EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E MEMÓRIA: RECONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA DA GERÊNCIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE LAGES – GERED PEREIRA, Elson Rogério Bastos1 - UNIPLAC Grupo de trabalho: Políticas públicas, avaliação e gestão da educação Agência financiadora: não contou com financiamento Resumo A presente pesquisa faz parte da história da educação. Está inserida na linha de pesquisa da reconstrução histórica de instituições escolares no Brasil. Teve como finalidade a construção do Centro de Memória da Gerência Regional de Educação de Lages – SC, tendo em vista, despertar nos gestores escolares a importância da mesma para o desenvolvimento do ensino fundamental e médio, na sua área de abrangência. Partiu do problema: Como a Gerência Regional de Educação de Lages – GERED contribuiu nas suas diferentes gestões para o desenvolvimento da educação na região da Serra Catarinense? Os trabalhos da GERED abrangem de forma direta (12) doze municípios que compõem a região da Associação dos Municípios da Região Serrana – AMURES e (46) quarenta e seis Unidades Escolares da rede pública estadual e, indiretamente atinge todas as escolas municipais e particulares, localizadas nesses municípios. O estudo fez uso da metodologia histórico-crítica com uma abordagem qualitativa/quantitativa. Foram utilizados documentos (fontes primárias), pesquisa bibliográfica em fontes secundárias, e pesquisa de campo. A referida pesquisa possibilitou que os conteúdos recolhidos se constituíssem em dados quantitativos e/ou análises reflexivas qualitativas e, em observações individuais e gerais dos questionários aplicados. O resgate histórico foi de suma importância pela sua contribuição na memória educacional da cidade de Lages, de Santa Catarina e do Brasil. Por meio desta pesquisa foi possível refletir sobre a organização institucional, traduzida pelo modo como o Estado dispõe os recursos, provendo à expansão da oferta educacional e a sua distribuição no espaço e tempo escolares, nas diferentes décadas. O resgate da história política, social, humana educacional possibilita ao ser humano o pleno exercício da cidadania. Palavras-chave: História da Educação. Gestão Educacional. História das Instituições Educacionais. 1 Mestrando do PPGE da Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC – SC e Reitor da Universidade. 31288 Introdução Este artigo encontra-se inserido no campo da história da educação, mais especificamente, na linha de pesquisa histórica das instituições escolares no Brasil. Teve a finalidade de construir um Centro de Memória da Gerência Regional de Educação de Lages, analisando os diferentes modelos de organizações administrativas implantadas ao longo dos anos de sua existência, avaliando os seus resultados nas diferentes gestões, os quais foram estudados nesta pesquisa. Construir a História da Educação desse órgão Regional de Educação foi necessário para se entender a realidade existente na contemporaneidade. Escolhemos a Gerência Regional de Educação de Lages, no sentido de despertar nos gestores escolares, a importância da mesma, para desenvolvimento do ensino fundamental e médio na sua área de abrangência. O referido trabalho teve como objetivo analisar as gestões da Gerência Regional de Educação e as contribuições que foram efetivadas às escolas de ensino fundamental e médio. A reconstrução da História da Gerência Regional de Educação de Lages – GERED foi feita por meio de pesquisa documental em fontes primárias, pesquisa bibliográfica em fontes secundárias, e pesquisa de campo. Foram catalogadas fontes primárias e secundárias encontradas a partir de 1972, ano de criação da Coordenadoria Regional de Educação, até 2012. Para o tratamento dos dados da dissertação, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, de Lawrence Bardin. Este resgate histórico é significativo e de suma importância pela sua contribuição na memória educacional, não somente de Lages e ou de Santa Catarina, mas sim no Brasil, vindo contribuir para o exercício da cidadania da população lageana e catarinense. Sobre a Pesquisa A 7ª Coordenadoria Regional de Educação, como órgão responsável pela educação pública estadual, na região da Serra Catarinense, foi criada em 1957, sendo que naquela época, recebeu a denominação de Delegacia de Ensino, tendo como seu titular o Professor, César Araújo Góss. No ano de 1972, a 7ª Coordenadora Regional de Educação passou a funcionar em prédio próprio, localizado na Rua Rio Branco, 456, Bairro São Cristóvão - Lages/SC, sendo 31289 que atualmente o cargo de Coordenadora Regional de Educação é ocupado pela Professora, Maria de Fátima Daboit Ogliari. Para Carlos Rodrigues Brandão (2001, p. 41), “a educação do homem existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo o meio sociocultural sobre os seus participantes. É o exercício de viver e conviver o que educa”. Nessa perspectiva, para Gramsci a função social da escola consiste basicamente em promover condições para o exercício da cidadania emancipatória e igualitária. Essas condições são necessárias para que se efetive através da educação o desenvolvimento da concepção crítica e histórica da realidade, proporcionando acima de tudo uma educação integral, principalmente à classe dos menos favorecidos. As dimensões que fundamentam a gestão escolar se fazem presentes, portanto nem sempre é possível identificá-las, a teoria de um lado, a prática em outra extremidade. Sendo que, as limitações impostas pelo “sistema”, as complexidades em diferentes realidades, como por exemplo, falta de autonomia, a gerência de profissionais, os conflitos, as relações sociais de cada comunidade, entre outras questões que se tornam pertinentes desviando função da gestão. E diante das reflexões, podemos compreender melhor a proposta de uma gestão democrática, comprometida com a construção de uma escola cidadã, competente e aberta aos desafios da sociedade contemporânea, fazendo diferentes transformações onde são aplicadas. Segundo Saviani (2005), como o termo “instituição” implica um plano, a instrução, o ensino e a formação, assim como um método, um sistema e uma doutrina em torno da retórica “educação”, na análise léxica da palavra, observa-se que a expressão “instituição educativa” já soa como uma espécie de pleonasmo. Com efeito, a própria ideia de educação já estaria contida no conceito de instituição. A escola é a instituição incumbida de educar, de socializar o indivíduo. Visa ao desenvolvimento da pessoa e sua integração no meio social. É a agência encarregada pela sociedade da educação formal das pessoas. Para isso, ela usa dois meios: instruir e educar. Suas finalidades básicas, então, são duas: as finalidades instrutivas, entendendo-se a instrução inicial para o aperfeiçoamento, do geral ao específico, por níveis, por idade; e finalidades educativas, que envolve praticamente todos os tipos de Educação. De acordo com Carlos Rodrigues Brandão (2001, p. 100), “a educação existe em toda parte e faz parte dela existir entre opostos.” Qualquer povo só constitui uma sociedade 31290 humana se tem uma história para poder perpetuar a sua identidade, preservar seus traços culturais e cultivar suas tradições. As ações do ser humano sobre a natureza, suas relações e as transformações provocadas, constituem o conjunto de fatos que marcam, no decurso do tempo, a História desta civilização. Portanto, é neste contexto que se inserem as instituições. Assim, por conseguinte, também se inserem as instituições escolares. Esta pesquisa foi relevante à medida que a educação tem sido apontada por diferentes organismos internacionais como a UNESCO e a OCDE, como a variável necessária para o desenvolvimento de um país, aspecto indispensável para se lutar contra a desigualdade social e fator essencial no sentido de preparar o profissional e o cidadão da sociedade do século XXI, caracterizada como sociedade da informação e do conhecimento. Assim, o foco primeiro da presente investigação foi a de reconstruir a História da Gerência Regional de Educação de Lages – GERED, com pesquisa documental em fontes primárias, pesquisa bibliográfica em fontes secundárias, e pesquisa de campo. Entendendo a história desse Órgão Regional de Educação, pudemos compreender melhor a educação que se efetiva neste meio. Nesta sociedade capitalista imediatista, que desvaloriza história e a memória de seu próprio povo, se faz mister resgatar a construção dessa instituição que tem como competências planejar, coordenar e supervisionar a execução da política educacional, segundo as peculiaridades e necessidades regionais. Esta pesquisa focalizou, num primeiro momento, a construção da memória da Gerência Regional de Educação de Lages-SC, por meio de fontes primárias e secundárias de documentos. O trabalho foi elaborado por décadas e a posteriori por marcos históricos determinantes. Esta pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. A primeira etapa foi da pesquisa documental, visando à construção do seu arquivo histórico, desenvolvida em doze meses, sendo integrante deste projeto. A GERED de Lages se localiza no bairro São Cristovão, na Rua Rio Branco, nº 456. Segundo François Dubet, (2006, p. 33-62), o enfraquecimento da ordem das sociedades industriais provocou a desagregação dos status, das identidades e dos registros das igualdades e desigualdades. Neste contexto, os processos de integração e desintegração mudaram de natureza. A noção de classe perdeu, em parte, a sua atualidade em decorrência das mutações sociais profundas na ordem das relações sociais de produção, no domínio das identidades em que a 31291 cultura de massa degradou às culturas de classe, e no registro da ação coletiva, não sendo todos os movimentos sociais redutíveis a movimentos de classe. Segundo Le Goff (1998, p. 422): “Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das preocupações das classes dos grupos e dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da memória coletiva”. Uma das características da sociedade na contemporaneidade é o aumento cada vez maior de informações que são disponibilizadas para que possamos nos posicionar diante dos desafios e decisões do cotidiano. Dentro deste contexto, Von Simson (2000, p. 64), apresenta a seguinte reflexão: Tais fatos criam para o homem contemporâneo quase a obrigação de consumir a informação, a crítica, sem maior cuidado seletivo, perdendo-se, portanto, uma das mais importantes funções da memória humana - a capacidade seletiva que é o PODER de escolher aquilo que deve ser preservado como lembrança importante e aqueles fatos e vivências que possam ser descartadas2. A abrangência dos trabalhos executados pela Gerência Regional de Educação atinge, atualmente, de forma direta (12) doze municípios que compõem a região da AMURES e (46) quarenta e seis Unidades Escolares da rede pública estadual, sendo que indiretamente, abrange todas as escolas municipais e particulares, localizadas nesses municípios. Para esta pesquisa, o procedimento metodológico adotado foi o estudo de caso, com dados qualitativos e quantitativos, via Bardin (2002). Para o tratamento dos dados da dissertação, utilizamos a técnica de análises de conteúdo. O objetivo desta pesquisa foi construir, através do levantamento e da catalogação das fontes primárias e secundárias da instituição em questão, a organização de um Centro de Memória, que subsidiará os trabalhos dos pesquisadores e instituições, contribuindo para o resgate da memória educacional, não somente de Lages e ou de Santa Catarina, mas sim no Brasil. Esta pesquisa levantou e catalogou fontes primárias e secundárias encontradas a partir de 1972, ano de criação da Coordenadoria Regional de Educação, até 2012. 2 Sobre isto ver DUBET, François. As desigualdades multiplicadas. Trad. Sergio Miola. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003. Do mesmo autor ver Integração: Quando a “sociedade” nos abandona. In: BALSA, Casimiro; BONETI, LindomarWessler; SOULET, Marc-Henry (Org.). Conceitos e dimensões da pobreza e da exclusão social. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006. p.33-62. Ainda de François Dubet ver o livro O que é uma escola justa? A escola das oportunidades. São Paulo: Cortez, 2008. 31292 O referido levantamento foi realizado por décadas e via marcos históricos educacionais, além de estudar as gestões da GERED, via fontes primárias e secundárias, em uma investigação documental. Não deixamos de associar os fatos relacionados à instrução, oficial e comunitária no Planalto Catarinense, às políticas educacionais adotadas pelos governos, que também fizeram parte dos procedimentos de desenvolvimento desta, com evidências concretas encontradas no cotidiano das escolas públicas. Verificamos, ainda, as contradições entre os interesses das oligarquias regionais e as necessidades da população, e entre o uso do ensino para fins políticos e a busca da instrução para a inclusão e a ascensão social, além de aproximar as informações encontradas das ideias pedagógicas, isto é, as ideias educacionais entendidas, porém, não em si mesmas, mas na forma como se encarnaram nas instituições educativas orientando e, mais do que isso, constituindo a própria substância da prática educativa; Assim, não deixamos de refletir sobre a organização institucional, traduzida pelo modo como o Estado dispõe os recursos, provendo à expansão da oferta educacional e a sua distribuição no espaço e tempo escolares, nas diferentes décadas. Localizada na Serra Catarinense, Lages tem uma longa história que era ocupada por “grupos nômades de índios”, que percorriam todo o planalto catarinense em busca de um alimento do inverno. Lages passou por ciclos, conforme afirma Derengoski (2004, p. 11), O primeiro ciclo econômico de Lages foi o da Pecuária.... O segundo grande ciclo, a chegada de descendentes de imigrantes europeus (italianos, alemães, poloneses, etc)... passando pelo saudosismo das décadas de 40 a 60, quando era considerada a 3ª cidade mais importante do Estado com o apogeu econômico do ciclo da madeira e pecuária extensiva. Ainda é notória a presença desses ciclos na cultura, mesmo se estabelecendo modificações ocorridas desde seus registros de ocupação. A evidência de uma cidade que se destacou em diversos cenários políticos, também contempla suas características. As influências nos diversos espaços foram centralizadas em volta de famílias tradicionais que sempre se mantiveram no poder, essa tradição ainda, infelizmente, predomina. Como salienta Peixer (2002, p. 15), Os indicadores socioeconômicos dessa região são muito semelhantes. Onze dos seus municípios figuram entre os vinte e um com menor índice de desenvolvimento do Estado. Têm alto índice de desemprego, analfabetismo, baixo índice de investimentos no setor produtivo, êxodo rural e concentração urbana, entre outros. 31293 Para entender a importância e a inferência nos diversos setores, a forma como foi construída com conexões da pecuária, política, economia, educacional com atividades culturais e sociais, fato comprovado pela trajetória da região. Contribuindo para essa caracterização, a existência de um histórico de organização política e ações coordenadas, além de se constituir num espaço de significados pessoais, reflete a preocupação de se discutir questões pertinentes. A cidade de Lages é considerada uma das cidades mais antigas do Brasil completando 247, neste ano de 2013, do século XXI, tendo sua fundação datada em 1766, século XVIII. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ano de 2000, apontava 157.682 habitantes, já em 2007, conforme a mesma, fonte Lages contava com uma população de 161.583 habitantes. (IBGE, 2008, em 2010, a população é de 156.727 habitantes). O sistemático esvaziamento dos municípios, no caso de Lages, é figurado com o decréscimo, sendo evidência o êxodo. A cidade de Lages sendo uma passagem das “tropas”, instalando-se ao longo dos campos do planalto várias fazendas. Assim, os/as filho/as dos/as fazendeiros/as e da elite eram deslocados para escolas particulares, ao contrário do que ocorria com os/as filhos/as dos/as operários/as, (aqui nesta realidade eram os capatazes de fazenda, trabalhadores em serrarias, etc.), que não tinha opção de seus filhos frequentarem uma escola, e até dar continuidade a seus estudos, deixando os espaços escolares para ajudar na rotina das fazendas. A busca de melhores condições de vida foi e será sempre almejada, independentemente da classe social, fazendo parte da história local de muitas realidades. A escola para essas crianças com costumes e anseios diferentes, traduzia-se em desafios a serem enfrentados, independente de época. Considerando-se a Metodologia, como sendo a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata de toda ação desenvolvida no método (caminho) do trabalho de pesquisa, necessário se faz a explicação do tipo de pesquisa, do instrumental utilizado (questionário, entrevista etc.), do tempo previsto, das formas de tabulação e tratamento dos dados, enfim, de tudo aquilo que se utilizou no trabalho de pesquisa. Analisando, portanto, que os desafios da sociedade se transformam em desafios para a educação, a escola, a gestão e todos que se fazem presentes neste ambiente, devem estar conscientes de seu papel social e organizar-se de forma inovadora em busca de caminhos para a superação de seus problemas e estar, particularmente, comprometida com a formação de cidadãos/ãs lúcidos/as de seus direitos e deveres e criticamente inseridos/as na sociedade. Partindo de uma visão de escola crítica, com 31294 uma gestão contextualizada, e voltada para a transformação social, é que podemos dar os primeiros passos em direção a uma mudança, sendo esta muitas vezes já discutida e pesquisada em diferentes âmbitos. Segundo Demo (1981), menciona que esse mesmo conhecimento vem sempre necessariamente marcado pelos sinais de seu tempo, comprometido, portanto, com a realidade histórica e não pairando acima dela como verdade absoluta. A própria noção das atividades de pesquisas e dos pesquisadores se faz necessário nas dimensões do conhecimento caracterizando implicações no conhecimento dos espaços possíveis. Na pesquisa em questão à práxis da gestão educacional, numa perspectiva que vai além da gestão, proporcionando mudanças sociais em torno de uma instituição educacional. Até que ponto a implantação de uma escola fez diferença na localidade em que está inserida, realmente a função da gestão voltada para a participação de seus integrantes fez a “diferença” ou sua contribuição ficou somente na teoria? Apontamos como delimitação temporal o período de 1972, do século XX ao ano 2012, do século XXI. Referenciando a Rubem Alves (1984), que “Todo ato da pesquisa é um ato político”. A busca por novas releituras das realidades vivenciadas, numa instituição marcada historicamente por uma educação voltada para as comunidades que enfrentavam diferentes dificuldades possíveis, e se estando nestas condições, não foi por suas próprias escolhas, até que ponto as determinações do exterior interfiram nas ações do interior da escola ou viceversa. Segundo Ludke & André (1986, p.15), a natureza dos problemas é que determina o método, isto é, a escolha do método se faz em função do tipo de problema estudado. Geralmente o pesquisador desenvolve a sua investigação passando por três etapas: exploração, decisão e descoberta. Ao mesmo tempo, segundo as autoras, que o pesquisador passa por três etapas ao desenvolver a pesquisa, não poderíamos deixar de mencionar que a pesquisa também se qualifica como uma paixão desenvolvida pelo tema, que passamos a conviver diariamente, que as evidências da descoberta se tornam algo prazeroso e doloroso. Adotamos como procedimento para desenvolvermos esta pesquisa o estudo de caso, pois, de acordo com Ludke & André (1986, p. 17), O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo bem distinto, pois tem um interesse próprio, singular. O caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema. 31295 E com “as categorias constituídas por Gramsci e, em especial, a lição de método que nos proporcionou nos iluminam no engendramento dos percalços políticos, sociais, econômicos, culturais e educativos pelos quais estamos passando no momento presente” (NOSELLA 2004, p. 20). As características de um estudo de caso, (Ludke & André, 1986, p. 18), “se fundamenta no pressuposto de que o conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz constantemente”, essa construção acontece com novas indagações e pesquisas, sempre levando em conta o contexto histórico, social, econômico e político que esta focada a pesquisa. O desenvolvimento da pesquisa se deu na reconstrução da História da Gerência Regional de Educação de Lages – GERED. Entretanto, esta instituição foi escolhida por representar um marco na educação estadual. Os sujeitos desta pesquisa foram os/as gestores/as que exerceram função na GERED/LAGES, no período de 1972 a 2012, século XX a 2012, do século XXI. Um percurso propício para contemplar os objetivos estabelecidos neste trabalho é o da pesquisa qualitativa – quantitativa. O uso dos dois enfoques está ancorado na importância da superação da dicotomia criada entre as metodologias de caráter quantitativo e qualitativo. Ou seja, do ponto de vista geral da ciência, a articulação entre estes dois tipos de análise é relevante, na realidade, qualquer fato social e educativo possui aspectos que podemos descrever em termos quantitativos e em termos qualitativos. A articulação entre esses dois tipos de metodologia é relevante, pois de um lado, não se justifica a pretensão estritamente quantitativa da metodologia positivista e, por outro lado, a metodologia de pesquisa científica não se limita ao qualitativo. Enfatizando o mesmo assunto, Bardin (1977), acredita que toda análise qualitativa aceita uma descrição estatística, que pode ser realizada de forma simplificada apenas quando o/a pesquisador/a achar necessário. Para o tratamento dos dados, a técnica da análise temática ou categorial utilizada, de acordo com Bardin (1977), baseou-se em operações de desmembramento do texto em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, e posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias. Além disso, a análise documental também esteve presente para facilitar o manuseio das informações, visto que também, de acordo com a autora, constituiu-se uma técnica que visou representar o conteúdo de um documento diferente de seu formato original, agilizando consultas. Assim, na fase 31296 seguinte, exploração do material, teve-se o período mais duradouro: a etapa da codificação, na qual foram feitos recortes em unidades de contexto e de registro; e a fase da categorização, no qual os requisitos para uma boa categoria foram a exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade, fidelidade e produtividade. Já a última fase, do tratamento e inferência à interpretação, permitiu que os conteúdos recolhidos se constituíssem em dados quantitativos e/ou análises reflexivas, em observações individuais e gerais dos questionários. As respostas dos questionários foram organizadas e analisadas, segundo critérios da análise de conteúdo de Bardin (1977), como referência principal. Pois, a autora explica que a Análise de Conteúdo permite ao/à pesquisador/a uma compreensão dos fatos que não se esgota na descrição pura dos conteúdos, mas busca estabelecer relações entre o contexto e um fenômeno social mais amplo. Para Bardin (1977, p. 38), a Análise de Conteúdo se constitui em “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Para a análise quantitativa, realizamos cálculos estatísticos que nos indicaram o número de respostas necessárias para construirmos uma amostra válida. É importante ressaltar que a análise não se esgotou na categorização das respostas. Sendo assim, buscamos, conforme Lüdke e André (1986) sugerem ultrapassar a mera descrição para uma melhor compreensão e interpretação do fenômeno. Para as autoras, o/a pesquisador/a: “terá que fazer um esforço de abstração, ultrapassando os dados, tentando estabelecer conexões e interpretações. É preciso dar um salto, como se diz vulgarmente, acrescentar algo ao já conhecido” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 49). REFERÊNCIAS BARDIN, Lawrence. Análise de Conteúdo. Edições 70. Lisboa. 1977. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2001. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Autores Associados, Campinas, 8ª ed. 2007. DUBET, François. As desigualdades multiplicadas. Trad. Sergio Miola. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003. DUBET, François. Integração: Quando a “sociedade” nos abandona. In: BALSA, Casimiro; BONETI, Lindomar Wessler; SOULET, Marc-Henry (Org.). 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