________________________ A Avicultura de Corte na Região de Feira de Santana e as Alternativas para a Organização da Produção
A AVICULTURA DE CORTE NA REGIÃO DE FEIRA DE SANTANA E AS
ALTERNATIVAS PARA A ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO1
Dario Mascarenhas de Oliveira Neto Segundo2
João Henrique de Mello Vieira Rocha3
Resumo – Descreve-se as mudanças ocorridas na avicultura baiana nos últimos anos.
Apresenta-se dados que demonstram o crescimento desta atividade, considerando-se a
adoção dos sistemas de produção integrada e o independente. Define-se e caracteriza-se
os dois sistemas. Conclui-se, conforme dados apresentados no decorrer do texto, que o
sistema de produção independente é mais rentável financeiramente a partir de uma
determinada capacidade de produção. E de outra forma, mostra-se que o sistema
integrado apresentou-se com maior eficiência produtiva.
Palavras-chave: frango de corte; rentabilidade econômica; sistema de produção; cadeia
produtiva.
Abstract – The present study describes the changes occurred to the poultry in the state of
Bahia over the last years. It presents the date which demonstrates the increasing of this
activity, considering the adaptation of the integrated and independent production systems.
The study defines and characterizes both systems. The study concludes that the
independent production system is more profitable according to a determined capacity of
the production, one the other hand the integrated system shows greater production
efficiency.
Keywords: poultry; production systems; efficiency; productivechain.
1 Introdução
A avicultura baiana tem sido redesenhada ao longo desses últimos anos,
ensaiando uma transformação mais complexa que tem atraído o avicultor para a
Parte do Trabalho de Conclusão de Curso do primeiro autor, apresentado à Faculdade de Tecnologia e Ciências de
Feira de Santana para obtenção do grau de Bacharel em Administração.
1
Administrador de Empresas e Diretor Administrativo da Gujão Alimentos. E-mail: [email protected]
Mestre em Ciências Agrárias. Professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana. Email: [email protected]
2
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complexidade da produção, aproximando-os dos interesses da indústria, mediante uma
vinculação traduzida pela forma de uma cadeia produtiva.
O quadro determinante dessa mudança repousa sobre uma avicultura
desenvolvida por avicultores independentes, aos quais a vulnerabilidade decorrente das
oscilações dos preços de mercado e da falta de acompanhamento técnico especializado,
contribuiu para que os avanços na produção do frango apresentassem um desempenho
inferior ao obtido pela avicultura do Sul e Sudeste do País, embora com números
expressivos para o norte e nordeste.
Se a análise se aproxima do contexto estadual, segundo a Associação dos
Avicultores de Pernambuco – AVIPE, o Estado da Bahia está em terceiro lugar na
produção de frangos de corte no Nordeste. De janeiro a novembro de 2001, a Bahia
produziu 31.857.000 aves, frente a uma produção de 101.813.000 aves em Pernambuco e
56.310.000 de aves no Ceará.
De acordo com a Tabela 1, de 1992 a 2001 a produção de frangos de corte no
Estado da Bahia evoluiu em 131,03%. Os maiores crescimentos foram constatados nos
anos de 1993, 1994 e 2001, com as respectivas variações de 31,59%, 18,57% e 24,57% ao
ano anterior. No ano de 1998 pode-se constatar um decréscimo de 17,9% na produção
em relação a 1997, justamente no período em que a produção e o consumo brasileiro
cresceram respectivamente 8,79% e 11,28% e as exportações decresceram 5,86%.
O crescimento da produção baiana, analisado isoladamente, demonstra um
percentual alto. Porém, este não foi suficiente para acompanhar a evolução da produção
nacional. Os dados apresentados na Tabela 2 mostram que entre os anos de 1996 e 2001 a
produção nacional cresceu 33,96% diante de um crescimento da produção baiana de
apenas 23,81%.
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Tabela 1 - Alojamento do Estado da Bahia (em mil cabeças)
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
Jan
1.322
1.521
1.950
2.154
2.339
2.762
2.022
2.377
2.512
2.706
Fev
1.184
1.455
1.749
2.028
2.285
2.355
1.915
2.186
2.261
2.525
Mar
674
1.501
1.732
2.335
2.236
2.677
2.159
2.377
2.322
2.688
Abr
1.303
1.563
1.722
2.147
2.200
2.670
2.088
2.234
1.996
2.660
Mai
1.092
1.582
1.921
2.268
2.341
2.631
2.069
2.239
2.408
2.781
Jun
1.258
1.507
2.020
2.178
2.325
2.326
2.224
1.955
2.204
2.729
Jul
1.263
1.671
2.150
2.265
2.420
2.592
2.171
2.289
2.241
3.011
Ago
1.347
1.680
2.110
2.420
2.633
2.589
2.272
2.369
2.671
3.242
Set
1.425
1.978
2.264
2.381
2.371
3.109
2.245
2.210
2.539
3.942
Out
1.539
2.012
2.100
2.590
2.598
3.083
2.458
2.446
2.617
3.246
Nov
1.606
2.178
2.170
2.537
2.732
2.608
2.301
2.609
2.650
3.324
Dez
1.581
1.873
2.445
2.290
2.623
2.467
2.239
2.442
2.502
3.175
15.595
20.521
24.333
27.591
29.101
31.867
26.164
27.734
28.923
36.029
31,59
18,57
13,39
5,47
9,51
-17,90
6,00
4,29
24,57
31,59
56,03
76,92
86,60
104,34
67,77
77,84
85,46
131,03
Total
Variação
Var.Acum
Fonte: Associação Baiana de Avicultura, 2002
Tabela 2 - Evolução do alojamento brasileiro e do alojamento baiano entre 1996 e 2001
(em mil cabeças)
Ano
Produção brasileira
1996
2.593.094
1997
2.863.797
1998
2.858.645
1999
3.153.451
2000
3.254.123
2001
3.473.645
Fonte: UBA/ABA, 2002
Evolução
(%)
Produção baiana
29.101
10,44
31.867
-0,18
26.164
10,31
27.734
3,19
28.923
6,75
36.029
Evolução (%)
9,50
-17,90
6,00
4,29
24,57
Até o ano de 2001, a Bahia participou com aproximadamente 1% da produção
nacional. Conforme a Tabela 3, em 1996 a produção baiana representava 1,12% da
produção nacional. Contudo, até o ano de 1999, a participação do Estado foi diminuindo,
até que em 2000 ela praticamente se estabilizou e em 2001 saiu de 0,89% para 1,04%.
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Tabela 3 - Participação da produção baiana no Brasil (em mil cabeças)
1996
Produção
2.593.094
Nacional
Produção
Baiana
29.101
Participação
1,12%
Fonte: UBA/ABA (2002).
1997
1998
1999
2000
2001
2.863.797
2.858.645
3.153.451
3.254.123
3.473.645
31.867
1,11%
26.164
0,92%
27.734
0,88%
28.923
0,89%
36.029
1,04%
Mais recentemente, o cenário da produção baiana tem apresentado novas
perspectivas de desenvolvimento. Mesmo considerando a alta competitividade do setor, a
instalação de dois grandes abatedouros industriais nos últimos 02 anos, AVIGRO e
AVIPAL, estão modificando a posição do Estado tanto no volume quanto na eficiência
de produção. Além disso, a mudança na legislação do Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços – ICMS para tributar produtos derivados do frango oriundos de
outros estados, a exuberante expansão da produção de grãos no Oeste baiano e o atrativo
mercado consumidor estão chamando a atenção de grandes empresas do setor avícola
nacional.
De acordo com o Anuário Estatístico da Bahia - 2000, a população baiana está
estimada em 13.070.250 pessoas. Considerando que o consumo per capita de carne de
frango na capital é de 17,5 kg/ano (IBGE, 1996), calcula-se que no ano de 2001 a Bahia
consumiu menos do que 228.730 toneladas de carne de frango, uma vez que o consumo
per capita de Salvador é maior do que o dos demais municípios do interior. Diante de uma
produção de aproximadamente 80.000 toneladas conclui-se que a Bahia importou de
outros estados aproximadamente 65% da carne de frango consumida pelos baianos.
A atual cadeia produtiva da avicultura de corte na Bahia está representada pela
Figura 1. O processo se inicia fora do Estado, onde empresas especializadas na produção
de matrizes, empresas estas denominadas de avozeiros, produzem as aves que são
enviadas para as granjas de matrizes instaladas na Bahia. Estas granjas produzem os ovos
que são encaminhados para os incubatórios para a produção dos pintinhos que serão
utilizados na criação do frango de corte ou adquiridos de outros
Estados, tais como
Minas Gerais e Espírito Santo.
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A criação de frangos de corte na Bahia desenvolve-se através de dois sistemas
de produção: o independente e o integrado. O sistema independente é aquele que o
criador adquire os insumos de produção (pintinho, ração, vacinas, medicamentos) e, uma
vez concluído o processo produtivo, comercializa o produto (in natura) para atacadistas
ou abatedouros. O sistema integrado caracteriza-se pela produção do frango através de
parcerias entre empresas e pequenos produtores, onde estes ficam responsáveis pelo
fornecimento da infra-estrutura – galpões e equipamentos necessários à criação do frango
– e da mão-de-obra.
Figura 1 - Cadeia produtiva da avicultura de corte da Bahia
Avozeiros
Fornecedores
diversos
Equipamentos
Material para cama
Medicamentos
Vacinas
Energia
Matéria-prima
Granjas de matrizes
Milho, soja, sorgo,
farinha de carne, sal,
calcário, premix, etc
Incubatórios
(pintinhos de 01 dia)
Fábricas de ração
(ração para as aves)
PRODUÇÃO DE FRANGO
INDEPENDENTE
PRODUÇÃO DE FRANGO
INTEGRADA
Mercado Interestadual
Abatedouros s/
inspeção
Produto
(frango vivo)
Atacadistas de
aves vivas
Subproduto
(adubo)
Abatedouros
SIF
Abatedouros
SIE
Graxarias
Penas
Vísceras
Sangue
Partes condenadas
Mercado Interestadual
(frango congelado)
Produtos
(frango abatido e derivados)
Mercado Interno
Supermercados
Lojas de carne
Restaurantes
Outros
Consumidor
Final
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A fabricação da ração para as aves, pode ser produzida pelos avicultores, ou adquirida
fora do estado da Bahia, geralmente fornecida pelo Oeste Baiano ou pelos estados do
Mato Grosso ou Goiás.
Depois de finalizada a etapa de criação, o frango vivo é enviado para
atacadistas, abatedouros sem e com inspeção estadual (SIE) ou federal (SIF), ou, até
mesmo enviado para outros Estados tais como Sergipe e Pernambuco. Quando enviados
para abatedouros inspecionados são transformados em frangos e cortes congelados,
resfriados e enviados para o mercado interno e interestadual. Nesta etapa, além dos
produtos principais, são gerados outros sub-produtos que geralmente são utilizados para
produção de farinha de carne animal. Quando enviados para abatedouros sem inspeção,
são abatidos e comercializados imediatamente após o processo.
2 Os Sistemas de Produção Avícola
2.1 O Sistema de Produção Independente
No sistema de produção independente o produtor é responsável por todas as
etapas de produção e comercialização do produto. Dessa forma, o produtor precisa
possuir a estrutura e os equipamentos adequados para a criação das aves, adquirir todos
os insumos necessários à produção, contratar e gerenciar a mão-de-obra para criação e
comercializar as aves. Para tanto, são necessários investimentos em infra-estrutura e os
riscos de produção e comercialização são exclusivos do produtor.
A maior parte dos produtores independentes ainda desempenha suas
atividades sem o devido acompanhamento técnico, recorrendo a técnicas empíricas, uma
vez que não possuem condições de contratar mão-de-obra especializada.
Em função do capital de giro para os investimentos e manutenção, o produtor
independente de parcos recursos, adquire insumos de baixa qualidade para a composição
das rações utilizadas na alimentação das aves, conforme pode ser constatado na região.
O atual mercado consumidor do produtor independente é formado
basicamente por atravessadores e abatedouros de pequeno porte, já que seu produto é
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negociado ainda vivo e posteriormente comercializado para o consumidor final na forma
de frango abatido na hora.
O mercado tem sinalizado
pelos consumidores que
estão optando em
adquirir produtos de melhor qualidade e com preços mais atraentes, o que resulta na
migração do consumo do frango abatido na hora para o frango congelado ou resfriado,
pelo aumento do consumo das partes congeladas e seus derivados.
Outrossim, com o objetivo de introduzir novos avanços nos aspectos
higiênico-sanitários e tecnológico, o Ministério da Agricultura, da Pecuária e do
Abastecimento implementou a portaria n° 210, de 10 de novembro de 1998,
normatizando o processo de abate de aves.
Com esse quadro determinante, provavelmente ocorrerá forte impacto aos
produtores independentes, uma vez que grande parte dos clientes que compram o frango
vivo não conseguirão enquadrar-se às exigências impostas pela portaria e, possivelmente,
não poderão dar continuidade a suas atividades.
Além dos aspectos citados, a Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia,
através do Decreto-Lei 6284-97, alterando o Regulamento do ICMS, prevê a incidência
desse imposto sobre a comercialização de aves vivas para abatedouros não inspecionados,
fazendo com que o preço do frango vivo se torne mais alto.
2.2 O Sistema de Produção Integrada
O sistema de produção integrado, entendido como uma parceria realizada
através de contrato entre um produtor rural de pequeno porte – produtor integrado, e
uma empresa ou outro produtor de grande porte – empresa integradora. O objetivo
desta parceria é a criação do frango de corte para ser industrializado ou comercializado
pela empresa integradora. As principais empresas integradoras no Estado da Bahia são a
AVIGRO, AVIPAL e GUJÃO.
Como o produtor integrado é responsável pela etapa de criação do frango, é
mister possuir as instalações e a mão-de-obra para a criação, tendo em vista que o capital
de giro não se constitui em recurso relevante. Outrossim, o risco de comercialização é
exclusivamente da empresa integradora.
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Por outro lado, a parceria é formalizada através de contratos que regem as
obrigações de cada parte envolvida no processo e determinam de que forma é dividido o
resultado financeiro da produção.
Entre as obrigações do produtor integrado está a disponibilização do imóvel,
provimento de mão-de-obra necessária para a criação das aves e fornecimento de água,
energia e gás para o aquecimento dos pintinhos.
Para a empresa integradora, o fornecimento de pintinhos, fornecimento de
ração, medicamentos, vacinas, assistência técnica, além de
repassar ao produtor
integrado, a compensação financeira pela criação das aves.
Comumente, a remuneração do produtor integrado é diretamente
proporcional à quantidade de aves produzidas e a eficiência na produção, ou seja, quanto
mais eficiente for a produção maior será a remuneração recebida por ave produzida. Com
isso, as empresas integradoras conseguem alcançar coeficientes técnicos de produção
melhores do que os produtores independentes, diminuindo consideravelmente seus
custos de produção.
3 Análise de Viabilidade dos Sistemas de Produção na Avicultura Baiana
A análise da viabilidade deu-se em função dos procedimentos de investigação
que avaliaram o sistema de produção independente vis-à-vis o sistema de produção
integrada.
Para o sistema de produção independente aplicou-se um questionário a casos
selecionados aleatoriamente através do cadastro de produtores associados à Associação
Baiana de Avicultura – ABA.
Para o sistema de produção integrada, aplicou-se um questionário aos
produtores integrados selecionados aleatoriamente através do cadastro de três empresas
integradoras.
Os dados trabalhados nesta análise foram fornecidos pelos produtores
considerando valores médios obtidos durante o ano de 2001.
Foram analisados 11 lotes produzidos por 4 produtores independentes e 11
lotes produzidos por 11 produtores integrados a 3 empresas integradoras diferentes.
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Dentre os produtores integrados selecionados 7 utilizam mão-de-obra familiar e 4 mãode-obra contratada.
O sistema de produção independente utiliza o kg do frango produzido para
determinar o custo de produção e o preço de venda. Enquanto que o sistema integrado
utiliza a unidade (frango) para os mesmos fins, uma vez que as empresas integradoras
remuneram o integrado de acordo com a quantidade de frangos produzidos.
Inicialmente fez-se uma análise da eficiência produtiva, em seguida realizou-se
uma análise financeira. Posteriormente, analisou-se a viabilidade econômica de ambos os
sistemas.
Na análise de eficiência produtiva, utilizando as informações colhidas junto
aos produtores, foram analisados os principais coeficientes técnicos de produção: Índice
de Eficiência Produtiva, Viabilidade – IEP, Ganho de peso diário e Conversão Alimentar
– GPD. Esta análise se fez necessária uma vez que o custo de produção avícola é
fortemente influenciado pelo resultado técnico da produção.
Na análise financeira elaborou-se o fluxo de caixa, apurou-se o lucro líquido
anual e encontrou-se a margem de lucro bruta da cada produtor.
Na análise da viabilidade econômica usou-se o método do valor presente
líquido (VPL) e a taxa interna de retorno (TIR). Para tanto, estipulou-se uma taxa mínima
de atratividade de retorno (TMAR) de 9% ao ano, uma vez que este foi o rendimento
pago pela caderneta de poupança entre os períodos de julho de 2001 e julho de 2002. Para
calcular o investimento em estrutura utiliza-se a referência de R$ 3,00 por frango,
multiplicados pela capacidade de alojamento do galpão, para galpões com 15 anos de vida
útil e para estimar o capital de giro necessário simulou-se o custo de produção de um lote
de acordo com o sistema de produção utilizado e a capacidade de alojamento de cada
produtor.
Com base nas médias dos coeficientes técnicos de produção obtidos, concluise que o sistema de integração foi mais eficiente tecnicamente do que o sistema
independente. Como mostra a Tabela 4, o primeiro sistema apresentou melhores
resultados em 3 dos 4 coeficientes analisados, (IEP, viabilidade e conversão alimentar). O
sistema independente superou o sistema integrado somente no ganho de peso diário, com
uma diferença de apenas 0,001.
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Dentre os produtores integrados pesquisados, os melhores resultados foram
alcançados pelos produtores que utilizam a mão-de-obra familiar, sendo que os mesmos
obtiveram IEP e conversão alimentar superiores às médias encontradas.
Verificou-se também que os produtores independentes com maior capacidade
total de alojamento foram mais eficientes na produção do que os produtores
independentes de menor porte.
Tabela 4 – Resultados da análise da eficiência produtiva
Coeficientes
IEP
Viabilidade
GPD
Conversão
Média da produção
independente
242
95,4
0,053
2,09
Média da produção integrada
258
95,9
0,052
1,94
Por outro lado, conforme os resultados obtidos através da análise financeira,
constatou-se que o sistema independente apresentou melhor desempenho financeiro do
que o sistema integrado. Percebeu-se que os melhores resultados foram alcançados
novamente por produtores independentes com maior capacidade total de alojamento.
Observou-se grande disparidade entre os resultados obtidos pelos produtores
independentes, à qual atribui-se, além da capacidade total de alojamento, a capacidade de
gerenciamento individual, nível de tecnologia empregada e poder de negociação para
aquisição de pintinhos e insumos para a fabricação da ração.
Ainda na análise financeira, constatou-se que os produtores integrados que
utilizam a mão-de-obra familiar alcançaram resultados superiores aos que utilizam a mãode-obra contratada.
Portanto, como apresentado na Tabela 5, percebeu-se que no período
analisado, o sistema de produção independente foi mais rentável financeiramente do que
o sistema de produção integrada a partir de uma determinada capacidade de alojamento.
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Tabela 5 – Resultados da análise financeira
Lucro Líquido por Ave (R$)
Margem de
Lucro Bruto (%)
Média da produção
independente
0,35
14,15
Média da produção integrada
0,16
109,93
Na análise de viabilidade econômica, através da utilização do método do valor
presente líquido, a produção independente apresentou um resultado negativo e a
produção integrada apresentou todos os resultados positivos. Entretanto, na média, o
sistema independente apresentou valores superiores aos obtidos pelo sistema integrado.
Logo, o sistema integrado que utiliza a mão-de-obra familiar é mais rentável
do que o sistema integrado que utiliza a mão-de-obra contratada.
Assim, considerando o universo dos produtores pesquisados pode-se afirmar
que a produção integrada que utiliza a mão-de-obra familiar foi mais eficiente do que a
produção integrada que utiliza a mão-de-obra contratada.
Deste modo, a partir das observações apresentadas acima e dos resultados
apresentados na Tabela 6, verificou-se que no período analisado os dois sistemas
apresentam viabilidades financeira e econômica. Sendo que, apesar do sistema integrado
apresentar maior eficiência produtiva, o sistema independente mostrou-se mais rentável a
partir de uma determinada capacidade de produção.
Tabela 6 – Resultados da análise da viabilidade econômica
VPL por ave
TIR (%)
Média da produção
independente
1,90
30,1
Média da produção
integrada
0,76
30,2
Considerações Finais
O estudo demonstra que o sistema de produção independente apresenta
menor rentabilidade, considerando a escolha da produção. Por outro lado, o sistema
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integrado apresentou a melhor eficiência produtiva sob os parâmetros dos coeficientes
técnicos da avicultura de corte.
Diante das particularidades de cada produtor e devido à grande volatilidade da
atividade avícola e do mercado consumidor, recomenda-se que, antes de optar por um
dos dois sistemas de produção, sejam avaliados os seguintes aspectos: disponibilidade
financeira para investir na atividade, capacidade de gerenciamento do negócio, grau de
dificuldade para aquisição de insumos de qualidade a custos baixos, mercado consumidor,
política tributária vigente e tipo da mão-de-obra a ser adotada na produção.
Referências
ABA. Relatórios estatísticos. Conceição da Feira: ABA, 2002.
BAHIA. Anuário estatístico da Bahia 2000: superintendência de estudos econômicos e
sociais da Bahia. Salvador. Disponível em:
<http://www.sei.ba.gov.br/anuario_2000/sum_1.asp>. Acesso em 16 abr. 2002.
FÓRUM EMPRESARIAL AVICULTURA NORDESTE, 18., 2001, Recife: AVIPE,
2002.
IBGE. Relatórios estatísticos. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2002.
UBA. Relatório Anual 2001. Brasília, 2002, 50p. Disponível em:
<http://www.uba.org.br>. Acesso em 19 jun. 2002.
______. Relatórios estatísticos. Brasília, 2002. Disponível em:
<http://www.uba.org.br>. Acesso em: 19 abr. 2002.
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Diálogos & Ciência – Revista Eletrônica da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana. Ano I, n. 2, abr.
2003.
ISSN 1678-0493
http://www.ftc.br/revistafsa
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Dario Mascarenhas de Oliveira Neto Segundo2 João Henrique