Testemunho – Prof. João Paulo Cabeça Normalmente, o professor enquanto docente no ensino público ou privado aplicado aos jovens adopta/adoptava a postura de mestre. Por força da progressiva democratização do Ensino esse papel de mestre tem-se «diluído» Essa diluição em grande parte é justificada por aquilo a que chamo o crescimento dos alunos, que nas suas diferentes fases de formação/crescimento, deixam de precisar da rigidez da postura do mestre. Não precisam nem é necessária, porque esse professor passa a estar perante uma pessoa em formação integral. E digo integral, na medida do seu não distanciamento a tudo que acontece fora do recinto escolar. Direi que tenho sido sempre para os meus alunos, jovens, adultos e para aqueles que estiveram sujeitos aos condicionalismos do sistema prisional, atento à sua disponibilidade para aprender, mas sobretudo para que descubram o espaço da sala de aula, do recinto exterior à sala de aula, do ambiente social, da intervenção cívica etc. Direi a este respeito, que é com mágoa, que verifico que professores no auge da sua maturidade, quando podem dar mais e melhor à Escola, são confrontados com a necessidade da aposentação, face à desconformidade das condições que permitam a sua continuidade na Escola em condições especiais, estatuto em que me enquadrarei brevemente, mas enfim... Eis todavia, que há cerca de 3 anos alguém me falou da Universidade Sénior, como espaço de partilha de saberes, promovida pela Fundação Eugénio de Almeida. Fui até lá e inscrevi-me. Fiz o meu acesso como docente, não sem que o fizesse com algum receio, na medida da expectativa que criei acerca da expectativa que os alunos daquela Universidade teriam sobre o meu tipo de «ensino». A minha proposta foi intencionalmente desajustada dos preceitos da Academia, muitas vezes redutora na sua prática universitária, consequentemente pouco universal. Por outro lado, procuro que seja necessariamente abrangente como um mar de emoções entre pessoas que se diluíssem naquela prática partilhada. Entrei prosseguindo a minha área de formação, a partir das Ciências Sociais e Humanas, sem que a História, a Geografia, a Filosofia, a Psicologia, a Economia etc, deixassem de ser a alma desse espaço de reflexão, contrariando assim o que erradamente se entende ser a ciência pura aplicada às Ciências Sociais e Humanas, limitada que é muitas vezes, à utilização dos métodos quantitativos. A prática do Sujeito, naquelas reuniões a que se chamam aulas, em que cada um de nós intervém com a sua experiência, sabedoria empírica ou científica, na descoberta ou confirmação de Verdades que nunca se querem absolutas, tem sido para mim de uma riqueza que não dispensa um aplauso a todos quantos participam nesta actividade. A sensação com que ficamos, no fim de cada reunião semanal, é a de que tínhamos na ponta da língua tudo aquilo de que falamos durante aquela hora, e que não conseguimos dizer a ninguém, só porque ninguém estava perto de nós, quando quisemos partilhar aquele pensamento. Afinal, tem sido assim na minha actividade docente fora da Universidade Sénior, com os meus alunos e passou a ser agora com os meus amigos seniores. A descoberta da Verdade, através de um pequeno empurrão que damos uns aos outros, num acto de enorme solidariedade, que tanta falta faz nos tempos que correm. Na descoberta dessa Verdade todos somos simultaneamente Sujeito e Objecto sem nunca esquecermos que a generosidade e a gratidão constituem a síntese muitas vezes feita de confronto entre os interesses aparentemente antagónicos.E eis as mentalidades. Participar com a Universidade Sénior e sua coordenação, com os meus companheiros de «conspiração académica» tem sido para mim um prazer que pretendo continuar e divulgar. Parabéns a todos João Paulo R. Cabeça Prof. Voluntário História