Paisagismo Noções de Ecologia, Geografia e Botânica Concepção botânica do jardim Importância do conhecimento das necessidades e exigências de cada espécie, no que se refere ao cultivo, localização e ambientação adequada, tratamento e cuidados específicos. Cada espécie apresenta características próprias quanto à luminosidade, temperatura, umidade e solo. Para isso são necessários conhecimentos de Botânica, Ecologia, Fitogeografia e Agronomia. Botânica A Botânica dará suporte à compreensão da fisiologia da planta, ou seja demonstrará como elas “funcionam”. Sendo a planta um ser vivo como nós, também possui um metabolismo que avisa quando está com fome, sede, falta de ar, frio, calor e tantas outras necessidades. Também fornecerá os conhecimentos necessários para identificar e classificar as plantas (taxonomia). Ecologia O estudo da Ecologia nos dará as informações necessárias para a compreensão dos mecanismos de adaptação da planta e sua relações de convívio com outras no novo ambiente – o jardim. Ex.: a utilização, nos centros urbanos, de espécies que atraem pássaros favorece o equilíbrio do ecossistema, pois estes fazem com que diminua a superpopulação de alguns insetos nessas áreas. Fitogeografia A Fitogeografia nos trará informações necessárias para a compreensão do habitat das plantas, fornecendo-nos os subsídios necessários para a correta utilização das espécies escolhidas. Também nos ajudará a partilhar, em nossos jardins, da nova concepção de paisagismo, que leva em consideração a preservação e a utilização controlada das espécies vegetais. Em todo o mundo encontramos vários ambientes a caminho ou em estado de degradação, onde espécies vegetais e animais estão sendo extintos pela ação humana. O conhecimento das plantas em seu habitat natural pode possibilitar sua reprodução em viveiros e posteriormente sua utilização em jardins, evitando com isso sua extinção. A Agronomia nos dará suporte necessário ao manejo do solo e das plantas e ao “controle” do jardim, seja para a manutenção da saúde nutricional das plantas ou para o controle de pragas. As plantas são compostas por raízes, caule, folhas, flores, frutos e sementes. Estas partes nem sempre se apresentam na forma com que estamos habituados a visualiza-las, ou seja, encontramos raízes aéreas, folhas em forma de espinhos, etc. Cada uma das partes da planta tem uma ou mais funções, bastante específicas: Raiz – Possui duas funções: fixar a planta ao substrato; captar água e sais minerais para a folhas. A raiz também respira, por isso a terra ao seu redor deve ser arejada para permitir a circulação do ar. As raízes podem ser subdivididas em: subterrâneas axiais, fasciculadas e tuberosas; aéreas adventícias, suportes, estrangulantes, respiratórias, tabulares, grampiformes; aquáticas. Das subterrâneas, interessam mais: as axiais ou pivotantes, em que a raiz principal desce perpendicularmente ao solo em busca de uma fonte de suprimento de água, e as fasciculadas, que, ao contrário, dispõem-se em feixes superficiais ao solo. Isso porque esses dois tipos têm relação direta com o trabalho do paisagista de jardins. As raízes pivotantes são típicas de plantas dicotiledôneas e coníferas, apresentam uma raiz principal e várias secundárias, que saem lateralmente. Algumas árvores apresentam as raízes superficiais mais desenvolvidas do que a pivotante, podendo algumas vezes até levantar pisos ou quebrar calçadas; são as árvores nativas de solos rasos As fasciculadas possuem dezenas de raízes com diâmetros semelhantes, que partem da base da planta. São típicas de palmeiras, gramíneas e outras monocotiledôneas. As espécies com esse tipo de raiz são indicadas para “segurar” terrenos inclinados, ou em processo de erosão, como alguns paus de bambu, com enraizamento bastante agressivo. Caule - tem várias funções: Dar sustentação e a disposição necessária para a copa e as folhas poderem captar a luz, dar resistência aos ventos, servir de estrutura de armazenamento de reservas. Na maioria das vezes é aéreo, podendo porém ser subterrâneo, como no caso dos bulbos. Por ele passam os sistemas de abastecimento entre as folhas e as raízes. As seivas circulam entre as folhas e as raízes nos dois sentidos. Da raiz em direção às folhas, sobre a “seiva bruta”, composta de água e sais minerais. Os nutrientes de que as plantas precisam para suas atividades vitais são 17 elementos químicos que se subdividem em macro e micronutrientes. Elementos estruturais: C (carbono) O (oxigênio) H (hidrogênio) Macronutrientes – necessários em maior quantidade: N (nitrogênio) – componente básico das proteínas P (fósforo) – transmissor de energia essencial no DNA e RNA K (potássio) – controla a água nos tecidos e a respiração Ca (cálcio) – controla o fluxo de água na célula Mg (magnésio) – componente essencial na clorofila e enzimas S (enxofre) – componente de proteínas Micronutrientes – necessários em quantidades mínimas: B (boro) – conduz os carboidratos até as raízes Cu (cobre) – age no processo de respiração Fé (ferro) essencial na fotossíntese Mn (manganês) – síntese de proteínas Zn (zinco) – síntese do amido Si (silício) – componente básico da celulose Cl (cloro) – participa da fotossíntese Mo (molibdênio) – controla a absorção de nitrogênio Os caules podem ser identificados como: troncos nas árvores, estipe nas palmeiras, haste nas herbáceas, calmo nas gramíneas, estolho nas plantas reptantes, suculentos nas cactáceas, subterrâneos nos bulbos e rizomas, pseudobulbos nas orquidáceas, etc. Folhas – São a principal estrutura de produção de alimentos para a manutenção da planta, pois apresentam a maior quantidade de cloroplastos, responsáveis pela fotossíntese que produz glicose. São responsáveis ainda pela evapotranspiração, que é o controle da perda de água que circula na planta. Flores – São o órgão reprodutor da planta. A reprodução em termos evolucionistas é a razão das espécies, e merecem muita atenção também por um outro aspecto: as flores têm importância fundamental na classificação da planta, e é através delas que se define o grau de “parentesco” entre as espécies. São o meio de propagação sexuada das espécies vegetais. A disseminação das sementes pode ocorrer: através do vento, desde sementes aladas até esporos; através do ciclo de amadurecimento do fruto que, ao cair deixa que a semente se desenvolva naturalmente no solo; através de animais que, ao se alimentarem dos frutos, transportam involuntariamente as sementes; através da aderência aos passantes, como é o caso, por exemplo, do picão. Nomenclatura e taxonomia das plantas utilizadas na concepção do jardim É fundamental para o paisagista de jardim conhecer e identificar precisamente as plantas que especifica em seu projeto para que, quando de sua execução, a espécie plantada seja exatamente a mesma que a especificada. Para tanto, utiliza-se a identificação através do nome científico, de linguagem universal, derivado da taxonomia. A taxonomia classifica a planta segundo o Código Internacional de Nomenclatura Botânica, no qual estão expressas as regras a serem seguidas na escolha e seleção do nome que será utilizado para designar uma determinada planta, ou seja: os nomes normalmente são em latim; a nomenclatura de um grupo taxonômico é baseada na prioridade de publicação da primeira espécie descrita; o gênero é definido por uma palavra e a espécie por uma outra palavra; a terminação var (do latim varietas, que indica variedade) é utilizada para plantas de mesma espécie, com pequenas diferenças fisionômicas; a terminação cv (cultivar) é utilizada para plantas de mesma espécie, com pequenas diferenças fisionômicas induzidas artificialmente; algumas plantas são híbridas, e recebem um “X” entre o nome referente ao gênero e o referente à espécie. Segundo os princípios da taxonomia, todas as plantas pertencem a uma dada Espécie; estas estão reunidas em Gêneros; estes, agrupados em Famílias; estas, em Ordens, que estão dispostas em Classes, que pertencem a uma Divisão Resumidamente: Divisões ou Filos > Classes > Ordens > Famílias > Gêneros > Espécie As plantas estão divididas conforme seu grau de parentesco. Reinos vegetais Fungi- São organismos saprófitas ou parasitas desprovidos de clorofila e com reprodução assexuada por esporos. Na jardinagem, interessam-nos: os fermentos, com especial importância para as micorrisas, que fazem simbiose com as árvores fixando nitrogênio do ar em suas raízes. os basidiomicetes, os fungos parasitas, que digerem a celulose e a lignina das madeiras, importantes na produção do húmus e reciclagem dos nutrientes no ambiente. plantas que têm ação destruidora sobre as Lichenes- Estas plantas são constituídas por uma associação simbiótica permanente entre uma alga e um fungo. Os indivíduos desta divisão são encontrados sobre os troncos das árvores, sobre o solo e sobre as rochas. Para a jardinagem, são importantes as algas filamentosas, que infestam os espelhos d’água, ricos em nutrientes. Bryophyta- São plantas herbáceas pequenas, sem os vasos condutores de seiva. A reprodução ocorre por esporos com alternância de gerações e necessitam estar em meio úmido. Nesta divisão, encontramos os musgos usados para forração de lugares úmidos, como as Selaginellas (Pteridophyta) e Sphagnum. Pteridophyta- Evoluíram das Bryophytas e apresentam vasos condutores rudimentares. Sua reprodução também se dá como a das briófitas Desta divisão são muito utilizadas as plantas da ordem Filicales, que abrange as samambaias e avencas (mais de 5.000 espécies), e as das famílias Dicksoneaceas e Cyatheacea, que abrangem os xaxins.. Gymnospermae- São plantas lenhosas com os vasos condutores desenvolvidos. Apresentam flores com sexos separados. Sua reprodução já se faz por sementes nuas, ou seja, que não estão encerradas em ovários. Desta divisão são muito utilizadas as cicas e a maioria das coníferas conhecidas. Angyospermae- São plantas que produzem flores. Suas sementes estão protegidas pelo fruto. É a divisão mais evoluída na escala das plantas. Nesta divisão encontramos a maioria das plantas ornamentais. São divididas em 2 classes: Dicotyledonea e Monocotyledonea. Grupos de plantas utilizadas no paisagismo de jardim É necessário ter conhecimento do grupo formal em que essas plantas se encontram, para facilitar o raciocínio de projeto, pois este inicia-se com o arranjo de volumes e massas de vegetação, e não de indivíduos Existe uma certa hierarquia na organização da especificação, ao mesmo tempo em que podemos visualizar, desde o início, a composição geral do jardim. Árvores: O grupo divide-se em árvores de pequeno, médio e grande porte, variando de 3 m até mais de 100 m de altura. Caracterizam-se por possuir caule e adensamento de folhas na copa. A maioria das árvores pertence à divisão das Angiospermae, classe Dicotyledoneae. As coníferas pertencem à divisão das Gymnospermae, e em sua maioria também se enquadram no porte arbóreo. Ao plantarmos uma árvore, devemos sempre nos preocupar com o seu futuro. Ou seja, nos perguntar, entre outras questões: quando crescer criará algum problema para a rede elétrica? As suas dimensões, com respeito ao volume e área da copa, são compatíveis com o local? E com o distanciamento de plantio proposto? Irá sombrear alguma área onde desejamos sol? Levantará pisos, guias ou calçadas? Poderá criar eventuais obstruções às redes de água e esgotos? Palmeiras: Também divididas em pequeno, médio e grande porte, variam de 0.50 m a 50 m. Distinguem-se das árvores por não possuírem brotação lateral no caule Ainda em relação ao caule, as palmeiras são divididas em dois grupos: as monocaules, que, como o nome diz, têm só um caule (palmitos, coqueiros, etc.); e as multicaules (areca-bambu, açaí, etc.). Arbustos: São plantas que não atingem grande porte; em geral são espécies lenhosas e possuem formação densa junto à superfície do solo. Neste grupo encontram-se algumas trepadeiras, como alamanda, e folhagens como o guaimbé e a sanchesia. Herbáceas: possuem caule com consistência de erva e pouco desenvolvido, portanto têm hábito rasteiro. Neste grupo, incluem-se as forrações (ajuga, clorofito, etc.), as folhagens (marantas, etc), as gramíneas (grama preta, grama São Carlos, etc) e algumas trepadeiras, por exemplo (ipomea) as madressilvas e a hera (estas espécies seriam classificadas como semilenhosas. Além dessas, encontramos as semi-herbáceas: a yuca-mansa, ou filamentosa. Existem também alguns arbustos herbáceos: helicônias. Epífitas: São plantas que se desenvolvem sobre as árvores, para receber mais luz. Esse hábito muitas vezes faz com que pareçam parasitas. O cultivo das epífitas deve conter substratos ricos em matéria orgânica, fibras e uma excelente drenagem. As mais conhecidas: as bromélias, as orquídeas, algumas cactáceas (ripsalis) Aquáticas: Ainda pouco usuais por causa das dificuldades em controlar o desenvolvimento das algas verdes As plantas aquáticas subdividem-se em três grupos: as que ficam submersas, as que ficam na superfície e as que vivem em terras encharcadas. Muitas podem ser cultivadas em vasos. Entre as mais comuns estão: aguapés, ninfeas, lótus, taboas e papiros. Filícias: São samambaias, avencas, chifres-de-veado, cavalinhas, entre outras plantas que se caracterizam por te duas fases de vida: assexuada e sexuada (na qual necessitam de muita umidade para se reproduzir). Como forrações temos o grupo das herbáceas, algumas cactáceas, aquáticas e algumas filícias. Fitogeografia – Domínios vegetais e Clima A Fitogeografia é um ramo da geografia que estuda a distribuição dos domínios vegetais. O relevo relacionado à altitude e o clima, associados à Fitogeografia, definem os domínios vegetais. É importante relacionarmos as plantas ao clima do ambiente de origem em que se encontram naturalmente. Os domínios vegetais, como o nome sugere, são áreas onde predominam uma determinada fisionomia. Essas paisagens têm um caráter próprio, resultado da evolução por que passaram as inúmeras espécies animais e vegetais que a compõem, em resposta às carências e disponibilidades oferecidas pelo meio físico em que se encontram. Clima e domínios vegetais do Brasil O Brasil tem grandes domínios tropicais, divididos em várias paisagens. São eles: Floresta Tropical Amazônica, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Complexo Pantaneiro. Pantanal Possível identificar uma série de coberturas vegetais, a região pode ser compreendida como sendo uma área de transição entre diferentes tipos de ecossistemas apresentados no território brasileiro. Diante da heterogeneidade do pantanal quanto a cobertura vegetal podemos destacar a presença de campos que periodicamente permanecem inundados no período chuvoso, além de floresta tropical e equatorial, esse domínio ocorre nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Floresta Amazônica: Cobertura vegetal de origem equatorial constituída por uma grande variedade de espécies com grande concentração de plantas , as árvores são de grande porte e copas largas, ou mata fechada, essa pode ser encontrada nos Estados do norte do país. Aparentemente apresenta cobertura homogênea com diferenças Mata de igapó (ocorre nas margens de rios que se encontram alagadas o ano todo), Mata de várzea (abriga uma imensa variedade de espécie e passa por inundações em determinados períodos do ano) e Mata de terra firme (não sofre inundações e ocupa grande parte da região). Mata Atlântica: Corresponde a uma cobertura vegetal tropical com árvores altas e densas, atualmente só resta um pequeno percentual, cerca de 7% , dessa importante vegetação que já cobriu grande parte do Brasil, pois cobria desde o litoral do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte e algumas partes mais interiores como São Paulo, Minas Gerais e Paraná e já abrigou uma riquíssima biodiversidade e ecossistemas. Caatinga Vegetação característica de clima semi-árido que ocorre no sertão nordestino, constituído por plantas adaptadas à escassez de água, possui aspectos singulares com caules grossos e raízes profundas para garantir a sobrevivência ao longo de extensos períodos sem chuvas, nesses momentos essas plantas perdem suas folhas para evitar a transpiração e perda de umidade. Cerrado vegetais com troncos retorcidos e folhas grossas, é influenciado pelo clima tropical típico, com duas estações bem definidas, sendo uma seca e uma chuvosa. Essa cobertura vegetal é mais comum no centro-oeste do Brasil. O cerrado não é uma vegetação homogênea, pois existem variações em sua composição, desse modo existem os subsistemas do cerrado que são: cerradão, cerrado comum ou típico, campos e cerrado. A tortuosidade das árvores do cerrado é proveniente da acidez do solo e da alta concentração de hidróxido de alumínio.