/8HS, no qual pode-se verificar o início de trinca (Figura 2a) e o lado oposto ao impacto (Figura 2b), o qual não sofreu dano, revelando que o arranjo 8HS das fibras de carbono dificultou a propagação de danos por impacto nestes compósitos de matriz epóxi. (a) (b) Figura 2 – Imagens obtidas por estereoscopia, (a) da região impactada do compósito de matriz epóxi F155 reforçada com o tecido 8HS; (b) Lado oposto ao impacto (mesma amostra). Aumento de 12 X. Na Figura 3 estão apresentadas fotografias do compósito de matriz F584/8HS, revelando que não ocorreram trincas no material, após este ser submetido ao impacto de 3,5 J; fato que já era esperado por se tratar de uma matriz epóxi modificada pelo fabricante (código: F584 – Hexcel Composites), visando melhorar a tenacidade da resina. Na Figura 3a, que mostra a região impactada, observa-se apenas uma pequena 124 (a) (b) Figura 3 – Fotografias do compósito F584/8HS, onde: (a) frente da amostra na região do impacto; (b) lado oposto ao impacto (mesma amostra). Em relação à energia de impacto de 7,3 J, observou-se que esta ocasionou início de delaminação no compósito F155/PW e muitas trincas no compósito F155/8HS, tanto na região de impacto, quanto no lado oposto ao impacto. A energia de impacto de 7,3 J provocou trincas na região impactada do compósito F584/8HS. Quando se utilizou a energia de impacto de 16 J o compósito F584/8HS apresentou muitas trincas no lado oposto ao impacto e início de delaminação; e os compósitos F155/PW apresentaram extensa delaminação. Para concluir o estudo, a utilização da energia de 28 J ocasionou fratura completa em todos estes compósitos laminados com orientação a 0, 90o. Conclusões Para cada combinação de matriz e arranjo do tecido de fibras de carbono observou-se a partir de qual carga de impacto de baixa energia ocorreu o início do dano, e identificou-se o tipo de dano causado aos compósitos, como deformações, trincas e delaminação. Com este estudo preliminar foi possível a caracterização destes danos, verificando-se que a matriz epóxi modificada (F584) e reforçada com tecido do tipo 8HS apresentou melhor capacidade de resistir aos danos por impacto de baixa energia. Este trabalho é parte de um extenso projeto de pesquisa que visa a análise de propriedades mecânicas após impacto de compósitos poliméricos utilizados em aeronaves. Agradecimentos À FAPESP (02/02057-5), ao CNPq (300599/96). À EMBRAER pelo fornecimento dos pré-impregnados. À Polibrasil pela realização dos ensaios de impacto. Referências Bibliográficas 1. S.-L. Gao; J.-K. Kim. Composites Part A, 2001, 32, 775. 2. G. A. Schoeppner; S. Abrate. Composites Part A, 2000, 31, 903. Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros