INSTRUMENTAL, ORGANIZAÇÃO E POSICIONAMENTO NA FESS LEONARDO CONRADO BARBOSA DE SÁ REGINA CARNEIRO DE CAMPOS Sala de Operação I. Preparação Inicial A equipe cirúrgica deve ser composta de cirurgião, auxiliar, instrumentadora com formação adequada e anestesista. Importante checar todos os materiais antes da cirurgia: instrumental específico para FESS, caixa básica de septoplastia, fotóforo, ópticas de 4 mm de 0º, 30º, 45º, materiais especiais (cola biológica, hemostáticos absorvíveis, Surgicel®, Merocel®, lâmina de shaver para microdebridador, neuronavegador, dentre outros). Ao receber o paciente, colocar os exames de imagem (TC, RM) no negatoscópio da sala de cirurgia e rever a história clínica. Antes paramentação e após a anestesia geral, verificar a posição do paciente na mesa de cirurgia, de preferência com cabeceira elevada entre 30º a 40º. II. Campo Operatório Normalmente são utilizados campos descartáveis, devendo-se cobrir todo o corpo do paciente, com exceção da região dos olhos, pois no transoperatório a observação do globo ocular é fundamental. Os cabos do bisturi elétrico e do aspirador, assim como de outros instrumentos, devem ser fixados no campo com pinça atraumática e estarem dispostos paralelamente ao corpo do paciente, ao alcance do cirurgião. Recomenda-se a montagem de dupla aspiração para que possam ser usados aspiradores curvos e retos, assim como lâminas de shaver, sem que haja retardo pela troca do instrumental. Os pedais para bisturi elétrico, motor de broca ou microdebridador devem estar ao alcance do cirurgião e posicionados adequadamente antes do início do ato operatório. III. Posicionamentos Paciente: em posição supina, com o tronco elevado a 30 graus em relação ao eixo do corpo. Cirurgião: em geral, posiciona-se do lado direito do paciente. Alguns optam pelo uso de cadeiras (ergonomicamente recomendado). 1º auxiliar: quando presente, posiciona-se na frente do cirurgião, deslocando a instrumentadora em direção aos pés do paciente Anestesista: ao pé da mesa de cirurgia ou à esquerda do paciente. Instrumentador(a): do lado oposto ao cirurgião. À cabeceira do paciente, próximo ao cirurgião. Posicionamento dos Equipamentos: O monitor de vídeo deve ser posicionado do lado oposto do cirurgião, na linha dos seus olhos, pois permite maior conforto no decorrer da cirurgia. Os demais equipamentos como a microcâmera, a fonte de luz, o gravador de DVD ou outros dispositivos de gravação, devem ficar dispostos abaixo do monitor, em uma torre de prateleiras. Caso seja utilizado neuronavegador, o monitor pode ficar ao lado do monitor de vídeo. Os cabos da câmera e da fonte de luz não devem atrapalhar o cirurgião; assim, não devem ser posicionados no caminho de entrada das pinças nas cavidades nasais. Podem ficar arqueados por cima da mão do cirurgião, preferencialmente sobre a cabeceira do paciente, podendo ser fixados com pinças na prateleira sobre a cabeceira do paciente, de modo a não atrapalhar e permitir que o cirurgião trabalhe confortavelmente. Apresentamos, a seguir, duas das diversas possibilidades de arrumação/posicionamento na sala de operação durante o procedimento. Lembramos que para cada procedimento poderá ser indicada um posicionamentos específico, levando-se em consideração o tipo de procedimento, número de profissionais em sala, estrutura do centro cirúrgico, equipamentos a serem utilizados, dentre outros fatores. Lembramos da necessidade imprescindível de atender as recomendações ergonômicas. MEGATOSCÓPIO PORTA BISTURI ELÉTRICO ANESTESISTA AUXILIAR ANESTESISTA FOTÓFORO CIRURGIÃO APARELHO DE ANESTESIA VIDEO INSTRUMENTADORA CIRÚRGICA NEURONAVEGADOR MEGATOSCÓPIO FOTOFORO PORTA NEURONAVEGADOR VIDEO CIRURGIÃO CIRURGIÃO AUXILIAR ANESTESISTA APARELHO DE ANESTESIA INSTRUMENTADORA CIRÚRGICA BISTURI ELÉTRICO A Estas sugestões de posicionamento deverão ser adequadas aos diversos tamanhos de Sala de Operações que encontraremos nas Instituições. Exames de imagem: na ausência do neuronavegador, as imagens devem ser posicionadas de modo que o cirurgião possa observá-las durante todo o momento da cirurgia, sempre que necessitar. Colocá-las em ordem. IV. Iluminação Boa qualidade de fonte de luz, associada a pouca luz na sala de cirurgia. Instrumental Todo o instrumental deve ser conferido e testado previamente à cirurgia. Contar com mais de um exemplar dos principais instrumentais, quando possível, é importante em caso de acidentes ou contaminação. I. Endoscópios Variam de 2,7 a 4,0 mm de diâmetro, em geral, sendo os primeiros de manipulação mais fácil, principalmente em crianças. As angulações mais usadas são as de 0º, 30º, 45º e 70º graus. As fibras anguladas permitem visão lateral. As de 45º e 70º graus, de manejo mais difícil, são úteis para abordagem dos seios maxilares e frontais e do teto da cavidade nasal. II. Fonte de Luz Existem várias fontes de luz no mercado. As fontes com luz de xenônio oferecem a melhor qualidade de iluminação. III. Microcâmera A câmera com 3 chips fornece uma imagem de excelente resolução para cirurgia endonasal. Cabe ressaltar que, ao contrário da imagem em 3D obtida nos microscópios, a fornecida pelas micro câmeras bidimensional. geralmente é Atualmente estão disponíveis imagens em 3D Registro: gravador de DVD e placas de captura IV. Neuronavegador Permite localização dinâmica, em tempo real, de estruturas anatômicas do campo cirúrgico em imagens de TC ou RM préoperatórias armazenadas em computador. É útil para fornecer dados auxiliares sobre sítios anatômicos que possam cursar com complicações orbitárias ou endocranianas potenciais. Demanda tempo para preparação e montagem. V. Instrumental Cirúrgico Específico – FESS a. Aspiradores Aspiradores retos, com flexão próxima à haste. Aspiradores curvos com extremidades rombas e de oliva são menos traumáticos, e por isso úteis para palpar e estudar espaços, como recesso frontal, e sucção do antro maxilar. Alguns aspiradores maleáveis são muito úteis. b. Palpadores Importantes para identificação do recesso frontal, dissecção da mucosa e remoção de células etmoidais com maior cautela, em áreas de risco. KISTNER Um explorador de “bola” ou palpador serve para delimitar e avaliar estruturas durante a cirurgia. (5) c. Curetas Kuhn-Bolger Devem se usadas com cuidado, podendo ser úteis na exploração do recesso frontal, na remoção da lâmina papirácea nas descompressões de órbita e nos acessos à hipófise. curvada 55º Cureta curva de Kuhn-Bolger para remover células etmoidais próximas ao recesso frontal. (5) curvada 90º KUHN-BOLGER d. Pinça de Blakesley Útil para apreensão de fragmentos ósseos, tecidos mobilizados e pólipos. Pode ser reta ou curva. BLAKESLEY Pinça de Blakesley deve ser utilizada para remover pólipos ou tecido pedunculado e penetrar a bolha etmoidal. (5) e. Pinças Retrógradas Podem ser direcionadas para os lados direito e esquerdo. Úteis em antrostomias maxilares, na remoção de porções posteriores do septo nasal, etc. BACK-BITTER 360º O saca-bocado de antro de Stammberger Rhinoforce ou back-bitter é utilizado para remover porções do processo uncinado e da parte posterior do septo, por exemplo. (5) f. Pinça de Hajek-Koffler Permite remoção precisa e segura de partes ósseas. HAJEK-KOFFLER O saca-bocado de Hajed-Kofler é útil para remover segmentos ósseos quando há espaço atrás destes. (5) g. Pinça “Cogumelo” (Stammberger) Permite a abertura e alargamento seguros do óstio esfenoidal. Pode ser angulada, útil no acesso ao recesso frontal. KAMEL STAMMBERGER Pinça saca-bocado cortante (cogumelo) é muito útil para acesso ao esfenóide, por exemplo. (5) h. Elevador/Descolador de Freer Útil para mobilizar, delicadamente, a concha nasal média, quando se pretende acessar o seio etmoidal ou localizar o óstio esfenoidal; FREER i. Pinça de Kerrison Pode ser empregada na abordagem da crista lacrimal, nos procedimentos de dacriocistorrinostomia, assim como na abordagem do seio esfenoidal e em diversas dissecções. KERRISON j. Bisturi de Plester (Foice) Pode ser empregado na incisão do processo uncinado. Deve ser usado com cautela, para não causar lesões na órbita. Também pode ser empregado na abordagem de conchas nasais médias bolhosas e no acesso ao seio frontal. k. Tesouras de Belluci e de Zurich Podem ser empregadas em uncinectomias, turbinoplastias e dacriocistorrinostomias e nas diversas dissecções. BELLUCCI ZURICH l. Pinça de Heuwieser Sua angulação e função de preensão são úteis na abordagem de pólipos maxilares. HEUWIESER Pinça de antro de Heuwieser para remoção de pólipos do seio maxilar. (5) m. Pinça “Girafa” (de Kuhn-Bolger) Empregada para abordagem do recesso frontal Pinça-girafa de preensão utilizada para abordagem do seio frontal. (5) KUHN-BOLGER 55º KUHN-BOLGER 90º n. Shavers Remoção de pólipos e de mucosa redundante. Deve ser utilizado com cautela. o Cuidado para o envio de material colhido para estudo histopatológico. Remover fragmentos com pinça e utilizar frascos coletores ligados à aspiração. um modelo de microdebridador empregado na FESS. (6) o. Brocas Preferencialmente diamantadas. Irrigação concomitante dos tecidos, para evitar superaquecimento. Útil para abordagem do recesso frontal, quando difícil. Empregada também para desgaste da crista lacrimal anterior e exposição do periósteo orbitário. BROCA DIAMANTADA FREZAS REDONDAS CORTE RÁPIDO p. Cautérios Mono ou Bipolares com Aspiração. Podem ser utilizados para cauterização de vasos, com a vantagem de permitirem a aspiração de fumaça e sangue simultaneamente. Um modelo de pinça bipolar utilizada na FESS. Um modelo de pinça bipolar utilizada na FESS. VI. Exemplos de endoscópios 4 mm de diâmetro e 18 cm de comprimento Óptica de visão frontal panorâmica 0º Óptica de visão oblíqua panorâmica 30º Óptica de visão oblíqua panorâmica 45º PROTETORES/HOLDERS STAMMBERGER REDONDO STAMMBERGER PLANO PROTETOR TRANSPORTE Bibliografia 1. Boezaart, A P, Merwe, J van der and Coetzee, A R. A comparison of sodium nitroprusside - and esmolol-induced controlled hypotension for functional endoscopic sinus surgery. Can J Anesth. 1995, Vol. 42, pp. 373-376. 2. Wormald, Peter-John. Campo Cirurgico em cirurgia endoscopica nasossinusal. [trans.] Aldo Stamm. Cirurgia Endoscopica Nasossinusal - Anatomia, Reconstrucao Tridimensional e Tecnica Cirurgica. s.l. : Revinter, 2007. 3. Ahn, H J, et al. Comparison of surgical conditions during propofol or sevoflurane anaesthesia for endoscopic sinus surgery. British Journal of Anaesthesia. 100, 2008, Vol. 1, pp. 50-54. 4. Nair, S, et al. The Effect of beta-blocker premedication on the surgical field during endoscopic sinus surgery. Laryngoscope. 2004, Vol. 114, pp. 1042-1046. 5. Simmen, Daniel and Jones, Nick. Cuidados Perioperatorios. [trans.] Aldo Stamm. Cirurgia Endoscopica Nasossinusal - Basica e Avancada. s.l. : Revinter, 2006, pp. 148168. 6. http://www.sinustreatmentcenter.com/scphoto8.jpg. [Online]