O ARQUIVO DA CAPA
ESTÁ EM COREL
DRAW
Expediente
Ministro da Ciência e Tecnologia
Sergio Rezende
Secretário Executivo
Luis Manuel Fernandes
Secretário de Ciência e
Tecnologia para Inclusão Social
Aniceto Weber
Secretário de Políticas e Programas
de Pesquisa e Desenvolvimento
Luiz Antonio Barreto de Castro
Secretário de Desenvolvimento
Tecnológico e Inovação
Luiz Antônio Rodrigues Elias
Secretário de Política
de Informática
Augusto Gadelha
Publicação do MCT
Distribuição gratuita
Chefe da Assessoria de Comunicação
Vera Canfran
Carta do Editor
B
ase da maior biodiversidade
em todo o mundo, a Região
Amazônica é um dos destaques dentro dos objetivos
estratégicos do Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT). Toda
a riqueza compreendida nesse
ecossistema, que conta com estrutura produtiva e dinâmicas próprias,
despertou a necessidade de se criar
políticas específicas de ocupação e
de desenvolvimento sustentável.
Esta visão está presente nos planos
nacionais direcionados para a Amazônia e nos programas e projetos do
MCT para aquela Região.
Exemplos concretos não faltam. Temos o Projeto de Grande Escala para a Pesquisa da Atmosfera e
da Biosfera Amazônicas (LBA, sigla
em inglês), responsável por importantes investimentos na infra-estrutura científica da Amazônia, com a
instalação de novos sítios de pesquisa, e pela formação de centenas de
jovens cientistas.
Editor
Gustavo Sousa Jr
MTB 4.079/DF
Revisão
Robson Leão
Foto da Capa
Jefferson Rudy/Ascom-MMA
Repórteres
Andrea Fontenele, Andréa Vilhena,
Carlos Freitas, Gustavo Sousa Jr,
Helena Beltrão, Lúcia Pinheiro,
Rachel Mortari, Renata Dias,
Robson Leão
Impressão
Gráfica Brasil
Uberlândia - MG
Tiragem
5 mil exemplares
Ministério da Ciência e Tecnologia
Esplanada dos Ministérios, Bloco E
Brasília - DF, CEP.: 70067-900
Tel.: (61) 3317-7515
www.mct.gov.br
O Brasil deu o primeiro
passo na consolidação do
novo Centro de
Lançamentos de Alcântara.
Foi criada oficialmente a
Alcantara Cyclone Space,
em parceria com a Ucrânia.
Na próxima edição, você
confere esta e outras
novidades na entrevista
com o presidente da
Agência Espacial Brasileira,
Sergio Gaudenzi.
2
Mas esses são apenas dois dos
muitos exemplos que procuramos reunir nesta edição da Revista CT&I.
Você verá também que a preocupação com ações voltadas à ciência
e tecnologia na Região não é recente.
Na matéria sobre o Museu Paranaense
Emílio Goeldi, veremos que a instituição, hoje vinculada ao MCT, vem investindo há 140 anos na pesquisa e na
promoção da ciência e do desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Boa Leitura!
Assessoria de Comunicação do
Ministério da Ciência e Tecnologia
No próximo número
Projeto Gráfico,
diagramação e arte
Cláudia Capella
Fotografia
Pedro Bonatto
A Rede Geoma, por sua vez, desenvolve atividades em torno da sistematização de procedimentos e no
subsídio à elaboração de políticas
públicas voltadas ao ordenamento
fundiário e territorial, no âmbito do
Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia.
Cooperação
Desenvolvimento:
o maior desafio
Gustavo Sousa Jr
Brasil recebe cientistas
e autoridades políticas
A
ngra dos Reis (RJ) recebeu
mais de 400 cientistas de
50 países, de 2 a 6 de setembro deste ano. A cidade, a 170km da capital
fluminense, foi palco da 10ª Assembléia Geral da Academia de Ciências
do Mundo em Desenvolvimento
(TWAS, sigla em inglês), encontro que
ficou marcado pelo consenso sobre
a necessidade de aumentar a cooperação científica entre países em desenvolvimento.
Como representante do governo brasileiro, o ministro da Ciência e
Tecnologia, Sergio Rezende, leu a
mensagem enviada pelo presidente
da República, aos participantes, na
qual Lula enfatizou a necessidade de
união das nações tendo como meta o
desenvolvimento. “Os países em desenvolvimento devem se dar as mãos
e explorar suas potencialidades e a
sinergia que existe entre nossos povos e economias. A ciência e a
tecnologia têm um papel importantís-
de países em
desenvolvimento para
discutir ações conjuntas
de promoção científica
e tecnológica em
todo o hemisfério sul
O Prêmio Nobel David Gross falou sobre o futuro da Física na palestra de abertura
3
O indiano Chintamani Rao,
que encerrou seu mandato de seis
anos como presidente da TWAS na
Assembléia, fez um veemente pronunciamento, revelando alguns dos
bons resultados obtidos na solução
de problemas dos países pobres,
graças à cooperação científica entre
cientistas do mundo em desenvolvimento. Ele exortou as academias
de ciências e representantes de governos a investirem mais na troca
de informações, experiências e conhecimentos.
ELEIÇÃO
O matemático Jacob Palis, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, é o segundo
brasileiro a ocupar a presidência da TWAS. O primeiro foi o ex-ministro Israel Vargas
simo a desempenhar em áreas estratégicas para o hemisfério sul.”
Ainda em sua mensagem, o
presidente afirmou que “a ciência se
constitui em importante ferramenta
para forjar um mundo onde as
biodiversidades são mais respeitadas
e mais consciente em relação à sua
unidade fundamental”.
Em seu próprio discurso, o ministro disse estar seguro de que o futuro dessas nações depende da forma como são planejadas e
implementadas as políticas públicas
em educação, ciência e tecnologia.
Em relação à cooperação entre países, ele reafirmou a importância de
que essa ocorra, sobretudo, no campo das ciências básicas, mas destacou a necessidade de focalizar mais a
troca de conhecimento em áreas
interdisciplinares que tenham impacto no dia-a-dia das populações,
como saúde, agricultura sustentável,
fármacos, softwares e tecnologias da
informação, biocombustíveis e outras energias renováveis, biotecnologia, nanotecnologia e clima.
“Cada país participante tem algo
a contribuir e alguma coisa a ganhar
em uma ou outra das suas múltiplas
necessidades em pesquisa”, assegurou
4
o ministro, para quem uma efetiva cooperação – capaz de promover o avanço do conhecimento e, ao mesmo tempo, contribuir para o crescimento dos
países – deve ser organizada em diferentes níveis: bilateral, sub-regional,
regional e inter-regional.
O ministro enumerou algumas
iniciativas de sucesso no Brasil na área
de cooperação científica internacional
e informou que o Brasil vem aumentando a sua contribuição financeira
para a TWAS, que somou nos últimos
três anos US$ 1,5 milhão.
Moacir Krieger, presidente da
Academia Brasileira de Ciências –
instituição que promoveu o encontro juntamente com o Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT) –, destacou os avanços da aproximação
maior entre cientistas do mundo em
desenvolvimento. “Mais e mais cientistas vêm se tornando conscientes de que o seu papel não é apenas
promover o desenvolvimento da ciência – que naturalmente é a sua
principal meta –, mas também, e ao
mesmo tempo, buscar soluções
para os problemas sociais, econômicos e ambientais, problemas que
afetam a humanidade e se chamam
saúde, água, comida, energia e
biodiversidade”, afirmou.
O encontro de Angra do Reis foi
marcado pela eleição da nova diretoria da TWAS. O brasileiro Jacob Palis,
pesquisador titular do Instituto de
Matemática Pura e Aplicada (Impa/
MCT), foi eleito como novo presidente da instituição. Nos próximos seis
anos, Palis – que já ocupava o cargo de
diretor geral – estará à frente TWAS.
Esta é a segunda vez que um
brasileiro preside a Academia. O cientista e ex-ministro de Ciência e
Tecnologia, José Israel Vargas, ocupou o cargo de 1994 a 2000, sendo
substituído pelo indiano C. Rao.
“Nós estamos constatando o fortalecimento da nossa atuação através
de resultados de nossos programas e a
excelência dos pesquisadores que ajudamos a formar. Vamos intensificar as
cooperações entre países, entre entidades e pesquisadores e incentivar a
cooperação entre nações do sul e do
norte”, afirmou Jacob Palis.
PREMIAÇÃO
O evento contou, ainda, com a
distribuição de prêmios e medalhas a
cientistas que se destacam por seus
trabalhos em diversas áreas da ciência, entre eles os brasileiros Maurício
Terrones, engenheiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o próprio Jacob Palis, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa/MCT).
O governo brasileiro concedeu
sua mais alta condecoração em ciência e tecnologia, a de Comendador da
República Classe Grã-Cruz, a Phillip
A. Griffiths, diretor emérito do Instituto para Estudos Avançados, dos Estados Unidos.
G77
Países criam consórcio na
área de Ciência e Tecnologia
O
Grupo dos 77 (G77), maior
rede dos países-membros das
Organização das Nações Unidas (ONU) voltados às questões do mundo em desenvolvimento,
e a TWNSO, uma associação internacional que reúne instituições científicas focadas no desenvolvimento
sustentável, anunciaram a criação
do Consórcio de Ciência, Tecnologia
e Inovação para o Sul (COSTIS, sigla
em inglês). A notícia foi dada durante o Encontro de Ministros de Ciência e Tecnologia do G77, evento que
aconteceu simultaneamente à Conferência da TWAS.
“O G77 reconhece a importância crítica da ciência e tecnologia nos
esforços para aliviar a pobreza e promover o desenvolvimento econômico”, afirmou o presidente do G77 e
representante da África do Sul na
ONU, Dumisani Kumalo. “A criação
do COSTIS representa o coroamento
de um processo iniciado há seis anos,
em Cuba, durante a 1ª Conferência
dos Países do Sul. Estamos felizes em
ver a criação da COSTIS, que irá gerar todo o instrumental necessário
para fazer da ciência, tecnologia e
inovação parte integral da nossa organização”, concluiu.
sórcio irá permitir que o G77 tenha
acesso direto a uma rede de instituições que é responsável por algumas
das melhores pesquisas científicas no
mundo desenvolvido. Ao mesmo
tempo, irá permitir que a TWNSO trabalhe diretamente as questões científicas com os mais altos níveis governamentais na solução de problemas sociais e econômicos críticos nos
países do hemisfério sul.”
Rao disse, ainda, acreditar
que “a sinergia criada por essa parceria pode ter impacto significativo na eliminação da pobreza e no
desenvolvimento econômico” dos
países da região.
ABERTURA
Na abertura da reunião, o ministro de Ciência e Tecnologia da África do Sul, Mosibudi Mangena, agradeceu ao governo brasileiro, à TWAS e à
Academia Brasileira de Ciências por
apoiarem o encontro e ressaltou a importância do G77 para os países que
integram o grupo. “Acredito que há
uma riqueza de conhecimento e informação na cooperação internacional de
ciência e tecnologia que compartilhamos. Precisamos traduzir nossas experiências visando fortalecer nossas
sociedades”, afirmou.
“É fundamental que trabalhemos juntos. Estou confiante de que
obteremos bons resultados deste
nosso encontro”, reforçou o ministro brasileiro, Sergio Rezende.
O G77 é a maior coalizão de
países em desenvolvimento dentro
da Organização das Nações Unidas.
Criado em 1964, fornece os meios
para articulação e promoção dos interesses econômicos comuns dessas
nações, bem como para a cooperação técnica.
O Consórcio tem como objetivo promover a capacitação científica por meio do intercâmbio de conhecimento. Ele irá, ainda, incentivar o compatilhamento de experiências inovadoras no uso da ciência e
tecnologia e, mais genericamente,
buscar formas de integração entre as
comunidades políticas e científicas
tanto entre os países do hemisfério
sul, quanto no diálogo com aqueles
do hemisfério norte.
Para o presidente da TWAS e
da TWNSO, C. Rao, essa união de forças é uma situação onde todos – G77
e TWNSO – tendem a ganhar. “O Con-
O Encontro do G77, maior coalizão de países em desenvolvimento dentro da ONU
5
Tecnologia
Projetos promovem o
desenvolvimento
sustentável
da Amazônia com
o apoio de
Tecno
a serviço da
conservaç
recursos inovadores
Carlos Eduardo Freitas
O
s novos rumos das pesquisas tecnológicas e as experiências que já estão sendo
realizadas na Amazônia consolidam, de maneira categórica, a discussão sobre o uso sustentável e o aproveitamento da imensa
biodiversidade da região.
A produção de novos cosméticos e fármacos é prova das oportunidades que podem ser criadas com os
recursos da biotecnologia, nanotecnologia e a utilização consciente da
terra e de seus recursos naturais.
Novos investimentos por parte
de empresas nacionais e internacionais surgem como alternativa ao crescimento da indústria da soja e da pecuária, que desmata enormes áreas de
terra, sem preocupar-se com a preservação das características locais. Esses
recursos garantem, ainda, a manutenção de projetos que utilizam inovação
e tecnologia para o crescimento.
Neste contexto, o modelo de
desenvolvimento sustentável se encaixa perfeitamente, pois consegue
unir a preservação com a atividade
econômica, na busca por novas alternativas para a produção.
Na opinião da diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/
MCT), Ima Vieira, a saída está na consolidação da infra-estrutura e no amplo suporte tecnológico das áreas já
alteradas – aproximadamente 17% –,
6
além do uso sustentável dos 83% restantes de floresta amazônica.
Por ser um região muito heterôgenea, não existem modelos fixos
para a formulação de projetos. Outros
fatores que dificultam o crescimento
são a falta de mão-de-obra especializada e as dificuldades logísticas de transporte e venda direta.
“Para se produzirem novas estratégias de ciência e tecnologia na
região amazônica, deve ser considerada a criação de programas que induzam a produção do conhecimento, com o planejamento de ações integradas entre os diferentes ministérios e a conexão entre C&T e políticas
públicas”, afirma a diretora.
É importante verificar que a
transferência de conhecimento também é um fator de diferenciação, assim
como a garantia da propriedade intelectual envolvida em todo o processo.
TREINAMENTO
Para promover as mudanças
necessárias ao crescimento da Amazônia, a formação de pesquisadores é
um dos fatores primordiais e mais
relevantes.
Com um número reduzido de
cientistas, a formação de jovens que
tenham visão integrada do processo
e saibam vencer os desafios de gestão territorial é fundamental para o
nologia
ação
sucesso de iniciativas a médio e longo prazos na região.
Para o presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), Ennio Candotti, as universidades locais devem encontrar novos instrumentos para o fomento da pesquisa e formação de recursos humanos,
com significativa ampliação do número de bolsas de pesquisas.
Analisando a questão de maneira mais ampla, Candotti afirma que
as iniciativas obterão sucesso se forem observados aspectos como o
modo de fixação dos profissionais, as
metas de pesquisa e a infra-estrutura
tecnológica para a região.
“A questão não é apenas o desenvolvimento sustentável voltado
para a floresta. Para as ações serem
concretizadas, é necessário realizar
investimentos em transportes, telecomunicações e logística”, disse.
Na opinião da especialista Berta
Becker, a saída para a região está na
organização da base produtiva de trabalho. “Acredito que é muito importante se realizarem estudos locais e
se produzirem perspectivas do mercado real. Devemos estar integrados
a esse processo, delimitando quais as
melhores ações em cada localidade.”
MAMIRAUÁ
Diversos especialistas ouvidos
pela revista CT&I afirmaram que a
parceria entre governo, iniciativa privada e agentes locais é uma das melhores formas para se conseguir obter sucesso em iniciativas e projetos no setor.
Um exemplo desse tipo de projeto está sendo conduzido no Instituto de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, instituição vinculada ao
Ministério da Ciência e Tecnologia.
Resultado da parceria com o Programa Petrobras Ambiental, a instituição realiza junto às comunidades ribeirinhas a análise e o acompanhamento de toda a produção agrícola.
O monitoramento visa quantificar o percentual de áreas de matas
virgens para uso agrícola e promover, entre as famílias produtoras, a
reflexão sobre a sustentabilidade dos
processos que estão realizando.
“A agricultura ribeirinha fortalece os laços com a terra, gerando
emprego e cidadania. Hoje, é nítido
o esforço no sentido de que as associações comunitárias passem a influenciar as políticas públicas no
País e garantam um rumo diferenciado para a agricultura na Amazônia”, disse a coordenadora do Programa, Bianca Lima.
Para realizar o serviço, os agrônomos Márcio Alexandre da Silva e
Janaina de Aguiar, que também integram o projeto, coletaram dados pessoais, socioeconômicos e ambientais
em dez comunidades, entre outubro
de 2005 e junho de 2006.
“Nossa proposta é manter as
populações ribeirinhas dentro das
unidades de conservação, trabalhar
com elas a educação ambiental e
estimulá-las a fazer o manejo sustentável dos recursos. Então avaliaremos se os impactos dessa atividade
estão afetando a reprodução e a manutenção das espécies na região”,
explicou Janaina.
Com a expansão da fronteira
agrícola e o desflorestamento na
Amazônia, a emergência de práticas
agroecológicas tornou-se condição
necessária para evitar o desmatamento e conservar a região.
As ações nessa área são feitas
normalmente pelas famílias, por isso,
a agricultura familiar é importante
fator de transformação dos ecossistemas florestais na Amazônia.
Visitas
comunitárias
Reserva Mamirauá: 128 roçados de 81
famílias, que cultivam 107 variedades de
diferentes culturas anuais e perenes. Área:
17,5 hectares,
n
Reserva Amanã: 70 roças de 60 famílias,
que correspondem a uma área de 70,62
hectares na região.
n
Atualmente, 62 comunidades na Reserva Mamirauá e 25 comunidades na Reserva Amanã participam de programas do
Instituto Mamirauá, beneficiando aproximadamente 10 mil pessoas.
n
7
Memória
Goeldi:
conhecimento centenário
sobre a realidade amazônica
Produzindo e disseminando o saber científico sobre a Amazônia, o Goeldi é um órgão estratégico para o desenvolvimento da região
Robson Leão
A
o completar 140 anos (comemorados em 9 de outubro), o Museu Goeldi mantém-se fiel às diretrizes que
o nortearam desde as origens, como museu e como instituição
de pesquisa: divulgar a ciência para um
público o mais amplo e variável possível, e produzir conhecimentos qualificados sobre uma região valiosa e de importância estratégica para o País.
Primeira instituição científica
da Amazônia, abrigando os mais antigos parque zoobotânico e aquário
público do Brasil, a entidade é precursora na pesquisa da realidade
amazônica – a terra e o homem –, daí
também seu pioneirismo no estudo
da Antropologia no País. Esses dados,
por si, dão uma dimensão da importância do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG) - entidade hoje vinculada ao Ministério da Ciência e
Tecnologia - para o patrimônio científico nacional.
8
HISTÓRICO
Impulsionada pela riqueza do
ciclo áureo da borracha, a cidade de
Belém do Pará viveu na segunda metade do século XIX um período de
efervescência econômica e cultural.
Nesse contexto, apoiado pelas autoridades locais, o naturalista mineiro Domingos Soares Ferreira Penna criou,
em 1866, a Associação Philomática
(aqueles que amam a ciência), com o
objetivo de estudar o homem indígena
amazônico e, por extensão, a geologia,
geografia e outros temas correlatos.
“Não existiam universidades por aqui,
então a instituição exerceu esse papel
precursor e aglutinador de uma ampla
agenda científica na Região”, esclarece
a atual diretora do MPEG, Ima Vieira,
cujo pai também trabalhou no Goeldi,
na década de 1950.
Em 1870, a Associação mudou
seu nome para Museu Paraense de
Ethnografia e História Natural, mas depois de um começo promissor, a instituição passou por dificuldades, chegando a ser desativada. Só após a Proclamação da República é que ganhou novo
impulso, com a retomada do interesse, pelo novo regime, em desenvolver
o estudo científico na região.
Corria o ano de 1894 quando
assumiu como diretor do museu o naturalista suíço Emílio Goeldi. Ele logo
implantou um zoológico e um horto
botânico, em que já se destacavam espécies genuinamente nacionais. Precisando de um espaço maior para abrigar o jardim botânico, Goeldi solicitou ao então governador Lauro Sodré
uma nova área, no que foi atendido
com a aquisição do sítio da Rocinha,
no ano seguinte. Com a compra de terrenos adjacentes à Rocinha, a área
chega aos 5,4 ha atuais, e começa então a implantação do Parque Zoobotânico. A parte da flora ficou sob a
responsabilidade do botânico – e também suiço – Jacques Huber, que adquiriu inúmeras espécies para a coleção do Parque, plantas que até os dias
de hoje encantam o público.
A adesão do público à instituição sempre foi notória, e já no início
do século XX, um grande número de
pessoas, de todas as classes sociais,
faziam fila à frente do Museu Paraense
para admirar a flora e fauna do Parque. Outros espaços foram sendo
inaugurados, como o Aquário, o Lago
da Vitória Régia e o Viveiro das Aves
Brejeiras, aumentando as atrações e
o interesse dos belenenses. Em 1900,
chegou-se à impressionante marca
registrada de 90 mil visitantes, o que
equivalia a toda a população da cidade na época. Ainda hoje, o público visitante à instituição está acima dos
padrões vigentes, chegando a receber 300 mil pessoas por ano.
O Museu Paraense veio a ser a
mais produtiva instituição científica
nacional de seu tempo, obtendo reconhecimento da comunidade científica internacional e prêmios na Inglaterra, Itália e Estados Unidos. O
sucesso de Emílio Goeldi deveu-se, sobretudo, à articulação de uma competente equipe de pesquisadores, ao
apoio das autoridades estaduais, à
adesão da elite e ao apreço popular
pelas atrações diversificadas do Parque Zoobotânico.
Foi ainda na gestão de Goeldi
que ficaram definidas as quatro áreas
de pesquisa do Museu, permanecentes até hoje: Botânica, Zoologia,
Ciências Humanas e Ciências da Terra e Ecologia. Por seu trabalho científico - que auxiliou, inclusive, o Brasil na disputa com a França pelo território do atual estado do Amapá -, a
instituição passou a chamar-se Museu Goeldi, mas só em 1931 chegouse à atual denominação.
O MUSEU HOJE
Atualmente, o Museu Goeldi
dispõe de três bases físicas: o Parque Zoobotânico, onde ficam o zoológico e o horto botânico, além de
setores administrativos, e o
Campus de Pesquisa, sede das Coordenações de Pesquisa e das coleções científicas, ambos em Belém.
Já a Estação Científica Ferreira
Penna, fundada em 1993, está localizada no município de Melgaço,
a 400km da capital, e serve como
base de apoio para pesquisadores
na Floresta Nacional de Caxiuanã.
Sempre atento ao ideal de
disseminar o saber científico sobre
a Amazônia, o MPEG vem realizando diversas atividades culturais e
educativas, o que acaba contribuindo para estreitar o elo entre a Instituição, a sociedade e o seu meio
ambiente.
O Clube do Pesquisador Mirim,
por exemplo, busca despertar nas
crianças e jovens estudantes o interesse pela pesquisa científica, por
meio de oficinas teóricas e práticas
sobre o meio ambiente – flora, fauna,
recursos naturais –, história e préhistória amazônica. O Projeto AlfaCiência, em parceria com as universidades Federal (UFPA) e Estadual
(UEPA), Instituto Evandro Chagas,
Secretaria Estadual de Meio Ambiente e outras entidades do estado, capacita professores da rede pública visando inovar o processo de ensino e
aprendizagem, tendo como base a linha teórico-metodológica da alfabetização científica.
Já o Prêmio José Márcio
Ayres contempla jovens das escolas
públicas e privadas do Pará, premiando as melhores pesquisas realizadas pelos estudantes sobre a fauna e
a flora amazônicas.
Biblioteca Clara Galvão, voltada para
alunos dos ensinos médio e fundamental
Com aproximadamente 4 mil
itens, como animais empalhados e
artefatos indígenas, a Coleção Didática Emília Snethlage é utilizada por
estudantes – do ensino fundamental
a universitários – e por instituições
como o Corpo de Bombeiros e a Polícia Ambiental. Outra fonte de dados
é a Biblioteca Clara Galvão, que conta com cerca de 2 mil livros, além de
jogos e kits educativos na área de
Comemoração
C
omo parte das celebrações
pelos seus 140 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi
montou no prédio da
Rocinha, localizado no Parque
Zoobotânico, a exposição Reencontros: Emílio Goeldi e o Museu
Paraense, onde o público poderá
conhecer, entre outras coisas, a trajetória do consolidador da Instituição, Emílio Goeldi, bem como a contribuição de outras personalidades
que o auxiliaram, como Jacques
Huber e a ornitóloga alemã Emília
Snethlage. Além disso, poderá conferir, também, os primeiros espécimes das coleções botânica e zoológica, alguns coletados pelo próprio
Goeldi. Há previsão de que a exposição fique aberta ao publico por,
pelo menos, dois anos.
Conheça mais o MPEG na página
http://www.museu-goeldi.br
educação ambiental. E com o apoio
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq/MCT), a Escola Virtual de Assuntos Amazônicos (EVA) disponibiliza acervos e instrumentos
educativos diversos via internet.
Seja como museu, onde garante a conservação e exposição de valiosos acervos, ou como instituição
científica, realizando pesquisas de
ponta e formando recursos humanos
em nível de graduação, mestrado e
doutorado, o Goeldi vem se mostrando, ao longo de sua trajetória,
ser um órgão estratégico para o desenvolvimento da região Norte. “E
por meio da interdisciplinaridade,
queremos garantir a formação de
quadros qualificados que irão resguardar a continuidade das pesquisas e estudos futuros”, atesta a diretora Ima Vieira, de forma a manter,
segundo ela, “o MPEG como um
referencial em pesquisa, divulgação
científica, educação em ciência e
ambiental, em informação e documentação científica sobre a Amazônia e sua gente”.
9
Desenvolvimento
Jefferson Rudy/Ascom-MMA
Amazônia:
uma prioridade
para a nação
Rachel Mortari
Institutos ligados
à área de ciência e
tecnologia reúnem-se
em projetos para criar
modelos voltados
ao desenvolvimento
sustentável de toda a
Região Amazônica
10
F
ormada por sete estados brasileiros e oito países, a Floresta Amazônica conta com
fauna e flora exuberantes.
Em sua área de 5,5 milhões
de km2 - 60% da qual em território
nacional - abriga também uma grande sociodiversidade, representada
por mais de 200 povos indígenas e
comunidades locais.
Esse cenário, no entanto, esconde um mosaico de problemas
pautados na velha dicotomia do desenvolvimento versus destruição.
Uma problemática que inclui
grilagem de terra, trabalho escravo, narcotráfico, desmatamento e
queimadas. O impacto desse conflito, a médio e longo prazos, é uma
das preocupações das pesquisas realizadas pela Rede Temática de Pesquisa em Modelagem da Amazônia
(Rede Geoma), formada por sete
institutos vinculados ao Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT).
"A projeção de cenários com o
objetivo de nortear políticas públicas
é um dos trabalhos mais interessantes realizados pelo Geoma. Essa projeção permite a elaboração de políticas com perspectiva de futuro, levando-se em consideração a dinâmica
dos
sistemas
ecológicos
e
socioeconômicos, em diferentes escalas geográficas", esclarece o diretor do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), Gilberto Câmara.
Uma das primeiras avaliações
do Geoma foi em parceria com o
Inpe, na identificação das áreas potenciais para o desmatamento. O
Geoma iniciou suas atividades em
2003 e fez um levantamento do
desflorestamento da área em função
da ocupação agrícola no município
de São Félix do Xingu (PA), cujo índice de desmantamento continua
sendo o mais alto do País, numa região que há poucos anos tinha área
de floresta relativamente intacta.
A Terra do Meio, onde foi realizada as pesquisas, estende-se por
Estudar o desenvolvimento
desse processo, que substitui a floresta pela pecuária - e suas conseqüências envolveu geólogos, antropólogos, ecólogos, matemáticos,
analistas de sistemas e biológos.
Esse debate multidisciplinar visa
ajudar o estado a realizar o ordenamento territorial e considerar ações
que atenuem o quadro em áreas
onde foram eliminadas as reservas
legais e as áreas de preservação permanente, além da repressão as atividades irregulares.
"Hoje tem mais gado do que
gente na Amazônia. O Pará é 3º maior produtor de gado do Brasil e já
existem grandes frigoríficos na região. A floresta já foi desmatada e
devemos evitar que isso ocorra em
outras áreas. Uma alternativa para
garantir que os pecuaristas não vão
continuar o processo de desmatamento seria criar uma certificação
de produtos, além de zonear o território. Os estudos do Geoma podem contribuir para isso", explica a
diretora do Museu Emílio Goeldi,
Ima Vieira.
Pesquisas Físicas (CBPF), Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e o
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
FISCALIZAÇÃO
O levantamento da área
desmatada da floresta é realizado
desde 1977, com o auxílio de imagens de satélite, pelo Projeto de Estimativa de Desflorestamento da
Amazônia (Prodes), do Inpe. A estimativa da taxa do desmatamento é
anual. Inicialmente, as imagens
eram feitas em preto em branco.
Após um período sem funcionar,
retornou em 1988, já com nova
tecnologia e imagens coloridas.
A partir de 2003, as informações, que eram restritas apenas à pesquisa, passam a ser disponibilizadas
na internet. "Os resultados cartográficos e os mapas do desmatamento
estão disponíveis na rede, o que per-
mite, além da definição de políticas
públicas, o efetivo acompanhamento
da sociedade sobre as áreas
desmatadas", comenta o coordenador
de sensoriamento remoto do Inpe,
Dalton Valeriano.
O fato do Prodes só apresentar
seus resultados do ano em março do
ano seguinte - tendo como base 1º de
agosto de cada ano - levou a equipe
do Inpe a desenvolver o Projeto de
Detecção de Áreas Desflorestadas em
Tempo Real (DETER), em funcionamento desde 2004. O projeto está inserido no contexto do monitoramento da floresta Amazônica brasileira por satélite e é parte das atividades do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia Brasileira, do governo
federal. É um projeto do Inpe com o
apoio do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama/MMA).
MMA/Ibama
cerca de 8 milhões de hectares, entre os rios Xingu e Tapajós, no Pará.
Faz fronteira com as terras indígenas
Arara, Kararaô e Cachoeira, Serra do
Iriri ao norte, com a estrada Cuiabá/
Santarém a oeste, com o Xingu a leste, com as terras indígenas Kaiapó ao
sul, e abrange os municípios de São
Félix do Xingu e Altamira.
Segundo ela, os pesquisadores
do Geoma foram os primeiros a
alertar para problemas como escravidão, grilagem e narcotráficos, questões diretamente ligadas à ocupação
da terra. "Não foi o Geoma que criou
as unidades de conservação, mas
nosso estudo orientou o Ministério
do Meio Ambiente e atua em parceria com a fiscalização do Ibama."
A Rede Geoma é coordenada
pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), Peter Toledo, e é integrada,
também, pelas unidades vinculadas
ao MCT. São elas: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa), Laboratório Nacional de
Computação Científica (LNCC), Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Centro Brasileiro de
Os estudos envolvem análises sobre os impactos do desenvolvimento na biodiversidade
11
Marcello Casal Jr/ABr
de Infra-Estrutura fossem aplicados
nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
A segunda fase prevê a formação de redes temáticas de pesquisas,
com o objetivo de responder adequadamente às grandes questões que afetam a Região Amazônica. Essa fase
corresponde ao período de 2005 a
2008 e receberá US$ 6,5 milhões,
sendo US$ 5,1 milhões da Agência
Norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), US$
700 mil do Banco Mundial e US$ 753
mil do governo brasileiro.
Queimadas irregulares eliminam reservas legais e áreas de preservação permanente
O sistema permite fazer o
monitoramento de forma mais eficiente. "Com a implantação do Deter tivemos capacidade de planejar as
operações de fiscalização de maneira mais realista. Tem sido uma ferramenta eficaz para planejar e
redirecionar as nossas ações", esclarece o diretor de Proteção Ambiental
do Ibama, Flávio Montiel.
As informações são passadas
para o Centro de Monitoramento do
Ibama e distribuído para as bases
operacionais na Amazônia.
INSTITUIÇÕES
A consolidação dos institutos de
pesquisa amazônicos é uma das prioridades do Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT). Esse foi um dos pontos ressaltados na primeira fase do
Subprograma de Ciência e Tecnologia
do Programa Piloto para Proteção das
Florestas Tropicais do Brasil (SPC&T/
PPG7), criado para fortalecer e
maximizar os benefícios ambientais
das florestas tropicais brasileiras, de
maneira compatível com o desenvolvimento do País.
Fruto da cooperação entre o
governo brasileiro, a sociedade civil
e a comunidade internacional, coube ao MCT o Subprograma de Ciência
e Tecnologia, que teve como objetivo principal promover e disseminar
12
conhecimentos científicos e tecnológicos relevantes à conservação e ao
desenvolvimento sustentável da Região Amazônica.
A primeira fase do Subprograma de C&T foi estruturada em
dois componentes: o Projeto de Pesquisa Dirigida (PPD), que apoiou 53
projetos de pesquisa orientados
para os ecossistemas amazônicos,
tecnologias para o desenvolvimento sustentável da Amazônia e
melhoria da qualidade de vida na
Região Amazônica. O outro componente são os Centros de Ciência (CC),
que consolidaram o fortalecimento
de duas tradicionais instituições de
pesquisa da região, o Museu Paraense Emílio Goeldi e o Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Os CC contribuíram para o
aprimoramento da capacidade de
pesquisa, difusão e educação em ciências dessas instituições. Elas passaram a atuar como centros de excelência no desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas. As
atividades foram focadas no fortalecimento e desenvolvimento institucional; na recuperação e melhoria da
infra-estrutura e de equipamentos; na
capacitação da base de recursos humanos e, ainda, na disseminação de
informação científica. Essa experiência levou o MCT a determinar que
40% dos recursos do Fundo Setorial
Outra instituição de pesquisa
apoiada pelo MCT na região é o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que tem a responsabilidade sobre a gestão de duas
reservas estaduais de desenvolvimento sustentável: a Mamirauá e a
Amanã. Ambas são vizinhas e, junto com o Parque Nacional do Jaú,
formam a maior área de floresta tropical protegida no mundo. Esta
nova categoria de área protegida
atua em conjunto com a população
local, que participa nas atividades
de manejo dos recursos naturais e
na vigilância da reserva. Para o
Mamiruá, a estratégia de conservação da biodiversidade considera
que as populações tradicionais devem ser as principais beneficiárias
dos recursos naturais, com o poder
de decisão pelo manejo.
"É a sociedade, baseada em
suas raízes estruturais e históricas,
que deve assumir o traçado de seu
projeto de desenvolvimento", observa o presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, Ennio Candotti.
O peixe-boi é uma das espécies ameaçadas
pela má utilização dos recursos naturais
Ciência
SBPC
em
tempo
real
Tecnologia amplia
participação no maior
encontro científico
latino-americano
Cláudia Soares
O
que poderia unir os quase
seis milhões de habitantes
de Boston, na Costa Leste
dos Estados Unidos, e os
nove mil catarinenses da
pequena cidade de Turvo? Em julho, durante a 58ª Reunião Anual
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), as duas cidades puderam acompanhar o maior congresso científico da América
Latina. Essa foi a primeira edição
do evento com transmissão em
tempo real.
"Uma aluna que estava em
Boston me avisou que tinha visto a
palestra da filósofa Marilena Chauí.
No dia seguinte, ela juntou um grupo de 20 amigos para assistir ao jornalista Paulo Henrique Amorim",
contou o presidente da SBPC, Ennio
Candotti. Experiência semelhante
aconteceu no interior de Santa
Catarina, onde um grupo de mulheres reuniu-se para ouvir a secretária Especial de Política para as Mu-
A reunião anual promovida pela SBPC contribui para despertar novas vocações para
a ciência, atraindo estudantes de diversos níveis e idades em todo o Brasil
lheres, Nilcéa Freire. Foram 22,5
mil acessos nos cinco canais disponíveis de transmissão, incluindo
Argentina, Canadá, China, Estados
Unidos, França, Japão, Malta, Portugal e Reino Unido.
A reunião, realizada na Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), teve 65 atividades transmitidas em tempo real pela internet. “É
simplesmente fantástico saber que
públicos em lugares tão diferentes tiveram acesso aos debates ocorridos
na SBPC", revela o reitor da UFSC,
Lúcio Botelho.
NOVIDADES
A inclusão da Tecnologia como
tema nos debates e a criação de grupos de trabalhos com encontros no
próprio evento foram outras inovações. "Foi a primeira vez que tivemos jovens empresários participando das discussões. Abrimos espaço
para um novo público, que será incorporado às reuniões da SBPC", explica Candotti.
A próxima reunião, em 2007,
acontecerá em Belém (PA) com o tema
Amazônia: desafio nacional.
58ª SBPC em números
n Inscrições SBPC Sênior: 8 mil
n Inscrições SBPC Jovem: 2.070
n Enapet (reunião anual dos gru-
n Imprensa: 230 credenciados
pos do Programa de Educação
Tutorial): 1.200
nos cinco canais de transmissão on-line
de 54 veículos
n Acessos pela internet: 22,5 mil
13
INCENTIVO
Duas ações importantes de incentivo à pesquisa foram efetivadas
durante a 58ª edição da SBPC, em
Florianópolis. Uma delas diz respeito à confirmação do reajuste em
10% nos valores das bolsas de pesquisa concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), inclusive, de mestrado e doutorado.
Os novos valores começaram a valer desde de julho.
abertura do encontro. Segundo
Rezende, no caso das bolsas de pósgraduação, o reajuste total chega a
30% no atual governo. "Sabemos
que esse é o resultado de um esforço conjunto, envolvendo, principalmente, a comunidade científica
e tecnológica, que colaborou para
que garantíssemos a ampliação do
orçamento do Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico em R$ 1,26 bilhão",
ressaltou o ministro.
PRÊMIO
A confirmação do reajuste foi
feita pelo ministro da Ciência e
Tecnologia, Sergio Rezende, na
Como tradição da reunião da
SBPC, o CNPq lançou, durante o en-
contro, a 22ª edição do Prêmio Jovem Cientista, a mais importante
premiação científica da América
Latina voltada para graduados e
estudantes dos ensinos superior e
médio.
O tema deste ano foi Gestão
Sustentável da Biodiversidade – Desafio do Milênio. Iniciativa conjunta do CNPq, Grupo Gerdau,
Eletrobrás e Fundação Roberto Marinho, o Prêmio receberá inscrições
até 30 de novembro, em cinco categorias: Graduado, Estudante do
Ensino Superior, Estudante do Ensino Médio, Mérito Institucional e
Menção Honrosa.
Santos-Dumont atrai crianças
e adultos para ExpoT&C
buscaram informações sobre o cientista. “Adorei aprender mais sobre Santos-Dumont. É uma forma de homenagear esse gênio brasileiro”, disse a estudante do Colégio
Tradição, de Florianópolis, Vitória Subtil Eula, 12 anos,
vencedora do concurso de redação.
G
rande parte da área de 1.100 m² destinados à
ExpoT&C - estande do MCT na SBPC - apresentou
experimentos, objetos e dados sobre a vida de
Santos-Dumont. Neste ano comemora-se o Centenário do Vôo do 14-bis. No estande Missão
Centenário, a exposição Alberto Santos-Dumont e o
mais pesado que o ar descreveu a construção do 14-bis
em 20 painéis, com imagens inéditas. Os visitantes puderam ver réplicas do primeiro avião, do Demoiselle, do
Aeroplano 15 e do Hidroplanador, além de assistir a
documentários que narram a trajetória do cientista.
Os adultos participaram de bate-papo com especialistas convidados, como o pesquisador Henrique Lins de
Barros (CBPF), um dos grandes estudiosos da vida de Santos-Dumont, que falou sobre o centenário do 14-bis. Para
encerrar as atividades da exposição, foi distribuída uma
edição especial da revista Caros Amigos, exclusiva sobre
o inventor brasileiro.
O Centenário foi, ainda, o tema central da Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia, que aconteceu de 16 a
23 de outubro, em todo o Brasil. “Queremos envolver toda
a sociedade”, comenta o diretor do Departamento de
Popularização e Difusão de C&T do MCT e organizador da
Semana, Ildeu Castro.
Participaram da mostra várias instituições vinculadas ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), como
o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), o Museu
de Astronomia e Ciências Afins (Mast), o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Agência Espacial Brasileira (AEB).
Motivadas por um concurso de desenho e redação,
crianças de escolas locais e visitantes de outros estados
14
O Demoiselle foi o
precursor do ultraleve
Serviços
Inovação
ao alcance de todos
Renata Dias
Serviço oferecido
no Brasil ajuda
empreendedores
a solucionarem
problemas técnicos
O
que há em comum entre um
processo de fabricação de
massa com farinha de trigo
e corante, produtos emborrachados, métodos de
colheita e plantação, e dicas para
abrir sua própria confecção de roupas? Todos esses assuntos podem ser
encontrados em um mesmo lugar.
Trata-se do Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT), que, com
muita seriedade e bastante variedade, traz respostas para qualquer tipo
de negócio.
O Serviço foi instituído pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT),
no âmbito do Programa de Tecnologia
Industrial
Básica
e
Serviços
Tecnológicos para a Inovação e
Competitividade (Programa TIB), com
recursos do Fundo Verde-Amarelo. O
desenvolvimento de um serviço especializado em informação tecnológica
industrial começou a ser estruturado
no período de 1985 a 1996, quando foram colocados em operação 20 Núcleos de Informação Tecnológica, de caráter setorial e regional.
com simplicidade
e criatividade
15
Casos de Sucesso
PORTOFLEX
Sob medida para os clientes
ANJINHO
Enfrentando a concorrência
A empresa Portoflex, fundada há 9 anos, atua no desenvolvimento de artefatos de borracha,
policloroprene e termoplásticos.
Tratam-se de produtos de grande
utilidade nos segmentos da indústria alimentícia, extrativa, frigorífica, que atendem também mercados como construção civil,
eletroeletrônica, mecânica, petroquímica, rodoviária, siderúrgica, entre outros. A empresa trabalha com demandas específicas,
fornecendo a pequenos clientes
que estão atrás de uma determinada peça, e empresas de grande
porte que trazem demandas para
confecções.
Carlos Barbosa possui um
trailer no Centro de Tecnologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), há 16 anos. O Anjinho
Lanches oferece sanduíches, sucos,
saladas e outros lanches. Há cinco
anos, Carlos começou a oferecer
sorvetes soft, semelhantes àquelas
casquinhas de grandes redes de lanchonetes, pelo preço de R$1,30.
Até que seu concorrente, localizado a apenas 40 metros de distância,
começou a vender o sorvete do
mesmo tipo por R$ 1. Em uma busca na internet por receitas diferentes para esse tipo de sorvete, Carlos
conheceu o SBRT.
A empresa conheceu o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) por indicação do
Senai. Andreas Knorr, consultor
da Portoflex, revela que acreditou no programa por estar ligado
ao MCT e instituições nacionais
de reconhecida competência.
O consultor aponta como
resultado não apenas as respostas em si, mas uma maior facilidade em desenvolver novos produtos com maior segurança, o
que acaba se refletindo na imagem da empresa.
“O SBRT auxilia na minimização dos riscos da empresa. A
qualidade do serviço é muito boa,
e o retorno, excelente. O bom do
programa é que combate a cultura do improviso na empresa, além
de ser ágil e gratuito”, avaliou
Andreas.
A Portoflex já realizou várias consultas ao sistema, que vão
de técnicas para coifa auto motiva, vulcanizador em borracha, migração em peças de borracha para evitar o esbran quecimento, até normas para
capa ou manga de borracha.
16
O sorvete soft tem como base
uma mistura específica que precisa
de um liquidificador industrial para
ser preparada. Carlos queria uma receita diferente para esta mistura, que
não levasse gordura hidrogenada.
Com a receita gerada pela inovação
sugerida pelo Serviço, Carlos conseguiu triplicar sua produção e abaixou
o preço da casquinha para R$ 1. “Conseguimos um produto mais barato e
com a mesma qualidade de antes, os
clientes ficaram surpresos e satisfeitos”, avaliou Carlos Barbosa.
Depois dessas mudanças, o
concorrente está vendendo a máquina de fazer esse sorvete. O Anjinho
Lanches continua com a sua clientela garantida e com planos para investir em outros produtos, como
atum light e hambúrguer de picanha.
Lanchonete contou com auxílio do
SBRT para reduzir custo do sorvete
Ficou comprovado, então, que
a atividade de informação tecnológica
contribui, significativamente, para o
aumento da competitividade das empresas brasileiras. Assim, o governo
federal começou a desenvolver um
trabalho em rede, que oferecia informações de fácil acesso aos pequenos
e médios empresários, contemplando a geração de metodologias, ferramentas para acesso e oferta das informações, construção de bases de dados e capacitação de pessoal para a
operacionalização do projeto. Assim,
em novembro de 2004, o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas começou a prestar atendimento.
“O serviço traz uma contribuição muito importante à competitividade dos pequenos e médios empreendimentos no Brasil. Estamos
trabalhando para a sustentação e
ampliação desta ferramenta”, declarou o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCT,
Luiz Antônio Elias.
O SBRT proporciona uma solução customizada a uma demanda
específica: o empresário identifica
determinada situação no seu processo produtivo que pode ser melhorada - e ele não sabe como fazer essa
melhoria - e busca, então, uma solução procurando o Serviço.
Por meio de carta, telefone, fax
ou pela internet (http://sbrt.
ibict.br), de forma gratuita, o empresário manda a sua demanda e o SBRT
a direciona a alguma das instituições
provedoras de informação da rede,
que fornece a resposta em uma linguagem simples e acessível ao empreendedor.
As instituições participantes
do SBRT são o Centro de Tecnologia
da Universidade de Brasília (CDT/
UnB), Disque Tecnologia do Distrito
Federal, Coordenadoria Executiva de
Cooperação Universitária e de Atividades Especiais da Universidade de
São Paulo (Cecae/USP), o Centro de
Tecnologia de Minas Gerais (Cetec),
a Rede de Tecnologia do Instituto
Euvaldo Lodi da Bahia, a Rede de
Tecnologia do Rio de Janeiro, e o Instituto de Tecnologia do Paraná
(Tecpar). Somam-se a estas o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict/MCT) e o
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-Nacional).
O Serviço contempla cerca de
27 temas que variam desde agricultura e pecuária, meio ambiente, alimentos e bebidas, até mineração,
produtos químicos, combustível,
couro, vestuário e acessórios, passando por equipamentos hospitalares e instrumentos musicais.
A resposta técnica é apresentada primeiro pelo assunto, depois
por palavra-chave e um resumo com
a identificação da demanda solicitada. Em seguida começa o desenvolvimento da resposta, com a solução
apresentada sobre o produto ou processo trazendo recomendações e
conclusões. As respostas trazem ainda referências, sites e legislações que
subsidiaram ou podem contribuir
O SBRT iniciou o atendimento em novembro de 2004. Desde então
efetuou 7.500 atendimentos e registrou cerca de 2.900 respostas técnicas
diferentes em seu banco de conhecimento, e conta com 20 dossiês técnicos prontos.
n 33% das demandas geram novas Respostas Técnicas. Em 25% delas indi-
ca-se respostas técnicas já existentes e 42% têm atendimento não publicado (fornecedores de equipamentos e matérias-primas 31%, alta complexidade 15%, abertura de negócios/legislação 3%, trabalho acadêmico 18%,
plano de negócios/pesquisa de mercado – SEBRAE 8%, outros 12%).
n 24% das demandas é na área de agricultura e pecuária, 21% é por alimen-
tos e bebidas, 14% por serviços industriais e 10% para produtos químicos.
n Por região: Sudeste 50%, Nordeste 13%, Centro-Oeste 10% e Sul 23%.
com informações complementares
ao assunto. Todas as respostas trazem o nome do técnico responsável,
da instituição respondente, sempre
disponibilizando algum contato,
como e-mail ou telefone.
Além de ficarem disponíveis no
banco de conhecimento do site do
SBRT, o serviço ainda disponibiliza as
respostas na coluna “Tecnologia e Seu
Negócio”, publicada semanalmente
em mais de 40 jornais no Brasil.
Livros
Vozes
indígenas
preservadas
comunidade para a valorização da cultura e língua do grupo, que estavam
ameaçadas de desaparecer. Até as crianças colaboraram, criando as belas
ilustrações presentes na obra.
O livro traz histórias sobre as
crenças e concepção de mundo dos
Sakurabiat, além de dados lingüísticos e etnográficos sobre o grupo. O
CD-ROM traz a narração oral e escrita das histórias do livro, tanto em
português quanto em sakurabiat.
Narrativas
Tradicionais
Sakurabiat Mayãp Ebõ é uma obra
fascinante e acessível, tanto para
pesquisadores quanto para o público em geral interessado em conhecer um pouco mais sobre a rica tradição cultural indígena do País.
Pedro Bonatto
P
arte das histórias e da cultura do
povo indígena Sakurabiat, que
habita a reserva Rio Mequéns,
em Rondônia, está preservada na
obra Narrativas Tradicionais
Sakurabiat Mayãp Ebõ. Lançada em
livro e CD-ROM pelo Museu Paraense
Emílio Goeldi (MPEG/MCT), Narrativas traz 25 histórias baseadas em lendas mitológicas desse grupo.
A obra foi cuidadosamente organizada pela pesquisadora Ana
Vilacy, do Museu Goeldi, que trabalha há 12 anos no estudo e preservação da linguagem Sakurabiat, que
pertence à família lingüística Tupari,
do Tronco Tupi.
De acordo com Vilacy, o interesse pela documentação das narrativas tradicionais partiu dos próprios
Sakurabiat. O trabalho motivou toda a
Como adquirir:
Narrativas Tradicionais Sakurabiat Mayãp Ebõ
Organização: Ana Vilacy - 276 páginas
+ CD-ROM - Museu Goeldi/MCT
A obra custa R$ 40. Os recursos oriundos da
comercialização do kit serão revertidos para
os Sakurabiat. Para adquirir esta e outras
publicações do Museu Goeldi, entre em
contato com o Departamento de
Documentação e Informação:
http://www.museu-goeldi.br/publicacao.htm
Fone: 91 274.1811
E-mail: [email protected]
17
Fundos Setoriais
Plantas
que
curam
Lúcia Pinheiro
A biodiversidade amazônica é
contada sempre em termos
superlativos quanto ao número
de plantas, peixes, aves,
mamíferos, insetos e
microorganismos. Essa
megabiodiversidade tem muito
a oferecer do ponto de vista
químico e farmacológico
N
a zona rural de Ipixuna do
Pará, município localizado
a cerca de 300 km de Belém,
a agricultora Núbia Borges
planta ervas medicinais e
produz remédios naturais há mais de
12 anos. Ela atende a mais de cem
pessoas por semana, entre crianças e
adultos, que buscam soluções para
diversos tipos de males. De xarope em
xarope, de pomada em pomada, a
fama de Bia – como é conhecida – foi
crescendo e ultrapassou as fronteiras
daquele município.
Hoje, com o apoio da prefeitura local, ela enfrenta horas de barco e estrada para atender pessoas
de outras cidades da região. Os remédios são fornecidos gratuitamente. Além dos medicamentos e das
consultas, ela também dá cursos nas
comunidades sobre como cultivar
hortas medicinais.
Histórias assim são comuns
na maior reserva de biodiversidade
18
do Planeta, a região amazônica. São
pessoas que habitam os ecossis temas da floresta e que podem promover seu desenvolvimento sustentado, a partir dos recursos naturais e de sua conservação.
Para tanto, avalia o doutor em
Farmácia pela Universidade de São
Paulo, Emerson Silva Lima, esse conhecimento popular precisa aliar-se
ao conhecimento científico, para que
os medicamentos de origem natural
desenvolvam-se dentro de tecnologias aceitáveis e competitivas no mercado. Ele coordena um projeto de
identificacação de espécies botânicas
da Amazônia com potenciais fitoterápicos, integrando estudos etnobotânicos, fitoquímicos, farmacológicos
e toxicológicos, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
O pesquisador explica que a introdução de um novo produto
fitoterápico, baseado no uso tradicional de uma planta, pode ser abreviada a partir da sua validação científica, o que lhe confere a autenticidade
requerida para o suporte ético do medicamento planejado.
“Este processo é realizado a
partir da comprovação da atividade
farmacológica da espécie, associada
ao controle de sua composição botânica e química, e de seu caráter de
toxicidade estipulado dentro dos patamares aceitáveis”, ressalta.
Ele e sua equipe trabalham na
coleta de plantas em duas comunidades ribeirinhas nas proximidades de
Manaus – a do Castanho, localizada no
município de Careiro Castanho; e a de
Canoas, no município de Presidente
Figueiredo. As amostras coletadas são
classificadas com o auxílio dos herbários do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e da
Ufam. Além da coleta e identificação
das plantas selecionadas, os pesquisadores obtêm os extratos, realizam ensaios in vitro e in vivo para identificação de diversas atividades farmacológicas, entre outros processos.
Na comunidade de Careiro Castanho, a horta botânica conta com cerca de 175 variedades de plantas medicinais da Amazônia, e outras estão sendo catalogadas com a ajuda da equipe
do projeto. “Agentes de saúde”, como
são chamados os habitantes locais que
“medicam” a população ribeirinha
com os remédios da horta, percorrem
de barco 114 comunidades em locais
quase inacessíveis na imensidão amazônica. O acesso é garantido por 150
canoas doadas pela igreja católica local. A informação é de Antonio Carlos
dos Santos Cordeiro, coordenador da
Associação dos Agentes de Saúde de
Careiro Ribeirinho. “A gente faz tudo.
Trabalhamos como médico, enfermeiro, tratamos de malária, mordida de
cobra, enfim, tudo com nossos remédios. E agora o projeto está nos ajudando a retomar nossa cultura com as plantas. É para evitar que esse conhecimento fique perdido”, declara.
Um dos diferenciais nesse tipo
de pesquisa está nas ações integradas
entre os diversos subgrupos participantes – botânica, fitoquímica, farmacologia, toxicologia e controle de
qualidade –, que resultam em informações adicionais sobre as espécies
botânicas da região, principalmente,
em relação ao uso indiscriminado de
plantas medicinais.
O projeto é fundamental para a
formação de recursos humanos numa
área imprescindível para o desenvolvimento regional, avalia Emerson. Ele
acredita que, com os esclarecimentos adicionais, as comunidades parceiras podem vir a se beneficiar com
a comercialização de materiais biológicos de alto valor agregado.
MERCADO
Medicamentos à base de plantas
medicinais têm sido cada vez mais utilizados. Dados do setor mostram que
os fitoterápicos já representam 7% do
segmento farmacêutico no Brasil, movimentando cerca de US$ 400 milhões
por ano. A crescente expansão é atribuída ao potencial que esses produtos
têm de prevenir e tratar doenças, de
forma mais acessível e com menos efeitos colaterais que os remédios convencionais. Os produtos oriundos da Amazônia, em especial os fitoterápicos,
apresentam um potencial de abastecimento do mercado de exportação, bem
como de originar um segmento de mercado gerador de emprego e renda para
a população local.
Algumas plantas estudadas no projeto
Andiroba:
Carapa
guianensis
Aublet
(Meliaceae). Nomes
Populares: andirobaaruba, andiroba-saruba, carapá (Guiana Francesa),
Crabwood (Inglaterra). Habitat:
Amazônia. Indicações: antiinflamatório, vermífugo, febrífugo,
cicatrizante, repelente, analgésico,
anti-séptico e balsâmico.
Açaí: Euterpe precatoria Martius (Arecaceae). Nomes Populares: asaí (Bolívia),
assai, açaí, palmiteiro,
Jussara (Brasil), naidi (Colômbia),
bambil, palmiche (Equador),
cogollo comestible (Peru). Habitat:
Amazônial – várzeas e margens dos
rios. Indicações: frutos novos: utilizados no combate aos distúrbios
intestinais; raízes: empregadas
como vermífugo, para o controle de
febre da malária, dores musculares,
hemorragias; palmito: na forma de
pasta é anti-hemorrágico.
Copaíba: Copaifera
multijuga
Hayne
(Fabaceae). Nomes Populares: jabotá-mirim,
copiúba, cabimo, copal, bálsamo-dos-jesuítas. Habitat: Amazônia. Indicações: antiinflamatória,
contra disenterias, bronquite, sinusite, inflamações da garganta, rins e
bexiga (cistite) e para todas as
dermatoses. Poderoso anti-séptico
das vias respiratórias.
Japecanga: Smilax japecanga
(Lilaceae). Nomes Populares:
japecanga-verdadeira. Habitat: às
margens dos rios e nos lugares úmidos. Indicações: depurativo, usado
na sífilis, gota, reumatismo e moléstias da pele.
Jucá: Caesalpinia férrea
Mart. (Cesalpinaceae).
Nomes Populares: jucá,
jucaína, pau-ferro-verdadeiro, muirá-obi,
ibirá-itá,
ibirá-obi,
muiré-itá. Habitat: Norte e Nordeste
brasileiro. Indicações: antimicótico,
antianêmico,
anti-hemorrágico,
cicatrizante, antidiarréico. Indicado
também para bronquites, asma, tuberculose e problemas hepáticos.
Saratudo: Byrsonima intermedia L.
(Malpighiaceae). Nome Popular:
murici. Habitat: Amazônia, regiões
serranas do Sudeste, nos cerrados do
Mato Grosso e Goiás e no litoral do
Norte e do Nordeste do Brasil. Indicações: adstringente, diurético,
colite, atonia, resfriado comum, diarréia, febre, fungos, gastrite,
piorréia, picada de cobra, feridas e
intestino.
Unha de gato: Bignonia unguis-cati
(Bignoniaceae).
Nomes Populares:
cipó-de-gato, cipóde-morcego, hera-de-são-domingos. Habitat: Mato Grosso e Amazonas). Indicações: diurética, anti-reumática, anti-sifilítica.
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