ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA
COLÔMBIA
Ricardo Vélez Rodríguez
Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”,
da UFJF.
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No próximo domingo, 30 de maio, os colombianos elegerão novo presidente. Seis
são os candidatos: Juan Manuel Santos (59 anos, economista, ex-ministro da Defesa do
atual governo, do Partido Uribista), Antanas Mockus (58 anos, ex-prefeito de Bogotá,
filósofo e matemático, do Partido Verde), Noemi Sanín (61 anos, advogada e economista,
ex-ministra das Relações Exteriores e diplomata, do Partido Conservador), Gustavo Petro
(50 anos, economista, parlamentar, do Partido do Pólo Democrático), Germán Vargas
Lleras (48 anos, advogado e cientista político, parlamentar, do Partido do Cambio Radical)
e Rafael Pardo (57 anos, economista e especialista em relações internacionais, ex-ministro
da Defesa, do Partido Liberal). Trata-se de uma nova geração de políticos com um variado
leque de opções programáticas que vão desde o centro (Santos, Sanín, Vargas Lleras,
Pardo), passando pela esquerda moderada (Mockus) e chegando até a esquerda socialista
(Petro).
A campanha, em que pese a enorme popularidade do presidente Uribe (que tentou
ver aprovada, em vão, a sua terceira candidatura ao poder), desenvolveu-se rigorosamente
dentro dos marcos legais. A máxima autoridade eleitoral da Colômbia exerceu uma forte
vigilância sobre os candidatos, de forma tal que se tornou praticamente impossível a figura
do presidente-no-palanque, tão comum nos atuais momentos da política brasileira. As
propostas dos candidatos foram amplamente discutidas em foros e debates pela mídia e em
meios acadêmicos e populares. Os seis aspirantes à presidência deixaram claro que não
aceitariam a ingerência de governos estrangeiros no atual pleito colombiano, fazendo
frente, assim, às ameaças de intromissão de governantes inescrupulosos como Chávez (da
Venezuela) e Corrêa (do Equador).
É muito significativa a campanha que ora termina, reveladora da maturidade
democrática adquirida pelas instituições colombianas, que sobreviveram incólumes a quatro
décadas de conflito civil. Não é à toa que a Colômbia tem sido tradicionalmente arrolada
como uma das democracias mais estáveis da América Latina, em que pese as turbulências
políticas e sociais enfrentadas pelo país, ao longo do século XX e no início deste milênio.
Um dado curioso: apesar das crises da economia mundial, o país vizinho sempre se
caracterizou por honrar os seus compromissos financeiros com os organismos
internacionais e com os outros países. O governo da Colômbia jamais praticou o calote.
Qual a razão disso? Muito simples: os ministros da Fazenda, tradicionalmente, são
indicados pelo setor privado, no contexto da prática de “consertación”, tradicional à
formulação das políticas econômicas na Colômbia. Ministro caloteiro será, inevitavelmente,
empresário falido. Diferente do clima de festival de calotes que vigorou no cone sul do
Continente, com exceção do Chile, ao longo das últimas décadas.
Os candidatos para as eleições presidenciais colombianas. De esquerda à direita: Antanas Mockus (Partido
Verde), Germán Vargas Lleras (Cambio Radical), Gustavo Petro (Pólo Democrático), Rafael Pardo (Liberal),
Noemi Sanín (Partido Conservador) e Juan Manuel Santos (Partido Uribista).
Na reta final da campanha aparecem como favoritos dois candidatos: Juan Manuel
Santos e Antanas Mockus. O primeiro, segundo os institutos de pesquisa, apresenta um
índice de 35% de intenção de votos, ao passo que o segundo aparece com 34%. Trata-se de
um empate técnico, que deverá ser solucionado no segundo turno, que ocorrerá em 20 de
Junho. Para este, os institutos de pesquisa projetam uma vitória apertada, por apenas um
ponto, de Mockus (45%) sobre Santos (44%). Muitas emoções são esperadas para o
segundo turno da eleição presidencial colombiana, na tentativa de seduzir o 7% de
indecisos do primeiro turno, que certamente definirão a contenda eleitoral. Qualquer um
que seja o vencedor, as opções da gestão pública no país vizinho não mudarão de forma
radical. Tanto Mockus quanto Santos defendem a permanência das políticas que foram
conhecidas como de “seguridad democrática”. Ambos os candidatos prometeram continuar
com o combate firme contra os narcoterroristas das FARC, bem como contra os
paramilitares. Ambos prometeram continuar a zelar pelo aperfeiçoamento da segurança
pública nas cidades, completando a modernização das Forças Policiais e preservando a
capacidade já adquirida das Forças Armadas (que receberam ampla reforma modernizadora
ao longo das últimas duas décadas).
As diferenças que podem aparecer na parte final da campanha, visando ao segundo
turno, talvez corram por conta da maior ênfase de Mockus nas políticas sociais, sem que
mude o foco das políticas macroeconômicas firmadas por Uribe, que deram ao país a
possibilidade de crescimento sustentado da economia (que foi de 7,55% em 2007 e que,
para este ano, será de 5% a 6%). Também não deverá mudar o ambiente de segurança
jurídica firmado pelo atual governo (com garantia de estabilidade tributária para as
empresas num período de 20 anos). Embora o desemprego ainda seja alto (12,3%), a
expectativa é que diminua ao longo dos próximos anos, em decorrência da aceleração
continuada do crescimento econômico, fruto principalmente do aumento das exportações
que hoje chegam a 15 bilhões de dólares. Este índice tende a aumentar por força dos novos
tratados de livre comércio assinados recentemente com a União Européia, com o Mercosul,
com o Chile, o Canadá e os países da América Central. O tratado de livre comércio com os
Estados Unidos, freado pela chegada dos democratas ao poder, terá muitas probabilidades
de chegar a bom termo no caso da vitória de Mockus, que é visto com bons olhos (do ponto
de vista dos Direitos Humanos) pelo Departamento de Estado. O exprefeito de Bogotá,
certamente, tem chances firmes de se tornar o próximo presidente colombiano.
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