EM BUSCA DA AMAZÔNIA AZUL 02/10/2007 Brasil quer aumentar jurisdição no Atlântico para explorar biodiversidade e energia Antônio Marinho Pelo menos 95% do comércio exterior brasileiro passam pelo mar. E nossa área marítima tem cerca de 3,6 milhões de quilômetros quadrados. Agora o governo do Brasil reivindica à Comissão de Limites da Plataforma Continental das Organizações da Nações Unidas (CLPC) um acréscimo aproximado de 960 mil quilômetros quadrados além das 200 milhas náuticas. Se esta proposta for aceita, o país terá jurisdição em 4,5 milhões de quilômetros quadrados, território que o governo chama de Amazônia Azul, uma área quase tão grande quanto a Floresta Amazônica e rica em biodiversidade e recursos naturais. A proposta brasileira foi apresentada à CLPC depois de mais de uma década de estudos de pesquisadores do Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira, da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, da Marinha do Brasil e da Petrobrás. O objetivo é estabelecer o limite exterior da nossa plataforma continental, isto é, a área marítima além das 200 milhas, na qual o Brasil exercerá soberania para exploração e aproveitamento dos recursos naturais do leito e subsolo marinho. Proposta aceita com restrições Por enquanto, a CLPC aceitou com restrições o pleito do governo brasileiro, depois de três anos de análises. Outros países já apresentaram propostas à CLPC para ampliar a jurisdição marítima. Além do Brasil, Rússia, Austrália, Irlanda, Espanha, França, Reino Unido, Nova Zelândia e Noruega também querem aumentar a área do mar sob seu controle. Para o comandante da Marinha do Brasil, almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto, que coordena a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, a definição do limite exterior da plataforma continental será mais uma fonte para o desenvolvimento da biotecnologia. — Serão ampliadas as possibilidades de descoberta de novos campos petrolíferos e de exploração de recursos da biodiversidade marinha — diz o comandante. A CLPC, é formada por 21 peritos eleitos pelos países que fazem parte da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Após examinar o pleito do Brasil, ela fez recomendações ao governo, permitindo nova proposta. Em áreas relativas ao cone do Amazonas, às cadeias Norte-Brasileira, a Vitória-Trindade e à margem continental Sul, a comissão não concordou integralmente com o limite solicitado pelo Brasil. Um total de 25% do total pretendido. — A CLPC não tem competência para dizer ao governo do Brasil o que fazer quanto à sua plataforma continental. Por ser um Estado soberano, o país pode estabelecer, unilateralmente, o limite exterior da sua plataforma continental, além das 200 milhas. Mas se tivermos o aval da ONU será mais fácil exercer o direito. Não basta querer ampliar o espaço marítimo. É preciso ter mentalidade marítima. — diz o comandante Alexandre Tagore Albuquerque, assessor técnico da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil e perito da CLPC, na qual foi eleito presidente. No momento, está sendo realizada no Brasil a análise detalhada das recomendações da CLPC. — Os pesquisadores brasileiros darão seu parecer técnico-científico. Esses dados serão úteis para subsidiar a decisão que será adotada pelo Brasil. Cabe ao governo brasileiro dizer à CLPC o que pensa das suas recomendações — observa Tagore. Ele está otimista com relação à reivindicação brasileira: — Qualquer que seja a decisão da CLPC, o Brasil vai incorporar uma grande extensão oceânica, além das 200 milhas. Dependendo de novas análises, o pleito ainda poderá ser totalmente aceito. O comandante Moura Neto diz que não há como garantir que a área reivindicada pelo Brasil tem petróleo ou riquezas naturais. — Tão importantes quanto os aspectos econômicos são os limites do Brasil, dos quais não podemos abrir mão. Esses 960 mil quilômetros quadrados correspondem aos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O mar é fundamental para nossa economia — diz. Falta de recursos dificulta projetos Mais de 85% do petróleo do Brasil vêm do mar, cerca de 1,6 milhões de barris por dia. O oceano também é rico em gás natural, essencial para as indústrias do país. Além de incrementar a atividade pesqueira e o turismo, a ampliação da zona marinha poderá ser fonte de materiais chamados granulados (cascalhos, areia e argila), usados em construção civil. Há ainda outros minerais no fundo do mar, como platina, magnetita, óxidos de titânio e até diamantes. Apesar do interesse do governo em busca de uma maior área de jurisdição marítima, a Marinha, por falta de recursos materiais e humanos, enfrenta dificuldades para manter a soberania do mar territorial e na Zona Econômica Exclusiva. Na Marinha Mercante a situação também é crítica: cerca de 97% dos bens que o país importa e exporta são transportados por navios de outras bandeiras. Para 2007, o orçamento da Marinha é de R$1,285 bilhão. Mas o total de recursos necessários para atender demandas mínimas é de R$1,842 bilhão, para o mesmo período. Em reunião no Ministério da Defesa, foi decidido que no orçamento deste Ministério em 2008 a Marinha deverá dispor de cerca de R$ 2,135 bilhões, fora convênios e emendas parlamentares. Fonte: Jornal O GLOBO