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UMA ANÁLISE HISTÓRICA SOBRE A VIDA DE CHE GUEVARA
Giovani Alves Gonçalves, ISE, [email protected]
Gustavo Borba Feijão, ISE, [email protected]
Resumo
A proposta elaborada visa focar a vida de Ernesto Guevara de la Serna, mostrando
uma análise de seus atos, ainda em andamento e sujeita a alterações, voltada a
evolução de seus ideais, estes políticos, humanitários e sociais. A sua radicalidade e
inquietude aos fatos injustos, marca-o e constrói um revolucionário, fundamentado
em pensamentos e estudos lenista-marxista. No Entanto, analisamos também quais
foram suas influências em sua infância e adolescência, e em que momento histórico
Guevara viveu, que fatores sociais ou familiares este passou, e em que de certa
forma estes acontecimentos contribuíram a sua história como guerrilheiro e um
revolucionário.
Palavras-chave:
Che Guevara. Revolucionário. Internacionalismo.
Introdução
Este trabalho será elaborado dando ênfase na vida de Ernesto Guevara de la Serna
em pelo menos três fases: infância, adolescência e sua iniciação política. Será
analisado como foi sua infância, em que contexto histórico este se insere, a que
classe social pertencia e se o influenciou politicamente, ideologicamente e
culturalmente. A juventude marcada por um amadurecimento prematuro,
principalmente político, marcada por suas viagens, que servem de pesquisas sobre
os povoados em que visitava e que mostravam a desigualdade, o descaso aos
pobres. A realidade o impressiona e o decorrer dos fatos propicia a uma iniciação
política e humana, o aparecimento de Che, e o inicio de uma luta constante contra o
ostracismo que dão aos oprimidos.
Desenvolvimento
Ernesto Guevara de la Serna, nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário,
terceira cidade do país, com 12,5 milhões de habitantes, era o primeiro filho de
Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna y Llosa e provinha de uma aristocracia
de origem e sangue quando não pecuniária oligarquia latifundiária.
Seus pais casaram-se em 1927, quando Célia estava grávida de três meses,
sua mãe não havia completado 21 anos, e seu pai era um jovem ex-estudante de
arquitetura. A família de Célia tinha muito dinheiro, tendo esta uma educação das
melhores, estudou na escola do Sagrado Coração (católica clássica), tendo por
parte de sua irmã a ideologia feminista, socialista, anticlerical. Célia tinha câncer e
pouco antes de sua morte passara no cárcere, pelo simples fato de ter o mesmo
sobrenome que seu filho. Célia faleceu em Buenos Aires, sendo expulsa do hospital
momentos antes de sua morte, por ser mãe de Guevara. Este que recebeu a noticia
do falecimento de sua mãe no Congo, em missão revolucionária.
Guevara Lynch era um grande boêmio, que raramente acompanhava a vida
escolar de seus filhos, sobrando este papel a mãe, esta que acompanhava seus
filhos em reuniões escolares. As crises conjugais culminam na separação de seus
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pais e um novo rumo foi dado à vida de Célia e seus filhos. No Entanto, a falta de
estrutura familiar gerada por seus pais, proporcionaria o caos econômico.
Depois do nascimento de Che Guevara seus pais foram para Puerto
Caraguatay, território de Misiones, ali seu pai tentou cultivar erva-mate, o chamado
ouro verde, onde plantou 200 hectares. Projeto esse, que veio a fracassar, com a
crise de 1929, como outros projetos arquitetados com freqüência.
Ernesto nasce de oito meses, fraco e sujeito a deslocamento. Sua mãe fora
asmática na infância, mas levava uma dose de culpa na doença de seu filho por este
ter adquirido pneumonia, em virtude da constância em que ela o levava a nadar,
algo que não era verdade. Logo, foi construída uma relação maternal de culpa e
obsessão, uma educação particular, que poderia explicar seu gosto pela leitura, pelo
fato de sua mãe ser uma amante dos livros.
O local em que sua saúde não seria afetada ou agravada, era motivo de
preocupação aos seus pais, sendo Alta Garcia, a 40Km de Córdoba escolhida para
a nova residência. Com 600 metros de altitude, o ar seco e límpido, clima adequado
à prevenção da doença. Seu pai trabalhava nesta cidade em construções de casas,
ainda teve mais três filhos, Célia, Ana Maria, Roberto, e o caçula Juan Martín, que
nasceria mais tarde em Córdoba.
A Argentina nesta época pode ser considerada abençoada, comparando sua
situação econômica-social a outros países da América Latina, podendo citar que em
1913, sua renda percapita foi uma das maiores do mundo (13ª).
A pressão da direita, o desencanto das classes médias e os estragos causados pela
Grande Depressão puseram termo ao fugaz lapso democrático: em 1930 o exército
consumou o primeiro golpe de Estado do século que destituiu um governo latino
americano eleito. (CASTAÑEDA, 2006, p. 21).
Logo, a desestabilização política caracterizará a política na Argentina até
1983.
Na Argentina a educação pública era laica e obrigatória. Podemos citar como
exemplo, que quando Che faltava às aulas, devido à asma, sua mãe recebia
requerimentos de autoridades responsáveis, indagando sobre os motivos de sua
ausência. Portanto, Che recebe uma excepcional herança cultural, privilégio este
determinante também de sua situação social.
A guerra da Espanha foi à experiência política fundamental da infância e
adolescência do Che. Nada o marcou tão fundo nesses anos como a luta e a derrota
dos republicanos nem a Frente Popular francesa, nem a expropriação do petróleo no
México, nem o New Deal de Roosevelt, para não falar do golpe argentino de 1943
ou mesmo da jornada de 17 de outubro de 1945 e do advento de Perón.
(CASTAÑEDA, 2006, p.31).
Depois de terminado os estudos secundários, Che matricula-se na Faculdade
de Medicina da Universidade de Buenos Aires, e foi no Lawn Tennis Club que Che
conheceu Alberto Granado, participando de competições esportivas organizadas. No
entanto, a faculdade e a situação política do país traz uma nova fase na vida de
Guevara, na ideologia, nas aventuras, trabalho.
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A escolha da faculdade de medicina pode ser analisada em três aspectos.
Podemos citar como primeiro, a morte de sua avó, na qual tinha uma relação
carinhosa, em segundo, a morte de sua mãe, que tinha câncer mamário, doença que
abalou Che, e por último estava na busca de um alivio para sua própria enfermidade.
Portanto, a escolha do curso de Medicina, deixa parecer ser voltada a união de um
conjunto de fatores, do que pela paixão a profissão de médico.
Quando me iniciei como médico, quando comecei a estudar medicina, a
maioria dos conceitos que hoje tenho como revolucionários estava ausente no
repertório de meus ideais. Eu queria vencer como todo mundo quer vencer; sonhava
ser um pesquisador famoso [...] mas naquele momento era um triunfo pessoal.
(GUEVARA, apud CASTAÑEDA, 2006, p. 44)
Logo os problemas familiares de Che não vêem a tona, em sua biografia
contada pelos cubanos, não são lembrados episódios penosos ou amargos de sua
vida.
Aos dezoito anos coube a Che alistar-se no Serviço Militar Obrigatório, mas
de qualquer maneira Che consegue distanciar-se do quartel, tanto por motivos
ideológicos como acadêmicos.
Segundo Jorge G. Castaneda, o vinculo que Che tinha com os pais o faria um
Anti-Perón, mas já com uma ideologia em formação, não poderia desconhecer a
Revolução social que foi o Peronismo.
Juan Domingo Perón governou, sobretudo com o apoio dos setores mais
desfavorecidos da classe trabalhadora rural e urbana, elaborou um plano qüinqüenal
para a expansão da indústria, melhorou relações com os EUA, tomou várias
medidas populistas, já com os opositores a seu governo a repressão foi forte.
Nas férias de sua faculdade, Ernesto começa a fazer longas viagens, certa
vez percorreu todo o norte e oeste da Argentina de Bicicleta, percorrendo mais ou
menos 4,7 mil quilômetros. A mais ousada e importante aventura de Ernesto foi em
1952 quando começa sua grande viagem, na qual visitaria cinco países, ao longo de
oito meses em companhia de seu amigo Alberto Granado de Córdoba. Viagem esta
que seria feita em uma moto chamada La Poderosa II, (uma Norton 500, ano 1939),
e que percorreriam um percurso que começaria em Buenos Aires, e os conduziria a
zona Atlântica, ao Pampa, à Cordilheira dos Andes, e uma vez no Chile, à
possibilidade de se dirigirem ao norte Peru e Colômbia, até chegarem a Caracas,
que seria como um sonho sendo realizado, aventura e distância os animavam, dois
jovens que resolvem deixar tudo e todos que estão a sua volta sem saber seu
destino, pensando o que seria o percurso:
Países remotos, feitos heróicos, mulheres bonitas passava em círculo por
nossa imaginação turbulenta; e por olhos cansados que, no entanto, se negavam ao
sono, um par de pontos verdes que sintetizavam um mundo morto riam da minha
pretensa libertação, juntando a imagem a que pertenciam ao meu avô fabuloso pelos
mares e terras deste mundo (GUEVARA, s.d., p.10).
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Logo, no decorrer da viagem, em cada país que passavam era possível
analisar a situação política, econômica e social, na qual tornaria possível um
encontro com a realidade, a dor e o sofrimento dos países subdesenvolvidos, tendo
como exemplos populações indígenas, estradas péssimas, e a própria cultura da
América Latina, cultura esta de pouco conhecimento político, tudo lembrado em suas
cartas e diários.
Em 1952, decidem tomar novos rumos, Alberto Granado decide ficar
trabalhando no leprosário de Cabo Blanco, em Caracas, na Venezuela, e Che
retorna a Buenos Aires, para concluir o curso de medicina e sua tese sobre alergia.
Depois de terminado seu estudo decide voltar a Caracas e juntar-se a
Granados. São vários os motivos que explicam sua nova partida, podendo dizer que
de uma certa forma todos os fatores, pessoais ou políticos, formam um conjunto que
propicia a sua viagem. Como fatores pessoais, podemos citar sua inquietude e sua
situação familiar, e como fatores políticos, a ditadura Peronista.
Logo, em 1953, parte para a Bolívia de trem, não por ser algo programado,
mas por falta de dinheiro, a intenção era encontrar Granado na Venezuela, intenção
esta que é abandonada pelo seu encontro com o advogado portenho fugitivo do
cárcere de Perón, Ricardo Rojo, que o convence a viajar consigo para a Guatemala.
Guevara chegou a Guatemala em 1953 às vésperas do ano novo. País que
era composto em sua maioria de índios e pobres, marginalizados, possuindo
condições sociais ferozes.
Sua vida na Guatemala não foi nada fácil, o fator desemprego e a falta de
oportunidades o atrapalhavam. Um dos possíveis fatores de seu desemprego era o
fato de Che não ser filiado ao Partido Comunista (PGT Partido Guatemalteco do
Trabalho). O máximo que consegue foi um emprego no laboratório do Ministério da
Saúde, depois de um período difícil, chegando até a vender enciclopédias.
Conhece Hilda estendido em uma cama, doente e faminto, pedindo ajuda.
Hilda Gadea foi a mulher que cuidou de Che na maior parte de seu tempo na
Guatemala, como também o influencia a iniciação política marxista-lenista,
emprestando-o livros, apresentando amigos políticos.
Guevara e Hilda casam-se em 18 de agosto de 1955, no povoado colonial de
Tepotzotlán, dias depois de Hilda descobrir que estava grávida, questão esta
discutida se foi realmente a possível causa da cerimônia ou não.
Em 1950 Jacobo Arbenz foi eleito Presidente da República, introduzindo
reformas econômicas e sociais ao seu país. Logo, estas reformas, prejudicariam os
poderosos desta nação, como a United Fruit Company, esta que contava com o
apoio de Washington, e que lançaria uma campanha contrária e golpista ao governo.
Campanha esta comandada pelo coronel Carlos Castillo Armas, financiada pela CIA,
exigindo a renuncia de Arbenz. Guevara neste momento se junta ao atual governo
de Arbenz, e defende o armamento do povo (luta armada), propondo até organizar
uma defesa nacional, algo que lhe foi negado.
Após pedir exílio a Argentina, Che resolve viajar, em 1954, para o México, e
da Guatemala levou varias recordações e amizades, e também o apelido de Che,
por causa de sua nacionalidade e o modo de falar. No México, de começo não foi
nada fácil, Che ganhava a vida tirando fotos de turistas, sendo até convocado em
1955 para cobrir os Jogos Pan-americanos (que país sede). Logo depois, consegue
um mau emprego em um hospital, como pesquisador de Alergia.
O México, segundo Che, estava totalmente entregue aos ianques, onde a imprensa
e os líderes operários nada faziam. Também foi no México, que o médico argentino
foi apresentado aos irmãos Raúl Castro e Fidel Castro, que o deixaria em dúvida
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entre duas escolhas, essenciais a quem se tornaria revolucionário, a vida e o
esquecimento, ou a morte e a Glória.
Conclusão
A figura de Che Guevara é muito polêmica, e gera em torno de suas biografias e
obras diversas críticas, abrindo um enorme leque para variadas interpretações.
Pesquisando, analisei que não se pode esquecer a situação social que a América
Latina passava, o sofrimento de seu povo, e o capitalismo, este que usufruía com a
exploração de países pobres. Che com seus ideais e suas ações, vem mostrar ao
mundo que é possível combater a desigualdade, podendo citar o exemplo de Cuba,
que se libertou, liberdade esta que Guevara constrói com os cubanos e por motivos
internacionalistas ou não, faz com que novos rumos sejam traçados.
Referencias
BENJAMIN, C. Marx e o socialismo. 2 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2003.
CASTAÑEDA, J. G. Che Guevara: a vida em vermelho. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
GUEVARA, E. Primeiras viagens. São Paulo:Página Aberta, sd.
LOWY, M. O pensamento de Che Guevara. 5 ed. São Paulo: Expressão Popular,
2003.
SADER, E. Che Guevara: política. São Paulo: Expressão Popular, 2004.
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