A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O USO DE
REPOSITÓRIOS EDUCACIONAIS DIGITAIS
Paloma Alinne Alves Rodrigues1 (UFABC)
Maria Inês Ribas Rodrigues2 (UFABC)
Resumo:
O presente artigo aborda resultados parciais de uma pesquisa de mestrado
desenvolvida na Universidade Federal do ABC (UFABC), no município de
Santo André/SP. Desse modo, será apresentado o resultado de uma das
ações que consistiu na realização de uma oficina pedagógica, para
apresentar o repositório educacional digital “Banco Internacional de Objetos
Educacionais (BIOE)” aos professores da escola e sujeitos da pesquisa.
Através de um questionário com quatorze questões, aplicado ao término da
oficina, verificamos a perspectiva destes profissionais quanto ao uso da
Informática na Educação; assim como sobre as possibilidades de
contribuição do BIOE para o contexto de ensino e aprendizagem. Por meio
da análise de três questões, tornou-se evidente a necessidade de formar os
professores para o uso da tecnologia, pois somente assim eles terão
condições de utilizar o repositório educacional digital do BIOE.
Palavras-chave: Formação de Professores, Tecnologia, Repositórios Digitais.
Abstract:
This article examines partial results of Master’s Degree research undertaken
at the ABC Federal University (UFABC) in Santo André – SP. In this case the
results of one of the activities realized in the course of research, a
Pedagogical Workshop held with the intention of presenting to the school
teachers, subjects of the research, the International Bank of Educational
Objects (BIOE) will be presented. By means of a questionnaire containing
fourteen questions which was applied at the end of the Workshop the
perspective of these professionals in relation to the use of information
technology and the possibilities for the contribution of the BIOE within the
teaching-learning context. Through the analysis of three questions the need
to train teachers in the use of technologies became evident, only then will
they have the necessary conditions to make use of the digital archive of the
BIOE.
Keywords: Training of Teachers, Information Technology, Digital Archive.
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Introdução
Diariamente nos deparamos com a constante presença da tecnologia em
diferentes situações do cotidiano: em terminais bancários; no uso de celulares,
cartões de crédito e principalmente no acesso à internet. O uso de celulares,
iphones, tablets e computadores tornam-se cada vez mais comuns, sendo que, a
cada dia, ganha novos adeptos encantados com os recursos e facilidades que esses
instrumentos propiciam.
Contudo, é possível notar que os mais interessados em manuseá-los são as
crianças e jovens, os denominados nativos digitais. É importante lembrar que
recursos
disponibilizados
por
esses
instrumentos
possuem
elementos
e
funcionalidades que despertam o interesse de qualquer jovem e criança, como por
exemplo: jogos; aplicativos; acesso à redes sociais, à informações; flexibilidade e
facilidade de uso.
No entanto, mesmo com o grande avanço das tecnologias, o uso do
computador na escola ainda é um desafio para muitos professores, já que eles não
tiveram uma formação adequada para utilizá-las. Desta forma, passaram a ser
considerados imigrantes digitais (PRENSKY,2001). Em função disso, ao elaborar um
plano de aula, há professores que utilizam apenas como instrumento pedagógico o
livro didático; e ministram uma aula totalmente expositiva (RODRIGUES et. al,
2012).
Concordamos com Lévy, quando ele argumenta que:
é certo que a escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no
falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos,
em um uso moderado da impressão. Uma verdadeira integração da
informática (como do audiovisual) supõe, portanto o abandono de um
hábito antropológico mais que milenar o que não pode ser feito em alguns
anos (LÉVY, 1993, p. 09).
Contudo, é desejável que o professor busque aprimorar a sua prática para
que o aluno não sofra com as lacunas que deixaram de ser preenchidas devido a
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uma aula baseada somente em teorias e memorização de conceitos; e que estão
voltadas a uma prática arcaica e a um currículo muitas vezes defasado.
Em virtude deste cenário, a formação continuada é uma saída plausível para
propiciar a esses professores a oportunidade para refletir sobre a prática
desenvolvida em sala de aula (SCHON, 1992; RODRIGUES, 2001); além de propiciar
subsídios para articular, de forma significativa, a informática no contexto escolar.
Com relação à reflexão sobre a prática cabe destacar que ela é um elemento
imprescindível quando abordamos a temática de formação de professores, seja ela
inicial ou continuada, uma vez que é por meio dela que o professor pode analisar
os métodos e a postura adotada por ele no contexto escolar. Sobre este assunto
Pósner (1982) pondera que a partir da reflexão sobre a prática, o professor pode
sentir-se incomodado e buscar meios para aprimorá-la.
Logo, uma formação continuada que valorize a reflexão sobre a prática,
possibilitará ao professor perceber que é a sua atuação como mediador no contexto
escolar que fará diferença na aprendizagem do aluno. Sobre este assunto, Lucena
(1998) salienta que:
[...] o uso do computador na escola só faz sentido na medida em que o
professor o considerar como uma ferramenta de auxílio e motivadora a sua
prática pedagógica, um instrumento renovador do processo ensinoaprendizagem que lhe forneça meios para o planejamento de situações e
atividades simples e criativas e que, consequentemente, lhe proporcione
resultados positivos na avaliação de seus alunos e de seu trabalho.
(LUCENA, 1998, p.2).
Desse modo, é desejável que esta formação possibilite ao professor uma
discussão sobre as teorias pedagógicas relacionadas à informática na educação instrucionismo e o construcionismo (VALENTE, 1999). O instrucionismo é uma
abordagem pedagogica caracterizada pela transmissão da informação e o
computador é tido como máquina de ensinar. Por outro lado, o construcionismo
possibilita que o aluno tenha um contato estreito com o computador, de forma
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interativa e colaborativa. Logo, no construcionismo o computador é tido como mais
um instrumento pedagógico que favorece a construção do conhecimento.
Diante disso, é importante que o professor perceba as diferenças entre as
duas abordagens pedagógicas, e compreenda que o computador é uma máquina que
precisa ser operada e se ele não souber utilizá-la de forma coerente, de forma a
valorizar a construção do conhecimento, o seu uso não terá valor pedagógico.
Outro fator relevante apresentado por Perrenoud (2000) é que neste processo
de formação para o uso da tecnologia, o professor pode construir novas
competências, tais como:
[...] formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e
dedutivo, as faculdades de observação e pesquisa, a imaginação, a
capacidade de memorizar e classificar, a leitura e análise de textos e
imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de
comunicação (PERRENOUD, 2000, p. 128).
É também por meio da formação continuada, que os professores que tiveram
uma formação inicial obsoleta, poderão ter condições de aprender a utilizar os
recursos disponíveis no computador. Em virtude disso, eles terão condições de
pesquisar novos instrumentos pedagógicos em repositórios educacionais digitais; e
assim aprimorar o seu plano de aula para potencializar a aprendizagem dos alunos.
Os repositórios educacionais digitais possuem o objetivo de disponibilizar
diferentes formatos de recursos pedagógicos tais como textos; livros; multimídia;
dentre outros, para serem implementados em sala de aula. É importante lembrar
que um ponto positivo da utilização dos repositórios está relacionado com o fato de
que muitos professores argumentam que não possuem tempo suficiente para
pesquisar materiais na internet. No entanto, os repositórios otimizam o tempo de
busca e localização de materiais, já que eles estão organizados e identificados.
Em virtude disso, pensando em propiciar aos professores recursos para
aprimorar o plano de aula, o Ministério da Educação (MEC), em parceria com
algumas instituições internacionais, lançou em 2008 o repositório educacional
digital “Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE) 3”. Este repositório é
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um endereço eletrônico de livre acesso, que disponibiliza diversos formatos de
Objetos Educacionais (OE) definidos como recursos que podem apoiar a
aprendizagem e ser reutilizados, em diferentes momentos, em acordo com o plano
de aula do professor.
Sendo assim, no repositório educacional digital do BIOE, os professores tem a
oportunidade de encontrar OE como: animações, simulações, experimentos
práticos, softwares educacionais, hipertextos, imagens e vídeos. Esses OE foram
localizados, selecionados e catalogados, por alunos de Universidades Públicas e
Federais, parceiras deste projeto, de acordo com os níveis de ensino previstos na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) (RODRIGUES et.al, 2012).
Em virtude das discussões acima, dois pontos são relevantes para que os
professores implementem, de forma significativa, os OE no contexto escolar: a
formação continuada e a reflexão sobre a prática.
Diante disso, foi desenvolvida uma pesquisa de mestrado na Universidade
Federal do ABC (UFABC), que visava analisar e contribuir com a formação
continuada de um professor de Física para a implementação dos OE, que estão
disponíveis no repositório educacional digital do BIOE.
Para tanto, o presente artigo tem o intuito de apresentar resultados parciais
desta pesquisa, relacionado à perspectiva dos professores, participantes da
pesquisa, quanto ao uso da Informática na Educação; assim como sobre as
possibilidades de contribuição do BIOE para o contexto de ensino e aprendizagem.
Metodologia
De acordo com a literatura, há vários tipos de pesquisas e abordagens
metodológicas (LAKATOS & MARCONI, 1985; TRIVIÑOS, 1987). Contudo, ao se
analisar os diferentes tipos de metodologia, verificou-se que a investigação
desenvolvida na UFABC possuía características de uma pesquisa qualitativa.
A pesquisa qualitativa possui cinco características: tem o ambiente natural
como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave; é descritiva;
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o pesquisador busca preocupar-se com o processo e não simplesmente com os
resultados; o pesquisador tende a analisar seus dados indutivamente; e, além disso,
o significado é de suma importância (BOGDAN & BINKLEN, 1994).
Sendo assim, a pesquisa foi realizada em uma instituição escolar no
município de Santo André/ SP e contou com a participação de setenta e cinco
alunos do 3° ano do Ensino Médio; quatorze professores de diferentes áreas e um
professor de Física.
Para alcançar os objetivos propostos, diversas ações foram realizadas.
Todavia, o foco deste trabalho está relacionado à primeira ação, compreendida de
uma oficina pedagógica, que envolveu
os quatorzes professores sujeitos da
pesquisa.
Esta oficina foi realizada durante a Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo
(HTPC) e por meio dela divulgamos o repositório educacional do BIOE e ao seu
término aplicamos um questionário para averiguar a perspectiva dos professores
quanto ao uso da informática na educação, assim como sobre o uso do BIOE no
contexto escolar. O questionário era composto por quatorze questões, sendo elas
abertas e fechadas. No entanto, neste trabalho será apresentada a análise de três
questões:
a) "Você utiliza a sala de informática?”;
b) “Como educador você acredita que o uso da TIC na escola é:";
c) O que o BIOE apresenta como recurso para o planejamento das suas aulas?”.
Resultados
A análise relacionada a questão: "Você utiliza a sala de informática?” aponta
para a necessidade de propor aos professores uma formação voltada para o uso da
tecnologia.
Mesmo
convivendo
diariamente
com
diversos
instrumentos
tecnologicos, uma parcela significativa dos professores ainda não consegue
desvencilhar-se das práticas arcaicas e não propõem a seus alunos aulas que façam
uso de outros instrumentos pedagógicos, além do livro didático. O gráfico 1 nos
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mostra que 70% dos professores, participantes da oficina, não tinham o hábito de
utilizar a sala de informática.
Gráfico 1: Análise da questão: "Você utiliza a sala de informática?”.
Este resultado demonstra que é preciso potencializar a articulação da
tecnologia no meio escolar. Contudo, para que isso de fato aconteça é preciso que
o professor esteja preparado. Para tanto, entendemos que a formação continuada
deva ter a sua concepção fundamentada em uma base sólida para instigar o
professor a refletir sobre a sua prática; a construir uma didática contemporânea e
a vislumbrar e utilizar a tecnologia como um instrumento pedagógico.
Não basta propor ao professor um mero curso de atualização ou capacitação
que valorize apenas a acumulação de informações e teorias (RODRIGUES,2001).
Todavia, recomendamos fortemente que é preciso garantir espaços para práticas e
estudos sobre a tecnologia, pois somente assim, o professor aprenderá na prática a
potencialidade desses recursos.
Logo, "neste contexto, a formação assume um papel que transcede o ensino
[...] e se transforma na possibilidade de criar espaços de participação, reflexão e
formação para que as pessoas aprendam e se adaptem[...]" (IMBÉRNON, 2011,
p.15).
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Por outro lado, mesmo diante da ausência da tecnologia em sala de aula, os
professores participantes da oficina entendem que o seu uso é um elemento
importante para potencializar o processo de ensino e aprendizagem. Na análise da
questão: "Como educador você acredita que o uso da TIC na escola é:" (Gráf. 2);
verificamos que 50% consideravam que o uso da tecnologia é importante; e 49 %
informaram que era fundamental ter a sua presença no contexto escolar.
Gráfico 2: Análise da questão: " Como educador você acredita que o uso da TIC na escola é:"
Todavia, não basta o professor considerar o uso da tecnologia importante, se
por outro lado ele não a utiliza em sala de aula. Porém, esta situação somente será
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contornada a partir do momento em que houver investimentos e iniciativas
relaciondas à formação continuada de professores para o uso das tecnologias. Da
mesma forma, que esa formação seja possibilitada já na formação inicial.
A escola é um locus formador por isso, é desejável que o professor entenda
que a sua prática não é mais compatível com o atual contextoe que ele esteja
preparado para utilizar e implementar diferentes instrumentos pedagógicos.
Além disso, como apontado em nossa introdução teórica, é com esta
formação que ele terá a oportunidade de aprender sobre como utilizar os
programas e aplicativos e principalmente a acessar a internet para explorar os
repositórios educacionais digitais e localizar OE para enriquecer o seu plano de
aula.
Sob este aspecto, questionamos os professores participantes da oficina, a
respeito do repositório educacional do BIOE. Por meio da análise da questão: "O
que o BIOE apresenta como recurso para o planejamento das suas aulas?",
verificamos que para 26% dos professores o BIOE poderia auxiliar a construir novas
estratégias didáticas e, para 24 % deles, o BIOE seria uma fonte de materiais para
serem implementados no contexto escolar (Gráf.3).
Gráfico 3: Análise da questão: " O que o BIOE apresenta como recurso para o planejamento das suas
aulas?"
So
b este aspecto, Nascimento (2009) argumenta que o repositório educacional digital
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do BIOE promete ser de grande valia, tanto para os educadores, como para alunos e
instituições acadêmicas. Além de subsidiar a elaboração de novas estratégias,
constitui-se com
um espaço digital organizado, que pode ser acessado de
diferentes lugares e disponibiliza recursos de alta qualidade pedagógica;
permitindo que o professor utilize e reutilize-os
quantas vezes considerar
necessário.
Considerações Finais
Em nossa introdução teórica argumentamos sobre as mudanças que
vivenciamos em nossa sociedade e que em virtude disso, a escola, em especial os
professores precisam estar preparados para propiciar aos alunos - nativos digitaisuma aprendizagem significativa e que faça uso de
diferentes instrumentos
tecnólogicos.
No entanto, por meio da análise dos dados verificamos que uma parcela
significativa dos professores não utilizam a sala de informática, mas consideram
que a tecnologia é um recurso importante e que deve fazer parte da rotina escolar.
Contudo, devido a uma formação inicial obsoleta, os professores não possuem
subsídios suficientes para articular esse recursos ao seu plano de aula.
Por isso, destacamos a necessidade da formação continuada de professores
para o uso da tecnologia. A partir desta formação o professor terá novas
perspectivas, refletirá sobre a sua prática, aprenderá sobre as potencialidades da
tecnologia e vislumbrará um novo papel pedagógico para atuar no contexto escolar.
Consideramos também, que durante este processo, o professor - imigrante
digital - poderá tornar-se parceiro do aluno; e esta proximidade poderá ajudá-lo a
‘‘compreender suas ideias, a olhar o conhecimento por meio de novas perspectivas
e a aprender também” (KENSKI, 2007, p. 103).
Além disso, para que os professores tenham condições de enriquecer o seu
plano de aula, com os OE disponíveis no repositório educacional digital do BIOE, é
fundamental que eles tenham uma formação voltada para o uso da tecnologia.
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Sob este aspecto a nossa análise, demonstrou que os professores
consideraram o repositório educacional digital do BIOE um importante instrumento
pedagógico e que seria um elemento diferenciado que permitiria potencializar o
plano de aula, uma vez que muitos professores utilizam apenas o livros didático em
suas aulas.
Logo, concluímos que os professores tem consciência sobre a necessidade de
articular a tecnologia ao seu plano de aula, mas não compreendem como fazê-lo,
já que não possuem uma formação adequada para isso.
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Paloma Rodrigues, Ms.
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Centro de Ciências Naturais e Humanas
Pesquisa Financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
[email protected]
2
Maria Inês Rodrigues, Profa. Dra.
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Centro de Ciências Naturais e Humanas
[email protected]
3
Disponível em: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/ Acesso em: 05 Nov. 2012
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