Universidade Lúrio Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico Curso Intensivo em Urbanismo Síntese do programa da visita do Arqt.º Prof. Sandro Bruschi a Nampula, Quelimane, Ilha de Moçambique e Nacala durante os dias 05 a 13 de Maio 2013. I. Programa Realizado O programa do Professor Sandro Bruschi e a equipa da FAPF – UniLúrio foi realizada em linhas gerais da seguinte forma: Domingo dia 05 de Maio Nampula 19.30: Chegada a Moçambique – Nampula. Acolhimento e hospedagem no City Hotel, Nampula. 2ª Feira dia 06 de Maio Campus Marrere, Nampula 08.00: Trabalho na FAPF – Preparação do seminário no Campus Marrere: Prof. Bruschi com director Arqt.º Berti e docentes da FAPF, UniLúrio. 15.00: Lançamento do livro do Dr. Armando Artur, Ministro da Cultura: “As falas do poeta.” 3ª Feira dia 07 de Maio Campus Marrere, Nampula 09.00: Palestra e debate: Crescimento urbano em Moçambique. Conferência: Bruschi; Moderador do debate: Hougaard. 11.00: Encontro de cortesia com o Magnífico Reitor da UniLúrio. 12.00: Refeição no Campus Marrere. 13.30: Palestra e debate: Processo de acesso a terra em Moçambique. Conferência: Bruschi, moderador do debate: Hougaard. 4ª Feira dia 08 de Maio Nampula – Quelimane 08.30: Viagem de Nampula a Quelimane. Bruschi, Berti, Hougaard, Alcolete. 17.30: Alojamento no Hotel Flamingo, Quelimane. 5ª Feira dia 09 de Maio Quelimane 1 08.30: Encontro com o Presidente do Município de Quelimane (CMCQ). 09.30: Visita ao Departamento de Urbanização e Cadastro (DUC). 11.30: Visita aos bairros objecto do Memorando entre o CMCQ e FAPF. Bruschi, Berti, Hougaard, Alcolete com Vereador de Infra-estruturas e técnicos do DUC. 14:00: Palestra e debate: Crescimento urbano em Quelimane. Conferência: Bruschi. Moderador do debate: Hougaard. 6ª Feira dia 10 de Maio Quelimane – Nampula 08.30: Visita à Igreja da Nossa Sr.ª de Livramento. 09.30: Encontro com o Presidente do CMCQ e Eng.º Silva da Companhia MADAL. 11:00: Viagem de Quelimane a Nampula Sábado dia 11 de Maio Nampula Dia livre. Domingo dia 12 de Maio Ilha de Moçambique 11.00: Assinatura do Memorando entre CMCIM e FAPF-UniLúrio. UniLúrio: Bruschi, Berti, Martins, Hougaard e Sollien. CMCIM: Manuel Sumalgy, Helena Paulino, Janato e Caetano. 13.00: Visita aos bairros de macuti e projecto de abastecimento de água. Martins e Hougaard. 15.30: Visita à Cidade e a Fortaleza de S. Sebastião. 2ª Feira dia 13 de Maio Nacala – Nampula 09.30: Visita à zona para o Plano de Pormenor do CESAP. UniLúrio: Bruschi, Berti, Hougaard, Martins e Sollien. CMCN: Técnicos do DUC. 11.00: Encontro com vereadores do Município de Nacala. 3ª Feira dia 14 de Maio Nampula 08.00: Seminário conclusivo: Processo de acesso a terra em Moçambique. Conferência: Bruschi, moderador do debate: Martins. Tarde: Visita à Cidade de Nampula 3ª Feira dia 14 de Maio Nampula Partida do Prof. Sandro Bruschi. II. Síntese de Palestras e Encontros 3ª Feira dia 07 de Maio Campus Marrere, Nampula Palestra: Crescimento urbano em Moçambique. 2 O Professor Bruschi iniciou a palestra com algumas imagens de diferentes formas primordiais de cidades: A cidade centralmente planificada de padrão simples geométrico em contraste à cidade de crescimento orgânica espontânea. Referindo-se à Maputo como exemplo afirmou que a cidade africana actual tem um padrão diferente da cidade europeia. É composto por três áreas distintas: 1. Cidade de cimento: Cidade colonial – agora o centro comercial e administrativo da aglomeração urbana. 2. Cidade “informal”: O subúrbio não planificado de caniço, macuti, chapa de zinco; 3. Subúrbio de luxo: Expansão urbana planificada, mas muitos das vezes sem infra-estruturas. A falta de infra-estruturas na cidade informal e subúrbio de luxo provoca problemas ambientais. Deve haver diferentes tipos de regras para os diferentes tipos de organização urbana. Concentrando-se nos problemas da cidade informal, o Professor Bruschi continuava com uma abordagem de alguns aspectos fundamentais em diálogo com a sala: A cidade informal é visto como uma vergonha pela administração, deixando o seu desenvolvimento para a população, mas continua faltar infra-estruturas. Não é difícil conseguir financiamento para serviços públicos e sociais (saúde, educação etc.), mas é mais complicado de assegurar financiamento para infra-estruturas técnicas de habitação. As infra-estruturas devem ser bem planificadas, mas o grande problema está na gestão. O plano é um objectivo global que indica as linhas mestres para o desenvolvimento. O plano é importante, mas o mais importante está na implementação e gestão do plano. Pergunta: Como desenvolver o plano durante a implementação? O desenvolvimento da implementação deve ser organizado conforme os serviços (vias de acesso, espaços reservados para serviços públicos (escolas, centros comerciais etc.) Pergunta: Estamos a correr atrás do desenvolvimento. Aonde é que falhamos – o que devemos fazer? Não foram feitos planos desde o tempo colonial até aos anos 90. Como conjugar a cidade informal com a formal? Deve se descentralizar o processo. Deve-se dar segurança ás pessoas em forma de formalização do direito de uso e aproveitamento do terreno que ocupa. Promover organização local. Neste sentido Moçambique está agora numa situação favorável. Palestra: Processo de acesso a terra em Moçambique. Continuação da palestra e do debate com algumas imagens de planos iniciais e de reordenamento de cidades moçambicanas. Pergunta: O que fazer com a informalização das cidades formais (o crescimento espontânea de mercados, oficinas e construções não ordenadas). A organização espacial espelha a organização política. O importante é a definição de limites. 5ª Feira dia 09 de Maio Quelimane Encontro com Presidente do CMC de Quelimane O presidente do CMC de Quelimane começou por indicar a faixa de Coalane-Sampene-Namuinho como área prioritária para urbanização. Fundo de Habitação está a desenvolver um projecto de 100 casas em Namuinho. Este projecto deve 3 ser integrado no plano. Uma faixa ao longo da estrada para a praia de Zalala foi vendida em parcelas de 2 a 10 hectares nos anos 90. Algumas talhões estão aproveitadas para fins impróprias (armazenagem de madeiras etc.) e outras ainda encontram se desocupadas ou parcialmente construídas. Necessita-se um plano de urbanização com co-financiamento dos actuais donos. O antigo catedral da cidade (A Nossa Senhora de Livramento) está em degradação acelerada. O presidente pediu aos arquitectos visitá-la e dar opinião sobre a sua possível restauro. Visita da equipa FAPF-UniLúrio aos bairros objecto do Memorando entre o CMCQ e FAPF com o Vereador para a Área de Infra-estruturas e técnicos do DUC. Antes da visita à zona de expansão houve um encontro com os técnicos do Departamento de Urbanização e Cadastro onde foram apresentados os mapas da área de expansão e as plantas de zonas já reordenadas. O centro da Cidade de Quelimane está num ligeira alta na margem do Rio de Bons Sinais (um braço da delta do Rio Zambeze), rodeada por mangais. A única área para expansão urbana estende-se na direcção norte e é composta por dunas paralelas com plantação de coqueiros, separadas por baixas pantanosas com cultiva de arroz e hortaliças, que, durante os anos de guerra, foi uma importante fornecedor de géneros alimentícios para a cidade. As baixas constituem um elemento estruturante da zona de expansão que poderá funcionar como pulmões verdes da cidade além da produção de alimentícios. Foram visitadas os Bairros de Sangariveira e Sampene. O bairro Sangariveira foi, durante os anos 80, alvo de um plano detalhado de talhamento com apoio da ONG dinamarquesa Íbis. Verificou-se um processo subsequente de alteração informal de talhões e alinhamento de ruas, devido à falta de formalização do direito ao o uso e aproveitamento dos terrenos. Agora necessita-se um novo plano de alinhamento e talhamento em conformidade com a situação real, para poder emitir DUAT aos ocupantes. A zona de expansão de Sampene ainda tem carácter de zona rural com plantação de coqueiros em filas nas dunas, separadas pelas baixas de arroz. A zona tem uma ocupação espontânea dispersa de carácter precária. Foi construída uma nova escola secundária que servirá a futura área de expansão. Palestra e debate: Crescimento urbano em Quelimane. Participaram membros e técnicos do CMC de Quelimane e técnicos do projecto de MCA de apoio ao município. A sessão foi iniciada pelo presidente da CMC de Quelimane por dizer que o plano de construção dum novo porto na Vila de Macuse, 30 km ao norte da Quelimane, e uma linha férrea para as minas de carvão em Moatize, Província de Tete, vai criar uma pressão sobre a Cidade de Quelimane como centro logístico. O professor Bruschi começou por mostrou a sua admiração pelo trabalho já realizado em Quelimane. Continuava afirmando que um plano urbanístico muitas das vezes é idealista. As diferentes partes da cidade necessitam diferentes tipos de planos. Os elementos básicos são: 1. Talhamento – identificação de talhões; 2. Regularização do acesso; 3. Direito de uso e aproveitamento; 4. Gradual introdução de infra-estruturas. O Plano de Estrutura deve corresponder às necessidades previsíveis e deve ser muito flexível. Deve ser implementado em forma de gradual melhoramento. 4 Na nova expansão pode se pensar dar dois talhões a cada requerente, para dar possibilidade à expansão da casa familiar num futuro quando a densidade populacional vai baixar. Pergunta: Como conseguir assegurar espaços colectivos para futuras serviços públicos? Informação e participação da população são cruciais. Pode se por placas de aviso em áreas vazias. Elementos estruturantes, como estrada de acesso para a área de expansão, são importantes. Será importante manter as baixas como zonas verdes de produção de cereais e hortícolas. Foi discutido como conservar os limites entre as faixas altas para construção urbana e as faixas baixas para produção agrícola, evitando o seu sucessivo entulhamento e construção. Finalmente foi debatida a importância de salvaguarda do rico património histórico e arquitectónico da cidade, que, em alguns casos, perdeu o seu valor estético e histórico por alterações e ampliações. 6ª Feira dia 10 de Maio Quelimane Visita à Igreja da Nossa Sr.ª de Livramento A antiga catedral constitui um elemento estético, arquitectónico e histórico importante para o ambiente urbano do centro da Cidade de Quelimane. Foi construída no fim do Sec. 18 (vê anexo) e abandonada em 1974, quando foi inaugurada a nova catedral. Pormenores duma cornija descascada indicam alterações. Está num estado de degradação avançada, embora sem sinais de problemas estruturais nas fundações. Para a elaboração dum projecto de restauro será necessário recolher informações e levantamentos existentes em arquivos, seguido por uma examinação mais profunda. Encontro com o Presidente do CMCQ e Eng.º Silva, Companhia de Madal A companhia Madal tem, desde tempo colonial, uma serração no bairro Coalane, caminho da cidade para Zalala. A zona adjacente a seguir é a zona onde foram vendidos terrenos em parcelas de 2 a 10 hectares nos anos 90. Agora apresenta uma mistura de habitação, indústrias e terrenos não aproveitadas. A Companhia Madal está interessada em apoiar um ordenamento da zona envolvendo os proprietários. Primeiro deve se identificar os proprietários e, a seguir, fazer acordos com eles (alguns podem querer vender outros podem estar interessados em fazer uma mini-urbanização dentro do seu terreno). A ideia será de fazer um acordo de tipo “joint-venture” entre o Município e os proprietários. Os terrenos da Companhia Madal estão situados fora da zona de expansão no caminho para Zalala e pretende se continuar a produção agrícola. Domingo dia 12 de Maio Ilha de Moçambique Assinatura do Memorando entre CMCIM e FAPF-UniLúrio Participantes da UniLúrio: Director da FAPF, Arqt.º Berti; Arqt.º Bruschi; Arqt.º Martins; Arqt.º Hougaard e Arqt.ª Sollien. Participantes do CMCIM: Vereador para Assuntos Financeiros: Sr. Manuel Sumalgy (substituto do presidente do CMCIM); Vereador para Área de Infra-estruturas: Sr. Janato; Vereadora para Saúde, Mulher e Acção Social: Sr.ª Helena Paulino e Assessor Jurídico do CMCIM: Sr. Caetano. Foi assinado o Memorando de Entendimento entre o Conselho Municipal da Cidade da Ilha de Moçambique e a Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico na UniLúrio com os seguintes objectivos específicos: • Solidificar as capacidades técnicas do DUC no âmbito de planeamento urbano e cadastro de terras e edifícios; 5 • • Permitir a preparação célere do Plano do Pormenor (PP) da Ilha de Moçambique; Permitir a introdução de práticas rotineiras de planeamento urbano em todas as questões relacionadas com a gestão do solo urbano. Visita aos bairros de macuti e projecto de abastecimento de água. Hougaard e Martins. Foi feita uma visita à “Ponta da Ilha”, zona da entrada na ilha da ponte de ligação com o continente, onde se pretende construir um novo depósito de água para abastecimento público com quatro escritórios para serviços do sistema. A zona abrange vias de distribuição, um parque público, estacionamento, bomba de combustível, uma zona ocupada por comércio informal, uma “barraca” restaurante, uma pequena capela e uma cisterna antiga com uma área vedada para a captação de águas pluviais. A zona apresenta um aspecto geral de desordenamento. Sendo a zona de entrada para a Ilha, declarada património mundial, merece uma especial atenção no plano de pormenor. Visita à Cidade e Fortaleza de S. Sebastião. Foi feito um passeio pela cidade com destino à Fortaleza de S. Sebastião, onde foram visitadas as futuras instalações do Centro de Estudos e Documentação da Ilha de Moçambique (CEDIM) da UniLúrio. Concluiu-se que a conjunção dos objectivos de, por um lado, conservar o ambiente urbano e a arquitectura histórica, e, por outro lado, assegurar um desenvolvimento económico e social equilibrado para a cidade insular constitui um desafio complicado, cuja solução não depende tanto de novos planos, mas sim, da capacidade das autoridades locais e nacionais para implementar e gerir a legislação e regulamentos já existentes relacionados à urbanização, construção e património histórico. 2ª Feira dia 13 de Maio Nacala Visita ao sítio do Plano de Pormenor elaborado por CESAP Participantes: Bruschi, Berti, Martins, Hougaard e Sollien com técnicos do DUC da CMC de Nacala. O terreno é arenoso com algumas vertentes e baixas, sendo a área aproveitável para talhões de aproximadamente 750.000 m2. Tem pouca ocupação dispersa. No percurso foram feitas paragens na localidade Napulusa e na localidade Mupete. Em ambas as localidades já existem escolas primárias. O Arqt.º Bruschi apresentou os mesmos princípios e ideias que já foram discutidos em Nampula e Quelimane, entre eles a possibilidade de atribuir terrenos de 600 m2 a cada requerente ao invés do habitual 300m2. Considerou que poder-se-ia limitar a uma marcação mínima de terrenos grandes com talhões individuais ligadas ao arruamento principal, sendo o interior de propriedade colectiva dos moradores, deixando a organização para a iniciativa local. Encontro no CMC de Nacala. Participantes da UniLúrio: Director da FAPF, Arqt.º Berti; Arqt.º Bruschi; Arqt.º Martins; Arqt.º Hougaard e Arqt.ª Sollien. Participantes do CMCN: Flora Gonçalves, Vereadora para Área de Indústria e Turismo; Samuel Morais, Vereador para Área de Finanças; Lucrécia Cossa, Vereadora para a Área de Saúde, Mulher e Acção Social. O Arqt.º Bruschi repetiu o princípio de que, mais de que um plano, trata-se da implementação e gestão do plano. É um processo sobre tempo de ligação entre a administração e o cidadão. 6 As infra-estruturas sociais podem funcionar como elementos físicos estruturantes no processo de urbanização. A vereadora Flora Gonçalves confirmou o interesse do CMCN de avançar com um plano matriz, para depois seguir com planos de pormenor. 3ª Feira dia 14 de Maio Nampula Seminário conclusivo: Processo de acesso a terra em Moçambique (MB) Participaram os estudantes do III Ano/Segundo Semestre e acerca de dez Docentes da FAPF. A palestra do Prof. Bruschi foi ministrada em duas partes: 1. Apresentação do tema: Casas e cidades da Africa. Hoje e no passado. Neste tema foram abordados vários argumentos que justificam o estado actual da casa em Africa, com especial atenção as áreas costeiras e do interior do Moçambique. Alunos e Professores apresentaram varias sugestões úteis para a discussão que seguiu a palestra. 2. Foram aprofundados com os Docentes os argumentos tópicos das visitas em Nampula, Quelimane, Ilha e Nacala. A discussão foi especialmente visada na organização do trabalhos de extensão já em curso e pelos quais foram já assinados os memorandos orientadores. Princípios gerais, metodologia no trabalho e esclarecimentos técnicos e informáticos sobre os documentos a ser elaborados. 7