Apelo humanitário, em defesa da vida de mães e de filhos. Hoje precisamos tratar de um assunto de extrema gravidade: a mola hidatiforme, uma doença da placenta, que ataca mulheres em idade reprodutiva. A mola hidatiforme, uma das doenças trofoblásticas gestacionais (DTG), engloba um grupo heterogêneo de proliferação irregular da placenta. Essa enfermidade possui formas benignas, representadas pela mola hidatiforme corfipleta (MHC) ou pela parcial (MHP) e por formas malignas, agrupadas sob o nome de neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) e que engloba a mola invasora, o coriocarcinoma, e outros tumores mais raros, doenças que têm altas chances de cura, mas que podem levar a mulher a óbito devido à gravidez. Com o surgimento da ultrassonografia e a sistematização de quimioterapia para tratamento da NTG, foi possível diagnosticar precocemente as pacientes, poupando-as de sintomas mais graves e preservando-lhes a função reprodutiva. O tratamento dessa neoplasia há mais de 50 anos vem sendo desenvolvido no Brasil, e desde 2014 já existe um sistema de comunicação interestadual, coordenado pela Associação Brasileira de Doença Trofoblástica Gestacional (ABDTG), resolvendo problemas dos 39 Centros de Referência existentes em todo País e esclarecendo dúvidas de várias pacientes acometidas pela DTG. Assim, as pacientes que têm gravidez molar cursam também com um risco de evoluir para neoplasia trofoblástica gestacional — o câncer da placenta. Nesses casos, a quimioterapia apresenta excepcionais índices de cura, quando empregada de modo correto e por médico experiente no tratamento desses tumores. O primeiro quimioterápico a ser utilizado em quase todas as pacientes com NTG foi e é o Methotrexate (MTX). Trata-se de um medicamento utilizado há mais de 50 anos, com mínimos efeitos colaterais, e, principalmente, sem provocar queda de cabelo (alopecia) — um grande temor de nossas pacientes. O MTX é capaz de curar cerca de 80% das pacientes. As demais que apresentarem resistência, toxicidade, ou não tiverem condições socioeconômicas para aderir ao tratamento com o MTX deverão ser tratadas com outro quimioterápico. É aqui que começam os nossos problemas. O medicamento de escolha para essas pacientes, adotado em todo o mundo, é a Actinomicina-D — justamente o medicamento que um único laboratório comercializa no Brasil, e que decidiu suspender sua produção e venda. O que alega esse laboratório? Que o medicamento é ultrapassado e que existem alternativas mais modernas para as pacientes. A verdade meus amigos é que esse medicamento é muito barato e infelizmente insubstituível para alguns cânceres, principalmente um tipo de câncer infantil chamado rabdomiossarcoma e nefroblastoma (tumor de Wilms) e para tratamento da neoplasia trofoblástica gestacional. Assim que descobrimos isso, a ABDTG — órgão médico oficial que representa todos os 39 Centros de Referência brasileiros que tratam mulheres com essa doença, além de reiteradamente acionar o Laboratório produtor, procurou vários órgãos do Governo - Ministério Público Federal (Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e entidades médicas - a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, o Conselho Federal de Medicina, entre outras instituições a fim de denunciar essa infâmia! A diretoria da ABDTG, participando deste 56° Congresso de Ginecologia e Obstetrícia para discutir Mortalidade Materna na DTG, já solicitou um encontro pessoal com as "autoridades" para achar solução sobre essa grave questão. Não vamos desistir! Continuamos lutando! Sabemos que estamos em desvantagem frente aos pesados interesses econômicos aqui envolvidos. Mas precisamos COM URGÊNCIA encontrar uma solução, a fim de que as mulheres acometidas por Neoplasia Trofoblástica Gestacional possam seguir sendo tratadas com alta eficiência e baixa morbidade. Assinado pelos representantes dos CR presentes em Brasília em 12/11/2015