REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA vol. 70 - nº 6 - Novembro/Dezembro 2011 NOV/DEZ 2011 VOLUME 70 NÚMERO 6 P. 335-462 100 95 75 25 5 0 CAPA REVISTA-nov-dez-11 17 de janeiro de 2012 13:11 335 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Arlindo Jose Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Co-editores Abelardo de Souza Couto Jr.- Rio de Janeiro- RJ Abrahão da Rocha Lucena - Fortaleza - CE José Beniz Neto - Goiania - GO Leonardo Akaishi - Brasília - DF Marcelo Netto - São Paulo - SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro - RJ Newton Kara-José Jr. - São Paulo SP Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia - EUA Deepinder Kauer Dhaliwal - Pittsburg - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Howard Fine - Eugene - EUA Jean Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Lawrence P. Chong - Califórnia - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal - Canadá Peter Laibson - Phyladelphia - EUA Steve Arshinoff - Toronto - Canadá Daniel Grigera - Olivos - Argentina Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Felix Gil Carrasco - México - México Corpo Editorial Nacional A. Duarte - Rio de Janeiro - RJ André Curi - Rio de Janeiro - RJ André Luis Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Acácio Muralha Neto - Niterói - RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP Ari de Souza Pena- Niteroi- RJ Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Carlos Alexandre de Amorim Garcia- Natal- RN Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Ramos de Souza Dias- Sao Paulo- SP Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belem- PA Eduardo Cunha de Souza- Sao Paulo- SP Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Evandro Lucena Jr. - Rio de Janeiro - RJ Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa- Recife- PE Francisco Grupenmacher- Curitiba- PR Francisco Valter da Justa Freitas- Fortaleza- CE Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helder Alves da Costa Filho - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 70, n. 6, p. 335-462, Nov./Dez. 2011 Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Itamar Soares - Rio de Janeiro - RJ Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira- Florianopolis- SC João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Joaquim Marinho de Queiroz- Belém- PA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Ricardo Carvalho L. Rehder- Sáo Paulo- SP Juliana Bohn Alves - Rio de Janeiro - RJ Laurentino Biccas Neto- Vitoria- ES Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Luiz Claudio Santos de Souza Lima - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Luis Occhiutto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niteroi- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirao Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mario Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Miguel Angelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Newton Kara José - São Paulo - SP Octávio Moura Brasil do Amaral Fo.- Rio de Janeiro- RJ Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Fadel - Curitiba - PR Paulo Schor - São Paulo - SP Raul N. G. Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr.- São Paulo- SP Renata Rezende - Rio de Janeiro - RJ Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niteroi- RJ Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rubens Camargo Siqueira- S.J do Rio Preto- SP Sebastiao Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sergio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Sergio Kwitko - Porto Alegre - RS Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- São Paulo - SP Suzana Matayoshi - São Paulo - SP Tadeu Cvintal- Sao Paulo - SP Tiago Bisol - Rio de Janeiro - RJ Virgilio Augusto M. Centurion- São Paulo- SP Vitor Cerqueira - Rio de Janeiro - RJ Walton Nose- Sao Paulo- SP Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição:Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz [email protected] Contato publicitário: Westinghouse Carvalho Tels.: (11)3726-6941 / 9274-0724 [email protected] Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$420,00 ou US$280,00 Impressão: Gráfica Colorset Associada a ABEC - Associação Brasileira de Editores Científicos 336 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2011-2012 Presidente Aderbal de Albuquerque Alves Jr. Vice-presidente RJ Marcus Vinicius Abbud Safady Vice-presidentes regionais Roberto Abdalla Moura Leon Grupenmacher Osvaldo Travassos de Medeiros Alípio de Souza Neto Secretário Geral: Gilberto dos Passos 1º Secretário: Armando Crema 2º Secretário: Marco Antônio Alves Tesoureiro: Ricardo Miguel Japiassú Diretor de Cursos: André Portes Diretor de Publicações: Arlindo Portes Diretor de Biblioteca: Renato Ambrósio Jr. Conselho Consultivo: Aderbal de Albuquerque Alves Acácio Muralha Neto Mário Motta (RJ) Miguel Ângelo Padilha (RJ) Oswaldo Moura Brasil (RJ) Sérgio Fernandes (RJ) Conselho Fiscal: Efetivos: Eduardo Henrique Morizot Leite (RJ) Ricardo Lima de Almeida Neves (RJ) Sérgio Meirelles (RJ) Suplentes: Mário Nagao (RJ) Octávio Moura Brasil (RJ) Sansão Kac (RJ) SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Dr. Ari de Souza Pena Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Walbert de Paula e Souza Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Fabiano Saulo Rocha Jr. Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moisés de Souza Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dr. Elcio Hideo Sato Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ezequiel Portella Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Dr. Adauto Borges Júnior Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Beogival Wagner Lucas Santos Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Elias Donato Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Mário Ursulino Machado Carvalho Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Leonardo Akaishi Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Suzana Matayoshi Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. Newton Leitão de Andrade Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Celso Klejnberg Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro César Viana de Oliveira Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dra. Cláudia Galvão Brochado Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. Edmar Guedes Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Raimundo Emanuel Menezes Maciel Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. João Pessoa de Souza Filho Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade de Oftalmologia do Sul de Minas Presidente: Dr. Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Ivandemberg Velloso Meira Lima Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Dennis Marcelo de Souza Ramos Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Lauro Barata Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. César Fracalossi Barbieri Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Fábio Ribas Matos e Silva 337 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 70, n. 6, p. 335-462, Nov./Dez. 2011 Sumário - Contents Editorial 340 Cirurgia de catarata a laser José Beniz Artigos originais 342 Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program Retinopatia diabética e deficiência visual entre pacientes de programa de reabilitação Zelia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt, Rita de Cássia Letto Montilha, Maria Elisabete Rodrigues Freire Gasparetto, Edméa Rita Temporini, Keila Miriam Monteiro de Carvalho 349 Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea Study of correlation between optic disc size and corneal geometry and biomechanics Renata Siqueira da Silva, Jorge Augusto Siqueira da Silva, Fernanda Bina Fonyat de Lima, Bruno de Freitas Valbon, Marcella Quaresma Salomão, Renato Ambrósio Júnior 358 Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest Características e prevalência do pterígio em comunidades ribeirinhas dos Rios Solimões e Japurá localizados na Amazônia Brasileira Lívia Adnet Martins Ribeiro, Luiz Felipe Guaraná Martins Ribeiro, Paulo Roberto de Azevedo Castro, Fílicio Doné Lima da Silva, Verônika Maria Weyll Adnet Martins Ribeiro, Arlindo José Freire Portes, Abelardo de Souza Couto Júnior 338 363 Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial Analysis of corneal keratometry in patients with hemifacial spasm Ivana Cardoso Pereira, Patrícia Grativol Costa Saraiva, Fabio Petersen Saraiva, Fabricio Witzel de Medeiros, Gustavo Miki, Suzana Matayoshi 367 A capsulotomia descontínua durante a facoemulsificação Discontinuous capsulotomy during phacoemulsification Virgilio Centurion, Augusto Cézar Lacava, Juan Carlos Caballero 371 Estudo sobre os fatores relacionados a interrupção do tratamento do glaucoma Study of the factors related to stop the treatment of glaucoma Eduardo Scaldini Buscacio, Giovanni Nicola Umberto Italiano Colombini 378 Espessamento do tendão muscular na oftalmopatia de Graves Muscle tendon enlargment in Graves´ophthalmopathy Elvira Barbosa Abreu 384 Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil Epidemiological profile of patients waiting for penetrating keratoplasty in state of Pará, Brazil 391 Perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no hospital regional de São José Epidemiological profile of congenital ptosis pacients in the hospital regional de São José Edmundo Frota de Almeida Sobrinho, Bianca Caluf Negrão, Hirlana Gomes Almeida Astor Grumann Júnior, Felipe Roberto Exterhotter Branco 396 Estudo epidemiológico da dacriocistite crônica Epidemiological study of chronic dacryocystitis Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva 400 Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP - com ênfase no tratamento realizado Canaliculitis: a case series at Faculdade de Medicina de Botucatu -UNESP- emphasing treatment Silvana Artioli Schellini, Fabrício Rendeiro Sales, Geraldo Miranda de Carvalho, Carlos Roberto Padovani 404 Complicações intra e pós-operatória da dacriocistorrinostomia externa Complications intra and post operatory of external dacryocystorhinostomy 408 Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye Nova aplicação do azul de tripano para superfície ocular: redefinindo corantes vitais Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva Renato Ambrósio Jr., Habeeb Ahmad, Diogo Caldas, Ana Laura Caiado Canedo, Bruno Valbon, Frederico Procopio Guerra, Acácio Alves de Souza Lima 411 Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura Dermofat graft in secondary anophthalmic socket – a retrospective study and literature review Silvia Narikawa, Silvana Artioli Schellini, Carlos Roberto Padovani Relato de Caso 416 Síndrome Sjögren – Larsson Sjögren – Larsson syndrome Leonardo Portela Rabello, Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão, Joana Gurgel Holanda Filha, Erlane Marques Ribeiro, Daniele Roma Dias, Luciana Portela Rabello 339 419 Barotrauma ocular durante mergulho autônomo Ocular barotrauma during scuba diving Maria Fernanda Abalem de Sá, Márcio Penha Morterá Rodrigues, Rafael Cesário de Mendonça, João Carlos Abalém de Sá 422 Neuropatia óptica isquêmica posterior como complicação pós-cirurgia de blefaroplastia Posterior ischemic optic neuropathy as a complication after blepharoplasty surgery 426 Canaliculite: relato de caso e conduta Canaliculitis: case report and conduct Maria Helena Lopes Amigo, Wagner Ghirelli Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva Artigo de Revisão 430 Seleção de córneas para transplantes Corneal selection for transplants Luís Antonio Gorla Marcomini, Régia Maria Gondim Ramos Sobral, Giselle Oliveira Seixas, Sidney Júlio de Faria e Sousa 437 Tuberculose intraocular Intraocular tuberculosis Wesley Ribeiro Campos, Gisele Schelgshorn Campos, Silvana Spíndola de Miranda Índice Remissivo 452 Índice Remissivo do volume 70 Errata 459 Instruções aos autores 460 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 340 Cirurgia de catarata a laser S erá que a velha pergunta - Doutor, minha cirurgia de catarata vai ser feita a laser? - poderá finalmente ter uma resposta verdadeira? Ou pelo menos em parte, quando o médico opta por responder sim? Em parte, porque apenas algumas etapas do ato cirúrgico já podem ser realizadas usando este tipo de energia. A magia da palavra LASER rendeu ultimamente grandes benefícios à prática oftalmológica, e também aos pacientes. Porém sempre encontrou uma incômoda barreira quando o assunto é cirurgia de catarata. Eis que surge no horizonte a oportunidade de quebra deste paradigma através da introdução em nosso meio do laser de femtossegundo para este fim. Ambrósio fez excelente revisão sobre este tipo de laser recentemente nesta revista(1). A primeira facectomia em humanos assim realizada foi em 2008, na cidade de Budapeste(2). Até o momento, já passam de dois mil casos operados em todo o mundo. Algumas empresas já desenvolveram tal equipamento, que usa energia com comprimento de onda em fração de segundo na ordem de 10-15. Daí o nome femtossegundo, tecnologia já conhecida para cirurgia refrativa corneana há alguns anos. Além das incisões na córnea, tanto astigmáticas, quanto a principal e acessórias, este laser realiza também a capsulotomia e a quebra do núcleo(3). No entanto, a facoemulsificação propriamente dita ainda tem que ser feita através de outro aparelho, utilizando ultrassom convencional. Daí o primeiro questionamento, se é prático termos dois procedimentos para atingir um único resultado refrativo. Este é exatamente um dos grandes problemas do processo, já que o paciente deve submeterse a parte da cirurgia em uma sala, em seguida mudando para outra, para tê-la terminada. Tal logística é bastante complexa, já que exige maior dispêndio de tempo e espaço, ou até de duas equipes para o mesmo fim. O desafio futuro está então em colocar as duas tecnologias no mesmo equipamento. Outro grande entrave na difusão desta técnica é seu alto custo atual. As companhias cobram caríssimo por tais avanços tecnológicos, o que não é justo, pois os oftalmologistas já carregam o ônus de grandes investimentos em constantes novidades em propedêutica e cirurgia. Além disso, os pacientes entenderão, e estarão dispostos a pagar mais caro por um resultado final talvez imperceptível? Não há dúvida de que as três etapas realizadas pelo laser de femtossegundo fazem a remoção da catarata não só mais segura, como também mais previsível, com repercussão na posição efetiva da lente(4), especialmente importante em época de lentes intraoculares premium. Normalmente efetuadas de maneira inversa, primeiro é dividido o núcleo. Em seguida, a capsulorrexe é executada em círculo perfeito. E, por último, as incisões corneanas são desenhadas com precisão. Tanta automação parece diminuir a arte, privilegiando a menor experiência cirúrgica. Saudosismo à parte, é verdade que torna passos estressantes para o cirurgião em ações com alto nível de confiança e reprodutibilidade(5). Mas nem tudo é só alegria. O processo de acoplamento (docking), para fixação do globo ocular, provoca hemorragias subconjuntivais(6). Estas sim, são perceptíveis no pós-operatório imediato, em contraste aos olhos calmos dos dias atuais, após anestesias tópicas. Existe também o risco de pequenas imperfeições nos bordos da rexe promoverem rasgos inconvenientes no momento da remoção da cápsula anterior. Não custa repetir que, após tudo isso, passamos às mesmas emulsificação nuclear e aspiração cortical já conhecidas por todos nós. É certo que o fascínio por ter um procedimento a laser pode promover alvoroço em um mercado tão competitivo. Resta saber se os altos custos poderão ser compensados. Com certeza esta realidade não se aplica a maior parte do Brasil, ou mesmo do mundo. Podemos entretanto ter um olhar, e tomarmos como exemplo, o que ocorre na cirurgia refrativa corneana com laser de femtossegundo. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 340-1 341 Cirurgia de catarata a laser Este editorial estará defasado em pouco tempo. O progresso da ciência é irrefutável, não podemos ficar parados. Verdades surgirão sobre o assunto, com avanço ou estagnação de tecnologias que poderão ser buscadas como degraus para outras conquistas. Neste caso, especialmente quando se vislumbra a vitória sobre a presbiopia através do amolecimento do núcleo cristaliniano com laser de femtossegundo(7), em um horizonte ainda impreciso. José Beniz Doutor em Oftalmologia, Professor Adjunto de Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás - UFG - Goiânia (GO), Brasil REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Ambrósio Jr R. A revolução dos lasers de femtossegundo na Oftalmologia. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(4):207-10. Nagy Z, Takacs A, Filkorn T, Sarayba M. Initial clinical evaluation of an intraocular femtosecond laser in cataract surgery. J Refract Surg. 2009;25(12):1053-60. Casanova F, Lake, J. Cirurgia de catarata a laser: uma nova realidade na era do femtosegundo. Oftalmologia em Foco. 2011;132:19-22. Mamalis N. Femtosecond laser: The future of cataract surgery? J Cataract Refract Surg. 2011;37(7):1177-8. Friedman NJ, Palanker DV, Schuele G, Andersen D, Marcellino G, Seibel BS, Batlle J, Feliz R, Talamo JH, Blumenkranz MS, Culbertson WW. Femtosecond laser capsulotomy. J Cataract Refract Surg. 2011;37(7):1189-98. Rezende F. Cirurgia de catarata com Femtosecond Laser. Oftalmologia em Foco. 2011;132:14. Trindade FC. Faco com laser de femtossegundo. Onde estamos? XXXVI Congresso Brasileiro de Oftalmologia; 2011. Porto Alegre (RS):CBO; 2011. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 340-1 ARTIGO ORIGINAL 342 Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program Retinopatia diabética e deficiência visual entre pacientes de programa de reabilitação Zelia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt1, Rita de Cássia Letto Montilha1, Maria Elisabete Rodrigues Freire Gasparetto1, Edméa Rita Temporini2, Keila Miriam Monteiro de Carvalho3 ABSTRACT Objective: To assess the prevalence of diabetic retinopathy and to evaluate the management of patients with visual disabilities attending at the CEPRE Rehabilitation Program of University of Campinas. Methods: A retrospective study was carried out based on medical records of patients with visual disabilities attending a vision rehabilitation program. The following variables were studied: gender, age, marital status, level of schooling, social security status, origin, type and cause of visual disability and vision rehabilitation actions. Results: The sample consisted of 155 patients, 55.5% males, aged between 12 and 88 years, mean age 41 years old, 34.8% were blind and 65.2% with low vision disability. Of those blind patients, 81.8% reported acquired blindness, and the leading cause was diabetic retinopathy (33.3%), followed by glaucoma (16.6%), and retinal detachment (15.0%). Of those patients with low vision disability, 14.9% had diabetic retinopathy, 14.9% hereditary syndromes, and 10.9% age-related macular degeneration. Vision rehabilitation therapy included interdisciplinary team consultations helping patients go through the mourning process for the loss or impairment of vision, and promoting the enhancement of their skills for performing activities of daily living independently. The management of patients with low vision was also focused on vision rehabilitation. Conclusion: The health of the eyes of patients with chronic diseases such as diabetes is at risk. The prevalence of diabetic retinopathy was found to be a cause for visual disability, suggesting the need to assess these patients’ access to health care and rehabilitation and promote health education for changing habits and improving quality of life. Keywords: Diabetes mellitus; Blindness; Vision, low; Vision disorders/rehabilitation; Quality of life 1 Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação, Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação “Prof. Dr. Gabriel Porto” da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Campinas (SP) – Brazil. 2 Disciplina de Oftalmologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo USP - São Paulo (SP), Brazil. 3 Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas,da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP - Campinas (SP) – Brazil. Interest conflitct - None Study carried out at Prof. Dr. Gabriel Porto Center for Rehabilitation Studies (CEPRE) - Faculdade de Ciências Médicas – Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brazil Recebido para publicação em: 30/12/2010 - Aceito para publicação em 11/4/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 342-8 Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program 343 RESUMO Objetivo: Verificar a prevalência da retinopatia diabética e as condutas desenvolvidas entre deficientes visuais atendidos pelo Programa de Reabilitação no CEPRE da Universidade Estadual de Campinas. Métodos: O estudo retrospectivo transversal foi desenvolvido a partir da análise de prontuários de pacientes que participaram do programa de reabilitação de deficientes visuais, considerando-se as variáveis: sexo, idade, estado civil, escolaridade, situação de seguridade, procedência, tipo e a causa da deficiência visual e condutas reabilitacionais. Resultados: A casuística constou de 155 pacientes, 55,5% do sexo masculino, faixa etária entre 12 e 88 anos, média de idade de 41 anos, 34,8% cegos e 65,2% com baixa visão. Dos cegos, 81,8% tinham cegueira adquirida, sendo a retinopatia diabética (33,3%) a causa prevalente da cegueira, seguida por glaucoma (16,6%) e descolamento de retina (15,0%). Dos pacientes com baixa visão, 14,9% apresentavam a retinopatia diabética e síndromes hereditárias somaram 14,9%, seguido pela degeneração macular associada à idade (10,9%). As condutas reabilitacionais desenvolvidas para os pacientes com deficiência visual constaram de atendimentos com equipe interdisciplinar propiciando a elaboração do luto pela perda ou diminuição visual, potencializando as habilidades para o desempenho independente e autônomo nas atividades do cotidiano. Entre os pacientes com baixa visão, as condutas enfocaram a reabilitação visual. Conclusão: Doenças crônicas como o diabetes constituem risco para a saúde ocular. Destacou-se a prevalência da retinopatia diabética entre as causas da deficiência visual, indicando a necessidade de se avaliar o acesso ao atendimento médico e às ações de reabilitação e educação em saúde favorecendo as mudanças de hábitos e qualidade de vida dos pacientes. Descritores: Diabetes mellitus; Cegueira; Baixa visão; Transtornos da visão/reabilitação; Qualidade de vida INTRODUCTION I n recent decades thousands of people have been affected by diabetes mellitus (DM) worldwide regardless of their social condition(1) placing a growing burden to health systems. Diabetes is a leading non-communicable chronic disease with sudden and insidious onset, and may be associated with the risk of cardiovascular complications and high morbidity and mortality rates. Despite scientific advances and improved quality of care, diabetes remains a public health concern in both developed and developing countries. The globally increasing prevalence of diabetes has been attributed to modern lifestyle, which can lead to obesity, physical inactivity, and consumption of high-fat, high-calorie diet(2). Studies have pointed diabetes as a major cause of blindness, kidney failure and limb amputation. These complications can result in significant health costs and lead to reduced work capacity and life expectancy of those affected(3), impairing their quality of life. It is estimated that 7 to 8.0% of the world population have DM. It is thus a serious health problem with significant socioeconomic impact(4) . The World Health Organization (WHO) reported 150 million people with diabetes worldwide, a figure that is expected to double by 2025 mainly in developing countries due to population aging, unhealthy eating habits, obesity, and sedentary lifestyle(5). DM affects 7.6% of the brazilian population between 30 and 69 years of age(6). Studies have reported that about 50.0% of diabetic patients were not aware of their status and 24.0% of those who were aware knowingly choose not to take care of themselves(7). Diabetic retinopathy is a severe consequence of DM arising during the course of the disease(8) and can lead to permanent vision loss. It is the leading cause of blindness in Europe and the United States and also accounts for vision loss and blindness in adults in developed countries(9). A similar pattern is seen in Brazil. Diabetic retinopathy is a major cause of irreversible visual impairment in working-age adults(10,11). According to the Brazilian Ministry of Health, it accounts for 4.5% of all cases of visual disabilities (12) , affecting approximately 40.0% of diabetic patients. Rehabilitation programs for the visually impaired have helped improve their quality of life(13). These programs include actions set out in health policies and are provided by the Brazilian National Health System aiming at restoring partial or full capacity over the course of the disease and facilitating re-inclusion of these patients into the social environment and work market(14). The Prof. Dr. Gabriel Porto Center for Rehabilitation Studies (CEPRE) is dedicated to the rehabilitation of patients with sensory disabilities, providing them comprehensive care with a view to facilitating re-inclusion into their family, social, and work environment. CEPRE provides care to blind and low vision patients of different ages through several interdisciplinary rehabilitation actions. The objective of the present study was to assess Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 342-8 344 Bittencourt ZZLC, Montilha RCL, Gasparetto MERF, Temporini ER, Carvalho KMM the prevalence of diabetic retinopathy and to evaluate the management of patients with visual disabilities attending the CEPRE rehabilitation program regarding their level of independence and quality of life. METHODS A retrospective study was conducted in CEPRE, and data was collected for the period between may 2004 and april 2008. During this period there were 15 rehabilitation groups of patients with visual disabilities: six groups of blind patients and 9 of low vision patients. Group activities were performed by a multidisciplinary team comprising ophthalmologists, education specialists, psychologists, occupational therapists, social workers, nutritionists, and specialists in activities of daily living and information technology. Data was collected from medical records of all patients in the rehabilitation groups on following sociodemographic variables: gender, age, marital status, level of schooling, social security status, origin, type and causes of visual disability and vision rehabilitation actions. RESULTS A total of 155 patients were studied, of which 55.5% were males (n = 86) and 44.5% females (n = 69) with age ranging between 12 and 88 years old, mean age 41 years old (SD = 17.7). Table 1 shows sociodemographic characteristics of the patients studied. Most patients were married (50.0%), 35.0% single, 10.7% separated, and 4.3% widowed. More than 50% had incomplete elementary education, 25.4% had complete middle/high school education or higher and 6.2% were functionally illiterate. Regarding their employment and social security status, 32.0% were retired, 22.2% were receiving medical leave benefits, 10.7% were receiving disability benefits from social security, 9.2% were regularly employed, 5.3% were unemployed and received no social security benefits, and 10.6% were dependents of their family. The majority (59.3%) of the patients studied were living in the city of Campinas and its metropolitan area. Of all patients with visual disabilities, 34.8% were blind (n = 54) and 65.2% had low vision (n = 101). Among blind patients, 81.8% reported acquired blindness, and the leading cause of blindness was diabetic retinopathy (33.3%), followed by glaucoma (16.6%), and retinal detachment (15.0%). Among low vision patients, 14.9% had diabetic retinopathy, 14.9% hereditary syndromes, and 10.9% age-related macular degeneration (Table 2). Blind patients with diabetic retinopathy were between 22 and 76 years old, and 76.0% were 41 to 70. Most were undereducated, i.e., 56.0% did not complete elementary school. Low vision patients with diabetic Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 342-8 retinopathy had visual acuity ranging from 20/200 to 20/ 400, their age ranged between 28 and 79 years old, most being 28 to 60. Regarding their level of schooling, 33.5% reported complete middle/high school education and 25.0% college education, while the remaining had complete elementary education. The interdisciplinary team staff at first worked individually with blind patients to help them go through the mourning process for the loss of vision. They worked to enhance the patients’ sensory abilities of touch, smell, hearing, taste and proprioception, helping them relearn how to interact and get involved with the surrounding environment. They performed activities to develop tactile discrimination aimed at learning the Braille system, promoting reading and writing communication.As for orientation and mobility skills, patients received training in the use of a cane and information about guide dogs and accessibility. Sound software programs were also used in this training (Table 3). Low vision patients were encouraged to use their residual vision enhanced by optical aids prescribed by the ophthalmologist, together with non-optical aids such as adaptations in the light environment, enlarged images, use of contrast, among others. The patients were individually evaluated as for their orientation and mobility skills bearing in mind their needs and degree of visual impairment. Sound and amplification software programs were used (Table 4). All blind and low vision patients received psychological and social support and were given opportunities to share their difficulties in group situations, or even individually as needed. They also received nutritional guidance focused on specific aspects of their condition. DISCUSSION Several epidemiological studies have confirmed that diabetes is one of the most prevalent noncommunicable diseases and the fourth or fifth leading cause of death in most developed countries. Diabetes affects nearly every organ in the human body and is a major cause of blindness and lower limb amputation at great economic and social cost to patients and society(15). The socioeconomic impact of diabetes constitutes a public health problem as its complications reduce productive life of diabetic patients affecting their own and their family’s quality of life(4). Despite widespread awareness campaigns for prevention of diabetes and its complications, diabetes has become an epidemic. Acquired diabetic retinopathy can be prevented through knowledge and information on the disease; however, the fact that patients are uninformed and undereducated may create an important barrier for primary and secondary prevention of diabetes, which will have a direct impact on their eye health. Several diabetes prevention programs in Brazil 345 Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program Table 1 Sociodemographic characteristics of patients attending a rehabilitation program at a university center Variables % Gender M = 86 F = 69 12–88 years old Age Level of schooling Marital status Social security status Origin 55.5 44.5 Mean: 41 (SD = 17.7) Illiterate Incomplete elementary education Complete elementary education Incomplete middle/high education Complete middle/high education College education Single Married Separated Widowed Medical leave benefits Employed Retired Social security benefits Dependent of the family Unemployed City of Campinas Metropolitan area of Campinas Other cities in the state of São Paulo Other Brazilian states 6.2 50.0 8.4 10.0 14.6 10.8 35.0 50.0 10.7 4.3 22.2 9.2 32.0 10.7 20.6 5.3 39.3 20.0 35.5 5.2 Table 2 Type and cause of visual disability in patients attending rehabilitation program at a university center Cause Diabetic retinopathy Hereditary syndromes Glaucoma Retinitis pigmentosa Retinal detachment Macular degeneration Chorioretinitis Cataract Trauma Other Type of visual disability Blindness Low vision N = 54 (34.8%) N=101 (65.2%) 18 04 09 04 08 33.3 7.4 16.6 7.4 15.0 01 04 06 1.8 7.4 11.1 15 15 07 10 03 11 10 05 01 24 14.9 14.9 6.9 9.9 2.9 10.9 9.9 4.9 1.0 23.8 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 342-8 346 Bittencourt ZZLC, Montilha RCL, Gasparetto MERF, Temporini ER, Carvalho KMM Table 3 Activities for blind patients attending rehabilitation program at a university center Staff Activities Social worker Welcomes and supports blind patients and their family to continue their life project; Psychologist Education specialist Occupational therapist Activities of daily living specialist Orientation and mobility specialist Nutritionist Provides guidance on social security, welfare and other social benefits/rights: right to work; disability rights, competitive examination, social cooperatives, internship, apprenticeship, temporary job, work-experience contract; Helps them with social problems that affect their rehabilitation. Helps them go through the mourning process for the loss of vision; Works with them to construct a new identity of a blind person; Helps them cope with their limitations and frustrations. Introduces the Braille system and helps those who wish to learn it; Teaches patients how to use information technology such as sound software programs; Facilitates digital inclusion. Encourages patients and family to express their feelings to facilitate the mourning process for the loss of vision, skill development, and raising awareness of the potential and development of independence in activities of daily living; Creates situational activities and training taking into account the patients’ needs;Organizes activities: self-expression, drama, vocational, craft, recreation and leisure. Provides training for acquiring independence in daily life activities such as eating, hygiene, clothing, home cleaning and management. Provides guidance on the use of a cane to ensure their right to mobility. Provides guidance on the importance of healthy eating and a snack is provided with each session to reinforce this guidance. Table 4 Activities for low vision patients attending rehabilitation program at a university center Staff Activities Social worker Welcomes and supports low vision patients and their family to continue their life project; Provides guidance on social security, welfare and other social benefits/rights: right to work; disability rights, competitive examination, social cooperatives, internship, apprenticeship, temporary job, work-experience contract; Helps them with social problems that affect their rehabilitation Helps them go through the mourning process for the loss of vision; Works with them to construct a new identity of a blind person; Helps them cope with their limitations and frustrations and their desire of recovering their “healthy sight” Teaches patients how to use the optical aids prescribed by the ophthalmologist; Encourages the use of residual vision in reading and writing and everyday activities; Teaches patients how to use information technology such as sound software programs; Facilitates digital inclusion. Focusing on the mourning process for low vision, helps skill development, improve self-confidence and self-esteem and use of residual vision; Creates situational activities and training taking into account the patients’ needs; Organizes activities: selfexpression, drama, vocational, craft, recreation and leisure. Focusing on the use of their residual vision, provides training for acquiring independence in activities of daily living such as eating, hygiene, clothing, home cleaning and management. Provides guidance on the use of a cane to ensure the right to mobility for patients with visual impairment grade 2 (severe visual loss), grade 3 (profound visual loss) and grade 4 (near total visual loss). Provides guidance on the importance of healthy eating and a snack is provided with each session to reinforce this guidance. Psychologist Education specialist Occupational therapist Activities of daily living specialist Orientation and mobility specialist Nutritionist Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 342-8 Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program include interventions for lifestyle changes and promotion of healthy diet and physical activity(16).Some aspects of prevention that should be strengthened include diabetes screening and early diagnosis. Improved effective access to quality health care services, education and support of diabetic patients would greatly reduce the impact of the disease. Hence, most cases of blindness due to diabetic retinopathy could be prevented with appropriate actions for early diagnosis and adequate management of blood glucose and blood pressure. Diabetic retinopathy is a serious public health concern and requires a multidisciplinary approach for preventing further complications and consequent effects on the quality of life of patients. From the 1990s international studies on diabetes health education and self-care have emphasized that providing information only to patients is not enough to assure adequate self-care; i.e., having knowledge on the disease is crucial but it alone does not ensure that patients will take proper care of themselves. Many factors related to attitudes, beliefs, values and perceptions are involved and influence a specific behavior and thus education actions are key for health promotion and can empower people to control their own eye health(17). Despite the support of associations of diabetic patients, Brazilian patients still have limited knowledge on the potential complications of diabetes, such as retinopathy and blindness, with low coverage of diabetes prevention and screening(18-20) . Many initiatives have been conducted in Brazil aimed at eye health promotion and blindness prevention (19) such as the cataract project and eye screening of schoolchildren, among others. Although thousands of patients of different ages have benefited from them, many people still do not have access to early diagnosis. Corroborating these data, we found in our study that the rehabilitation program for visually impaired persons have provided care to patients with diabetic retinopathy that might have been prevented through access to timely diagnosis and adequate treatment that prioritize education actions focused on self-care and proper diet, promotion of physical activities, and management of blood glucose levels, among others. It is estimated there are a considerable number of patients with diabetes who are undiagnosed and remain untreated for a long time(19). The population assisted in CEPRE rehabilitation program are mostly undereducated, a finding that may be associated with lack of knowledge and neglect of self-care. Low socioeconomic condition can also be considered a health risk factor, pointing to the need for stronger public policies that prioritize prevention actions and treatment of this disease(21). Given that our sample comprised mostly primeage adults, mean age of 41, a considerable proportion of 347 them lived on social security benefits or depended on their family (Table 1), which bears a high social cost to the public care system and families. The acquired visual impairment has an enormous impact on the lives of those affected and these patients can present different responses to their visual loss. Ophthalmologists must be aware and understand their specific needs and refer them to other rehabilitation providers as it is important to assess the stage the patients are going through in their school, work and family life and take it into consideration in the rehabilitation plan(22). Fletcher(23) claims that, even in those cases that there is not much to be done to save the cornea, retina or optic nerve, much can be done to improve these patients’ functionality of vision and quality of life. The greater the visual loss, the greater the functional impact and the earlier rehabilitation is initiated, the better the adaptation and the least damaging the consequences will be to one’s life(24). The art of rehabilitation is to convert a condition into the least possible disadvantage (25). Promote independent living for visually impaired people is the main goal of the rehabilitation process, achieved through an interdisciplinary team approach and different actions taking into consideration individual needs. Rehabilitation has provided blind patients means for reinserting into their social environment with greater independence and improved quality of life(26). The activities with patients with low vision (Table 4) aimed at an effective use of vision in everyday tasks(26). The use of residual vision is not always instinctive(23) to patients and vision rehabilitation require the use of optical and non-optical aids as well as electronic and information technology resources. People with low vision will only use optical aids if they are affordable and meet their daily living needs. (24) Study developed in 2004 (27) found that 54.8% of patients attending the Low Vision Service (LVS) at Universidade Estadual de Campinas were prescribed optical aids. Optical aids were not prescribed for those patients who no longer performed activities of reading and writing, those who considered their level of vision satisfactory to perform everyday activities, those who had high-grade myopia with visual acuity at close-up of 1 M or 0.8 M (being able to read words in newspapers/magazines) and those with very severe eye disease. Data from medical records of patients with low vision showed that in early rehabilitation they expressed difficulty in performing daily activities after visual loss, and that because of the challenges and lack of adequate guidance, they used less their vision and thus became Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 342-8 348 Bittencourt ZZLC, Montilha RCL, Gasparetto MERF, Temporini ER, Carvalho KMM less independent requiring help. Vision rehabilitation of these patients aimed at supporting the use of aids prescribed in the LVS in activities of daily living that they no longer performed. A barrier to the use of residual vision and optical aids was identified from medical records. Some patients believed in the myth that moving the eyes closer to things and using their vision could be harmful to the eyes and speed up the progress of their eye condition. CONCLUSION The health of the eyes of patients with chronic diseases such as diabetes is at risk. Rehabilitation was found to have a positive impact on the lives of blind and low vision patients in our study. The study findings together with the prevalence of diabetic retinopathy found in this study reinforce the need for redirecting public policies combined with education and health actions to improve current eye health in Brazil. REFERENCES 1. Assunção MCF, Santos IS, Gigante DP. Atenção primária em diabetes no Sul do Brasil: estrutura, processo e resultado. J Public Health. 2001;35(1):88-95. 2. Narayan KM, Gregg EW, Fagot-Campagna A, Engelgau MM, Vinicor F. 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A retinografia digital foi revisada de modo a se classificar na escala DDLS (Disc Damage Likelihood Scale).Resultados: 244 olhos de 122 pacientes (75 mulheres) foram incluídos no estudo. A média de idade foi de 47,2 anos (de 8 a 97 anos, desvio padrão de 21,7). Não houve correlação significante entre área do disco e nenhuma das medidas de PIO (IOPg, IOPcc). Encontrou-se uma relação negativa significativa com CRF (r=-0,1337, p=0,0263). A relação com histerese foi também negativa (-0,1123), mas o valor p foi maior que 0,05 (0,0625). Não houve correlação significante entre área do disco e progressão paquimétrica mínima ou média. Entretanto, observou-se correlação significante e positiva entre a área do disco e astigmatismo corneano (Delta K), sendo de 1,15 (p=0,0129). Conclusão: Existe uma correlação negativa entre a área do disco óptico e os parâmetros biomecânicos e estruturais da córnea. Tal correlação pode ser parte da explicação da córnea ser um fator de risco para maior susceptibilidade do nervo óptico para neuropatia glaucomatosa. Descritores: Disco óptico; Córnea/anatomia & histologia; Topografia da córnea; Biomecânica; Estudos retrospectivos 1’ Fellowship’ em Glaucoma no Wills Eye Hospital – Filadélfia- EUA; Membro do Grupo de Estudos de Tomografia e Biomecânica da Córnea - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 2 Residente do 2° ano do CEPOA - Centro de Estudos e Pesquisas Oculistas Associados – CEPOA – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3’ Fellow’ de Catarata do Hospital São Vicente de Paulo - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 4 Pós-graduando (Mestrado) da Universidade Federal Fluminense – UFF – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 5’ Fellowship’ em Córnea e Cirurgia Refrativa no Cole Eye Institute - Cleveland Clinic – EUA. 6 Professor Associado de Oftalmologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUCRJ - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Coordenador Científico do Grupo de Estudos de Tomografia e Biomecânica de Córnea - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Instituição onde o trabalho foi realizado: Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 19/1/2011 - Aceito para publicação em 21/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 350 Silva RS, Silva JAS, Lima FBF, Valbon BF, Salomão MQ, Ambrósio Junior R ABSTRACT Purpose: To correlate optic disc size geometry, corneal architecture and biomechanics. Methods: Optic disc area and geometry was accessed by HRT III (Heidelberg Retina Tomography – Heidelberg eng), Pentacam (Oculus) was used for accessing IOP and corneal parameters and ORA (Ocular Response Analyze - Reichert) was utilized to access corneal biomechanical properties. Classification based DDLS (Disc Damage Likelihood Scale) scale from retinography was performed. Settings: Instituto de Olhos Renato Ambrósio. Results: 244 eyes of 122 patients (75 female) were included. The average age was 47,2 years (from 8 to 97 years). A significant negative correlation was found between disc optic size and CRF (r=0,1337, p=0,0263). A small trend was also found between optic nerve size and hysteresis (r=0,1123, p=0,0625). A significant negative correlation was also found between disc optic size and thinnest point, maximal pachymetri progression, corneal volume at (1, 4 e 6mm) and difference from thinnest and central value (p<0,05). The highest negative correlation was with corneal volume within 4mm in diameter (r=-1,887; p=0,0017). A positive correlation between size of optic disc and cornea astigmatism (delta K), was found (r= 1,15; p=0,0129). Conclusion: There is a negative correlation between optic disc size and corneal thickness and biomechanical properties. These findings may help explaining susceptibility for the development of glaucoma neuropathy in some cases. Keywords: Optic disc; Cornea/anatomy & histology; Corneal topography; Biomechanics; Retrospective studies INTRODUÇÃO D esde a publicação em junho de 2002 do estudo OHTS (Ocular Hypertension Treatment Study), que identificou, em análise multivariada, a espessura corneana central (ECC) como o mais importante fator preditivo para o desenvolvimento de lesão glaucomatosa do nervo óptico em pacientes hipertensos oculares(1), há um crescente interesse nas relações entre características da córnea e a neuropatia óptica glaucomatosa. Os achados do OHTS foram validados com o estudo europeu EGPS (European Glaucoma Prevention Study Group)(2). O modelo de predição que combina os dados do OHTS e do EGPS calcula que para cada 40 micra de diminuição da ECC, há um risco duas vezes maior de desenvolvimento de lesão glaucomatosa em cinco anos(3). Adicionalmente, outros estudos têm relacionado espessura corneana mais baixa com maior gravidade na apresentação da lesão glaucomatosa(4-6). Inicialmente, as explicações para a associação entre a influência da espessura corneana no desenvolvimento da neuropatia óptica glaucomatosa estavam baseadas no fato de que córneas mais finas apresentam uma influência negativa na medida da pressão intraocular (PIO) por meio de tonometria de aplanação. Deste modo, pacientes com córneas mais finas apresentariam medidas de PIO menos elevadas e, consequentemente, seriam menos tratados, o que aumentaria o risco de lesão. A influência da espessura da córnea na medida da pressão intraocular (PIO) por meio de tonometria de Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 aplanação é bastante reconhecida(7-9). Segundo o princípio de Imbert-Fick, no qual se baseia a tonometria de aplanação, a pressão interna de uma esfera cheia de fluidos é diretamente proporcional à força requerida para realizar externamente o aplanamento de sua parede, contanto que a superfície seja uma membrana perfeitamente elástica, seca, esférica, e infinitamente fina. De fato, as limitações do princípio de Imbert-Fick já eram reconhecidas por Goldmann e Schmidt quando introduziram este método em 1957, ao fazerem duas suposições na tentativa de compensar tais limitações: 1) a córnea sem doença apresentava uma espessura pouco variável, em torno de 500 µm; 2) os efeitos da rigidez da córnea seriam equilibrados pela tensão de superfície do menisco de lágrima em contato com a ponta do instrumento ao aplanar uma área circular com diâmetro de 3,06 mm(10). De forma alternativa, a hipótese de existir uma relação entre a espessura corneana e uma maior susceptibilidade para lesão glaucomatosa foi aventada com base nas relações anatômicas entre a córnea e o disco óptico, que são as aberturas da parede escleral. Considerando-se as origens genética e embrionária semelhantes, bem como a continuidade destas estruturas, as propriedades biomecânicas da córnea de elasticidade e resistência podem estar relacionadas com as do disco óptico a nível da lâmina cribiforme, o que explicaria maior impacto da pressão nas fibras nervosas. Novas evidências clínicas identificam a espessura corneana como um fator de risco para progressão da neuropatia óptica glaucomatosa. O estudo EMGT (Early Manifest Glaucoma Trial), no seguimento de onze anos, identificou a ECC como um importante fator de predi- Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea ção para progressão do glaucoma em pacientes com níveis pressóricos mais elevados(11). É interessante notar que, provavelmente pelo fato que menos pacientes com glaucoma desenvolveram progressão da doença, o seguimento de cinco anos do mesmo estudo falhou em identificar tal associação clínicas(12). Outros parâmetros da córnea, como a ceratometria, também exercem importante influência no “erro” da medida da PIO por aplanação, que é hiperestimada em casos de córneas mais espessas e mais curvas. Entretanto, um modelo matemático elaborado por Liu e Roberts identifica que o módulo de Young da córnea, relacionado com suas propriedades biomecânicas, exerce uma influência independente e superior à espessura e curvatura da córnea(13). O estudo clínico das propriedades biomecânicas da córnea tornou-se possível com a introdução do sistema de não contato, ORA (Ocular Response Analyzer, Reichert), em 2005. O ORA é um tonômetro de sopro que utiliza um pulso de ar extremamente controlado e monitorado em sua intensidade, com fases ascendentes e descendentes simétricas. O exame leva cerca de 20 mili segundos. O pulso de ar desencadeia deformação na superfície da córnea que passa por um primeiro momento de aplanação, que é identificado por um pico no reflexo da córnea (ponto 1, Figura 1). Após tal momento, a córnea ainda sofre a pressão do pulso de ar até ficar ligeiramente côncava (ponto 2, Figura 1) e retorna ao seu estado original de modo a passar por um segundo momento de aplanação (ponto 3, Figura 1). O comportamento da córnea e o sinal obtido durante o exame representa as propriedades biomecânicas da córnea medida. A diferença entre a pressão do pulso de ar nos momentos de aplanação é relacionada com a capacidade viscoelástica da córnea de armazenar energia e é denominada histerese (Histerese = P1 – P2). Quatro parâmetros são gerados na versão atual do software do ORA: PIO calibrada para Goldmann, PIO compensada da córnea, histerese e fator de resistência corneana(14). Congdon et al. realizaram um estudo no qual se mediu a histerese em uma coorte de pacientes com diagnóstico de glaucoma, que foram avaliados retrospectivamente para determinar o grau e a progressão da lesão. O estudo identificou que histerese mais baixa era um importante fator de predição de piora dos parâmetros perimétricos(15). Por outro lado, a medida central da espessura da córnea (ECC) não reflete de forma completa as características geométricas da córnea. A córnea é fisiologicamente mais fina no centro e mais espessa na sua perife- 351 ria, com aumento gradual em direção ao limbo. O perfil de progressão paquimétrico é um parâmetro tomográfico da córnea que tem características paramétricas “Gaussianas” em uma população normal e tem características significativamente distintas em córneas normais e com ceratocone(16,17). O tomógrafo de córnea e segmento anterior, Pentacam (Oculus) tem software específico que analisa graficamente a progressão paquimétrica e calcula a média de progressão para cada olho estudado. Além da limitação de ser uma medida pontual, a espessura central não é necessariamente o ponto mais fino da córnea, havendo em 12% das córneas normais, uma diferença superior a 10µm(18). Estudos da ECC mostram importante variação ao longo do tempo(19), o que pode ser explicado por variação na posição da ponteira do ultrassom na córnea, uma vez que não observamos tal variação ao longo de quatro anos no mapa paquimétrico em um grupo de 116 olhos com córneas normais(20). Novos estudos vêm sendo realizados para identificar novas relações entre a córnea e o nervo óptico, de modo que sirvam para justificar uma maior susceptibilidade de córneas mais finas e com menor viscoelasticidade para a lesão do nervo óptico. Lesk et al. concluíram que pacientes com glaucoma de ângulo-aberto e hipertensão ocular com córneas mais finas apresentam maior diminuição da profundidade de escavação que pacientes com córneas mais espessas, quando submetidos a redução da PIO(21). Esta avaliação, realizado com o HRT (Heidelberg Retina Tomography) reconhecidamente demonstra uma maior variação a nível da lâmina cribiforme (complacência) nos pacientes com córnea mais fina. Adicionalmente, o estudo observou menor melhora nos parâmetros de fluxo sanguíneo da rima neural por meio do scanning laser Doppler flowmetry no grupo com córneas mais finas(21). Pakravan et al., em estudo retrospectivo envolvendo pacientes com glaucoma de ângulo-aberto, encontraram uma relação negativa entre a área do nervo óptico e a ECC(22), existindo diferenças significativas entre os grupos raciais. Tal relato sugere que um nervo com maior diâmetro sofra maior impacto da pressão de acordo com a lei de Laplace, o que justificaria uma maior susceptibilidade a lesão pela pressão elevada. O objetivo deste trabalho é relacionar as características biomecânicas da córnea medidas com o ORA, as características estruturais (geometria) da córnea medidas com o Pentacam HR e o diâmetro do nervo óptico medido com o HRT. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 352 Silva RS, Silva JAS, Lima FBF, Valbon BF, Salomão MQ, Ambrósio Junior R MÉTODOS Foi feito um estudo retrospectivo com base nos arquivos de pacientes do Instituto de Olhos Renato Ambrósio, de modo a se identificar os pacientes que realizaram exames HRT (Heidelberg Retina Tomography), Pentacam e ORA. A tentativa de eliminar a influência da raça neste estudo, limitou-se a incluir olhos de pacientes considerados como de origem caucasiana. Todos os exames de HRT e ORA foram feitos no mesmo dia, de forma sequencial. Os pacientes que apresentavam alguma doença na córnea ou cirurgia corneana prévia foram excluídos. Apenas pacientes com ambos os olhos elegíveis para o estudo foram incluídos. Apenas exames com qualidade considerada adequada foram selecionados para o estudo, excluindo-se os pacientes com pelo menos um exame de qualidade comprometida, de acordo com os padrões da cada instrumento. O exame do ORA foi realizado com duas medidas consecutivas em cada olho. Os dados IOPg, IOPcc, CRF e histerese foram considerados. O exame do Pentacam foi realizado com sistema rotacional digital de Scheimpflug, programado para realizar 25 fotos em 2 segundos em 360º. Os dados dos exames (HRT, ORA e Pentacam) de cada paciente foram exportados para planilha do Excell (Microsoft Office 2006) usando os softwares disponíveis de cada aparelho. Os mapas topográficos e paquimétricos e os perfis de progressão paquimétrica foram extraídos do exame Pentacam para cada paciente e armazenados em arquivo digital (jpeg). Da mesma forma a retinografia digital com o HRT3 OU Report foram gerados e arquivados para cada paciente. Cada retinografia foi revisada e classificada na escala DDLS (Disc Damage Likelihood Scale - Figura 2)(23) por pesquisadora treinada (RSS) em fellowship pelo próprio Dr. G. Spaeth, quem descreve tal classificação. Os dados de todos os exames de cada olho foram combinados na mesma planilha para possibilitar estudo estatístico utilizando-se o software SPSS v 13.0. Como o exame do ORA consistiu em duas medidas, o estudo das concordâncias entre cada medida foi realizado. Utilizou-se o teste de Pearson (Pearson’s product-moment correlation) para IOPg, CRF e histerese, uma vez que tais dados foram considerados normais ou Gaussianos por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov (KolmogorovSmirnov Test of Composite Normality). IOPcc teve uma distribuição não normal, de modo que utilizou-se o teste Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 de Spearman (Spearman’s rank correlation). Considerando-se que pelo teste de KolmogorovSmirnov, a área do disco óptico teve distribuição normal ou gaussiana, as correlações entre a área do disco óptico foram feitas utilizando-se o teste de Pearson, no caso do segundo parâmetro ser também gaussiano, ou teste de Spearman, no caso do segundo parâmetro ter distribuição não gaussiana. As correlações foram estudadas com: CRF (Corneal Resistance Factor), histerese, ceratometria (K1, K2 e K-médio), astigmatismo corneano (delta K), eixo do astigmatismo, profundidade, volume e ângulo da câmara anterior, paquimetria mais fina, progressão paquimétrica mínima, média e máxima, volume corneano (1, 4 e 6 mm), distância do ápice ao ponto mais fino, diferença entre o ápice e o ponto mais fino e classificação DDLS. RESULTADOS Duzentos e quarenta e quatro olhos de 122 pacientes (75 mulheres) foram incluídos no estudo. A média de idade foi de 47,2 anos (de 8 a 97 anos, desvio padrão de 21,7). O estudo da concordância entre os parâmetros do ORA revelou boa reprodução das medidas. As correlações entre a primeira e segunda medidas para IOPg, IOPcc, CRF e histerese foi respectivamente de 0,9130, 0,8541, 0,8487 e 0,8098 (p<0,005). A média de área do disco foi de 2,04 mm com desvio padrão de 0,51. A variável mostrou-se normal ou Gaussiana, de acordo com teste de Kolmogorov-Smirnov (p=0,12, ks=0,0481). Não houve correlação significante entre área do disco e nenhuma das medidas de PIO (IOPg, IOPcc). Observou-se uma associação negativa significativa entre a área do disco e os parâmetros biomecânicos e geométricos da córnea. A Tabela 1 resume as médias, desvio padrão e se a distribuição foi considerada paramétrica. Não foram encontradas associações significantes com a ceratometria, profundidade, volume e ângulo da câmara anterior. Encontrou-se uma relação negativa significativa com CRF (Figura 3), sendo o fator de correlação de 0,1337 (p=0,0263). A relação com histerese foi também negativa (-0,1123), mas não foi significante com valor p maior que 0,05 (0,0625). As correlações entre área do disco e paquimetria mais fina (Figura 4), progressão paquimétrica máxima (Figura 5), volume corneano (1, 4 e 6mm) e diferença paquimétrica entre o ponto mais fino e o apical foram Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea 353 Figura 1 – Sinal do ORA Figura 2: Escala DDLS Figura 3: Gráfico de dispersão entre área do disco e CRF Figura 4: Gráfico de dispersão entre área do disco e paquimetria mais fina Figura 5: Gráfico de dispersão entre área do disco e progressão paquimétrica máxima Figura 6: Gráfico de dispersão entre área do disco e volume corneano Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 354 Silva RS, Silva JAS, Lima FBF, Valbon BF, Salomão MQ, Ambrósio Junior R Tabela 1 Média, desvio padrão, valores mínimo e máximo e verificação de distribuição normal dos parâmetros estudados Parâmetro Área do disco CRF Histerese Ceratometria média Astigmatismo Profundidade da CA Volume da CA Ângulo da CA Paquimetria mais fina, Progressão paquimétrica máxima Volume corneano (1mm) Volume corneano (4 mm) Volume corneano (6 mm) Distância do ápice ao ponto mais fino Diferença entre o ápice e o ponto mais fino Classificação DDLS Média Desvio Mínimo padrão 2,01 10,60 10,07 43,09 1,03 3,04 182,87 38,84 547,09 1,16 0,41 7,24 17,30 0,81 5,13 3,54 0,47 1,82 1,72 1,88 0,60 0,88 84,34 29,18 32,53 0,30 0,03 0,42 0,99 0,36 4,98 1,24 Máximo 0,77 5,65 5,45 33,55 0 1,59 56 13 463 0,7 0,4 6,3 15 0,07 0 1 Distribuição normal ou Gaussiana* One sample Kolmogorov-Smirnov Test of Composite Normality 3,42 16,45 15,35 47,15 3,6 8,06 694 360 630 3,2 0,5 8,2 19,7 2,68 35 8 Sim Sim Sim Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não CA = câmara anterior; DDLS = Disc Damage Likelihood Scale Tabela 2 Correlações com área do disco Parâmetro Valor da correlação Valor de p Teste Estatístico -0,13 -0,11 -0,08 0,15 -0,18 -0,07 -0,01 -0,08 -0,17 0,06 -0,04 -0,15 -0,14 -0,19 -0,19 -0,07 -0,12 -0,27 0,03 0,06 0,15 0,01 0,00 0,27 0,87 0,16 0,00 0,29 0,47 0,01 0,02 0,00 0,00 0,26 0,04 0 Pearson Pearson Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman Spearman CRF Histerese Ceratometria média Astigmatismo Eixo do astigmatismo Profundidade da CA Volume da CA Ângulo da CA Paquimetria mais fina Progressão paquimétrica mínima Progressão paquimétrica média Progressão paquimétrica máxima Volume corneano (1 mm) Volume corneano (4 mm) Volume corneano (6 mm) Distância do ápice ao ponto mais fino Diferença entre o ápice e o ponto mais fino Classificação DDLS CA = câmara anterior; DDLS = Disc Damage Likelihood Scale Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea Figura 7: Gráfico de dispersão entre área do disco e os eixos do astigmatismo significantes e negativas (p<0,05). A correlação com maior significância foi com o volume corneano em 4mm de diâmetro (Figura 6), sendo -1,887 (p=0,0017). Não houve correlação significante entre área do disco e progressão paquimétrica mínima ou média, bem como distância do ponto mais fino ao ápice corneano e ceratometria. Entretanto, observou-se correlação significante e positiva entre a área do disco e astigmatismo corneano (Delta K), sendo de 1,15 (p=0,0129). Observou-se uma correlação significativa entre a área do disco e o eixo do astigmatismo, com valor r = -0,1766 (p=0,0034). Entretanto, observando-se a distribuição dos eixos no gráfico de dispersão, observase que há uma distribuição homogênea entre os valores de área do disco óptico e os eixos do astigmatismo (Figura 7). A Tabela 2 resume as correlações entre área do disco e os parâmetros estudados, bem como o teste estatístico utilizado. DISCUSSÃO As correlações entre parâmetros da córnea com características do nervo óptico é uma das áreas de maior interesse em pesquisas, uma vez que estas podem representar clinicamente fatores de risco para a neuropatia óptica glaucomatosa. O presente estudo encontrou uma associação negativa entre parâmetros tomográficos (geométricos) e biomecânicos da córnea e a área do disco óptico. Um recente estudo anterior(22) encontrou resultados semelhantes correlacionando-se apenas a espessura corneana. Existem importantes correlações entre as características geométricas e biomecânicas da córnea e es- 355 truturais do nervo óptico com outras características individuais, como sexo, idade, raça e pigmentação da íris(2433) . Um estudo realizado em olhos de cadáver falhou em identificar associações entre a espessura da córnea e da lâmina cribriforme, mas artefatos relacionados com a preservação provavelmente influenciaram nos resultados(34). Uma das limitações mais importantes deste estudo é não haver correlação com aspectos funcionais do nervo óptico por meio de avaliação perimétrica. A amostra entretanto, constituiu-se de pacientes com glaucoma ou suspeita de glaucoma encaminhados para propedêutica complementar específica. Outro viés possível é o fato de que muitos pacientes estavam em uso de medicação tópica para tratamento de glaucoma. É possível que exista uma influência de medicações hipotensoras oculares, como as prostaglandinas, em parâmetros estruturais e biomecânicos da córnea(35,36). Tal associação merece estudos mais detalhados. O estudo de Pakravan et al. encontra importantes diferenças entre caucasianos e afro-americanos(22). Entretanto, estudos com relação a grupos raciais ficam comprometidos na população brasileira devido a grande miscigenação populacional. Por tal motivo, decidimos restringir o estudo a pacientes de origem caucasiana. Entretanto, novos estudos prospectivos podem ser realizados com maior cuidado na classificação racial dos pacientes. De fato, está bem estabelecido que existem diferenças significativas entre raças nos parâmetros corneanos e do nervo óptico, sendo que, na média, olhos de pacientes afro-americanos apresentam córneas mais delgadas e com propriedades biomecânicas mais baixas e nervos com maior diâmetro(24-33). A hipótese que foi corroborada com o presente estudo é que existe uma maior susceptibilidade para lesão axonal em casos de nervos com área maior. Por exemplo, aceita-se que a maior propensão ao aumento verticalizado com lesão neural nas regiões superior e inferior do disco óptico está relacionado com uma maior relação de tamanhos dos poros da lâmina cribiforme, possivelmente com menos tecido conectivo para suporte(37,38). É aceito que a espessura da córnea exerce influência na medida da PIO. Entretanto, há fatores corneanos, relacionados com sua geometria e também com as características biomecânicas que estão relacionados com a medida por tonometria de aplanação. Além disso, a influência da córnea na doença glaucomatosa parece estar relacionada com um aspecto mais essencial além de artefato de medida da PIO(39). De acordo com os postulados e a equação de Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 356 Silva RS, Silva JAS, Lima FBF, Valbon BF, Salomão MQ, Ambrósio Junior R Young-Laplace, há uma maior distribuição e impacto da pressão com maior tensão superficial em áreas maiores. A denominada Lei de Laplace(22), muito utilizada em fisiologia respiratória, determina portanto uma explicação física para o fato de nervos com maior diâmetro terem maior susceptibilidade para lesão por pressão, de acordo com a teoria mecânica da fisiopatologia do glaucoma. Tal mecanismo também poderia influenciar o fato de pacientes com nervos menores, possivelmente mais robustos, terem menor chance de lesão axonal. Entretanto, tal conceito deve ser considerado com cautela, pois é sabido que pacientes com discos ópticos de menor diâmetro têm menor “tolerância” para presença de escavação, para haver doença glaucomatosa. Novos estudos, envolvendo outros parâmetros biomecânicos, bem como o pulso ocular e o fluxo sanguíneo devem ser realizados. Estes podem ter influências distintas em casos com maior ou menor área de disco, ou com córneas mais finas ou espessas. Adicionalmente, estudos devem ser realizados para correlacionar os parâmetros da geometria da escavação e aspectos funcionais perimétricos. 5. CONCLUSÕES 14. Existe uma correlação negativa entre a área do disco óptico e os parâmetros biomecânicos e estruturais da córnea. Tal correlação pode ser parte da explicação da córnea ser um fator de risco para maior susceptibilidade do nervo óptico para neuropatia glaucomatosa. 15. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 16. 17. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Gordon MO, Beiser JA, Brandt JD, Heuer DK, Higginbotham EJ, Johnson CA, et al. The Ocular Hypertension Treatment Study: baseline factors that predict the onset of primary open-angle glaucoma. Arch Ophthalmol. 2002;120(6):71420; discussion 829-30. Comment in: Arch Ophthalmol. 2004;122(7):1088-9; author reply 1089. European Glaucoma Prevention Study (EGPS) Group, Miglior S, Pfeiffer N, Torri V, Zeyen T, Cunha-Vaz J, Adamsons I. Predictive factors for open-angle glaucoma among patients with ocular hypertension in the European Glaucoma Prevention Study. Ophthalmology. 2007;114(1):3-9. Ocular Hypertension Treatment Study Group; European Glaucoma Prevention Study Group, Gordon MO, Torri V, Miglior S, Beiser JA, Floriani I, Miller JP, et al. 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Endereço para correspondência: Renato Ambrósio Junior Rua Conde de Bonfim, nº 211/712 – Tijuca CEP 20520-050 - Rio de Janeiro (RJ), Brazil Tel/Fax: 55(21) 2234-4233; celular 55(21) 8222-1979 e-mail:[email protected] Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 349-57 ARTIGO ORIGINAL 358 Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest Características e prevalência do pterígio em comunidades ribeirinhas dos Rios Solimões e Japurá localizados na Amazônia Brasileira Lívia Adnet Martins Ribeiro1, Luiz Felipe Guaraná Martins Ribeiro2, Paulo Roberto de Azevedo Castro3, Fílicio Doné Lima da Silva4, Verônika Maria Weyll Adnet Martins Ribeiro5, Arlindo José Freire Portes6, Abelardo de Souza Couto Junior7 ABSTRACT Purpose: To evaluate the prevalence and characteristics of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers, State of Amazonas, Brazil. Design: cross-sectional study. Methods: This study was carried out on populations of the Brazilian Amazon rainforest. Data were collected by two separate ophthalmologists in three expeditions, covering 55 local communities. A total number of 1295 patients were examined, of which 659 were over 18 years old. The patients diagnosed with pterygium answered a questionnaire addressing gender, age and outdoor activity. Pterygium lesion sizes were graded as grade 1 (lesion covers until limbus), grade 2 (lesion covers cornea by 2 mm), grade 3 (lesion surrounds the pupil) and grade 4 (lesion crosses the pupil). Results: Pterygium prevalence was 21.2% for the overall population and 41.1% in those over 18 years old. Patients between 40-50 years old were most affected by pterygium. Pterygium data distribution by gender showed that 57.8% were men. The majority of the patients diagnosed with pterygium was active outdoors (89.5%). Subjects affected in both eyes were 75.6%. Of the total population positive to pterygium the majority was grade 1 (44%) and 2 (48.7%). Most of the patients (85%) developed nasal pterygium. Conclusion: This study shows one of the highest prevalences of pterygium in the world, covering a Brazilian region never studied before. Keywords: Pterygium/epidemiology; Prevalence; Brazil; Amazon 1 MD,Resident,Instituto Benjamin Constant - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; MD,Hospital Adventista de Manaus - Manaus (AM), Brasil; 3 PhD,Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 4 MD,Fellow, Hospital do Olho - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 5 MD,ONG Enxerga Brasil - Brasil; 6 PhD,Universidade Estácio de Sá (UNESA) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 7 PhD,Instituto Benjamin Constant - Rio de Janeiro (RJ), Brasil and Faculdade de Medicina de Valença – Valença (RJ), Brasil. 2 From the Instituto Benjamin Constant - Rio de Janeiro (RJ), Brasil Interest conflitct - None Recebido para publicação em 9/5/2011 - Aceito para publicação em 26/9/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 358-62 Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the... 359 RESUMO Objetivo: Avaliar a prevalência e as características do pterígio em comunidades ribeirinhas dos rios Solimões e Japurá, estado do Amazonas, Brasil. Métodos: Foi realizado um estudo observacional, em comunidades ribeirinhas dos rios Solimões e Japurá. Os dados foram coletados por dois avaliadores em três expedições médico oftalmológicas, num período de 9 meses, que abrangeram 55 comunidades ribeirinhas, totalizando 1295 pacientes examinados, sendo 659 maiores de 18 anos. Os portadores de pterígio foram analisados através de um questionário abrangendo sexo, idade e atividade laborativa ao sol ou não. O tamanho da lesão foi quantificado em graus. Resultados: A prevalência do pterígio na população geral foi de 21.2%. A prevalência entre os maiores de 18 anos foi de 41.1%. A faixa etária mais acometida foi a de 41 a 50 anos. Dos portadores, 42.2% eram do sexo feminino e 57.8% do sexo masculino. 89.5% dos pacientes acometidos pela lesão trabalhavam ao ar livre. Dos portadores, 75.6% apresentavam acometimento de ambos os olhos. Dos pacientes acometidos, 48.7% possuíam pterígio grau 2, 44.0% apresentavam a lesão de grau 1, 5.4% de grau 3 e 1.8% de grau 4. Dos olhos acometidos, 85.0% apresentavam somente pterígio nasal, 2.9% apresentavam somente pterígio temporal e 14.5% apresentavam pterígio temporal e nasal. Conclusão: Nosso estudo, nos rios Solimões e Japurá, revelou a existência de uma das maiores taxas de pterígio do mundo, em uma região que nunca havia sido avaliada. Descritores: Pterígio/epidemiologia; Prevalência; Brasil; Amazônia INTRODUCTION P terygium is defined as a growth onto the cornea, usually nasally, of a fibrovascular tissue, often triangular in shape, that is continuous with the conjunctiva. This lesion may be clinically aggressive and occasionally threaten vision(1,2). Recent studies suggest that pterygium is a proliferative condition instead of degenerative, highly associated with UV exposure(3-5). The condition is common in the so-called ‘pterygium zone’, which is defined by a geographical latitude of 40º north and south of the equator(6). In countries within this area prevalence of up to 22% in the general population has been reported(7). The pathogenesis of pterygium is very complex and the subject’s genetic background is reported to be relevant in creating and developing pterygium lesions (8). The communities evaluated in this study are located in the Amazon rain forest, in an isolated region of difficult access, near the equator. The population found in these communities is composed of Indian and whiteindians descent. Their activities are fishing, hunting and agriculture. Almost all the subjects examined have never had contact with an ophthalmologist before. To the present day, there has been no data about prevalence of pterygium in these communities. In Brazil, there is no data about prevalence of pterygium in the whole country and even for specific regions there are few studies that cover this subject. A previous study of pterygium in Hospitals of Salvador and Manaus showed a similar frequency of the lesion in both genders(9). Another study reported a high incidence of Figure 1: Location of the studied region, Solimões and Japurá rivers, state of Amazonas, Brazil Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 358-62 360 Ribeiro LAM, Ribeiro LFGM, Castro PRA, Silva FDL, RibeiroVMWAM, Portes AJF, Couto Júnior AS (lesion surrounds the pupil) and grade 4 (lesion crosses the pupil). This graduation was used in the study of pterygium in the the Botucatu region(13). When a individual had more than one lesion, the most severe one was analyzed, as shown in Figure 2. The type of presentation of the lesion was classified as nasal, temporal or both nasal and temporal lesion.This study was approved by the Ethics Committee of the Medical School of Valença. (protocol number 005.0.334.000-10) RESULTS Figure 2: A - Nasal lesion grade 1; B- Temporal and nasal lesion grade 2; C - Temporal and nasal lesion grade 3; D- Temporal and nasal lesion grade 4 pterygium in an institute of ophthalmology in Manaus (10). Recently pterygium prevalence has been reported among indians at the Negro river region, Amazonas state. According to the reports, a pterygium prevalence of 12.8 % from total Indian population (11) and 18.4 % among elderly and adults was described. Furthermore, pterygium lesions were found mainly in Indian groups with higher UV exposure(12). The objective of this study is to evaluate pterygium prevalence and characteristcs in small communities of the Amazon rainforest located along the Solimões and Japurá rivers, state of Amazonas, Brazil (Figure 1). METHODS A cross-sectional study was developed in small communities along the Solimões and Japurá rivers, located in the countries of Tefé, Alvarães, Maraã and Fonte Boa, state of Amazonas, Brazil. Data were collected by two different evaluators in three medical expeditions. The study covered 55 local communities and 1295 patients. A total of 659 patients were above 18 years old and 636 were under 18 years old. These communities were selected because none of them had never been evaluated by an ophthalomologist before. During each visit, the examiners tried to assess the entire community. Eyeglasses were donated to patients who needed them. Patients having pterygium lesion answered a questionnaire covering gender, age, and outdoor activity, such as fishing, hunting and agriculture. The pterygium lesions sizes were graded clinically by slit-lamp biomicroscopy as grade 1 (lesion cover until limbus), grade 2 (lesion covers cornea by 2 mm), grade 3 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 358-62 Pterygium was found in 21.2% (275/1295) of all subjects examined. Pterygium prevalence rate between subjects that were above 18 years old was 41.1% (271/ 659). Four patients under 18 years old (15-17 years old) were found with pterygium lesion. About 26.9% of the patients that had pterygium were between 41-50 years old. From total subjects diagnosed with pterygium, 57.8 % (159/275) were male and 42.2% (116/275) were female. Outdoor activity was referred by 89.4% (246/275) of the patients with the lesion. Of total subjects diagnosed with pterygium, 75.6% (208/275) had it in both eyes. Out of 483 affected eyes evaluated, 85.1% (411/ 483) showed only nasal lesion, 2.5% (12/483) only temporal lesion, and 12.4% (60/483) both temporal and nasal pterygium. Severity assessment in 275 patients demonstrated 44%, 48.7%, 5.4% and 1.8% classified as grade 1, grade 2, grade 3, and grade 4, respectively (Tables 1 and 2). DISCUSSION The pterygium prevalence along the Solimões and Japurá rivers, of 41.1 % in individuals over 18 years old reported here, is higher than others regions previously reported, such as India, where the prevalence of pterygium in individuals above 50 years of age was 5.2% (14) . In Singapore a prevalence of 9.7% in those who were over 40 years old has been recorded(15) and in Indonesia a prevalence of 10.0% in adults over 21 years old(16). In Nigeria there is a prevalence of 8.2% in individuals from 18 to 49 years old(17). In this study we showed a higher rate of pterygium than the ones previously described by others in the Amazon rainforest like in the Negro river region where a prevalence of 12.8% in the population in general (11) and of 18.4% in adults and elderly had been described (12). Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the... 361 Table 1 Distribution of commited subjects according age and lesion grade Age 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 > 61 11-20 Total (%) Grade Total (%) G1 G2 G3 G4 5 27 26 29 12 22 5 121 (44.0) 3 18 27 38 26 22 3 134 (48.7) 0 1 2 5 3 4 0 15 (5.4) 0 0 0 2 1 2 0 5 (1.8) 8 (2.9) 46 (16.7) 55 (20.0) 74 (26.9) 42 (15.2) 50 (18.1) 8 (2.9) 275 (100) Table 2 Distribution of commited subjects with pterygium according to gender and lesion grade. F - female; M - male Grade F M Total (%) G1 G2 G3 G4 Total 55 54 6 1 116 (42.2) 66 80 9 4 159 (57.8) 121 (44.0) 134 (48.7) 15 (5.4) 5 (1.8) 275 (100) The severity of the lesion is important in this study. The pterygium observed was classified mainly as grade 2 and grade 1, but lesions in grade 4, that causes a severe visual acuity disability, were found in 5 subjects, suggesting that it may still exist blindness caused by pterygium in that region. Furthermore, we showed that four patients under 18 years old and 48 patients with ages between 19 e 30 years old developed pterygium. From total subjects diagnosed with pterygium, 39.6% were under 40 years old. This data suggests that pterygium develops early in the population studied. The outdoor activities such as fishing, hunting and agriculture were the occupation of most of the patients. This suggests the relationship between exposure to UV and the development of pterygium, already demonstrated in other articles(3,18). conclusion, this work described one of the highest pterygium rates in the world, in an Amazon region that had never had been studied before, showing the importance of further studies of the riverside population in the Amazon rainforest. Acknowledgments NGO Enxerga Brasil, Brazilian Army, Mamirauá Institute REFERENCES 1. 2. 3. CONCLUSION 4. Considering the difficulty of access to the communities evaluated, this study had a large area of coverage and a larger number of inhabitants were included than in other studies in the Amazon region. In 5. Duke-Elder S, Leigh AG. Diseases of the outer eye. In: DukeElder S, editor. System of ophthalmology. St. Louis: Mosby; 1965. vol. 8. p. 573-4 Yanoff M, Duker JS, editors. Ophthalmology. 3rd ed. St. Louis: Mosby; 2009. p. 248-9. Detorakis ET, Spandidos DA. Pathogenetic mechanisms and treatment options for ophthalmic pterygium: trends and perspectives (Review). Int J Mol Med. 2009;23(4):439-47. Threlfall TJ, English DR. Sun exposure and pterygium of the eye: a dose-response curve. Am J Ohthalmol. 1999;128(3):280-7. Portes AJF, Elias CA, Laje C, Jordão LF, Lyrio NM. Efeito do filtro de ultravioleta em lentes de contato hidrofílicas de alta hidratação. Rev Bras Oftalmol. 2008;67(3):114-8. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 358-62 362 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Ribeiro LAM, Ribeiro LFGM, Castro PRA, Silva FDL, RibeiroVMWAM, Portes AJF, Couto Júnior AS Coroneo MT. Pterygium as an early indicator of ultraviolet insolation: a hypothesis. Br J Ophthalmol. 1993;77(11):734-9. Hilgers JH. Pterygium: its incidence, heredity and etiology. Am J Ophthalmol. 1960;50:635-44. Di Girolamo N, Chui J, Coroneo MT, Wakefield D. Pathogenesis of pterygia: role of cytokines, growth factors, and matrix metalloproteinases. Prog Retin Eye Res. 2004;23(2):195-228. Garrido Neto T, Garrido C, Carvalho RC, Lima HC. Estudo da frequência de pterígio em Hospitais de Salvador e Manaus. Rev Bras Oftalmol. 1996;55(9):683-6. Chaves C, Cohen JM. Pterígio. Rev Bras Oftalmol. 1985;44(5):196. Reis ACPP, Chaves C, Cohen JM, Belfort F, Oliveira NP, Belfort Júnior R. Detecção de tracoma e doenças corneanas em índios da região do Alto Rio Negro. Arq Bras Oftalmol. 2002;65(1):79-81. Paula JS, Thorn F, Cruz AA. 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Resultados: Não houve diferença estatisticamente significante entre a ceratometria encontrada pela topografia corneana ou diferença no BFS (“best fit sphere”) anterior e posterior e índice de Roush avaliados pelo Orbscan nos olhos acometidos pelo espasmo em relação ao olho contralateral quando comparados antes e após o procedimento. Conclusão: Neste estudo, não encontramos diferença entre olhos com espasmo hemifacial e olhos sem essa condição quando avaliados a ceratometria, o índice de Roush e o BFS corneano antes e após tratamento. Descritores: Espasmo hemifacial/complicações; Ceratometria corneana; Toxina botulínica tipo A/uso terapêutico; Topografia da córnea/métodos 1 Médica estagiária do Setor de Plástica Ocular do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo - (USP) – São Paulo (SP), Brasil; 2 Pós-graduanda (Doutorado) do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo - (USP) - São Paulo (SP), Brasil; 3 Pós-graduando (Doutorado) do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo - (USP) - São Paulo (SP), Brasil; 4 ‘Fellow’ do Setor de Córnea e Cirurgia Refrativa – The Cole Eye Institute - The Cleveland Clinic Foundation - Cleveland - USA; 5 Médico Residente de terceiro ano - Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) São Paulo (SP), Brasil; 6 Médica Assistente do setor de Plástica Ocular do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo - (USP) - São Paulo (SP), Brasil Trabalho desenvolvido junto ao Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil em conjunto com a Cleveland Clinic Foundation (The Cole Eye Institute - USA) Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 5/11/2011 - Aceito para publicação em 18/4/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 363-6 364 Pereira IC, SaraivaPGC, Saraiva FP, Medeiros FW, Miki G, Matayoshi S ABSTRACT Purpose: To determine the corneal keratometric variation in patients’ eyes with unilateral hemifacial spasm which underwent treatment with botulinum toxin and set against control group. Methods: Eighteen patients with hemifacial spasm were submitted to complete ophthalmologic exam, corneal topography and Orbscan previously botulinum toxin application and one month afterwards. They were evaluated for keratometry, BFS (anterior and posterior) and Roush value. Results: There were no statistical differences between eyes with hemi facial spasm and normal eyes related to keratometric values by topography and in the parameters evaluated by Orbscan as Roush and best fit sphere (anterior or posterior) prior to or after treatment with botulinum toxin. Conclusion: This study has not shown statistical difference between the corneal curvatures when compared eyes with hemi facial spasm with the opposite normal eyes. Keywords: Hemifacial spasm/complications; Corneal keratometry; Botulinum toxin, type A/therapeutic use; Corneal topography/methods INTRODUÇÃO A s discinesias craniofaciais que são um grupo de doenças caracterizadas por movimentos involuntários da face, língua, palato, faringe, cordas vocais e pescoço classificam-se em: blefaroespasmo essencial, espasmo hemifacial, Síndrome de Meige, Síndrome de Brueghel, entre outras(1). Os espasmos hemifaciais são contrações tônicas ou clônicas involuntárias, paroxísticas, limitadas aos músculos de um lado do rosto, inervados pelo nervo facial. A ressonância magnética pode mostrar compressão vascular da raiz do 7º nervo(2). Inicia-se geralmente com tremores palpebrais intermitentes em uma pálpebra e, em meses ou anos, há progressão que envolve áreas adjacentes inervadas pelo nervo facial, comprometendo todos os músculos do lado acometido da face(3). A verdadeira causa do astigmatismo corneano ainda é incerta. Desde que Snellen, no século XIX, propôs que a pálpebra pode estar relacionada com a ocorrência do astigmatismo, muitos estudos foram iniciados(4). Existem várias evidências de que a compressão das pálpebras influencia a biomecânica corneana. O calázio, por exemplo, em pálpebra superior produz um achatamento corneano reversível(5); o mesmo ocorre em pacientes portadores de peso de ouro em pálpebra superior(6). Neste estudo, investigamos a ocorrência de alterações nos valores ceratométricos, “best fit sphere” (anterior e posterior) e índice de Roush em pacientes portadores de espasmo hemifacial, comparando a curvatura corneana do olho acometido com a do olho contralateral e a influência do tratamento com toxina botulínica. MÉTODOS Foi realizado um estudo prospectivo onde 18 pacientes portadores de espasmo hemifacial foram triados no Ambulatório de Plástica Ocular do HCFMUSP. Os pacien- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 363-6 tes foram submetidos à aplicação de toxina botulínica tipo A (Botox®). Esta toxina é um preparado liofilizado, em que cada frasco contém 100U de droga, devendo permanecer no congelador, à temperatura de –5º C até sua utilização.A droga foi reconstituída em 4,0 ml de soro fisiológico, resultando numa concentração de 2,5U da toxina em cada 0,1ml da solução. Em cada ponto foram injetadas 2,5U nos músculos protractores das pálpebras (músculos orbicular, próceros e corrugadores de supercílios) e em outros músculos faciais (zigomático e orbicular da boca). Todos os pacientes já vinham recebendo este tipo de tratamento com intervalo de aproximadamente 6 meses entre as aplicações. Foram excluídos do estudo os pacientes que já haviam sido submetidos à cirurgia ocular prévia, além dos pacientes que possuíam alterações topográficas compatíveis com ectasias corneanas. Foram analisados os seguintes dados: idade; sexo; tempo de doença; uso de medicação sistêmica; acuidade visual sem correção; refração dinâmica; exame de topografia corneana e topografia de varredura de fenda de luz (OrbscanR, Baush & Lomb – Orbtek Inc, Salt Lake City, Utah). Os exames foram realizados momentos antes da aplicação da toxina botulínica e repetidos após um mês. O exame de topografia foi realizado em todos os casos pelo mesmo examinador, utilizando a videoceratoscopia computadorizada modelo “Eye Sys” (Eye Sys Laboratories, Inc, Houston,Texas, EUA), levando em consideração a ceratometria média e o mapa de cores. O exame de Orbscan também foi realizado em todos os casos pelo mesmo examinador, sendo comparados os parâmetros de melhor esfera adaptável nas superfícies anterior e posterior (“best fit sphere”), além da determinação do índice de Roush antes e após o tratamento, nos olhos tratados e não tratados. Os resultados foram comparados utilizando-se o teste t de Student para duas amostras em par para médias, com um nível de significância menor a 0,05 (5%). 365 Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial Gráfico 1 Gráfico 2 Distribuição do índice de Roush (IR) entre os olhos dos 18 pacientes do estudo (eixo X) Evolução da melhor esfera anterior adaptada (“best fit sphere”) nos pacientes do estudo, p=0,08 prétoxina e p=0,051 pós-toxina botulínica quando comparados os olhos em estudo com seus controles Gráfico 3 Gráfico 4 Distribuição dos valores relacionados ao “posterior best fit sphere” obtido com o Orbscan antes e após tratamento com toxina botulínica (tox). Não houve disparidade entre os grupos no pré e pós-procedimento (p=0,30 e p=0,14, respectivamente) Ceratometria central (K) medida pelo exame de topografia corneana pré e pós-toxina botulínica (tox). Não há diferença estatística entre os valores obtidos pré e pós-injeção de toxina botulínica (p=0,44 e p=0,20, respectivamente) RESULTADOS O grupo era constituído de 10 pacientes do sexo feminino (55,56%) e 08 pacientes do sexo masculino (44,44%). A duração dos espasmos variou entre 1 a 25 anos, sendo que 50% dos pacientes apresentavam a doença há mais de 10 anos. Foram comparadas as diferenças entre as medidas de ceratometria média central entre os dois olhos nos pacientes portadores de espasmo hemifacial, levando em consideração os valores obtidos nos exames de Topografia corneana. Os olhos que foram submetidos ao tratamento com toxina botulínica não apresentaram diferença estatisticamente significante previamente ao uso da medicação quando comparados ao grupo controle em relação a ceratometria central, BFS anterior, BFS posterior e índice de Roush (p=0,44; p=0,08; p=0,30 e p=0,42 respectivamente) O gráfico 1 demonstra os resultados obtidos através do exame de Orbscan com os determinados índices de Roush pré e pós-procedimento para os pacientes arrolados no estudo. O índice de Roush não apresentou diferença entre os grupos após o procedimento terapêutico (p=0,17). Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 363-6 366 Pereira IC, SaraivaPGC, Saraiva FP, Medeiros FW, Miki G, Matayoshi S A melhor esfera anterior adaptada (“anterior best fit sphere”) por sua vez mostrou uma tendência de diminuição dos valores de curvatura corneana após a aplicação de toxina botulínica quando comparado com o controle embora não tenha sido significante da mesma forma que os outros parâmetros (p=0,051). Os dados estão representados no gráfico 2. Melhor esfera posterior adaptada (“posterior best fit sphere”) também não apresentou disparidade entre os grupos no pós-procedimento (p=0,14). O gráfico 3 mostra os resultados. Não houve diferença estatisticamente significante após o procedimento entre os olhos acometidos pelo espasmo e o grupo controle em relação à ceratometria central avaliada pela topografia corneana (p=0,20). O gráfico 4 revela a evolução dos resultados em relação à ceratometria. DISCUSSÃO As distonias faciais constituem um grupo de alterações neuromusculares, que acometem particularmente os músculos palpebrais e/ou músculos faciais. No espasmo hemifacial há contrações musculares involuntárias e periódicas em um dos lados da face, levando a modificação da expressão do paciente do lado afetado(2). No grupo estudado houve uma maior prevalência de pacientes do sexo feminino e com uma idade média de 64 anos, concordando com outros autores que encontraram uma maior prevalência em mulheres e em uma faixa etária entre 60 e 80 anos(2,6-8). O uso de toxina botulínica para o tratamento das distonias faciais está se ampliando nos últimos anos. A toxina botulínica é um tipo de neurotoxina elaborada pelo Clostridium botulinum. Existem diversos tipos de toxina botulínica na natureza e, dentre eles, o tipo A é o mais estável e usado comercialmente em medicamentos(9). Ela age por bloqueio seletivo e reversível da junção neuromuscular, causando relaxamento da musculatura envolvida. A toxina inibe a liberação de acetilcolina das vesículas pré-sinápticas da placa neural, provocando uma neurectomia transitória(2,3). As causas do astigmatismo corneano não são totalmente conhecidas, porém vários fatores podem contribuir com o desenvolvimento corneano e a compressão exercida pelas pálpebras deve ser considerada como um dos mais importantes fatores(4). Ugurbas e Zilelioglu demonstraram a ocorrência de um astigmatismo assimétrico em pacientes portadores de ptose congênita unilateral(10), enquanto Lavy et al. demonstraram uma alteração no astigmatismo corneano em pacientes portadores de lagoftalmo e submetidos ao implante de peso de ouro(11). Estudo realizado por Moon et al. encontrou, em pacientes portadores de espasmo hemifacial, uma mai- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 363-6 or ocorrência de astigmatismo a favor da regra no lado acometido em relação ao lado contralateral (4). Nosso estudo não demonstrou uma diferença estatisticamente significativa entre a curvatura corneana presente no lado acometido em relação ao lado contralateral. Alguns fatores aqui podem ter influenciado os resultados como o fato de os pacientes já possuírem um prévio histórico de tratamento com toxina botulínica, influenciando as possíveis alterações geradas pelo fenômeno de compressão do espasmo. Um estudo prospectivo incluindo pacientes virgens de prévio tratamento com toxina poderia elucidar essa questão. CONCLUSÕES Não encontramos diferença estatisticamente significativa entre os parâmetros de ceratometria central, BSF anterior e posterior e índice de Roush avaliados pelos métodos de topografia corneana e Orbscan quando comparados olhos com espasmo hemifacial unilateral em relação ao olho contralateral. REFERÊNCIAS 1. Cunha MC, Aguirre OP, Dias CRS. Tratamento do espasmo facial unilateral com toxina botulínica tipo A. Arq Bras Oftalmol. 1998;61(1):54-60. 2. Schellini SA, Matai O, Igami TZ, Padovani CR, Padovani CP. Blefaroespasmo essencial e espasmo hemifacial: características dos pacientes, tratamento com toxina botulínica A e revisão da literatura. Arq Bras Oftalmol 2006;69(1):23-6. 3. Carvalho RMLS, Gomi CF, Carvalho ALS, Matayoshi S, Moura EM. Tratamento do blefaroespasmo e distonias faciais correlatas com toxina botulínica: estudo de 16 casos. Arq Bras Oftalmol. 2003;66(1):13-6. 4. Moon NJ, Lee HI, Kim JC. 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Corneal topography in patients with congenital ptosis. Eye (Lond). 1999;13(Pt 4):550-4.Lavy JA, East CA, Bamber A, Andrews PJ. Gold weight implants in the management of lagophthalmos in facial palsy. Clin Otolaryngol Allied Sci. 2004;29(3):279-83. ARTIGO ORIGINAL 367 A capsulotomia descontínua durante a facoemulsificação Discontinuous capsulotomy during phacoemulsification Virgilio Centurion1; Augusto Cézar Lacava1; Juan Carlos Caballero1 RESUMO Objetivo: Descrever a prevalência, localização e causas da capsulotomia descontínua durante a cirurgia de catarata por facoemulsificação. Métodos: Estudo retrospectivo, consecutivo, não comparativo de 971 cirurgias de catarata com capsulotomia descontínua no per-cirúrgico entre janeiro de 2009 a junho de 2010. Resultados: Observou-se uma prevalência de 0,02% e a descontinuação da cápsula ocorreu em 100% das vezes durante o tratamento do núcleo. Em 58.33% dos olhos o implante foi realizado no saco capsular e em 41.67% no sulco ciliar. A AV ≥ 20/30 em 100% dos olhos. Conclusão: apesar de ser uma intercorrência pouco frequente, pode comprometer o resultado final. Descritores: Lentes intraoculares; Extração de catarata/métodos; Facoemulsificação/métodos; Capsulorrexe/ métodos ABSTRACT Objective: To describe the prevalence, location and causes of discontinuous capsulotomy during phacoemulsification cataract surgery. Methods: Retrospective, consecutive, non-comparative study of 971 cataract surgeries – with discontinuous capsulotomy during surgery – performed from January 2009 to June 2010. Results: it was observed a prevalence of 0.02% and capsule discontinuation occurring 100% of the time during the treatment of the nucleus. In 58.33% of the eyes the implant was done in the capsular bag and in 41.67% in the ciliary sulcus. VA ≥ 20/30 in 100% of the eyes. Conclusion: despite the fact that it is a not too frequent event, it may compromise the final result. Keywords: Lenses, intraocular; Cataract extraction/methods; Phacoemulsification/methods; Capsulorhexis/ methods 1 Oftalmologistas do Instituto de Moléstias Oculares – IMO – São Paulo (SP), Brasil Trabalho realizado no Instituto de Moléstias Oculares – IMO – São Paulo (SP), Brasil Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 1/3/2011 - Aceito para publicação em 28/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 367-70 368 Centurion V; Lacava AC; Caballero JC INTRODUÇÃO A facoemulsificação é uma técnica considerada etapa-dependente, ou seja, todas as fases devem ser realizadas sem complicações, pois a imperfeita realização de uma delas pode comprometer o restante da técnica cirúrgica ou o resultado final. Assim, a capsulorrexe deve ser realizada seguindo o objetivo de ser circular, contínua, central e de uma circunferência de aproximadamente 5,0 a 5,5mm. Quando tem a sua estrutura comprometida podemos ter complicações intraoperatórias como ruptura da cápsula anterior e/ou posterior, perda vítrea(1), fragmentos cristalinianos no vítreo, ausência de suporte para LIO e deslocamento da LIO no pós-operatório. A capsulorrexe descontínua pode ocorrer durante a confecção da capsulorrexe ou em qualquer estágio da facoemulsificação. Objetivo deste trabalho foi descrever a prevalência, a localização mais frequente, a possível causa desta complicação e suas consequências. MÉTODOS Trata-se de um estudo retrospectivo, consecutivo e não comparativo de olhos submetidos à facoemulsificação por catarata e com diagnóstico de lesão da cápsula anterior do saco capsular e que receberam implante de LIO, com injetor, no saco capsular ou no sulcus ciliaris, no período entre janeiro de 2009 a junho de 2010 Avaliamos as causas, as complicações per e pósoperatórias, acuidade visual final e estabilidade da LIO no local implantado. Todas as cirurgias foram realizadas por um único cirurgião (V.C.), sob anestesia peribulbar, incisão corneana de 2,75mm a hora 10, facoemulsificação com o equipamento INFINITI Vision System - Alcon e implante de LIO com injetor no saco capsular ou no sulcus ciliaris. RESULTADOS Entre janeiro de 2009 a junho de 2010 foram analisados prontuários de 971 cirurgias de catarata. Desse total 12 olhos apresentaram capsulotomia descontínua, com prevalência de 0,02% (Tabela 1). Em relação à etiologia, 100% dos olhos (12) apresentaram capsulotomia descontínua durante o tratamento do núcleo pela facoemulsificação e nenhum olho du- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 367-70 rante a confecção da capsulotomia. O local da lesão da cápsula anterior podemos observar na Tabela 2. Ao analisarmos o local do implante da LIO, em 7 olhos (18,33%) a LIO foi implantada no saco capsular e em 5 olhos (41,67%) no sulcus ciliaris (Tabela 3). O modelo de LIO implantada se observa na Tabela 4. As complicações operatórias observadas foram: 1 olho com ruptura de cápsula posterior sem perda vítrea e 1 olho com posteriorização da capsulotomia sem perda vítrea. A acuidade visual pós-operatória foi de ≥ 20/30 em 100% dos olhos com capsulotomia descontínua. O seguimento variou de 3 meses a 1 ano e 6 meses. DISCUSSÃO A confecção da capsulorrexe é um passo importante na facoemulsificação. O treino em olhos de porco, nem sempre simula as condições humanas, e já existe um simulador cirúrgico para treinamento da confecção da capsulorrexe(2). A capsulorrexe curvilínea contínua (CCC) é mais resistente à formação de rasgos radiais da cápsula(3,4). Ela permite ao cirurgião acesso ao material cristaliniano a ser retirado e depois ao implante da LIO. Uma intacta cápsula posterior serve de barreira entre os segmentos anterior e posterior do globo ocular. Não deve ser muito pequena, pois pode predispor à síndrome da contração capsular e quando muito ampla pode permitir a captura da LIO(5,6). Marques(1) observou 21 casos de descontinuação da cápsula e/ou ruptura da cápsula anterior em 2646 cirurgias, ou seja uma prevalência de 0,79%. Esta alteração foi observada em 1 olho durante a injeção do viscoelástico, em 13 olhos durante a confecção da capsulorrexe, em 2 olhos durante a hidrodissecção, em 3 olhos durante o tratamento do núcleo, em 1 olho durante a irrigação/aspiração e em 1 olho durante a implantação de gancho de íris. Em 14 cirurgias a descontinuação capsular se estendeu até a zônula, em 10 se estendeu até o equador e cápsula posterior. A vitrectomia anterior foi necessária em 4 cirurgias. Foi implantada LIO peça única de acrílico em 18 cirurgias e em 3 olhos a LIO de três peças de acrílico. Em nosso estudo, observamos a cápsula descontínua em 12 olhos num total de 971 cirurgias ou uma prevalência de 0,02% e todas as lesões da cápsula anterior ocorreram durante a etapa de facoemulsificação (Tabelas 5 e 6). O local da lesão da cápsula anterior foi dividido igualmente nos quatro quadrantes. 369 A capsulotomia descontínua durante a facoemulsificação Tabela 1 Tabela 2 Total de cirurgias e prevalência da capsulotomia descontínua Local da lesão da capsula anterior - período: de janeiro de 2009 a junho de 2010 (16 meses) - total de cirurgias: 971 - total de capsulotomias descontínuas: 12 olhos - prevalência: 0,02% Local do implante Tabela 3 Tabela 4 Local do implante Material da LIO implantada LIO Olhos % 7 5 12 58,33 41,67 100,00 Saco capsular Sulcus ciliaris Total LIO silicone 3 peças LIO acrílica hidrofóbica 3 peças LIO acrílica hidrofóbica peça única Total Olhos % 7 2 3 12 58,33 16,67 25,00 100,00 Tabela 5 Prevalência da capsulotomia descontínua de dois autores Autores Olhos Capsulotomia descontínua Marques Centurion 24616 971 21 12 Prevalência (%) Seguimento 0,79 0,02 5 anos 1a e 6 meses Ano 2006 2010 Tabela 6 Etapa da cirurgia em que foi provocada a capsulotomia descontínua Autores Marques Centurion Injeção viscoelástico 1 - Capsulotomia Hidro 13 - 2 - Faco I/A Outros 3 12 1 - 1 - Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 367-70 370 Centurion V; Lacava AC; Caballero JC O implante da LIO foi no saco capsular em 7 olhos (58,33%) e em 5 no sulcus ciliaris (41,67%). Em 1 olho houve ruptura da cápsula posterior sem perda vítrea. Na maioria das cirurgias (75%) houve preferência pelo implante de LIO monofocal de 3 peças. É importante notar que a AV ≥ 20/30 aconteceu em 100% dos casos e não houve complicações no pós-operatório. Assia(3) mostrou que 95% dos rasgos da cápsula se estendem até a periferia, não ultrapassando o equador. Dois fatores seriam responsáveis pela limitação da extensão da descontinuação da capsulotomia: as características anatômicas da zônula e a direção da força exercida. A disposição e estrutura das zônulas funcionam como uma verdadeira barreira à progressão do rasgo da cápsula, pois cada zônula cobre grande parte da cápsula e qualquer parte da periferia da cápsula é amparada por várias zônulas(3). Durante a etapa do tratamento do núcleo pela facoemulsificação, o uso de alto vácuo, aspiração alta e pressão de irrigação elevada, podem provocar injuria zonular(7). Acreditamos que a diferença na prevalência da capsulotomia anterior descontínua entre os dois autores se deva à diferença de períodos comparados e critérios das causas. Davison(8) sugere colocar as alças da LIO perpendicular à área de ruptura. Isto conduz a um protocolo de segurança em relação à LIO que o cirurgião deve ter de reserva no centro operatório. Em tempos de lentes Premium (esféricas, tóricas, multifocais, acomodativas) a possibilidade de comprometimento da capsulotomia anterior e/ou outro tipo de complicação nos obriga a ter lentes de reserva, na dioptria adequada para implante no saco ou sulcus ciliaris. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 367-70 Em conclusão, trata-se de uma intercorrência pouco frequente, que não compromete o resultado da acuidade visual final, porém se este tipo de complicação se apresentar durante uma cirurgia com indicação de implante de lentes Premium a ausência da integridade do saco capsular pode comprometer não somente o implante previamente programado como também o resultado final. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Marques FF, Marques DM, Osher RH, Osher JM. Fate of anterior capsule tears during cataract surgey. J Cataract Refract Surg. 2006;32(10):1638-42. Privett B, Greenlee E, Rogers G, Oetting TA. Construct validity of a surgical simulator as a valid model for capsulorhexis training. J Cataract Refract Surg. 2010;36(11):1835-8. Assia EI, Apple DJ, Tsai JC, Morgan RC. Mechanism of radial tear formation and extension after anterior capsulectomy. Ophthalmology. 1991;98(4):432-7. Werner L, Jia G, Sussman G, Maddula S, Ness P, Davis D, et al. 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Ibirapuera, nº 624 - Ibirapuera CEP 04028-000 - São Paulo (SP), Brasil E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 371 Estudo sobre os fatores relacionados a interrupção do tratamento do glaucoma Study of the factors related to stop the treatment of glaucoma Eduardo Scaldini Buscacio1, Giovanni Nicola Umberto Italiano Colombini2 RESUMO Objetivo: Identificar causas relacionadas com a não aderência ao tratamento do glaucoma primário de ângulo aberto e sugerir meios para posteriormente minimizá-las. Métodos: Foi aplicado um questionário a pacientes portadores de glaucoma primário de ângulo aberto no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, escolhidos aleatoriamente, para avaliação dos fatores relacionados com a interrupção do tratamento. Para isso, utilizou-se uma análise univariada, pelo teste exato de Fisher, e considerou estatisticamente significativo p<0,05. Resultados: A partir do questionário, identificou-se dois subgrupos, um que já havia interrompido o tratamento e outro que nunca o havia interrompido, compostos por 25 e 11 pacientes respectivamente. Estes grupos foram comparados entre si e todos os parâmetros analisados. O custo dos medicamentos (p=0,001) e o fator esquecimento (p=0,007) foram estatisticamente relevantes para a interrupção do tratamento da doença. As demais variáveis testadas não obtiveram significância estatística. Conclusão: O custo dos medicamentos e o fator esquecimento foram os fatores mais importantes para interrupção do tratamento. Descritores: Glaucoma/terapia; Adesão ao tratamento; Glaucoma primário de ângulo aberto/terapia; Custos de medicamentos; Suspensão de tratamento ABSTRACT The objective was to identify causes related to noncompliance of primary open-angle glaucoma and suggest ways to minimize them later. A questionnaire was given to patients with primary open angle glaucoma in Hospital Gaffrée Guinle, chosen randomly, to assess factors related to discontinuation of treatment. For this we used a univariate analysis by Fisher’s exact test and considered statistically significant p <0.05. From the questionnaire, we identified two sub-groups, who had stopped treatment and another who had never stopped for 25 compounds and 11 patients respectively. These groups were compared, and all parameters examined. The cost of drugs (p = 0.001) and forgetting factor (p = 0.007) were statistically significant for discontinuation of treatment of disease. The other variables tested did not achieve statistical significance. Conclusion: The cost of drugs and forgetting to take medication were the factors most important to withholding treatment Keywords: Glaucoma/therapy; Medication adherence; Glaucoma, open angle/therapy; Drug costs; Withholding treatment 1 Residente Médico do Hospital Municipal da Piedade - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Doutor; professor associado Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – (UNIRIO) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - (UNIRIO) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 6/7/2010 - Aceito para publicação em 19/10/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 371-7 372 Buscacio ES, Colombini GNUI INTRODUÇÃO G laucoma é uma doença de causa desconhecida caracterizada pela degeneração dos axônios das células ganglionares da retina, podendo levar à cegueira irreversível(1). É uma neuropatia óptica crônica progressiva, caracterizada por alterações típicas do disco óptico e da camada de fibras nervosas da retina, com repercussões características no campo visual. Na maioria das vezes está associado a valores de pressão intraocular (PIO) acima dos níveis considerados estatisticamente normais(1). Existe uma minoria de casos de glaucoma, que evoluem com PIO normal. Estima-se uma prevalência de 0,2% da população na quinta década de vida e 1,6% em torno dos 75 anos de idade(2). Apesar da relação causa/efeito não ser muito precisa, sabe-se que o aumento da PIO é o principal fator de risco para desenvolver a neuropatia óptica glaucomatosa(1-4). O tratamento do glaucoma visa a prevenir o déficit visual definitivo e, dessa forma, a aderência dos pacientes ao tratamento tem importantes implicações sociais(5). Estudos anteriores mostraram que uma parcela significativa dos pacientes interrompem a terapia. Nordstrom et al.(5) reportam relação entre a interrupção do tratamento e o tipo de droga utilizada, enquanto Costa et al.(6) e Silva et al.(7) associam a não adesão ao baixo conhecimento a respeito da doença e ao custo dos medicamentos. Este estudo teve como objetivo avaliar os principais fatores relacionados à não aderência dos pacientes ao tratamento do GPAA, visando acrescentar ao conhecimento médico, medidas que possam evitar tais fatores. MÉTODOS No Hospital Universitário Gaffrée Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, foi realizado um estudo de caso controle aplicando em portadores de GPAA um questionário para avaliação dos principais fatores relacionados com a interrupção do tratamento desta afecção. O questionário consta de cabeçalho com preenchimento de dados pessoais como idade, sexo, raça e ocupação, três perguntas objetivas visando avaliar o conhecimento do paciente sobre a doença, duas questões objetivas e três subjetivas procurando estabelecer aproximadamente as condições financeiras do entrevistado, duas questões objetivas e quatro subjetivas sobre as dro- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 371-7 gas já utilizadas pelo paciente desde o primeiro diagnóstico de glaucoma, duas questões objetivas sobre a aderência do paciente propriamente dita e uma pergunta sobre a relação do entrevistado com o médico oftalmologista (Apêndice 1). Foram adotados os seguintes critérios para inclusão de pacientes: diagnóstico de glaucoma confirmado; acompanhamento ambulatorial na instituição por um período mínimo de 1 ano; maiores de 40 anos; podendo ter realizado ou não cirurgia antiglaucomatosa; concordância na participação do estudo por livre consentimento. Foram adotados os seguintes critérios para exclusão de pacientes: a não concordância com a participação do estudo; diagnóstico de glaucoma congênito, secundário e de ângulo fechado. A partir do questionário, os pacientes foram divididos em 2 subgrupos: um subgrupo contendo pacientes que já interromperam em algum momento o tratamento, tendo voltado ou não a tratar, e outro subgrupo com os que nunca interromperam. Estes 2 subgrupos foram comparados procurando-se variáveis que justificassem a não adesão ao tratamento. Considerou-se diferenças significativas entre os 2 subgrupos quando na análise univariada encontrou-se p < 0,05, através do Teste exato de Fisher, numa comparação de variáveis duas a duas. RESULTADOS A amostra foi composta por 36 pacientes com idades variando entre 41 e 86 anos, com média de 66,63 anos e com desvio padrão de 11,87 anos. Dentre esses, 26 pacientes eram do sexo feminino representando 72,2% dos entrevistados, e 10 pacientes eram do sexo masculino representado 27,8% da amostra. Quanto à atividade laborativa dos pacientes, 20 (55%) eram aposentados, 8 (22%) eram do lar, e cada entrevistado restante (2,7%) se ocupava com as seguintes profissões, assistente administrativa, auxiliar de máquina, comerciante, cozinheira, lavadeira, profissional liberal, operador de máquinas e vigilante. Quanto à adesão ao tratamento, observou-se que 11 pessoas (30,6%) sempre usaram os colírios corretamente e que 25 pessoas (69,4%) já haviam deixado de usar o colírio antiglaucomatoso em algum momento desde que foram diagnosticados. Foram analisados fatores como o custo dos medicamentos, o fator esquecimento, dificuldades não financeiras em adquirir o medicamento e os efeitos colaterais com os resultados descritos na tabela 1. 373 Estudo sobre os fatores relacionados a interrupção do tratamento do glaucoma Tabela 1 Fatores de não adesão ao tratamento Fatores Custo dos medicamentos Sim Não Esquecimento Sim Não Dificuldade em adquirir a medicação Sim Não Efeitos colaterais Sim Não Pacientes que aderiram ao tratamento (%) Pacientes que interromperam o tratamento (%) Análise univariada Valor de p 0 11 (100) 15 (60) 10 (40) 0,001 0 11 (100) 8 (32) 17 (68) 0,007 0 11 (100) 3 (12) 22 (88) 0,538 0 11 (100) 2 (8) 23 (92) 1,000 Tabela 2 Dados epidemiológicos Fatores Instrução fundamental Completa Incompleta Sexo Masculino Feminino Renda familiar >1000 reais <1000 reais Pacientes Pacientes Análise que aderiram que interromperam Univariada ao tratamento (%) o tratamento (%) (valor de p) 3 (27) 8 (73) 5 (20) 20 (80) 0,678 4 (36) 7 (64) 6 (24) 19 (76) 0,454 6 (55) 5 (45) 13 (52) 12 (48) 1,000 Dados epidemiológicos como o grau de escolaridade, o sexo, o nível socioeconômico, definido de acordo com a renda familiar(maior que mil e menor que mil reais) também foram avaliados e os resultados podem ser observados na tabela 2. Na tabela 3 observam-se os resultados que arguiram quanto ao conhecimento sobre a patologia em estudo. Variáveis como “autoavaliação”, na qual o próprio paciente graduava seu nível de conhecimento sobre a doença entre Pouco/Nenhum e Médio/Profundo, como também através de perguntas objetivas sobre o glaucoma, como a lesão do nervo óptico, correlação com a PIO e a eventual possibilidade de cura, também foram testadas. Na tabela 4 demonstra-se os resultados a respeito das drogas utilizadas no tratamento do glaucoma. Fo- ram testadas separadamente as seguintes classes de drogas: alfa agonistas, inibidores da anidrase carbônica, prostamidas e betabloqueadores. Também foram variáveis a frequência do uso e a manutenção ou não da mesma medicação. Quando questionados sobre a relação com o oftalmologista, dentre os pacientes com má adesão 14 (56,0%) afirmaram uma ótima relação, 9 (36,0%) como boa e 2 (8,0%) classificaram como média. Já no outro grupo, 7 (63,6%) classificaram como ótima e 4 (36,4%) como boa. De todos os parâmetros analisados, o custo dos medicamentos e fator esquecimento foram estatisticamente relevantes para a interrupção do tratamento da doença, utilizando-se uma análise univariada, pelo teste de Fisher (p<0,05) com nível de significância 95%. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 371-7 374 Buscacio ES, Colombini GNUI Tabela 3 Conhecimento sobre a doença Fatores Pacientes Pacientes que aderiram que interromperam ao tratamento (%) o tratamento (%) Auto avaliação Profundo/Médio Pouco/Nenhum Leva a cegueira Sim Não Relação com aumento da PIO Sim Não Lesão do nervo óptico Sim Não Doença tem cura Sim Não Análise univariada Valor de p 5 (55) 6 (45) 8 (32) 17 (68) 0,475 9 (81) 2 (19) 23 (92) 2 (8) 0,570 9 (81) 2 (19) 25 (100) 0 (0) 0,087 3 (27) 8 (73) 12 (48) 13 (52) 0,295 4 (36) 7 (64) 4 (16) 21 (84) 0,214 Tabela 4 Drogas utilizadas no tratamento Fatores Troca da medicação Sim Não Frequência de uso >= 3x / dia < 3x / dia Uso de alfa agonistas Sim Não / Não sabe Uso de inibidor da anidrase carbônica Sim Não / Não sabe Uso de prostamidas Sim Não / Não sabe Uso de beta antagonistas Sim Não / Não sabe Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 371-7 Pacientes Pacientes que aderiram que interromperam ao tratamento (%) o tratamento (%) Análise univariada Valor de p 7 (64) 4 (36) 15 (60) 10 (40) 1,000 6 (55) 5 (45) 10 (40) 15 (60) 0,483 2 (18) 9 (82) 6 (24) 19 (76) 1,000 4 (36) 7 (64) 6 (24) 19 (76) 0,454 6 (55) 5 (45) 11 (44) 14 (56) 0,721 7 (64) 4 (36) 15 (60) 10 (40) 1,000 375 Estudo sobre os fatores relacionados a interrupção do tratamento do glaucoma APÊNDICE 1 QUESTIONÁRIO BASE Questionário: (1) Dados pessoais: Nome completo: Idade em anos completos: Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Profissão: Endereço (Rua, Av.) Compl Bairro Município Estado Naturalidade Nacionalidade Grau de escolaridade: O Sr (a) já estudou? ( ) Sim ( ) Não Se sim: até que série o sr.(a) completou? Escolha uma das opções abaixo: A: Nunca estudou B: Sabe apenas assinar o nome C: pré-escolar D: Fundamental incompleto D1: 1ª série D2: 2ª série D3: 3ª série D4: 4ª série D5: 5ª série D6: 6ª série D7: 7ª série D8: 8ªsérie E: Fundamental completo F: Médio incompleto F1: 1º ano F2: 2º ano F3: 3º ano G: Médio completo H: Superior incompleto I: Superior completo 2) Qual o seu grau de conhecimento a respeito do glaucoma? ( ) Nenhum ( ) Pouco ( ) Médio ( ) Profundo conhecedor 3)Quais das alterações abaixo podem acontecer no glaucoma? ( ) Coceira ( ) Olho saltado ( ) Olho esbranquiçado ( ) Doença no nervo óptico ( ) Cegueira ( ) Diminuição da visão ( ) Pressão alta no olho ( ) Dor no olho ( ) Lesão do disco óptico ( ) Remela Nº Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 371-7 376 Buscacio ES, Colombini GNUI 4) Qual a importância de realizar o tratamento adequado? ( ) Melhorar a visão ( ) Evitar progressão da doença ( ) Curar ( ) Evitar ficar cego ( ) Evitar outras doenças ( ) Não tem muita importância 5) Atualmente o sr.(a) trabalha e recebe algum pagamento pelo seu trabalho? ( ) Sim ( ) Não 6) Se recebe, quantos reais o sr.(a) ganha por mês? 7) Na sua casa, além do sr.(a) alguém mais trabalha e ajuda nas despesas do mês? ( ) Sim ( ) Não 8) Quantas pessoas? ( ) 9) Quanto é em média a sua renda familiar? ( ) 10) Qual(is) o(s) colírio(s) que o sr.(a) usa atualmente para o tratamento do glaucoma? 11) Com que frequência o sr.(a) pinga o(s) colírio (s)? ( ) 1x ao dia ( ) 2x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) Quando lembra ( ) 1x por semana ( ) 2x por semana ( ) Outro ______________ 12) Em que horário(s) o sr.(a) costuma pingar o(s) colírio(s)? 13) O sr.(a) tem ou já teve algum tipo de efeito colateral com o uso do colírio? S/N 14) O sr.(a) já usou outro tipo de colírio para o tratamento do glaucoma? S/N 15) Caso já tenha usado, porque trocou a medicação? ( ) Efeitos colaterais ( ) Muito caro ( ) Falta de melhora no tratamento ( ) outros 16) O sr.(a ) desde que começou o tratamento já deixou em algum momento de usar a medicação? S/N 17) Caso já tenha deixado, porque interrompeu o uso da medicação? ( ) Efeitos colaterais ( ) Muito caro ( ) Dificuldade de adquirir a medicação ( ) Falta de melhora no tratamento ( ) Outros 18) Como o sr.(a) classificaria a sua relação com o seu médico oftalmologista? ( ) Ótima ( ) Boa ( ) Média ( ) Ruim ( ) Péssima Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 371-7 377 Estudo sobre os fatores relacionados a interrupção do tratamento do glaucoma DISCUSSÃO No presente estudo, investigaram-se as variáveis relacionadas à má adesão dos pacientes ao tratamento do GPAA. O tamanho da amostra ficou limitado ao volume de pacientes atendidos no setor, podendo o tamanho da amostra ter influenciado na significância dos resultados. Mais da metade dos entrevistados (69,4%) assumiu ter alguma falha na adesão desde que descobriram ter a doença, sendo que maioria atribuiu a má adesão ao fato de o colírio ter um alto custo. Este parâmetro foi estatisticamente significante, conforme pode-se observar na tabela 1, estando compatível com pesquisas anteriores(6,7). Sabe-se que existem diversos fatores sociais que podem justificar esse resultado, porém, a falta de distribuição dos colírios nas farmácias públicas somado a um baixo poder aquisitivo da população, podem ser fatores importantes na gênese da descontinuidade da terapia(7). Neste estudo, observou-se também uma renda individual média e a renda familiar média um pouco maior no grupo que sempre aderiu quando comparado ao grupo que tinha falha na adesão. Este resultado não apresentou significância estatística, diferindo de trabalhos anteriores(6,7). Entre os outros pontos também pesquisados destaca-se o fator esquecimento, o qual obteve da significância estatística, sendo causa presente em 32% dos pacientes que não aderiram ao tratamento. Estando de acordo com estudos(8). Tal fato sugere que o médico oftalmologista deve sempre informar o paciente sobre o seu tratamento e a importância de fazê-lo corretamente. Outras variáveis analisadas que se associaram à não adesão ao tratamento como a dificuldade em adquirir a medicação, presentes como causa em 12%, e os efeitos colaterais, presentes em 8%, também já foram descritas anteriormente(8). Ao se avaliar as variáveis relacionadas ao nível instrução dos entrevistados, observou-se que o nível de escolaridade no grupo que tinha descontinuidade no tratamento, era inferior do que no grupo que sempre aderiu, já que o primeiro tinha uma porcentagem maior de pacientes que nunca estudaram e que não tinham completado o ensino fundamental. Em relação ao conhecimento do paciente sobre o glaucoma, notou-se que o grupo que sempre aderiu, tinha um conhecimento ligeiramente menor sobre a doença que o outro grupo, visto que uma menor porcentagem de indivíduos deste grupo sabia do acometimento do nervo e do disco óptico, e uma porcentagem maior deste grupo acreditava ser possível curar e melhorar a acuidade visual com o tratamento. Não foi obtido significância estatística nesses critérios no presente estudo. Estes resultados, por sua vez, divergem de outros publicados anteriormente(9). Ao se avaliar as variáveis relacionadas à droga, a grande maioria dos pacientes dos dois grupos já havia usado outras medicações, sendo o motivo de troca da medicação atribuído principalmente a falha terapêutica . Nenhum fármaco foi associado à não adesão terapêutica. Este resultado não obteve significância estatística, divergindo de resultados anteriores nos quais os pacientes que faziam uso análogos da prostaglandina tinham uma maior adesão ao tratamento(5), não observou-se diferença quanto as drogas. CONCLUSÃO O presente estudo identificou padrões associados a interrupção do tratamento do GPAA, dentre os quais, os únicos com significância, foram o custo dos medicamentos e o fator esquecimento. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Sociedade Brasileira de Glaucoma. 2º Consenso Brasileiro de Glaucoma Primário de Ângulo Aberto. 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Os achados radiológicos variam desde o aumento isolado do tecido adiposo até o espessamento da musculatura extraocular, caracteristicamente poupando os tendões. Em 2004,no entanto, Ben Simon descreveu o espessamento do tendão muscular na oftalmopatia de Graves. Métodos: Foram avaliados 20 pacientes, de ambos os sexos, com idades entre 20 e 80 anos, com formas clínicas designadas como :forma benigna (retração palpebral),forma intermediária (diplopia na posição primária do olhar) e forma maligna ou infiltrativa (sinais de comprometimento do nervo óptico).Todos os pacientes foram submetidos à tomografias computadorizadas de órbita. Os pacientes estavam eutiroideanos, há pelo menos um ano. Os padrões tomográficos foram estudados e divididos em dois grupos: com e sem espessamento dos tendões da musculatura extraocular. Resultados: Uma relação estatisticamente significativa entre espessamento do tendão e a forma clínica intermediária foi encontrada (p <0,012). Conclusão: O espessamento do tendão extraocular, encontrado em 30% dos pacientes com oftalmopatia de Graves, relaciona-se positivamente com a forma intermediária da doença, caracterizada pela presença de diplopia e que constitui um achado de grande valor clínico. Descritores: Oftalmopatia de Graves/diagnóstico; Tomografia computadorizada por raios x; Exoftalmos; Órbita 1 Oftalmologista do Instituto Penido Burnier - Campinas (SP), Brasil. Instituto Penido Burnier - Campinas (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 8/7/2010 - Aceito para publicação em 29/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 378-83 379 Espessamento do tendão muscular na oftalmopatia de Graves ABSTRACT Purpose: The aim is therefore to study the frequency of tendon enlargment in Graves’ ophthalmopathy, seeking to estabilish its clinical correlations. Clinical and laboratory diversity in Graves’ Ophthalmopathy sometimes may mislead its diagnosis. Radiological findings are more reliable for the diagnosis of Graves’ Ophthalmopathy. Since then, a number of patterns have been described. Extraocular muscle involvement in this pathology is considered as always sparing the tendons. In 2004, Ben Simon described extraocular muscles tendon enlargment in some patients with diplopia in Graves’ orbitopathy. Methods: 20 patients, aged between 20 and 80 years, of both sexes, designated as benign (eyelid retraction), intermediate(diplopia in primary sight position) and malignant or infiltrative(signs of optic nerve compromise) forms were evaluated by orbital tomography. All patients had already been euthyroidean for at least one year. Tomographic patterns were studied and divided into two groups: with or without extraocular muscle tendons enlargment. Results: Statistically significant relationship was found between tendon enlargment and intermediate form (p<0.012). Conclusion: Extraocular tendon involvement present in 30% of the patients with Graves’ ophthalmopathy, and is positively correlated to intermediary form of the disease, characterized by diplopia, a very important clinical landmark. Keywords: Graves, ophthalmopathy/diagnosis; Tomography, x-ray computed; Exophthalmos; Orbit INTRODUÇÃO A oftalmopatia de Graves é de longe a etiologia mais frequente de proptoses uni ou bilaterais. Os cientistas têm estudado esta enfermidade desde que foi descrita na Inglaterra por Graves, em 1835, e na Alemanha por Basedow, em 1840(1-2). As provas de função tireoideana, os títulos de anticorpos específicos ou a presença de antígenos de histocompatibilidade não se correlacionam necessariamente com o diagnóstico ou a severidade da enfermidade ocular(3-6). Sabe-se que as manifestações oculares da enfermidade de Graves podem ser classificadas de uma maneira muito simples em: exoftalmo benigno (ou não infiltrativo) e proptose maligna (ou infiltrativa). Existe ainda uma forma intermediária desta enfermidade na qual encontramos infiltração isolada e mais precoce e discreta dos músculos, caracterizada pela presença de estrabismo e diplopia. Esta subdivisão provem de uma simplificação do clássico mneumônico NOSPECS, criado por Werner, assim resumido em seus traços gerais(7,8): Classe 0: “No signs or symptoms” Classe 1: “Only signs,no symptoms” Classe 2: “Soft tissue involvement” Classe 3: “Proptosis” Classe 4: “Extraocular muscle involvement” Classe 5: “Corneal involvement” Classe 6: “Sight loss” Assim, de maneira simplificada, o exoftalmo benigno corresponde às classes 1, 2 e 3, a forma intermediária corresponde à classe 4, e a infiltrativa e a forma maligna ou infiltrativa corresponde às classes 5 e 6(7-9). Durante muito tempo assumiu-se que o espessamento da musculatura ocular sempre poupava os tendões extraoculares. Não obstante, os estudos de Ben Simon e colaboradores observaram o espessamento dos tendões, contestando as opiniões pré-existentes(10,11). Os avanços nas técnicas radiológicas e a atenção dirigida aos achados nestes últimos anos podem ser úteis naqueles casos de diagnóstico difícil, bem como no esclarecimento definitivo da sua etiopatogenia, tanto que Zonneveld et al. classificaram os casos examinados através de tomografia computadorizada em 4 grupos. No primeiro não há aumento do volume dos tecidos gorduroso ou muscular.No segundo evidencia-se apenas o aumento do volume gorduroso(12). No terceiro, o acometimento muscular é isolado e no quarto ambos os tecidos estão afetados. Concluíram que se estes grupos são identificados é provável que envolvam mecanismos etiopatogênicos distintos e que necessitem abordagens terapêuticas diferenciadas.12-20 Muitos autores tem estudado as medidas dos tecidos orbitários nos exames de imagem(18,21,22). Estes dados nos estimularam estudar a frequência do espessamento do tendão muscular em cortes axiais das tomografias computadorizadas de órbita, realizadas em pacientes com oftalmopatia de Graves, buscando estabelecer correlações com as diferentes formas clínicas da doença na oftalmopatia endócrina. MÉTODOS Foi realizada tomografia computadorizada de órbita, com o scanner GE HI_SPEED CT/i de General Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 378-83 380 Abreu EB Electric Systems, em cortes sagitais para analisar 20 pacientes com oftalmopatia de Graves de ambos os sexos, previamente eutiroideanos por pelo menos um ano, com seguimento no Serviço de órbita do Instituto Penido Burnier na cidade de Campinas, São Paulo, Brasil. A apresentação clínica foi estruturada com base na tradicional classificação conhecida como NOSPECS(7-9) : Aqueles pacientes sem sinais ou sintomas (classe 0) não foram estudados. 1. Oftalmopatia benigna (classes de 1, 2 e 3): pacientes com retração palpebral. 2. Oftalmopatia intermediária (classe 4): pacientes com estrabismo e diplopia na posição primária do olhar. 3. Oftalmopatia infiltrativa (maligna) (classes 5 e 6): pacientes com exposição corneana ou sinais de neuropatia óptica. Todos os pacientes foram examinados por um único médico oftalmologista. O espessamento do tendão muscular foi procurado nos retos mediais e laterais, melhor visualizados em cortes sagitais (axiais). As medidas dos ventres musculares foram consideradas aumentadas se ultrapassassem os valores normais encontrados em estudo realizado por Zonneveld et al., após tomografia computadorizada em 40 órbitas, conforme descritos a seguir(12): Músculo reto mediano - 4.1 ±0.5 mm de espessura no ponto médio da órbita; Músculo reto lateral - 2.9 ±0.6 mm de espessura no ponto médio da órbita; Nervo óptico - 4.2 ±0.6 mm de espessura no ponto médio da órbita. As medidas dos tendões no equador do globo foram consideradas normais se correspondiam a, no máximo, metade da medida dos ventres musculares(18). Por último foram calculadas as relações entre a medida do tendão e do ventre muscular, objeto deste estudo. Os achados tomográficos foram classificados em dois grupos, de acordo com a observação em cortes axiais: 1. Com espessamento do tendão muscular: Quando a relação entre a medida do tendão (no equador do globo) e do ventre muscular (no ponto médio da órbita) foi igual ou superior a 0,5(10). (Figuras 1 e 2). Tabela 1 Relação dos pacientes estudados através de tomografia computadorizada em busca do espessamento dos tendões Nome Nº da ficha Idade Sexo Forma clínica B GR MAS OSP NC IAN EF LCVC DF JO AOAP IMFT MMC RSV LAS MRZL DB CB AGL JRRR MJM 1107082 905316 967075 1054642 1026260 1103446 931684 1025221 983283 1118859 1064519 1101022 1098380 1110460 763239 1080046 983482 1112775 1122784 1068622 22 55 58 58 36 33 55 40 29 74 48 45 46 27 38 43 51 56 55 67 F F F F F M M F F F F F F F M M M F M F I Espessamento dos tendões M Sem espessamento X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X B – benigno; I – intermediária; M - infiltrativa; 6 casos de espessamento são do reto mediano Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 378-83 Com espessamento X Espessamento do tendão muscular na oftalmopatia de Graves 2. Sem espessamento do tendão muscular: quando a relação entre a medida do tendão no equador do globo ocular e do ventre muscular no ponto médio da órbita foi menor que 0,5. Neste grupo foram incluídos os casos em que foi observado apenas o espessamento do ventre muscular (posterior) ou dos tecidos conectivoadiposo. As medidas foram feitas por um único aparelho de tomografia, e por um único médico radiologista, com interesse especial em patologias orbitárias e que desconhecia os achados clínicos de cada paciente. 381 Figura 1 - Aspecto muscular em uma órbita normal. Notar a medida do ventre e do tendão muscular em relação ao nervo óptico RESULTADOS Dos 20 pacientes estudados, 14 eram do sexo feminino e 6 do sexo masculino; 6 apresentavam a forma clínica benigna, 10 a intermediária e 4 a forma maligna da oftalmopatia de Graves. Os resultados foram analisados de acordo com teste do Qui-Quadrado (Exato de Fischer) na análise de associação e o teste de Kappa na avaliação de concordância. Encontramos uma associação estatisticamente significativa entre espessamento sagital dos tendões e a forma clínica intermediária (p<0,012). Como encontramos uma significância estatística, sendo esta a variável mais importante neste estudo, pode-se concluir que tamanho da amostra, neste caso, está adequado. No grupo sem espessamento dos tendões não havia forma clínica predominante (4,29% apresentavam a forma benigna, 26% a intermediária e 28.6% apresentavam oftalmopatia infiltrativa). No grupo com espessamento do tendão, todos os pacientes apresentavam oftalmopatia intermediária e em todos o músculo espessado foi o reto mediano. Nenhum deles apresentou espessamento do reto lateral. Quatro pacientes com forma intermediária não apresentaram espessamento do tendão em suas tomografias (Tabela 1). DISCUSSÃO Como mencionamos antes, não existem provas sorológicas que permitam confirmar o diagnóstico de oftalmopatia endócrina(13,23). A ecografia ocular pode ser fácil e rapidamente realizada, e por este, motivo não podemos desvalorizar sua indicação(24). Com a ressonância nuclear magnética, ainda não acessível a todos os pacientes em nosso meio, podería- Figura 2: Medidas do tendão no equador do globo e do ventre muscular no ponto médio da órbita; Nota-se que quando a relação entre as medidas do tendão e do ventre muscular é menor que 0,5 o padrão é fusiforme mos estudar inclusive o conteúdo líquido dos tecidos, que reflete edema, e deste modo, a atividade inflamatória da enfermidade orbitária(25). A facilidade de realização do exame por um mesmo serviço de radiologia da nossa comunidade nos levou a optar pela tomografia computadorizada. A despeito das possibilidades existentes à ressonância magnética já mencionadas, a tomografia é muito eficiente na avaliação dos tecidos orbitários porque mostra a diferença de contraste entre diversas estruturas: gordura, músculos, fluídos intraoculares, seios paranasais e ossos, e,portanto, bastante eficaz, tendo em vista o objetivo deste trabalho(15). A forma benigna aparece na etapa de Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 378-83 382 Abreu EB Figura 3: Medidas do tendão no equador do globo e do ventre muscular no ponto médio da órbita; Notar o aspecto cilíndrico do reto mediano Figura 4: Aspecto do espessamento muscular mais posterior, levando à compressão do nervo óptico no ápice da órbita, especialmente pelo reto mediano hipertireoidismo e é causada por um estado de hipertônus simpático, que estimula o músculo de Müller e os retratores da pálpebra inferior, causando exposição corneana e “scleral show” com pseudoproptose. Alguns casos não regridem espontaneamente quando os níveis de hormônios tiroideanos retornam à normalidade, por fibrose destes músculos. Os achados radiológicos neste estudo limitaram-se ao aumento dos tecidos conectivoadiposo, sem espessamento muscular evidente. Este fato apóia as hipóteses sugeridas por Char (1990) de que o comprometimento orbitário se manifesta afetando o tecido conectivo-adiposo ou o muscular de diferentes maneiras. É provável que os pacientes com hipertrofia de tecido gorduroso não manifestem sinais de inflamação da musculatura extraocular. No presente estudo, o espessamento muscular sem comprometer os tendões foi observado em apenas um caso, levando-nos a aceitar o que fora anteriormente mencionado pelos autores (9,18,25,26) (Figura 1) . A forma intermediária deve ser considerada em pacientes que apresentam estrabismo com diplopia na posição primária do olhar, especialmente se o paciente afetado for homem ou mulher após a menopausa. O desequilíbrio muscular é tipicamente intermitente e geralmente vertical, de predomínio matutino pelo edema orbitário máximo neste período do dia. No presente estudo, 7 mulheres e 3 homens apresentaram esta forma clínica.Todos estavam entre a terceira e quarta décadas de vida. Neste estudo três pacientes que apresentavam a forma intermediária da oftalmopatia de Graves, apresentavam espessamento muscular posterior discreto sem espessamento do tendão. O achado mais frequente neste grupo foi o espessamento muscular anterior, afetando os tendões, apoiando a hipótese formulada por Ben Simon. Neste estudo há uma correlação estatisticamente significativa entre este achado e a forma clínica intermediária (p<0,012)(6,11). O espessamento muscular quando a relação entre as medidas do tendão e do ventre muscular foi maior ou igual a 0,5 foi discreto e o aspecto lembra mais um padrão cilíndrico do que o espessamento fusiforme observado nos casos mais graves da doença(27). Em cortes axiais os músculos mais facilmente estudados são os retos horizontais. No entanto, sabe-se que o estrabismo na oftalmopatia de Graves é predominantemente vertical e que o músculo mais usualmente afetado é o reto inferior, seguido pelos retos medial, superior e lateral respectivamente. O interessante é notarmos que apesar de 8 pacientes nesta série apresentarem estrabismo e diplopia caracteristicamente verticais, observou-se espessamento do tendão do reto mediano nos cortes axiais. É provável que a observação adequada do tendão do reto inferior demonstrasse também o seu espessamento, talvez em cortes sagitais. Outros estudos poderiam comprovar esta hipótese(25) . O espessamento muscular (quando a relação entre as medidas do tendão e do ventre muscular foi maior ou igual a 0,5) foi discreto e o aspecto lembra mais um padrão cilíndrico do que o espessamento fusiforme observado nos casos mais graves da doença(27) (Figuras 2 e 3). Vários estudos sugerem que a severidade da proptose se relaciona com o aumento do tecido adiposo, mais do que com o espessamento muscular, diferindo do que encontramos neste estudo. Pelo contrário, acreditamos que a expansão dos ventres musculares, posteriormente poderia facilitar a ectasia venosa no ápice da órbita, perpetuando um ciclo vicioso de proptose e congestão, levando inexoravelmente ao glaucoma póstrabecular, a neuropatia óptica por compressão e finalmente à perda da visão (26,28) (Figura 4). Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 378-83 383 Espessamento do tendão muscular na oftalmopatia de Graves Barret et al. descreveram um método bastante reprodutível para correlacionar o grau de espessamento da musculatura extrínseca e a possibilidade de se desenvolver neuropatia óptica. Segundo os autores a porcentagem do volume orbitário ocupado pelos músculos retos horizontais e verticais no ponto médio da órbita maior ou igual a 67% é dado praticamente diagnóstico para neuropatia óptica nesta patologia(24). Assim como o índice de Barret se mostra bastante expressivo nos casos de neuropatia na oftalmopatia de Graves, o achado de espessamento dos tendões parece ser fortemente indicativo de estrabismo nesta patologia(24). CONCLUSÃO O achado tomográfico de espessamento dos tendões está presente em 30% dos pacientes com diagnóstico clínico de oftalmopatia de Graves, relaciona-se positivamente com a forma intermediária da doença, caracterizada pela presença de diplopia, e que constitui um achado de grande valor clínico. REFERÊNCIAS 1. Graves RJ. A newly observed affection of the thyroid gland in females. London Med Surg J. 1835;7(173):516-7. 2. Frecker M, Stenszky V, Balazs C, Kozma L, Kraszits E, Farid NR. Genetic factors in Graves’ ophthalmopathy. Clin Endocrinol (Oxford). 1986;25(5):479-85. 3. Naffziger HC, Jones OW Jr. The surgical treatment of progressive exophthalmos following thyroidectomy. JAMA. 1932;99(8):638-42. 4. Kriss JP, Pleshakov V, Rosenblum AL, Holderness M, Sharp G, Utiger R. 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Endereço para Correspondência: Elvira Barbosa Abreu Instituto Penido Burnier Rua Dr. Mascarenhas, nº 249 CEP 13013-175 – Campinas (SP), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 378-83 ARTIGO ORIGINAL 384 Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil Epidemiological profile of patients waiting for penetrating keratoplasty in state of Pará, Brazil Edmundo Frota de Almeida Sobrinho1, Bianca Caluf Negrão2, Hirlana Gomes Almeida2 RESUMO Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil. Métodos: Estudo transversal e retrospectivo, com 1261 pacientes, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2009, cadastrados na fila de espera para transplante de córnea na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) do Pará. Os dados foram coletados por meio de protocolos baseados nas fichas de cadastro de receptor de córnea na CNCDO, adaptados aos objetivos desta pesquisa. Resultados: Em relação à frequência, obteve-se 51% do sexo masculino; 33,9% na faixa etária de 61 a 80 anos; 18,6% inscritos na CNCDO em 2009; 61% com olho direito acometido; 56% permaneceram ativos na fila; 51,7% que aguardaram 1 a 3 anos o transplante e; 85 transplantes realizados em 2009. As principais indicações para transplante de córnea foram ceratopatia bolhosa (28,2%), leucoma (22%) e úlcera corneana (14,8%). Conclusão: Verificou-se que não houve diferença entre a frequência dos sexos sendo que a maioria encontrava-se na faixa etária de 61 a 80 anos; inscrita na CNCDO no ano de 2009 (ano em que foi realizado o maior número de transplantes); com o olho direito acometido, permaneceram ativos na fila de espera. Entre os pacientes transplantados, atestou-se que o tempo em fila de espera para transplante de córnea foi longo e inadequado. Ademais, as principais indicações para transplante de córnea no estado do Pará foram ceratopatia bolhosa, leucoma e úlcera corneana. Descritores: Transplante de córnea; Ceratoplastia penetrante; Doenças da córnea/diagnóstico; Brasil 1 2 Professor adjunto da Disciplina Oftalmologia da Universidade do Estado do Pará – (UEPA) – Belém (PA), Brasil; Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará – (UEPA) – Belém (PA), Brasil. Trabalho realizado na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Pará – Belém (PA) – Brasil Trabalho recebe auxílio financeiro do Programa Institucional De Bolsas De Iniciação Científica - PIBIC/ CNPq - UEPA Os autores declaram inexistir conflitos de interesse. Recebido para publicação em: 2/12/2010 - Aceito para publicação em 1/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 384-90 Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil 385 ABSTRACT Purpose: To describe the epidemiological profile of patients waiting for penetrating keratoplasty in state of Pará, Brazil. Methods: Transversal and retrospective study, with 1261 patients, in the period of january 2001 until to december 2009, were registered on the waiting list for corneal transplantation in the Central Notification, Captation and Distribution of Organs (CNCDO) of Pará. Registration forms of cornea receiving were used, adapted to the purposes of this research. Results: In relation to frequency, it was obtained 51% male; 33.9% aged 61 to 80 years; 18.6% enrolled in CNPDO in 2009; 61% with the right eye affected; 56% remained active in the list; 51.7% that waited 1 to 3 years the transplant and; 85 transplants performed in 2009. The main indications for corneal transplantation were bullous keratopathy (28.2%), scarring (22%) and corneal ulcer (14.8%). Conclusion: There was no difference between the frequency of the sexes, the majority were aged 61 to 80 years, entered into the CNPDO in the year 2009 (the year it was held the largest number of transplants), with the right eye was affected, and who remained active in the waiting list. Among the transplanted patients, it was certified that the time in the waiting list for corneal transplantation was long and inappropriate. Furthermore, the main indications for corneal transplantation in state of Pará were bullous keratopathy, scarring and corneal ulcer. Keywords: Corneal transplantation; Keratoplasty penetrating; Corneal diseases/diagnosis; Brazil INTRODUÇÃO As doenças da córnea são causas importantes de cegueira reversível no mundo, atingindo uma população jovem e ativa, o que leva a uma importante perda econômica e social(1). A falta de tecidos e de Bancos de Olhos capacitados para fornecer córneas em número e qualidade adequados para transplantes é uma realidade, apesar dos esforços realizados(1). Sabe-se que a Espanha é reconhecida como a maior referência mundial no que diz respeito à captação de órgãos, devido à Organização Nacional de Transplante Espanhola que, prevê a existência em todos os hospitais de uma Comissão Intrahospitalar de Transplantes(2). O Brasil possui hoje um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. Com 548 estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes médicas autorizadas a realizar transplantes, o Sistema Nacional de Transplantes está presente em 25 estados do país, por meio das Centrais Estaduais de Transplantes(3). Dados estatísticos mostram que no estado do Pará, até o primeiro semestre de 2009, existiam mais de 900 pacientes aguardando o transplante de córnea, sendo que destes, somente 62 foram realizados(4). As indicações da ceratoplastia penetrante no Brasil variam em diferentes regiões, sendo o ceratocone a principal indicação na maioria das cidades brasileiras(5-9). Portanto, considerando que não foram encontrados na literatura científica valores estatísticos que apresentem as principais indicações das ceratoplastias realizadas no estado do Pará, e a grande relevância de se obter dados estatísticos da região Norte, em específico deste estado, o presente estudo objetiva descrever o perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil. MÉTODOS Todos os prontuários dos pacientes da presente pesquisa foram analisados segundo os preceitos da Declaração de Helsinque e do Código de Nuremberg, respeitando as normas de pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas Gaspar Viana e autorizado pelo Coordenador da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) do Pará. O estudo realizado foi transversal e retrospectivo. Foram incluídos na pesquisa os pacientes cadastrados na fila de espera para transplante de córnea na CNCDO do Pará, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2009. Foram excluídos da pesquisa os pacientes que apresentaram dados incompletos na ficha de cadastramento, assim como aqueles que possuíam diagnósticos não condizentes com as reais indicações para transplante, segundo a Portaria nº 2.600(10). Os dados foram coletados por meio de protocolos baseados nas fichas de cadastro de receptor de córnea na CNCDO, no formato virtual da mesma, adaptados aos objetivos desta pesquisa. A coleta dos dados foi realizada no período de janeiro a maio de 2010, com o objetivo de identificar as indicações para transplante de córnea no estado do Pará. Participaram da pesquisa 1271 pacientes enqua- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 384-90 386 Sobrinho EFA, Negrão BC, AlmeidaHG drados nos critérios referidos anteriormente, sendo 10 excluídos, totalizando uma casuística de 1261 olhos. Dentre as variáveis, estavam: sexo, data de nascimento, diagnóstico ocular, data de inclusão na CNCDO, situação na lista de espera e data do transplante. De acordo com a Portaria nº 2.600(10), a situação específica de potencial receptor de córnea quanto à manutenção no Cadastro Técnico Único pode ser: ativo, semiativo e removido. Entretanto, neste estudo, foram consideradas as seguintes variáveis quanto à situação na fila de espera: ativo, removido, desistente e transplantado, visto que é fundamental conhecer o número de transplantes realizados, bem como aqueles que optaram por não realizá-lo. Os dados obtidos foram tratados por métodos da estatística descritiva e comparativa. Para a construção de gráficos e tabelas foram usados os softwares Microsoft Excel® 2007, adotando-se como índice de rejeição da hipótese de nulidade p < 0,05, sendo aplicados os Testes Qui-quadrado e Kruskal-Wallis, conforme a indicação, por meio do programa BioEstat 5.0®. Tabela 1 Diagnóstico dos pacientes Diagnóstico Quantidade % Ceratopatia bolhosa Leucoma Úlcera corneana Rejeição ao transplante/ falência de enxerto Opacidade corneana Ceratocone Distrofia de fuchs Descementocele Outros* 356 277 186 28,2 22 14,8 169 95 84 43 30 21 13,4 7,5 6,7 3,4 2,4 1,6 Total 1261 100 *Ceratite, queimadura química, córnea gutatta, dermóide epibulbar, degeneração corneana macular e estafiloma; (p) Quiquadrado < 0,0001 Tabela 2 RESULTADOS Situação na fila de espera Foram pesquisados 1261 pacientes cadastrados na CNCDO do estado do Pará no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2009, destes 51% eram do sexo feminino; 33,9% situavam-se na faixa etária de 61 a 80 anos; 18,6% foram inscritos na CNCDO em 2009; 61% apresentavam o olho direito acometido, e 85 transplantes foram realizados em 2009. Quanto aos diagnósticos dos pacientes, houve prevalência de ceratopatia bolhosa (28,2%), leucoma (22%) e úlcera (14,8%) (Tabela 1). Ademais, a análise da situação na fila de espera destes pacientes revelou que 56,2% permaneceram ativos; 22,9% foram removidos, 19,6% transplantados e 1,3% desistiram de realizar o transplante nesse período (Tabela 2). Com relação ao tempo de espera destes pacientes, 495 (51,7%) aguardavam de 1 a 3 anos na fila pelo enxerto (Tabela 3). Contudo, se cruzada tal variável com a faixa etária, percebe-se que nas faixas etárias mais jovens (1 a 20 e 21 a 40 anos) 49,1% permanecem na fila por até 29 dias (Tabela 4). Quando comparados o diagnóstico com a faixa etária, a ceratopatia bolhosa se evidenciou em 50,3% dos pacientes na faixa etária de 61 a 80 e 80 anos ou mais (Tabela 5). Por sua vez, a relação do diagnóstico versus situação na fila de espera evidenciou que 221 (31,2%) porta- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 384-90 Situação na fila De espera Quantidade % Ativo Removido Transplantado Desistente 709 289 247 16 56,2 22,9 19,6 1,3 Total 1261 100 (p) Qui-quadrado < 0,0001 Tabela 3 Tempo de espera na fila Tempo de espera Quantidade % Até 29 dias 1 a 6 meses 7 a 11 meses 1 a 3 anos 4 a 6 anos 7 a 9 anos 104 137 92 495 111 18 10,9 14,3 9,6 51,7 11,6 1,9 Total 957 100 (p) Qui-quadrado < 0,0001 387 Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil Tabela 4 Faixa etária versus Tempo de espera na fila Faixa etária Até 29 dias N % 1 a 6 meses N % Tempo de espera 7 a 11 meses 1 a 3 anos N % N % 4 a 6 anos N % 7 a 9 anos N % 1 a 20 anos 21 a 40 anos 41 a 60 anos 61 a 80 anos 80 ou mais 19 32 21 28 4 18,3 30,8 20,2 26,9 3,8 12 30 27 55 13 8,8 21,9 19,7 40,1 9,5 12 21 14 36 9 13,1 22,8 15,2 39,1 9,8 37 103 94 183 78 7,5 20,7 19 37 15,8 6 29 29 35 12 5,4 26,1 26,1 31,6 10,8 4 5 2 5 2 22,2 27,8 11,1 27,8 11,1 Total 104 100 137 100 92 100 495 100 111 100 18 100 (p) Kruskal-Wallis = 0.0016 Tabela 5 Diagnóstico versus Faixa etária dos pacientes Diagnóstico Faixa etária (anos) 1 a 20 21 a 40 41 a 60 61 a 80 80 ou mais N % N % N % N % N % Ceratopatia bolhosa Leucoma Úlcera corneana Rejeição ao transplante/ falência de enxerto Opacidade corneana Ceratocone Distrofia de fuchs Descementocele Outros 9 40 27 8 16 15 1 4 2 7,4 32,8 22,1 6,6 13,1 12,3 0,8 3,3 1,6 9 79 53 45 25 58 3 7 6 3,2 27,7 18,6 15,8 8,8 20,4 1,1 2,5 2,1 33 81 46 33 23 9 12 7 4 13,3 32,7 18,5 13,3 9,3 3,6 4,8 2,8 1,7 209 55 49 51 26 1 20 10 7 48,8 12,9 11,4 11,9 6,1 0,2 4,7 2,3 1,7 96 22 11 32 5 1 7 2 2 53,9 12,4 6,2 18,0 2,8 0,6 3,9 1,1 1,1 Total 122 100 285 100 248 100 428 100 178 100 (p) Kruskal-Wallis = 0.2807 Tabela 6 Diagnóstico versus Situação na fila de espera Diagnóstico Situação na fila de espera Ativo % Desistência % Removido % Transplantado % Ceratopatia bolhosa Leucoma Úlcera corneana Rejeição ao transplante/ falência de enxerto Opacidade corneana Ceratocone Distrofia de fuchs Descemetocele Outros 221 159 66 75 71 57 33 12 15 31,2 22,4 9,3 10,6 10 8 4,7 1,7 2,1 6 4 3 2 0 1 0 0 0 37,6 25 18,8 12,4 0 6,2 0 0 0 87 94 34 36 13 15 3 4 3 30,1 32,5 11,8 12,5 4,5 5,2 1 1,4 1 42 20 83 56 11 11 7 14 3 17 8,1 33,6 22,7 4,5 4,5 2,8 5,6 1,2 Total 709 100 16 100 289 100 247 100 (p) Kruskal-Wallis = 0.002 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 384-90 388 Sobrinho EFA, Negrão BC, AlmeidaHG dores de ceratopatia bolhosa encontravam-se ativos na fila, enquanto que dentre os transplantados 33,6% apresentavam úlcera corneana (Tabela 6). DISCUSSÃO O transplante de córnea é o procedimento de maior sucesso entre os transplantes teciduais em humanos e, tem sido o mais realizado na atualidade, tendo como objetivo a restauração da transparência corneana(11). Na atual pesquisa, evidenciou-se que a principal indicação de transplante de córnea no estado do Pará foi a ceratopatia bolhosa (28,2%, 326 olhos), seguida pelo leucoma (22%, 277 olhos); situando-se e em terceiro lugar a úlcera corneana (14,8%, 186 olhos) e a falência primária do enxerto ou rejeição ao transplante (13,4%, 169 olhos) (Tabela 1). A ceratopatia bolhosa, caracterizada pelo edema corneano estromal, acompanhado de bolhas epiteliais e subepiteliais devido à perda de células e/ou disfunção da função endotelial(12), foi a mais frequente patologia observada como indicação para o transplante, corroborando os estudos realizados em Tokyo por Inoue et al.(13) e em Sergipe por Araújo et al.(14). Acredita-se que tal prevalência deva-se ao início recente da técnica de facoemulsificação no estado do Pará, ocasionando uma curva de aprendizado que gera um maior número de complicações no pós-operatório, dentre estas a ceratopatia bolhosa. Este achado diverge de inúmeros estudos realizados no restante do Brasil, na América Latina e na Europa, nos quais o ceratocone desponta como primeira indicação de transplante de córnea(5-9). Contudo, nesta pesquisa, o ceratocone ocupou o sexto lugar (Tabela 1), devido provavelmente ao não diagnóstico correto desta patologia e acompanhamento necessário, bem como a utilização de anéis intraestromais que retardam a necessidade de transplante(12). Segundo Araújo et al.(14) e Calix Netto et al.(9), muitos pacientes encaminhados para transplante não apresentam indicação para o mesmo, fato também verificado nesta pesquisa, ao constatar que 1,3% (considerando os excluídos do estudo) não apresentavam diagnósticos condizentes. Logo, é necessária maior atenção dos profissionais durante a indicação do transplante e preenchimento dos prontuários. De acordo com a Portaria nº 2600(10), a situação específica de potencial receptor de córnea quanto à manutenção no Cadastro Técnico Único pode ser: ativo Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 384-90 (apto e disponível para transplantar), semiativo (com exames pré-transplante incompletos, suspenso pela equipe ou sem condições clínicas) e removido (abandono de tratamento, recusa do transplante, recusas sistemáticas, semiatividade prolongada, removido pela equipe, removido por ausência de condições clínicas, transferido para outro estado, transplantado fora do estado e transplantado com córnea proveniente do exterior). Entende-se removido por semiatividade prolongada: potenciais receptores inscritos para transplante de córnea, que permaneceram 120 dias cumulativos no status semiativo. Ademais, o removido por recusas sistemáticas é o potencial receptor inscrito que, acumulou cinco recusas por parte da equipe à oferta de tecidos pela CNCDO, de doadores diferentes e em datas distintas(10). Nesta pesquisa, houve uma prevalência importante de pacientes ativos (Tabela 2), o que demonstra a disparidade entre o número de doadores de córnea e a quantidade de potenciais receptores na lista de espera. Um tempo de espera prolongado em uma fila para transplante exerce impacto negativo sobre o bem-estar biopsicossocial, as probabilidades de cura, a natureza e extensão das sequelas nos pacientes, nos familiares e na sociedade(15). Assim, evidenciou-se neste estudo que 51,7% dos pacientes aguarda de 1 a 3 anos para realizar o transplante de córnea, enquanto que apenas 25,2% tem o problema resolvido em menos de um semestre (Tabela 3). A partir desses dados, pode-se observar que no Estado do Pará, os pacientes permanecem por um longo tempo aguardando o transplante. Essa realidade diverge de outros estudos, que evidenciaram uma tendência a homogeneização do tempo de espera em torno de 134 dias(14,16). Ao analisar o tempo de espera na fila versus a faixa etária, os pacientes que menos esperam situam-se na faixa etária de 21 a 40 anos e, os que mais esperam são aqueles entre 61 a 80 anos, juntamente com os de 21 a 40 anos (Tabela 4). Tal dado foi estatisticamente significante. Tal resultado é explicado pela situação de urgência que as patologias que acometem jovens (úlcera, descemetocele e o retransplante) exigem, conferindo prioridade em relação aos demais. Em contrapartida, doenças que acometem idosos são de curso mais arrastado (ceratopatia bolhosa e opacidade corneana), resultando em um maior tempo na fila de espera por um enxerto(12). O crescimento do número de transplantes de córnea realizado no Pará apresenta inúmeras limitações, o que consequentemente, prolonga o tempo de espera, Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil sendo o sistema doação-captação, provavelmente, um dos fatores mais relevantes(16). Neste estudo, 50,3% dos pacientes com mais de 60 anos apresentavam ceratopatia bolhosa, e dentre os que se enquadravam na faixa etária mais jovem, a prevalência foi de leucoma (29,2%), úlcera corneana (19,6%) e ceratocone (17,9%) (Tabela 5), concordando com Araújo et al.(14). Historicamente, sabe-se que a catarata é mais frequente em pacientes com idade superior a 60 anos, sendo realizada para sua correção uma cirurgia que apresenta como principal complicação a ceratopatia bolhosa. Tal fato explica a prevalência deste diagnóstico na faixa etária de 61 a 80 anos e mais de 80 anos(12,14). Quanto aqueles que apresentavam como indicação o ceratocone, os resultados obtidos concordam com os encontrados por Araujo et al.(17), refletindo o fato desta ser uma patologia que acomete classicamente jovens, com média de idade de 27,4 anos. No Brasil(18), a fila de transplantes no SUS para cada órgão ou tecido é única, e o atendimento é por ordem de chegada, considerando critérios técnicos, de urgência e geográficos. Segundo Marinho(15), as filas são um resultado do descompasso entre a demanda e a oferta, sendo que a demora no atendimento causa empecilhos na terapêutica. De acordo com o Department of Health and Human Services do Health Resources and Services Administration (instituição oficial para administração dos transplantes nos Estados Unidos), 70 pessoas são submetidas a transplantes de órgãos por dia nos Estados Unidos. Em contrapartida, 16 pacientes morrem diariamente na fila de espera, evidenciando que uma parcela significativa dos pacientes candidatos a transplantes morre antes do procedimento ser realizado(15). Já em relação ao Brasil, é importante salientar que ainda não existem dados oficiais disponíveis sobre prazos de espera e mortalidade em filas de transplante(15). Assim, os períodos de espera são longos e bastante sensíveis às variações na demanda e na oferta de órgãos. Entretanto, existem possibilidades significativas de redução dos prazos nas filas, desde que sejam desenvolvidas políticas internas e externas capazes de incentivar a doação(19). A análise do diagnóstico versus a situação na fila de espera revelou significativamente que a maioria dos pacientes ainda ativos, era portadora de ceratopatia bolhosa, enquanto que a maior parte dos que foram transplantados apresentou úlcera corneana e falência do enxerto ou retransplante (Tabela 6). Tal resultado é explicado pela situação de urgên- 389 cia que a presença de uma úlcera e de um retransplante exige. Portanto, pacientes portadores destas patologias têm prioridade em relação aos demais. Em contrapartida, a ceratopatia bolhosa, por ser uma doença de curso arrastado, resulta em um maior número de ativos na fila de espera por um enxerto(12). Em função da grande demanda observada na fila de espera da CNCDO do estado do Pará, sugere-se a capacitação dos profissionais da área da saúde e a realização de campanhas educativas, chamando a atenção para a doação de órgãos. CONCLUSÃO Verificou-se que entre os receptores de córnea cadastrados na CNCDO do Pará, não houve diferença entre a frequência dos sexos e, que a maioria encontrava-se na faixa etária de 61 a 80 anos; foi inscrita na CNCDO no ano de 2009 (ano em que foi realizado o maior número de transplantes); com o olho direito acometido pela patologia ocular e, que permaneceram ativos na fila de espera. Entre os pacientes transplantados, atestou-se que o tempo em fila de espera para transplante de córnea foi longo e inadequado. Ademais, as principais indicações para transplante de córnea no estado do Pará foram ceratopatia bolhosa, leucoma e úlcera corneana. Agradecimentos As autoras agradecem ao prof. dr. Edmundo Frota de Almeida Sobrinho, professor adjunto da disciplina de Oftalmologia da Universidade do Estado do Pará, por ter disponibilizado seu tempo e conhecimento, sem poupar esforços para a realização deste trabalho e aos funcionários da CNCDO do Pará, que contribuíram com a coleta de dados da pesquisa. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Adán CBD, Diniz AR, Sato EH. Dez anos de doação de córneas no Banco de Olhos do Hospital São Paulo: perfil dos doadores de 1996 a 2005. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(2):176-81. Matesanz R, Miranda B. A decade of continuous improvement in cadaveric organ donation: the Spanish model. J Nephrol, 2002;15(1):22-8. Brasil. Ministério da Saúde. 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Síntese 21, sala 08 e 10 CEP 66063-060 – Belém (PA), Brasil Tel: (91) 3229-3920 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 391 Perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no hospital regional de São José Epidemiological profile of congenital ptosis pacients in the hospital regional de São José Astor Grumann Júnior1, Felipe Roberto Exterhotter Branco2 RESUMO Objetivo: Traçar um perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no Hospital Regional de São José (HRSJ), descrevendo as características gerais das ptoses congênitas, incluindo a coexistência de estrabismo e a prevalência de ambliopia. Métodos: Foi realizado um estudo epidemiológico com delineamento transversal, baseado na análise dos prontuários de pacientes com ptose congênita atendidos no Departamento de Plástica Ocular e Órbita do HRSJ, no período de julho de 1998 a julho de 2008. Resultados: Foram analisados 42 pacientes (56 olhos). A idade média foi de 7,2 anos e o gênero mais prevalente foi o masculino (66,7%). Foi encontrado unilateralidade da ptose em 66,7% dos casos, associação com estrabismo em 19% e fenômeno de Marcus Gunn em 9,5%. Ambliopia foi encontrada em 17% dos olhos afetados. Na classificação, 38,5% dos olhos tinham ptose severa e 63% tinham excursão do elevador fraca ou ausente. A conduta foi cirúrgica para 57,2% dos casos e a técnica mais prevalente foi elevação ao Frontal (75%). Conclusão: No presente estudo, a prevalência de ambliopia nos pacientes com ptose congênita foi maior que da população geral, reforçando a importância de uma avaliação oftalmológica precoce destes pacientes. Descritores: Doenças palpebrais; Blefaroptose/congênito; Prevalência; Ambliopia ABSTRACT Purpose: To draw an epidemiological profile of congenital ptosis patients in the Hospital Regional de São José (HRSJ), describing the general characteristics of congenital ptosis, including the coexistence of strabismus and the prevalence of amblyopia. Methods: An epidemiological study with a cross-sectional characteristic was conducted, based on analysis of medical records of congenital ptosis cases treated on the Department of Ocular Plastic and Orbit of the HRSJ, from July 1998 to July 2008. Results: A total of 42 patients (56 eyes) were analyzed. The mean age was 7,2 years and the most prevalent genre was male (66,7%). Unilateral ptosis was found in 66,7% of cases, association with strabismus in 19% and Marcus Gunn phenomenon in 9,5%. Amblyopia was found in 17% of the affected eyes. About the classification, 38,5% of eyes had severe ptosis and 63% had poor or absent levator excursion. The management for 57,2% of cases was surgery and the most prevalent technique was Frontal elevation (75%). Conclusion: In this study, the prevalence of amblyopia in congenital ptosis patients was higher than in the general population, showing the importance of an early ophthalmologic evaluation of these patients. Keywords: Eyelid diseases; Blepharoptosis/congenital; Prevalence; Amblyopia 1 Doutor em Oftalmologia, Médico Assistente do Hospital Regional São José - (HRSJ) - São José (SC), Brasil. Professor de Oftalmologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – (UNISUL) – Unidade Pedra Branca, (SC), Brasil; 2 Médico oftalmologista - São José (SC), Brasil. Trabalho realizado no Departamento de Plástica Ocular e Órbita do Hospital Regional de São José - HRSJ – São José (SC), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 27/8/2010 - Aceito para publicação em 30/11/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 391-5 392 Grumann Júnior A, BrancoFRE INTRODUÇÃO A pálpebra superior tem papel fundamental na proteção e lubrificação da superfície ocular. Sua elevação é dada principalmente pelo músculo elevador da pálpebra superior (MEPS), inervado pelo terceiro par craniano. Atuam como coadjuvantes nessa função o músculo de Müller e o músculo frontal(1,2). Ptose ou blefaroptose é o resultado da disfunção isolada ou conjunta dos músculos que atuam na elevação da pálpebra, resultando na queda da margem palpebral para uma posição mais baixa que o normal, na posição primária do olhar(1-3). Existem diversas classificações para ptoses, sendo que a divisão em congênitas ou adquiridas é a mais utilizada(3,4). A ptose congênita apresenta-se ao nascimento ou dentro do primeiro ano de vida, pode ser unilateral ou bilateral, e não há preferência por sexo ou raça(5). Na maioria das ptoses congênitas verdadeiras o defeito é produzido por distrofia do MEPS, e apresenta-se como uma condição isolada ou associada a outras alterações congênitas como a blefarofimose(3-6). Outros mecanismos, embora menos comuns, também podem causar ptose congênita, como os defeitos neurogênicos que ocorrem na síndrome de Horner congênita e no fenômeno de Marcus Gunn(2,4,6). As experiências visuais na infância têm grande influência no desenvolvimento das vias visuais, particularmente do córtex visual, que é rudimentar no recémnascido. Com a falta de estimulação dessas vias por obstrução mecânica da pálpebra, não haverá uma maturação adequada do córtex visual no cérebro em desenvolvimento da criança, resultando em ambliopia, ou seja, redução da acuidade visual sem que haja qualquer lesão ocular, que pode variar de uma pequena alteração da função visual a uma perda importante da visão. Contudo, se os fatores de risco ambliogênicos são identificados e tratados cedo, a plasticidade cerebral deverá reorganizar o córtex e a perda visual poderá ser corrigida naturalmente(7-9). Por isso, a medida da acuidade visual e a refração devem ser obtidas na primeira avaliação e a simples suspeita de ambliopia exige que a decisão cirúrgica seja tomada imediatamente(6). A ambliopia também pode levar ao estrabismo pelo pobre desenvolvimento da função ocular(8,9). O tratamento das ptoses é inteiramente cirúrgi(4) co . Se a intervenção não for urgente, a cirurgia pode ser prorrogada até a idade de três a quatro anos, quando mensurações mais acuradas poderão ser realizadas no pré-operatório, permitindo um melhor resultado(5). Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 391-5 A avaliação inicial da criança com ptose congênita inclui a determinação da distância margem-reflexo (DMR), que avalia a queda palpebral na posição primária do olhar, medida da excursão do elevador, altura da prega palpebral, e a exclusão de situações sindrômicas como o fenômeno de Marcus Gunn(3). O que se recomenda atualmente é usar a técnica de elevação ao frontal quando houver pobre função do MEPS, o que ocorre na maioria das ptoses congênitas(3,4), e usar qualquer um dos outros métodos dependendo da DMR quando houver boa função do MEPS(4). Se não corrigidas, as ptoses podem acarretar efeitos psicossociais negativos, perda de autoestima, alienação(10) e desvantagens profissionais ligadas à baixa acuidade visual na vida adulta(8). Este trabalho foi realizado com o objetivo de traçar um perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no Hospital Regional de São José, descrevendo as características gerais das ptoses congênitas, incluindo a coexistência de estrabismo e a prevalência de ambliopia. MÉTODOS Foi realizado um estudo epidemiológico com delineamento transversal, baseado na análise de prontuários dos pacientes com ptose congênita atendidos no Departamento de Plástica Ocular e Órbita do Hospital Regional de São José (HRSJ), no período de julho de 1998 a julho de 2008. Foram incluídas apenas as fichas do primeiro atendimento de cada paciente, não sendo utilizado dados das consultas subsequentes. Foram excluídos todos os casos de ptose com outra classificação que não congênita. Para definição do ponto de corte foram utilizadas referências encontradas na literatura médica. Sendo assim, foi considerado ambliopia os casos em que a acuidade visual foi menor ou igual a 20/40 ou se houve mais de duas linhas de Snellen de diferença entre os dois olhos. Quanto à excursão do músculo elevador da pálpebra superior, foi considerado “normal” quando esta teve 15mm ou mais, “boa” quando teve de 8 a 14mm, “regular” nos valores de 5 a 7mm, “fraca” quando menor ou igual a 4mm e “ausente” quando nula. Para a classificação da ptose foi utilizada a distância margem-reflexo, onde a queda palpebral foi considerada “mínima” quando o valor encontrado foi de 2mm, “moderada” quando 1mm e “severa” quando 0mm ou valores negativos. Este trabalho foi aprovado pelo do Comitê de Ética em Pesquisa da UNISUL sob o registro número 08.628.4.01.III. 393 Perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no hospital regional de São José Tabela 1 RESULTADOS Em um total de 42 pacientes com ptose congênita, 14 eram do gênero feminino (33,3%) e 28 eram do gênero masculino (66,7%). A média da idade foi de 7,2 anos (mediana de 6 anos), com seus extremos variando de 6 meses a 20 anos. De acordo com a percepção dos pacientes e/ou familiares, ou por meio de comparação por fotografias antigas, 8 pacientes (19%) obtiveram algum agravo da ptose ao longo dos anos, 5 (11,9%) obtiveram alguma melhora e 29 (69%) tiveram evolução estável desde o nascimento. Apenas 5 pacientes (11,9%) tinham história familiar de ptose. Em relação à lateralidade, 14 pacientes (33,3%) apresentaram ptose em ambos os olhos e 28 (66,7%) apresentaram ptose unilateral. Analisando-se somente as ptoses unilaterais, 12 (42,9%) eram no olho direito e 16 (57,1%) no olho esquerdo. No momento da primeira consulta, 13 pacientes (31%) haviam tentado algum tipo de tratamento anterior. A posição da cabeça com o mento elevado ou “chin-up” foi notória em 15 pacientes (35,7%), sendo que em 10 destes (66,6%) a ptose era bilateral. Quanto a outras doenças ou fatores associados, 8 pacientes (19%) apresentaram estrabismo, 4 (9,5%) apresentaram o fenômeno de Marcus Gunn, 1 possuía a síndrome da blefarofimose e 1 apresentou glaucoma associado. Não houve história de antecedentes familiares no único caso de blefarofimose encontrado, mas ocorreu em 1 dos 4 casos de fenômeno de Marcus Gun e em 1 dos 8 casos de estrabismo. Por serem dados que dependem de avaliação por medidas, incluindo o uso de régua milimetrada e cartaz de Snellen, os resultados a seguir estão incompletos na grande maioria das variáveis, principalmente porque não houve colaboração do paciente no momento da consulta para a realização do exame. As percentagens foram dadas em relação aos dados válidos, desconsiderando-se os dados faltantes para o cálculo destas. Foram analisados 56 olhos ptóticos de 42 pacientes. A média da fenda palpebral de 52 olhos foi de 6mm (± 2,06mm). Outros achados do exame oftalmológico dirigido estão descritos na tabela1. Apenas para fins descritivos, se for analisado somente as ptoses de classificação severa, verifica-se uma prevalência de fraca excursão do elevador em 71,4% dos olhos. As condutas adotadas foram descritas na tabela 2. A mediana da idade dos pacientes com indicação cirúr- Achados do exame oftalmológico dirigido em relação ao número de olhos afetados Exame oftalmológico dirigido Acuidade visual Normal Acompanha objetos Ambliopia Classificação da ptose Mínima Moderada Severa Excursão do MEPS Normal Boa Regular Fraca Ausente Força do músculo Frontal Normal Alterada Prega palpebral Presente Ausente Reflexo de Bell Presente Ausente ou diminuído Eixo visual Normal Alterado N % 47 34 5 8 39 11 13 15 46 2 7 8 25 4 37 32 5 40 19 21 47 36 11 38 28 10 100 72,4 10,6 17 100 28,2 33,3 38,5 100 4,4 15,2 17,4 54,3 8,7 100 86,5 13,5 100 47,5 52,5 100 76,6 23,4 100 73,7 26,3 (MEPS) músculo elevador da pálpebra superior Tabela 2 Conduta recomendada após a primeira avaliação oftalmológica dos pacientes com ptose congênita Conduta N % Observação Correção cirúrgica Elevação ao frontal Ressecção do elevador Fassanella-Servat Outras 10 24 23,8 57,2 8 19 Total 42 100 N % 18 4 2 75 16,7 8,3 (DMR) distância margem-reflexo Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 391-5 394 Grumann Júnior A, BrancoFRE gica foi de 7,5 anos, variando de 8 meses a 20 anos, e a mediana da idade dos pacientes sem indicação cirúrgica foi de 5 anos, variando de 6 meses a 19 anos. DISCUSSÃO Iniciando pela análise do gênero, foi notória a relação 2:1 para o gênero masculino, resultado muito próximo ao encontrado em um recente estudo norte-americano, onde 64% eram do gênero masculino(11). Nas ptoses de etiologias diversas não tem sido encontrado diferença significativa entre os sexos(12,13). Quanto à evolução, as ptoses congênitas tendem a ser estáveis, pois sua etiologia está relacionada à distrofia do MEPS, presente desde o nascimento(5,6). Analisando os resultados deste estudo neste ponto, uma explicação para a percepção de melhora do grau de ptose em sua evolução em 11,9% dos pacientes seria o melhor controle pela criança dos músculos adjuvantes da elevação da pálpebra, o que causaria uma falsa impressão de melhora da ptose. E quanto à percepção de piora, talvez a queda palpebral nos primeiros meses de vida não tenha chamado a atenção dos pais pelas dimensões gerais pequenas do lactente e, mais tarde, com o desenvolvimento dos componentes faciais, a ptose tornou-se mais óbvia, sem necessariamente ter agravado. A maioria dos casos de ptose congênita não ocorre devido a fatores genéticos(14), mas existe uma relação com herança autossômica dominante(5). Foi encontrado neste estudo uma baixa prevalência de antecedentes familiares de ptose (11,9%). Em outros estudos, esta prevalência foi de 7,9%(12) e 32,3%(15). Por conter uma amostra pequena, este estudo encontrou apenas um caso de blefarofimose e, deste modo, não foi possível verificar se houve concordância com a literatura, a qual relata que uma história familiar de ptose positiva é mais prevalente nos casos de síndromes genéticas como a blefarofimose(5,6). Ao se falar da lateralidade, este estudo se aproxima dos dados da literatura, a qual informa que a unilateralidade ocorre, em média, em 70% dos casos(5,14). Outros autores encontraram prevalência de unilateralidade ainda mais alta, variando de 76,2% a 83%(11,13,16). Quando a ptose obstrui parcialmente o campo visual, o paciente tende a elevar o mento para poder enxergar o horizonte, posição esta conhecida como “mento elevado” ou “chin up”. Neste estudo foi encontrada uma maior prevalência dessa situação nos casos em que a ptose era bilateral. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 391-5 O estrabismo e a obstrução visual causada pela ptose estão entre os principais fatores associados à ambliopia(8,9). Reconhecer precocemente os fatores de risco ambliogênicos pode aumentar a chance de recuperação da acuidade visual por meio de tratamento cirúrgico precoce(7-9). Neste estudo foi encontrado uma prevalência de 17% de ambliopia, não ficando distante dos 21,5% encontrados em um estudo mais recente(11), embora seja superior ao encontrado em outros estudos mais antigos (5,38%(12) e 5,9%(13)). Quanto ao estrabismo, este esteve associado às ptoses congênitas em 19% dos casos, um valor que está próximo aos encontrados em outros estudos (16,2%(11) e 25%(16)). Embora seja uma amostra pequena, foi encontrado neste estudo, com fins descritivos, uma prevalência de estrabismo e ambliopia maior que a da população geral, na qual é possível encontrar estrabismo em torno de 2% e ambliopia em torno de 5%(8). A literatura relata que a maior prevalência de ambliopia nos portadores de ptose congênita deve ser devido a maior prevalência de fatores ambliogênicos encontrados nestes pacientes(11). O fenômeno de Marcus Gunn é descrito como sendo responsável por 2 a 13% das ptoses congênitas(2). Neste trabalho, este fenômeno foi encontrado em 9,5% dos casos e, em outros trabalhos epidemiológicos, foram descritos 1,2% (12) e 5,3%. (13) A síndrome da blefarofimose foi encontrada em apenas um caso, sendo que em um estudo realizado em São Paulo foi encontrado um valor de 6,3%(13). O glaucoma é mais comumente encontrado como um fator associado a ptoses adquiridas, onde já foi descrita uma associação de 38,7%(15). A ausência de prega palpebral é um achado característico das ptoses congênitas(5,6,14) . Neste estudo, pouco mais da metade dos olhos ptóticos (52,5%) não possuía esta prega. A excursão do MEPS foi encontrada como fraca ou ausente em 63% dos olhos, e a classificação da ptose como severa foi a mais prevalente (38,5%). Analisando-se com fins descritivos, 71,4% das ptoses severas tinham excursão do MEPS fraca, sendo que em outro estudo esta associação foi encontrada em 78,3%(15). Esses resultados entram em acordo com a literatura, que mostra uma maior prevalência destes achados nas ptoses congênitas(3,4). A suspensão Frontal é um dos procedimentos cirúrgicos mais utilizados para ptoses severas com excursão do MEPS pobre ou ausente, e também pode ser utilizada para blefarofimose ou fenômeno de Marcus Gun, sendo, portanto, muito utilizada para ptoses congênitas(3,4). Concordando com a literatura, a correção cirúrgica por 395 Perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no hospital regional de São José elevação ao Frontal foi a mais indicada, abrangendo 75% dos casos cirúrgicos. A excursão do MEPS normal ou boa, que é mais prevalente nas ptoses adquiridas, foi encontrada em uma menor percentagem (19,5%). Embora o tratamento para as ptoses seja cirúrgi(4) co , pode-se prorrogar a cirurgia quando esta não for urgente, a fim de se obter mensurações mais acuradas em uma criança mais colaborativa(5). Tiveram indicação cirúrgica 57,2% dos casos deste estudo, sendo que em outros trabalhos foram encontrados 38,5% (11) e 63,6%(15). A mediana da idade dos pacientes cirúrgicos foi de 7,5 anos e, em outro estudo, a média foi de 4,6 anos(11). Por problemas de arquivamento dos prontuários no hospital em estudo, a amostra encontrada acabou sendo menor que a esperada, tornando-se este um fator limitante deste trabalho, além do delineamento transversal. A visão é um dos cinco sentidos por meio dos quais percebemos o mundo, e todos os esforços devem ser feitos em prol desta. Como a ptose congênita pode levar a ambliopia(7-9), os avanços da medicina oftalmológica, desde a avaliação inicial do paciente até a indicação da melhor técnica cirúrgica, são de extrema importância para que haja resultados terapêuticos eficazes para esta condição. No presente estudo, embora descritivo e com uma amostra pequena, a prevalência de ambliopia nestes pacientes foi maior que a da população geral, reforçando a importância de uma avaliação precoce dos pacientes com ptose congênita. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Cruz AAV, Chahud F, Guimarães FC. Patologia dos anexos oculares. Medicina (Ribeirão Preto). 1997;30(1):36-51. Torres MRF, Calixto Júnior N, Oliveira LR, Steiner SA, Iscold AM. Fenômeno de Marcus Gunn: diagnóstico diferencial das ptoses palpebrais na criança. J Pediatr (Rio J). 2004;80(3):249-52. Baroody M, Holds JB, Vick VL. Advances in the diagnosis and treatment of ptosis. Curr Opin Ophthalmol. 2005;16(6):351-5. Cetinkaya A, Brannan PA. Ptosis repair options and algo- rithm. Curr Opin Ophthalmol. 2008;19(5):428-34. Suh DW. Ptosis, congenital [Internet]. [cited 2009 May 6]. Available from: <http://www.emedicine.com/oph/ TOPIC345.HTM.> Acessado em: 06 mai 2009. 6. 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Resultados: A média de idade dos pacientes com dacriocistite crônica atendidos foi de 55 anos, sendo 73 % (44) do sexo feminino e 27 % (16) do sexo masculino. O envolvimento unilateral ocorreu em 95% (57) dos casos de dacriocistite crônica e somente 5 % (3) foram bilaterais.. Neste trabalho, o acometimento do lado direito foi de 45 % (26) e do lado esquerdo 55% (31) respectivamente. Em relação à raça, prevaleceu a branca com 92% (54) dos casos de dacriocistite crônica e 8% (6 ) da raça negra. A evolução para dacriocistite aguda ocorreu em 20% dos pacientes. Em relação à etiologia da dacriocistite crônica, houve predominância da idiopática em 95% ( 57) dos casos e somente 5% (3) devido a trauma. Conclusão: A dacriocistite é mais frequente nas mulheres, rara na raça negra e apresenta predisposição hereditária, aumentando a incidência a partir da 6ª década. Descritores:Dacriocistite crônica/epidemiologia; Obstrução dos ductos lacrimais; Adulto ABSTRACT Purpose:The goal of this project is to document the epidemiological characteristics of chronic dacryocystitis cases assisted in a public hospital. Methods: This is a retrospective study of medical records of patients who developed chronic dacryocystitis assisted in the period of january 12th , 2009 to june 9th, 2010 .The patients were ophthalmologist evaluated: ocular inspection, biomicroscopy, Milder Test, Test of Jones I and II. Results: The gender with chronic dacryocystitis belonged to 55 years. There were 73 % female and 27 % male.The unilateral involvement occurred in 95% of the cases and only 5 % were bilateral. In this work, the side of this pathology was on the right in 45% and on the left in 55%. Negroid races have a lower rate of illness than caucasians.Regarding the chronic dacryocystitis ethiology, there was a predominance of the idiopathic in 95% of the cases and only 5% of trauma. Conclusion: The dacryocystitis is more frequent in women, rare in blacks and presents hereditary predisposition, increasing the incidence from the 6th decade Keywords: Chronic dacryocystitis/epidemiology; Lacrimal duct obstruction; Adult 1 Médica Oftalmologista Colaboradora, Pós-graduanda nível Doutorado do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil; 2 Chefe do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado no Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 20/10/2010 - Aceito para publicação em 20/7/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 396-9 397 Estudo epidemiológico da dacriocistite crônica INTRODUÇÃO MÉTODOS inflamação do saco lacrimal (dacriocistite) resulta da estase da lágrima, devido uma obstrução do ducto lácrimonasal, propiciando a proliferação de bactérias(1). A obstrução do ducto lácrimonasal pode ser congênita em 2% a 6% dos casos ou adquirida(2,3). A causa da obstrução pode ser primária ou secundária. A causa primária refere-se à etiologia idiopática, enquanto que a causa secundária é devido à sinusite, trauma naso-orbital, doenças sistêmicas, neoplasia ou secundária à obstrução congênita não curada. A incidência da dacriocistite crônica é de 2% a 3% em relação aos outros tipos de obstrução da via lacrimal de drenagem(4,5). Conforme a literatura(5), é recomendada a biopsia do saco lacrimal em pacientes submetidos à dacriocistorrinostomia que possuam antecedentes de doença sistêmica ou uma aparência anormal do saco lacrimal durante a cirurgia. A dacriocistite é mais frequente nas mulheres, rara na raça negra e apresenta predisposição hereditária (6). Manifesta-se com epífora, às vezes, com conjuntivite crônica ou recorrente, ocasionando edema indolor no canto medial, abaixo da ligamento palpebral medial. Uma vez que a secreção purulenta acumula no interior do saco lacrimal, ocasiona uma ectasia se manifestando como um abaulamento cístico sob a pele.Uma compressão na região do saco lacrimal resulta em refluxo de material purulento para o fórnice conjuntival. O paciente se queixa de turvação visual devido ao aumento da espessura do filme lacrimal. Os agentes etiológicos mais frequentes desta patologia são: Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermitis(7,8). Em relação ao tratamento, se recomenda medidas de higiene associadas com colírios antissépticos e antibióticos.O tratamento definitivo é o cirúrgico (dacriocistorrinostomia externa ou endonasal) O diagnóstico diferencial da dacriocistite se faz com: abscessos cutâneos etmoidite anterior aguda, dermóides, hemangiomas cavernoso, fibromas, dacriolitíase e mucocele de saco lacrimal(8,9). O objetivo deste estudo é a análise epidemiológica da dacriocistite crônica em relação ao sexo , idade e lateralidade. Estudo retrospectivo e documental dos prontuários de 60 pacientes com história pregressa de dacriocistite crônica que foram atendidos no Ambulatório de Vias Lacrimais da UNIFESP, no período de 12 de janeiro de 2009 a 9 de junho de 2010 . Os pacientes, no período em estudo, foram submetidos à avaliação oftalmológica: inspeção ocular, biomicroscopia, Teste de Milder e Teste de Jones I e II. A inspeção ocular foi realizada com a finalidade de diagnosticar as más posições palpebrais (entrópio, ectrópio, paralisia facial) e na presença de massa, no canto medial ocular, verificar as suas características (mole, dura, retrátil, pulsátil e a presença de refluxo de secreção para o fórnice conjuntival). A biomicroscopia foi realizada, a fim de detectar uma pseudoepífora, que consiste num lacrimejamento reflexo, causado por: ceratite, triquíase, distiquíase, conjuntivite, corpo estranho e também observar a posição, estrutura, refluxo e coloração dos pontos lacrimais. Devemos salientar os seguintes testes: - Teste do desaparecimento da fluoresceína ( Teste de Milder) Este teste consiste na instilação de uma gota de fluoresceína a 2% no fundo de saco conjuntival do olho suspeito, e o menisco lacrimal é examinado com um filtro de cobalto da lâmpada de fenda após cinco minutos. A retenção do corante varia de 0 a 4+ (meniscos de 0 a 1+ são considerados normais; menisco de 2+ indica início de obstrução anatômica ou funcional; meniscos de 3 +a 4+ indicam alteração do fluxo lacrimal). -Teste de Jones I Este teste avalia a permeabilidade da via lacrimal excretora e consiste na instilação de fluoresceína a 2% no fundo de saco conjuntival do olho suspeito de obstrução e após 5 minutos, iremos notar este corante na ponta do algodão do cotonete que foi colocado no meato nasal inferior, previamente anestesiada a mucosa nasal com solução gel de xilocaína 2%. Considera-se o teste positivo quando há o corante na ponta do cotonete, indicando via lacrimal pérvia. -Teste de Jones II É realizado logo após o Teste de Jones I. O paciente deverá estar sentado,instila-se colírio anestésico tópico na conjuntiva bulbar, dilata-se o ponto lacrimal inferior do olho suspeito de obstrução e irriga-se a via lacrimal com 2ml de soro fisiológico através do canalículo inferior, observa-se o soro que sai pela fossa nasal. O soro colorido significa uma obstrução na via lacrimal excretora baixa A Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 396-9 398 Lorena SHT , Silva JAF Figura 1: A relação de dacriocistite crônica com o sexo Figura 2: A relação da dacriocistite crônica com a lateralidade Figura 3: Relação da dacriocistite crônica com a raça Figura 4: Etiologia da dacriocistite crônica RESULTADOS A média de idade dos pacientes com dacriocistite crônica atendidos no Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo foi de 55 anos, sendo 73% (44) do sexo feminino e 27% (16) do sexo masculino (Figura 1). O envolvimento unilateral ocorreu em 95% (57) dos casos de dacriocistite crônica e somente 5% (3) foram bilaterais. Neste trabalho, o acometimento do lado direito foi de 45 % (26) e do lado esquerdo 55% (31) respectivamente (Figura 2)-. Em relação à raça, prevaleceu a branca com 92% Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 396-9 (54) dos casos dacriocistite crônica e 8% (6 ) da raça negra (Figura 3). A evolução para dacriocistite aguda ocorreu em 20% dos pacientes. Em relação à etiologia da dacriocistite crônica, houve predominância da idiopática em 95% (57) dos casos e somente 5% (3) devido a trauma (Figura 4). DISCUSSÃO Geralmente a frequência de dacriocistite crônica na população é de 1:50.000 pessoas(10). A incidência da dacriocistite crônica é maior em 399 Estudo epidemiológico da dacriocistite crônica caucasianos e rara nos negros, isto estaria relacionado com o diâmetro do canal ósseo do ducto nasolacrimal (11,12) , o que confirma os achados deste estudo. As obstruções lacrimais são mais frequentes nas mulheres do que nos homens, segundo alguns autores, chegando a uma proporção de até 10:1(13) , fato este que condiz com os resultados deste trabalho. A dacriocistite é comumente unilateral, sendo bilateral um achado raro(14), o que corrobora com os resultados deste trabalho.De acordo com a literatura, ambos os lados são igualmente envolvidos, uma vez que não há diferença significante no diâmetro ósseo de ambos os lados(14). O avanço da idade faz aumentar a incidência da dacriocistite crônica, devido ao processo involucional levando a estenose da ducto nasolacrimal, sendo comum na pós-menopausa, ao redor de 60 anos ou mais, perfazendo 74% dos casos, o que condiz com os achados desta pesquisa (15). CONCLUSÃO A dacriocistite é mais frequente nas mulheres, rara na raça negra e apresenta predisposição hereditária, aumentando a incidência a partir da 6ª década. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Pérez Genovesi M. 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Clinicopathologic analysis of 166 patients with primary acquired nasolacrimal duct obstruction. Ophthalmology. 2001;108(11):2038-40. Endereço para correspondência: Silvia Helena Tavares Lorena Rua Flórida,nº 1404 - Brooklin CEP 04561-030 - São Paulo (SP), Brasil Tel: (11) 5507-2705 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 396-9 ARTIGO ORIGINAL 400 Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP - com ênfase no tratamento realizado Canaliculitis: a case series at Faculdade de Medicina de Botucatu -UNESP- emphasing treatment Silvana Artioli Schellini1, Fabrício Rendeiro Sales2, Geraldo Miranda de Carvalho3, Carlos Roberto Padovani4 RESUMO A canaliculite é uma afecção rara da via lacrimal. Os autores apresentam uma série de cinco casos tratados na Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP, comentam os achados à luz da literatura pertinente e tecem considerações sobre o tratamento efetuado, ressaltando que a canaliculotomia pode ter bons resultados mesmo que o canalículo não receba suturas ou moldes. Descritores: Doenças do aparelho lacrimal/diagnóstico; Doenças do aparelho lacrimal/terapia; Infecções oculares/terapia; Relato de casos ABSTRACT Canaliculitis is a rare disorder of the lacrimal system. The authors present five cases treated at the Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP. The findings according to the literature review are comment with considerations on the treatment performed and emphasizing that the canaliculotomy may have good results even without canaliculus sutures or stents. Keywords: Lacrimal apparatus diseases /diagnosis; Lacrimal apparatus siseases/surgery; Eye infections/ therapy; Case reports 1 Professor Titular do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - (UNESP) - Botucatu (SP), Brasil; 2 Residente de 3º ano de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”- (UNESP)Botucatu (SP), Brasil; 3 Residente de 1º ano de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”- (UNESP)Botucatu (SP), Brasil; 4 Professor Titular do Departamento de Bioestatística, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - (UNESP) - Botucatu (SP), Brasil. Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho - (UNESP) – Botucatu (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 20/10/2010 - Aceito para publicação em 27/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 400-3 Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu... INTRODUÇÃO C analiculite é uma infecção incomum, localizada canalículos lacrimais. Apesar dos sintomas e sinais característicos, está entre as afecções oculares mais frequentemente subdiagnosticadas, já que cerca de 60% dos casos são erroneamente diagnosticados como portadores de conjuntivite crônica, dacriocistite, hordéolo ou calázio. Alguns pacientes permanecem meses ou até anos sem o diagnóstico apropriado(1-3). O quadro clínico clássico é de epífora, dor, hiperemia e edema, localizados na região do canalículo e sobre o ponto lacrimal que se encontra hiperêmico, dilatado, com saída espontânea de secreção mucopurulenta através do ponto lacrimal. Pode acometer um ou mais canalículos, afetando com maior frequência o canalículo superior e mulheres menopausadas, devido a diminuição da produção lacrimal em resposta a queda dos níveis hormonais(4). Diversos micro-organismos estão envolvidos na gênese das canaliculites. Apesar de classicamente o agente mais frequente ser o Actinomyces spp, que pertence a flora normal da cavidade oral, recente revisão de casos mostrou o Streptococcus e os Staphylococcus como principais agentes da canaliculite(5). As canaliculites podem ocorrer de forma primária, ou seja, por inflamação do próprio canalículo, ou secundária a infecções de estruturas adjacentes (como celulite orbitária), carcinoma ou papiloma de canalículo, uso tópico de quimioterápicos, antivirais e alguns antiglaucomatosos, uso de quimioterápicos sistêmicos que podem levar a estenose de canalículos (como Taxane, 5-Fluorouracil)(6), uso de materiais empregados para oclusão dos canalículos lacrimais. A infecção dos canalículos também pode se disseminar para outras estruturas adjacentes, tendo sido já relatada celulite orbitária após curetagem para tratamento de canaliculite(7). Houve importante aumento dos casos de canaliculites após o início do uso dos plugs, principalmente empregados para tratamento do “olho seco”. Estudo feito por questionário envolvendo membros da Sociedade Americana de Plástica Ocular revelou que 38% dos respondentes haviam tido pacientes que desenvolveram canaliculite enquanto usavam plugs de silicone(8). Há diferentes tipos de plugs e as complicações ocorrem de forma distinta com cada um deles, com possibilidade de desenvolvimento de canaliculite em 8% dos pacientes mesmo com o uso de plugs absorvíveis(9). A ocorrên- 401 cia de canaliculite com o uso do Smart Plug (um tipo de plug que é termosensível e que se expande dentro do canalículo tomando o formato da ampola) é de 4,73% por plug inserido(10). Avaliando-se a literatura pertinente, os casos de canaliculites secundárias são mais frequentes que de canaliculites primárias, havendo uma única série de casos que comenta ter sido observado número igual de canaliculites primárias e secundárias(5). O diagnóstico é eminentemente clínico. Entretanto, a ultrassonografia e a ressonância magnética podem ser utilizados nos casos mais difíceis(11). O tratamento da canaliculite é cirúrgico e consiste na canaliculotomia, havendo várias formas de realizá-la(5,12,13). No entanto, várias outras modalidades foram relatadas em passado recente, como a oxigenioterapia hiperbárica, a entubação, a curetagem, a dacriocistorrinostomia com entubação retrógrada, o uso de antibióticos intracanaliculares e o tratamento conservador(4). O presente estudo tem como objetivo apresentar uma análise descritiva de série de casos de canaliculite, diagnosticados no ambulatório de Vias Lacrimais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu – (UNESP), tratados cirurgicamente, descrevendo-se a abordagem cirúrgica e a evolução dos mesmos. Relato de casos No período de 1988 até 2008 foram atendidos no ambulatório de Vias Lacrimais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu – (UNESP) cinco portadores de canaliculite. Os dados descritivos de identificação, história clínica e a evolução dos mesmos são apresentados no quadro 1. Dos cinco pacientes detectados, dois eram homens e três mulheres. Todos eram adultos, brancos. sendo que o mais novo apresentava 26 anos e o mais velho 84, com média de idade de 57,6 anos. A queixa mais frequente foi secreção e hiperemia, localizada no canto interno das pálpebras. Havia sinais de tracoma cicatricial em um paciente e uma paciente era portadora de Leishmaniose, com acometimento inflamatório da mucosa nasal e concomitante obstrução da via lacrimal excretora baixa, com fístulas do saco lacrimal para a pele. Em todos os casos havia acometimento unilateral e de apenas um dos canalículos. O diagnóstico foi estabelecido pelo exame clínico (histórico e exame externo/ biomicroscopia) em todos os casos. Tratamento empregado: o tratamento realizado Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 400-3 402 Schellini SA, SalesFR, CarvalhoGM, PadovaniCR Quadro 1 Apresentação dos casos de canaliculites diagnosticados e tratados na Faculdade de Medicina de Botucatu - (UNESP) Idade Sexo Queixa 29 32 67 76 84 Masculino Masculino Feminino Feminino Feminino Secreção e hiperemia Secreção, edema e hiperemia Inflamação há 4 anos Hiperemia e eczema palpebral Nódulo, secreção e hiperemia foi cirúrgico, tendo sido realizada a canaliculotomia, com abertura total do canalículo a partir e incluindo o ponto lacrimal, seguida de curetagem do canalículo utilizando cureta de calázio. A sonda de Bowman foi utilizada para testar se havia “hard stop”, que seria o indício de que todos os cálculos haviam sido removidos. Em seguida, procedeu-se a lavagem do canalículo com soro fisiológico. O canalículo foi deixado aberto, sem nenhum tipo de sutura ou molde na luz canalicular. Os pacientes foram orientados a usar colírio com associação de antibiótico e anti-inflamatório durante 10 dias. Foram revistos após sete e 60 dias após a realização da canaliculotomia. Desfecho: Houve necessidade de curetagem única em três dos cinco afetados. Em um deles foi necessário repetir o procedimento de canalicutomia, tendo em vista que 15 dias após a realização da primeira, o canalículo afetado encontrava-se totalmente refeito, com novo processo inflamatório instalado. Na segunda canalicutomia foram encontrados mais cálculos, sendo possível concluir que houve a permanência de cálculos residuais, não removidos no primeiro procedimento. Outro paciente apresentava história de dacriocistite crônica em conjunto com a canaliculite, tendo sido necessário realizar a dacriocistorrinostomia associada a canaliculotomia. Após cerca de três anos de acompanhamento, todos os cinco pacientes permaneceram bem. O canalículo afetado, aberto desde o ponto lacrimal para a curetagem, não foi entubado em nenhum dos pacientes. O resultado foi que houve cicatrização em todos, com permanência da via lacrimal pérvea, sem nenhum grau de estenose. DISCUSSÃO As canaliculites são raramente observadas na prática diária, assim como o são na literatura. A maioria dos estudos sobre o assunto são casos, relacionados ao agente etiológico, exames diagnósticos ou tratamentos efetuados. As séries de casos, em geral, reportam poucos pacientes afetados, validando a presente observação de que a afecção Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 400-3 Antecedente Desfecho Cirurgia lacrimal Fístula lacrimal + leishmaniose Tracoma Duas curetagens Uma curetagem DCR + canalículotomia Uma curetagem Uma curetagem seja rara. Há uma única revisão que reporta 46 casos de canaliculites dentro de um mesmo serviço oftalmológico americano, atendidos em período de 20 anos(5). No período do estudo, foram atendidos cinco portadores de canaliculite na Faculdade de Medicina de Botucatu – (UNESP), todos adultos, nenhum deles acometendo crianças, corroborando com a literatura que considera a afecção ainda mais rara na infância(14). O diagnóstico é clínico. Entretanto, devido a raridade, apesar do quadro clínico típico, o diagnóstico não é feito, ficando o paciente exposto a muitos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que são instituídos desnecessariamente(2). Muitas vezes o paciente passa por muitos profissionais antes que se estabeleça o diagnóstico. Comenta-se que a média para se estabelecer o diagnóstico desta afecção gira por volta de três anos(1) e que cerca de 50% dos casos possuem diagnóstico tardio(15). O motivo deste relato de casos é justamente chamar a atenção do leitor sobre a possibilidade do diagnóstico, aproveitando para comentar a experiência do serviço com o tratamento. Por se tratar de séries com reduzido número de casos, é difícil considerar predomínio de algum fator. Entretanto, dos cinco indivíduos que tivemos, três eram mulheres, sendo que a literatura as aponta como mais afetadas(16). O tratamento da canaliculite é cirúrgico, devendo-se associar tratamento clínico no pós-operatório para a obtenção de melhores resultados(4). Há várias formas de se realizar a canaliculotomia, tendo sido reportados bons resultados com a preservação do ponto lacrimal, entubação da via lacrimal com silicone e sutura do canalículo ao final do procedimento(17). Outros relatam bons resultados mesmo não preservando o ponto lacrimal(12), conduta que foi também empregada nos casos aqui relatados, tendo sido feita a abertura de todo o canalículo desde a região do ponto lacrimal, sem suturas e sem deixar “moldes” dentro da via lacrimal no final do procedimento. Trata-se de técnica cirúrgica mais simples, rápida e menos dispendiosa, com Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu... possiblidade de êxito como procedimento único em três indivíduos, havendo necessidade de repetição em um deles, provavelmente por curetagem incompleta no primeiro procedimento. No outro, associou-se dacriocistorrinostomia por afecção da via baixa associada. Apesar de infrequentes, outras alterações da via lacrimal podem estar também presentes em portadores de canaliculites(17), muito embora a canaliculite tenha cedido com apenas uma curetagem. A irrigação dos canalículos afetados usando antibióticos pode ser feita como tratamento adjuvante ao tratamento cirúrgico(13,17). No entanto, o tratamento clínico empregando antibióticos não associado ao tratamento cirúrgico pode ser considerado não efetivo, assim como pode-se dizer que a irrigação com antibióticos como tratamento adjuvante após a canaliculotomia não possui comprovação de eficácia(7).. A pesquisa do agente etiológico nos pacientes aqui relatados não foi feita. Cabe ressaltar que, por se tratar de casos atendidos em hospital terciário, muitos já utilizaram vários antibióticos, podendo ainda estar na vigência dos mesmos, o que dificulta a obtenção de positividade nos cultivos. Este comentário foi feito também com relação a outro serviço de atendimento universitário(12). Sendo casos de infecção, a suspensão do tratamento clínico e espera para a realização do tratamento cirúrgico, a fim de obter material para cultivo, pode causar mais desconforto ao paciente e deve ser evitada. Apesar de ser possível obter 100% de positividade nos cultivos de portadores de canaliculites(1), nem sempre esta é a realidade, havendo relatos da ordem de 50%(5), 23%(4) ou mesmo 100% de negatividade(2,13), podendo algumas vezes os indícios do agente serem obtidos apenas pela bacterioscopia(13). Cabe ainda lembrar que não existe uma metodologia única para coleta do material, o que dificulta inclusive a comparação entre os estudos(5). Apesar do canalículo não ter sido refeito após a curetagem, nem tampouco ter permanecido o canalículo entubado, em todos os casos aqui relatados o canalículo se refez e não houve estenose da via lacrimal ou epífora em nenhum deles. Importante lembrar que a epífora poderia não ter ocorrido após o tratamento devido ao fato das canaliculites ocorrerem muitas vezes associadas ao “olho seco”, que poderia já fazer parte do quadro inicial(18). Finalizando, os autores frisam que a canaliculite é uma afecção rara também em nosso meio. O oftalmologista deve estar atento para os sinais e sintomas, o que vai possibilitar a conduta adequada. A canaliculotomia sem a preservação da integridade do ponto lacrimal e sem a reconstrução do canalículo resulta em bons resultados funcionais. 403 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Briscoe D, Edelstein E, Zacharopoulos I, Keness Y, Kilman A, Zur F, Assia EI. Actinomyces canaliculitis: diagnosis of a masquerading disease. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2004;242(8):682-6. Serin D, Karabay O, Alagoz G, Morkan IA. Misdiagnosis in chronic canaliculitis. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2007;23(3):255-6. Liyanage SE, Wearne M. Lacrimal canaliculitis as a cause of recurrent conjunctivitis. Optometry. 2009;80(9):479-80. Vécsei VP, Huber-Spitzy V, Arocker-Mettinger E, Steinkogler FJ. Canaliculitis: difficulties in diagnosis, differential diagnosis and comparison between conservative and surgical treatment. Ophthalmologica. 1994;208(6):314-7. 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Métodos:Estudo retrospectivo observacional dos prontuários dos pacientes submetidos à dacriocistorrinostomia externa no Hospital São Paulo, no período de 10 de abril de 2009 a 15 de janeiro de 2010.Os pacientes foram submetidos à avaliação oftalmológica: inspeção ocular, biomicroscopia,Teste de Milder, Teste de Jones I e II e exame de dacriocistografia. É mister salientar que os pacientes incluídos neste estudo foram examinados pela autora deste trabalho. Resultados: Neste trabalho, verificou-se que das 15 dacriocistorrinostomias externas realizadas as complicações intra-operatórias encontradas foram: sangramento(46,66%), perda do retalho da mucosa nasal (26,66%), utilização do martelo na osteotomia(6,66%). Em relação as complicações pós-operatórias citamos: fístula cutânea (6,66%), cicatriz hipertrófica (6,66%). Observou-se 1 caso de falência, correspondendo a 6,66% das cirurgias realizadas. O tempo médio de acompanhamento pós-operatório dos pacientes foi de 4 meses. Conclusão: Neste trabalho, o índice de sucesso obtido por esta técnica cirúrgica foi grande, podendo afirmar que a dacriocistorrinostomia externa oferece ótimos resultados. Descritores: Dacriocistorrinostomia / efeitos adversos; Procedimentos cirúrgicos oftalmológicos/efeitos adversos; Obstrução dos ductos lacrimais/cirurgia; Complicações pós-operatórias ABSTRACT Purpose: The research project goal is to determine the incidence of complications during the external dacryocystorhinostomy and post surgery done by the author, in São Paulo Hospital, from april 10th , 2009 to january 15 th, 2010. Methods: This is a retrospective study of the records of the patients submitted to external dacryocystorhinostomy in São Paulo Hospital, from april 10th 2009 to january 15th, 2010.The patient were submitted to the ophtahalmologic evaluation: Ocular inspection, biomicroscopiy, Milder Test, Test of Jones I and II and dacryocystograph exam. It is important point out, that the included patients in this study, the patients were examined by the author of this work. Results: This study was verified that out of 15 external dacryocystorhinostomy done, the complications were: bleeding (46,66%), oddment loss of the nasal mucosa (26,66%,utilização) of the hammer in the osteotomy (6,66%).The pos-operatory complications: cutaneous fistula (6,66%), hypertrophic (6,66%). Among the 15 surgeries there was only 1 failure corresponding to the 6,66%. The average time of surgery follow-up was of 4 months. Conclusion: The external dacryocystorhinostomy offers great results,according this study. Keywords: Dacryocystorhinostomy/adverse effects; Ophthalmologic surgical procedures/adverse effects; Lacrimal duct obstruction/surgery; Postoperative complications 1 Médica Colaboradora do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil; Chefe do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil. 2 Trabalho realizado no Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 30/11/2010 - Aceito para publicação em 14/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 404-7 405 Complicações intra e pós-operatória da dacriocistorrinostomia externa INTRODUÇÃO A dacriocistorrinostomia externa é uma cirurgia destinada a efetuar a drenagem de lágrimas e de secreção do saco lacrimal no meato médio da fossa nasal através de uma osteotomia do osso da fossa lacrimal, realizando uma sutura dos retalhos da mucosa nasal com a do saco lacrimal. Em 1904, foi realizada uma osteotomia da fossa lacrimal, com a extirpação das mucosas da parede do saco lacrimal e da mucosa nasal (dacriostomia)(1). Em 1920, houve modificação da técnica acima descrita, realizando os retalhos da mucosa do saco lacrimal e da mucosa nasal e a sutura desses retalhos(2). Em 1929 foi introduzida a técnica acima descrita no Brasil. Em 1967, foi introduzido o uso da entubação com silicone na dacriocistorrinostomia(3,4). Esta cirurgia é indicada na oclusão do ducto nasolacrimal em pessoas jovens e de meia idade, o qual está obstruído por tecido fibroso denso ou osso, justificando uma tentativa de estabelecer uma nova comunicação entre o saco lacrimal e a fossa nasal(5). A dacriocistorrinostomia externa pode ser realizada sob anestesia geral e internação hospitalar preferencialmente, ou sob anestesia local associada à sedação assistida pelo anestesista (lidocaína 2% com epinefrina 1:100.000 associado com bupivacaína 0,75%= solução anestésica de 5 ml, sendo 2 ml no nervo infratroclear, 2 ml no infraorbitário e 1 ml na área da incisão.Usando um agulha mais longa (25x7), realizando infiltração mais profunda (2,5 cm), bloqueia o nervo nasociliar de onde emergem os nervos: infratroclear, etmoidal anterior e posterior. As etapas da cirurgia(6) são: - Incisão cutânea reta no dorso lateral do nariz, com extensão de 10-12 mm; - Dissecção romba da musculatura orbicular; - Abertura do periósteo, com bisturi de lâmina 11 a partir das extremidades da incisão; - Dissecação do periósteo até a crista lacrimal anterior; - Dissecção romba da musculatura orbicular; - Abertura do periósteo, com bisturi de lâmina 11 a partir das extremidades da incisão; - Dissecação da periósteo até a crista lacrimal anterior; - Dissecação do saco lacrimal, desalojando-o de sua fossa até atingir a crista lacrimal posterior; - Realização do retalho da mucosa do saco lacrimal; - Osteotomia através da espátula de Donato Valle na linha de sutura entre o osso lacrimal e o processo frontal da maxila e introduzindo o osteótomo na abertura óssea; - Realização do retalho da mucosa nasal; - Sutura do retalho anterior do saco lacrimal com a margem do retalho nasal (vicryl 6.0); - Sutura do plano muscular, com pontos separados e sepultados (vicryl 6.0); - Sutura do plano cutâneo, com pontos contínuos (seda 7.0); Atualmente, o tratamento da obstrução da via lacrimal excretora baixa é realizada principalmente pela técnica da dacriocistorrinostomia externa(7,8). A finalidade deste trabalho é determinar a incidência das complicações intra e pós-operatória da dacriocistorrinostomia externa efetuadas pela autora. MÉTODOS Estudo retrospectivo observacional dos prontuários dos pacientes submetidos à dacriocistorrinostomia externa no Hospital São Paulo, no período de 10 de abril de 2009 a 15 de janeiro de 2010.Os pacientes foram submetidos à avaliação oftalmológica: inspeção ocular, biomicroscopia,Teste de Milder, Teste de Jones I e II e exame de dacriocistografia. A inspeção ocular foi realizada com a finalidade de diagnosticar o mal posicionamento palpebral (entrópio, epibléfaro, ectrópio, paralisia facial) e na presença de massa, no canto medial ocular, verificar as suas características pela palpação (mole, dura, retrátil, pulsátil) e a presença de refluxo de secreção para a conjuntiva bulbar. A biomicroscopia foi realizada, a fim de detectar uma pseudoepífora, que consiste num lacrimejamento reflexo, causado por: ceratite, triquíase, distiquíase, conjuntivite, corpo estranho e também observar a posição, estrutura, refluxo e coloração dos pontos lacrimais. Devemos salientar os seguintes testes: - Teste do Desaparecimento da Fluoresceína( Teste de Milder) Este teste consiste na instilação de uma gota de fluoresceína a 2% no fundo de saco conjuntival do olho suspeito, e o menisco lacrimal é examinado com um filtro de cobalto da lâmpada de fenda após cinco minutos. A retenção do corante varia de 0 a 4+ (meniscos de 0 a 1+ são considerados normais; menisco de 2+ indica início de obstrução anatômica Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 404-7 406 Lorena SHT, Silva JAF Figura 1: Complicações intraoperatórias da dacriocistorrinostomia externa Figura 2: Complicações pós-operatórias da dacriocistorrinostomia externa ou funcional; meniscos de 3 +a 4+ indicam alteração do fluxo lacrimal). -Teste de Jones I Este teste avalia a permeabilidade da via lacrimal excretora e consiste na instilação de fluoresceína a 2% no fundo de saco conjuntival do olho suspeito de obstrução e após 5 minutos , iremos notar este corante na ponta de uma haste flexível que foi colocado no meato nasal inferior, previamente anestesiada a mucosa nasal com solução gel de xilocaína 2%. Considera-se o teste positivo quando há o corante na ponta de uma haste flexível, indicando via lacrimal pérvia. -Teste de Jones II É realizado logo após o Teste de Jones I. O paciente deverá estar sentado, instila-se colírio anestésico tópico na conjuntiva bulbar, dilata-se o ponto lacrimal inferior do olho suspeito de obstrução e irriga-se a via lacrimal com 2ml de soro fisiológico através do canalículo inferior, observa-se o soro que sai pela fossa nasal. O soro colorido significa uma obstrução na via lacrimal excretora baixa. A dacriocistografia constitui um importante exame para constatar radiologicamente a existência da obstrução, sendo empregado um contraste hidrossolúvel, iodado. A primeira radiografia é realizada logo após a injeção do contraste, a segunda depois de 3 minutos, a terceira aos 5 minutos e a última aos 10 minutos. A imagem do contraste é menos evidente na dacriocistografia aos 3 minutos e desaparece em 10 minutos nas vias lacrimais sem anormalidades anatômicas e funcionais. RESULTADOS Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 404-7 Neste trabalho verificou-se que das 15 dacriocistorrinostomias externas realizadas as complicações intraoperatórias encontradas foram (Figura 1): - sangramento(46,66%), - perda do retalho da mucosa nasal(26,66%), - utilização do martelo na osteotomia(6,66%). Em relação as complicações pós-operatórias citamos (Figura 2): - fístula cutânea(6,66%) - cicatriz hipertrófica no dorso lateral do nariz(6,66%). Observou-se 1 caso de falência correspondendo a 6,66% das cirurgias realizadas. O tempo médio de acompanhamento pós-operatório dos pacientes foi de 4 meses. DISCUSSÃO Dos 15 pacientes submetidos à dacriocistorrinostomia externa, apenas 1 paciente apresentou antecedente de trauma em região medial da órbita, com bom resultado cirúrgico. Segundo a literatura(1), os traumas possuem maior chance de insucesso devido às alterações anatômicas. A literatura afirma índice de sucesso em dacriocistorrinostomia externa em pacientes com antecedente de trauma em torno de 33,0%(2) e na obstrução não traumática obteve-se em torno de 99,0% (3). Em relação às complicações intraoperatórias, des- Complicações intra e pós-operatória da dacriocistorrinostomia externa 407 3. Adenis JP, Mathon C, Lebraud P, Franco JL. [Dacryocystorhinostromy. Retrospective study of 165 cases. Indications. Technic. Results. Comparative study of 25 cases of injury with 165 cases including all etiologies]. J Fr Ophtalmol. 1987;10(4):323-9. French. Adenis JP, Mathon C, Franco JL, Lebraudo P. Dacryocystorhinostomy for post-traumatic lacrimal stenosis: a study of 25 cases. Orbit. 1987;6(2):135-7. Schellini SA, Itoda LK, Silva MRBM. Dacrioestenose: análise dos casos atendidos em nosso serviço. Rev Bras Oftalmol. 1990;49(6):43-8. 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O sangramento decorreu principalmente pela lesão da mucosa nasal provocada pelo osteótomo de Citelli no momento da osteotomia do osso nasal. Os fatores que podem influenciar no índice de sucesso da dacriocistorrinostomia externa, além dos fatores intraoperatórios, salientamos: obstrução do canalículo comum, localização e tamanho da janela óssea, cicatrização da rinostomia, doença sistêmica ativa e outras(3). No Setor de Vias Lacrimais da UNIFESP, não utilizamos a entubação nasolacrimal com sylastic como rotina nas cirurgias, contudo é utilizada somente nos casos de reoperação. Segundo a literatura, os índices de sucesso com a entubação nasolacrimal é de 91,6% a 95,0% e de 2% nas reoperações(9). CONCLUSÕES Neste trabalho, o índice de sucesso obtido por esta técnica cirúrgica foi grande, podendo afirmar que a dacriocistorrinostomia externa oferece ótimos resultados. REFERÊNCIAS 1. 2. Toti A. 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We describe the use of TB as an alternative vital dye for staining the ocular surface to assess the integrity of superficial cell layers of the cornea and the surface environment. This facilitates the diagnosis of various ocular surface disorders, including screening for dry eye disease (DED) among refractive and cataract patients. TB staining properties are different from fluorescein and both are stable in a solution, so that a double staining technique is introduced. Keywords: Eye diseases/surgery; Ophthalmologic surgical procedures; Trypan blue/diagnostic use; Staining and labeling/methods; Case reports RESUMO Diferentes aplicações do azul de tripano (AT) foram descritas para cirurgia intraocular, com elevados patamares de eficácia e segurança. Neste relato, é descrito a aplicação do AT como corante vital para superfíce ocular, de modo a estudar a integridade das células da superfície corneana e conjuntival na superfície ocular. Tal abordagem permite um diagnóstico mais sensível de desordens da superfície ocular, destacando-se disfunção lacrimal ou síndrome do olho seco. O AT tem propriedades distintas da fluoresceína, com a qual se mantém estável em solução permitindo a técnica de coloração dupla que é introduzida. Descritores: Oftalmopatias/cirurgia; Procedimentos cirúrgicos oftalmológicos; Azul tripano/uso diagnóstico; Coloração e rotulagem/métodos; Relatos de casos 1 Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brazil; Corneal Tomography and Biomechanics Study Group - Rio de Janeiro (RJ), Brazil; 3 Doheny Eye Institute - Los Angeles, California - USA; 4 Price Vision Group - Indianapolis - USA; 5 Universidade Federal de São Paulo - (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brazil 2 Interest conflitct - None Recebido para publicação em: 10/10/2011 - Aceito para publicação em 29/11/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 408-10 409 Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye Figure 1A: Trypan blue staining of dry eye patient with Sjogrens Syndrome; 1B - Staining of LASIK induced neurotrophic epitheliopathy(LINE); 1C - Staining of conjunctiva in a patient with contact lens intolerance who suffered dry eye symptoms Figure 2A: Staining of the lid margin with trypan blue; 2B - Double staining of a recurrent corneal erosion with TB dye and fluorescein; 2C - Double staining in a patient with epidermic keratoconjunctivitis INTRODUCTION METHODS biquitous in ophthalmology, vital dyes that stain living tissues including trypan blue, fluorescein, rose bengal, indocyanine green and lissamine green have all facilitated diagnostic and surgical techniques. Trypan blue (TB), an anionic hydrophilic azo dye, is in wide use particularly for staining the capsule during cataract surgery and aiding vitreoretinal surgery(1). TB dye was first introduced in cataract surgery by Melles(2), and was advocated for all cataract cases in Brasil by Dr. Carlos G. Figueiredo in 2000. Our group adopted this approach in cataract surgery, and it was incidentally noted that TB dye would stain conjunctival and corneal surfaces, particularly in those with poor ocular surfaces. Despite having several dyes that stain ocular surface tissues preferentially, a poor ocular surface can be a diagnostic challenge since symptoms are not always associated with clinical findings(3). A poor ocular surface is the leading cause of dissatisfaction after LASIK and cataract surgery(4). We present a case series evaluating trypan blue’s ability to stain the ocular surface. A cohort of seven patients with known ocular surface disorders were included in this case series. Informed consent was obtained, and the study was in accordance with the Declaration of Helsinki tenets. TB dye used was obtained from Ophthalmos pharmaceuticals (São Paulo, Brasil) at a concentration of 1%. Patients had the dye instilled in their conjunctival cul-de sac and were examined under the slit lamp using red-free or Amber UV cut free filters. Ocular surface staining was observed and photographed. A combination solution consisting of fluorescein and trypan blue 1% (50/50 mixture) was also obtained from ophthalmos and used in select patients. U RESULTS Our series revealed no significant ocular irritation on exam and elicited no complaints with instillation of TB dye. In figure 1A, a patient with poor ocular surface and Sjogrens syndrome, TB dye demonstrated staining of the cornea and conjunctiva. TB dye also revealed fine staining of a poor ocular surface in a LASIK induced neurotrophic Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 408-10 410 Ambrósio Jr. R, Ahmad H, Diogo Caldas D, Canedo ALC2, Valbon B, Guerra FP, Lima AAS epitheliopathy (line), figure 1B, and in a case of contact lens intolerance with dry eyes, figure 1C. TB dye was also able to stain the everted lids well, figure 2A, particularly the marginal conjunctival epithelium. We also applied a mixture of both trypan blue 1% and fluorescein in two patients. Figure 2B illustrates a recurrent corneal erosion in lattice dystrophy exhibiting well-defined staining of the edges with TB dye, and fluorescein staining of the bare stroma. This combination solution revealed two distinct staining patterns delineating superficial punctate keratitis very well in a patient with epidermic keratoconjunctivitis, figure 2C. DISCUSSION Vital dye staining of the ocular surface was first described in 1882 by Pflüger when sodium fluorescein allowed visualization of an epithelial defect(5). Dyes have since played a critical role in ocular surface grading. Trypan blue has many applications including use in cataract surgery, endothelial keratoplasty, and vitreoretinal surgery. However, the study of TB dye for the ocular surface has been neglected since the original article by Norn in 1967(6). Trypan blue has many important applications in intraocular surgery and is very popular for facilitating capsulorrhexis(2,7). Our research demonstrates that TB dye is also efficient at staining conjunctival and corneal surfaces in those with poor ocular surfaces. Of particular interest, is TB dye’s complementary staining pattern in a double solution with fluorescein. This solution has broad implications in cataract and refractive surgery, dry eye management, diagnosing corneal herpetic disease, and aiding ocular surface surgery. Trypan blue presents an ideal and promising adjunct dye for the ocular surface given its wide availability, cost and Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 408-10 proven safety profile. Further studies evaluating the sensitivity of TB staining of the ocular surface as well as correlating its findings with severity of symptoms are required. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Rodrigues EB, Costa EF, Penha FM, Melo GB, Bottós J, Dib E, et al. The use of vital dyes in ocular surgery. Surv Ophthalmol. 2009;54(5):576-617. Melles GR, de Waard PW, Pameyer JH, Houdijn Beekhuis W. Trypan blue capsule staining to visualize the capsulorhexis in cataract surgery. J Cataract Refract Surg. 1999;25(1):7-9. Machado LM, Castro RS, Fontes BM. Staining patters in dry eye syndrome: rose bengal versus lissamine green. Cornea. 2009;28(7):732-4. 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Corresponding author: Renato Ambrósio Jr, MD, PhD Rua Conde de Bonfim, nº 211/712 - Tijuca CEP 20520-050 - Rio de Janeiro (RJ), Brazil e-mail: [email protected] (Dr. Ambrósio is a consultant for Oculus) ** Awarded 2010 American Society of Cataract and Refractive Surgery (ASCRS) Film Festival Award ** and at the 2010 Alcon Film Festival at International Meeting of the Brazilian Societies of Cataract and Refractive Surgery (BRASCRS) ARTIGO ORIGINAL411 Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura Dermofat graft in secondary anophthalmic socket – a retrospective study and literature review Silvia Narikawa1, Silvana Artioli Schellini2, Carlos Roberto Padovani3 RESUMO Objetivo: Avaliar o uso do enxerto dermoadiposo no tratamento da cavidade anoftálmica. Métodos: Estudo retrospectivo, do qual participaram 28 portadores de cavidade anoftálmica secundária, tratados com enxerto dermoadiposo. Os dados avaliados foram: idade, sexo, motivo da primeira cirurgia, tipo de cavidade, razão da opção pelo enxerto dermoadiposo, resultados e complicações. Os dados foram analisados segundo a frequência de ocorrência. Resultados: dos 28 pacientes analisados, 19 (67,8%) eram do sexo masculino, 46,4% deles apresentando de 40 a 60 anos de idade. A principal causa da perda do olho foi o trauma (7 casos – 25,0%). A cavidade onde mais se empregou o enxerto dermoadiposo foi a do tipo III (32,1%). Como primeira cirurgia, a evisceração havia sido realizada em 13 casos, a enucleação em 11 e o enxerto de pele em dois pacientes e em outros dois, não havia informação sobre a primeira cirurgia a que haviam sido submetidos. A opção pelo enxerto dermoadiposo foi feita com a finalidade de repor volume na cavidade e, ao mesmo tempo, conseguir maior superfície anterior da cavidade, já que a maioria possuía cavidades contraídas. A maioria dos pacientes (53,6%) não apresentou complicações, tendo sido a necrose do enxerto a complicação mais observada (32,1%). O resultado final da cirurgia foi considerado bom em 71,4% dos pacientes e ruim em 7,1%. Conclusão: O enxerto dermoadiposo é uma técnica cirúrgica simples e de bons resultados para reposição de volume em cavidades anoftálmicas. Os autores estimulam o ensino da mesma nos serviços de treinamento de jovens cirurgiões. Descritores: Anoftalmia/cirurgia; Implantes orbitários/métodos; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos; Tecido adiposo/transplante 1 Professora Assistente do Departamento de OFT/ORL/CCP, Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Botucatu (SP), Brasil; 2 Professora Titular do Departamento de OFT/ORL/CCP, Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Botucatu (SP), Brasil; ³ Professor Titular do Departamento de Bioestatística, Instituto de Biociências da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Botucatu (SP), Brasil. Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Botucatu (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 8/12/2010 - Aceito para publicação em 2/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 411-5 412 Narikawa S, Schellini SA, Carlos Roberto Padovani CR ABSTRACT Purpose: To evaluate the dermofat graft in the anophthalmic socket treatment. Methods: A retrospective study including 28 anophthalmic cavity carriers treated with dermofat graft was carried out. The patients were analyzed according to age, sex, socket contraction degree, first surgery performed, reason for graft choice, procedure´s results and complications. The data were analyzed according to the frequency of occurrence. Results: Nineteen (67.8%) of the 28 analyzed patients were male. According to age the majority of patients were between 40 to 60 years old (13 patients – 46.4%) and the most common cause of eyeball loss was trauma (seven cases – 25%). Anophthalmic socket type III was the most frequently observed (32.1%). The evisceration was the first procedure in 13 cases, enucleation in 11 and skin graft was done in two patients. Two patients came to the service after evisceration and did not provide any information about the first surgery. The choice to use the dermofat graft was to replace volume at the socket of 12 patients (42.8%). Most of the patients (53.6%) had no complications and graft necrosis was the problem most frequently observed (32.1%). The surgery was considered good in 71.4% and not good in only 7.1%. Conclusion: the dermofat graft is an efficient and easy technique to reconstruct the anophthalmic cavity. The authors suggest this procedure must be introduced in the medical training services since it provide good results. Keywords: Anophthalmos/surgery; Orbital implants/methods; Reconstructive surgery procedures; Adipose tissue/transplantation INTRODUÇÃO A cavidade anoftálmica é uma realidade presente nos serviços especializados em plástica ocular(1). A cirurgia de enucleação ou evisceração altera a anatomia e a fisiologia da órbita, levando a deformidades em consequência da perda de volume, com mobilização dos tecidos da cavidade orbitária, assim como a contração dos músculos extraoculares. Estas alterações compõem o quadro clínico da síndrome da cavidade anoftálmica, interferindo, inclusive com a posição da pálpebra(2). A cavidade anoftálmica pode ser classificada segundo o grau de contração da mucosa conjuntival e dos fundos de saco em: grau I quando não há contração e todos os fundos de saco são normais; grau II quando o fundo de saco inferior é raso; grau III, os fundos de saco inferior e superior são rasos; grau IV, todos os fundos de saco são rasos e grau V, quando existe a microorbitia(1,2). A reconstrução da cavidade anoftálmica leva em consideração diversos fatores como grau de contração da mucosa conjuntival, intensidade da falta de volume na órbita, se a reparação é primária ou secundária, entre outros(2). É importante que a reconstrução primária seja sempre priorizada para que se possa obter melhor resultado. A devolução de volume para a cavidade pode ser feita por meio de implantes aloplásticos de diversos formatos, integráveis ou não, compostos de diversos materiais. Materiais autólogos também têm sido sugeridos para este fim, como por exemplo, o enxerto dermoadiposo. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 411-5 Há muito tempo o enxerto dermoadiposo tem sido utilizado para a reconstrução de cavidades anoftálmicas primárias ou como tratamento secundário, após extrusão ou migração do implante ou no tratamento de cavidades contraídas e enoftalmo(3-8). O enxerto dermoadiposo é considerado um meio efetivo para repor volume orbitário permitindo mobilidade da prótese ocular, com baixa morbidade e resultado cosmético satisfatório(3,5), sendo a única opção para o tratamento de órbitas complicadas e cavidades contraídas(9). Além das vantagens que existem na utilização de tecidos autólogos, como a não necessidade de triagem para avaliar possível transmissão de doenças infecciosas e a dispensa os meios de conservação e transporte especiais, ainda existem vantagens adicionais, como a não possibilidade de extrusão ou migração do implante (como pode ocorrer com as esferas aloplásticas), dispensa o uso de material heterólogo para envoltório de implantes (como a esclera), com possibilidade de resultados cosméticos e funcionais muito bons(4,9). Como desvantagens do método apontam-se a necessidade de se trabalhar em dois sítios (um doador e um receptor), o que torna a cirurgia mais extensa, além da redução gradativa do volume implantado ao longo do tempo. Um estudo comparando a mobilidade da prótese externa sobre o enxerto dermoadiposo ou implante de esferas sintéticas, mostrou mesma mobilidade nos dois grupos, embora o grupo com enxerto dermoadiposo primário tenha fornecido maior movimento e fundos de saco mais amplos(10,11). Outro estudo no qual foram avaliados 118 enxer- Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura tos dermoadiposos, dos quais 51 primários e realizados após enucleação, 19 após migração de implantes prévios, 19 para correção de deformidades do sulco palpebral superior e nove para expansão de cavidades contraídas, mostrou que o enxerto dermoadiposo foi efetivo para a manutenção do volume orbitário, conservando, ainda, os fundos de saco conjuntivais(12). Embora a atrofia do enxerto não ocorra com muita frequência, este fenômeno é mais comum nos secundários(12.13), principalmente quando houve danos químicos ou outras causas que resultem maior contração da cavidade. O único caso de atrofia importante de enxerto primário foi notado 30 meses após o procedimento(12). Atrofia do enxerto primário ocorre em menos de 10% dos casos e em secundários, em menos de 30%(11). Para outros, o enxerto dermoadiposo autólogo sobrevive melhor, com menor perda de volume, quando implantado dentro da cápsula de Tenon(14), imediatamente após a remoção do bulbo ocular, com a anastomose dos músculos retos no enxerto(13) e quando o diâmetro anterior do enxerto não ultrapassa 22 mm.Além da sutura dos músculos retos, a sobrevivência do enxerto depende também de sua vascularização precoce e da qualidade da cavidade(6). Estudo envolvendo 60 cavidades, nas quais foi utilizado enxerto dermoadiposo, mostrou como complicações do procedimento: sete pacientes com falha no recobrimento conjuntival com desenvolvimento de ulceração central, 10 casos com enoftalmo, dois com secreção crônica e descamação, três com granuloma conjuntival, um com infecção do enxerto e um com hematoma do sítio doador. A maioria das complicações ocorreram em cavidades severamente traumatizadas ou quando os portadores de cavidades apresentavam doença sistêmica(15). Complicações como granulomas piogênicos e hirsutismo do enxerto podem ser facilmente controladas(13). Desta forma, fica claro que a literatura aponta muitas vantagens para o uso do enxerto dermoadiposo na reconstrução da cavidade anoftálmica, assim como a possibilidade de se ter algumas complicações. O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar os casos de cavidade anoftálmica nos quais foi realizado enxerto dermoadiposo como procedimento secundário, a fim de verificar como foi a resposta ao emprego desta técnica. MÉTODOS Estudo retrospectivo, realizado na Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP, São Paulo. Foram avaliados 28 portadores de cavidade anoftálmica secundária, nos 413 quais foi empregada a técnica de enxerto dermoadiposo. Os indivíduos foram operados no período de 2001 a 2006, com seguimento mínimo de seis meses. Os pacientes foram avaliados segundo idade, sexo, tipo de cavidade, primeira cirurgia realizada, causa da opção pelo enxerto, resultado do procedimento e complicações. Os resultados foram avaliados com exame clínico dos pacientes. Todos os pacientes foram operados segundo a mesma técnica operatória: remoção do enxerto da região glútea usando bisturi e tesoura, após ter sido feita a remoção das camadas superficiais da pele em profundidade estimada pela observação de gotículas de sangue, sinal de se ter atingido a derme. O tamanho do enxerto foi variável, de acordo com a necessidade do paciente. Na cavidade orbitária foi feita a abertura da conjuntiva e Tenon com tesoura, criando-se um espaço onde seria colocado o enxerto usando tesoura de Metsembaum. Em seguida, o enxerto era suturado com a Tenon e a conjuntiva usando fio inabsorvível trançado 6-0 (Mersilene, Ethicon), em pontos contínuos. Os dados foram obtidos a partir da análise dos atendimentos ambulatoriais no serviço de Plástica Ocular e descrições cirúrgicas, ambos contidos no prontuário de cada paciente. Dois dos autores acompanharam os atendimentos de todos os indivíduos incluídos no estudo. A análise dos resultados foi feita usando-se técnica da frequência de ocorrência. RESULTADOS Dos 28 pacientes analisados, 19 (67,8%) eram do sexo masculino e nove (32,1%) do sexo feminino. A faixa etária de maior frequência de ocorrência foi a de 40 a 60 anos (13 pacientes - 46,4%), seguida por idade maior que 60 anos (nove pacientes), entre 20 – 40 anos (quatro casos) e apenas um caso com idade inferior a 20 anos (Gráfico 1). Quanto à causa da perda do bulbo ocular, o trauma foi responsável por sete casos (25,0%), seguido pelo glaucoma absoluto e phthisis bulbi, com cinco casos cada (17,8%), infecção e tumor com três casos cada (10,7%) e um paciente com anoftalmia congênita. A causa da perda do bulbo não foi relatada em quatro pacientes (14,3%) (Gráfico 2). A avaliação da cavidade anoftálmica mostrou que nove casos (32,1%) eram do tipo III, três (10,7%) do tipo IV, três (10,7%) do tipo II e apenas dois (7,1%) do tipo I. Os demais pacientes analisados não apresentavam o registro deste dado no prontuário. O enxerto dermoadiposo foi indicado como técnica Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 411-5 414 Narikawa S, Schellini SA, Carlos Roberto Padovani CR Quanto às complicações, a maioria dos pacientes (53,6%) evoluiu sem nenhuma complicação. Dos demais, nove (32,1%) apresentaram necrose do enxerto, quatro (14,3%) tiveram deiscência da sutura e dois (7,1%) evoluíram com granuloma conjuntival no pós-operatório. A avaliação dos pacientes foi feita por período mínimo de seis meses. Neste período, avaliando-se subjetivamente os pacientes, o volume do enxerto parecia mantido. O resultado final da cirurgia foi considerado bom em 20 (71,4%) pacientes e ruim, em apenas dois (7,1%). Seis pacientes perderam o seguimento, não tendo sido avaliados neste quesito. Gráfico 1: Distribuição dos portadores de cavidade anoftálmica tratados com enxerto dermoadiposo segundo faixa etária – UNESP, 2010 Gráfico 2: Distribuição dos portadores de cavidade anoftálmica que foram tratados com enxerto dermoadiposo segundo as causas da perda do bulbo ocular – UNESP, 2010 a ser executada como segundo procedimento em todos os pacientes, os quais haviam sido submetidos primariamente a evisceração em 13 casos, contra 11 casos de enucleação e dois de enxerto de pele. Em dois casos o paciente chegou ao serviço após a remoção do bulbo ocular, sem informações sobre a primeira cirurgia a que havia sido submetido. A opção pela cirurgia de enxerto dermoadiposo foi feita por falta de outros meios para repor volume na cavidade de 12 pacientes (42,8%). Os demais tiveram a indicação por cavidade contraída (sete casos – 25,0%), extrusão da prótese (sete casos – 25,0%) ou deiscência de sutura (dois casos – 7,1%). DISCUSSÃO O enxerto dermoadiposo é uma técnica que é usada há muitos anos com o intuito de devolver volume para a cavidade anoftálmica. Em qualquer estudo que envolva cavidade anoftálmica, o sexo masculino será sempre o predominante, em decorrência da atividade laborativa, além da maior exposição a trauma por acidentes em esportes e recreação. O mesmo comentário é válido para faixa etária, quando a faixa etária de adultos jovens sempre será a mais acometida, seguida pelos idosos, os quais estão expostos também a trauma e cirurgias oculares para o tratamento de alterações involucionais. Da mesma forma, o trauma será a causa mais frequente de perda do bulbo na maioria das casuísticas, ou seja, a população acometida reflete o perfil de pessoas expostas e que evoluem com perda do órgão da visão. Com relação ao tipo de cavidade que levou a indicação do enxerto dermoadiposo, é conduta do serviço usar o enxerto dermoadiposo quando as cavidades possuem contração da mucosa conjuntival, condição na qual a colocação de implantes aloplásticos ou próteses externas não é possível em decorrência da contração dos fundos de saco. É relevante considerar que não é rotina no serviço suturar os músculos retos ao enxerto e, mesmo assim, a sobrevivência do enxerto é grande. Entretanto, a literatura(10,14) aponta para taxas maiores de sucesso quando se sutura os músculos extrínsecos ao enxerto dermoadiposo por maior irrigação para o enxerto e também pela possibilidade de ter melhor transmissão de movimento dos músculos para a prótese externa. Apesar de a indicação da técnica ter sido feita mais frequentemente por se tratar de cavidades contraídas, quando a técnica é utilizada para devolução de volume, ao mesmo tempo que aumenta a superfície ante- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 432-6 Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura rior da cavidade e facilita a adaptação da prótese externa, em número expressivo de casos foi optado pelo enxerto dermoadiposo por inexistência de esferas aloplásticas no mercado. Este é um fato que está se tornando frequente nos últimos anos, principalmente devido às normas regulatórias da Anvisa, deixando os hospitais sem opção de materiais a preços aceitáveis para tratamento das cavidades anoftálmicas de usuários do Sistema Único de Saúde, que é o caso de nossa clientela. Quanto às complicações, 32,1% dos pacientes tiveram necrose do enxerto de diferentes graus de intensidade. Este problema pode decorrer de má técnica operatória (manipulação excessiva do enxerto), presença de infecções que podem estar presentes e inclusive causando a perda do olho, além de possíveis problemas sistêmicos no portador de cavidade anoftálmica (diabetes, hipertensão, colagenoses). Acrescente-se ainda, o fato de que a nossa casuística resulta de cirurgias realizadas por jovens cirurgiões e que estão em treinamento no curso de Residência Médica. Provavelmente, o número de complicações será mais reduzido em mãos experientes. Importante ressaltar que a necrose foi pequena em vários indivíduos, o que não influenciou no resultado final. Assim também a deiscência de sutura, que pode ter boa resolução, observada em alguns de nossos pacientes, não necessitando sistematicamente de reintervenção. Os granulomas que podem ocorrer nas cavidades que recebem enxerto dermoadiposo podem ser removidos com facilidade. Em geral, os granulomas decorrem de fios de sutura que não são removidos totalmente ou pela persistência de glândulas secretoras no enxerto, inadequadamente removidas quando do preparo do enxerto que deve ter os componentes da epiderme todos removidos. O mesmo pode-se dizer do hirsutismo e de secreção abundante na cavidade que, embora não tenham sido observados em nossos pacientes, podem resultar de preparo inadequado dos enxertos. A avaliação do quanto e da velocidade da perda de volume nas cavidades tratadas com enxerto dermoadiposo é classicamente reportada e tida como um ponto negativo. No entanto, não há trabalhos científicos randomizados que demonstrem realmente qual é o ritmo de absorção ou de degeneração da gordura implantada. Além disso, a observação deve ser feita a longo prazo. Embora no presente estudo, a avaliação tenha sido feita subjetivamente, pode-se dizer que, com o período de observação mínimo de seis meses, não houve redução significativa do volume do enxerto. Concluindo, o enxerto dermoadiposo foi aplicado com sucesso na maioria dos indivíduos que compuseram o nosso estudo. Apesar do nosso serviço ser referência na Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 432-6 415 região para tratamento de portadores de cavidade anoftálmica, nossa casuística de pacientes tratados com enxerto dermoadiposo é pequena, demonstrando que mesmo tratando-se de uma técnica simples e eficiente esta ainda é pouco realizada. Portanto, é uma técnica que deve ser ensinada nos serviços de treinamento de jovens cirurgiões, tendo em vista a possibilidade de proporcionar bons resultados para a maioria dos pacientes que dela necessitam. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Soares EJC, Dantas RRA, Marback R, Matayoshi S, França VP. Cavidades anoftálmicas. In: Soares EJC, Moura EM, Gonçalves JOR, editores. Cirurgia plástica ocular. São Paulo: Roca; 1997. p. 327. Fernandes JBVD. Cavidade anoftálmica. In: Kara-José N, editor. 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Endereço para correspondência: Silvia Narikawa Departamento de OFT/ORL/CCP – Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP – CEP 18618-000 - Botucatu (SP), Brasil Tel: (14) 38116256 e-mail: [email protected] RELATO 416 DE CASO Síndrome Sjögren – Larsson Sjögren – Larsson syndrome Leonardo Portela Rabello1, Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão2, Joana Gurgel Holanda Filha3, Erlane Marques Ribeiro4, Daniele Roma Dias5, Luciana Portela Rabello6 RESUMO Relatam-se os casos de dois irmãos consanguíneos com síndrome de Sjögren- Larsson, enfatizando a importância clínica do exame oftalmológico. BPLS, masculino, 11 anos e MBLS, feminino, 10 anos, irmãos de pais nãoconsanguíneos, apresentando ictiose congênita, diplegia espástica e retardo mental. Ao exame oftalmológico, apresentavam miopia, fotofobia, baixa acuidade visual. A fundoscopia, presença de cristais branco-amarelados em área foveal e parafoveal em ambos os olhos. Aconselhamento genético foi realizado. O manejo foi de suporte. A Síndrome de Sjögren-Larsson é uma rara doença autossômica recessiva em que há 100% de penetrância. Síndrome de SjögrenLarsson é classicamente caracterizada por ictiose, espasticidade e deficiência mental. A doença é causada por mutações no gene aldeído desidrogenase. As alterações oculares observadas são geralmente bilaterais, cristais branco-amarelados em área retiniana, que aparecem nos dois primeiros anos de vida e que vão aumentando em número com a idade. As anormalidades oculares não têm relação com a severidade da ictiose ou com as anormalidades neurológicas. Acredita-se que as lesões oftalmológicas sejam um sinal patognomônico da síndrome. É necessário enfatizar a importância do diagnóstico precoce e possibilidades de tratamento dietético. Descritores: Síndrome de Sjögren-Larsson; Espasticidade muscular; Ictiosis; Retardo mental; Degeneração macular; Relato de caso ABSTRACT Sjogren – Larsson syndrome is a rare autosomal recessively inherited neurocutaneous disorder which occurs with 100% penetrance and is classically characterized by ichthyosis, spasticity and mental handicap. The disease is caused by mutations in the aldehyde dehydrogenase gene. The ocular manifestations are highly characteristic bilateral, glistening yellow-white retinal dots from the age of 1 to 2 years onward. The number of dots increases whit age. The extent of the macular abnormality does not correlate with the severity of the ichthyosis or with the severity of the neurological abnormalities. We report the clinical characteristics and ocular manifestations associated with the Sjögren-Larsson syndrome in two siblings, emphasizing the clinical importance of the ophthalmological examination of the Sjögren-Larsson syndrome. BPLS, a eleven year old boy and MPLS, a ten year old girl from non-consanguinous parents, presenting congenital ichthyosis, spastic diplegia and mental retardation. Miopia, fotofobia, subnormal visual acuity and glistening yellow-white crystalline deposits that were located in the foveal and parafoveal area were found in the ophthalmologic examination. Keywords: Sjogren-Larsson syndrome; Muscle spasticity; Ichthyosis; Mental retardation; Macular degeneration; Case report 1 Residente do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade Federal do Ceará (UFC) - Fortaleza(CE), Brasil; 2 Doutor, professor substituto de Oftalmologia da Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC) – Fortaleza(CE), Brasil; 3 Preceptora do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade Federal do Ceará (UFC) – Fortaleza (CE), Brasil; 4 Médica geneticista do Hospital Geral César Cals e Hospital Infantil Albert Sabin – Secretaria de Saúde do Estado do Ceará – Fortaleza (CE), Brasil; 5 Residente do terceiro ano do serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio, Universidade Federal do Ceará (UFC) – Fortaleza (CE), Brasil; 6 Acadêmica de medicina da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – Juazeiro do Norte (CE), Brasil. Trabalho realizado na Universidade Federal do Ceará (UFC) - Fortaleza(CE), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 7/6/2010 - Aceito para publicação em 30/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 416-8 417 Síndrome Sjögren – Larsson INTRODUÇÃO E m 1957, Sjögren-Larsson descreveu uma síndrome caracterizada por ictiose congênita, diplegia de membros inferiores ou tetraplegia espástica e retardo mental. A doença ocorre em 1:100.000 nascimentos, sendo mais comum em caucasianos. Não há prevalência entre os sexos, pois a doença é herdada de forma autossômica recessiva (MIM* 270200) (1,2). A Síndrome de Sjögren-Larsson (SSL) tem sido classificada como um erro inato do metabolismo caracterizado por um defeito enzimático na oxidação do álcool-graxo. O gene da SSL (aldeído desidrogenase) foi identificado no 17p11.2, próximo ao gene da neurofibromatose tipo I, e tem 30,5 Kb e 10 exons. Mais de 11 diferentes mutações foram encontradas nesse gene, causando a SSL. Os estudos bioquímicos revelaram a deficiência da enzima NAD+ oxidoredutase em portadores e afetados pela SSL. A relação entre o defeito enzimático e o quadro clínico ainda não está esclarecida(1,2). Os estudos moleculares e as novas perspectivas de tratamento têm levado uma esperança para famílias de portadores de SSL. A melhoria da qualidade de vida desses pacientes depende das estratégias de tratamento delimitadas pelos médicos e pela família. Portanto, é importante o reconhecimento do quadro clínico da SSL para que o diagnóstico precoce seja seguido de um tratamento com maiores chances de sucesso(3). O objetivo desse artigo é relatar o caso de dois irmãos com SSL e enfatizar a importância do exame oftalmológico para diagnóstico precoce. DESCRIÇÃO BPLS, 10 anos, masculino, branco e MBLS, 9 anos, feminina, branca, procedente de Caucaia - CE, filhos de pais não consanguíneos. As crianças nasceram de parto normal, a termo, apresentando ictiose desde o período neonatal e atraso de desenvolvimento neuropsicomotor. O exame físico de BPLS revelou ictiose generalizada, com predomínio em áreas de flexão, dentes espaçados, dificuldade para deambular, espasticidade em membros inferiores, retardo mental, aumento de reflexos tendinosos profundos, dificuldade na fala e déficit de coordenação motora. O exame oftalmológico de BPLS mostrou, acuidade visual com correção (AVC) de 0.6 em ambos os olhos (AO), miopia moderada (3 d dioptrias), movi- mentos e reflexos oculares normais. Biomicroscopia, papilas conjuntivais em AO, córnea e cristalinos transparentes. Fundoscopia, presença de cristais branco-amarelados em área foveal e parafoveal (Figura 1) O exame físico de MBLS mostrou pele com aspecto de ictiose, porém mais leve do que a do irmão. O retardo mental leve. O exame oftalmológico, AVC de 0.6 em AO, miopia moderada (3D), presença de cristais branco-amarelados em área parafoveal à fundoscopia (Figura 2). A evolução de ambos tem sido com piora gradual e lenta do quadro neurológico. O aconselhamento genético foi realizado. DISCUSSÃO A SSL é uma doença genética rara, de herança autossômica recessiva, em que há penetrância completa, expressividade variável e que se caracteriza por ictiose congênita, diplegia espástica de membros inferiores e retardo mental(4). As alterações neurológicas das crianças com SSL são graves. Devido à retração fibrotendínea e à hipotrofia muscular, os afetados podem ser impedidos de deambular, o que ocorre em 75% dos casos. A espasticidade nas fases avançadas da doença pode atingir os membros superiores e a região perioral, dificultando a fala e a alimentação. O retardo mental é acentuado. Em alguns casos há crises convulsivas(5). A ictiose é generalizada, presente desde o nascimento e mais visível no primeiro ano de vida(3,6), sendo mais grave em áreas de flexão e nas regiões palmo-plantares, como nos casos que descrevemos. As manifestações oculares incluem pontos cintilantes, branco-amarelados, em área macular da retina, de causa não conhecida. A presença destes cristais foveais e parafoveais é de importância cardeal e, provavelmente, um sinal patognomônico desta síndrome. Pode haver também miopia moderada, blefarite, conjuntivite e fotofobia(3,7,8). Outras anomalias são baixa estatura, hipertelorismo, dentes afastados, hipoplasia do esmalte dentário e cifoescoliose.(3) Apenas o caso 1 mostrou ao exame clínico a presença de dentes espaçados. As outras anomalias não foram detectadas nos casos que descrevemos. O diagnóstico diferencial da SSL deve ser feito com paralisia cerebral, pelo comprometimento neurológico, síndrome de Rud, por convulsão, retardo mental, ictiose congênita, sem espasticidade e síndrome DeSantis-Cacchione, pelo comprometimento neurológi- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 416-8 418 Rabello LP, Aragão REM, Holanda Filha JG, Ribeiro EM, Dias DR, Rabello LP Figura 1: Retinografia com presença de cristais branco-amarelados na área foveal e parafoveal do olho esquerdo do paciente BPLS na idade de 10 anos Figura 2: Retinografia com presença de cristais branco-amarelados em região foveal e parafoveal do olho direito do paciente MBSL na idade de 9 anos co e dermatológico, além da ictiose vulgar, em que o comprometimento neurológico está ausente e síndrome de Refsum, em que há ictiose, ataxia e polineuropatia(4,5,7). O prognóstico depende das anomalias neurológicas. A sobrevida é em torno de 30 anos de idade(3,5). O diagnóstico pré-natal e de heterozigotos é possível a partir de estudos moleculares com a identificação da mutação específica da família em questão ou da deficiência enzimática, onde a atividade da NAD+oxidoredutase é diminuída. (1,9) O exame oftalmológico é de suma importância, pois as alterações oculares ocorrem logo nos primeiros anos de vida, sendo necessário tratamento dos erros refrativos, ambliopia e, muitas vezes, reabilitação visual. O tratamento é sintomático. Têm sido propostos tratamentos novos para SSJ, incluindo a restrição de gordura e suplementação com triglicerídeos de cadeia média. O uso de etretinato, na dose de 0,25mg/Kg, pode reduzir o prurido dos pacientes. É indicada escolarização em classe especial ou inclusiva(2). No caso de SSL, o aconselhamento genético é imperativo(9). 4. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Online Medelian Inheritance in Man - OMIN. [Internet]. [cited 2004 Ago 30]. 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Alguns conceitos de física e cuidados durante o mergulho são reportados para um melhor entendimento da fisiopatogenia do quadro, de modo que se possa melhor orientar os pacientes quanto à prevenção. Descritores: Barotrauma/etiologia; Mergulho/efeitos adversos; Hemorragia ocular; Lesões oculares; Conjuntiva/lesões; Relato de caso ABSTRACT Report of a case of bilateral ocular barotrauma related to scuba diving, with conjunctival and periocular hemorrhage. Some concepts about Physics and caution are provided to better understanding the pathophysiology of the barotrauma, so proper orientation regarding prevention might be provided. Keywords: Barotrauma/etiology; Diving/adverse effects; Eye hemorrhage; Eye injuries; Conjunctiva/injuries; Case reports 1 Residentes de Oftalmologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - Universidade Federal do rio de Janeiro – (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 2 Doutor, Preceptor da Residência Médica em Oftalmologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do rio de Janeiro – (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro – (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 26/7/2010 - Aceito para publicação em 16/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 419-21 420 Sá MFA, Rodrigues MPM, Mendonça RC, Sá JCA INTRODUÇÃO O barotrauma ocular é uma condição potencialmente ameaçadora à visão, que pode ocorrer no mergulho autônomo (scuba diving), quando há diferença de pressão entre o interior da máscara e a coluna de água, em determinada profundidade, podendo haver acometimento dos olhos e estruturas perioculares. Pode ser desencadeado pela má adaptação da máscara ao rosto, bem como pela técnica de mergulho inadequada(1). É pouco descrito na literatura. No entanto, com a difusão da prática de mergulho deve se tornar frequente, sendo importante o conhecimento do oftalmologista acerca desta condição. Este relato descreve o caso de uma paciente que apresentou barotrauma binocular, durante a fase de descida do mergulho autônomo. Relato do caso Paciente de 25 anos, sexo feminino, branca, brasileira, natural e procedente de Brasília - DF, mergulhadora certificada pela PADI (Professional Association of Diving Instructors), procurou o setor de Oftalmologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), quatro dias após realização de mergulho autônomo. Relatou que, durante o mergulho, sentiu dor intensa nos dois olhos, ao atingir a profundidade de 12 metros. Neste momento, equalizou a máscara e a dor cessou, continuando o mergulho. Aos 20 metros, como não conseguia abrir os olhos, resolveu retornar à superfície, seguindo o procedimento padrão de descompressão. Na superfície, a paciente referiu “olhos inchados, vermelhos e doloridos”. Ao exame, apresentou: acuidade visual corrigida de 20/20 em ambos os olhos, motilidade ocular normal, edema e equimose periocular bilateral, de 2+/4+, hemorragia conjuntival de 2 a 3+/4+ (Figura 1), sendo o segmento anterior, o fundo de olho e a pressão intraocular normais. Foi tratada de forma conservadora, utilizando compressas frias e lubrificantes, evoluindo bem, com regressão total do quadro em 30 dias, sem sequelas visuais. DISCUSSÃO Mergulho autônomo é a prática que consiste em submergir utilizando equipamento autônomo de respiração. Por ter consigo uma fonte de ar comprimido, o Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 419-21 Figura 1: Barotrauma no 4º dia - hemorragia conjuntival e periocular mergulhador pode permanecer mais tempo submerso e ir a profundidades maiores do que na técnica livre ou de apnéia e também não precisa estar ligado à superfície por umbilicais de ar, como na técnica dependente ou semiautônoma. O mergulho autônomo é conhecido internacionalmente pelo termo scuba (“Self Contained Underwater Breathing Apparatus”)(2). Os danos sistêmicos devido ao mergulho autônomo, como a doença descompressiva e o barotrauma pulmonar, já são bastante conhecidos entre mergulhadores e médicos. No entanto, menos descritos na literatura são os danos oculares causados pelo mergulho, o barotrauma ocular(3). Com o aumento da popularidade do mergulho autônomo, esse tipo de exposição tornou-se mais frequente, não só por conta dos mergulhadores profissionais, mas também pelos que mergulham de forma recreativa, sem o conhecimento das técnicas corretas de mergulho. Para compreender a fisiopatologia do barotrauma ocular durante o mergulho autônomo é preciso ter em mente alguns princípios. Ao nível do mar, o corpo é exposto a 1 atmosfera (atm) de pressão, principal unidade utilizada. A magnitude dessa pressão também pode ser expressa em outras unidades, como por exemplo, milímetros de mercúrio (mmHg). A pressão atmosférica de 1 atm (760 mmHg) é comumente utilizada como referencial para determinação de outras pressões. Por exemplo, quando se registram 15 mmHg de pressão intraocular, na verdade significam 15 mmHg mais a pressão atmosférica do ambiente. Portanto, se medida ao nível do mar, a verdadeira pressão intraocular, no caso, seria de 775 mmHg. No entanto, a constante de 1 atm é desprezada para fins práticos(1). A resposta dos diferentes órgãos do corpo a mudanças de pressão depende da sua estrutura. Um órgão sólido ou preenchido por líquido não sofrerá alterações, desde que o líquido não seja compressível. Todavia, um órgão oco, preenchido por gás, com paredes elásticas, terá seu tamanho modificado, de acordo com a Lei de Boyle. Esta lei determina que o volume de determinada quan- 421 Barotrauma ocular durante mergulho autônomo tidade de gás é inversamente proporcional à pressão absoluta de exposição. Logo, o volume pulmonar será diminuído pela metade se exposto a 2 atm; a um quarto, se exposto a 4 atm e assim por diante(4). Os órgãos do corpo humano que contêm gás em seu interior têm uma capacidade limitada de alterar seu volume, o que não é um problema se a quantidade de gás dentro do espaço em questão conseguir se adaptar para compensar as mudanças de pressão(4). Outro conceito importante é o princípio de Pascal, pelo qual é definido que a pressão aplicada a um fluido represado é transmitida igualmente a todas as partes deste fluido, assim como às paredes que o cercam(5). Isso irá explicar o mecanismo do barotrauma ocular, quando se utiliza a máscara de mergulho. O olho é, em condições normais, preenchido por humor aquoso e humor vítreo (ambos não compressíveis) e tecidos moles, sendo, portanto, protegido do barotrauma. No entanto, uma vez que o mergulhador utiliza uma máscara, as condições se modificam. Ela cria um espaço preenchido por ar, no qual os olhos e anexos fazem parte de um todo. Conforme o mergulhador desce, se ele não expelir gás através do nariz (equalização), irá se desenvolver uma pressão negativa no interior da máscara, gerando uma diferença muito grande de pressão em relação à água, e os olhos e os tecidos perioculares serão sugados(1,6). Para que esse efeito seja minimizado, geralmente o mergulhador veste a máscara frouxa e realiza a equalização da máscara durante a descida. No caso dessa paciente, a máscara utilizada era nova, não permitindo um ajuste apropriado à face. Nesse sentido, não se devem utilizar máscaras que cobrem apenas os olhos e não o nariz, já que não é possível expirar no seu interior, tornando o barotrauma inevitável(6,7). Em casos moderados, pode haver apenas uma discreta marca da máscara sobre a face. Todavia, com a distensão e rotura de vasos sanguíneos e tecidos, podem ocorrer edema e equimose palpebrais significativos, além de hemorragia subconjuntival. Na maioria dos casos, o mergulhador/paciente evolui sem sequelas. Em casos mais severos podem se manifestar hemorragia orbitária, neuropatia óptica compressiva, hemorragias retinianas e/ou vítreas e retinopatia de Purtscher, o que pode ameaçar a visão(3,6). Há ainda que se considerarem os pacientes submetidos a cirurgias oftalmológicas(8). Aqueles com gás na cavidade vítrea (cirurgias vítreorretinianas) podem evoluir com hemorragia retiniana e vítrea e até mesmo com colapso do globo ocular, já que o volume do gás é modificado de acordo com a pressão a que o paciente é exposto. Em cirurgias recentes de córnea e catarata, há possibilidade de rotura das incisões e, para mergulhar, o paciente deverá aguardar um período que irá variar de acordo com o tipo de incisão(9,10). Pacientes submetidos à cirurgia filtrante de glaucoma podem ter comprometimento da função das fístula, se houver hemorragia subconjuntival e quemose, além da possibilidade de complicações mais graves, como colapso do globo ocular e hemorragia intraocular, em consequência de intensa e súbita hipotonia, devido à hiperfiltração pela fístula. Por ser uma entidade pouco descrita na literatura, não há trabalhos demonstrando a incidência específica de cada afecção ocular. No caso em questão, ocorreram apenas alterações hemorrágicas sem maior significado, talvez, em parte, pela condição de higidez ocular da paciente e o fato de o trauma ter ocorrido numa profundidade não muito grande. REFERÊNCIAS 1. Butler FK Jr. Diving and hyperbaric ophthalmology. Surv Ophthalmol. 1995;39(5):347-66. 2. Salahuddin M, James LA, Bass ES. SCUBA medicine: a firstresponder’s guide to diving injuries. Curr Sports Med Rep. 2011;10(3):134-9. 3. Yeoh R, Yeoh R, Singh M. 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Rashid ER, Waring GO 3rd. Complications of radial and transverse keratotomy. Surv Ophthalmol.1989;34(2):73-106. Autor correspondente: Maria Fernanda Abalem de Sá Rua General Renato Paquet, 199, apto 505, bloco II, Barra da Tijuca CEP 22793-060 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 3388-0895 Email: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 419-21 RELATO 422 DE CASO Neuropatia óptica isquêmica posterior como complicação pós-cirurgia de blefaroplastia Posterior ischemic optic neuropathy as a complication after blepharoplasty surgery Maria Helena Lopes Amigo1, Wagner Ghirelli2 RESUMO Descrevemos um caso de perda visual unilateral em paciente de 80 anos após cirurgia de blefaroplastia bilateral superior e inferior com o olho direito apresentando intensa hemorragia pré-orbitária. O exame oftalmológico apresentou quadro clínico de neuropatia óptica isquêmica posterior com hemianopsia superior e ressonância magnética de órbita normal. Comentamos alguns possíveis mecanismos e análise da evolução da camada de fibras nervosas retinianas pela tomografia de coerência óptica. Descritores: Cegueira; Blefaroplastia/efeitos adversos; Testes de campo visual/métodos; Neuropatia óptica isquêmica; Tomografia de coerência óptica; Relato de caso ABSTRACT A case of unilateral visual loss and right eye presenting intense pre-orbital bleeding was described in patient 80 years old, after upper and lower bilateral blepharoplasty surgery. Ophthalmologic examination showed clinical profile of posterior ischemic optic neuropath with superior hemianopsia and magnetic resonance imaging (MRI) of normal orbit. Comments are made on possible mechanism involved in the process as well as analysis on the evolution of the retinal nerve layer by optical coherence tomography. Keywords: Blindness; Blepharoplasty/adverse effects; Visual field tests/methods; Optic neuropathy, ischemic; Tomography, optical coherence; Case report 1 Médica residente do primeiro ano de oftalmologia do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; Médico chefe do departamento de retina e vítreo do Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil. 2 Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 5/11/2010 - Aceito para publicação em 4/7/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 422-5 Neuropatia óptica isquêmica posterior como complicação pós-cirurgia de blefaroplastia 423 INTRODUÇÃO A cirurgia de blefaroplastia é uma cirurgia muito realizada na plástica oftalmológica, sendo que uma das complicações mais graves relacionadas ao pós-operatório corresponde à perda parcial ou total da visão. Demere em 1974 publicou pela primeira vez uma estatística baseada em pesquisa realizada nos Estados Unidos, que mostrou uma incidência de 0,04% de perda súbita de visão após cirurgia de blefaroplastia(1). Em 1998, 1200 cirurgiões plásticos filiados a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica responderam um questionário sobre perda da visão após blefaroplastia, oito casos foram reportados, sendo que em nenhum deles a neurite óptica isquêmica posterior foi citada(2). Na literatura nacional brasileira sobre cirurgia plástica oftalmológica é citado à ocorrência de hematoma intraorbitário como causa de perda da função visual(3). Descreveremos a seguir um relato de caso sobre a perda visual unilateral pós-blefaroplastia causada por neurite óptica isquêmica posterior e seus possíveis mecanismos. Relato de caso Paciente, feminino, 80 anos, compareceu em nosso serviço dois dias após realização de blefaroplastia superior e inferior bilateral, apresentando intensa hemorragia pré-orbitária do lado direito e intensa dificuldade de abertura dos olhos. A paciente relatava ter sido operada duas vezes no mesmo dia do olho direito (OD) devido à hematoma intenso na pálpebra inferior. Nos antecedentes sistêmicos pessoais não apresentava: hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus e coagulopatia. Nos antecedentes oftalmológicos relatava episódio prévio de trombose venosa em olho esquerdo (OE). Ao exame oftalmológico apresentava acuidade visual (AV) em (OD) LogMAR 1.30 e (OE) LogMAR 0.40. Ao exame externo apresentava intensa quemose de pálpebra inferior e bulbo ocular com motilidade extrínseca normal e defeito pupilar aferente relativo +1 em OD. Não havia proptose. A biomicroscopia apresentava córnea clara, catarata nuclear +1/4 em OD e pseudofácica OE. A tonometria de aplanação no OD era de 14 mmHg e OE 20 mmHg. A fundoscopia em OD: sem alterações de nervo óptico e mácula, e OE: presença de vasos colaterais na papila (sequela de trombose da veia central da retina). Foram solicitados os seguintes exames: campimetria visual computadorizada, angiofluores- Figura 1: Campimetria computadorizada olho direito mostrando perda difusa da sensibilidade central com preservação relativa do setor nasal inferior Figura 2: Angiofluoresceinografia retiniana normal ceinografia, tomografia de coerência óptica (TCO) com análise de camada de fibras nervosas e ressonância magnética de órbita. A campimetria visual apresentou em OD: perda difusa da sensibilidade central com preservação relativa do setor nasal inferior (Figura 1), e em OE: Constrição do campo visual. A angiofluoresceinografia mostrou tempo circulatório normal e ausência de áreas de hipo ou hiperfluorescência anômalas e papila com fluorescência normal (Figura 2). A TCO de camadas de fibras nervosas dentro do padrão de normalidade na primeira visita e repetindo o exame após dois meses da cirurgia mostrou diminuição da camada de fibras nervosas nos quadrantes inferior e temporal (Figura 3). A ressonância magnética: bulbo ocular e estruturas intraorbitárias simétricas sem sinais de captação, nervo óptico e quiasma óptico sem alterações e parênquima encefálico sem evidências de anomalias (Figura 4). Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 422-5 424 Amigo MHL, Ghirelli W Figura 3: A) TCO na primeira semana pós-cirurgia mostrando espessura normal da camada de fibras nervosas; B) TCO no segundo mês com diminuição da camada de fibras nervosas nos quadrantes inferior e temporal (cor vermelha) DISCUSSÃO A neuropatia optica isquêmica posterior (NOIP, é uma entidade rara cujo diagnóstico deve afastar outras causas de neuropatia óptica retrobulbar, tais como inflamatórias, tóxicas e compressivas. A NOIP foi classificada em três subtipos (arterítica, não arterítica e perioperatório) por Sadda et al.(4), que revendo 72 pacientes com NOIP encontrou 28 póscirurgia sendo que 50% eram pós-cirurgia espinhal, e a outra metade era dividida em cirurgias cardíacas, cerebrovascular, ortopédicas, abdominal e oculares o que demonstra a baixa frequência pós-cirurgia pós-ocular(4). A paciente apresentou perda visual imediatamente após a cirurgia plástica no olho direito onde, segundo a paciente, sofreu duas intervenções no primeiro pósoperatório devido intenso edema na pálpebra inferior. O fato de no primeiro pós-operatório oftalmológico, que ocorreu no segundo pós-operatório, apresentar baixa visual com fundo de olho normal e defeito pupilar aferente caracterizou a neuropatia retrobulbar. O exame angioflurescêinográfico normal afastou a possibilidade de ter sido afetada a artéria central da retina como também a cabeça do nervo óptico. Os exames sanguíneos normais afastaram a causa inflamatória. A ressonância magnética de órbita que não mostrou hematomas, ou neoplasias afastou a causa compressiva. A campimetria computadorizada mostrando um padrão de perda difusa da sensibilidade central com preservação relativa do setor nasal inferior, vem complementar a suspeita de um processo vascular reforçando a hipótese diagnóstica de neuropatia óptica isquêmica posterior. A etiologia da perda da visão pós-blefaroplastia pode estar relacionado à hemorragia intraorbitária, o tipo de anestesia e a técnica cirúrgica utilizada(2,5-8). Os casos citados na literatura são os seguintes: glaucoma, uveíte, úlcera de córnea, leucoma, tumor hipofisário, compressão intraoperatória do bulbo ocular, celulite orbitária e hematoma intranervo óptico(2). Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 422-5 Figura 4: Ressonância magnética de órbita normal O mecanismo mais relatado na literatura internacional foi a hemorragia retrobulbar com consequente comprometimento da circulação do nervo óptico e da retina pela artéria central da retina(2,5-8). Outros mecanismos citados em menor frequência são glaucoma agudo e oclusão da veia central da retina (OVCR)(5-8). A paciente teve OVCR no olho contralateral mas não póscirurgia. A complicação de blefaroplastia que causa perda visual com fundo de olho normal, defeito pupilar aferente e perda difusa da sensibilidade central com preservação relativa do setor nasal inferior é a NOIP(9-14). A NOIP pós-blefaroplastia está associada a alterações orbitárias como hemorragias(12-14), no caso a ressonância magnética era normal, levamos então a considerar o uso do anestésico local com vaso constritor, o qual promove a isquemia por comprometer as artérias principais responsáveis pela irrigação da parte orbitária do nervo óptico. Em contato com o cirurgião plástico fomos informados da não utilização de vasoconstritor na anestesia local e que a reoperação foi realizada para remoção de coágulo da pálpebra inferior sem acesso a cavidade orbitária. A partir desse fato achamos que apesar de não haver hematoma intraorbitário a deformação anatômica provocada pela hemorragia externa pode ter aumentado transitoria- 425 Neuropatia óptica isquêmica posterior como complicação pós-cirurgia de blefaroplastia mente a pressão intraorbitária causando isquemia. Na literatura pesquisada encontramos um caso semelhante ao nosso publicado por Kordic H et al. em 2005(10), onde o fator causal não foi encontrado. O que nos chamou atenção no artigo foi o padrão da campimetria visual muito semelhante ao nosso. A análise da progressão de perdas de fibras nervosas pelo TCO comprova o afinamento da camada inferior após dois meses do ocorrido o que talvez seja um padrão de lesão nesses pacientes. Concluímos que um cuidado maior deva ser tomado com a hemostasia perioperatória, evitar utilização de anestesia com vasoconstritor em blefaroplastia principalmente inferior, cuidados especiais em pacientes idosos mesmo sem antecedentes de doenças vasculares sistêmicas. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. DeMere M, Wood T, Austin W. Eye complications with blepharoplasty or other eyelid surgery. Plast Reconstr Surg. 1974;53(6):634-7. Peruzzo M, Mélega JM. Cegueira pós-blefaroplastia estética. Rev Soc Bras Cir Plást (1986). 1988;3(2):138-43. 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Autor correspondente: Wagner Ghirelli Rua Maria Figueiredo, nº 283 Tel:(21)3371-3324 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 422-5 RELATO 426 DE CASO Canaliculite: relato de caso e conduta Canaliculitis: case report and conduct Silvia Helena Tavares Lorena1, João Amaro Ferrari Silva2 RESUMO A canaliculite é uma infecção rara e crônica do canalículo lacrimal, cuja etiologia mais comum é o Actinomyces israelli (bactéria gram positiva, anaeróbica). Esta afecção não apresenta cura espontânea. O diagnóstico diferencial se faz com: conjuntivite crônica recorrente, blefarite e hordéolo. O tratamento definitivo é o cirúrgico (canaliculotomia), sendo realizado sob anestesia local. Descritores: Canaliculite/ diagnóstico; Caniculite/cirurgia; Diagnóstico diferencial; Relatos de casos ABSTRACT The canaliculitis is a rare infection and chronicle lachrymal pathology, whose commoner etiology is Actinomyces israelli ( bacteria anaeroby positive gram). This pathology does not present cure espontany The diagnosis differential with is done: Recurring chronic conjunctivitis, blefarity and hordeoly. The definitive treatment is the surgical (canaliculotomy)), being accomplished under location anesthetizes. Keywords: Canaliculitis/diagnosis; Caniculitis/surgery; Diagnosis, differential; Case reports 1 Médica Oftalmologista colaboradora do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil; 2 Chefe do Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado no Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 7/6/2010 - Aceito para publicação em 28/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 426-9 Canaliculite: relato de caso e conduta 427 Figura 2: Dacriocistografia Figura 1: Secreção purulenta no ponto lacrimal inferior INTRODUÇÃO A canaliculite é uma infecção rara e crônica do canalículo lacrimal, cuja etiologia mais comum é o Actinomyces israelli (bactéria gram positiva, anaeróbica)(1,2). O quadro clínico se caracteriza por epífora unilateral associada à uma conjuntivite mucopurulenta crônica, refratária ao tratamento convencional, edema e hiperemia em conjuntiva tarsal e palpebral na região do canalículo afetado e refluxo de secreção no ponto lacrimal com eventual exteriorização de dacriolitos ( grânulos sulfurosos) pelo ponto lacrimal(2). Na dacriocistografia nota-se dilatação do canalículo afetado, com ausência de ectasia do saco lacrimal, e que o ducto lacrimo-nasal não está obstruído. Na maioria dos casos a via lacrimal excretora se mantém pérvia(2). Esta patologia não apresenta cura espontânea. O diagnóstico diferencial se faz com: conjuntivite crônica recorrente, blefarite e hordéolo. O paciente sempre é orientado a suspensão de qualquer medicação tópica 15 dias antes da coleta do material. O material colhido é semeado nos meios de Águar Sangue, Águar Chocolate, Sabouraud, Tioglicolato e coloração para Gram. Quando a bacterioscopia (numerosos bastonetes Gram positivos, por vezes ramificados , em forma de colar de pérolas e formando grumos) é sugestiva de Actinomyces israelli e a cultura é negativa, o diagnóstico se baseia na bacterioscopia(2). A terapia consiste de: antibióticos tópicos como a ciprofloxacina quatro vezes ao dia por dez dias, porém raramente apresenta bom resultado(3). O tratamento definitivo é o cirúrgico (canaliculotomia), sendo realizado sob anestesia local, a canaliculotomia é feita na margem Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 426-9 Figura 3: Dilatação do ponto lacrimal Figura 4: Introdução da sonda de Bowman 428 Lorena SHT, Silva JAF Figura 5: Canaliculotomia livre da pálpebra, internamente, junto a conjuntiva tarsal, a partir do ponto lacrimal, sobre uma sonda de Bowman, previamente introduzida, seguida da curetagem das secreções e dacriolitos e irrigação local com solução de penicilina G cristalina 1:160.000 U/ml.(3-9). O objetivo desta apresentação é relatar um caso de canaliculite, do setor de Vias Lacrimais da UNIFESP. Relato do caso LNG, 42 anos, sexo feminino, branca, do lar, natural e procedente de São Paulo, com queixa de secreção e lacrimejamento em olho esquerdo há 2 anos , afirmando abaulamento em canto medial da pálpebra inferior do OE , que na compressão digital da referida região ,provocava refluxo de secreção purulenta para a conjuntiva bulbar (Figura 1), quando então procurou o setor de vias lacrimais da UNIFESP. Ao exame oftalmológico apresentava: Ectoscopia: abaulamento em canto medial da pálpebra inferior do OE; AV: 20/20 AO; PIO: 12mmHg AO; MEO: sem alterações. Biomicroscopia anterior: -OD: sem alterações; -OE: hiperemia de conjuntiva bulbar; Teste de Milder (o teste foi igual em ambos os olhos): -OD: + -OE: + Secreção purulenta em ponto lacrimal inferior: OE. Cateterismo: “hard stop” OD e OE. Teste de Jones I: + OD e OE. É importante salientar que no ambulatório de vias lacrimais da UNIFESP, foram solicitados os exames: cultura da secreção do ponto lacrimal inferior esquerdo, Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 426-9 Figura 6: Retirada de dacriolitos cujo resultado foi positivo para cocos Gram +, bacterioscopia identificando o Actynomyces israelli e a dacriocistografia (Figura 2), que revelou via lacrimal excretora esquerda pérvia, sendo prescrito, ciprofloxacina 1gt 4x/dia por 10 dias e expressão mecânica do canalículo. Como não houve melhora do quadro, realizou-se o tratamento cirúrgico (canaliculotomia). Passos da Canaliculotomia • Anestesia local; • Dilatação do ponto lacrimal (Figura 3); • Introdução da sonda de Bowman (Figura 4); • Canaliculotomia na margem livre da pálpebra (incisão horizontal posterior do canalículo com 5 a 8 mm de extensão) (Figura 5); • Retirada de dacriolitos (Figura 6); • Irrigação com solução de penicilina G cristalina(1:160.000U/ml); • Colírio de cloranfenicol 5 vezes ao dia por 15 dias. Canaliculite: relato de caso e conduta DISCUSSÃO A canaliculite é uma infecção rara do canalículo lacrimal cujo diagnóstico é baseado nas manifestações clínicas e exames laboratoriais(1). O agente etiológico mais comum é o Actinomyces israelli, apesar da cultura ter sido negativa neste trabalho, o diagnóstico se baseou na bacterioscopia positiva para este agente etiológico e quadro clínico. É importante salientar que a cultura negativa não invalida o diagnóstico microbiológico quando a bacterioscopia é conclusiva, visto que o Actinomyces israelli é de difícil isolamento(2). Em relação aos trabalhos nacionais, a cultura da secreção coletada, nos casos de canaliculite, foi negativa para Actinomyces israelli na maioria dos casos e o diagnóstico foi baseado na bacterioscopia positiva para este agente etiológico e também levando em consideração o quadro clínico(2-5). O tratamento da canaliculite pode ser conservador (massagens e antibioticoterapia tópica) ou cirúrgico (canaliculotomia)(5,6). Conforme a literatura(10), o tratamento conservador apesar de ser um método não invasivo , consistindo da expressão mecânica do canalículo e uso de antibioticoterapia tópica, na grande maioria das vezes há recorrência do quadro clínico. O tratamento cirúrgico compreende a curetagem do canalículo ou canaliculotomia. A curetagem é realizada através do ponto lacrimal dilatado ou punctoplastia, sob anestesia local. Quando a passagem da cureta não é mais produtiva, usa-se colírio antibiótico. A canaliculotomia é realizada sob anestesia local, sendo feita uma incisão horizontal do canalículo afetado, a partir do ponto lacrimal em direção ao canto medial, com extensão de 5 a 8 mm na margem livre da pálpebra. Logo após é realizada a curetagem das concreções e posterior irrigação com solução de penicilina G cristalina (1:160.000 U/ml )(6-11). A técnica cirúrgica empregada (canaliculotomia) neste relato de caso, condiz com a técnica relatada pela 429 literatura, com seguimento de 1 ano(6-11). Neste relato de caso, o tratamento cirúrgico(canaliculotomia) mostrou-se eficaz na cura da canaliculite, corroborando com os dados da literatura, concluindo que o tratamento cirúrgico através da canaliculotomia é o método mais eficaz na cura definitiva da canaliculite(8,9,11,12). A finalidade deste relato de caso é enfatizar a importância do diagnóstico da canaliculite e a maior eficácia do tratamento cirúrgico (canaliculotomia) em comparação ao conservador (massagem) na cura desta patologia. REFERÊNCIAS 1. Sullivan TJ, Hakin KN, Sathanathan N, Rose GE, Moseley IF. Chronic canaliculitis. Aust N Z J Ophthalmol. 1993;21(4):273-4 2. Hass C, Pittasch K, Handrick W, Tauchnitiz R. [Actinomycetes canaliculitis—case reports]. Immun Infect. 1995;23(6):222-3. German. 3. Vécsei VP, Huber-Spitzy V, Arocker-Mettinger E, Steinkogler FJ. Canaliculitis: difficulties in diagnosis, differential diagnosis and comparison between conservative and surgical treatment. Ophthalmologica. 1994;208(6):314-7. 4. Pavilack MA, Frueh BR. Through curettage in the treatment of chronic canaliculitis. Arch Ophthalmol. 1992;110(2):200-2. 5. Jones DB, Robinson NM. Anaerobic ocular infections. Trans Sect Ophthalmol Am Acad Ophthalmol Otolaryngol. 1977;83(2):309-31. 6. 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Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 426-9 ARTIGO 430 DE REVISÃO Seleção de córneas para transplantes Corneal selection for transplants Luís Antonio Gorla Marcomini1, Régia Maria Gondim Ramos Sobral2, Giselle Oliveira Seixas2, Sidney Júlio de Faria e Sousa3 RESUMO O transplante de córnea é singular, pelo fato de ser habitualmente realizado em pessoas com deficiência visual, mas com expectativa de vida, mobilidade e convivência social preservadas. Um enxerto mal-sucedido pode levar à cegueira real ou ao sofrimento permanente, motivado por dor ou desconforto ocular. Um dos fatores fundamentais do sucesso do mesmo é o uso de córneas de boa qualidade. A seleção dessas córneas assenta-se em três princípios: inocuidade, transparência e vitalidade. Cada um deles é analisado detalhadamente neste trabalho. Descritores: Transplante de córnea; Preservação de órgãos; Doadores de tecidos; Seleção do doador; Coleta de tecidos e órgãos; Controle de qualidade ABSTRACT Corneal transplantation is singular because it is habitually performed on persons with visual deficiency but with preserved life expectancy, mobility and social life. A graft not well succeeded may cause real blindness and permanent misery due to pain and discomfort. One of the fundamental determinants of the success of corneal transplantation is the use of corneas of good quality. The selection of these corneas is based on three rules: innocuousness, transparency and vitality. Each one of these concepts is considered in detail in this work. Keywords: Corneal transplantation; Organ preservation; Tissue donors; Donor selection; Tissue and organ harvesting; Quality control 1 Professor adjunto do Departamento de Medicina do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de São Carlos - (UFSCar) – São Carlos (SP), Brasil; 2 Pós-graduando do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP)– Ribeirão Preto (SP), Brasil; 3 Professor Associado do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - (FMRP/USP) - Ribeirão Preto (SP), Brasil; Instituição: Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - (FMRP/USP) - Ribeirão Preto (SP), Brasil Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 20/7/2010 - Aceito para publicação em 20/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 430-6 431 INTRODUÇÃO O transplante de córnea proporciona a recuperação visual, de forma eficiente e a baixo custo, de pessoas cujos olhos apresentem distúrbios da transparência e da regularidade óptica da córnea. Ele também auxilia no alívio da dor do edema crônico dessa estrutura. Mas, como em qualquer transplante, tem a potencialidade de transmitir doenças devastadoras como, por exemplo, a raiva. O que o distingue é que, na maioria dos casos, o candidato à cirurgia não é cego, na concepção literal de cegueira. Pode estar incapacitado para o trabalho, para o estudo, mas não para as atividades corriqueiras da vida. Se o transplante falhar, há chances de perda completa da visão, além do surgimento de dor provocada pelo edema de córnea, glaucoma ou ambos(1). Acresça a isso, o fato de as indicações dos transplantes de córnea ainda não estarem devidamente sistematizadas. Muitos enxertos poderiam ser evitados caso os cirurgiões tivessem mais experiência com adaptações de lentes de contato rígidas e com a prescrição de óculos em casos difíceis. Nos transplantes de órgãos como os de rim, pulmão e coração esse problema não tende a ser tão relevante, uma vez que a indicação cirúrgica é habitualmente feita como último recurso de preservação da vida. Se o enxerto durar pouco, ganhou-se tempo; se falhou, foi tentativa válida extrema. Por causa dessas singularidades, dois fatores são particularmente críticos no transplante de córnea: a indicação cirúrgica e o controle de qualidade do tecido doado. O presente trabalho trata especificamente do segundo fator, de acordo com a experiência acumulada pelo Banco de Olhos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, nos seus vinte anos de funcionamento. Filosofia da captação A seleção das córneas está intimamente ligada à filosofia de captação. Bancos de Olhos eficientes definem uma região de atuação, onde cada morte é imediatamente comunicada à central de trabalho. Então, funcionários treinados abordam a família do morto para pedir autorização de retirada do olho. Todas as doações são aceitas independentemente da idade e enfermidade do doador, causa e tempo de morte. As exceções provêm de portadores de doenças que possam ameaçar a saúde do enucleador como Aids, Raiva e Doença de Creutzfeldt-Jakob. Numa sociedade não habituada a doar órgãos, as primeiras doações são aparentemente conseguidas com o constrangimento. Os familiares são pegos de surpresa e acabam consentindo, pelo acanhamento de dizer “não” à equipe de captação. Com o tempo, percebem que o ato foi benéfico para toda a família. Entendem que, se algo efetivo pudesse ter sido feito para ajudar o ente querido a ser aceito no Além, isto foi feito. O agnóstico também se sente reconfortado por perceber que parte do ente querido continua vivo, útil e atuante. Com o tempo essas percepções vão se incorporando à consciência coletiva da comunidade, como forma eficaz de conforto espiritual frente à morte. Uma doação ofertada e não efetivada, por falha do Banco de Olhos, passa a ser tomada como desrespeito a direito adquirido: o direito da doação. Este é o motivo da tendência de se aceitar todas as doações e só depois selecioná-las. Com isso, a seleção de tecido é mais laboriosa e a porcentagem de descartes de córneas é maior do que quando se opta pelo aceite seletivo. Bases da seleção do tecido doador A seleção do tecido doador se assenta em três princípios: inocuidade, transparência e vitalidade. Inocuidade Inocuidade é a propriedade do enxerto não causar mal ao receptor. Ela se baseia no princípio hipocrático do “primum non nocere”. A preocupação é que a córnea não transmita doenças oculares ou sistêmicas. A superfície de cerca de 80% dos olhos enucleados apresenta-se colonizada por bactérias(2). O perigo dessa contaminação é a transferência de germes, do enxerto para o interior do olho receptor, desencadeando infecção intraocular(3,4). Apesar disso, a contaminação da superfície ocular não pode ser adotada como critério de exclusão porque o descarte de córneas seria exagerado. Na prática, o problema é contornado com as seguintes medidas: 1) rigoroso controle da contaminação durante a enucleação; 2) banho de imersão do globo enucleado, por 10 minutos, em colírio de ciprofloxacino a 0,3%; 3) descarte dos olhos expostos a condições de grande potencial de contaminação ocular, como estadia em UTI; 4) uso de soluções de preservação de tecido que contenham antibiótico. A seleção das córneas em termos de inocuidade se baseia, então, em dois procedimentos: exame sorológico e análise do prontuário médico do doador. Em nosso Banco de Olhos, metade dos descartes, pelos critérios de inocuidade, se deve ao exame sorológico e metade, à análise de prontuário. Esses números atestam a importância da história médica do doador. Esta é a razão de se evitar o uso de tecidos de doadores com passado médico desconhecido. As enfermidades comprovadamente transmitidas pelo enxerto de córnea são: Hepatite B, Raiva, Enfermidade de Creutzfeldt-Jakob e Retinoblastoma(5-10). Embora não haja relatos concretos de transmissão da Hepatite C e da Aids, dado a gravidade, elas também constituem contraindicações absolutas para o uso das córneas. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 430-6 432 Marcomini LAG, Sobral RMGR, Seixas GO, Sousa SJF Acrescente-se a isso o fato de já terem sido isolados o vírus HIV e da Hepatite C em lavados de córneas de doadores soropositivo(11,12). Curiosamente, há relatos de transplantes feitos inadvertidamente com tecido de portadores assintomáticos do vírus HIV(13,14). Os receptores de órgãos sólidos contraíram o vírus, enquanto que os receptores das córneas continuaram soronegativos. O principal objetivo das análises sorológicas do doador morto é a detecção de Aids, Hepatite B e C. Em termos de análise de prontuário, a Associação Americana de Banco de Olhos criou e, constantemente atualiza, uma lista de condições potencialmente perigosas de transmissão de moléstias via enxerto(15). Elas podem ser resumidas em 6 categorias: 1) exposição prévia do doador a condições favoráveis à contaminação da superfície ocular (imunossupressão, terapia intensiva, pneumonia e septicemia); 2) infecção pelo vírus HIV, história de exposição a drogas ou de promiscuidade sexual; 3) hepatites de origem infecciosa, presumivelmente infecciosa ou insuficientemente caracterizadas; 4) doenças do SNC de origem infecciosa, presumivelmente infecciosa ou insuficientemente caracterizadas; 5) neoplasias do sangue ou do sistema linfático; 6) neoplasias oculares ou de órbita. Essa lista também inclui condições oculares como: cirurgias oculares prévias, glaucoma, uveítes de repetição ou história de quaisquer condições que, apesar de não transmissíveis, possam prejudicar a vitalidade ou a transparência do enxerto. Nosso Banco de Olhos adota a prática da cultura do botão corneoescleral, após a trepanação do enxerto. Essa prática tem três vantagens: 1) controlar a frequência de contaminação do tecido disponibilizado pelo Banco de Olhos; 2) livrar o Banco da culpa de uma eventual infecção não veiculada pelo enxerto; 3) antecipar o agente causal de uma eventual infecção veiculada pelo enxerto.(16) Transparência A transparência da córnea é testada no globo ocular íntegro, dentro da câmara úmida, com o auxílio de uma lâmpada de fenda, com aumento de 10 vezes. A figura 1 mostra um suporte para prender a câmara úmida à lâmpada de fenda. Câmara úmida é um recipiente com tampa, de volume suficiente para conter o globo ocular e com fundo revestido por chumaço de algodão saturado de soro fisiológico(17). Os olhos são enucleados com os cuidados de esterilidade próprios das cirurgias oculares, independentemente do local onde o procedimento é realizado. Em seguida, são colocados em câmara úmida para serem transportados ao laboratório do Banco de Olhos, onde serão examinados. A transparência corneana pode estar diminuída por edema do epitélio, do estroma ou de ambos. Aparen- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 430-6 Figura 1: Exame do olho em câmara úmida Figura 2: Exame da córnea “in vitro” por meio do analisador e Cowden temente, o epitélio do enxerto é trocado pelo do receptor. Por isso as análises dessa camada tendem a ser consideradas pouco importantes na seleção da córnea. Entretanto, se seu aspecto estiver muito ruim, por exemplo, completamente acinzentado, ou com múltiplas áreas de descamação, interpreta-se que a córnea deva ter passado por grande sofrimento. Maior as chances, então, da função endotelial estar comprometida, o que aumenta a possibilidade de falha do enxerto. Nesse caso, devem-se considerar outras variáveis (idade, tempo de morte e outras) para que se opte pela continuação da seleção ou pelo descarte imediato do tecido. Como regra, quanto mais saudável o epitélio do enxerto, mais suave o pósoperatório imediato do transplante, não só em termos de sinais como de sintomas. O edema do estroma se manifesta pelo espessamento da córnea. Ele também gera pregas na Descemet. Ambos os fenômenos contribuem para a diminuição da transparência da córnea. O edema não constitui problema, a não ser quando intenso. Tende a desa- Seleção de córneas para transplantes parecer com a recuperação da bomba endotelial, após o transplante. Entretanto, se for intenso, maior serão as chances de que tenha havido comprometimento endotelial. Nesse caso, deve-se também levar em conta outras variáveis (idade, tempo de morte e outras) para que se opte pela continuação da seleção ou pelo descarte imediato do tecido. O edema de estroma pode ser categorizado pela espessura, transparência e frequência das pregas de Descemet. Quando intenso, a espessura da córnea é pelo menos 50% maior do que o normal; há dificuldade de identificação da pupila do olho examinado; as pregas de Descemet são abundantes. Quando moderado, a espessura é 25% a 50% maior que a normal; há dificuldade de identificação dos detalhes da Iris; a frequência das pregas de Descemet é menor que no caso anterior. Na ausência de edema a transparência e a espessura são normais; não há pregas. O edema leve é intermediário entre o ausente e o moderado. Os próximos elementos a serem pesquisados são: arco senil e pterígio. Considera-se que ambos não devam ultrapassar 1,5 milímetros da córnea periférica, para que não perturbem a transparência do enxerto. O arco senil gera estética ruim, particularmente quando incluído em enxertos de pessoas jovens, pois não desaparece com o tempo. O pterígio gera cicatriz ao ser extirpado. Outros achados desta fase são: corpos estranhos, vascularização, depósitos de substâncias, infiltrados celulares, zonas de dessecação, adelgaçamentos do estroma, cicatrizes (incluindo as cirúrgicas) e precipitados endoteliais. Muitos deles não representam problemas de transparência propriamente ditos, mas de saúde do enxerto. Infiltrados celulares sugerem infecção. Vascularização indica inflamação ou hipóxia prolongada. Depósitos de substâncias decorrem de inflamações ou de doenças metabólicas corneanas. Precipitados endoteliais denotam inflamação crônica. Os adelgaçamentos associam-se às ectasias naturais ou iatrogênicas e prenunciam irregularidades ópticas. Note-se que, nesta fase, a análise do endotélio é secundária, uma vez que o edema de córnea, típico da pós-morte, dificulta sua visualização. Quando os olhos do cadáver permanecem semiabertos, por tempo prolongado, o terço inferior da córnea desidrata. O epitélio da região se solta e o estroma subjacente perde transparência, assumindo aspecto leitoso-acinzentado. Isto é chamado dessecação corneana. Nossa conduta, frente a esse achado, é o descarte do tecido, embora não estejamos convencidos de que isso seja realmente necessário. É frequente detectar-se cicatrizes corneanas, sem implicações desfavoráveis, tanto do ponto de vista vi- 433 sual quanto estético. Na mesma categoria se enquadram as cicatrizes dos pterígios que não invadem o centro da córnea, e as dessecações. Todas geram invariavelmente o descarte da córnea, porque o cirurgião reluta em aceitar tecidos com essas características. Por outro lado, córneas com transparência ruim, mas com bom endotélio – que poderiam ser usadas nos transplantes endoteliais – ou córneas com boa transparência e endotélio ruim – que poderiam ser utilizadas em enxertos lamelares – também são rotineiramente descartadas. Isto se deve à falta de diálogo entre o pessoal do Banco de Olhos e o cirurgião. Para evitar descartes desnecessários, o funcionário pode explicar, por exemplo, que aquela cicatriz da córnea foi desconsiderada, não por desleixo, mas pelo fato dela ser irrelevante para o sucesso do transplante. O cirurgião, por outro lado, pode conseguir mais rapidamente a córnea, explicando que precisa apenas do endotélio saudável, uma vez que planeja realizar enxerto endotelial. Entretanto, para que isso se concretize é necessário que: 1) a distribuição dos tecidos seja feita pelo Banco de Olhos; quem distribui deve conhecer o tecido, para elucidar dúvidas e atender às necessidades de cada cirurgião; 2) o Banco de Olhos tenha clientela restrita, para criar familiaridade entre seu pessoal e o cirurgião; 3) a regulamentação dos Bancos de Olhos seja específica, simples e ágil, para viabilizar as premissas anteriores. Embora o foco das análises seja centrado na córnea, a atenção deve igualmente voltar-se para outros achados potencialmente relevantes, como: 1) anormalidades congênitas: microcórnea, megalocórnea, ceratocone, colobomas; 2) evidências de traumas oculares: lacerações do globo, hifema, corpo estranho intraocular; 3) sinais de infecção intraocular: hipópio; 4) evidências de cirurgias prévias: lente intraocular, cintas, válvulas; 5) sinais de doenças sistêmicas: icterícia. A icterícia, em si, não é uma contraindicação de uso da córnea. Na sua presença, é preciso descartar as hepatites virais. Vitalidade Vitalidade é a propriedade de a córnea permanecer desidratada e transparente no leito hospedeiro. Como isso depende essencialmente da saúde do endotélio, o ideal é que ela fosse avaliada por meio de algum teste de funcionalidade endotelial(18). Como na prática, esse teste ainda não existe, a alternativa é analisar a morfologia do endotélio e conjecturar sobre seu funcionamento. A análise da morfologia endotelial é feita no botão córneo-escleral, mergulhado no meio líquido de preservação, com o auxílio de lâmpada de fenda ou micros- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 430-6 434 Marcomini LAG, Sobral RMGR, Seixas GO, Sousa SJF cópio especular. O botão córneo-escleral é composto pela córnea e por um anel de esclera, de aproximadamente 2 mm de largura, que serve para o manuseio do tecido. A vantagem da análise “in vitro” é que ela pode ser feita pelo lado interno da córnea. Isso evita as eventuais dificuldades de visualização do endotélio, motivadas pelo edema corneano pós-morte. O exame da lâmpada de fenda é feito diretamente através do frasco do preservante, imobilizado por suporte fixo. Um desses suportes é o analisador de Cowden(19). Ele mantém o frasco na vertical e, por meio de um espelho inclinado 45º, permite a análise do botão corneoescleral pelo fundo do recipiente. Sob aumento de 40 vezes é possível ver o mosaico endotelial refletido (Figura 2). A lógica das análises morfoscópicas e morfométricas do endotélio se baseia nas seguintes suposições: 1) do nascimento até a morte há uma perda espontânea e progressiva de células endoteliais; 2) essa perda pode ser acelerada por cirurgias intraoculares, inflamações da câmara anterior, anóxia corneana, glaucoma e distrofia guttata; 3) dado a ínfima capacidade reprodutiva do endotélio as células mortas não são repostas; 4) os espaços celulares vagos são preenchidos pelas células vizinhas que se hipertrofiam e, nesse processo, perdem o formato hexagonal; 5) quanto maior a perda endotelial maior a frequência de células hipertrofiadas (polimegalismo) e maior a variedade de formas celulares (pleomorfismo)(20,21). Esses conceitos levam às seguintes interpretações: 1) se a frequência de polimegalismo e pleomorfismo for alta é porque a perda celular foi elevada. Há, portanto, maior risco de que a vitalidade do enxerto esteja ameaçada; 2) perdas endoteliais agudas, associadas a traumas mecânicos sofridos pela córnea, imediatamente antes da morte ou durante a retirada do botão, tendem a deixar vazios no mosaico endotelial, pela ausência de tempo hábil de reação celular compensatória. Esses vazios podem assumir padrões que denunciam a natureza do trauma. Por exemplo, se a perda endotelial tiver formato linear tipo “caminho de lesma”, pode-se inferir que o trauma foi provavelmente causado pelo técnico, no momento da retirada do botão córneo-escleral. Traumas frontais do globo tendem a causar perdas endoteliais espalhadas como “tiros de chumbinho” (Figura 3). A Distrofia guttata caracteriza-se por espessamentos nodulares da Descemet, gerados pelo acúmulo de colágeno produzido pela célula endotelial doente. Eles aparecem primeiro no centro e gradualmente se espalham para a periferia da córnea. Geralmente surgem após os 40 anos e são mais prevalentes em mulheres. A despeito das lesões serem elevadas, protraindo na câmara anterior, à iluminação especular elas simulam buracos negros na superfície endotelial. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 430-6 Figura 3: Padrões de perdas endoteliais traumáticas: a) caminho de lesma; b) tiros de chumbinho; c) trauma pelo instrumento cirúrgico Figura 4: Alterações endoteliais vistas como acúmulos de pontos escuros na malha endotelial: a) ilhas de perdas celulares; b) pseudoguttata; c) guttata Quando numerosas e confluentes indicam doença inata do endotélio, contraindicando o uso do tecido para enxertos convencionais. Quando esparsas e restritas à periferia da córnea constituem os corpúsculos de HassallHenle e não oferecem risco(22). A guttata deve ser diferenciada da pseudoguttata e das ilhas de perdas endoteliais (Figura 4). Todas elas simulam buracos escuros à iluminação especular. Na pseudoguttata as células estão inchadas devido ao edema endotelial, frequentemente associado ao resfriamento do meio de preservação. Nas ilhas de perda celular, que podem apresentar as mais variadas configurações, como caminho de lesma, tiro de chumbinho, as células estão ausentes formando escavações verdadeiras na malha endotelial. A distinção entre essas três entidades envolve muita experiência e atenção para detalhes como: idade, sexo do doador, grau de resfriamento do meio de preservação, configuração e distribuição das lesões. O aumento do tamanho das células endoteliais decorre da necessidade de se preencher os espaços vazios deixados pelas células mortas e descamadas do endotélio. Está diretamente relacionado com a perda endotelial. Entretanto, ainda que permita fazer inferências sobre a perda celular ele não a quantifica. Quem faz isso é o microscópio especular. Ocorre que até mesmo esse instrumento é criticável como estimador da função endotelial, uma vez que fornece apenas a medida do número de células no momento do exame. Não revela nada sobre a evolução da perda endotelial. É onde entra o pleomorfismo e o polimegalismo. Se forem acentuados, é provável que a velocidade de perda celular estivesse ace- Seleção de córneas para transplantes Figura 5: Células endoteliais: a) células de tamanho normal; b) células com tamanho acentuadamente aumentado, sugerindo grande perda endotelial; A variação modesta do tamanho (polimegalismo) e do formato (pleomorfismo) das células sugere que o endotélio esteja sadio e estável lerada, antes do óbito. Se forem pouco pronunciados, é porque a taxa de perdas provavelmente já tivesse voltado ao ritmo normal, com as células acomodadas homogeneamente ao espaço disponível, sem discrepâncias acentuadas de forma e tamanho (Figura 5). Entre experientes analisadores de endotélio prevalece a desconfiança de que o polimegalismo indicativo de risco de insuficiência endotelial tende a apresentar-se em nichos, com padrão de roseta, espalhados por toda malha endotelial. Essas rosetas são formadas por uma célula grande, arredondada, circundada por um grupo de células pequenas, com áreas inferiores à média.A importância dessas configurações ainda não foi suficientemente comprovada, mas é prudente ficar atento a elas. Em suma, suspeita-se que a correlação da função endotelial com a morfologia seja maior do que com a contagem celular(23-26). O aspecto do endotélio é influenciado pelo resfriamento e pela composição do meio de preservação. O resfriamento alivia o trabalho da bomba endotelial, mas gera edema celular. Para neutralizá-lo, os meios contêm agentes desidratantes como o dextrano e o sulfato de condroitina. Em geral, quanto mais efetiva a desidratação mais duradoura a preservação. No Optisol, nos três primeiros dias de preservação, prevalece o edema endotelial. Como o edema obscurece os limites celulares, é preciso manter o frasco por 30 minutos fora da geladeira para que o exame do endotélio seja adequado. Mesmo assim, algumas células podem permanecer edemaciadas, gerando configurações semelhantes às da distrofia guttata ou do caminho de lesma. Às vezes é preciso esperar 1 hora para que o edema desapareça e se esclareça o diagnóstico. Após o terceiro dia de preser- 435 vação, passa a prevalecer a desidratação celular. Nesse cenário, o endotélio torna-se menos refletivo e as células menos aparentes. A contagem celular e as análises morfométricas tornam-se menos confiáveis. Em resumo, se o meio de preservação for eficiente na desidratação tecidual, as análises endoteliais tendem a ser paulatinamente menos confiáveis na medida em que se afasta do terceiro dia de preservação. Suspeita-se que a degradação do conteúdo ocular, gerada pela morte do doador, possa alterar o humor aquoso de forma a acelerar a morte das células endoteliais(27). Isso sugere que quanto mais rápido o olho for retirado do cadáver e a córnea do olho, menor a chance de intoxicação endotelial. Ocorre que até o momento ainda não foi possível determinar a importância prática desse fenômeno. Por isso, a tendência atual é de desconsiderar o tempo de morte de 6 horas, como limite de retirada do olho, e substituí-lo pelas análises habituais do endotélio. Córneas de doadores com menos de três anos de idade são muito elásticas. Não devem ser ofertadas pelo Banco de Olhos. O manuseio é trabalhoso, porque se enrolam facilmente sobre si mesmas. Quando transplantadas, tendem a assumir curvaturas acentuadas e irregulares gerando, com frequência, altas miopias de difícil correção ótica, mesmo com lentes de contato(28-30).Quanto ao limite superior de idade, as informações são conflitantes. A razão sugere que a idade da córnea deva ser importante, mas, na prática, isto ainda não foi demonstrado(31-35). Seguindo o princípio de que o ato da doação não deve ser desestimulado, o ideal é que não haja restrição de idade quanto à aceitação da doação. Quanto à distribuição, o problema deve ser negociado entre o Banco de Olhos e a clientela médica. O fato é que, se córneas acima de um limite não forem aceitas, não adianta preservá-las, tampouco ofertá-las. Apesar de valorizarmos mais o exame biomicroscópico do endotélio do que o número de células, nosso Banco de Olhos oferta apenas córneas com contagem igual ou superior a 2.000 cels/mm2. Considerações finais Após a aplicação dos critérios de seleção, uma parcela das córneas é descartada. Se os critérios forem muito rigorosos o descarte tenderá a ser exagerado. O custo de produção aumentará e a disponibilidade de tecidos diminuirá. O Banco de Olhos será considerado ineficiente, a despeito da maior segurança. Se os critérios de seleção forem pouco rigorosos o descarte tenderá a ser pequeno. O custo de produção cairá, a disponibilidade de tecido subirá. O Banco será considerado eficiente, a despeito da menor segurança. Nenhum desses resultados é adequado. Surge então a pergunta: qual seria a taxa de aproveitamento para que um banco fosse simultaneamente seguro e eficiente? Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 430-6 436 Marcomini LAG, Sobral RMGR, Seixas GO, Sousa SJF Ainda não existe resposta para isso. O motivo é que ainda não existem critérios objetivos e cientificamente comprovados para a seleção de córneas para transplante. Os critérios atuais podem ser considerados mais como exercícios de boa intenção do que julgamentos científicos. Entretanto, eles são importantes porque formam um núcleo estruturado de conceitos, que se aperfeiçoa com as novas informações. Nos Bancos de Olhos americanos a média de utilização das córneas é de 50%; no nosso é de 40%. 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Endereço para correspondência: Luís Antonio Gorla Marcomini Rua Voluntários da Pátria, nº 1839 - apto 141 CEP 14801-320 - Araraquara (SP), Brasil Tel: (16) 3336-8225 / (16) 9156-5149 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 430-6 ARTIGO DE REVISÃO 437 Tuberculose intraocular Intraocular tuberculosis Wesley Ribeiro Campos1, Gisele Schelgshorn Campos2, Silvana Spíndola de Miranda3 RESUMO A Tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Mtb), que acomete principalmente os pulmões. Ela pode acometer qualquer parte do olho, porém o local mais acometido é a úvea. A incidência de envolvimento de TB ocular e em outros sítios é de 1% a 2%. Alguns autores descrevem várias alterações intraoculares, tendo apresentações clínicas das mais variadas, uveíte anterior, posterior, intermediária e panuveíte. Nesta revisão iremos tratar especificamente de TB intraocular, discutindo sobre as diversas manifestações, diagnóstico e tratamento. Descritores: Tuberculose ocular/diagnóstico; Tuberculose ocular/quimioterapia; Uveíte ABSTRACT Tuberculosis (TB) is an infectious disease caused by Mycobacterium tuberculosis (Mtb), which attacks mainly the lungs. This disease can also attack any part of the eye; however, the more attacked ocular site is the uvea. The incidence of involvement of ocular and other sites TB is of 1% to 2%. Some authors describe several intraocular alterations, presenting the most varied clinical presentations, such as anterior, posterior, and intermediate uveitis, as well as panuveitis. In this revision, we will approach specifically the intraocular TB, discussing about its different manifestations, diagnosis, and treatment. Keywords: Tuberculosis, ocular/diagnosis; Tuberculosis, ocular/drug therapy; Uveitis 1 Professor adjunto do Departamento de Oftalmologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais - (UFMG); Chefe do Serviço de Uveíte, Hospital São Geraldo/Hospital das Clínicas – (UFMG) - Belo Horizonte (MG), Brasil; 2 Oftalmologista estagiária do Serviço de Uveíte do Serviço de Uveíte, Hospital São Geraldo/Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais – (UFMG) - Belo Horizonte (MG), Brasil; 3 Professora associada do Departamento de Clínica/Médica/Pneumologia/Tisiologia/Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais – (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil; Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Micobacterioses CNPq, do ambulatório de Tuberculose e Laboratório de Micobactérias, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Belo Horizonte (MG), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em: 21/8/2010 - Aceito para publicação em 20/7/2011 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 438 Campos WR, Campos GS, Miranda SS INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Mtb), que acomete principalmente os pulmões(1). Há uma década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a TB em estado de emergência no mundo, sendo ainda hoje a maior causa de morte por doença infecciosa em adultos. Foram notificados 9.27 milhões de casos novos de TB em 2007, dos quais 80% foram em apenas 22 países. A taxa de incidência mundial da TB está diminuindo, mas a taxa de declínio é muito lenta menos de 1%. Entre os 15 países com as maiores taxas de incidência estimadas, 13 estão na África, enquanto que metade dos casos novos se encontra em seis países da Ásia (Bangladesh, China, Índia, Indonésia, Paquistão e Filipinas)(2). Um total de 1.77 milhões de pessoas morreu de TB em 2007 (incluindo as 456.000 pessoas soropositivos para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), o equivalente a cerca de 4.800 mortes por dia. A tuberculose é uma doença da pobreza, que afeta principalmente adultos jovens nos seus anos mais produtivos. A grande maioria das mortes por TB ocorre nos países em desenvolvimento, com mais de metade ocorrendo na Ásia. Em alguns países com alta prevalência de HIV, a TB atinge até 80% das pessoas que são soropositivos para HIV(2). A TB multirresistente (TB-MDR) está presente em praticamente todos os países avaliados pela OMS. Foram estimados em 2007, 511.000 casos novos de MDRTB, com três países representando 56% do total de casos a nível mundial: China, Índia e Federação Russa. A TB extensivamente resistente (TB-XDR) ocorre quando se desenvolve resistência aos medicamentos (rifampicina + isonizida e medicamentos de segunda linha: aminoglicosídeos injetáveis + quinolona) e é extremamente difícil de tratar. Tais casos foram confirmados em mais de 50 países2. A OMS estabeleceu estratégias, “Stop TB” para controlar a TB, com o objetivo de atingir as metas do Milênio: reduzir até 2015 a prevalência de mortes por TB e de 50% em relação a 1990 e inverter a tendência da incidência(2). Brasil O Brasil ocupa o 18º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo, com cerca 85 mil casos de TB notificados por ano (correspondendo a um coeficiente de incidência de 47/ 100.000 habitantes) em 2007, e 70% dos casos estão em 315 dos 5.570 municípios brasileiros. São verificados cerca de 6 mil óbitos por ano em decorrência da doença(3). A incidência de casos de TB por região em 2006 foi: norte 48,24%; sudeste 45,54%; nordeste 43,09%; sul Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 30,37%; centro-oeste 27,92%. Houve uma queda média anual de 2,8% na incidência de TB entre 1999 a 2006. Uma média de 18,3% foi à estimativa de percentual de pacientes com TB em casos notificados de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) entre 1990 a 2006, sendo a primeira causa de morte entre os pacientes com Aids(3). A distribuição de TB extrapulmonar em 2006 foi a seguinte: pleural 44%; ganglionar periférica 22%; miliar 7%; óssea 4%; meníngea 4%; genitourinária 3%; ocular 2%; outras 14%(4). As metas internacionais estabelecidas pela OMS e pactuadas pelo governo brasileiro são de descobrir 70% dos casos de tuberculose pulmonar estimado e curálos em 85%. A tuberculose ainda é um sério problema da saúde pública, com profundas raízes sociais. Está intimamente ligada à pobreza e à má distribuição de renda, além do estigma que implica na não adesão dos portadores e/ou familiares/contactantes(3). Etiopatogenia A transmissão da TB geralmente ocorre de pessoa a pessoa, principalmente através da inalação de perdigotos contaminados com bacilos viáveis. A fala, o espirro e, principalmente, a tosse de um doente com TB pulmonar bacilífera lança no ar gotículas, de tamanhos variados, contendo no seu interior o bacilo(3,4,5,6,7). Após exposição ao M. tuberculosis, somente 1030% dos indivíduos se tornam infectados, indicando que muitos humanos desenvolvem infecção abortiva. Daqueles que se tornam infectados (adquirem hipersensibilidade retardada ao bacilo), 90% ou mais não desenvolvem TB, o que significa que eles são capazes de resolver a infecção completamente, ou reduzir a carga bacilífera para níveis incapazes de causar doença(8-10). Dessa forma, um indivíduo que, pela primeira vez recebe uma carga infectante de bacilos da TB (primoinfecção), da qual um ou mais bacilos alcançam o pulmão, vencendo as defesas da árvore respiratória, apresentará reação inflamatória e exsudativa de tipo inespecífica. O organismo demora em média 15 dias para montar uma imunidade específica contra o bacilo. Nesse período, os bacilos podem, a partir da lesão pulmonar, atingir a via linfo-hematogênica, comprometendo os linfonodos, fígado, baço, medula óssea, rins, sistema nervoso e olhos. Essa disseminação, de poucos bacilos, é considerada “benigna”, durante a qual, os bacilos ficarão latentes ou serão destruídos pela ação da imunidade que se instalará(3,6,7). No início da 3ª semana após a infecção pelo bacilo, o organismo normal reconhecendo a presença da micobactéria é capaz de mobilizar o sistema de defesa imunológico específico visando à destruição ou inativação do agente agressor. Passa a haver, então, no Tuberculose intraocular local da inoculação inicial no pulmão, um foco pequeno, arredondado, esbranquiçado, de consistência amolecida e constituído, principalmente, por material caseoso conhecido como granuloma. A associação do foco primário aos gânglios satélites da sua região dá-se o nome de complexo primário de Ranke. Cerca de 90% da população infectada consegue bloquear o avanço do processo, a partir da formação do complexo primário de Ranke, permanecendo apenas como infectados. Por outro lado, dentre aqueles 10% de indivíduos que não conseguem conter a evolução da infecção pelo bacilo da TB, aproximadamente 5% desenvolverão a chamada TB primária. Ela ocorre durante a primo-infecção, podendo evoluir tanto a partir do foco pulmonar quanto do foco ganglionar ou, então, em consequência da disseminação hematogênica. Por outro lado, o restante dos indivíduos que sofreram a primo-infecção irá desenvolver a doença tardiamente devido ao crescimento lento do granuloma. Portanto, daqueles primo-infectados, 5% adoecerão tardiamente em consequência do recrudescimento de algum foco já existente em seu organismo (reativação endógena). Também pode ocorrer a reinfecção exógena, ou seja, o paciente adoecer por receber nova carga bacilar do meio externo. Dessa forma, embora a infecção latente seja clinicamente silenciosa e não contagiosa, ela pode se reativar e causar a TB pulmonar de forma mais prevalente em adultos. Por isso a compreensão da latência e reativação da doença pode ajudar no desenvolvimento de novas estratégias para controle e tratamento da TB. Como já dito anteriormente, os bacilos podem se espalhar pelo organismo a causar a TB extrapulmonar. Esta disseminação pode acontecer em dois momentos distintos: durante a primo-infecção, quando a imunidade específica ainda não está desenvolvida e após a primo-infecção, a qualquer tempo, se houver uma queda na capacidade do hospedeiro em manter o bacilo nos seus sítios de implantação primária. No primeiro caso, a carga bacilar geralmente é pequena, e o organismo é capaz, após ativação da imunidade adaptativa, de conter os bacilos no local da implantação indefinidamente. Entretanto, se o desenvolvimento da imunidade celular não acontece, haverá um desequilíbrio entre a imunidade e o bacilo, o que representa condição básica para o adoecimento. Se a disseminação ocorrer após a primo-infecção, sua intensidade será diretamente proporcional à queda da resposta imune do indivíduo, dependendo também da característica passageira ou definitiva da imunodeficiência(3,4,6,7). Tuberculose intraocular O local mais acometido do bulbo ocular é a úvea. Entretanto, qualquer tecido pode ser acometido. A doença pode estar presente mesmo sem doença sistêmica. A incidência de envolvimento de tuberculose ocular em TB em outros sítios é de 1% a 2%(4,5,11,12). Nesta revisão 439 iremos tratar especificamente de TB intraocular. O mecanismo de envolvimento ocular e dos anexos inclui invasão bacilar ou doença de origem imunológica. A doença produzida por alterações imunológicas envolve reação de hipersensibilidade do tipo IV. Ela é mediada por células que vão reagir contra as tubérculo-proteínas. Esta hipersensibilidade é responsável por processos inflamatórios que levam a ceratite intersticial, doença flictenular, episclerite, uveíte granulomatosa e até mesmo a um quadro de vasculite retiniana(12). Guyton & Woods (1941) acreditavam que 78% dos casos de uveítes eram secundários à TB. Woods (1954) já mostrava o declínio no diagnóstico da TB como fator etiológico importante entre as causas de inflamação intraocular, encontrando valores de até 23% à tuberculose entre as uveítes(13,14). Após os anos 60, causas infecciosas, tais como TB, sífilis e infecções bacterianas focais, passaram a não ser tão valorizadas quanto antes, e a toxoplasmose tomou este lugar, tanto que acreditavam que somente 14% eram de etiologia tuberculosa(15). Naquela época alguns autores relataram apenas 1% de uveíte causada por TB. Perkins e Folks (1984), em estudo de pacientes portadores de uveítes nos Estados Unidos da América e Inglaterra, encontraram a porcentagem de 0 e 3%, respectivamente, para a etiologia tuberculosa(16). Carvalho e Oréfice (1987), na Universidade Federal de Minas Gerais, acharam 21,7% de uveíte causada por TB. Pinheiro, Oréfice et al. (1994) descreveram, no Brasil, os primeiros quatro casos de coroidite presumível por TB em pacientes infectados pelo HIV(17,18). Campinchi et al. (1994) relataram os achados clínicos e angiográficos de três casos de granulomas coroidianos tuberculosos em pacientes com Aids. O envolvimento coroideano foi bilateral, com múltiplas lesões, localizado principalmente no pólo posterior. As lesões cicatrizaram meses após o tratamento para TB. Em dois casos os granulomas coroideanos foram descobertos antes do diagnóstico de tuberculose disseminada e levou à investigação e identificação do M. tuberculosis. No terceiro caso, a tuberculose pulmonar foi diagnosticada antes da TB ocular(19). Fernandes e Oréfice (1996) apresentaram um estudo epidemiológico de 3.317 casos de uveítes atendidos no Hospital São Geraldo (HSG/UFMG) e em serviço privado de Belo Horizonte, entre 1970 e 1993. A TB ocorreu em 30 pacientes (0,9%), sendo 23 pacientes HSG/UFMG e sete do serviço privado(20). Curi e Muralha (1998) descreveram 17 pacientes com TB e nódulos coroidianos em pacientes com Aids. Em nenhum dos casos relatados foi possível identificar o bacilo da TB, apesar de todos terem diagnóstico de TB em outros locais do organismo(21). Alguns autores descrevem várias alterações Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 440 Campos WR, Campos GS, Miranda SS Figura 1: Uveíte anterior aguda granulomatosa por tuberculose intraoculares, tendo apresentações clínicas das mais variadas, uveíte anterior, posterior, intermediária e panuveíte(12). Em um estudo realizado no Brasil, metade dos casos foi de uveíte anterior e o restante, posterior(22). Uveíte anterior A uveíte anterior secundária à TB pode ser uni ou bilateral, estar associada à vermelhidão, fotofobia, dor ocular e algumas vezes moscas volantes. Nos casos bilaterais, a doença pode ser assimétrica com graus variados de sinais inflamatórios em cada olho(5). Ceratite intersticial secundária à TB pode estar associada ou não à uveíte anterior. Ela pode ocorrer como uma manifestação isolada ou estar associada com esclerite. A esclerite na TB é normalmente anterior, e a posterior é extremamente rara. A anterior pode ser nodular ou difusa. A difusa é menos frequente que a nodular. Algumas lesões podem sofrer necrose e evoluir para a perfuração se não forem tratadas(5,17,23). Campos et al. 2008, relataram a presença de esclerite, escleroceratouveíte, ceratoepisclerite e iridociclite nos casos de TB ocular. Ela pode estar associada à lesão escrofulosa do pescoço, lesões cutâneas e têm sido reconhecidas como uma complicação da TB(22). A maioria dos casos de uveíte anterior por TB geralmente é do tipo granulomatosa (Figura 1). A córnea apresenta-se com precipitados do tipo “mutton-fat” e fibrina, difusamente espalhados no endotélio. A câmara anterior mostra células e flare, e nos casos mais graves, pode ocorrer coagulação do humor aquoso e formação de hipópio. A íris pode apresentar-se edemaciada difusamente com nódulos inespecíficos de Koeppe e Busacca (23). Às vezes nódulos específicos na íris (tuberculomas) podem ser encontrados também no corpo ciliar e ângulo da câmara anterior, evidenciando necrose caseosa no exame anatomopatológico (Figura 2a e 2b). Nos casos crônicos, atrofia do estroma iriano anterior e/ou posterior e acometimento do epitélio pigmentário da íris pode ser identificada através do uso Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 do campo vermelho, onde áreas de atrofia iriana deixam passar a luz refletida do fundus. O corpo vítreo pode apresentar células inflamatórias e opacidades cuja intensidade irá depender do nível de acometimento do corpo ciliar. Sinéquias anteriores periféricas, goniosinéquias e sinéquias posteriores podem se formar e causar graves complicações, tais como: membranas inflamatórias na pupila, bloqueio pupilar, íris bombée, aumento da pressão intraocular, formação de catarata, hipotonia e evoluir até mesmo para atrofia bulbar(5,12,23,24,25). A iridociclite pode-se manifestar numa forma leve a moderada do tipo não granulomatosa e as manifestações podem ser agudas, subagudas e crônicas, dependendo da duração da crise. No caso do acometimento do corpo ciliar nota-se a presença de células no corpo vítreo anterior, com opacidades vítreas e glaucoma secundário em alguns casos. O vítreo anterior apresenta células e opacidades que podem ser tão intensas que dificultam o exame das estruturas do segmento posterior. O diagnóstico diferencial inclui sarcoidose, sífilis, Síndrome de Vogt Koyanagi Harada (SVKH), oftalmia simpática, entre outras(12,24). Uveíte posterior Na uveíte posterior a manifestação clínica pode ser a de uma retinite, retinocoroidite, corioretinite, nódulos corodianos isolados ou múltiplos, coroidite multifocal, coroidite serpiginosa, abscesso subrretiniano, vasculite retiniana, edema macular cistóide, papilite, neurite óptica e neurite retrobulbar(12,24). Em uma série de casos descritos no Brasil foram observadas vasculite, descolamento seroso da retina, descolamento tracional da retina, retinocoroidite com vasculite, neurocoroidite, coroidite multifocal aguda como formas de apresentação de uveíte posterior(5,26,27). A inflamação intraocular resultante da TB é classificada como uveíte posterior quando a inflamação predominantemente envolve a coróide, retina e ou nervo óptico. O envolvimento do segmento posterior pode mostrar um espectro de manifestações, desde uma leve coroidite numular focal e coroidite multifocal até endoftalmite endógena grave(5,12,24,28). a. Tubérculos coroideanos A coróide é frequentemente envolvida na TB. Os granulomas de coróide constituem as manifestações mais comuns de TB intraocular em casos de uveíte posterior. Ela pode mostrar a presença de granulomas, que podem ser solitários ou múltiplos. Clinicamente, os granulomas aparecem como pequenos nódulos, de cor branco-amarelada, cinza ou brancacenta, limites imprecisos, e tamanho variando de 0,5 mm a 2.0 mm de diâmetro e podem ser vistos mesmo sem doença extraocular em atividade. As lesões estão localizadas mais frequentemente na re- Tuberculose intraocular 441 Figura 2.a: Nódulos irianos por TB antes do tratamento (tuberculoma) (cortesia dr. André Curi, Fiocruz, Rio de Janeiro) Figura 2.b: Regressão total do granuloma com área de atrofia no estroma iriano após 30 dias de tratamento por TB (cortersia dr. André Curi, Fiocruz, Rio de Janeiro) gião do pólo posterior. Múltiplos pequenos tubérculos são vistos na TB miliar e disseminada(26,29). Existem normalmente menos de cinco tubérculos, mas pode chegar até 60. Podem ser uni ou bilaterais, mas a maior parte dos casos é unilateral. A maioria dos olhos com tubérculos coroideanos não desenvolve inflamação no segmento anterior ou na cavidade vítrea. Descolamento seroso da retina sobrejacente ás vezes é identificado. Membrana neovascular subrretiniana tem sido descrita em associação a tubérculos coroideanos(12,30). A presença de granulomas coroidianos pode ser indicativa de disseminação hematogênica do M. tuberculosis(31). A coroidite atualmente é mais encontrada em pacientes com Aids(32). Croxatto et al. (1986) descreveram o primeiro caso de coroidite tuberculosa em paciente com Aids e TB disseminada. No exame anatomopatológico foi observado a presença de bacilos álcool-ácido resistentes, necrose caseosa e infiltração de mononucleares(33). Granulomas em atividade na coróide, geralmente respondem bem ao tratamento antituberculoso e demoram até 4 meses para cicatrizarem. Os granulomas de coróide podem se tornar pigmentados após a resolução da doença(5,24,27,32,33). O diagnóstico diferencial deve ser feito com lesões provocadas por Pneumocistis carinii, fungos, micobactérias não tuberculosas, sífilis, linfomas, sarcoidose, metástase proveniente de tumores primários do pulmão, mediastino, próstata e outros órgãos(12,34). competentes, em TB disseminada ou em TB do Sistema Nervoso Central. É também relatado em pacientes com Aids, sem reação inflamatória(35-38). Os tuberculomas de coróide podem se apresentar com ou sem TB em atividade. Os tuberculomas em geral apresentam-se como uma grande massa solitária e podem estar localizados em qualquer parte do fundus. Hemorragias, dobras da retina podem ser vistas na superfície do tuberculoma. Podem medir de 04 mm a 14mm, de cor amarelada, subrretiniana, associada ao descolamento de retina exsudativo, e são muitas vezes diagnosticados como abscessos intraoculares tumorais ou infecciosos (Figura 3)(30,39,40). As características ecográficas são variáveis, podendo em alguns casos simular um melanoma, com baixa refletividade interna e alta vascularidade(12). Na angiografia fluoresceínica nota-se a presença de hipofluorescência nas fases precoces e hiperfluorescência nas tardias(27). A tomografia de coerência óptica mostra na área do granuloma, uma elevação da coróide com uma área de contato entre o complexo coriocapilaris-epitélio pigmentário da retina e a retina sensorial suprajacente, e a presença de fluido subrretiniano ao redor da lesão(30). O diagnóstico diferencial de lesões infecciosas na coróide em pacientes com Aids incluem: Pneumocystis carinii, Mycobacterium avium-intracellulare, Crypotococcus neoformans, Histoplamas capsulatum, Cândida sp, Aspergillus fumigatus e Toxoplasma gondii(3). Em pacientes imunocompetentes outras causas de lesões granulomatosas na coróide são: sífilis, sarcoidose, toxoplasmose, brucelose, histoplasmose, toxocaríase, melanoma de coróide, tumor mestastático de coróide, b. Tuberculoma de coróide O tuberculoma de coróide é uma manifestação pouco comum. Pode ocorrer em pacientes imuno- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 442 Campos WR, Campos GS, Miranda SS Figura 3: Tuberculoma de coróide de paciente com tuberculose disseminada; lesão coroideana ativa temporal inferior à mácula; tuberculose disseminada-pleural, laríngea e ocular ( OD ) corioretinopatia serosa central, degeneração macular relacionada à idade(35,37-40). Demirci H et al. (2004) relataram o diagnóstico de TB ocular em cinco pacientes encaminhados com suspeita de tumor intraocular. Dos cinco casos, dois tinham história de TB sistêmica, enquanto que nos outros três, as alterações oculares foram as primeiras manifestações de TB(41). c. Coroidite Serpiginosa-Like A coroidite serpiginosa é uma doença crônica de origem desconhecida, episódica, recorrente, geralmente bilateral cuja inflamação envolve a retina, o epitélio pigmentário da retina, coróide e a coriocapilaris, com cicatrização (Figura 4). Normalmente se inicia na região peridiscal e dissemina centrifugamente em um padrão serpiginoso. Schatz et al. descreveram em 1979 alguns casos em que a mácula era acometida primariamente sem alterações peridiscais precedentes, uma variante da forma clássica denominada coroidopatia serpiginosa macular(42). Gupta et al. (2003) descreveram casos de coroidite tuberculosa em cinco pacientes cuja apresentação clínica incluiu três variantes morfológicas: coroidite multifocal progressiva, lesões difusas semelhantes a coroidite serpiginosa e uma variedade mista. O exame de PCR no humor aquoso e no corpo vítreo foi positivo para Mycobacterium tuberculosis em quatro amostras, exame baciloscópico positivo para bacilo álcool –ácido resistente em um paciente e em dois casos houve evidência anatomopatológica de tuberculose em exame de gânglios para hilares e cervicais. O tratamento para TB conseguiu resolução das lesões coroideanas e melhora da visão(43). Na sua forma peripapilar, pode simular uma coroidite serpiginosa multifocal, em que as lesões são lentamente progressivas e leva a destruição da retina, Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 epitélio pigmentar da retina e coróide adjacente ao nervo óptico(44). Inicialmente as lesões da coroidite serpiginosalike podem progredir, apesar da administração do corticosteróide sistêmico e agentes imunossupressores. No caso de lesões causadas pela TB elas apresentam regressão após o uso de antituberculosos. Ao contrário do que se vê nas lesões de coroidite serpiginosa idiopática, as lesões tuberculosas não recorrem após o tratamento(44). Segundo Gupta et al., todos os pacientes com lesões serpiginosa tratadas com antituberculosos necessitaram do uso concomitante de corticóides sistêmicos ou imunossupressores. Essas lesões não respondem ao antituberculoso isolado, e necessitaram de corticoterapia sistêmica concomitante para combater a hipersensibilidade retardada. Alguns casos mostraram piora inicial e progressão das lesões, apesar de receberem corticosteróides e antituberculosos. Estes olhos apresentaram um padrão difuso ou a forma multifocal da doença. Os pacientes receberam uma dose maior de corticóides sistêmico, inclusive metilprednisolona intravenosa em dois pacientes e imunossupressores em quatro. Recidivas foram observadas em apenas um paciente que tinha suspenso o tratamento para TB por conta própria. Os autores acreditam que o tratamento para TB ajuda na redução do número de recorrências(12). Segundo Teyssot et al., um agente infeccioso pode estar associado a alguma forma de coroidite tais como: serpiginosa, multifocal e placóide. Os casos descritos apresentaram formas graves de inflamação ocular, resistente aos tratamentos com corticosteróides ou imunossupressores. Eles sugerem, que nesta situação, uma profunda investigação na tentativa de encontrar um agente infeccioso deve ser feita para propor um tratamento específico que pode ajudar a controlar o processo induzido pelo agente em associação com o tratamento antiinflamatório adequado(45). O mecanismo exato da apresentação da coroidite tuberculosa serpiginosa-like permanece desconhecida. Alguns autores concordam com a hipótese de que o M. tuberculosis poderia suscitar uma reação alérgica / hipersensibilidade levando a uma coroidite num padrão serpiginoso(46). Rao et al. relataram o encontro do M. tuberculosis no epitélio pigmentário do olho de uma paciente com panuveíte que não melhorou com o tratamento corticoterápico e levou a enucleação do olho. A recorrência em casos de coroidite tuberculosa poderia ser decorrente da reativação do bacilo sequestrado no epitélio pigmentário da retina de pacientes com coroidite multifocal ou serpiginosa-like(44). Miguel Cordero-Coma et al. relataram o caso de um paciente com coroidite serpiginosa presumível e imunossupressão de longa duração que morreu de TB 443 Tuberculose intraocular Figura 4c: Coroidite serpinginosa-like - lesão inativa no OD na mesma época da atividade no OE (cortesia dra. Célia Aparecida Andrade Araújo) Figura 4d: Coroidite serpinginosa-like lesão inativa no OD na mesma época da atividade no OE; Angiografia fluoresceinica mostrando inatividade das lesões (cortesia dra. Célia Aparecida Andrade Araújo) disseminada após o tratamento com inibidor do fator de necrose tumoral (TNF a). Os autores recomendam excluir TB em todos os pacientes de coroidite serpiginosa e, em especial naqueles que mostram achados incomuns, tais como vasculite(47). Perez Alvarez MJ et al. (2003) relataram um caso de uveíte difusa bilateral em uma paciente com 57 anos de idade cujo diagnóstico de TB se baseou no teste tuberculínico acima de 30 mm, história de TB pulmonar passada não tratada e nenhuma evidência de outras causas de uveíte. Admitem que TB intraocular deva ser considerada na coroidite periférica multifocal, após exclusão de outras etiologias(48). Campos et al. 1996 relatam um caso de coroidite multifocal com lesões múltiplas, arredondadas, de limites imprecisos, confluentes, branco-amareladas, bilaterais, acometendo todo o polo posterior, inclusive a área macular, associada ao descolamento seroso da retina e grande baixa de visão, apresentaram regressão total das lesões e recuperação da visão após um mês de tratamento antituberculoso, sem o uso de corticosteróides(26). Os autores desta revisão relatam que em 1994 uma paciente apresentou neurocoroidite bilateral secundária a TB (TT = 20 mm) e história de contato com esposo com TB pulmonar. Após um mês de tratamento com antituberculosos as lesões já tinham regredido com recuperação da visão. O tratamento foi mantido por 6 meses sem corticosteróide oral. Com o passar dos anos uma atrofia peridiscal acometendo a retina e coróide se desenvolveu progressivamente em direção a mácula em ambos os olhos. Após 10 anos, houve o aparecimento de uma lesão na forma de coroidite serpiginosa-like, macular, com formação de membrana neovascular subrretiniana, causando grande baixa visual no olho direito. Mesmo com o uso de altas doses de corticoide oral, a membrana evoluiu e se complicou com hemorragia foveal produzindo uma cicatriz atrófica e perda definitiva da visão neste olho. Naquela época ainda não havia evidência de se utilizar drogas antiangiogênicas. Na li- Figura 4e: Coroidite serpinginosa-like lesão cicatrizada após tratamento antibuberculoso OE (cortesia dra. Célia Aparecida Andrade Araújo) teratura revisada até o momento não foi encontrado qualquer relato de caso semelhante, onde coroidite serpiginosa se desenvolveu anos após o tratamento de uma neurocoroidite tuberculosa sugerindo que a infecção pelo Mtb poderia ser o gatilho para o desenvolvimento tardio de uma coroidite serpiginosa-like em alguns olhos susceptíveis. Não foi possível avaliar a evolução do olho esquerdo, pois a paciente abandonou o controle oftalmológico (Figura 5). d. Abcessos subrretinianos Os abscessos subrretinianos podem permanecer localizados no espaço sub-retiniano ou, devido a uma ruptura retiniana drenarem, para o corpo vítreo, causando uma grave inflamação intraocular. A multiplicação do bacilo no material dos granulomas caseosos pode levar a liquefação, necrose e formação de abscesso. Pacientes com TB podem apresentar abscesso subrretiniano, com pouca inflamação do vítreo sobrejacente. Estes granulomas necrosantes podem ser vistos isoladamente no olho, sem evidência de TB em qualquer outra parte do corpo. Apresentam uma coloração mais amarelada, indicando necrose ou liquefação, associados a hemorragias retinianas suprajacentes e têm uma tendência a desenvolver uma proliferação angiomatosa da retina após algum tempo de doença. As lesões podem apresentar pigmentação e atrofia com chances de boa recuperação visual. Neovascularização subrretiniana pode desenvolver-se dentro da cicatriz. Estas lesões geralmente se curam com antituberculosos(49). O aspecto dos abscessos subrretinianos pode ser confundido com granuloma sarcóide, goma sifilítica, tumor metastático ou causado por outro agente infeccioso(5,12,30). e. Descolamento seroso da retina Descolamento seroso da retina, bilateral, secundário à hipersensibilidade a tubérculo-proteína é uma manifestação rara de TB intraocular(5). Burgoyne et al. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 444 Campos WR, Campos GS, Miranda SS Figura 5: Coroidopatia serpiginosa-like macular com edema seroso e hemorragia na mácula secundária à membrana neovascular subfoveal (1991) relataram um caso de uveíte induzida pelo TT em uma paciente que em nenhum momento de sua vida apresentou evidência de TB. Esta paciente de 16 anos de idade desenvolveu um quadro de uveíte difusa que culminou com descolamento seroso da retina, bilateral, em consequência deste teste, em duas ocasiões separadas, com intervalo de tempo de oito anos entre as crises, e que responderam rapidamente à terapia com corticosteróides(50). Assim, foram descritos quadros graves de ceratouveítes bilaterais e periarterite retiniana, onde houve hemorragia vítrea associada a lesões focais, descolamento seroso bilateral da retina após terem sido submetidos a um teste tuberculínico(51,52,53). As reações inflamatórias secundárias ao teste tuberculínico foram também relatadas por Lish e Berman (1993), que descreveram um quadro de uveíte difusa, bilateral com precipitados ceráticos e sinais inflamatórios na câmara anterior, corpo vítreo e vasculite na periferia da retina (TT igual a 20 mm de enduração e necrose cutânea), em um paciente tratado há um ano de TB pulmonar com rifampicina, isoniazida, etambutol e pirazinamida durante 9 meses(54). Salman A et al. (2003) relataram dois casos com descolamento seroso de retina secundários a granuloma coroideano de etiologia tuberculosa. O exame do fluido subrretiniano revelou a presença de bacilos álcool – ácido resistentes na cultura(30). Foi também descrito o caso de uma criança do sexo feminino, com febre de origem desconhecida, que apresentou uma lesão em forma de massa inflamatória justa discal, multinodular com 4 DD, associada com descolamento de retina exsudativo unilateral, numa manifestação ocular de doença granulomatosa crônica(55). Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 Descolamento seroso da retina e coroidite tuberculosa podem estar associados, e nestes casos, o exame angiofluoresceinográfico dos tuberculomas coroidianos têm aspectos que variam de acordo com a presença ou não de atividade das lesões. No caso de lesões ativas, hiperfluorescência pode ser observada nas fases precoces e extravasamento nas fases tardias. Se houver descolamento seroso associado, as lesões vão mostrar hiperfluorescência precoce bem nítida com extravasamento ao redor das margens das lesões. No caso de lesões coroidianas cicatrizadas nota-se a presença de bloqueio nas fases iniciais com hiperfluorescência tardia(27,36). Edema macular como única manifestação de TB ocular tem sido relatado. Uma paciente submetida a tratamento por TB recuperou a visão com regressão total do edema macular cistóide (56). Paciente do sexo feminino, 32 anos apresentou queixa de dor e perda visual em três dias, com acuidade igual à contadedos a um metro em ambos os olhos. No exame oftalmológico notava-se a presença de leve atividade inflamatória na câmara anterior e presença de raras células no vítreo anterior em ambos os olhos. O exame fundoscópico mostrou a presença de descolamento seroso da retina incluindo a mácula associado à hiperemia do disco óptico em ambos os olhos. Os exames laboratoriais foram normais, exceto o TT que era de 19 mm. O exame ecográfico mostrou a presença de descolamento seroso da retina incluindo a mácula em ambos os olhos. A paciente fez o tratamento para tuberculose ocular por 6 meses. No primeiro mês de tratamento houve regressão completa do descolamento seroso da retina, com recuperação total da visão em ambos os olhos e até esta data não houve recorrência das lesões (relato dos autores), (Figura 6a, 6b e 6d). f. Retinite, retinocoroidite e corioretinite A TB retiniana isolada é muito rara. Alguns autores descreveram periflebite e alterações retinianas secundárias a infecção pelo bacilo de Koch. A retina é acometida mais frequentemente por lesões localizadas na coróide. Entretanto, a TB retiniana pode ser observada em casos secundários à doença disseminada como no caso da TB miliar, levando à formação de retinite exsudativa superficial. Assim, a retinite exsudativa e vasculite retiniana podem ser outras formas de manifestação da doença no fundo de olho(12,34,57). Lesões de corioretinites associadas à vasculite e vitreíte podem ser manifestações de TB ocular, como em um relato de caso onde um paciente com tuberculose pulmonar ativa, na forma de caverna, bacilífera que apresentou uma lesão de corioretinite associada com vasculite e vitreíte intensa. Tanto a lesão pulmonar quanto a ocular regrediram após a instituição do tratamento para TB(28). 445 Tuberculose intraocular Figura 6a: Edema macular bilateral por tuberculose (OD) Figura 6b: Edema macular bilateral por tuberculose (OE) Figura 6c: Regressão total do edema macular bilateral após 60 dias de tratamento para tuberculose (OD) Figura 6d: Regressão total do edema macular bilateral após 60 dias de tratamento para tuberculose (OE) Leng et al. descreveram um caso de retinite por TB que se apresentou como um tumor vascular periférico com neovascularização associada, e com características de hemangioma capilar da retina clássico e de um tumor vasoproliferativo. O tumor respondeu a fotocoagulação a laser de diodo na área da retina acometida e terapia antituberculosa. Os autores sugerem que em qualquer paciente com uma história suspeita de TB, que se apresenta com um tumor vascular que demonstre as características únicas acima descritas, devese considerar a realização de teste tuberculínico e uma radiografia do tórax(58). As cicatrizes corio-retinianas podem ser confundidas com lesões decorrentes de toxoplasmose, histoplasmose, sífilis, toxocaríase, sarcoidose, melanoma, carcinoma metastático e retinoblastoma. g. Vasculite retiniana Vasculite retiniana tuberculosa pode envolver veias ou, raramente, as artérias, e estar associada a doenças sistêmicas. Em olhos enucleados por glaucoma neovascular, Verhoeff e Simpson relataram o achado de um tubérculo na veia central da retina. Regillo et al. relataram um caso de tuberculose comprovada histopatologicamente em um paciente com uveíte e vasculite da retina(59,60). Gupta A et al. (2001) relataram o diagnóstico de vasculite tuberculosa em 13 pacientes através do exame de PCR no humor aquoso e corpo vítreo. Após o diagnóstico, todos os pacientes receberam tratamento antituberculoso com ou sem associação com corticoterapia sistêmica. Após um seguimento de 12 meses todos os pacientes mostraram resolução comple- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 446 Campos WR, Campos GS, Miranda SS ta da vasculite, sem recorrência(61). Acredita-se que a periflebite retiniana seja causada por invasão do M. tuberculosis. Há relatos de casos de perivasculite, em presença de TB pulmonar, em que a maioria das lesões é de periflebite, raramente associadas com oclusão de veia central da retina. Estes casos tiveram regressão das lesões fundoscópicas após a instituição do tratamento antituberculoso. Entretanto, há casos de periflebites que não são causadas por invasão bacilar direta e, sim, secundárias a reações imunes mediadas por células, em pacientes com hipersensibilidade a tubérculo-proteína (Figura 7a, 7b e 7c)(5,12,61). As características clínicas da vasculite retinianas tuberculosa e da sua predileção para as veias da retina pode se assemelhar com a doença de Eales. A vasculite pode representar uma reação de hipersensibilidade ao M. tuberculosis ou ser secundária a uma infecção direta pelo bacilo de Koch. Acredita-se que o organismo pode persistir no tecido ocular e iniciar uma resposta imune de hipersensibilidade mediada, manifestando-se clinicamente como vasculite. A detecção de M. tuberculosis em fluido intraocular por PCR foi utilizado como base para o início dos antituberculosos para eliminar os organismos(49). Uma série de estudos nos últimos anos tem mostrado a presença de vasculite secundária à TB. As características incluem infiltrado vítreo (vitreíte), hemorragias retinianas, neovascularização e neuroretinite. O tratamento inclui a administração oral de corticosteróides e fotocoagulação a laser em áreas com não perfusão capilar devido à isquemia retiniana, associada ao tratamento antituberculoso. Em casos de hemorragia vítrea persistente, vitrectomia via pars plana pode ser requerida(5,12,49). A doença de Eales tem sido associada a casos onde havia a presença de hipersensibilidade a tubérculo-proteína, sendo que alguns pacientes apresentavam TB pulmonar. A periflebite pode recorrer e atingir ambos os olhos. A vasculite retiniana causada pela tuberculose simula a periflebite da doença de Eales, mas com uma diferença, não há qualquer inflamação presente em pacientes com a doença Eales. Outras etiologias além da TB podem causar esta doença, já que há pacientes com as mesmas manifestações, sem apresentar o TT positivo(12,62). No diagnóstico diferencial, doenças como sarcoidose, doença de Behçet, retinopatia de células falciformes ou vasculite idiopáticas(12,62). h. Endoftalmite e Panuveíte Endoftalmite tuberculosa é um processo extremamente grave, aparece em crianças, adultos e usuários de drogas intravenosas. Essa forma da doença geralmente tem um início agudo e mostra a progressão rápida, com destruição de tecidos intraoculares(5,12). Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 Figura 7a: Lesão corioretiniana associada com vasculite retiniana. Note a estrela macular incompleta por tuberculose (OD) Figura 7b: Lesão corioretiniana associada com vasculite retiniana e microangiopatia na metade temporal do fundus ( OD ) Figura 7c: Completa resolução da lesão corio-retiniana após tratamento específico antituberculoso (OD) 447 Tuberculose intraocular No segmento posterior, uma intensa inflamação da coróide faz com que haja a formação de grandes abscessos subrretinianos que podem destruir a membrana Bruchs sobrejacente. Estes abscessos subrretinianos e coroideanos, quando não tratados, podem sofrer liquefação, necrose, com multiplicação rápida dos bacilos e eventualmente, invadir a cavidade vítrea, manifestando-se como endoftalmite ou panoftalmite. Na panoftalmite, a esclera também está envolvida, o que pode resultar na perfuração do globo(63,64). periférica e snowballs que podem confundir o diagnóstico de uma uveíte intermediária(24). i. Neuroretinite e Neurite óptica tuberculosa A meningite é a causa mais comum de doença neuroftalmológica em pacientes com TB. Na metade do século passado foi descrita uma forma de lesão focal caracterizada por uma lesão justadiscal conhecida como coroidite de Jensen, atribuída à TB. Porém, na atualidade este quadro está principalmente associado à toxoplasmose(5). O nervo óptico pode ser acometido secundariamente a uma uveíte ou estar associado a um quadro de meningite tuberculosa. A neurite óptica se desenvolve a partir infecção direta induzida pela micobactéria ou de uma hipersensibilidade ao agente infeccioso. Ele pode estar infiltrado diretamente pelo bacilo (neurite óptica), ou se mostrar edemaciado secundariamente ao aumento da pressão intracraniana (papiledema). Podem resultar da propagação contígua da coróide ou da disseminação hematogênica dos organismos de focos extraoculares principalmente dos pulmões. O acometimento pode ser uni ou bilateral. O envolvimento da porção intracraniana do nervo óptico pode estar associado ou não a lesão de outros nervos oculomotores. A neurite óptica tuberculosa pode ser classificada em: neurite óptica anterior, neurite óptica retrobulbar, aracnoidite opticoquiasmática, tuberculoma do nervo óptico, e pode estar presente em cerca de 25% dos casos de meningite tuberculosa(5,65). A neuroretinite pode se desenvolver a partir da disseminação dos organismos para a retina de uma coroidite justapapilar. Raramente, a neuroretinite pode preceder o aparecimento de descolamento de retina exsudativo causadas pela coroidite multifocal tuberculosa. Outras doenças devem ser consideradas no diagnóstico diferencial ao se avaliar um paciente com neuroretinite: toxoplasmose, sífilis, doença da arranhadura do gato, doença de Lyme, entre outras(12,65). Baciloscopia Consiste no exame microscópico direto de amostras clínicas de vários sítios corporais. A técnica utilizada para bacterioscopia é a de coloração em lâmina chamada Ziehl-Neelsen e de fluorescência. Na técnica de Zielh-Neelsen os bacilos álcool acido resistentes (BAAR) são visualizados em microscópio a luz branca, e estes aparecem de cor vermelha contrastando com fundo azul. Na técnica de coloração fluorescente, os bacilos são visualizados em microscópio fluorescente e aparecem de cor amarelo esverdeado, contrastando com o fundo escuro. Uveíte intermediária Na uveíte intermediária a manifestação clínica pode ser de uma inflamação de pequena intensidade, insidiosa, crônica, com vitreíte, opacidades do tipo snow ball, snow banking, vasculite periférica, granuloma retinocoroidiano periférico, edema cistóide de mácula e papilite(12,66,67). Pacientes podem apresentar periflebite Diagnóstico da TB O diagnóstico de certeza da TB depende do isolamento e identificação do M. tuberculosis no organismo do paciente. Entretanto são utilizados rotineiramente outros métodos como auxiliares diagnósticos. Bacteriológico Cultura A cultura é mais sensível e específica que a baciloscopia, pode ser utilizado meio sólido (LowensteinJensen) ou líquido (automatizado: BACTEC 460-TB, MGIT 960 System; Becton Dickinson, Sparks, MD, EUA; MB/BacT - Organon Teknika, Turnhout, Belgium), para o tempo do resultado. Radiológico Classicamente a radiograma simples de tórax pode evidenciar a presença de um tuberculoma calcificado, infiltrados heterogêneos com cavitação nos segmentos superiores de um ou ambos os pulmões e lesões em segmento posterior do lobo inferior. Na tuberculose miliar, o padrão é em forma de “mille” que são micronódulos intersticiais difusos. Em pacientes imunodeficientes formas atípicas podem ser evidenciadas(68,69). Pacientes infectados com HIV/Aids, forma laríngea e brônquica da TB, com secreção pulmonar positiva para M. tuberculosis podem apresentar um radiograma de tórax normal. Assim, nestes pacientes, a presença de um radiograma normal de tórax não descarta o diagnóstico de TB(3). Teste tuberculínico (TT) O PPD (Derivado Protéico Purificado) é um teste cutâneo onde a tuberculina é usada para fins diagnósticos. Ela é obtida através da precipitação de proteínas de filtrados de cultura de Mycobacterium sp, autoclavados, utililizando-se de meios sintéticos sem Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 448 Campos WR, Campos GS, Miranda SS conter quaisquer proteínas. A forma mais comum do teste é a reação de Mantoux onde 0,1 ml de PPD é injetado intradermicamente. A leitura é feita após 72 96 horas, onde o aspecto importante é a presença de um endurado, o qual deve ser medido no seu maior diâmetro transverso(1,3,4). A reatividade ao TT pode estar deprimida ou suprimida até por 5-8 semanas, em indivíduos que tenham recebido imunização recente com vacinas virais (sarampo, influenza), que tenham tido infecções virais, tais como rubéola, influenza, portadores de HIV/Aids, doenças consumptivas, diabetes, uso de corticosteróides ou agentes imunossupressores. Embora a maioria dos casos de TB seja positiva à tuberculina, a literatura relata que cerca de 10 % dos portadores de TB são não respondem ao TT, devido a alergia tuberculínica secundária à depressão imunológica da própria doença ou característica genéticas de alguns indivíduos(1,3,4). Dosagens de citocinas A alternativa para o diagnóstico de TB infecção latente, atualmente feito pelo TT, são os chamados Interferon-Gamma Release Assay (IGRA). Atualmente, há dois desses testes disponíveis comercialmente: QuantiFERON®-TB Gold (Cellestis Inc., Valencia, CA, EUA) e T-SPOT®.TB (Oxford Immunotec, Abdingdon, Reino Unido). O uso de IGRA ainda não está validado para o uso de rotina no Brasil(3,70-72). Alguns autores relatam a utilidade destes testes em pacientes suspeitos de TB ocular para avaliação da infecção pelo Mtb(10,12,24). Histopatológico É um método empregado principalmente na investigação das formas extrapulmonares, a lesão apresenta-se como um granuloma, geralmente com necrose caseosa e infiltrado histiocitário de células multinucleadas, com presença ou não do bacilo da tuberculose(5,2,6). No olho também podem ser encontradas lesões como necrose caseosa e presença do bacilo(12,22,44,73,74). Métodos moleculares Partindo do pressuposto que o genoma de qualquer organismo é o que de mais específico existe para sua identificação, as técnicas de biologia molecular passaram a ser utilizadas para o diagnóstico de diversas doenças, inclusive para a TB, com a vantagem de poder oferecer o resultado em um tempo muito curto (algumas horas). Desta forma, desenvolveram várias técnicas para esta finalidade. Os métodos mais conhecidos de diagnóstico baseados em amplificação do alvo são: Reação em Cadeia da Polimerase (PCR); Amplificação Mediada por Transcrição (TMA); Amplificação baseada na Sequência de Ácidos Nucleicos (NASBA); Amplifica- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 ção por Transferência de Fita (SDA)(72). A acurácia de diferentes métodos in house de AAN para o diagnóstico da TB pulmonar é heterogênea. Os métodos comerciais apresentam elevadas sensibilidade (96%) e especificidade (85%) em amostras com baciloscopia positiva, mas limitada sensibilidade (66%), apesar de alta especificidade (98%) em amostras negativas(72,75). Alguns trabalhos relatam a utilização de testes moleculares no diagnóstico da TB ocular puncionando o olho, câmara anterior e corpo vitreo(12,76,77). Tratamento Atualmente, no Brasil, o esquema para tratamento de TB é feito com Dose Fixa Combinada (DFC) Rifampicina (R), Isoniazida (H), Pirazimamida (Z), e Etambutol (E) por dois meses e R + H por mais 4 meses (Esquema Básico-EB). O etambutol foi acrescentado, pois em um inquérito feito pelo MS nos últimos anos, foi observado um aumento de resistência primária a Isoniazida(3). Tratamento da TB ocular O tratamento de TB ocular no Brasil segue as mesmas orientações da DNPS do Ministério da Saúde(3). Em casos onde há inflamação ocular crônica e história compatível, o diagnóstico de TB deve ser considerado especialmente se a inflamação não responde à terapia antiinflamatória convencional(5). O tratamento deverá ser acompanhado por especialistas que tenham experiência no manuseio da doença e das drogas, as quais são potencialmente tóxicas e, em alguns casos, até mesmos fatais(3,4). A atuação do oftalmologista no caso de TB ocular será exercida não só na indicação, como também na avaliação e acompanhamento do tratamento(5,12). Uso de corticóide Na TB ocular, a indicação de corticoterapia sistêmica é restrita, principalmente naqueles casos onde há a necessidade de preservação da visão, onde a inflamação causada pela TB é grave e põe em risco a saúde ocular(725,12,23,53). Sendo assim, no caso de se associar à corticoterapia sistêmica, há a necessidade do acompanhamento cuidadoso destes pacientes por especialistas, e a dose de corticosteróides administrada deve ser prescrita de modo a controlar efetivamente o processo inflamatório ocular. A dose recomendada depende da intensidade do processo exsudativo inflamatório, e pode variar de 1 a 2 mg/kg/dia de prednisona por um período de semanas, e a redução da dose deverá ser gradual até a suspensão total(3,4). A administração de corticosteróides sistêmicos também pode ser indicada em casos especiais onde há a presença de inflamação ocular causada por Tuberculose intraocular hipersensibilidade à tubérculo-proteína. A melhora da inflamação somente com o uso de antituberculosos é lenta e demorada e possibilita que, por esta demora, alterações graves, cronificação e aparecimento de complicações intraoculares levem à perda da visão e até mesmo atrofia bulbar(5,9,12,49). Em pesquisas realizadas na Índia as lesões de coroidite serpiginosa e multifocal não respondem somente com o uso da medicação para TB quando administrada isoladamente. Recomendam a associação com corticoide sistêmico para combater a resposta de hipersensibilidade tardia e evitar recorrência(12). Em casos da TB acometer a mácula, disco óptico, ou pela presença de neovascularização retiniana o tratamento com corticoterapia sistêmica está indicado(5,24,56,78). O receio de que o uso de corticosteróides sistêmico isoladamente induza uma imunossupressão e com isso um maior risco de disseminação da doença é apontado por alguns autores como contraindicação para o uso desta droga(49,57). Alguns autores relataram casos de vasculite retiniana, especificamente periflebite, concomitante com TB pulmonar, onde houve regressão do processo inflamatório intraocular e da vasculite, apenas com o uso do medicamento para TB, sem uso de corticóide. Estes autores têm a opinião que provavelmente estas vasculites são de etiologia infecciosa direta, em razão da melhora do quadro apenas com a instituição do tratamento antituberculoso(79). O uso de corticosteróides tópicos está indicado nos casos de ceratoconjuntivite flictenular tuberculosa, uveíte anterior, esclerite e ceratite intersticial, principalmente nos casos onde o processo inflamatório na câmara anterior está bastante intenso, com risco de formação de sinéquias ou membranas inflamatórias, levando à seclusão ou oclusão pupilares, aumento ou diminuição acentuada da pressão intraocular. A frequência e concentração da medicação vão depender da gravidade da doença. Em pacientes com pressão intraocular elevada, betabloqueadores tópicos e inibidores da anidrase carbônica podem ser prescritos, entre outros(24,66). O uso de corticosteróide via subconjuntival ou subtenoniana tem grande risco de exacerbação do processo infeccioso ocular, especialmente naqueles casos onde se suspeita que a lesão contenha a presença de bacilos(5). Em nossa experiência a grande maioria dos casos de TB ocular foi tratada somente com antituberculosos sem uso de corticóide sistêmico e evoluíram para a cura(22). O corticóide somente foi indicado quando não houve o controle do processo inflamatório ou devido a reação paradoxal e logo que houve melhora do processo inflamatório o corticóide foi retirado e mantido o tratamento para TB. 449 Uso de imunossupressor Estudos realizados na Índia relatam o uso de imunossupressor associado ao tratamento da TB ocular quando existem recorrências da uveíte e que não melhoram com a utilização do corticóide oral(12,66). No serviço de Uveíte do HSG/UFMG, os casos de TB ocular evoluíram satisfatoriamente sem a necessidade do uso de imunossupressor. Em dois casos de coroidite serpiginosa-like por TB foram tratados exclusivamente com terapia antituberculosa durante 6 meses (2 RHZ/4RH) com regressão total das lesões sem recorrência (dados não publicados). Considerações finais Apesar do Mycocacteruim tuberculosis não produzir no olho qualquer lesão patognomônica ou característica de TB, alguns tipos de uveíte atualmente têm sido sugeridos como indicadores de provável etiologia tuberculosa. Assim, é importante destacar que na presença de uveíte anterior granulomatosa, coroidite multifocal e/ou serpiginosa, nódulo corodeano e vasculite retiniana, a TB deve ser colocada como uma causa provável, principalmente, em países onde a TB é uma doença endêmica como no Brasil. Atualmente, segundo orientação do MS e da OMS, o tratamento de TB ocular, deverá ser tratada com esquema de quatro drogas: Rifampicina, Pirazinamida, Etambutol e Isoniazida, por um período de 6 meses. Assim, pacientes com diagnóstico de Uveíte Tuberculosa também deverão ser tratados com o esquema indicado. Devido à possibilidade de toxicidade pelo Etambutol, os pacientes com uveíte por TB deverão ser acompanhados periodicamente e orientados sobre as reações adversas deste fármaco, em que a neurite óptica é uma das mais frequentes. O uso do TT ainda é o exame que orienta sobre possível infecção com o Mycobacterium tuberculosis, e quando positivo não significa doença ativa. Outros dados são necessários para se firmar o diagnóstico da uveíte por TB. O exame de certeza para o diagnóstico é o encontro do Mycobacterium tuberculosis em espécimes oculares. No Brasil, ainda não há estudos comprovando a validade do uso dos testes sorológicos e nem a utilização do PCR como fundamento para o diagnóstico ou indicador de tratamento de uveíte por TB. Pacientes com uveíte suspeita de TB, que não melhoram com o esquema básico nos primeiros dois meses, recorrência da doença durante o tratamento ou que recidivam nos primeiros dois anos após a alta medicamentosa, provavelmente não são considerados como de etiologia por TB. Outras causas deverão ser pesquisadas. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 437-51 450 Campos WR, Campos GS, Miranda SS O uso de corticosteróides e/ou imunossupressores durante o tratamento poderá ser indicado em situações especiais. O tratamento para TB latente deverá ser indicada nos casos onde o TT é maior ou igual a 5 mm em paciente que estiver em uso de corticosteróide em dose superior a 15 mg/dia por mais de 30 dias, candidato ao uso de imunossupressão por tempo prolongado ou uso de bloqueadores de TNF-alfa. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Comitê Técnico-Científico de Assessoramento à Tuberculose. 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Abreu, Elvira Barbosa ...et al. - Espessamento do tendão muscular na oftalmopatia de Graves ........................................................................ 6 378 ED. PÁG. Araújo, Maria Emília Xavier Santos ...et al. - A influência do laboratório no tratamento da ceratite infecciosa ................................. 3 174 Avakian, Amaryllis ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ........................................ 1 7 Agostini, Fernanda Spinassé ...et al. - Conjuntivite neonatal com ênfase na sua prevenção ........................................................................... 1 57 Ahmad, Habeeb ...et al. - Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye .............................. 6 408 Almeida, Aline de ...et al. - Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário ................................................................................. 4 Ávila, Marcos Pereira ...et al. - Análise da camada de fibras nervosas da retina pela tomografia de coerência óptica em pacientes com anemia falciforme ....................................................................................... 3 143 238 Avozani, Monique Lazzaretti ...et al. - Facoemulsificação com uso de gancho de íris em paciente com iridosquise .......................................... 3 188 Barbosa, Augusto Ferreira ...et al. - Hemangioma racemoso da retina: Um caso clínico ............................................................................................ 5 303 Barros, Rodrigo Andrade de ...et al. - Glaucoma secundário à iridociclite heterocrômica de Fuchs ........................................................ 2 114 Batista, Jefferson Luiz Alves ...et al. - Pupila dilatada fixa (síndrome de Urrets-Zavalia) após ceratoplastia lamelar profunda .................. 4 248 Beniz, José ...et al. - Cirurgia de catarata a laser ................................. 6 340 168 Biancardi, Ana Luiza ...et al. - Confirmação do cálculo de lente intraocular através da refração intraoperatória ................................. 2 118 157 Biancardi, Ana Luiza...et al. - Diagnóstico e tratamento do lenticone anterior ......................................................................................................... 4 257 306 Bittencourt, Zelia Zilda Lourenço de Camargo ...et al. - Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program ......................................................................................................... 6 342 261 Bonamigo, Elcio Luiz ...et al. - Anoftalmia bilateral como defeito congênito isolado: uma abordagem etiológica e psicossocial ........... 4 243 Boteon, Joel Edmur ...et al. - Refractive lens exchange using SN60T5 AcrySof Toric intraocular lens in stage 2 keratoconus ....................... 5 296 Boucault, Fernando Costa ...et al. - Análise da relação entre espessura macular e espessura da camada de fibras nervosas ........ 1 23 Branco, Felipe Roberto Exterhotter ...et al. - Perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no Hospital Regional de São José ......................................................................................................... 6 391 Brasil, Alexandre Almeida ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ....................... 1 7 Buscacio, Eduardo Scaldini ...et al. - Estudo sobre os fatores relacionados à interrupção do tratamento do glaucoma .................... 6 371 Caballero, Juan Carlos ...et al. - A capsulotomia descontínua durante a facoemulsificação ..................................................................................... 6 367 Caldas, Diogo ...et al. - Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye .............................. 6 408 349 Caldas, Diogo Leitão ...et al. - Impacto da análise do ‘wavefront’ na refratometria de pacientes com ceratocone .......................................... 1 16 207 Caldas, Diogo Leitão ...et al. - Ceratoplastia em crianças: indicações e resultados .................................................................................................. 2 99 188 Calixto, Nassim ...et al. - Diagnosis and treatment of hyperfiltering blebs ............................................................................................................... 4 211 Calixto, Nassim ...et al. - Nevus of Ota: clinical-ophthalmological findings .......................................................................................................... 5 278 Camarota, Isabela Soutello ...et al. - Atrofia essencial da íris associada à hipertrofia congênita do epitélio pigmentar da retina ... 3 185 Almeida, Hirlana Gomes ...et al. - Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil ............................................................................................................. 6 384 Almodin, Flavia ...et al. - Avaliação da pressão intraocular e exoftalmometria pré e pós-bloqueio peribulbar em pacientes submetidos à facectomia ............................................................................ 3 168 Almodin, Juliana ...et al. - Implantes de drenagem Molteno 3® ............... 2 88 Almodin, Juliana ...et al. - Avaliação da pressão intraocular e exoftalmometria pré e pós-bloqueio peribulbar em pacientes submetidos à facectomia ............................................................................ 3 Alves, Milton Ruiz ...et al. - Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental .................. 3 Alves, Milton Ruiz ...et al. - New concepts in accommodation and presbyopia .................................................................................................... 5 Amaro, Flávia Araújo Hage ...et al. - Tratamento da degeneração macular relacionada à idade com neovascularização de coróide extrafoveal. Análise de uma série de casos e revisão de literatura .... 4 Amaro, Miguel Hage ...et al. - Tratamento da degeneração macular relacionada à idade com neovascularização de coróide extrafoveal. Análise de uma série de casos e revisão de literatura ....................... 4 261 Ambrósio Junior, Renato ...et al. - Correlações entre a densitometria do cristalino através da imagem de Scheimplufg, tempo e gasto de energia na cirurgia de facoemulsificação ............................................. 3 147 Ambrósio Junior, Renato ...et al. - Diagnóstico e tratamento do lenticone anterior ....................................................................................... 4 257 Ambrósio Junior, Renato ...et al. - Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye ............... 6 408 Ambrósio Junior, Renato ...et al. - Avaliação da pressão intraocular através do ocular response analyzer antes e após cirurgia de facoemulsificação ........................................................................................ 1 11 Ambrósio Junior, Renato ...et al. - Impacto da análise do ‘wavefront’ na refratometria de pacientes com ceratocone ............... 1 16 Ambrósio Junior, Renato ...et al. - Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea ....................................................................................................... 6 Ambrósio Junior, Renato...et al. - A Revolução dos Lasers de Femtossegundo na Oftalmologia .............................................................. 4 Amigo, Maria Helena Lopes ...et al. - Facoemulsificação com uso de gancho de íris em paciente com iridosquise .......................................... 3 Amigo, Maria Helena Lopes ...et al. - Neuropatia óptica isquêmica posterior como complicação pós-cirurgia de blefaroplastia: Relato de caso ........................................................................................................... 6 422 Andrade, Lorena Santana ...et al. - Avaliação dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de Medicina da Universidade Federal do Piauí .......................................................................................... 1 27 Aragão, Ricardo Evangelista Marrocos de ...et al. - Síndrome Sjögren – Larsson. Relato de caso ......................................................................... 6 416 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 452-8 Campos, Gisele Schelgshorn ...et al. - Tuberculose intraocular ........ 6 Campos, Mauro ...et al. - Retratamento de LASIK com fotoablação personalizada versus fotoablação convencional utilizando o LADAR – Alcon .......................................................................................................... 3 437 162 453 ED. PÁG. Campos, Wesley Ribeiro ...et al. - Tuberculose intraocular ............... 6 Canedo, Ana Laura...et al. - Avaliação da pressão intraocular através do ocular response analyzer antes e após cirurgia de facoemulsificação ........................................................................................ 1 Canedo, Ana Laura...et al. - Correlações entre a densitometria do cristalino através da imagem de Scheimplufg, tempo e gasto de energia na cirurgia de facoemulsificação ............................................. 3 Canedo, Ana Laura Caiado ...et al. - Ceratoplastia em crianças: indicações e resultados .............................................................................. 2 Canedo, Ana Laura Caiado...et al. - Novel use of Trypan Blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye .. 6 Carvalho, Geraldo Miranda de ...et al. - Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu(UNESP) com ênfase no tratamento realizado ..................................... 6 Carvalho, Keila Miriam Monteiro de ...et al. - Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program ......................................................................................................... 6 Carvalho, Mário José ...et al. - Refractive lens exchange using SN60T5 AcrySof Toric intraocular lens in stage 2 keratoconus ....................... 5 Castro, André Rodrigues de ...et al. - Avaliação dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de Medicina da Universidade Federal do Piauí .......................................................................................... 1 Castro, Paulo Roberto de Azevedo ...et al. - Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest ...................... 6 437 ED. PÁG. Faria, Daniela Silveira de ...et al. - Diagnosis and treatment of hyperfiltering blebs .................................................................................... 4 211 11 Favarato, Marina ...et al. - Avaliação da pressão intraocular e exoftalmometria pré e pós-bloqueio peribulbar em pacientes submetidos à facectomia ............................................................................ 3 168 147 Ferreira, Filipe Mira ...et al. - Hemangioma racemoso da retina: Um caso clínico .................................................................................................... 5 303 99 Figueiredo, Candido ...et al. - Síndrome de Sturge-Weber e suas repercussões oculares: revisão da literatura ....................................... 3 194 408 Figueiredo, Louise Rodrigues Candido ...et al. - Síndrome de SturgeWeber e suas repercussões oculares: revisão da literatura .............. 3 194 Figueiredo, Marisa Novaes Falleiro Chaves de ...et al. Neuroblastoma com metástase orbitária ............................................... 2 109 Filho, João Batista Lopes ...et al. - Avaliação dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de Medicina da Universidade Federal do Piauí .......................................................................................... 1 27 296 Fonseca Júnior, Nilson Lopes da ...et al. - Eficácia da aplicação da pomada EMLA® no alívio da dor desencadeada pela injeção de toxina botulínica tipo A no tratamento do blefaroespasmo essencial benigno .......................................................................................................... 2 83 27 Fonseca Júnior, Nilson Lopes da ...et al. - Efeitos da blefaroplastia na síndrome da disfunção lacrimal .......................................................... 3 151 Fonseca, Fabricio Lopes da ...et al. - Cutaneous metastasis in choroidal melanoma ...................................................................................................... 5 300 Fonseca, Fabrício Lopes da ...et al. - Necrose retiniana aguda por presumível etiologia viral por herpes simples resultando em endoftalmite: Relato de caso .................................................................... 1 41 Francis, Júlia ...et al. - Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário ................................................................................................. 4 238 Franco, Leiser ...et al. - Análise da camada de fibras nervosas da retina pela tomografia de coerência óptica em pacientes com anemia falciforme ...................................................................................................... 3 143 238 400 342 358 Centurion, Virgilio ...et al. - A capsulotomia descontínua durante a facoemulsificação ........................................................................................ 6 367 Chahud, Fernando ...et al. - Efeito do dinitrato de isossorbida sobre a hiperalgesia corneana induzida por lipopolissacarídeo ................. 5 290 Colombini, Giovanni Nicola Umberto Italiano ...et al. - Estudo sobre os fatores relacionados a interrupção do tratamento do glaucoma . 6 Colossi, Carina G ...et al. - Retinoschisis ................................................ 2 371 125 Cordeiro, Melina Cavichini ...et al. - Glaucoma secundário à iridociclite heterocrômica de Fuchs ........................................................ 2 114 Corso, Diego Davi ...et al. - Anoftalmia bilateral como defeito congênito isolado: uma abordagem etiológica e psicossocial ........... 4 243 Frasson, Maria ...et al. - Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário ................................................................................................. 4 243 Freire, Maria Elisabete Rodrigues ...et al. - Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program ..... 6 342 Freitas, Giuliano de Oliveira ...et al. - Refractive lens exchange using SN60T5 AcrySof Toric intraocular lens in stage 2 keratoconus ....... 5 296 Freitas, Henrique Leite ...et al. - Nevus of Ota: clinicalophthalmological findings ......................................................................... 5 278 Ghirelli, Wagner ...et al. - Neuropatia óptica isquêmica posterior como complicação pós-cirurgia de blefaroplastia: Relato de caso ... 6 422 Gomes, José Álvaro Pereira ...et al. - Pupila dilatada fixa (síndrome de Urrets-Zavalia) após ceratoplastia lamelar profunda .................. 4 248 Gonçalves, Allan C. Pieroni ...et al. - Acometimento orbitário na doença de Rosai-Dorfman ......................................................................... 1 46 Grisolia, Ana Beatriz Diniz ...et al. - Pupila dilatada fixa (síndrome de Urrets-Zavalia) após ceratoplastia lamelar profunda .................. 4 248 Grumann Júnior, Astor ...et al. - Perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no Hospital Regional de São José ..................... 6 391 Guerra, Frederico Procopio ...et al. - Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye ..... 6 408 168 Hagemann, Luiz Felipe ...et al. - Miopia aguda induzida por topiramato: relato de dois casos .............................................................. 3 191 238 Helal Junior, John ...et al. - Necrose retiniana aguda por presumível etiologia viral por herpes simples resultando em endoftalmite: Relato de caso .............................................................................................. 1 41 Hida, Wilson Takashi ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ........................................ 1 7 Holanda Filha, Joana Gurgel ...et al. - Síndrome Sjögren – Larsson. Relato de caso .............................................................................................. 6 416 Januário, Flávia Sotto-Maior ...et al. - Estrabismo após toxina botulínica para fins estéticos .................................................................... 3 179 Corso, Mário Alberto ...et al. - Anoftalmia bilateral como defeito congênito isolado: uma abordagem etiológica e psicossocial ........... 4 Couto Junior, Abelardo de Souza ...et al. - Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest ...................... 6 358 Crema, Armando Stefano ...et al. - Confirmação do cálculo de lente intraocular através da refração intraoperatória ................................. 2 118 Crema, Armando Stefano ...et al. - Diagnóstico e tratamento do lenticone anterior ....................................................................................... 4 257 Cronemberger, Sebastião ...et al. - Diagnosis and treatment of hyperfiltering blebs .................................................................................... 4 211 Cronemberger, Sebastião ...et al. - Nevus of Ota: clinicalophthalmological findings ......................................................................... 5 Cunha, Fernando Queiróz ...et al. - Efeito do dinitrato de isossorbida sobre a hiperalgesia corneana induzida por lipopolissacarídeo ..... 5 Cvintal, Tadeu ...et al. - Efeito da trepanação na previsibilidade da correção da ametropia esférica pós-transplante ................................. 2 Cvintal, Tadeu ...et al. - Implantes de drenagem Molteno 3® ...................... 2 Cvintal, Tadeu ...et al. - Avaliação da pressão intraocular e exoftalmometria pré e pós-bloqueio peribulbar em pacientes submetidos à facectomia ............................................................................ 3 D’Almeida, Ana Gabriela Zum Bach ...et al. - Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário ......................................... 4 278 290 77 88 Dias, Daniele Roma ...et al. - Síndrome Sjögren – Larsson. Relato de caso ................................................................................................................. 6 416 Espíndola, Rodrigo França de ...et al. - Expectativas e conhecimento entre pacientes com indicação de transplante de córnea ................... 4 230 Faria, Daniela ...et al. - Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário ................................................................................................. 4 238 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 452-8 454 ED. PÁG. Jardim, Daniela ...et al. - Avaliação da pressão intraocular através do ocular response analyzer antes e após cirurgia de facoemulsificação ........................................................................................ 1 Jorge, Priscila de Almeida ...et al. - Características clínicas e oftalmológicas de indivíduos com necessidades especiais institucionalizados no estado de Pernambuco, Brasil ......................... 2 ED. PÁG. Marcio, Fernanda ...et al. - Ectopia lentis et pupillae .......................... 3 182 11 Marcomini, Luís Antonio Gorla ...et al. - Seleção de córneas para transplantes .................................................................................................. 6 430 93 Marques, Daniela M.V. ...et al. - New technique to demonstratecorneal magnification using trypan blue in cataract surgery .......................................................................................................... 4 235 Marques, Frederico F. ...et al. - New technique to demonstrate corneal magnification using trypan blue in cataract surgery .......................... 4 235 Mascaro, Vera Lucia Degaspare Monte ...et al. - A influência do laboratório no tratamento da ceratite infecciosa ................................. 3 174 Matayoshi, Suzana ...et al. - Cutaneous metastasis in choroidal melanoma ...................................................................................................... 5 300 Matayoshi, Suzana ...et al. - Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial ....................................... 6 363 Medeiros, Fabricio Witzel de ...et al. - Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial ............... 6 363 Medeiros, João Neves de ...et al. - Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário .......................................................................... 4 238 Meirelles, Sérgio Henrique Sampaio ...et al. - Neuroblastoma com metástase orbitária ..................................................................................... 2 109 Mendonça, Rafael Cesário de ...et al. - Barotrauma ocular durante mergulho autônomo: relato de caso ........................................................ 6 419 Menezes, Paulo Augusto Hidalgo de ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ............... 1 7 Meyer, Isadora ...et al. - Tumor metastático uveal: revisão de literatura sobre a neoplasia ocular maligna mais comum .................. 1 51 363 Kara-Junior, Newton ...et al. - Importância do centro cirúrgico ambulatorial para a realização de cirurgias de catarata em larga escala ............................................................................................................. 2 75 Kara-Junior, Newton ...et al. - Expectativas e conhecimento entre pacientes com indicação de transplante de córnea .............................. 4 230 Kara-Junior, Newton ...et al. - A Situação do ensino da facoemulsificação no Brasil ...................................................................... 5 275 Lacava, Cézar ...et al. - A capsulotomia descontínua durante a facoemulsificação ........................................................................................ 6 367 Lacordia, Marta Halfeld Ferrari Alves ...et al. - Estrabismo após toxina botulínica para fins estéticos ....................................................... 3 179 Lana, Flávia Pelinsari ...et al. - A influência do laboratório no tratamento da ceratite infecciosa ............................................................ 3 174 Leite, Daniel Amorim ...et al. - Avaliação dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de medicina da Universidade Federal do Piauí .......................................................................................... 1 27 Leite, Rubens Amorim ...et al. - Avaliação dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de medicina da Universidade Federal do Piauí .......................................................................................... 1 27 Lima, Acácio Alves de Souza ...et al. - Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye .. 6 408 Lima, Fernanda Bina Fonyat de ...et al. - Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea ....................................................................................................... 6 349 Lima, Rafaela Cavalcante de ...et al. - Manifestações retinianas em pacientes portadores de anemia de células falciformes ..................... 5 Miki, Gustavo ...et al. - Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial ....................................... 6 284 Lima, Vagner Loduca ...et al. - Opacificação tipo “snowflake” em lente intraocular de polimetilmetacrilato (PMMA) ............................ 2 Mine, Alexandre ...et al. - Facoemulsificação com uso de gancho de íris em paciente com iridosquise ............................................................. 3 188 122 Miranda, Silvana Spíndola de ...et al. - Tuberculose intraocular ...... 6 437 Lorena, Silvia Helena Tavares ...et al. - Dacriocistite aguda: relato de 2 casos ...................................................................................................... 1 37 Mitre, Jorge ...et al. - Análise da relação entre espessura macular e espessura da camada de fibras nervosas ............................................... 1 23 104 Modulo, Carolina Maria ...et al. - Efeito do dinitrato de isossorbida sobre a hiperalgesia corneana induzida por lipopolissacarídeo ..... 5 290 426 Monteiro, Mário Luiz Ribeiro ...et al. - Acometimento orbitário na doença de Rosai-Dorfman ......................................................................... 1 46 396 Montilha, Rita de Cássia Ietto ...et al. - Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program ........ 6 342 Moreira, Pedro Bertino ...et al. - Ectopia lentis et pupillae ............... 3 182 Lorena, Silvia Helena Tavares ...et al. - Estudo retrospectivo da obstrução congênita do ducto lácrimonasal .......................................... 2 Lorena, Silvia Helena Tavares ...et al. - Canaliculite: relato de caso e conduta ....................................................................................................... 6 Lorena, Silvia Helena Tavares ...et al. - Estudo epidemiológico da dacriocistite crônica ................................................................................... 6 Lorena, Silvia Helena Tavares ...et al. - Complicações intra e pósoperatória da dacriocistorrinostomia externa ..................................... 6 404 Loureiro, António Jesus Roque ...et al. - Hemangioma racemoso da retina: Um caso clínico ............................................................................... 5 Moro, Fernando ...et al. - Efeito da trepanação na previsibilidade da correção da ametropia esférica pós-transplante .................................. 2 77 303 Lucci, Lucia Miriam Dumont ...et al. - Efeitos da blefaroplastia na síndrome da disfunção lacrimal ................................................................ 3 Moro, Karine Moysés ...et al. - Efeito da trepanação na previsibilidade da correção da ametropia esférica pós-transplante ............................ 2 77 151 Ludwig, Fernando César ...et al. - Miopia aguda induzida por topiramato: relato de dois casos .............................................................. 3 191 Motta, Cesar Tavares ...et al. - Tratamento da degeneração macular relacionada à idade com neovascularização de coróide extrafoveal. Análise de uma série de casos e revisão de literatura ....................... 4 261 157 Motta, Mario Martins dos Santos ...et al. - Tratamento da degeneração macular relacionada à idade com neovascularização de coróide extrafoveal. Análise de uma série de casos e revisão de literatura ....... 4 261 Moura, Frederico Castelo ...et al. - Acometimento orbitário na doença de Rosai-Dorfman ....................................................................................... 1 46 Moura, Rodrigo Thompson de ...et al. - Análise da relação entre espessura macular e espessura da camada de fibras nervosas ........ 1 23 157 Mourad, Paula de Camargo Abou ...et al. - Expectativas e conhecimento entre pacientes com indicação de transplante de córnea ... 4 230 211 Moysés, Nadia Ajub ...et al. - Importância da perimetria manual cinética na avaliação de pacientes com glaucoma avançado ............. 1 33 143 Moysés, Nadia Ajub ...et al. - Eficácia da aplicação da pomada EMLA® no alívio da dor desencadeada pela injeção de toxina botulínica tipo A no tratamento do blefaroespasmo essencial benigno .... 2 83 77 Müller, Vilmar ...et al. - Miopia aguda induzida por topiramato: relato de dois casos ................................................................................................. 3 191 218 Nakano, Celso Takashi ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ........................................ 1 7 Lui, Aline Cristina Fioravanti ...et al. - Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental .................................................................................................. 3 Lui, Giovana Arlene Fioravanti ...et al. - Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental .................................................................................................. 3 Lui, Tatiana Adarli Fioravanti ...et al. - Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental .................................................................................................. 3 Maestrini, Heloisa Andrade ...et al. - Diagnosis and treatment of hyperfiltering blebs .................................................................................... 4 Magacho, Leopoldo ...et al. - Análise da camada de fibras nervosas da retina pela tomografia de coerência óptica em pacientes com anemia falciforme ....................................................................................... 3 Magalhães, Renata Soares ...et al. - Efeito da trepanação na previsibilidade da correção da ametropia esférica pós-transplante .... 2 Marchiori, James da Costa ...et al. - Uso profilático de mitomicina C para inibir a formação de ‘haze’ após ceratectomia fotorrefrativa em miopias altas – resultados após dois anos ....................................... 4 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 452-8 157 455 ED. PÁG. Narikawa, Silvia ...et al. - Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura ....................................................................................................... 6 411 ED. PÁG. Portes, Arlindo José Freire ...et al. - A RBO na era da informação digital ............................................................................................................. 1 Portes, Arlindo José Freire ...et al. - Além da Oftalmologia ............. 3 5 141 Portes, Arlindo José Freire ...et al. - Percepção da administração tópica ocular de drogas: aplicador facial x gotas ................................. 4 224 358 416 Nascimento, Heloisa Moraes do ...et al. - Retratamento de LASIK com fotoablação personalizada versus fotoablação convencional utilizando o LADAR – Alcon ................................................................... 3 162 Negrão, Bianca Caluf ...et al. - Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil ........ 6 384 Portes, Arlindo José Freire ...et al. - Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest ........................................... 6 157 Rabello, Leonardo Portela ...et al. - Síndrome Sjögren – Larsson. Relato de caso .............................................................................................. 6 248 Rabello, Luciana Portela ...et al. - Síndrome Sjögren – Larsson. Relato de caso .............................................................................................. 6 416 Ramos, Gabriel Zatti ...et al. - Ectopia lentis et pupillae ................... 3 182 Netto, Adamo Lui ...et al. - Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental .................. 3 Nogueira Filho, Pedro Antonio ...et al. - Pupila dilatada fixa (síndrome de Urrets-Zavalia) após ceratoplastia lamelar profunda ... 4 Oliveira Júnior, Paschoal Josias de ...et al. - Neuroblastoma com metástase orbitária ..................................................................................... 2 109 Oliveira, Cristiana Dumaresq de ...et al. - Acometimento orbitário na doença de Rosai-Dorfman .................................................................... 1 Ramos, Isaac Carvalho de Oliveira ...et al. - Ceratoplastia em crianças: indicações e resultados ............................................................ 2 99 46 Oliveira, Mariana Bellini ...et al. - Efeito do dinitrato de isossorbida sobre a hiperalgesia corneana induzida por lipopolissacarídeo ..... 5 290 Rassi, Luis Alexandre ...et al. - Análise da camada de fibras nervosas da retina pela tomografia de coerência óptica em pacientes com anemia falciforme ....................................................................................... 3 143 218 Rego, Patrícia Rios da Silva ...et al. - Características clínicas e oftalmológicas de indivíduos com necessidades especiais institucionalizados no estado de Pernambuco, Brasil ......................... 2 93 33 Rehder, José Ricardo Carvalho Lima ...et al. - Análise da relação entre espessura macular e espessura da camada de fibras nervosas ..... 1 23 Rehder, José Ricardo Carvalho Lima ...et al. - Eficácia da aplicação da pomada EMLA® no alivio da dor desencadeada pela injeção de toxina botulínica tipo A no tratamento do blefaroespasmo essencial benigno .......................................................................................................... 2 83 Rehder, José Ricardo Carvalho Lima ...et al. - Glaucoma secundário à iridociclite heterocrômica de Fuchs ..................................................... 2 114 400 Rehder, José Ricardo Carvalho Lima ...et al. - Opacificação tipo “snowflake” em lente intraocular de polimetilmetacrilato (PMMA) .... 2 122 303 Rehder, José Ricardo Carvalho Lima ...et al. - Efeitos da blefaroplastia na síndrome da disfunção lacrimal ............................... 3 151 11 Rehder, José Ricardo Carvalho Lima ...et al. - Síndrome de SturgeWeber e suas repercussões oculares: revisão da literatura .............. 3 194 224 Reimann, Jamile Moreira ...et al. - Diagnosis and treatment of hyperfiltering blebs .................................................................................... 4 211 57 Ribeiro, Erlane Marques ...et al. - Síndrome Sjögren – Larsson. Relato de caso ........................................................................................................... 6 416 Ribeiro, Lívia Adnet Martins ...et al. - Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest ...................... 6 358 Ribeiro, Luiz Felipe Guaraná Martins ...et al. - Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest ...................... 6 358 419 Oliveira, Paulo Ricardo Pereira de ...et al. - Uso profilático de Mitomicina C para inibir a formação de ‘haze’ após ceratectomia fotorrefrativa em miopias altas – resultados após dois anos ........... 4 Omi, Carlos Akira ...et al. - Importância da perimetria manual cinética na avaliação de pacientes com glaucoma avançado ............. 1 Osher, Robert H. ...et al. - New technique to demonstrate corneal magnification using trypan blue in cataract surgery .......................... 4 235 Padovani, Carlos Roberto ...et al. - Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura .................................................................................................. 6 411 Padovani, Carlos Roberto ...et al. - Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu(UNESP) com ênfase no tratamento realizado ..................................... 6 Paiva, Maria Catarina Santos Isabel Rodrigues Paiva...et al. Hemangioma racemoso da retina: um caso clínico ............................... 5 Palis, Marcelo ...et al. - Avaliação da pressão intraocular através do ocular response analyzer antes e após cirurgia de facoemulsificação ... 1 Paredes, Marcella Viana,Angela Flores ...et al. - Percepção da administração tópica ocular de drogas: aplicador facial x gotas ..... 4 Passos, Angelo Ferreira ...et al. - Conjuntivite neonatal com ênfase na sua prevenção ......................................................................................... 1 Paula, Jayter Silva ...et al. - Efeito do dinitrato de isossorbida sobre a hiperalgesia corneana induzida por lipopolissacarídeo ................. 5 290 Paula, Thales Antonio Abra de ...et al. - Implantes de drenagem Molteno 3® ........................................................................................................................................................................... 2 88 Paula, Thales Antonio Abra de ...et al. - Facoemulsificação com uso de gancho de íris em paciente com iridosquise ..................................... 3 188 Pazos, Henrique Baltar ...et al. - Pupila dilatada fixa (síndrome de Urrets-Zavalia) após ceratoplastia lamelar profunda ....................... 4 248 Peixoto, Diana Linhares Leins ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ....................... 1 Ribeiro, Verônika Maria Weyll Adnet Martins ...et al. Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest ..................................................................................................... 6 7 Pereira, Fabiana Dalla Rosa ...et al. - Opacificação tipo “snowflake” em lente intraocular de polimetilmetacrilato (PMMA) ..................... 2 Rocha, Eduardo Melani ...et al. - Efeito do dinitrato de isossorbida sobre a hiperalgesia corneana induzida por lipopolissacarídeo ..... 5 290 122 Rocha, Julia ...et al. - Percepção da administração tópica ocular de drogas: aplicador facial x gotas ............................................................... 4 224 238 Rodrigues, Eduardo Büchele ...et al. - Anoftalmia bilateral como defeito congênito isolado: uma abordagem etiológica e psicossocial .. 4 243 363 Rodrigues, Márcio Penha Morterá ...et al. - Barotrauma ocular durante mergulho autônomo: relato de caso ......................................... 6 419 Roller, Aaron Brock ...et al. - Tratamento da degeneração macular relacionada à idade com neovascularização de coróide extrafoveal. Análise de uma série de casos e revisão de literatura ....................... 4 261 Rossato, Luiz Angelo ...et al. - Acometimento orbitário na doença de Rosai-Dorfman ............................................................................................. 1 46 147 Russ, Heloisa Helena Abil ...et al. - Expectativas e conhecimento entre pacientes com indicação de transplante de córnea ................... 4 230 16 Sá, João Carlos Abalém de ...et al. - Barotrauma ocular durante mergulho autônomo: relato de caso ........................................................ 6 419 99 Sá, Maria Fernanda Abalem de ...et al. - Barotrauma ocular durante mergulho autônomo: relato de caso ........................................................ 6 419 Pereira, Frederico Braga ...et al. - Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário .......................................................................... 4 Pereira, Ivana Cardoso ...et al. - Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial ................................. 6 Pereira, José Alexandre Bastos ...et al. - Atrofia essencial da íris associada à hipertrofia congênita do epitélio pigmentar da retina . 3 185 Pereira, Júlio César Costa ...et al. - Estrabismo após toxina botulínica para fins estéticos ....................................................................................... 3 179 Pimentel, Leonardo ...et al. - Correlações entre a densitometria do cristalino através da imagem de Scheimplufg, tempo e gasto de energia na cirurgia de facoemulsificação ............................................. 3 Pimentel, Leonardo Nogueira ...et al. - Impacto da análise do ‘wavefront’ na refratometria de pacientes com ceratocone ............... 1 Pimentel, Leonardo Nogueira ...et al. - Ceratoplastia em crianças: indicações e resultados .............................................................................. 2 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 452-8 456 ED. PÁG. ED. PÁG. Silverio, Juliana ...et al. - Efeitos da blefaroplastia na síndrome da disfunção lacrimal ....................................................................................... 3 151 400 Salomão, Marcella Quaresma ...et al. - Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea ....................................................................................................... 6 Simão, Laura Fernandez ...et al. - Uso profilático de mitomicina C para inibir a formação de ‘haze’ após ceratectomia fotorrefrativa em miopias altas – resultados após dois anos ....................................... 4 218 349 Santos, Mário Jorge ...et al. - Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental .................. 3 157 Simão, Sérgio Augusto Falkembach ...et al. - Uso profilático de mitomicina C para inibir a formação de ‘haze’ após ceratectomia fotorrefrativa em miopias altas – resultados após dois anos ............ 4 218 157 Sobral, Régia Maria Gondim Ramos ...et al. - Seleção de córneas para transplantes ........................................................................................ 6 425 284 Sales, Fabrício Rendeiro ...et al. - Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu(UNESP) com ênfase no tratamento realizado ..................................... 6 Santos, Rodrigo Ribeiro ...et al. - Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental ..... 3 Santos-Neto, Edson dos ...et al. - New concepts in accommodation and presbyopia .................................................................................................... 5 306 Sobrinho, Edmundo Frota de Almeida ...et al. - Manifestações retinianas em pacientes portadores de anemia de células falciformes .. 5 Saraiva, Fabio Petersen ...et al. - Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial ................................. 6 363 Saraiva, João Carlos de Pina ...et al. - Manifestações retinianas em pacientes portadores de anemia de células falciformes ..................... 5 Sobrinho, Edmundo Frota de Almeida ...et al. - Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil .............................................................................................. 6 384 284 Saraiva, Patrícia Grativol Costa ...et al. - Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial ............... 6 363 Sobrinho, João Brasil Vita ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ........................................ 1 7 Sousa, Sidney Júlio de Faria e ...et al. - Seleção de córneas para transplantes .................................................................................................. 6 430 Souza, Elaine Caetano de ...et al. - Importância da perimetria manual cinética na avaliação de pacientes com glaucoma avançado ............. 1 Souza, Luciene Barbosa de ...et al. - Ectopia lentis et pupillae ......... 3 33 182 Sarmento, Andrea Gondim Leitão ...et al. - Características clínicas e oftalmológicas de indivíduos com necessidades especiais institucionalizados no estado de Pernambuco, Brasil ......................... 2 93 Schellini, Silvana Artioli ...et al. - Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura .................................................................................................. 6 411 Schellini, Silvana Artioli ...et al. - Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu(UNESP) com ênfase no tratamento realizado ..................................... 6 Tanaka, Tatiana ...et al. - Necrose retiniana aguda por presumível etiologia viral por herpes simples resultando em endoftalmite: Relato de caso .............................................................................................. 1 41 400 Seixas, Giselle Oliveira ...et al. - Seleção de córneas para transplantes .................................................................................................. 6 430 Teló, Cínthia Rubia ...et al. - Características clínicas e oftalmológicas de indivíduos com necessidades especiais institucionalizados no estado de Pernambuco, Brasil ................................................................... 2 93 Temporini, Edméa Rita ...et al. - Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program .................... 6 Thiesen, Elisa Biesdorf ...et al. - Ectopia lentis et pupillae ............... 3 342 182 Sgrott, Kathy Dadam ...et al. - Miopia aguda induzida por topiramato: relato de dois casos ..................................................................................... 3 191 Silva Filho, Fernando José da ...et al. - Síndrome de Sturge-Weber e suas repercussões oculares: revisão da literatura .............................. 3 194 Silva, Ana Paula Siqueira da ...et al. - Manifestações retinianas em pacientes portadores de anemia de células falciformes ..................... 5 Torturella, Mariana Rody ...et al. - Neuroblastoma com metástase orbitária ........................................................................................................ 2 109 284 Silva, André Luis Momm da ...et al. - Miopia aguda induzida por topiramato: relato de dois casos .............................................................. 3 Valbon, Bruno ...et al. - Novel use of trypan blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye .............................. 6 408 191 Silva, Fílicio Doné Lima da ...et al. - Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest ........................................... 6 Valbon, Bruno de Freitas ...et al. - Avaliação da pressão intraocular através do ocular response analyzer antes e após cirurgia de facoemulsificação ........................................................................................ 1 11 358 Silva, James Nunes da ...et al. - Manifestações retinianas em pacientes portadores de anemia de células falciformes ....................................... 5 Valbon, Bruno de Freitas ...et al. - Impacto da análise do ‘wavefront’ na refratometria de pacientes com ceratocone ..................................... 1 16 284 Silva, João Amaro Ferrari ...et al. - Dacriocistite aguda: relato de 2 casos ............................................................................................................... 1 Valbon, Bruno de Freitas ...et al. - Ceratoplastia em crianças: indicações e resultados .............................................................................. 2 99 37 Silva, João Amaro Ferrari ...et al. - Estudo retrospectivo da obstrução congênita do ducto lácrimonasal ............................................................. 2 104 Valbon, Bruno de Freitas ...et al. - Correlações entre a densitometria do cristalino através da imagem de Scheimplufg, tempo e gasto de energia na cirurgia de facoemulsificação ............................................. 3 147 Valbon, Bruno de Freitas ...et al. - Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea ....................................................................................................... 6 349 147 Silva, João Amaro Ferrari ...et al. - Canaliculite: relato de caso e conduta .......................................................................................................... 6 426 Silva, João Amaro Ferrari ...et al. - Estudo epidemiológico da dacriocistite crônica ................................................................................... 6 396 Silva, João Amaro Ferrari ...et al. - Complicações intra e pósoperatória da dacriocistorrinostomia externa ..................................... 6 404 Velaverde, Guillermo ...et al. - Correlações entre a densitometria do cristalino através da imagem de Scheimplufg, tempo e gasto de energia na cirurgia de facoemulsificação ............................................. 3 349 Ventura, Liana Maria de Oliveira ...et al. - Características clínicas e oftalmológicas de indivíduos com necessidades especiais institucionalizados no estado de Pernambuco, Brasil ......................... 2 93 Vianna, Lucas Monferrari Monteiro ...et al. - Retratamento de LASIK com fotoablação personalizada versus fotoablação convencional utilizando o LADAR – Alcon ................................................................... 3 Vilela, Manuel A P ...et al. - Retinoschisis ............................................. 2 162 125 Walsh, Aileen ...et al. - Confirmação do cálculo de lente intraocular através da refração intraoperatória ....................................................... 2 Walsh, Aileen ...et al. - Diagnóstico e tratamento do lenticone anterior ... 4 118 257 Yamane, Iris de Souza ...et al. - Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do pré-operatório ........................................ 1 Yamane, Yoshifumi ...et al. - Neuroblastoma com metástase orbitária .... 2 7 109 Silva, Jorge Augusto Siqueira da ...et al. - Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea ............................................................................. 6 Silva, Marina Gabriela de Oliveira e ...et al. - Percepção da administração tópica ocular de drogas: aplicador facial x gotas ...... 4 Silva, Renata Siqueira ...et al. - Avaliação da pressão intraocular através do ocular response analyzer antes e após cirurgia de facoemulsificação ........................................................................................ 1 224 11 Silva, Renata Siqueira ...et al. - Correlações entre a densitometria do cristalino através da imagem de Scheimplufg, tempo e gasto de energia na cirurgia de facoemulsificação ............................................. 3 147 Silva, Renata Siqueira da ...et al. - Impacto da análise do ‘wavefront’ na refratometria de pacientes com ceratocone ..................................... 1 16 Silva, Renata Siqueira da ...et al. - Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea ....................................................................................................... 6 349 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 452-8 457 Assunto ED. PÁG. Catarata Comparação do efeito nas culturas de humor aquoso de gatifloxacina 0,3% aplicado três dias antes de facoemulsificação e antes do préoperatório. Paulo Augusto Hidalgo de Menezes, Wilson Takashi Hida, Alexandre Almeida Brasil, Diana Linhares Leins Peixoto, Iris de Souza Yamane, João Brasil Vita Sobrinho, Celso Takashi Nakano, Amaryllis Avakian ..................................................................................... 1 7 Confirmação do cálculo de lente intraocular através da refração intraoperatória. Ana Luiza Biancardi, Aileen Walsh, Armando Stefano Crema .............................................................................................. 2 118 Opacificação tipo “snowflake” em lente intra-ocular de polimetilmetacrilato (PMMA). Fabiana Dalla Rosa Pereira, Vagner Loduca Lima, José Ricardo Carvalho Lima Rehder ............................ 2 122 ED. PÁG. Estudo das correlações entre a área do disco óptico e as características geométricas e biomecânicas da córnea. Renata Siqueira da Silva, Jorge Augusto Siqueira da Silva, Fernanda Bina Fonyat de Lima, Bruno de Freitas Valbon, Marcella Quaresma Salomão, Renato Ambrósio Junior ......................................................... 6 349 Análise da ceratometria corneana em pacientes portadores de espasmo hemifacial. Ivana Cardoso Pereira, Patrícia Grativol Costa Saraiva, Fabio Petersen Saraiva, Fabricio Witzel de Medeiros, Gustavo Miki, Suzana Matayoshi ............................................................. 6 363 Seleção de córneas para transplantes. Luís Antonio Gorla Marcomini, Régia Maria Gondim Ramos Sobral, Giselle Oliveira Seixas, Sidney Júlio de Faria e Sousa ..................................................... 6 430 Córnea e Doenças externas Perfil epidemiológico de pacientes na fila de transplante penetrante de córnea no estado do Pará, Brasil. Edmundo Frota de Almeida Sobrinho, Bianca Caluf Negrão, Hirlana Gomes Almeida ................. 6 384 Novel use of Trypan Blue in ocular surface staining: redefining implications for this vital dye. Renato Ambrósio Jr; Habeeb Ahmad; Diogo Caldas; Ana Laura Caiado Canedo; Bruno Valbon; Frederico Procopio Guerra; Acácio Alves de Souza Lima .................................. 6 408 Doenças externas Conjuntivite neonatal com ênfase na sua prevenção. Angelo Ferreira Passos, Fernanda Spinassé Agostini ...................................................... 1 57 Editorial A RBO na era da informação digital. Arlindo José Freire Portes ... 1 5 Correlações entre a densitometria do cristalino através da imagem de Scheimplufg, tempo e gasto de energia na cirurgia de facoemulsificação. Bruno de Freitas Valbon, Ana Laura Canedo, Renata Siqueira Silva, Leonardo Pimentel, Guillermo Velaverde, Renato Ambrósio Junior ........................................................................... 3 147 Avaliação da pressão intraocular e exoftalmometria pré e pósbloqueio peribulbar em pacientes submetidos à facectomia. Marina Favarato, Juliana Almodin, Flavia Almodin, Tadeu Cvintal .............. 3 168 Ectopia lentis et pupillae. Fernanda Marcio, Gabriel Zatti Ramos, Pedro Bertino Moreira, Elisa Biesdorf Thiesen, Luciene Barbosa de Souza .............................................................................................................. 3 182 Facoemulsificação com uso de gancho de íris em paciente com iridosquise. Thales Antonio Abra de Paula, Maria Helena Lopes Amigo, Monique Lazzaretti Avozani, Alexandre Mine ..................... 3 188 New technique to demonstrate corneal magnification using trypan blue in cataract surgery. Frederico F. Marques, Daniela M.V. Marques, Robert H. Osher .......................................................................................... 4 Importância do centro cirúrgico ambulatorial para a realização de cirurgias de catarata em larga escala. Newton Kara-Junior ............. 2 Além da Oftalmologia. Arlindo José Freire Portes ............................. 3 75 141 235 Diagnóstico e tratamento do lenticone anterior. Ana Luiza Biancardi, Renato Ambrosio Júnior, Aileen Walsh, Armando Stefano Crema .............................................................................................. 4 A Revolução dos lasers de femtossegundo na Oftalmologia. Renato Ambrósio Júnior ........................................................................... 4 207 257 Refractive lens exchange using SN60T5 AcrySof Toric intraocular lens in stage 2 keratoconus. Giuliano de Oliveira Freitas, Mário José Carvalho, Joel Edmur Boteon ................................................................... 5 A Situação do ensino da facoemulsificação no Brasil. Newton KaraJunior ............................................................................................................. 5 Cirurgia de catarata a laser. José Beniz ................................................ 6 275 340 296 A capsulotomia descontínua durante a facoemulsificação. Virgilio Centurion; Augusto Cézar Lacava; Juan Carlos Caballero ................ 6 367 Epidemiologia Avaliação dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de Medicina da Universidade Federal do Piauí. João Batista Lopes Filho, Rubens Amorim Leite, Daniel Amorim Leite, André Rodrigues de Castro, Lorena Santana Andrade .................................. 1 27 16 Características clínicas e oftalmológicas de indivíduos com necessidades especiais institucionalizados no estado de Pernambuco, Brasil. Priscila de Almeida Jorge, Liana Maria de Oliveira Ventura, Cínthia Rubia Teló, Andrea Gondim Leitão Sarmento, Patrícia Rios da Silva Rego ............................................................................................... 2 93 Adesão ao uso do primeiro par de óculos por estudantes da primeira série do ensino fundamental. Mário Jorge Santos, Milton Ruiz Alves, Adamo Lui Netto, Rodrigo Ribeiro Santos, Giovana Arlene Fioravanti Lui, Tatiana Adarli Fioravanti Lui, Aline Cristina Fioravanti Lui .............................................................................................. 3 157 Perfil da demanda e morbidade dos pacientes atendidos em centro de urgências oftalmológicas de um hospital universitário. Frederico Braga Pereira, Maria Frasson, Ana Gabriela Zum Bach D’Almeida, Aline de Almeida, Daniela Faria, Júlia Francis, João Neves de Medeiros ....................................................................................................... 4 238 Characteristics and prevalence of pterygium in small communities along the Solimões and Japurá rivers of the Brazilian Amazon Rainforest. Lívia Adnet Martins Ribeiro, Luiz Felipe Guaraná Martins Ribeiro, Paulo Roberto de Azevedo Castro, Fílicio Doné Lima da Silva, Verônika Maria Weyll Adnet Martins Ribeiro, Arlindo José Freire Portes, Abelardo de Souza Couto Junior .......... 6 358 174 Estudo epidemiológico da dacriocistite crônica. Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva .......................................... 6 396 230 Perfil epidemiológico dos pacientes com ptose congênita no Hospital Regional de São José. Astor Grumann Júnior, Felipe Roberto Exterhotter Branco ..................................................................................... 6 391 248 Farmacologia Miopia aguda induzida por topiramato: relato de dois casos. Kathy Dadam Sgrott, André Luis Momm da Silva, Luiz Felipe Hagemann, Vilmar Müller, Fernando César Ludwig ................................................. 3 191 Cirurgia refrativa Impacto da análise do ‘wavefront’ na refratometria de pacientes com ceratocone. Renato Ambrósio Junior, Diogo Leitão Caldas, Renata Siqueira da Silva, Leonardo Nogueira Pimentel, Bruno de Freitas Valbon .............................................................................................. 1 Retratamento de LASIK com fotoablação personalizada versus fotoablação convencional utilizando o LADAR – Alcon. Lucas Monferrari Monteiro Vianna, Heloisa Moraes do Nascimento, Mauro Campos .......................................................................................................... 3 Uso profilático de mitomicina C para inibir a formação de ‘haze’ após ceratectomia fotorrefrativa em miopias altas – resultados após dois anos. Paulo Ricardo Pereira de Oliveira,Laura Fernandez Simão, Sérgio Augusto Falkembach Simão, James da Costa Marchiori ... 4 162 218 Córnea Efeito da trepanação na previsibilidade da correção da ametropia esférica pós-transplante. Renata Soares Magalhães; Karine Moysés Moro; Fernando Moro; Tadeu Cvintal ..................................................... 2 77 Ceratoplastia em crianças: indicações e resultados. Leonardo Nogueira Pimentel, Diogo Leitão Caldas, Bruno de Freitas Valbon, Ana Laura Caiado Canedo, Isaac Carvalho de Oliveira Ramos ...... 2 99 A influência do laboratório no tratamento da ceratite infecciosa. Flávia Pelinsari Lana, Vera Lucia Degaspare Monte Mascaro, Maria Emília Xavier Santos Araújo ................................................................... 3 Expectativas e conhecimento entre pacientes com indicação de transplante de córnea. Newton Kara-Junior, Paula de Camargo Abou Mourad, Rodrigo França de Espíndola, Heloisa Helena AbilRuss .... 4 Pupila dilatada fixa (síndrome de Urrets-Zavalia) após ceratoplastia lamelar profunda. Jefferson Luiz Alves Batista, Ana Beatriz Diniz Grisolia, Henrique Baltar Pazos, Pedro Antonio Nogueira Filho, José Álvaro Pereira Gomes ............................................................................... 4 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 452-8 458 ED. PÁG. Percepção da administração tópica ocular de drogas: aplicador facial x gotas. Arlindo José Freire Portes, Marina Gabriela de Oliveira e Silva, Marcella Viana, Angela Flores Paredes, Julia Rocha ............ 4 Efeito do dinitrato de isossorbida sobre a hiperalgesia corneana induzida por lipopolissacarídeo. Jayter Silva Paula, Mariana Bellini Oliveira, Fernando Chahud, Carolina Maria Modulo, Eduardo Melani Rocha, Fernando Queiróz Cunha ............................................................. 5 224 290 ED. PÁG. Complicações intra e pós-operatória da dacriocistorrinostomia externa. Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva .... 6 404 Refração New concepts in accommodation and presbyopia. Edson dos SantosNeto, Milton Ruiz Alves ............................................................................ 5 306 Retina Análise da relação entre espessura macular e espessura da camada de fibras nervosas. Fernando Costa Boucault, Rodrigo Thompson de Moura, Jorge Mitre, José Ricardo Carvalho Lima Rehder ................ 1 23 41 125 Glaucoma Avaliação da pressão intraocular através do ocular response analyzer antes e após cirurgia de facoemulsificação. Bruno de Freitas Valbon, Renata Siqueira Silva, Daniela Jardim, Ana Laura Canedo, Marcelo Palis, Renato Ambrósio Junior ................................................ 1 11 Importância da perimetria manual cinética na avaliação de pacientes com glaucoma avançado. Nadia Ajub Moysés, Elaine Caetano de Souza, Carlos Akira Omi ..................................................... 1 Necrose retiniana aguda por presumível etiologia viral por herpes simples resultando em endoftalmite: Relato de caso. Tatiana Tanaka, Fabrício Lopes da Fonseca, John Helal Junior ...................................... 1 Retinoschisis. Manuel A P Vilela, Carina G Colossi .......................... 2 33 Implantes de drenagem Molteno 3 ®. Juliana Almodin, Thales Antonio Abra de Paula, Flavia Almodin, Tadeu Cvintal ................... 2 Análise da camada de fibras nervosas da retina pela tomografia de coerência óptica em pacientes com anemia falciforme. Leiser Franco, Luis Alexandre Rassi, Marcos Pereira Ávila, Leopoldo Magacho ... 3 143 88 Glaucoma secundário à iridociclite heterocrômica de Fuchs. Melina Cavichini Cordeiro, Rodrigo Andrade de Barros, José Ricardo Carvalho Lima Rehder ............................................................................... 2 Atrofia essencial da íris associada à hipertrofia congênita do epitélio pigmentar da retina. José Alexandre Bastos Pereira, Isabela Soutello Camarota ....................................................................................................... 3 185 114 Diagnosis and treatment of hyperfiltering blebs. Sebastião Cronemberger, Daniela Silveira de Faria, Jamile Moreira Reimann, Heloisa Andrade Maestrini, Nassim Calixto ........................................ 4 Síndrome de Sturge-Weber e suas repercussões oculares: revisão da literatura. Louise Rodrigues Candido Figueiredo, Fernando José da Silva Filho, José Ricardo Carvalho Lima Rehder .......................... 3 194 211 Nevus of Ota: clinical-ophthalmological findings. Sebastião Cronemberger, Nassim Calixto, Henrique Leite Freitas .................... 5 278 Polypoidal choroidal vasculopathy causing cystoid macular edema and the response to ranibizumb intravitreal treatment. Miguel Hage Amaro, Aaron Brock Roller, Cesar Tavares Pereira dos Santos Motta, Mario Martins dos Santos Motta ................................................. 4 252 Tratamento da degeneração macular relacionada à idade com neovascularização de coróide extrafoveal. Análise de uma série de casos e revisão de literatura. Miguel Hage Amaro, Flávia Araújo Hage Amaro, Aaron Brock Roller, Cesar Tavares Motta, Mario Martins dos Santos Motta .......................................................................... 4 261 Estudo sobre os fatores relacionados à interrupção do tratamento do glaucoma. Eduardo Scaldini Buscacio, Giovanni Nicola Umberto Italiano Colombini ...................................................................................... 6 371 Neuroftalmologia Neuropatia óptica isquêmica posterior como complicação póscirurgia de blefaroplastia: Relato de caso. Maria Helena Lopes Amigo, Wagner Ghirelli ............................................................................ 6 422 Eficácia da aplicação da pomada EMLA ® no alívio da dor desencadeada pela injeção de toxina botulínica tipo A no tratamento do blefaroespasmo essencial benigno. Nadia Ajub Moysés, Nilson Lopes da Fonseca Júnior, José Ricardo Carvalho Lima Rehder ...... 2 Manifestações retinianas em pacientes portadores de anemia de células falciformes. Edmundo Frota de Almeida Sobrinho, João Carlos de Pina Saraiva, James Nunes da Silva, Ana Paula Siqueira da Silva, Rafaela Cavalcante de Lima .................................................... 5 284 83 Cutaneous metastasis in choroidal melanoma. Fabricio Lopes da Fonseca, Suzana Matayoshi ....................................................................... 5 300 Hemangioma racemoso da retina: Um caso clínico. Filipe Mira Ferreira, Augusto Ferreira Barbosa, Maria Catarina Santos Isabel Rodrigues Paiva, António Jesus Roque Loureiro ............................... 5 303 Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program. Zelia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt, Rita de Cássia Ietto Montilha, Maria Elisabete Rodrigues Freire Gasparetto , Edméa Rita Temporini, Keila Miriam Monteiro de Carvalho ................................................................................ 6 342 Síndrome Sjögren – Larsson. Relato de caso. Leonardo Portela Rabello, Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão, Joana Gurgel Holanda Filha, Erlane Marques Ribeiro, Daniele Roma Dias, Luciana Portela Rabello ........................................................................... 6 416 Trauma ocular Barotrauma ocular durante mergulho autônomo: relato de caso Maria Fernanda Abalem de Sá, Márcio Penha Morterá Rodrigues, Rafael Cesário de Mendonça, João Carlos Abalém de Sá ................. 6 419 51 Órbita Acometimento orbitário na doença de Rosai-Dorfman. Cristiana Dumaresq de Oliveira, Allan C. Pieroni Gonçalves, Frederico Castelo Moura, Luiz Angelo Rossato, Mário Luiz Ribeiro Monteiro .. 1 46 Neuroblastoma com metástase orbitária. Mariana Rody Torturella, Marisa Novaes Falleiro Chaves de Figueiredo, Paschoal Josias de Oliveira Júnior, Sérgio Henrique Sampaio Meirelles, Yoshifumi Yamane .......................................................................................................... 2 109 Espessamento do tendão muscular na oftalmopatia de Graves. Elvira Barbosa Abreu ............................................................................................. 6 378 Plástica ocular Dacriocistite aguda: relato de 2 casos. Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva ......................................................................... 1 37 Efeitos da blefaroplastia na síndrome da disfunção lacrimal. Juliana Silverio, Lucia Miriam Dumont Lucci, Nilson Lopes da Fonseca Júnior, José Ricardo Carvalho Lima Rehder ........................................ 3 Estrabismo após toxina botulínica para fins estéticos. Marta Halfeld Ferrari Alves Lacordia, Flávia Sotto-Maior Januário, Júlio César Costa Pereira ................................................................................................ 3 151 179 Anoftalmia bilateral como defeito congênito isolado: uma abordagem etiológica e psicossocial. Diego Davi Corso, Elcio Luiz Bonamigo, Mário Alberto Corso, Eduardo Büchele Rodrigues ............................ 4 Tumor Tumor metastático uveal: revisão de literatura sobre a neoplasia ocular maligna mais comum. Isadora Meyer ......................................... 1 243 Canaliculite: relato de caso e conduta. Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva ......................................................................... 6 Uveíte Tuberculose intraocular. Wesley Ribeiro Campos, Gisele Schelgshorn Campos, Silvana Spíndola de Miranda ............................ 6 437 426 Enxerto dermoadiposo em cavidades anoftálmicas secundárias – estudo retrospectivo e revisão da literatura. Silvia Narikawa, Silvana Artioli Schellini, Carlos Roberto Padovani .......................................... 6 Vias lacrimais Estudo retrospectivo da obstrução congênita do ducto lácrimonasal. Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva ................ 2 104 411 Plástica ocular e Órbita Canaliculites: apresentação de série de casos atendidos na Faculdade de Medicina de Botucatu- (UNESP) com ênfase no tratamento realizado. Silvana Artioli Schellini, Fabrício Rendeiro Sales, Geraldo Miranda de Carvalho, Carlos Roberto Padovani ................. 6 400 Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 452-8 459 Errata Na Revista Brasileira de Oftalmologia volume 70 - número 4 - julho/agosto 2011 - artigo “Diagnóstico e tratamento do lenticone anterior” página 259, foram trocadas as legendas das figuras 3 e 4, a legenda da figura 3 corresponde a figura 4 e vice versa. Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 459 460 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico e foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resu- Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 460-2 mo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações 461 no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem definilos. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 Jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word(r)e as demais em arquivos Microsoft Excel(r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 460-2 462 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2011; 70 (6): 460-2