XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
ESTREITANDO LAÇOS ENTRE TEORIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA
ATRAVÉS DE PROJETOS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA
Maria de Fátima T. Gomes
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
RESUMO
O presente trabalho relata as atividades desenvolvidas por bolsistas de dois projetos
de Iniciação à Docência em Química: “Articulando Teoria e Prática na Iniciação à
Docência em Química”, financiado pela UERJ, e “Saber Escolar e Formação Docente
em Química”, apoiado financeiramente pela CAPES no âmbito do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID. Os Projetos são desenvolvidos
em um Colégio Estadual, no Rio de Janeiro, e visam atingir as seguintes metas:
Proporcionar a vivência no magistério a partir da participação efetiva dos bolsistas em
atividades didáticas; Possibilitar a participação dos bolsistas em atividades
complementares com o objetivo de promover melhorias no processo de ensino e
aprendizagem; Contribuir para a inserção de atividades experimentais no Ensino de
Química e Possibilitar a inserção dos bolsistas em atividades transdisciplinares e
extraclasse. A metodologia empregada no desenvolvimento dos Projetos pauta-se em
abordagens qualitativas de pesquisa do cotidiano escolar, e vale-se da observação
participante como meio de vivenciar diferentes ambientes pedagógicos, de interagir com
os sujeitos da educação, visando ensinar e aprender com eles, e como instrumento de
obtenção de dados. A coleta de dados mediante aplicação de questionários individuais é
empregada para levantamento de conhecimentos prévios e de hábitos e/ou de atitudes
frente a um tema de cunho ambiental e/ou social. No decorrer do ano letivo, os bolsistas
têm oportunidades concretas de trabalhar conteúdos de Química de uma forma
transdisciplinar ao elaborar e orientar projetos estudantis para serem exibidos na Feira
do Conhecimento. Como resultados destacam-se: a possibilidade de uma formação
inicial vinculada à realidade profissional; a aquisição de vivências do cotidiano escolar,
do planejamento e da execução de atividades teóricas e experimentais e o
desenvolvimento de hábitos de pesquisa/estudo de temas químicos socialmente
relevantes. O trabalho desenvolvido atendeu as expectativas de diminuir a dicotomia
teoria-prática pedagógica no ensino de Química.
Palavras-chave:
Iniciação à docência – Ensino de Química – Licenciatura em Química – Observação
participante– teoria/prática
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INTRODUÇÃO
Tendo sido professora de Química no Ensino Médio por mais de uma década,
ministrado disciplina específica de Química na formação inicial de professores e, mais
recentemente, supervisora do estágio curricular dos licenciandos em Química da UERJ,
preocupa-me a constatação que, apesar de um grande número de publicações
enfatizarem a necessidade da articulação entre teoria e prática nos processos de
formação docente, disciplinas específicas e pedagógicas nos Cursos de Licenciatura, de
uma maneira geral, seguem tendo tratamentos isolados. Neste contexto, a Iniciação à
Docência em uma escola é uma oportunidade ímpar de se discutir a dicotomia teoria e
prática e, a partir do trabalho pedagógico, in loco, articular uma a outra. Nos últimos
anos, venho desenvolvendo projetos de Iniciação à Docência na Rede Pública Estadual
de Ensino Médio, no Rio de Janeiro, orientando bolsistas apoiados financeiramente pela
UERJ, do projeto “Articulando Teoria e Prática na Iniciação à Docência em Química”,
e bolsistas da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- CAPES do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, referente
ao Sub-Projeto da Licenciatura em Química integrante do Projeto Institucional “Saber
Escolar e Formação Docente”. O PIBID concede bolsas de iniciação à docência para
alunos de cursos de licenciatura e para coordenadores e supervisores responsáveis
institucionalmente pelo Programa e também apoia financeiramente as demais despesas a
ele vinculadas.
Os Projetos “Articulando Teoria e Prática na Iniciação à Docência em
Química” e “Saber Escolar e Formação Docente em Química” são desenvolvidos em
um Colégio Estadual, localizado no bairro de São Cristovão, Rio de Janeiro, nas
vizinhanças da UERJ, e visam, em linhas gerais, atingir as seguintes metas (I)
Proporcionar a vivência no magistério a partir da participação efetiva dos bolsistas em
atividades didáticas; (II) Possibilitar a participação dos bolsistas em atividades
complementares com o objetivo de promover melhorias no processo de ensino e
aprendizagem; (III) Contribuir para a inserção de atividades experimentais no Ensino de
Química e (IV) Possibilitar a inserção dos bolsistas em atividades transdisciplinares e
extraclasse. Para cada meta a ser alcançada nos projetos de Iniciação à Docência, foram
previstas ações a serem desenvolvidas sob a orientação e supervisão de um professor de
Química efetivo da escola parceira e do coordenador do Projeto, conforme especificado
no QUADRO 1 (em anexo).
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As ações pedagógicas desenvolvidas tiveram como referencial os trabalhos
realizados por grupos de pesquisa em Ensino que Química com vasta experiência na
formação inicial e continuada de professores (GEPEQ, 2000; Mortimer, 2000; Santos &
Mól, 2010; Santos & Schnetzler, 2010; Santos & Schnetzler, 2010).
As propostas desenvolvidas nos projetos visam aproximar teoria e prática
pedagógica e promover a integração entre a Escola Pública de Ensino Médio e o Curso
de Licenciatura em Química da UERJ. Busca-se, com isso, abrir caminhos para a Escola
da Rede Pública, buscando com ela diálogos mais próximos, mais críticos, mais
problematizadores, diálogos que se darão entre os docentes de tais instituições e os da
UERJ e entre nossos Alunos Mestres, muitas vezes oriundos dessas Escolas e futuros
professores delas. Esta aproximação entre a Escola Pública e a Universidade enriquece
ambas na medida em que promove a troca de saberes e ações entre uma entidade que
difunde o conhecimento no Ensino Básico e a outra que produz este conhecimento e
habilita profissionais para executar esta difusão.
METODOLOGIA
A metodologia empregada no desenvolvimento dos projetos de Iniciação à
Docência pauta-se em abordagens qualitativas de pesquisa do dia-a-dia escolar.
Emprega a observação participante como forma de vivenciar os diferentes ambientes
pedagógicos, de interagir com os sujeitos da educação, visando ensinar e aprender com
eles, e como principal instrumento de obtenção de dados. Destaca-se a seguir, alguns
pressupostos da observação participante segundo renomados autores do campo da
pesquisa qualitativa:
“Definimos a observação participante como um processo no qual a presença do
observador numa situação social é mantida para fins de investigação científica. O
observador está em relação face a face com os observados, e, em participando com eles
em seu ambiente natural de vida, coleta dados. Logo, o observador é parte do contexto,
sendo observado, no qual ele ao mesmo tempo modifica e é modificado por este
contexto” (Schwartz & Schwartz, citados por Haguette, 1987, p. 163).
“Na observação participante, o pesquisador se torna parte da situação
observada, interagindo por longos períodos com sujeitos, buscando partilhar o seu
cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação” (Alves-Mazzoti &
Gewandsnajder, 1998, p.166).
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Uma das vantagens da utilização da observação direta é que o pesquisador
“acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos”, o que pode levá-lo a conhecer
as “suas visões de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade que os
cerca e às suas próprias ações” (Lüdke & André, 1986, p. 26).
A existência de uma relativa indefinição na literatura quanto à delimitação
precisa de metodologias de investigação qualitativa torna, em alguns casos, difícil a
classificação de uma pesquisa. Yin (1985) estabeleceu as seguintes distinções entre
estudo de caso, etnografia e observação participante: a etnografia requer estadias longas
do investigador no local de investigação e observação detalhada, enquanto que a
observação participante pode não ser tão demorada; o estudo de caso é uma forma de
pesquisa que não depende necessariamente de dados etnográficos ou de observação
participante, além de poder utilizar dados qualitativos e quantitativos, enquanto que a
etnografia e a observação participante usam exclusivamente dados qualitativos.
Lüdke & André (1986) alertam para o uso cuidadoso dos termos etnografia e
observação participante e, consideram a primeira como a “ciência da descrição cultural”
de
um
determinado
grupo,
fundamentada
em
pressupostos
específicos
do
comportamento humano.
Os projetos de Iniciação à Docência são desenvolvidos em uma escola da Rede
Pública Estadual do Município do Rio de Janeiro e seu campo de atuação restringe-se
ao da disciplina Química, nas três séries do Ensino Médio, do turno diurno. No Projeto
atuam quatro bolsistas financiados pela UERJ e seis bolsistas PIBID. A participação do
bolsista como observador durante sua permanência em um projeto de Iniciação à
Docência, no máximo dois anos, se dá em um continuum, ou seja, ele inicia como um
espectador das ações que se desenrolam no ambiente escolar e, gradualmente, se torna
um participante e, agindo conjuntamente com o professor supervisor, participa em
reuniões de planejamento pedagógico, na avaliação do desempenho dos alunos e em
Conselhos de Classe; elabora e aplica atividades didáticas diferenciadas; elabora e
executa roteiros de experimentos; planeja e orienta atividades extracurriculares, etc.
Os limites estabelecidos pela organização do currículo por disciplinas são
difíceis
de
ser
vencidos
e
oportunidades
mais
concretas
de
trabalhar
a
transdisciplinaridade surgem durante a elaboração e realização dos projetos estudantis
da Feira do Conhecimento, evento anual previsto no Projeto Pedagógico do Colégio.
Com caráter transdisciplinar e extraclasse, o evento visa envolver a comunidade escolar,
geralmente, em torno de três temas geradores. No ano de 2011, ano Internacional da
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Química, os temas propostos foram Ambiente (1ª série), Saúde (2ª série) e Alimentos
(3ª série). A realização do evento passa por cinco fases: (i) eleição dos temas e
investigação de suas correlações com diferentes áreas do conhecimento; (ii) realização
de palestra(s) de cunho motivador abordando os temas elencados; (iii) planejamento das
atividades; (iv) experimentação/realização das atividades e (v) realização do evento
propriamente dito com a exibição pública dos trabalhos desenvolvidos. Prevemos a
participação de todos os bolsistas nas cinco fases de realização da Feira do
Conhecimento. Cada bolsista deveria trabalhar diretamente com três ou quatro grupos
de alunos do Colégio, orientando-os em levantamentos de dados e informações
relacionados aos temas, auxiliando-os no planejamento e execução de atividades e
apoiando-os na exibição de seus trabalhos.
Em algumas situações, em que é necessário um maior detalhado do conhecimento
prévio dos alunos sobre um tema específico visando conhecer hábitos e/ou atitudes,
como por exemplo, sobre hábitos alimentares, uso racional da água, o descarte de
resíduos sólidos urbanos, etc. são aplicados questionários individuais, em amostras nãoprobabilísticas (não-aleatórias), uma vez que há uma escolha deliberada dos elementos
da população, ao se aplicar o questionário em um dia específico, a todos os alunos
presentes em sala de aula, em turmas de uma dada série.
RESULTADOS OBTIDOS
Descrever resultados em um trabalho de docência, que se constrói a cada dia,
não é fácil, uma vez que os estes não são imediatos. O que se pode apontar são as
atividades que vêm sendo desenvolvidas pelos bolsistas que, em se fazendo um
julgamento prévio, deverão se refletir em um melhor desempenho dos estudantes do
Colégio nos estudos, particularmente em Química, e em uma formação profissional
mais qualificada dos licenciandos. Assim sendo, serão relatadas as ações realizadas para
alcançar as metas previstas e os seus respectivos resultados qualitativos, nos Projetos de
Iniciação à Docência desenvolvidos no decorrer do ano letivo de 2011.
Em relação às Metas I (Proporcionar a vivência no magistério a partir da
participação efetiva dos bolsistas em atividades didáticas) e II (Possibilitar a
participação dos bolsistas em atividades complementares com o objetivo de promover
melhorias no processo de ensino e aprendizagem) destacamos a seguintes ações
desenvolvidas:
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i. Os bolsistas de Química transitaram livremente pelos vários ambientes da
Escola; frequentaram salas de aula, biblioteca, auditório, sala de multimídia, sala
de informática, laboratório de ciências, sala de professores e refeitório.
ii. Todos os bolsistas ficaram responsáveis pela observação participante de pelo
menos de uma turma, o que corresponde, em média, a acompanhar quatro aulas
semanais em turmas que foram “adotadas” por eles. Com a turma completa ou
dividida em dois grupos, realizaram atividades de aula expositiva, resolução de
exercícios, discussão textos interdisciplinares, exibição de vídeos, realização de
experimentos, etc.
iii. Participaram da elaboração e da correção de testes de Química e do Conselho de
Classe do 3º e do 4º bimestres do ano letivo de 2011.
Consideramos como resultado, nessa etapa dos Projetos, a possibilidade de uma
formação inicial vinculada à realidade profissional e a aquisição, pelos bolsistas, de
vivências do cotidiano escolar, do planejamento e da execução de atividades. Como
indicadores destes resultados, podemos apontar a participação dos bolsistas em todas as
ações planejadas. Pôde-se perceber que os bolsistas desenvolveram maior autonomia,
estão mais autoconfiantes e entusiasmados com sua atuação docente.
Em relação à Meta III (Contribuir para a inserção de atividades experimentais no
Ensino de Química) destacamos a seguintes ações desenvolvidas:
i. Os bolsistas elaboraram roteiros para várias atividades experimentais,
prepararam os materiais e executaram os experimentos com turmas das três
séries do Ensino Médio. Os experimentos foram realizados no laboratório de
Ciências, que estava praticamente sem uso e passou por um processo de limpeza
e organização, levado a cabo pelos bolsistas.
ii. Foi planejada uma visita à Estação de Tratamento de Água do Guandu. Os
bolsistas ficaram responsáveis por elaborar um questionário que foi aplicado em
turmas de 1ª série, com o objetivo de investigar seus conhecimentos prévios
sobre o tema ”Água de onde vem? Para onde vai? Dois bolsistas elaboraram e
apresentaram seminários em “Powerpoint” com o tema “Tratamento de Água” e
discutiram com os alunos questões relativas ao tema e à importância de não se
desperdiçar água.
iii.
A visita foi realizada e contou com a participação da professora
supervisora dos Projetos, que compareceu fora do horário de suas atividades no
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Colégio para acompanhar bolsistas e cerca de 50 alunos à Estação de Tratamento
de Água do Guandu.
Acreditamos que as atividades experimentadas pelos bolsistas no laboratório e
na visita servirão como referenciais para balizar novas estratégias e alternativas para o
ensino de Química. Partindo dos conhecimentos prévios dos estudantes, estes foram
levados a construir seu conhecimento sobre um tema ao serem expostos a diferentes
estratégias de aprendizagem. Consideramos relevante destacar o processo de formação
continuada do professor supervisor, mediante o planejamento e a realização de novas
atividades e da reestruturação das existentes, além da participação em debates sobre
temas interdisciplinares, na realização de experimentos, no seminário e na visita à
estação de tratamento de água.
No que concerne a Meta III (Possibilitar a inserção dos bolsistas em atividades
transdisciplinares e extraclasse) os bolsistas, trabalhando em conjunto com a
supervisora de Química, apresentaram propostas de dividir os temas para a Feira do
Conhecimento em sub-temas, que seriam objeto de estudo pelos alunos da Escola.
Assim o tema Ambiente passou a abordar: “Água”, “Poluição do ar”, “Lixo, coleta
seletiva e reciclagem”. O tema Saúde foi subdividido em: “Moléculas que alteram as
emoções” e “A Química que revolucionou a medicina” e o tema Alimentos, abordou
“Hábitos alimentares”, “Estrutura química dos alimentos” e “Rotulagem de alimentos”.
Destacamos, ainda, a seguintes ações desenvolvidas pelos bolsistas:
i. Participação em reuniões da equipe Química para discussão das propostas dos
bolsistas de projetos/trabalhos a serem desenvolvidos com os alunos do
Colégio, visando abordar os temas da Feira do Conhecimento e suas
ramificações e relações com a Química e o Ensino de Química.
ii. Apresentação, pelos bolsistas, dos temas da Feira do Conhecimento e das
propostas de projetos/trabalhos em turmas das três séries do Ensino Médio.
Formação de grupos e distribuição dos temas para estudos extraclasse.
iii. Orientação e acompanhamento dos projetos/trabalhos dos grupos pelos bolsistas.
Auxílio aos estudantes no planejamento e execução de cartazes, experimentos,
montagem de maquetes, etc.
iv. Participação na organização/realização da Feira do Conhecimento, na exibição e
avaliação dos trabalhos.
Como resultados significativos para a formação docente, apontamos o
desenvolvimento de hábitos de pesquisa/estudo de temas químicos socialmente
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relevantes a partir da busca, seleção e análise de informações disponíveis em diferentes
fontes. Os bolsistas adquiriram uma vivência relevante na orientação de projetos de
ensino, uma vez que orientaram um total de vinte e três grupos de estudantes, sobre
temas químicos diversos (listados no QUADRO 2, em anexo).
Em relação aos estudantes do Colégio podemos afirmar que eles ficaram muito
entusiasmados com as atividades propostas pelos bolsistas para Feira do Conhecimento.
Entretanto, não pudemos quantificar o quanto o desenvolvimento frutuoso dos Projetos
de Iniciação à Docência se reverteu em um melhor desempenho escolar, em termos de
notas. Este julgamento não é simples uma vez que muitas outras variáveis interferem no
processo ensino-aprendizagem, mas é certo que os alunos estão motivados a conhecer o
novo e a buscar explicações para fatos químicos cotidianos. Todavia consideramos que
o trabalho em desenvolvimento tem atendido nossas expectativas em relação a diminuir
a dicotomia entre teoria, apresentada nas disciplinas de formação específica em química
e em disciplinas pedagógicas, e prática docente, vivenciada no cotidiano escolar.
COMENTÁRIOS FINAIS
Uma dificuldade que nos parece importante relatar foi a greve dos professores e
profissionais de educação da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro por cerca de
dois meses e o difícil retorno às aulas em agosto. Apesar das revindicações justas da
categoria por melhores condições salariais esta teve poucos ganhos. Após a greve, os
professores da Escola estavam desmotivados, e vários se desinteressaram pela “Feira do
Conhecimento” considerando que não queriam desenvolver um “trabalho extra”. Este
momento também foi de aprendizagem para os bolsistas. A valorização da carreira
docente, um dos grandes desafios do Brasil, pressupõe bons salários e condições dignas
de trabalho. Para que isso ocorra, o profissional da educação deve ter acesso à formação
inicial e continuada de qualidade. Só com estudos constantes, planejamento e dedicação
é possível ser um bom professor.
Projetos de Iniciação à Docência têm o potencial de congregar professores
atuantes no Ensino Básico com especialistas atuantes nas Instituições de Nível Superior
e, dessa forma, criam-se oportunidades para que surjam interesses comuns entre os dois
grupos de profissionais: levando os primeiros a buscar formas de se atualizar e
aperfeiçoar no exercício profissional, ao mesmo tempo em que proporciona aos
docentes, especialistas em suas áreas de ensino e pesquisa, um campo de aplicação de
seus saberes, às vezes por demais acadêmicos, que são transmitidos aos licenciandos,
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não raramente, sem um viés prático e distante da realidade escolar. Normalmente, os
estágios supervisionados curriculares realizados pelos licenciados são as pontes que
ligam a Universidade à Escola, mas por elas transitam poucas trocas, e os ganhos,
normalmente, são ínfimos para ambas. Projetos de Iniciação à Docência possibilitam
intervenções mais pontuais e um estreitamento das relações Escola-licenciandoUniversidade.
Por último gostaria de destacar a importância do papel do professor supervisor
da escola parceira, uma vez que ele acompanha de perto a condução do processo de
ambientação dos bolsistas e mantém o bom relacionamento entre eles e a comunidade
escolar. A presença de universitários na escola nem sempre é vista com “bons olhos”,
uns professores temem comparações, outros tentem interferências. As atividades devem
ser planejadas em conjunto e requerem a negociação da abertura de espaços nas agendas
escolares das turmas e dos professores, para que nossas propostas possam ser
concretizadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES-MAZZOTI, A. J. & GEWANDSNAJDER, F. O Método nas Ciências Naturais
e Sociais – Pesquisa quantitativa e Qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998.
GEPEQ - lnterações e Transformações III – a química e a sobrevivência – atmosfera,
fonte de materiais. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 2000.
HAGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes,
1987.
LÜDKE, M. & ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas,
São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986.
MORTIMER, E. F. Linguagem e Formação de Conceitos no Ensino de Ciências. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2000.
SANTOS, L. P. e MALDANER, O. A.(Org.) Ensino de Química em Foco. Ijuí: Ed.
Unijuí, 2010. (Coleção Educação em Química).
SANTOS, W. L. P. e SCHNETZLER, R. P. Educação em Química - Compromisso com
a Cidadania. 4ª ed. rev.. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. (Coleção Educação em Química).
SANTOS, W. L.; MÓL, G. S. (Org.). Química cidadã. São Paulo: Ed. Nova Geração,
2010.
YIN, R. K. Case Study Research: Design and Methods. Londres: Sage Publications,
1985.
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QUADRO 1: Metas e Ações Previstas nos Projetos de Iniciação à Docência
META
AÇÕES PREVISTAS
Investigação
dos
diferentes
ambientes
pedagógicos: as salas de aula em diferentes
turnos, séries e disciplinas; a sala de informática;
a sala multimídia; o laboratório, a biblioteca, o
refeitório, a sala de professores e o pátio.
META I
Proporcionar
a
Elaboração de testes e provas com um espectro
vivência
no
magistério a partir da participação
efetiva dos bolsistas em atividades
didáticas.
amplo e que não privilegiem a memorização.
Planejamento
e
organização
de
unidades
didáticas que possibilitem uma abordagem
contextualizada,
que
interdisciplinaridade
favoreçam
e,
se
a
possível,
o
desenvolvimento de atitudes e valores.
Participação no processo de avaliação da
aprendizagem e nos Conselhos de Classes.
META II
Possibilitar
bolsistas
a
participação
em
dos Elaboração
atividades diferenciadas
e
aplicação
voltadas
para
de
atividades
alunos
com
complementares com o objetivo de dificuldades em aprender os conceitos básicos da
promover melhorias no processo de Química
ensino e aprendizagem
Elaboração e execução de roteiros de atividades
experimentais em sala de aula ou no laboratório.
META III
Contribuir
para
a
inserção
de
atividades experimentais no Ensino
de Química
Planejamento de visitações e elaboração de
orientações a serem seguidas pelos alunos do
Colégio
Programação de atividades experimentais na
forma de visitações a empresas ou instituições.
META IV
Possibilitar a inserção dos bolsistas
em atividades transdisciplinares e
extraclasse
Participação dos bolsistas PIBID nas etapas de
organização da “Feira do Conhecimento”, evento
anual realizado no Colégio.
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QUADRO 2: Temas Químicos Abordados na Feira do Conhecimento
1-
Moléculas que alteram as emoções: Drogas
2-
Moléculas que alteram as emoções: A paixão pelo esporte
3-
Álcool – uso do bafômetro
4-
A Química das bebidas
5-
Revolução sexual: anticoncepcionais
6-
Higiene pessoal também é saúde
7-
Radioatividade
8-
Rochas e Minerais
9-
Vitamina C
10-
Investigando alimentos
11-
O porquê das cores dos alimentos
12-
Corantes nos alimentos
13-
Do corante ao remédio
14-
Rótulo dos alimentos
15-
Distúrbios alimentares
16-
Pilha: obtendo energia partir de alimentos
17-
Reciclagem
18-
Coleta seletiva: separação de materiais por densidade
19-
Coleta seletiva: o que é o nosso lixo?
20-
Lixo eletrônico
21-
Poluição do ar
22-
Tratamento de Água
23-
Experimento global: pH do Planeta
Agradecimentos
Agradecemos à CAPES e ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência – PIBID a concessão de seis bolsas de Iniciação à Docência para alunos do
curso de Licenciatura em Química e de bolsas para o coordenador e supervisor do
Projeto. Agradecemos também à SR1/CETREINA/UERJ a concessão de quatro bolsas
de Iniciação à Docência. Destacamos a participação valorosa nos Projetos dos docentes
Denise Gutman Almada e Ilton Jornada e a participação dos alunos Diego Mota, Gabriel
Cabral, Gisele Firmino, Haroldo Candal, Magno Silva, Marcos Leal, Pâmella Santos,
Pedro Coutinho, Roberta Moreira e William de Oliveira.
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