ESTUDO DA PRODUÇÃO DE HIDROLISADO A PARTIR DA TORTA RESULTANTE DA PRENSAGEM DE INAJÁ (MAXIMILIANA MARIPA). Rômulo Almeida ([email protected]), Jaqueline de Fátima Cabral Moraes ([email protected]), Brenda Fernanda Honorato de Oliveira ([email protected]), Larissa Borges Albano ([email protected]), Nádia Cristina Fernandes Corrêa ([email protected]), Luiz Ferreira de França ([email protected]) Introdução A busca por fontes de energias alternativas em curto prazo aponta como destaque o uso de biocombustíveis. Dentre elas destaca-se o bioetanol produzido a partir de biomassas residuais de agroindústrias como fontes bioenergéticas. Biomassas são fontes de hexoses e pentoses com grande potencial na produção de álcool de segunda geração, produtos químicos e produtos para a alimentação (SÁNCHEZ, 2009). Somente no ano de 2007, a biomassa como matriz energética foi a segunda principal fonte de energia no Brasil (31,1%) perdendo apenas para o petróleo e seus derivados (ANEEL, 2009). Assim como no país, em todo o mundo há um grande interesse na utilização de resíduos celulósicos para a produção de etanol. A palmeira oleaginosa inajá (Maximilianamaripa (Aubl.)Drude) está presente em toda Amazônia Legal, ocorrendo nos mais diversos ambientes desde florestas primárias e secundárias, ambientes estes em que aparece em baixa densidade, até áreas abertas, normalmente perturbadas por derrubadas e queimadas, onde surge em grandes densidades (MIRANDA & RABELO, 2006). As tortas resultantes dessas extrações podem ser estudadas como fonte de materiais lignocelulósicos, sendo estas uma fonte promissora de açúcar, tornando-se um ponto positivo na produção de bioetanol. Podendo esta ser uma alternativa para o desenvolvimento sustentável da região amazônica. Este trabalho objetivou caracterizar a torta resultante da prensagem da polpa do inajá e definir os parâmetros do pré-tratamento do processo de hidrolise ácida. 136 Material e Métodos O inajá utilizado para as análises é proveniente do município de Bragança no Estado do Pará; coletado no período de março de 2011. As analises físicoquímicas e atividades de pesquisa foram realizadas no Laboratório de Operações de Separação (LAOS) da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Pará. Para o processamento dos frutos de inajá foram realizadas as seguintes etapas: despolpamento, secagem em estufa de circulação de ar e prensagem em prensa hidráulica. Para quantificação de fibras em detergente neutra e ácida foi usada metodologia descrita por van Soest e Wine (1963). As condições reacionais foram escolhidas a partir de resultados obtidos da pesquisa de Neves (2012) para o seguintes variáveis e domínios: granulometria (16 e 35 mesh) e a relação solido/ ácido (1:10 e 1:30). As variáveis de concentração de ácido e temperatura foram mantidas constantes e iguais a 0,25 M e 60 minutos, respectivamente. A concentração de açúcar redutor foi a variável de resposta. O plano está apresentado na Tabela 1. Para os ensaios de hidrólise ácida da torta de inajá aplicou-se a análise de variância (ANOVA) Tabela 2 e teste Tukey (p<0,05) como exposto na Figura 1. A hidrólise ácida da torta de inajá foi realizada em autoclave (PRISMATEC – CS) com capacidade de 80L, atingindo a temperatura de 120°C e pressão de 1 kgf/cm² e a 100°C em pressão de 1,033 kgf/cm². O Hidrolisado foi filtrado e neutralizado para análise de açúcar redutor (AR). A análise de AR foi realizada pelo método do ácido dinitrossalicílico (DNS) com auxílio de espectrofotômetro Thermo Scientific (MOURA, PINTO e RODRIGUEZ, 2007) com comprimento de onda de 540 nm. A cinética do melhor ensaio da hidrólise ácida foi realizada em estufa de circulação de ar da marca Quimis, onde se utilizaram os mesmos parâmetros, exceto a temperatura devido às limitações do equipamento, sendo a cinética realizada a 100°C. Foram retiradas alíquotas de 4 mL nos tempos de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos, para posteriormente resfriamento em água fria, correção de pH e quantificação de açúcares redutores. Resultados e discussão 137 A tabela 1 compara as frações da celulose, hemiculose e lignina do inajá prensado antes do pré-tratamento ácido. Tabela 1. Perfil lignocelulósico de sub-produtos da agroindústria regional em comparação ao encontrado neste estudo SUBCELULOSE HEMICELULOSE LIGNINA REFERÊNCIA PRODUTOS (%) (%) (%) Torta de inajá 58,63 15,35 26,02 Neste estudo Semente de 28,35 9,5 14,4 ALAMAR cupuaçu (2012) Casca de 35,31 6,68 18,25 ALAMAR coco verde (2012) Resíduo de 56,46 5,00 17,71 ALAMAR palma (2012) Casca de 49,89 1,10 42,90 ALAMAR coco seco (2012) Casca de 43,45 0,21 50,31 ALAMAR castanha do (2012) Pará Fibra de coco 65,40 0,37 33,68 ALAMAR (2012) Caroço de 58,18 1,56 21,9 ALAMAR açaí (2012) As fibras presentes foram caracterizadas e quantificadas como exposto na Tabela 1, Comparando o resultado obtido por Alamar (2012) a qual analisou a composição do material lignocelulósico de diferentes sub-produtos da agroindústria regional, observou-se que o valor encontrado para celulose da torta de inajá é superior a semente de cupuaçu, casca de coco verde, casca de coco seco e casca de castanha do Pará. Entretanto, a torta de inajá apresenta uma percentagem semelhante ao resíduo de palma e ao caroço de açaí, sendo estas fontes possíveis de biomassa ainda não estudadas. A tabela 2 apresenta as condições experimentais realizar hidrolise ácida da torta inajá. Tabela 2: Parâmetros utilizados nos ensaios da hidrólise ácida 138 ENSAI GRANULOMETRI RELAÇÃO CONCENTRAÇÃ TEMPO O A (MESH) SÓLIDO/ÁCID O DE ÁCIDO (M) (MINUTOS O ) I 16 1:10 0,25 60 II 16 1:30 0,25 60 III 35 1:10 0,25 60 IV 35 1:30 0,25 60 A figura 1 apresenta as respostas obtidas pela análise das médias dos ensaios e a partir da análise de variância. Figura 1: o gráfico mostra a concentração de açúcar redutor (g/L) após a hidrólise ácida 35 mesh; 1:30 35 mesh; 1:10 16mesh; 1:30 16 mesh; 1:10 Neste gráfico é possível verificar que de certo modo as variáveis influenciam na produção de AR. Onde ensaios que possuem a mesma letra ao nível de significância 95% são iguais estatisticamente. É possível observar que com a mesma granulometria (16 mesh) os ensaios apresentam diferença significativa. No estudo com os ensaios 3 (35 mesh; 1:10) e 4 (35 mesh; 1:30) apresentou também diferença significativa. Ao realizar uma comparação entre os ensaios com mesh 16 e 35, pôdese notar que há diferença significativa quando há a mudança dos tamanhos de partículas, sendo o ensaio com maior granulometria o que apresentou maior 139 eficiência, produzindo em torno de 4,92 g/L de AR. Resultado similar foi obtido por Rabelo (2007) com bagaço de açúcar. Conclusão A caracterização química da torta de inajá resultou na determinação do valor de 69,46% de carboidratos totais. A fração celulósica de 58,63% mostra que a torta de dendê apresenta grandes projeções para a liberação de açúcar redutor. As variáveis (granulometria e relação sólido/ líquido) utilizadas neste estudo são significativas sobre o aumento da concentração de açúcar redutor dentro do domínio estudado. O ensaio 2 (mesh 16 e relação solido-liquido 1: 30) apresentou melhor resposta na produção de açúcar redutor. Referencia Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) – Fontes Renováveis, cap. 4 Biomassa, 2009. Disponível em http://www.aneel.gov.br/visualizar_texto.cfm?idtxt=1687. ALAMAR, P.D.; TEIXEIRA, A.C.A. e ROGEZ, H. Characterization of detergent fiber profile of fifteen amazonian agroindustrial wastes. XVI IUFoST –World Congress of Food Science and Technology. Paraná, 2012. MOURA, C. L. A.; PINTO, G. A. S. e RODRIGUES, S. Determinação da atividade de invertase em extratos enzimáticos. Embrapa Agroindustrias Tropical. Documento, 108. Fortaleza, 2007. NEVES, E. M. P. X. Estudo da hidrólise da biomassa do tucumã (Astrocaryum vulgare Mart.) e do inajá (Maximiliana maripa (Aubl) Mart) visando a obtenção de açúcares. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – PPGCTA/ITEC/Universidade Federal do Pará, 2012. RABELO, S.C. Avaliação de desempenho do pré-tratamento com peróxido de hidrogênio alcalino para a hidrólise enzimática de bagaço de cana-deaçúcar. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Química. Campinas – SP, 2007. SÁNCHEZ, C., (2009), Lignocellulosic residues: Biodegradation and bioconversion by fungi. Biotechnology Advances, v. 27, p. 185-194. 140 VAN SOEST, P. J. Use of detergents in the analysis of fibrous foods II. A rapid method for the determination of fibre and lignin. Jour. Assoc. Off. Anal. Chem., 46:829, 1963. 141