XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 ESTREITANDO LAÇOS ENTRE TEORIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA ATRAVÉS DE PROJETOS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA Maria de Fátima T. Gomes Universidade do Estado do Rio de Janeiro RESUMO O presente trabalho relata as atividades desenvolvidas por bolsistas de dois projetos de Iniciação à Docência em Química: “Articulando Teoria e Prática na Iniciação à Docência em Química”, financiado pela UERJ, e “Saber Escolar e Formação Docente em Química”, apoiado financeiramente pela CAPES no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID. Os Projetos são desenvolvidos em um Colégio Estadual, no Rio de Janeiro, e visam atingir as seguintes metas: Proporcionar a vivência no magistério a partir da participação efetiva dos bolsistas em atividades didáticas; Possibilitar a participação dos bolsistas em atividades complementares com o objetivo de promover melhorias no processo de ensino e aprendizagem; Contribuir para a inserção de atividades experimentais no Ensino de Química e Possibilitar a inserção dos bolsistas em atividades transdisciplinares e extraclasse. A metodologia empregada no desenvolvimento dos Projetos pauta-se em abordagens qualitativas de pesquisa do cotidiano escolar, e vale-se da observação participante como meio de vivenciar diferentes ambientes pedagógicos, de interagir com os sujeitos da educação, visando ensinar e aprender com eles, e como instrumento de obtenção de dados. A coleta de dados mediante aplicação de questionários individuais é empregada para levantamento de conhecimentos prévios e de hábitos e/ou de atitudes frente a um tema de cunho ambiental e/ou social. No decorrer do ano letivo, os bolsistas têm oportunidades concretas de trabalhar conteúdos de Química de uma forma transdisciplinar ao elaborar e orientar projetos estudantis para serem exibidos na Feira do Conhecimento. Como resultados destacam-se: a possibilidade de uma formação inicial vinculada à realidade profissional; a aquisição de vivências do cotidiano escolar, do planejamento e da execução de atividades teóricas e experimentais e o desenvolvimento de hábitos de pesquisa/estudo de temas químicos socialmente relevantes. O trabalho desenvolvido atendeu as expectativas de diminuir a dicotomia teoria-prática pedagógica no ensino de Química. Palavras-chave: Iniciação à docência – Ensino de Química – Licenciatura em Química – Observação participante– teoria/prática Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002309 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 INTRODUÇÃO Tendo sido professora de Química no Ensino Médio por mais de uma década, ministrado disciplina específica de Química na formação inicial de professores e, mais recentemente, supervisora do estágio curricular dos licenciandos em Química da UERJ, preocupa-me a constatação que, apesar de um grande número de publicações enfatizarem a necessidade da articulação entre teoria e prática nos processos de formação docente, disciplinas específicas e pedagógicas nos Cursos de Licenciatura, de uma maneira geral, seguem tendo tratamentos isolados. Neste contexto, a Iniciação à Docência em uma escola é uma oportunidade ímpar de se discutir a dicotomia teoria e prática e, a partir do trabalho pedagógico, in loco, articular uma a outra. Nos últimos anos, venho desenvolvendo projetos de Iniciação à Docência na Rede Pública Estadual de Ensino Médio, no Rio de Janeiro, orientando bolsistas apoiados financeiramente pela UERJ, do projeto “Articulando Teoria e Prática na Iniciação à Docência em Química”, e bolsistas da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, referente ao Sub-Projeto da Licenciatura em Química integrante do Projeto Institucional “Saber Escolar e Formação Docente”. O PIBID concede bolsas de iniciação à docência para alunos de cursos de licenciatura e para coordenadores e supervisores responsáveis institucionalmente pelo Programa e também apoia financeiramente as demais despesas a ele vinculadas. Os Projetos “Articulando Teoria e Prática na Iniciação à Docência em Química” e “Saber Escolar e Formação Docente em Química” são desenvolvidos em um Colégio Estadual, localizado no bairro de São Cristovão, Rio de Janeiro, nas vizinhanças da UERJ, e visam, em linhas gerais, atingir as seguintes metas (I) Proporcionar a vivência no magistério a partir da participação efetiva dos bolsistas em atividades didáticas; (II) Possibilitar a participação dos bolsistas em atividades complementares com o objetivo de promover melhorias no processo de ensino e aprendizagem; (III) Contribuir para a inserção de atividades experimentais no Ensino de Química e (IV) Possibilitar a inserção dos bolsistas em atividades transdisciplinares e extraclasse. Para cada meta a ser alcançada nos projetos de Iniciação à Docência, foram previstas ações a serem desenvolvidas sob a orientação e supervisão de um professor de Química efetivo da escola parceira e do coordenador do Projeto, conforme especificado no QUADRO 1 (em anexo). Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002310 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 As ações pedagógicas desenvolvidas tiveram como referencial os trabalhos realizados por grupos de pesquisa em Ensino que Química com vasta experiência na formação inicial e continuada de professores (GEPEQ, 2000; Mortimer, 2000; Santos & Mól, 2010; Santos & Schnetzler, 2010; Santos & Schnetzler, 2010). As propostas desenvolvidas nos projetos visam aproximar teoria e prática pedagógica e promover a integração entre a Escola Pública de Ensino Médio e o Curso de Licenciatura em Química da UERJ. Busca-se, com isso, abrir caminhos para a Escola da Rede Pública, buscando com ela diálogos mais próximos, mais críticos, mais problematizadores, diálogos que se darão entre os docentes de tais instituições e os da UERJ e entre nossos Alunos Mestres, muitas vezes oriundos dessas Escolas e futuros professores delas. Esta aproximação entre a Escola Pública e a Universidade enriquece ambas na medida em que promove a troca de saberes e ações entre uma entidade que difunde o conhecimento no Ensino Básico e a outra que produz este conhecimento e habilita profissionais para executar esta difusão. METODOLOGIA A metodologia empregada no desenvolvimento dos projetos de Iniciação à Docência pauta-se em abordagens qualitativas de pesquisa do dia-a-dia escolar. Emprega a observação participante como forma de vivenciar os diferentes ambientes pedagógicos, de interagir com os sujeitos da educação, visando ensinar e aprender com eles, e como principal instrumento de obtenção de dados. Destaca-se a seguir, alguns pressupostos da observação participante segundo renomados autores do campo da pesquisa qualitativa: “Definimos a observação participante como um processo no qual a presença do observador numa situação social é mantida para fins de investigação científica. O observador está em relação face a face com os observados, e, em participando com eles em seu ambiente natural de vida, coleta dados. Logo, o observador é parte do contexto, sendo observado, no qual ele ao mesmo tempo modifica e é modificado por este contexto” (Schwartz & Schwartz, citados por Haguette, 1987, p. 163). “Na observação participante, o pesquisador se torna parte da situação observada, interagindo por longos períodos com sujeitos, buscando partilhar o seu cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação” (Alves-Mazzoti & Gewandsnajder, 1998, p.166). Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002311 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 Uma das vantagens da utilização da observação direta é que o pesquisador “acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos”, o que pode levá-lo a conhecer as “suas visões de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações” (Lüdke & André, 1986, p. 26). A existência de uma relativa indefinição na literatura quanto à delimitação precisa de metodologias de investigação qualitativa torna, em alguns casos, difícil a classificação de uma pesquisa. Yin (1985) estabeleceu as seguintes distinções entre estudo de caso, etnografia e observação participante: a etnografia requer estadias longas do investigador no local de investigação e observação detalhada, enquanto que a observação participante pode não ser tão demorada; o estudo de caso é uma forma de pesquisa que não depende necessariamente de dados etnográficos ou de observação participante, além de poder utilizar dados qualitativos e quantitativos, enquanto que a etnografia e a observação participante usam exclusivamente dados qualitativos. Lüdke & André (1986) alertam para o uso cuidadoso dos termos etnografia e observação participante e, consideram a primeira como a “ciência da descrição cultural” de um determinado grupo, fundamentada em pressupostos específicos do comportamento humano. Os projetos de Iniciação à Docência são desenvolvidos em uma escola da Rede Pública Estadual do Município do Rio de Janeiro e seu campo de atuação restringe-se ao da disciplina Química, nas três séries do Ensino Médio, do turno diurno. No Projeto atuam quatro bolsistas financiados pela UERJ e seis bolsistas PIBID. A participação do bolsista como observador durante sua permanência em um projeto de Iniciação à Docência, no máximo dois anos, se dá em um continuum, ou seja, ele inicia como um espectador das ações que se desenrolam no ambiente escolar e, gradualmente, se torna um participante e, agindo conjuntamente com o professor supervisor, participa em reuniões de planejamento pedagógico, na avaliação do desempenho dos alunos e em Conselhos de Classe; elabora e aplica atividades didáticas diferenciadas; elabora e executa roteiros de experimentos; planeja e orienta atividades extracurriculares, etc. Os limites estabelecidos pela organização do currículo por disciplinas são difíceis de ser vencidos e oportunidades mais concretas de trabalhar a transdisciplinaridade surgem durante a elaboração e realização dos projetos estudantis da Feira do Conhecimento, evento anual previsto no Projeto Pedagógico do Colégio. Com caráter transdisciplinar e extraclasse, o evento visa envolver a comunidade escolar, geralmente, em torno de três temas geradores. No ano de 2011, ano Internacional da Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002312 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 Química, os temas propostos foram Ambiente (1ª série), Saúde (2ª série) e Alimentos (3ª série). A realização do evento passa por cinco fases: (i) eleição dos temas e investigação de suas correlações com diferentes áreas do conhecimento; (ii) realização de palestra(s) de cunho motivador abordando os temas elencados; (iii) planejamento das atividades; (iv) experimentação/realização das atividades e (v) realização do evento propriamente dito com a exibição pública dos trabalhos desenvolvidos. Prevemos a participação de todos os bolsistas nas cinco fases de realização da Feira do Conhecimento. Cada bolsista deveria trabalhar diretamente com três ou quatro grupos de alunos do Colégio, orientando-os em levantamentos de dados e informações relacionados aos temas, auxiliando-os no planejamento e execução de atividades e apoiando-os na exibição de seus trabalhos. Em algumas situações, em que é necessário um maior detalhado do conhecimento prévio dos alunos sobre um tema específico visando conhecer hábitos e/ou atitudes, como por exemplo, sobre hábitos alimentares, uso racional da água, o descarte de resíduos sólidos urbanos, etc. são aplicados questionários individuais, em amostras nãoprobabilísticas (não-aleatórias), uma vez que há uma escolha deliberada dos elementos da população, ao se aplicar o questionário em um dia específico, a todos os alunos presentes em sala de aula, em turmas de uma dada série. RESULTADOS OBTIDOS Descrever resultados em um trabalho de docência, que se constrói a cada dia, não é fácil, uma vez que os estes não são imediatos. O que se pode apontar são as atividades que vêm sendo desenvolvidas pelos bolsistas que, em se fazendo um julgamento prévio, deverão se refletir em um melhor desempenho dos estudantes do Colégio nos estudos, particularmente em Química, e em uma formação profissional mais qualificada dos licenciandos. Assim sendo, serão relatadas as ações realizadas para alcançar as metas previstas e os seus respectivos resultados qualitativos, nos Projetos de Iniciação à Docência desenvolvidos no decorrer do ano letivo de 2011. Em relação às Metas I (Proporcionar a vivência no magistério a partir da participação efetiva dos bolsistas em atividades didáticas) e II (Possibilitar a participação dos bolsistas em atividades complementares com o objetivo de promover melhorias no processo de ensino e aprendizagem) destacamos a seguintes ações desenvolvidas: Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002313 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 i. Os bolsistas de Química transitaram livremente pelos vários ambientes da Escola; frequentaram salas de aula, biblioteca, auditório, sala de multimídia, sala de informática, laboratório de ciências, sala de professores e refeitório. ii. Todos os bolsistas ficaram responsáveis pela observação participante de pelo menos de uma turma, o que corresponde, em média, a acompanhar quatro aulas semanais em turmas que foram “adotadas” por eles. Com a turma completa ou dividida em dois grupos, realizaram atividades de aula expositiva, resolução de exercícios, discussão textos interdisciplinares, exibição de vídeos, realização de experimentos, etc. iii. Participaram da elaboração e da correção de testes de Química e do Conselho de Classe do 3º e do 4º bimestres do ano letivo de 2011. Consideramos como resultado, nessa etapa dos Projetos, a possibilidade de uma formação inicial vinculada à realidade profissional e a aquisição, pelos bolsistas, de vivências do cotidiano escolar, do planejamento e da execução de atividades. Como indicadores destes resultados, podemos apontar a participação dos bolsistas em todas as ações planejadas. Pôde-se perceber que os bolsistas desenvolveram maior autonomia, estão mais autoconfiantes e entusiasmados com sua atuação docente. Em relação à Meta III (Contribuir para a inserção de atividades experimentais no Ensino de Química) destacamos a seguintes ações desenvolvidas: i. Os bolsistas elaboraram roteiros para várias atividades experimentais, prepararam os materiais e executaram os experimentos com turmas das três séries do Ensino Médio. Os experimentos foram realizados no laboratório de Ciências, que estava praticamente sem uso e passou por um processo de limpeza e organização, levado a cabo pelos bolsistas. ii. Foi planejada uma visita à Estação de Tratamento de Água do Guandu. Os bolsistas ficaram responsáveis por elaborar um questionário que foi aplicado em turmas de 1ª série, com o objetivo de investigar seus conhecimentos prévios sobre o tema ”Água de onde vem? Para onde vai? Dois bolsistas elaboraram e apresentaram seminários em “Powerpoint” com o tema “Tratamento de Água” e discutiram com os alunos questões relativas ao tema e à importância de não se desperdiçar água. iii. A visita foi realizada e contou com a participação da professora supervisora dos Projetos, que compareceu fora do horário de suas atividades no Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002314 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 Colégio para acompanhar bolsistas e cerca de 50 alunos à Estação de Tratamento de Água do Guandu. Acreditamos que as atividades experimentadas pelos bolsistas no laboratório e na visita servirão como referenciais para balizar novas estratégias e alternativas para o ensino de Química. Partindo dos conhecimentos prévios dos estudantes, estes foram levados a construir seu conhecimento sobre um tema ao serem expostos a diferentes estratégias de aprendizagem. Consideramos relevante destacar o processo de formação continuada do professor supervisor, mediante o planejamento e a realização de novas atividades e da reestruturação das existentes, além da participação em debates sobre temas interdisciplinares, na realização de experimentos, no seminário e na visita à estação de tratamento de água. No que concerne a Meta III (Possibilitar a inserção dos bolsistas em atividades transdisciplinares e extraclasse) os bolsistas, trabalhando em conjunto com a supervisora de Química, apresentaram propostas de dividir os temas para a Feira do Conhecimento em sub-temas, que seriam objeto de estudo pelos alunos da Escola. Assim o tema Ambiente passou a abordar: “Água”, “Poluição do ar”, “Lixo, coleta seletiva e reciclagem”. O tema Saúde foi subdividido em: “Moléculas que alteram as emoções” e “A Química que revolucionou a medicina” e o tema Alimentos, abordou “Hábitos alimentares”, “Estrutura química dos alimentos” e “Rotulagem de alimentos”. Destacamos, ainda, a seguintes ações desenvolvidas pelos bolsistas: i. Participação em reuniões da equipe Química para discussão das propostas dos bolsistas de projetos/trabalhos a serem desenvolvidos com os alunos do Colégio, visando abordar os temas da Feira do Conhecimento e suas ramificações e relações com a Química e o Ensino de Química. ii. Apresentação, pelos bolsistas, dos temas da Feira do Conhecimento e das propostas de projetos/trabalhos em turmas das três séries do Ensino Médio. Formação de grupos e distribuição dos temas para estudos extraclasse. iii. Orientação e acompanhamento dos projetos/trabalhos dos grupos pelos bolsistas. Auxílio aos estudantes no planejamento e execução de cartazes, experimentos, montagem de maquetes, etc. iv. Participação na organização/realização da Feira do Conhecimento, na exibição e avaliação dos trabalhos. Como resultados significativos para a formação docente, apontamos o desenvolvimento de hábitos de pesquisa/estudo de temas químicos socialmente Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002315 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 relevantes a partir da busca, seleção e análise de informações disponíveis em diferentes fontes. Os bolsistas adquiriram uma vivência relevante na orientação de projetos de ensino, uma vez que orientaram um total de vinte e três grupos de estudantes, sobre temas químicos diversos (listados no QUADRO 2, em anexo). Em relação aos estudantes do Colégio podemos afirmar que eles ficaram muito entusiasmados com as atividades propostas pelos bolsistas para Feira do Conhecimento. Entretanto, não pudemos quantificar o quanto o desenvolvimento frutuoso dos Projetos de Iniciação à Docência se reverteu em um melhor desempenho escolar, em termos de notas. Este julgamento não é simples uma vez que muitas outras variáveis interferem no processo ensino-aprendizagem, mas é certo que os alunos estão motivados a conhecer o novo e a buscar explicações para fatos químicos cotidianos. Todavia consideramos que o trabalho em desenvolvimento tem atendido nossas expectativas em relação a diminuir a dicotomia entre teoria, apresentada nas disciplinas de formação específica em química e em disciplinas pedagógicas, e prática docente, vivenciada no cotidiano escolar. COMENTÁRIOS FINAIS Uma dificuldade que nos parece importante relatar foi a greve dos professores e profissionais de educação da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro por cerca de dois meses e o difícil retorno às aulas em agosto. Apesar das revindicações justas da categoria por melhores condições salariais esta teve poucos ganhos. Após a greve, os professores da Escola estavam desmotivados, e vários se desinteressaram pela “Feira do Conhecimento” considerando que não queriam desenvolver um “trabalho extra”. Este momento também foi de aprendizagem para os bolsistas. A valorização da carreira docente, um dos grandes desafios do Brasil, pressupõe bons salários e condições dignas de trabalho. Para que isso ocorra, o profissional da educação deve ter acesso à formação inicial e continuada de qualidade. Só com estudos constantes, planejamento e dedicação é possível ser um bom professor. Projetos de Iniciação à Docência têm o potencial de congregar professores atuantes no Ensino Básico com especialistas atuantes nas Instituições de Nível Superior e, dessa forma, criam-se oportunidades para que surjam interesses comuns entre os dois grupos de profissionais: levando os primeiros a buscar formas de se atualizar e aperfeiçoar no exercício profissional, ao mesmo tempo em que proporciona aos docentes, especialistas em suas áreas de ensino e pesquisa, um campo de aplicação de seus saberes, às vezes por demais acadêmicos, que são transmitidos aos licenciandos, Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002316 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 não raramente, sem um viés prático e distante da realidade escolar. Normalmente, os estágios supervisionados curriculares realizados pelos licenciados são as pontes que ligam a Universidade à Escola, mas por elas transitam poucas trocas, e os ganhos, normalmente, são ínfimos para ambas. Projetos de Iniciação à Docência possibilitam intervenções mais pontuais e um estreitamento das relações Escola-licenciandoUniversidade. Por último gostaria de destacar a importância do papel do professor supervisor da escola parceira, uma vez que ele acompanha de perto a condução do processo de ambientação dos bolsistas e mantém o bom relacionamento entre eles e a comunidade escolar. A presença de universitários na escola nem sempre é vista com “bons olhos”, uns professores temem comparações, outros tentem interferências. As atividades devem ser planejadas em conjunto e requerem a negociação da abertura de espaços nas agendas escolares das turmas e dos professores, para que nossas propostas possam ser concretizadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES-MAZZOTI, A. J. & GEWANDSNAJDER, F. O Método nas Ciências Naturais e Sociais – Pesquisa quantitativa e Qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. GEPEQ - lnterações e Transformações III – a química e a sobrevivência – atmosfera, fonte de materiais. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 2000. HAGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1987. LÜDKE, M. & ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas, São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986. MORTIMER, E. F. Linguagem e Formação de Conceitos no Ensino de Ciências. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000. SANTOS, L. P. e MALDANER, O. A.(Org.) Ensino de Química em Foco. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. (Coleção Educação em Química). SANTOS, W. L. P. e SCHNETZLER, R. P. Educação em Química - Compromisso com a Cidadania. 4ª ed. rev.. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. (Coleção Educação em Química). SANTOS, W. L.; MÓL, G. S. (Org.). Química cidadã. São Paulo: Ed. Nova Geração, 2010. YIN, R. K. Case Study Research: Design and Methods. Londres: Sage Publications, 1985. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002317 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 QUADRO 1: Metas e Ações Previstas nos Projetos de Iniciação à Docência META AÇÕES PREVISTAS Investigação dos diferentes ambientes pedagógicos: as salas de aula em diferentes turnos, séries e disciplinas; a sala de informática; a sala multimídia; o laboratório, a biblioteca, o refeitório, a sala de professores e o pátio. META I Proporcionar a Elaboração de testes e provas com um espectro vivência no magistério a partir da participação efetiva dos bolsistas em atividades didáticas. amplo e que não privilegiem a memorização. Planejamento e organização de unidades didáticas que possibilitem uma abordagem contextualizada, que interdisciplinaridade favoreçam e, se a possível, o desenvolvimento de atitudes e valores. Participação no processo de avaliação da aprendizagem e nos Conselhos de Classes. META II Possibilitar bolsistas a participação em dos Elaboração atividades diferenciadas e aplicação voltadas para de atividades alunos com complementares com o objetivo de dificuldades em aprender os conceitos básicos da promover melhorias no processo de Química ensino e aprendizagem Elaboração e execução de roteiros de atividades experimentais em sala de aula ou no laboratório. META III Contribuir para a inserção de atividades experimentais no Ensino de Química Planejamento de visitações e elaboração de orientações a serem seguidas pelos alunos do Colégio Programação de atividades experimentais na forma de visitações a empresas ou instituições. META IV Possibilitar a inserção dos bolsistas em atividades transdisciplinares e extraclasse Participação dos bolsistas PIBID nas etapas de organização da “Feira do Conhecimento”, evento anual realizado no Colégio. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002318 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 QUADRO 2: Temas Químicos Abordados na Feira do Conhecimento 1- Moléculas que alteram as emoções: Drogas 2- Moléculas que alteram as emoções: A paixão pelo esporte 3- Álcool – uso do bafômetro 4- A Química das bebidas 5- Revolução sexual: anticoncepcionais 6- Higiene pessoal também é saúde 7- Radioatividade 8- Rochas e Minerais 9- Vitamina C 10- Investigando alimentos 11- O porquê das cores dos alimentos 12- Corantes nos alimentos 13- Do corante ao remédio 14- Rótulo dos alimentos 15- Distúrbios alimentares 16- Pilha: obtendo energia partir de alimentos 17- Reciclagem 18- Coleta seletiva: separação de materiais por densidade 19- Coleta seletiva: o que é o nosso lixo? 20- Lixo eletrônico 21- Poluição do ar 22- Tratamento de Água 23- Experimento global: pH do Planeta Agradecimentos Agradecemos à CAPES e ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID a concessão de seis bolsas de Iniciação à Docência para alunos do curso de Licenciatura em Química e de bolsas para o coordenador e supervisor do Projeto. Agradecemos também à SR1/CETREINA/UERJ a concessão de quatro bolsas de Iniciação à Docência. Destacamos a participação valorosa nos Projetos dos docentes Denise Gutman Almada e Ilton Jornada e a participação dos alunos Diego Mota, Gabriel Cabral, Gisele Firmino, Haroldo Candal, Magno Silva, Marcos Leal, Pâmella Santos, Pedro Coutinho, Roberta Moreira e William de Oliveira. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002319