A PRATA APLICADA AO TRATAMENTO DE FERIDAS A prata tem propriedades medicinais e vem sendo usada há mais de 2000 anos. É um metal que em sua maior parte é um subproduto da mineração de chumbo e está freqüentemente associada ao cobre. A propriedade antimicrobiana da prata e de seus compostos é a base principal de sua aplicação medicinal desde o século XIX. Desde então a prata teve diversas utilizações e seu enorme potencial para o tratamento de lesões foi sendo descoberto. Moyer et al (1965) foram provavelmente os primeiros a abordarem o uso tópico da prata no cuidado de feridas desenvolvendo um tratamento eficaz contra queimaduras infectadas utilizando-se de um creme a base de nitrato de prata a 0,5%. Seus estudos concluíram que o mesmo era eficaz contra Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Streptococcus hemolyticus sem causar resistência por conta da prata. A popularidade do uso de coberturas com prata no tratamento de feridas vem aumentando progressivamente. Atualmente a prata está presente em uma ampla gama de coberturas e pode se apresentar em duas formas: - Compostos/complexos: quando a prata está associada a um sal e produz a prata iônica (Ag+), quando está em contato com fluidos de feridas ou soluções; - Elementar: a prata está em forma metálica (Ag), também descrita como prata coloidal ou nanopartículas de prata. O cátion de prata ou o íon carregado positivamente (Ag+) é ativo contra uma grande variedade de patógenos bacterianos (Hoffman, 1984; Hugo 1992), fungos (Wright et al, 1999) e vírus (Montes et al, 1986). O poder antimicrobiano da prata tem sido relacionado aos seus variados mecanismos de ação. A prata interfere no metabolismo bacteriano, pode romper a parede da célula bacteriana e ligar-se ao seu DNA, inibindo assim a replicação e a possibilidade de desenvolver resistência. O mecanismo é sempre o mesmo, independente de sua forma de apresentação. No entanto, se estiver na forma elementar,a prata precisa sofrer um processo de oxidação a fim de que seja transformada em um composto de óxido de prata e íons de prata, que conferem o efeito antimicrobiano. Um dos benefícios da forma elementar é de poder proporcionar um maior reservatório de prata disponível na cobertura, permitindo um potencial de liberação por um tempo ampliado. A fim de que o tratamento de feridas seja eficaz com as coberturas com prata, estas devem conter algumas propriedades físicas e químicas ideais (White, 2001). Para tanto, a cobertura deve ter uma combinação de efeito antimicrobiano com capacidade de absorver exsudato e também ser associada a sistemas de bandagem compressiva. A prata deve possuir uma baixa solubilidade no exsudato, pois reage rapidamente com outros íons e proteínas presentes na ferida, a qual garante uma liberação sustentada durante um período de dias com uma atividade prolongada sem o risco de absorção sistêmica. Quando uma quantidade excessiva de prata é aplicada através de medicamentos usados tópica ou sistemicamente, o resultado é uma descoloração grisácea (argíria ou argirose) na pele, unhas e mucosas escleróticas (Landsdown, 1995). Estes compostos são absorvidos pelo corpo e permanecem no sangue até se depositarem nas membranas mucosas, formando uma película acinzentada. Um estudo realizado em queimaduras tratadas com uma cobertura com prata nanocristalina demonstrou que após cinco dias de uso a mesma causou argíria com significante elevação nas concentrações sanguíneas (107ng/g) e urinárias (28ng/g). Quando o uso foi descontinuado as concentrações se normalizaram em 90 dias (in Landsdown & Willians, 2004). Innes et al (2001) demonstraram que o uso da prata em feridas com baixa carga bacteriana pode ter um efeito citotóxico. Eles compararam os efeitos de uma espuma de poliuretano com um curativo com prata nanocristalina em pares de enxertos compatíveis e concluíram que a reepitelização foi significativamente menor nas áreas tratadas com o curativo com prata (14,5+/-6,7 dias contra 9,1+/-1,6 dias; p =0,004). De acordo com Russell & Hugo (2004) e Demling & DeSanti (2001), a forma iônica da prata é um potente agente microbiocida em concentrações tão baixas quanto de 0,001 a 0,06 ppm (partes por milhão). Sendo assim, não é preciso uma alta concentração de prata para obter efeito bactericida. Ovington (2004) ressalta que a maioria dos estudos sobre citotoxicidade da prata são feitos in vitro, em condições muito diferentes daquelas encontradas em uma ferida, portanto deve-se considerar que o efeito observado in vitro pode não corresponder diretamente à situação clínica. No ambiente in vivo, muito outros fatores podem interferir na ação da prata, como a possível presença Tipo Apresentação Mecanismo de liberação ACTISORB® PLUS 25 SILVERCEL® PRISMA® Elementar Elementar Composto Metálica Metálica Iônica Oxidação Oxidação Dissolução do sal Exsudato Condição de ativação Liberação no leito de biofilmes, proteínas e ânions do exsudato. Tanto sob um ponto de vista celular quanto bioquímico, clinicamente a tolerância à citotoxicidade é maior do que a observada nos sistemas in vitro. Portanto é recomendável ter conhecimento dos mecanismos de liberação de prata das coberturas e cautela em sua indicação. As coberturas que contêm prata são uma excelente opção para o combate microbiano tópico em feridas que apresentam infecção, além de serem uma ferramenta essencial para o controle da carga bacteriana. Diante de tantas opções no mercado, é importante o profissional de saúde estar atualizado sobre as características e mecanismos de ação de cada produto, suas vantagens e desvantagens, evidências clínicas, relação de custo e benefício, a fim de extrair o máximo de proveito dessas tecnologias. O potencial de citotoxicidade, a quantidade de absorção de exsudato e a versatilidade dessas coberturas são pontos que devem ser cuidadosamente considerados. Na tabela abaixo é possível verificar as modalidades dos produtos com prata da Systagenix e elucidar suas diferenças. Não 2 Sim Sim 0,25% Concentração 25 µg*/cm 8% Mecanismo de ativação Oxidação de nanopartículas + de prata liberam Ag , que ficam adsorvidos na malha de carvão. Oxidação da prata libera Ag , até atingir o ponto de saturação em 20 ppm. Início da ativação Controle da liberação + A partir do contato com o exsudato. + Não há liberação de Ag na lesão. Atividade bacteriana Feito pelo nível de saturação + de Ag que fica em cerca de 20 ppm. SYS/BRA/289/1210 Ao mesmo tempo que a matriz vai sendo absorvida ocorre a liberação gradual + dos Ag . Amplo espectro, incluindo espécies multi-‐resistentes e fungos. *µg: unidade para microgramas. 1 µg = 0,000001 grama. Referências Demling, R., DeSanti, L. Effects of silver on wound management. Wounds 2001;13(suppl A):4-15. Hoffmann, S. Silver sulfadiazine: an antibacterial agent for topical use in burns. Scand J Plast Reconstr Surg 1984;18:119-126. Hugo, W. In: Russell, A., Hugo, W., Ayliffe, G., eds. Principles and Practice of Disinfection, Preservation and Sterilization. Blackwell Scientific 1992;2:3-6. Innes, M., Umraw, N., Fish, J., Gomez, M., Cartotto, R. The use of silver coated dressings on donor site wounds: a prospective, controlled matched pair study. Burns 2001;(6):621-627. Lansdown, A. Physiological and toxicological changes in the skin resulting from the action and interaction of metal ions. Crit Rev Toxicol 1995;25(5):397-462. Lansdown, A., Williams, A. How safe is silver in wound care? Journal of Wound Care 2004;13(4):131-136. Montes, L., Muchinik, G., Fox, C. Response to varicella-zoster virus and herpes zoster to silver sulfadiazine. Cutis 1986;38(6):363-365. Moyer, C., Brentano, L., Gravens, D., Margraf, H., Monafo, W. Treatment of large human burns with 0.5% silver nitrate solution. Arch Surg 1965;90:812-867. Ovington, L. Silver: fact or fiction? Utilizing the antibacterial mechanisms of silver in wound care. Ostomy Wound Managent 2004;50(9A, suppl):S1-S10. Russell, A., Hugo, W. Antimicrobial activity and action of silver. In: Ellis GP, Luscombe DK (eds). Progress in Medicinal Chemistry, Vol. 31. Philadelphia, Pa: Elsevier Science; 2004:351-370. White, R. An historical overview of the use of silver in wound management. 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