Universidade Católica de Brasília PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Enfermagem ANÁLISE SOBRE O ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE POR HOMENS NA FAIXA ETÁRIA DE 21 A 49 ANOS NO PRONTO-SOCORRO DO HOSPITAL REGIONAL DE CEILÂNDIA-DF. Autora: Vânia Monteiro Guedes dos Santos Moura Orientadora: Leila Bernarda Donato Göttems BRASÍLIA 2009 VÂNIA MONTEIRO GUEDES DOS SANTOS MOURA ANÁLISE SOBRE O ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE POR HOMENS NA FAIXA ETÁRIA DE 21 A 49 ANOS NO PRONTO-SOCORRO DO HOSPITAL REGIONAL DE CEILÂNDIA-DF. Trabalho apresentado ao curso de graduação em Enfermagem da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título em Bacharel em Enfermagem. Orientadora: Doutoranda Leila Bernarda Donato Göttems em Administração na Universidade de Brasília. Brasília 2009 Trabalho de autoria de Vânia Monteiro Guedes dos Santos Moura, intitulado “Análise sobre o acesso aos serviços de saúde por homens na faixa etária de 21 a 49 anos no pronto-socorro do Hospital Regional da Ceilândia-DF”, requisito parcial para obtenção de grau de Bacharel em Enfermagem, defendida e aprovada, em (15/06/2009), pela banca examinadora constituída por: _____________________________________ Doutoranda Leila Bernarda Donato Göttems Orientadora _________________________________________________ Msc. Alexandre Alberto Freire Jorge Enfermeiro UNB _________________________________________________ Prof. Esp. Renata Cerqueira Enfermeira UNESP Brasília 2009 Ao meu esposo, Júnior, e família Ulisses, Iracy e Zênia, pessoas que mais amo no mundo. AGRADECIMENTOS O trabalho de pesquisa exige dedicação e muito esforço por parte do pesquisador que busca as informações do que deseja estudar. No entanto, não é uma atividade solitária uma vez que envolve uma série de pessoas que de alguma maneira acabam sendo um pouco responsável pelo produto final do trabalho. Partindo-se deste pressuposto, agradeço em primeiro lugar especialmente a Deus, que tem me abençoado todos os dias, ao meu esposo, Júnior, a minha família Iracy Monteiro (mãe), Ulisses Guedes (pai) e Zênia Monteiro Guedes (irmã), que tanto contribuíram e contribuem para a minha formação. A professora doutoranda e Enfermeira Leila Göttems com quem dividi experiências e idéias. A todas as pessoas que se dispuseram a contribuir para a pesquisa dispensando atenção durante as entrevistas realizadas na área de estudo. A todos os professores e membros do Curso de Enfermagem da Universidade Católica de Brasília. Aos meus colegas que cooperaram na minha formação acadêmica nos anos que passamos juntos. A todos os funcionários da internação do Hospital Anchieta pela contribuição no meu aprendizado teórico/prático durante o estágio extracurricular nos anos de 2007/2008. A todos os funcionários do Departamento Médico da Câmara dos Deputados Federal pela acolhida e carinho, aprendizado, conhecimento adquirido tanto pessoal como profissional em especial: ao grupo de diabetes, Enfermeiras Chefes Ana Heloísa e Idenise Vieira, toda a equipe de enfermagem da Cardiologia, Pediatria, Ala C/Ginecologia, Centro Cirúrgico, Emergência, Lucilene Albuquerque, Marcação de Consultas, Direção do DEMED/COEnf, Copa, Silmara (Farmacêutica), Rose (Nutricionista) e o corpo médico de todo o DEMED durante o estágio extracurricular nos anos 2008/2009. E finalmente, a todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram da construção desta pesquisa. RESUMO Este estudo teve como objetivo: 1) identificar as principais dificuldades de acesso aos serviços de saúde no pronto-socorro do HRC por homens entre 21 e 49 anos; 2) levantar os principais motivos que os levam a procurar estes serviços bem como elaborar recomendações de mudanças nos serviços de saúde para ampliar o acesso nos mesmos pelos homens. Este estudo foi classificado como uma pesquisa empírica segundo as definições de Demo (2000) dedicada ao tratamento da "face empírica e fatual da realidade, que produz e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e fatual". Os motivos mais freqüentes que levaram os homens a procurarem os serviços de saúde identificaram que a busca por atendimento médico teve predominância nas afecções leves agudas (gripes, resfriados, febre, dores nas articulações) e lesões (entorse, luxação). Observou-se também grande dificuldade em se mudar a cultura, masculinidades, mas é preciso seguir caminhos da prevenção de forma variada e complementar. Concluiu-se que em relação aos procedimentos de intervenção a Enfermagem, como uma das promotoras da educação em saúde, juntamente com uma equipe multiprofissional e a política de saúde do homem, participe dentro de uma posição central do discurso preventivista, significando, também sua forma de validação e legitimidade. Palavras chave: Saúde, homem, acesso, dificuldades, prevenção, Enfermagem. ABSTRACT This study aimed to: 1) identify the main difficulties of access to health services in the emergency room of the HRC by men between 21 and 49 years, 2) raise the main reasons that lead them to seek these services and make recommendations for changes in health services to expand access by the same men. This study was classified as an empirical research in the definitions of Demo (2000) dedicated to the treatment “of the face of empirical and factual reality, which produces and analyzes data, making it by the path of empirical and factual control”. The most frequent reasons that led men to seek health services identified that the search for medical care was predominant in mild acute illness (flu, colds, fever, pain in joints) and injuries (sprains, dislocation). There was great difficulty in changing the culture, masculinity, but we must follow paths of prevention in varied and complementary. It was concluded that in relation to the procedures of the nursing intervention as one of the promoters of health education, together with a team of health policy and the man involved in a central position of the speech preventivista, meaning, also their way of validation and legitimacy. Keywords: Health, men, access, problems, prevention, Nursing. RESUMEN Este estudio tuvo como objetivo: 1) identificar las principales dificultades de acceso a los servicios de salud en la sala de emergencia del Consejo de Derechos Humanos por parte de los hombres entre 21 y 49 años, 2) elevar las principales razones que les llevan a buscar estos servicios y hacer recomendaciones para cambios en los servicios de salud para ampliar el acceso de los mismos hombres. Este estudio fue clasificado como una investigación empírica en las definiciones de Demo (2000) dedicada al tratamiento de la cara de la realidad empírica y de hecho, que produce y analiza los datos, lo que lo hace por la vía de los hechos empíricos y de control. Las razones más frecuentes que llevaron a los hombres a buscar servicios de salud determinó que la búsqueda de atención médica fue predominante en leve enfermedad aguda (gripe, resfriados, fiebre, dolor en las articulaciones) y lesiones (esguinces, dislocación). Hubo grandes dificultades en el cambio de la cultura, la masculinidad, pero hay que seguir los caminos de la prevención en variados y complementarios. Se llegó a la conclusión de que, en relación a los procedimientos de la intervención de enfermería como uno de los promotores de la educación para la salud, junto con un equipo de la política sanitaria y el hombre participa en una posición central del discurso preventivista, es decir, también su forma de la validación y la legitimidad. Palabras clave: salud, hombre, el acceso, los problemas, la prevención, la Enfermería. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Distribuição dos alimentos consumidos diariamente pelos homens. 56 Gráfico 2. Distribuição do tempo de espera por atendimento no serviço. 62 Gráfico 3. Motivos que ajudaram a mudar a qualidade de vida do homem atualmente. 65 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Perfil sócio-econômico dos homens que buscam os serviços de saúde. 52 Tabela 2. Distribuição do consumo de bebidas alcoólicas/fumo. Tabela 3. Distribuição dos problemas de saúde que levam a busca por serviços especializados de saúde. 53 Tabela 4. Frequência aos serviços de saúde. 55 Tabela 5. Principais barreiras de acesso aos serviços de saúde. 57 Tabela 6. Vacinação dos homens na faixa etária entre 21 e 49 anos. Tabela 7. Características do atendimento feito pelos profissionais de saúde que atendeu os homens que buscaram o serviço. 60 Tabela 8. Escolha do pronto-socorro do Hospital Regional da Ceilância - DF. 62 Tabela 9. Características sobre qualidade de vida. 64 Tabela 10. Motivos que ajudariam a mudar a qualidade de vida do homem atualmente 64 54 61 LISTA DE ABREVIATURAS AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde CS – Centro de saúde DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DSTs – Doenças Sexualmente Transmissíveis ESF - Estratégia de Saúde da Família HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana HRC – Hospital Regional da Ceilândia IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCA - Instituto Nacional do Câncer MS - Ministério da Saúde ONGs – Organizações Não Governamentais PNAB – Programa Nacional de Atenção Básica PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNH - Programa Nacional de Humanização PNI – Programa Nacional de Imunizações PS – Pronto-socorro SUS - Sistema Único de Saúde SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde UBS – Unidade Básica de Saúde UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura UNESP – Universidade Estadual Paulista UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 13 2 JUSTIFICATIVA............................................................................................................... 15 3 OBJETIVOS..................................................................................................................... 18 3.1 Objetivo geral........................................................................................................ 18 3.2 Objetivos específicos........................................................................................... 18 4 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................... 19 4.1 Alguns marcos históricos sobre homens, gênero e saúde.............................. 19 4.2 Saúde dos homens na atualidade....................................................................... 20 4.3 Aspectos culturais e sócio-econômicos da saúde dos homens...................... 23 4.4 Gênero e saúde..................................................................................................... 26 4.5 Escolaridade.......................................................................................................... 28 4.6 Sexualidade........................................................................................................... 29 4.7 Acesso................................................................................................................... 31 4.8 Acesso aos serviços............................................................................................. 32 4.9 Barreiras de acesso.............................................................................................. 33 4.10 Diferença entre homens e mulheres no uso dos serviços de saúde............. 34 4.11 Política Nacional Integral à Saúde do Homem................................................. 36 5 METODOLOGIA............................................................................................................... 44 5.1 Classificação do estudo....................................................................................... 46 5.2 População da pesquisa........................................................................................ 47 5.3 Aspectos éticos da pesquisa............................................................................... 48 6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.......................................................................... 49 6.1 Perfil sócio-econômico dos homens entrevistados que buscam os serviços de saúde................................................................................................. 49 6.2 Acesso aos serviços de saúde............................................................................ 51 6.3 Prevenção do câncer de próstata........................................................................ 54 6.4 Vacinação............................................................................................................... 55 6.5 Atendimento nos serviços de saúde................................................................... 55 6.6 Qualidade de vida.................................................................................................. 58 7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................................................................. 60 8 CONCLUSÕES................................................................................................................ 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 68 APÊNDICE.......................................................................................................................... 73 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.............................................................. 74 Instrumento de coleta de dados sobre o acesso dos homens aos serviços de saúde................................................................................................................................ ANEXO................................................................................................................................ Aprovação do comitê de ética e pesquisa em seres humanos SES-DF.................... 75 79 80 13 1 INTRODUÇÃO Atualmente existem muitas produções teóricas nacionais e internacionais, publicadas por universidades, centros de pesquisas e organizações não governamentais (ONGs) analisando a situação de saúde da mulher e do homem a partir de diversas variáveis. Contudo, ainda são poucas as produções relacionadas especificamente ao gênero masculino que incorporem uma perspectiva efetivamente relacional em suas análises. De acordo com o coordenador técnico de Saúde do Homem do Ministério da Saúde (MS), Ricardo Cavalcante, o sentimento de onipotência faz com que os homens não procurem ajuda médica. Um dos grandes desafios da saúde pública no Brasil é fazer com que os homens procurem mais os hospitais. São cerca de 40 milhões de adultos entre 25 a 59 anos que só buscam atendimento médico quando a doença já está em estágio avançado, dificultando o tratamento. Isso se dá devido uma barreira cultural na origem desse comportamento masculino, apontam antropólogos, psiquiatras e sociedades médicas. (Brasil, 2008) Ricardo Cavalcante afirma que “No caso de nossa cultura, como uma herança judaico-cristã nítida, ela é uma cultura muito machista, onde o homem se considera onipotente: isso acontece com os outros, nunca acontece com ele. Em virtude disso, eles não acreditam muito em medidas preventivas, eles acham que isso não vai funcionar, eles acham que esse serviço de saúde é para quem é frágil, e ele não é frágil, porque ele não está convencido das limitações de sua biologia. Para ele frágil são as mulheres, as crianças, os idosos, mas o indivíduo ele acha que não, ele se acha imune às doenças, e isso é próprio da onipotência masculina da nossa cultura.” Cavalcante alerta ainda que a não-adesão dos homens aos serviços de saúde perpetua sofrimentos para o indivíduo, para a família e para a sociedade, além de altos custos para o sistema de saúde. (Brasil, 2008) A baixa procura dos serviços de saúde de forma preventiva por parte dos homens fez com que o MS criasse uma nova política de saúde voltada para o homem em 2008. O propósito de incluí-los em programas de educação e aconselhamento sobre o seu comportamento sexual e reprodutivo, hábitos saudáveis, planejamento familiar, educação, saúde, nutrição e autocuidado é essencial e deve começar de preferência desde muito cedo. 14 Esta política visa sensibilizar os homens para o reconhecimento e a enunciação de suas condições sociais e de saúde, para que advenham sujeitos protagonistas de suas demandas, consolidando seu exercício e gozo dos direitos de cidadania. No entanto, mobilizar a população masculina para garantir o seu direito social à saúde é um dos desafios da Política Nacional Integral à Saúde do Homem lançada em 2008. Para um desafio dessa dimensão não basta apenas criar políticas governamentais voltadas para esse público. É importante o desenvolvimento de campanhas educativas para incentivá-los a procurar os serviços de saúde de forma preventiva, especialmente, no tocante às doenças consideradas de base, tais como: diabetes mellitos, hipertensão arterial e câncer de próstata. Pretende-se com essa pesquisa contribuir para a produção de conhecimentos científicos voltados para a saúde do homem, incluindo a elaboração de recomendações a partir da análise dos serviços de saúde demandados pelo sexo masculino no pronto-socorro (PS) do Hospital Regional da Ceilândia (HRC). Tal objetivo implica: a discussão de estratégias que envolvem os homens como sujeitos confrontados com as diferentes dimensões da vida; os serviços na maneira como eles se organizam para atender os usuários considerando suas particularidades; e os vínculos estabelecidos entre os homens e os serviços de saúde. 15 2 JUSTIFICATIVA Os estereótipos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal, potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino (Brasil, 2008). Para Costa (1995), no século XVIII, a diferença entre os gêneros voltava-se para a relação anátomo-fisiológica com o sexo político ideológico justificando e impondo diferenças morais aos comportamentos femininos e masculinos de acordo com as exigências da sociedade burguesa, capitalista, individualista, nacionalista, imperialista e colonialista implantada nos países europeus. (apud. Silva, 2000, p. 9) Com a Revolução Francesa (Gay, 1995; Mosse, 1998; Badinter, 1993; Almeida, 1995) que primeiramente, pregava os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, e posteriormente a Revolução Industrial e as conseqüentes guerras mundiais que se sucederam, trouxeram uma desordem no papel do homem burguês, que tentava se reconstruir, fazendo com que se consolidasse uma masculinidade e uma virilidade hegemônica comum a todos os homens. (apud. Silva, 2000, p. 10) Nos últimos anos, o debate em torno da identidade masculina tem apontado para uma verdadeira crise da masculinidade do homem contemporâneo. O homem estaria sendo colocado em “xeque” porque estaria perdendo a noção de sua própria identidade, passando a buscar uma melhor descrição de si. (Silva, 2000, p. 8) Um levantamento feito com as sociedades médicas brasileiras, antropólogos, psicólogos, membros do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), onde foram ouvidos cerca de 250 especialistas mostrou que os homens não costumam freqüentar os consultórios por conta de três barreiras principais: cultural, institucionais e médicas (Brasil, 2008). A baixa procura dos homens pelos serviços de atenção primária faz com que os mesmos continuem a fazer uso de procedimentos muitas vezes desnecessários caso houvesse procurado atendimento médico adequado anteriormente. Uma medida importante na questão da saúde do homem foi a criação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem interligada com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) – porta de entrada do SUS - com estratégias de 16 humanização em saúde, e em conjunto com os princípios do SUS, fortalecendo ações e serviços em redes na área de saúde. Para a implementação desta política voltada para a atenção e promoção da saúde do homem, há uma previsão de R$ 196 milhões. Entre as ações previstas no “Mais Saúde” estão: 1) Inserir a saúde do homem nos conteúdos de capacitação da especialização dos 32 mil médicos das Equipes de Saúde da Família (80% do total) e da educação à distância, por meio do TELESSAUDE, para diagnóstico de patologias e câncer do trato genital masculino; 2) Apoiar a implantação da política de atenção à saúde do homem nas secretarias estaduais e nas capitais a partir da pactuação na Comissão Intergestores Tripartite, mediante o repasse de R$ 50 mil por secretaria (53 secretarias no total); 3) Lançar a Semana de Promoção da Saúde do Homem, em agosto deste ano, no Dia dos Pais; 4) Distribuir 26,1 milhões de cartilhas sobre prevenção, diagnóstico, tratamento de câncer e promoção da saúde; 5) Ampliar em 20% ao ano o número de consultas para diagnóstico de patologias do trato genital masculino e de cânceres de próstata, vesícula, uretra, bolsa escrotal, testículos e pênis. Passando de 121,4 mil para 252 mil consultas/ano, em 2011; 6) Ampliar em 10% ao ano o número de cirurgias para as patologias e cânceres do trato genital masculino, passando de 112 mil em 2006, para 164 mil até 2011 (Brasil, 2008). O MS como órgão formulador de políticas de saúde deve nortear as ações de atenção integral à saúde do homem, visando estimular o autocuidado e, sobretudo, o reconhecimento que a saúde é um direito social básico e de cidadania de todos os homens brasileiros. É importante promover mudança de comportamento para que se 17 possa de fato obter resultados concretos e positivos na promoção e prevenção de questões relacionadas ao modo pelo qual o homem vivencia seus adoecimentos. É importante ressaltar que tratamentos crônicos ou de longa duração têm, em geral, menor adesão, visto que os esquemas terapêuticos exigem um grande empenho do paciente que, em algumas circunstâncias, necessitam modificar seus hábitos de vida para cumprir seu tratamento. Pesquisas qualitativas apontam várias razões para a baixa adesão dos homens em dois grupos principais de determinantes, que se estruturam como barreiras entre o homem e os serviços e ações de saúde (apud. Gomes, 2003; Keijzer, 2003; Schraiber et al, 2000), a saber, barreiras sócio-culturais e barreiras institucionais. Neste sentido a realização desta pesquisa encontra ambiência nas discussões que estão sendo feitas no âmbito da política pública de saúde. Sua relevância se dá pela possibilidade de contribuir localmente com essa discussão, identificando-se os principais problemas e dificuldades de acesso enfrentadas pelos homens no tocante aos serviços de saúde, em Ceilândia no DF. 18 3 OBJETIVOS 3.1 Geral Analisar como os homens utilizam e acessam os serviços de saúde no PS do HRC. 3.2 Específicos - Identificar os principais motivos que levam os homens na faixa etária entre 21 e 49 anos a procurar serviços de saúde bem como as dificuldades de acesso. - Elaborar recomendações de mudanças nos serviços de saúde para ampliar o acesso dos homens nos mesmos. 19 4 REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 Alguns marcos históricos sobre homens, gênero e saúde Os autores Sabo (2000) e Couternay (2000) apontam como marco inicial dos estudos norte-americanos sobre homens e saúde, as análises críticas da década de 1970 ao modelo biomédico. Para Sabo (2000), o pensamento produzido sobre a saúde dos homens nos anos 70 foi apenas exploratório, tangenciado pela teoria e política feministas e organizava-se conceitualmente em torno da premissa de que a masculinidade tradicional produzia déficit de saúde (apud. Schraiber, 2005, p. 9). Nos anos 80, tal perspectiva avança de forma mais consistente, observandose, inclusive, uma mudança de terminologia: de estudos dos homens para estudos de masculinidades (Couternay, 2000). Em período mais recente, transita-se as teorias de papéis-sexuais para o enfoque de gênero, quando se assiste à expansão da perspectiva de gênero em domínios como a epidemiologia e a sociologia médica nos EUA (apud. Schraiber, 2005, p. 9). Já nos anos 90 consolidam-se as noções de poder, desigualdade e iniqüidade de gênero na maioria dos estudos sobre homens e saúde, articulando-as a outras, tais como raça/cor, etnia, orientação sexual, classe, geração, religião etc., a fim de se entender os processos de saúde e de doença dos diferentes segmentos de homens (apud. Schraiber, 2005, p. 9). Keijzer (2003) observa que na América Latina há uma quantidade crescente de programas que se volta para a experiência de homens em relação à sexualidade, reprodução, paternidade, violência ou a própria saúde. O autor considera que a inclusão da temática “homens e saúde” poderá ter como resultado a participação dos homens no alcance dos objetivos programáticos dessas organizações, deslocando-se da visão tradicional do homem apenas como parte dos problemas para concebê-lo também como parte da solução (apud. Schraiber, 2005, p. 9). É importante destacar que, nos últimos anos, os referenciais conceituais de Connell (1995) e Kimmel (1992; 1997) têm fundamentado análises de pesquisadores interessados nos processos de morbi-mortalidade em populações masculinas, na qual defendem que a masculinidade hegemônica gera comportamentos danosos à saúde, fazendo emergir fatores de risco importantes para o adoecimento. Os 20 estudos latino-americanos e brasileiros sobre homens e saúde surgem no final dos anos 80 e seguem a tendência dos estudos produzidos na Europa e nos Estados Unidos (apud. Schraiber, 2005, p. 9). O estudo de Laurenti (1998) sobre o perfil epidemiológico da saúde masculina na região das Américas, por exemplo, destaca um diferencial entre os sexos, especialmente quanto a uma maior mortalidade masculina em todas as idades, além da sobremortalidade neste sexo para a quase totalidade das causas. Por outro lado, ainda segundo o referido autor, em geral, há um predomínio do adoecimento feminino, constatado por indicadores de morbidade, medidos pelas demandas dos serviços e inquéritos populacionais (apud. Schraiber, 2005, p. 9). Hardy & Jiménez (2000) consideram que estudos demográficos, que antes só entrevistavam mulheres, começaram a incluir os homens como informantes. Os homens também vêm sendo convidados a participar na atenção à gravidez e ao parto, não sendo considerados responsáveis somente por provocar a gestação (apud. Schraiber, 2005, p. 9). 4.2 Saúde dos homens na atualidade Com respeito a pouca presença masculina nos serviços de atenção primária à saúde, muitas são as suposições e/ou justificativas. Por um lado, associa-se a ausência dos homens ou sua invisibilidade, nesses serviços, relacionada a seu processo de socialização. A identidade masculina estaria associada à desvalorização do autocuidado e à preocupação incipiente com a saúde. Por outro lado, os homens preferem utilizar outros serviços de saúde, como farmácias ou pronto-socorros, que responderiam mais objetivamente às suas demandas, onde os homens seriam atendidos mais rapidamente e conseguiriam expor seus problemas com mais facilidade. Além dessas percepções, centradas no que seria próprio do comportamento dos sujeitos do sexo masculino, há também outras visões que reconhecem as Unidades Básicas de Saúde (UBS), hospitais como sendo elas a causa da dificuldade do acesso dos homens ao serviço. Neste caso, os homens sentiriam mais dificuldades para serem atendidos, seja pelo tempo perdido na espera da 21 assistência seja por considerarem as UBS como um espaço feminilizado freqüentado, principalmente, por mulheres e composto por uma equipe de profissionais formada, em sua maioria, também por mulheres (Figueiredo, 2004, p. 106). Segundo Figueiredo (2004, p. 106), tal situação provocaria nos homens a sensação de não-pertencimento àquele espaço. Argumenta-se, ainda, que os homens não procuram as UBS e os hospitais porque estas não disponibilizam programas ou atividades direcionadas, especificamente, para o público masculino. Enfim, tudo isso indica que parece existir uma dificuldade de interação entre as necessidades de saúde da população masculina e a organização das práticas de saúde das unidades de atenção primária, embora a literatura sobre essas questões seja escassa. Para compreender o propósito deste trabalho de conclusão de curso, é necessário, a princípio, admitir que a constatação da pouca presença do sexo masculino nas UBS não deve ser pensada exclusivamente como uma falta de responsabilidade dos homens com sua saúde nem especificamente como uma falha na organização dos modelos de atenção primária e secundária à saúde. Diante da complexidade que envolve o tema busca-se entendê-lo em uma complexa teia de relações envolvendo três dimensões que se interagem entre si, a saber: 1) os homens na qualidade de sujeitos confrontados com as diferentes dimensões da vida; 2) os serviços na maneira como eles se organizam para atender os usuários considerando suas particularidades; e, 3) os vínculos estabelecidos entre os homens e os serviços e vice-versa (Figueiredo, 2004, p. 106). De um modo geral, estudos norte-americanos revelam que os homens sofrem mais com as doenças crônicas fatais, tais como: doença isquêmica do coração, aterosclerose, enfisema, câncer, acidente vascular cerebral (AVC), cirrose hepática, problemas de rins, e referem mais restrição de atividade e incapacidade de longa duração devido a problemas crônicos de saúde (Verbrugge, 1989; Bird & Rieker, 1999). 22 As mulheres apresentam mais freqüentemente doenças de curta duração, sintomas habituais, doenças agudas e transitórias (infecções das vias respiratórias superiores, gastroenterite e doenças infecciosas de curta duração) e doenças crônicas não fatais (artrite, sinusite crônica, problemas digestivos, anemia, problemas de tireóide ou vesícula, enxaqueca, colite e eczema) (Bird & Rieker, 1999). Estes últimos são problemas que, de modo geral, apresentam baixa letalidade, apesar de produzirem vários sintomas, serem em muitos casos incapacitantes e gerarem um grande volume de demanda aos serviços de saúde (Verbrugge, 1989; Bird & Rieker, 1999). A dimensão biológica também é geralmente evocada para explicar o excesso de mortalidade entre os homens (Macintyre, 1999). O padrão de morbidade com maior prevalência de problemas de saúde de elevada letalidade poderia explicar o excesso de mortalidade entre os homens (Verbrugge & Wingard, 1987). Para Doyal (2000), existe ainda a teoria de maior fragilidade biológica entre os meninos, que apresentam maiores taxas de mortalidade, mesmo em fase intrauterina. A presença de fatores de risco associados a problemas de saúde varia segundo sexo (Verbrugge, 1989; Bird & Rieker, 1999;Macintyre, 1999). Enquanto a obesidade, o stress, a infelicidade e as pressões ligadas aos papéis sociais exercidos pelas mulheres são apresentadas como fatores que aumentam os riscos de doenças neste grupo, entre os homens há maior ocorrência de fumo, ingestão de álcool e desvantagens em situações relacionadas ao trabalho, acarretando aumento de riscos de problemas no longo prazo. Variáveis, tais como: auto-avaliação do estado de saúde, presença de doença crônica, referência a sinais e sintomas e restrição de atividades rotineiras por motivo de saúde retratam dimensões diferentes das condições de saúde de determinado grupo populacional. Estas variáveis são susceptíveis a vários tipos de erros de medida, com destaque para o viés de gênero no relato das informações. Estudos sugerem que homens são menos propensos a reportar problemas de saúde do que as mulheres (Verbrugge & Wingard, 1987; Macintyre, 1999). Greig (2001) ressalta que há necessidade de se fazer conexões entre homens, gênero e violência, a fim de articular mais claramente o papel e a responsabilidade dos homens para o fim da violência baseada no gênero. Para ele é necessário entender o comportamento dos homens no contexto de suas vidas, 23 focalizar o processo de socialização que produz conexões entre masculinidade e violência. Destaca-se, ainda, o papel da família e da cultura na produção de homens violentos e inclui questões sobre a violência estrutural de gênero, como uma construção social que determina uma relação desigual e opressiva entre as pessoas (apud. Souza, 2005, p. 55). 4.3 Aspectos culturais e sócio-econômicos da saúde dos homens Nos séculos XVIII, XIX e parte do século XX, inúmeras características tidas como positivas – a exemplo da valentia, firmeza, inteligência e imponência – foram associadas ao ser masculino e vistas como qualidades sobre as quais a própria sociedade gostava de se autoprojetar. Discute ainda ícones, símbolos e reflexos dos períodos medievo e moderno que constituem o masculino ou em torno dele gravitam (Gomes, 2004, p. 1118). Nesse ideal moderno, em que o temor da imaturidade é menor do que o da efeminação, a transformação de um menino em homem passa primeiro pela “aquisição de certo padrão físico e, depois, através de uma adequação moral, que deveria culminar com a consagração do casamento” (Gomes, 2004, p. 1118). Ainda no século XIX, ressaltam-se os discursos médicos que alimentaram o slogan mente sã num corpo são que ajudaram a desqualificar aqueles – como insanos, negros, judeus, homo orientados – que não se encaixavam no ideal burguês de masculinidade, imputando-lhes o status de serem diferentes ou serem deficientes sob algum aspecto. Junto a essa desqualificação, a mulher costumava também ser vista como ser inferior. (Gomes, 2004, p. 1118). Em relação ao mundo contemporâneo, Oliveira observa que, “apesar de todas as mudanças socioestruturais de todos os movimentos que continuamente contestam a hegemonia masculina, esse lugar simbólico ainda é bastante valorizado e funciona como bússola de orientação para a construção de identidades em diversos segmentos sociais” (apud.Gomes, 2004, p. 1118). A questão do masculino emergiu com força nos estudos de gênero no Brasil nos últimos anos, especialmente nas discussões e análises sobre sexualidade e saúde reprodutiva, dominadas até então por mulheres para revisões recentes da 24 literatura brasileira e latino-americana (apud. Giffin e Cavalcanti, 1999; Vigoya, 2001; Beattie, 2002). Sem negar a dominação dos homens, Kaufman aponta que os homens são marcados e brutalizados pelo mesmo sistema que os dá seus privilégios e poder: A vida de trabalho cotidiana de sociedades de classe industrializadas é de violência. Violência se disfarça de racionalidade econômica; enquanto alguns de nós somos feitos extensões de máquinas, outros são feitos cérebros separados de corpos… é a violência que expõe trabalhadores aos perigos de substâncias químicas, radiação, máquinas, ritmos acelerados, e distensão muscular. Para Kaufman (1987) é a violência que condena a maioria a trabalhar até a exaustão durante 40 ou 50 anos até ser jogada na lata de lixo como velho e gasto. (apud. Giffin, 2005, p. 51). O referido autor ainda argumenta que a “tríade de violência” – de um homem contra mulheres, contra outros homens, e contra si mesmo – reflete a violência cotidiana de uma sociedade de classes hierárquica, autoritária, sexista, classista, militarista, racista, impessoal e louca canalizada através de um homem individual (apud. Giffin, 2005, p. 51). Os homens dominam coletiva e individualmente as mulheres. Esta dominação se exerce na esfera privada ou pública e atribui aos homens privilégios materiais, culturais e simbólicos (Welzer-Lang, 2001, p. 361). Uma vertente dos estudos feministas atuais tende, aliás, a quantificar estes privilégios e a mostrar concretamente os efeitos da dominação masculina. A política atual, que, em nossa sociedade, visa a diminuir as “desigualdades”, não deve nos deixar esquecer que elas perduram, sob pena de tomarmos nossos sonhos por realidade e não compreendermos mais nada (Welzer-Lang, 2001, p. 361). É evidente que o modo como os homens constroem e vivenciam as suas masculinidades está relacionado aos seus modos particulares de adoecer e morrer. No entanto, este modo de construir e vivenciar a masculinidade é múltiplo e variável, bem como suas mediações com o processo saúde - doença (Villela, 2005, p. 32). Connell (1995), por exemplo, sugere que pensemos as masculinidades em função dos jogos de poder que se estabelecem entre os homens em função de determinantes sociais intragênero, como classe social e etnia, por exemplo. Seguindo esta perspectiva, Batista (2000) tem mostrado diferenciais de mortalidade entre homens brancos e negros, quando se consideram algumas causas, como Aids, doenças mentais (incluindo o alcoolismo), homicídios e outras, 25 aventando a hipótese de que a facilidade maior com que homens negros e jovens, pobres e de baixa escolaridade, se envolvem em episódios de violência, ou abusam do álcool, poderia estar relacionada a uma tentativa imaginária de compensar a sua dificuldade em cumprir alguns dos ditames da masculinidade – poder, provimento – através da exacerbação de outros, como a força, a resistência e a coragem (apud. Villela, 2005, p. 31). Há ainda que se ressalvar a necessidade de um melhor entendimento das relações entre masculinidade(s) e machismo. A princípio, o machismo seria uma atitude particular que homens e mulheres podem ter em relação a homens e mulheres, estando à masculinidade relacionada aos modelos de constituição de identidade dos homens (apud. Knauth, 2005, p.31). Embora existam conexões entre o machismo e a(s) masculinidade(s), o comportamento machista não decorre necessariamente da masculinidade, embora seja uma das possibilidades de vivência do masculino. Esta é uma demarcação importante a fazer, pois algumas vezes o machismo pode também ser um comportamento reativo à percepção de fragilidade ou insuficiência de cumprimento dos ideais de masculinidade (apud. Knauth, 2005, p.31). E, em muitos dos agravos à saúde hoje identificados com os homens, em especial a violência doméstica e sexual, há que se reconhecer mais os traços do machismo do que, exatamente, da masculinidade (apud. Knauth, 2005, p.31). Cavalcante cita o conceito de masculinidade vigente na sociedade, no qual o homem se julga imune às doenças, consideradas por ele sinais de fragilidade. O homem como provedor, não pode deixar de trabalhar para ir a um consultório. “Eles não reconhecem a doença como algo inerente à condição do homem, por isso acham que os serviços de saúde são destinados às mulheres, crianças e idosos”, explica o médico. Além disso, outra dificuldade é que eles não acreditam em profilaxia, o que prejudica o trabalho em prevenção (Brasil, 2008). Dentre as doenças que mais matam o homem, até os 40 anos, estão as causas externas (violência e agressões), depois dos 40 anos, em primeiro lugar estão as doenças do coração e as neoplasias em segundo, principalmente do aparelho respiratório e da próstata. Por isso a importância de criar uma área específica para a saúde do homem (Brasil, 2008). 26 Uma das soluções apontadas para facilitar o atendimento ao público masculino é a criação de centros de Check up para homens, com um custo mínimo, pois eles teriam apenas uma esteira, um aparelho de eletrocardiograma, um cardiologista e um urologista. “Com esses centros cerca de 80% das cardiopatias podem ser prevenidas”, garante Cavalcante. Nesses locais também será possível fazer a prevenção do câncer de próstata, da mesma forma que a mulher faz o exame preventivo de câncer do colo uterino (Brasil, 2008). O governo federal lançou em 2008 o Programa Mais Saúde: Direito de Todos, com metas para melhorar a gestão, reduzir filas em hospitais, criar uma rede de proteção à família, crianças, homens e idosos. O programa prevê investimentos de R$ 88,6 bilhões (R$ 64,6 bilhões do Plano Plurianual e R$ 24 bilhões da CPMF/Emenda 29), ao longo dos próximos quatro anos (2008-2011). A estratégia adotada neste programa articula o aprofundamento da Reforma Sanitária brasileira com um novo padrão de desenvolvimento comprometido com o crescimento, o bemestar e a eqüidade. A melhoria das condições de saúde do cidadão brasileiro constitui o grande objetivo estratégico. O conjunto de medidas e ações concretas volta-se para a melhoria da qualidade de vida da população, contribuindo para que o SUS seja definitivamente percebido como um patrimônio da sociedade brasileira. (Brasil, 2008) A prevenção e a atenção vão começar nas escolas. Um total de 26 milhões de crianças será acompanhado por equipes da Saúde da Família e terão, no mínimo, duas consultas por ano. Pela primeira vez, fora criada uma política específica voltada para a saúde dos homens, com ampliação de exames e consultas médicas. As equipes de Saúde da Família passarão a cobrir 130 milhões de brasileiros, contra os 90 milhões de hoje (Brasil, 2008). 4.4 Gênero e saúde Em geral, os homens morrem mais precocemente do que as mulheres. Estudos sobre diferenças de gênero na saúde em sociedades industrializadas apontam que, embora vivam mais do que os homens, as mulheres relatam mais 27 morbidade e problemas psicológicos e utilizam mais serviços de saúde. Esta aparente contradição reduz-se quando se levam em consideração diferenças no padrão de doenças, em diferentes faixas etárias. A presença de fatores de risco associados aos problemas de saúde varia segundo sexo (Macintyre, 1996 e 1999; Bird & Rieker, 1999). Para alguns autores, as diferenças de gênero no risco de adoecer seriam decorrentes de fatores genéticos ou hormonais (Verbrugge, 1989). A dimensão biológica também é geralmente evocada para explicar o excesso de mortalidade entre os homens (Macintyre, 1999). Segundo Verbrugge & Wingard (1987), o padrão de morbidade com maior prevalência de problemas de saúde de elevada letalidade poderia explicar o excesso de mortalidade entre os homens. Uma outra dimensão citada na explicação de diferenças na saúde entre homens e mulheres refere-se aos aspectos psicológicos associados à forma como as pessoas percebem os sintomas, avaliam a gravidade da doença e decidem o que fazer com respeito à saúde (Verbrugge, 1989). Nos inquéritos de saúde de base populacional, é comum o emprego de indicadores de morbidade referida, uma vez que a informação diagnóstica é difícil de ser coletada, requer padronização rigorosa e apresenta maior custo. Vários indicadores têm sido utilizados para medir as necessidades de saúde a partir de informações fornecidas (referidas) pelos próprios entrevistados ou por outros moradores do domicílio (apud. Pinheiro, 2002, p.688). Os coeficientes de mortalidade masculina são cerca de 50% maiores, e considerando as idades, a maior razão de sexo acontece no grupo etário de 20 a 39 anos (três mortes masculinas para cada feminina). (Laurentin, Mello Jorge & Gotlieb, 2005:35). Especificamente em relação aos óbitos masculinos, há diferenças acentuadas de acordo com a raça/cor. Segundo dados do MS (2005), em óbitos de homens brancos, negros, amarelos e nos que não dispunha de informações sobre a cor, a primeira causa de morte foram às doenças do aparelho circulatório, enquanto nos óbitos de homens pardos as causas externas (homicídios e acidentes de transportes) aparecem em primeiro e, nos homens indígenas, encontram-se as causas mal definidas. A segunda causa de morte, para brancos e amarelos, foram 28 às neoplasias e, para pretos e indígenas, as causas externas (apud. Romeu, 2008, p. 42). Diante de tal quadro, surge a pergunta: como explicar a mortalidade masculina por essas causas? A reflexão de Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2005 p. 39) nos ajuda a pensar em uma resposta para essa questão: A observação da mortalidade masculina leva a comentar que é difícil interpretá-la justificando-a como devida ao sexo (variável biológica), parecendo muito mais pertinente ser atribuída a fatores sociais e comportamentais (variável de gênero). Isso fica claro não somente para as causas externas, mas também para várias causas naturais: câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica, cirrose, entre outras. 4.5 Escolaridade O Direito à Educação é um direito humano fundamental e ocupa um lugar central nos Direitos Humanos e é essencial e indispensável para o exercício de todos os outros direitos humanos e para o desenvolvimento. "Como um direito de empoderamento, a educação é o veículo principal pelo qual, adultos e crianças marginalizadas economicamente e socialmente podem se livrar da pobreza e obter meios para participar integralmente de suas comunidades". Nenhum dos direitos civis, políticos, econômicos e sociais podem ser praticados por indivíduos a não ser que tenham recebido o mínimo de educação. Mas apesar de todos os compromissos feitos pelos Governos por meio de instrumentos internacionais em prover educação para todos, especialmente educação básica pública e de qualidade, milhões de crianças ainda permanecem privadas de oportunidades educacionais, muitas delas devido à pobreza. Atingir o direito à educação básica para todos é, portanto um dos maiores desafios de nossa época. (UNESCO, 2009) O diferencial homem-mulher no sistema formal de ensino brasileiro não é intenso, atinge de modo diferente as diferentes idades da vida e etapas escolares, e transparece mais na progressão das trajetórias escolares do que em barreiras específicas de acesso (Rosemberg, 2001, p. 521). 29 Porém, o modelo linear de dominação de gênero (“os indicadores sociais das mulheres são sempre inferiores aos dos homens”) obscurece esse triunfalismo e, ao final do tópico, o mesmo documento arremata: “Em outras palavras, o acesso das mulheres à educação e sua crescente inserção no mercado de trabalho tem-se feito pelos parâmetros estabelecidos da desigualdade de gênero”. Sem explicar o que se entende e como se analisa essa desigualdade de gênero, fica difícil conciliar ambas as partes do enunciado (Rosemberg, 2001, p. 527). Explicações e propostas produzidas pelo Banco Mundial aproximam-se do que Reed denominou de "paradigmas populares para explicar o fracasso escolar de meninos" na Inglaterra. A autora destaca o caráter apolítico e associal de tais interpretações, além do privilegiamento de modelos da masculinidade hegemônica. Nota-se, também, a incorporação de modelo teórico apoiado em "papéis sexuais", atribuindo, indiretamente, à socialização familiar e aos (as) professores(as) o insucesso escolar de meninos e rapazes. (Rosemberg, 2001, p. 531). 4.6 Sexualidade A relação entre algumas marcas de gênero e certos agravos à saúde aparece, por exemplo, na reflexão sobre o exercício da sexualidade masculina. Isso porque a disseminação do HIV entre mulheres e, posteriormente, entre homens que se identificavam como heterossexuais, ilustrou de modo dramático uma das conseqüências da norma socialmente imposta aos homens e aceita pela sociedade em geral, da prática sexual intensa, múltipla e variada, como atestado de “virilidade” (Villela, 2005, p. 30). Segundo, Heilborn, a iniciação sexual dos garotos serve também como modo de expressão do processo de tornar-se homem, de consolidação da masculinidade, o que só pode ser alcançado entre os pares. Portanto, “ter a primeira experiência sexual não é garantia automática de um novo status. É necessário o reconhecimento dos pares, que confere legitimidade à passagem” (apud. Borges, 2007, p. 231). Os trabalhos de Christophe Dejours (1998) e Pascale Molinier (1997) mostram como a virilidade, além dos benefícios (privilégios) que ela traz aos 30 homens, é também uma estratégia de resistência para lutar contra: o medo, o nojo que inspira o “trabalho sujo” (dos operários da construção civil ou dos empresários encarregados de demitir, por exemplo), e também como a virilidade só pode ser vivida transversalmente em relação às esferas públicas e privadas (apud. WelzerLang, 2001, p. 465). Por sua vez, a literatura tem mostrado que o início da vida sexual de homens ocorre basicamente por volta dos 15 anos de idade, mediante diversos processos de organização e decisão quanto à vida sexual, advindos de diferentes concepções do significado e importância da iniciação sexual presentes no grupo em que ocorrem as relações sociais. Por exemplo, toma-se o estudo de Bozon & Heilborn, que observaram, em homens entre 25 e 40 anos de idade de diferentes grupos sociais do Rio de Janeiro (1994 e 1995) e Paris (1993 e 1995), que “a primeira relação tem um caráter de prova, de experiência aventureira e arriscada” (apud. Borges, 2007 p. 226). A epidemia de Aids também explicitou que estas múltiplas parcerias podiam se dar com corpos masculinos ou femininos, independente de o homem se identificar como “homem” e heterossexual, o que ressalta a complexa relação que existe entre as idéias de “homens”, “masculinidades” e as práticas sexuais (Villela, 2005, p. 30). Complexidade que serve, dentre outras coisas, para alertar o profissional de saúde que a investigação sobre a forma de obter prazer sexual deve constar das anamneses clínicas, independente do modo como à pessoa se identifica ou do que a sua performance corporal sugere (Villela, 2005, p. 30). De fato, como Parker (1989) já havia demonstrado na cultura brasileira masculinidade e feminilidade, do ponto de vista sexual, têm mais a ver com a posição assumida no ato – ativo/passivo, penetrante/penetrado, do que exatamente com os corpos em atuação, o que faria com que homens se sentissem mais “homens” quanto mais corpos conseguisse penetrar, sejam corpos de homens ou de mulheres. Ao mesmo tempo, é sabido, especialmente pelo relato de profissionais do sexo, sejam mulheres ou travestis, que muitos homens gostam de serem penetrados sem que isso os faça sentirem-se gays, desde que a penetração seja feita por alguém identificado como “mulher”. Ou seja, em contraste com os dados da pesquisa de Parker, estes relatos sugerem que, para alguns homens, o que conta 31 para afirmação de sua identidade heterossexual é a aparência do objeto, mais do que a prática sexual propriamente dita (apud. Villela, 2005, p. 30). Isto nos faz pensar que o atributo de “atividade” como privilégio da sexualidade masculina, teria tanto a ver com prática quanto com a atitude em relação ao sexo, ativamente usufruído por meio de compra ou sedução. Para além da epidemia de Aids, a crescente visibilidade de gays, lésbicas, transexuais e travestis têm trazido demandas específicas de saúde aos sistemas e serviços (Villela, 2005, p. 30). Estas demandas não apenas ajudam a aprofundar as diretrizes do SUS de universalidade e eqüidade, como também estimulam a crítica ao caráter binário que se atribui ao gênero. Isso reforça a proposição de que gênero e sexualidade se constituem em esferas distintas da experiência humana, e que sua conexão se dá de modo diverso, quer se trate de homens ou de mulheres, em função do papel que cada um exerce na reprodução (Villela, 2005, p. 30). 4.7 Acesso O conceito de acesso aos serviços de saúde é complexo e está relacionado à percepção das necessidades de saúde e da conversão destas necessidades em demanda e destas em uso (apud. Ojanuga & Gilbert, 1992; Puentes-Markides, 1992). Fatores ligados à oferta podem facilitar ou reprimir o acesso. Ter um serviço ao qual o indivíduo recorre regularmente quando necessita de cuidados de saúde mostra-se associado ao uso e pode ser considerado um indicador de acesso (Marcus & Siegel, 1982; Puentes-Markides, 1992; NCHS, 1996). Segundo Borges (2007), a participação intensa de homens jovens encontrase praticamente à margem de uma atenção adequada no âmbito do SUS. De um modo geral, verifica-se que as ações realizadas no nível da atenção básica voltamse à distribuição esporádica de preservativos masculinos por UBS, podendo-se afirmar que tal abordagem não considera, com propriedade, as questões que envolvem sua saúde sexual e reprodutiva. 32 Dessa forma, faz-se necessário que a assistência à saúde dos homens jovens tenha como princípio atores com necessidades de saúde, sexualidade e reprodução a serem consideradas, tanto na suas relações com o outro, como em sua especificidade, conforme sugeriu Figueroa-Perea. Coincidentemente à escassa presença dos homens jovens, principalmente os adolescentes como foco das ações de atenção à saúde reprodutiva e sexual, observa-se que os estudos com referência a tal grupo têm procurado conhecer e descrever práticas sexuais e comportamentais que possam agregar riscos de infecção ou transmissão do HIV. 4.8 Acesso aos serviços Em estudo realizado nos EUA, Verbrugge (1989) também verificou que as mulheres utilizavam com maior regularidade um mesmo serviço de saúde, quando comparadas com os homens. A cobertura por plano de saúde e a possibilidade de utilização de recursos próprios são fatores relacionados a diferenças no uso de serviços de saúde. A literatura americana considera que a cobertura por planos e seguros de saúde é menor entre as mulheres. Segundo a PNAD/98, 23,5% das mulheres e 18,2% dos homens autoavaliaram seu estado de saúde como deficiente (agregação de regular, ruim ou muito ruim), sendo que as mulheres têm uma avaliação mais negativa do que os homens. Até os 14 anos, evidencia-se uma melhora da auto-avaliação do estado de saúde, que piora progressivamente com a idade, em ambos os sexos, atingindo valores na faixa dos 50% a 60% para os indivíduos com mais de 50 anos. Os meninos até 9 anos de idade apresentam pior estado de saúde do que as meninas, mas não há diferença de gênero nas idades de 10 a 14 anos. A partir dos 15 anos de idade, a condição de saúde auto-avaliada é pior entre as mulheres. Os diferenciais de gênero aumentam com a idade até a faixa etária 5064 anos e decrescem na última faixa etária. No estrato rural, homens e mulheres 33 referem pior condição de saúde 20,6% e 25,9%, respectivamente do que os indivíduos com domicílio em área urbana 17,5% e 22,9%, respectivamente. Em geral, não se observa diferença importante entre os sexos nas crianças residentes em áreas rurais, mas na área urbana os meninos com menos de 5 anos apresentam pior avaliação do estado de saúde. As diferenças entre homens e mulheres são praticamente iguais nos dois estratos, exceto dos 24 aos 49 anos, em que são desfavoráveis aos homens da região urbana. 4.9 Barreiras de acesso Pode-se dizer que as desigualdades no uso de serviços de saúde refletem não apenas as desigualdades individuais no risco de adoecer e morrer, mas, também, as diferenças no comportamento do indivíduo perante a doença e as características da oferta de serviços que cada sociedade disponibiliza para seus membros (apud. Travassos, 2002, p. 366). No Brasil, o acesso aos serviços de saúde públicos e privados, contratados pelo governo, é universal e garantido pela constituição federal de 1988. Entretanto, atualmente, 25% da população já são cobertos por seguro privado de saúde (apud. Travassos, 2002, p. 366). Diversas mudanças vêm sendo implantadas na política de assistência à saúde no Brasil ao longo dos últimos 10 anos, que incluem: a) mudança de orientação do arcabouço institucional no sentido da descentralização; b) deslocamento da atenção hospitalar para a esfera ambulatorial; c) regulamentação do setor de seguros privados; e d) desenvolvimento de programas de atenção básica (apud. Travassos, 2002, p. 366). 34 Nesse contexto, torna-se importante oferecer subsídios para a formulação de políticas voltadas para a redução das desigualdades na utilização de serviços de saúde (apud. Travassos, 2002, p. 366). 4.10 Diferenças entre homens e mulheres no uso dos serviços de saúde O uso regular de um mesmo serviço de saúde pode ser interpretado como ter uma “porta de entrada” ao sistema de saúde. As mulheres referem com mais freqüência do que os homens ter um serviço de saúde que utilizam regularmente 73,6% e 68,7%, respectivamente (apud. Pinheiro, p.697). Essa prática é mais comum entre as crianças e idosos, decresce com a idade até a pré-adolescência (mulheres) ou adolescência e adultos jovens (homens), tornando a se elevar a partir de então. As diferenças de gênero são da ordem de 5 pontos percentuais, favoráveis às mulheres. O percentual de pessoas que referem uso de serviço regular é cerca de 10% maior na região urbana para os dois sexos (apud. Pinheiro, p.697). Os diferenciais encontrados têm sido em parte atribuídos à exposição diferenciada a fatores de risco, especialmente no trabalho, como decorrência do lugar social de homens e mulheres. Além disso, diferenças de gênero na construção da experiência de adoecimento - tanto na percepção, quanto no relato diferenciado entre os sexos - também contribuiriam para a existência desses diferenciais de morbidade e de utilização de serviços de saúde (apud. Aquino, 1992, p. 196). Existem também marcadas diferenças de gênero quanto ao motivo da procura de serviços de saúde, mesmo quando excluídos os partos e os atendimentos de prénatal. As mulheres buscam mais serviços para realização de exames de rotina e prevenção (40,3% mulheres e 28,4% homens), enquanto os homens procuram serviços de saúde dominantemente por motivo de doença (36,3% homens e 33,4% mulheres). Dentre os homens, destaca-se maior proporção de procura motivada por problemas odontológicos e acidente ou lesão (apud. Pinheiro, p.697). O uso de serviços de saúde por homens e mulheres depende do poder aquisitivo das famílias e das características sociais do próprio indivíduo, definindo um perfil de desigualdades sociais (apud. Travassos, 2002, p. 365). 35 No Brasil, embora em quase todos os trabalhos da área de saúde os indivíduos estudados sejam categorizados quanto ao sexo, às diferenças encontradas tendem a ser naturalizadas e tratadas tão somente em sua dimensão biológica (apud. Aquino, 1992, p. 196). O serviço de saúde mais procurado por ambos os sexos foi o posto ou centro de saúde, seguido do consultório particular e do hospital, mas apenas no hospital a freqüência é um pouco maior para os homens (apud. Pinheiro, p.698). A procura do pronto-socorro, farmácia e ambulatório de sindicato prevalecem entre os homens, enquanto os ambulatórios especializados (ambulatório de clínica) são mais procurados pelas mulheres. Nas áreas urbanas, a ida ao consultório privado é um pouco maior do que ao posto ou centro de saúde em ambos os sexos (apud. Pinheiro, p.698). A sobreutilização feminina de serviços de saúde, sejam estes ambulatoriais ou hospitalares, também é constante na literatura. E enquanto a demanda masculina por serviços ambulatoriais é descrita, em sua maior parte, como gerada pelo trabalho ou pelo seguro social, a demanda feminina apresenta-se como essencialmente voluntária, revelando uma maior propensão das mulheres a buscarem cuidados de saúde de modo espontâneo (apud. Aquino, p. 196). Por outro lado, na área rural, o hospital é mais procurado do que os consultórios privados em ambos os sexos, mas os homens recorrem mais a consultórios privados e farmácia do que as mulheres, e estas procuram mais consultórios especializados (ambulatório de clínica) do que os homens. Vale destacar também que no meio rural há baixa prevalência de busca a ambulatórios especializados (apud. Pinheiro, p.698). Segundo Smith (2007), tais investimentos poderão contribuir para que se desenvolva ações de promoção da saúde voltadas para grupos específicos de homens, incluindo os que são marginalizados e se encontram em desvantagem por conta do predomínio de identidades masculinas estereotipadas (apud. Gomes, 2008, p.51). 36 4.11 Política Nacional Integral à Saúde do Homem Vários estudos comparativos entre homens e mulheres têm comprovado o fato de que os homens são mais vulneráveis às doenças, sobretudo às enfermidades graves e crônicas, e que morrem mais precocemente que as mulheres (apud. Nardi et all, 2007; Courtenay, 2007; IDB, 2006 Laurenti et all, 2005; Luck et all, 2000). A despeito da maior vulnerabilidade e das altas taxas de morbimortalidade, os homens não buscam, como o fazem as mulheres, os serviços de atenção primária (Figueiredo, 2005; Pinheiro et all, 2002), adentrando o sistema de saúde pela atenção ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade, o que tem como conseqüência agravo da morbidade pelo retardamento na atenção e maior custo para o sistema de saúde. Grande parte da fundamentação da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem se estabeleceu mediante um recorte estratégico da população de homens, focando homens adultos. Considerando que meninos e idosos são levados aos serviços de saúde, o recorte etário de homens na faixa de 25 a 59 anos, apesar de não configurar restrição da população alvo da política, foi uma estratégia metodológica necessária para a consideração da problemática a ser enfrentada na atenção especializada. Este grupo etário corresponde a 41,3 % da população masculina ou a 20% do total da população do Brasil. Ele corresponde a parcela preponderante da força produtiva, e além do mais exerce um significativo papel sociocultural e político. 4.11.1 Princípios A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem objetiva orientar as ações e serviços de saúde para a população masculina, com integralidade e equidade, primando pela humanização da atenção. A presente política enfatiza a necessidade de mudanças de paradigmas no que concerne à percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde de sua 37 família. Considera essencial que, além dos aspectos educacionais, entre outras ações, os serviços públicos de saúde sejam organizados de modo a acolher e fazer com que o homem sinta-se parte integrante deles. A implementação da política deverá ocorrer de forma integrada às demais políticas existentes, numa lógica hierarquizada de atenção à saúde, priorizando a atenção primária como porta de entrada de um sistema de saúde universal, integral e equânime. Essa política tem como princípios a humanização e a qualidade, que implicam na promoção, reconhecimento e respeito à ética e aos direitos do homem, obedecendo às suas peculiaridades sócio-culturais. Para cumprir esses princípios de humanização e da qualidade da atenção integral devem-se considerar os seguintes elementos: 1. Acesso da população masculina aos serviços de saúde hierarquizados nos diferentes níveis de atenção e organizados em rede, possibilitando melhoria do grau de resolutividade dos problemas e acompanhamento do usuário pela equipe de saúde; 2. Associar as diversas áreas do setor sanitário, demais áreas do governo, o setor privado e não-governamental, e a sociedade, compondo redes de compromisso e co-responsabilidade quanto à qualidade de vida da população masculina em que todos sejam participantes da proteção e do cuidado com a vida. 3. Informações e orientação à população-alvo, aos familiares e a comunidade sobre a promoção, prevenção e tratamento dos agravos e das enfermidades do homem; 4. Captação precoce da população masculina nas atividades de prevenção primaria relativa às doenças cardiovasculares e cânceres, entre outros agravos recorrentes; 5. Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o atendimento do homem; 6. Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais educativos; Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e avaliação continuada dos serviços e do desempenho dos profissionais de saúde, com participação dos usuários; 38 7. Elaboração e análise dos indicadores que permitam aos gestores monitor as ações e serviços e avaliar seu impacto, redefinindo as estratégias e/ou atividades que se fizerem necessárias. 4.11.2 Diretrizes Como formulações que indicam as linhas de ação a serem seguidas pelo setor saúde, as seguintes diretrizes devem reger a elaboração dos planos, programas, projetos e atividades. Elas foram elaboradas tendo em vista a integralidade, factibilidade, coerência e viabilidade, sendo norteadas pela humanização e a qualidade da assistência, princípios que devem permear todas as ações. A integralidade pode ser compreendida a partir de uma dupla perspectiva. Primeiramente, prevê o trânsito do usuário por todos os níveis da atenção, na perspectiva de uma linha de cuidado que estabeleça uma dinâmica de referência e de contra-referência entre a atenção primária e as de média e alta complexidade, assegurando a continuidade no processo de atenção e cuidado. Por outro lado, supõe que a compreensão sobre os agravos considere a complexidade dos modos de vida e situação social do indivíduo, a fim de promover intervenções sistêmicas que abranjam inclusive as determinações sociais sobre a saúde e a doença, para além da adoção de medidas médicobiológicas. Em relação à factibilidade foram consideradas a disponibilidade de recursos, tecnologia, insumos técnico-científicos e estrutura administrativa e gerencial de modo a permitir, na prática, em todo o país, a implantação das ações delas decorrentes. No que tange a coerência, as diretrizes que serão propostas estão baseadas nos princípios anteriormente enunciados, estando compatível com os princípios do SUS. A viabilidade da implementação desta Política estará diretamente relacionada aos três níveis de gestão e do controle social, a quem se condiciona o comprometimento e a possibilidade da execução das diretrizes. 39 Entender a Saúde do Homem como um conjunto de ações de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde, executado nos diferentes níveis de atenção. Deve-se priorizar a atenção básica, com foco na Estratégia de Saúde da Família, porta de entrada do sistema de saúde integral, hierarquizado e regionalizado; • Reforçar a responsabilidade dos três níveis de gestão e do controle social, de acordo com as competências de cada um, garantindo condições para a execução da presente política; • Nortear a prática de saúde pela humanização e a qualidade da assistência a ser prestada, princípios que devem permear todas as ações; • Integrar a execução da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem às demais políticas, programas, estratégias e ações do Ministério da Saúde; • Promover a articulação interinstitucional, em especial com o setor Educação, como promotor de novas formas de pensar e agir; • Reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços de saúde reconheçam os homens como sujeitos que necessitem de cuidados; • Integrar as entidades da sociedade organizada na co-responsabilidade das ações governamentais pela convicção de que a saúde não é só um dever do Estado, mas uma prerrogativa da cidadania; • Incluir na Educação Permanente dos trabalhadores do SUS temas ligados a Atenção Integral à Saúde do Homem; • Aperfeiçoar os sistemas de informações de maneira a possibilitar um melhor monitoramento que permita ser tomadas racionais de decisão; • Realizar estudos e pesquisas que contribuam para a melhoria das ações da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; 40 4.11.3 Responsabilidades institucionais As responsabilidades institucionais estão definidas de acordo com as diretrizes emanadas do Pacto pela Saúde 2006, respeitando-se a autonomia e as competências das três esferas de governo. 1. União - Fomentar a implementação e acompanhar a implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; - Estimular e prestar cooperação aos Estados e Municípios visando a implantação e implementação da referida política, valorizando e respeitando as diversidades loco-regionais; - Promover, no âmbito de sua competência, a articulação intersetorial e interinstitucional necessária à implementação da referida política; - Estimular e apoiar a realização de pesquisas que possam aprimorar a Atenção Integral à Saúde do Homem; - Propor, em parceria com a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (SGTES), estratégias de educação permanente dos trabalhadores do SUS, voltada para a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; - Estabelecer parceria com as diversas Sociedades Brasileiras Científicas cujas atividades tenham afinidade com as ações propostas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; - Coordenar o processo de construção das Diretrizes Nacionais da Atenção à Saúde do Homem e de protocolos terapêuticos/clínicos, em parceria com os Estados e Municípios, apoiando-os na implementação dos mesmos; - Promover, junto à população, ações de informação, educação e comunicação em saúde visando difundir a política ora proposta; - Estimular e apoiar o processo de discussão com participação de todos os setores da sociedade, com foco no controle social, nas questões pertinentes à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. 41 2. Estados - Definir, coordenar, acompanhar e avaliar, no âmbito do seu território, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, promovendo as adequações necessárias, tendo como base as diretrizes ora propostas, o perfil epidemiológico e as especificidades loco - regionais; - Coordenar e implementar, no âmbito estadual, as estratégias nacionais de educação permanente dos trabalhadores do SUS voltada para a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, respeitando-se as especificidades locoregionais; - Implantar mecanismos de regulação das atividades relativas à política proposta; - Estabelecer parceria com as diversas organizações cujas atividades tenham afinidade com as ações propostas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; - Promover, na esfera de suas competências, a articulação intersetorial e interinstitucional necessária à implementação da referida política; - Elaborar e pactuar, no âmbito estadual, protocolos clínicos/terapêuticos, em consonância com as diretrizes nacionais da atenção, apoiando os municípios na implementação dos mesmos; - Promover, junto à população, ações de informação, educação e comunicação em saúde visando difundir a política ora proposta; - Estimular e apoiar o processo de discussão com participação de todos os setores da sociedade, com foco no controle social, nas questões pertinentes à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; - Incentivar junto à rede educacional estadual, ações educativas que visem à promoção e atenção à saúde do homem. 42 3. Municípios - Coordenar, implementar, acompanhar e avaliar no âmbito do seu território, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, priorizando a atenção básica, com foco na Estratégia de Saúde da Família, como porta de entrada do sistema de saúde integral e hierarquizado; - Implantar mecanismos de regulação das atividades relativas à política proposta; - Promover, no âmbito de suas competências, a articulação intersetorial e interinstitucional necessária à implementação da referida política; - Incentivar junto à rede educacional municipal, ações educativas que visem à promoção e atenção da saúde do homem; - Implantar e implementar protocolos clínicos/terapêuticos, em consonância com as diretrizes nacionais e estaduais; - Promover, em parceria com as demais esferas de governo, a qualificação das equipes de saúde para execução das ações propostas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem; - Promover, junto à população, ações de informação, educação e comunicação em saúde visando difundir a política ora proposta; - Estimular e apoiar o processo de discussão com participação de todos os setores da sociedade, com foco no controle social, nas questões pertinentes à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. 4.11.4 Avaliação O processo de avaliação da implantação e implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem deverá ocorrer de acordo com as pactuações realizadas em âmbito federal, estadual e municipal, com destaque para o monitoramento dos indicadores do Pacto pela Vida. A avaliação tem como finalidade essencial atender o cumprimento dos princípios e diretrizes dessa política, buscando verificar sua efetividade. Em outras 43 palavras, significa verificar o seu resultado sobre a saúde dos indivíduos e, conseqüentemente, sobre a qualidade de vida da população masculina. Uma avaliação mais detalhada da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem deverá ocorrer no âmbito dos planos, programas, projetos e atividades dela decorrentes. Para essa avaliação de processo há de se definir critérios, parâmetros, indicadores e metodologia específicos, sendo através desta avaliação que será possível identificar, modificar e/ou incorporar novas diretrizes. Além dessas avaliações de resultado e processo, não se pode deixar de avaliar a contribuição dessa política para concretização dos princípios e diretrizes do SUS, especialmente na conformidade do que estabelece a lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080/90). 44 5 METODOLOGIA Este estudo é classificado como uma pesquisa empírica segundo as definições de Demo (2000). A pesquisa empírica segundo este autor é aquela dedicada ao tratamento da "face empírica e factual da realidade, que produz e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e factual" (Demo, 2000, p. 21). A valorização desse tipo de pesquisa é pela "possibilidade que oferece de maior concretude às argumentações, por mais tênue que possa ser a base factual. O significado dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas estes dados agregam impacto pertinente, sobretudo, no sentido de facilitarem a aproximação prática" (Demo, 1994, p. 37). Assim podemos entender que a pesquisa empírica é a coleta de dados a partir de fontes diretas (pessoas) que conhecem, vivenciam ou tem conhecimento sobre o tema, fato ou situação e que, podem causar diferenciação na abordagem e entendimento dos mesmos, conduzindo a uma mudança, acréscimo ou alteração profunda, relevante que não distorça, agrida ou altere o conteúdo principal, mas sim que o enriqueça e transforme em conhecimento de fácil apreensão e apropriação.. As variáveis deste estudo foram: 1) Perfil socioeconômico cultural: O aspecto socioeconômico é de fundamental importância, pois é através deste que se pode observar que perfil de homens seria entrevistado nesta pesquisa. Isto influi significantemente a expressão estilo de vida, cada vez mais utilizada, e o estilo do homem, sob várias óticas. Para Cavalcanti (2008), enfrentar esses aspectos para provocar a mudança de comportamento é o grande desafio da política de saúde do homem. “Será preciso desaprender e reaprender o aspecto cultural. O homem deixou de ser o machão do passado e a sociedade está reformulando o conceito de masculinidade, para isso precisaremos da ajuda da mídia”. 45 2) Acesso aos Serviços de Saúde: através desta variável venho especificar quais seriam as principais dificuldades de acesso aos serviços de saúde, possíveis barreiras que poderiam atrapalhar o homem a utilizar os serviços de forma preventiva contra os agravos que estão expostos no seu dia-a-dia. 3) Condições de saúde: com relação às condições de saúde foi incluída na entrevista a presença de doenças crônicas como, por exemplo: hipertensão arterial, diabetes melitos, dislipidemia, derrame, doença renal, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), doença do coração e câncer com o intuito de avaliar como se encontra o estado de saúde dos homens que buscavam atendimento no prontosocorro do Hospital Regional da Ceilândia. Além disso, é importante ressaltar a freqüência que realizam exames de rotina anualmente (check-up), atividade física, alimentos consumidos , impedimentos ao acesso de serviços de saúde, imunidade às doenças sinais de fragilidade e a necessidade de atendimento médico. 4) Prevenção de câncer de próstata: nesta variável é possível indagar juntos aos homens quanto ao acesso dos serviços de saúde na procura de especialidades médicas, especialmente, urologista na prevenção de câncer de próstata não descartando o check-up que no todo é imprescindível à saúde do homem. 5) Vacinação: a população de homens entre 20 e 39 anos que reside no Distrito Federal é composta por 449.578. A campanha de vacinação contra a rubéola atingiu 428.507 homens, ou seja, 95,31% aderiram à vacina contra o vírus da rubéola que é transmitida por via respiratória (Brasil, 2009). Esta percentagem foi mais elevada do que a média nacional 93,75%. A rubéola é geralmente benigna, mas quando transmitido o vírus da doença nas mulheres gestantes causam complicações graves ao embrião em formação. A campanha teve como alvo a vacinação em homens na faixa etária entre 20 e 39 anos. O homem é assintomático a esta patologia, mas podem transmitir para as mulheres. A vacina é composta por vírus vivos atenuados, cultivados em células de rim de coelho ou em células diplóides humanas. Pode ser produzida na forma monovalente, associada com sarampo (dupla viral) ou com sarampo e caxumba (tríplice viral). A vacina se apresenta de forma liofilizada, devendo ser reconstituída para o uso. A vacina é utilizada em dose única de 0,5 mL via subcutânea. 46 6) Uso de serviços de saúde: Quanto à distribuição segundo causas, a razão entre hospitalizações masculinas e femininas está balanceada, com exceção das internações por lesões e envenenamentos (2,32:1) e transtornos mentais e comportamentais (1,90:1). A menor proporção de internações masculinas diante das femininas ocorre entre as relativas a doenças do aparelho geniturinário (razão igual a 0,44:1) e a neoplasias (0,64:1). Analisando, no sexo masculino, as principais causas que levam à internação, aparecem em primeiro lugar doenças do aparelho respiratório (21,1%), em segundo lugar, com proporções semelhantes, doenças do aparelho circulatório, infecciosas, aparelho digestivo e lesões. Além disso, é importante mencionar o atendimento nos serviços realizado pelos profissionais de saúde quanto à postura durante o atendimento, o motivo que levou os homens a escolherem o pronto-socorro, prevenção de agravos e o tempo de espera. 7) Qualidade de vida: é importante ressaltar que o meio ambiente influencia muito nos hábitos diários das pessoas. Por isso, a busca de uma alimentação saudável, pratica de atividades físicas regularmente e evitar o estresse diário contribuem para uma melhor qualidade de vida. Nesse momento não prevalece somente à questão genética que se carrega como herança dos nossos antepassados. É preciso também cuidar bem da saúde, evitando exageros e extravagâncias que mais tarde podem trazer conseqüências crônicas ou mesmo irreversíveis à vida do indivíduo. 5.1 Classificação do estudo A técnica de coleta de dados deste estudo foi à aplicação de questionário com 42 questões fechadas e 18 abertas totalizando 60 questões com o propósito de buscar a freqüência de cada variável das representações e significados de fatos, relações e interpretações, dependendo fundamentalmente de processos interativos. Foi realizado um pré-teste do questionário antes da coleta dos dados, que consistiu na realização de entrevistas com os homens dentro dos critérios 47 estabelecidos para a pesquisa. Apenas alguns itens do questionário foram alterados. Foi necessário ser retirado do questionário o número de telefone do entrevistado. Quanto à vacinação contra a rubéola foram incluídos apenas os homens da faixa etária 20-39 anos, caso não atendesse este critério não se aplicava à pergunta. Um outro item alterado se refere aos profissionais de saúde que o atenderam. Como ainda não tinham sido atendidos incluiu-se os profissionais que o atenderam quando procuraram serviço de saúde em outro momento de sua vida. Sobre a avaliação do atendimento recebido no PS no momento da entrevista não foi possível aplicar, pelo fato de os entrevistados ainda não terem sido atendidos pelo médico, enfermeira, odontólogo e técnicos de enfermagem. Foi utilizado o programa Epi Info na elaboração da máscara sobre as principais dificuldades de acesso aos serviços de saúde por homens na faixa de 2149 anos. O Epi Info é uma série de programas para Microsoft Windows para uso de profissionais de saúde pública que administram investigações de epidemias, gerenciam bancos de dados de vigilância epidemiológica e outras tarefas, incluindo bancos de dados gerais e análises estatísticas. Com o Epi Info é possível desenvolver rapidamente um questionário ou formulário, padronizar o processo de entrada de dados, alimentar o banco e analisar dados (http://epiinfo.com.br/ead/mod/resource/view.php?id=61 acesso dia 23 mai. 2009). 5.2 População da pesquisa A população consistiu de 24 homens na faixa etária de 21 a 49 anos que buscavam atendimento à saúde no Pronto-Socorro do Hospital Regional de Ceilândia na Região Administrativa de Ceilândia, nos meses de abril e maio no horário comercial. Este quantitativo de sujeitos baseou-se na estimativa de que aproximadamente 2000 homens procuram atendimento no Pronto-Socorro do Hospital Regional de Ceilândia a cada mês. Desta estimativa entrevistou-se 24 homens que equivalem a 1% desta população. 48 5.3 Aspectos éticos da pesquisa No que se refere aos aspectos éticos, à pesquisa seguiu todas as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata de pesquisas envolvendo seres humanos. Foram garantidos aos cidadãos envolvidos na pesquisa todos os direitos citados no termo de consentimento livre e esclarecido. O projeto foi aprovado pelo CEP – SES por meio do Parecer número 030/2009, protocolo do projeto número 369/08. 49 6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 6.1 Perfil sócio-econômico dos homens entrevistados que buscam os serviços de saúde Todos os 24 homens entrevistados informaram residir na cidade de Ceilândia distribuídos da seguinte forma: Ceilândia Centro (8,3%), Ceilândia Norte (16,7%), Ceilândia Sul (20,8%), Guariroba (12,5%), P Norte (8,3%), P Sul (8,3%) e o Setor O (25%). Com relação à idade, predominou a faixa etária de 24 a 30 (45,9%), seguida de 31 a 40 (41,8%) e por fim a faixa acima dos 40 anos (12,5%). Quanto à escolaridade observou-se que a maioria dos entrevistados apresenta nível fundamental incompleto (41,7%) seguindo-se do fundamental completo (25%), médio completo (20,8%), médio incompleto (4,16%), superior incompleto (4,16%) e superior completo (4,16%). Ao compararmos com a situação trabalhista observa-se que a maioria dos homens se encontra empregado (66,7%), apesar da baixa escolaridade. Em segundo ficou o número de desempregados (20,8%) e autônomos (12,5%) em terceiro. Sobre o número de filhos percebeu-se que 70,8% destes homens são pais de família e que 58,3% dos entrevistados moram com a companheira. Com relação a situação de moradia predominou a casa própria dos homens entrevistados (47,1%) seguindo do aluguel (37,5%). A empregabilidade é bem diversificada com predominância dos serviços braçais e de baixos salários visto de forma bem clara que a renda familiar se concentra entre 1 a 2 salários mínimos (45,8%), 2 a 4 salários mínimos (41,7%), 5 salários ou mais (8,3%) e sem renda (4,16%). 50 Tabela 1. Perfil sócio-econômico dos homens que buscam os serviços de saúde Ceilândia-DF. F Gênero Masculino Idade 24 a 30 anos 31 a 40 anos acima de 40 anos Escolaridade Fundamental incompleto Fundamental completo Médio Completo Médio Incompleto Superior Incompleto Superior completo Estado civil Mora com a companheira Solteiro Casado Filhos filhos não possui filhos Situação trabalhista Empregado Desempregado Autônomo Situação de moradia próprio aluguel próprio ainda pagando outros abrigo Número de pessoas que residem no mesmo domicílio 4 a 6 pessoas 1 a 3 pessoas 7 pessoas ou mais Total Número de cômodos 3 a 4 cômodos 5 a 6 cômodos 1 a 2 cômodos 7 ou mais Total Renda familiar 1 a 2 salários mínimos 2 a 4 salários mínimos 5 salários ou mais sem renda % 24 100 11 10 3 45,9 41,8 12,5 10 6 5 1 1 1 41,7 25 20,8 4,16 4,16 4,16 14 5 5 58,3 20,8 20,8 17 7 70,8 29,2 16 5 3 66,7 20,8 12,5 10 9 2 2 1 41,7 37,5 8,3 8,3 4,16 F % 14 8 2 24 F 58,4 33,4 8,3 100 % 11 7 4 2 24 45,8 29,2 16,7 8,3 100 11 10 2 1 45,8 41,7 8,3 4,16 51 Tabela 2. Distribuição do consumo de bebidas alcoólicas/fumo. F Consumidores de bebidas alcoólicas Quantas vezes por semana 2 vezes 1 vez 3 vezes Fumo Fumantes Quantos cigarros por dia acima de 20 unidades (maço) até 4 unidades de 5 a 19 unidades Já fumaram e/ou fumam hoje Quanto tempo fumando 1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos 16-20 anos 21-30 anos % 11 45,8 6 4 1 54,5 36,4 9,1 5 20,83 3 1 1 10 60 20 20 41,7 3 2 2 2 1 30 20 20 20 10 Em se tratando de consumo de bebidas alcoólicas, praticamente, 50% dos homens entrevistados afirmaram que tem o hábito de ingerir estas bebidas pelo menos duas vezes por semana (54,5%), principalmente, aos finais de semana. Com relação ao fumo foi interessante observar que alguns deles têm a consciência de que o cigarro faz mal a saúde sendo que dos 10 que fumam e/ou fumaram algum dia, 5 deles (20,83%) largaram o cigarro e os outros 5 (20,83%) ainda continuam fumando. 6.2 Acesso aos serviços de saúde Com relação aos problemas de saúde que surgiram, e que levaram os homens a buscarem os serviços de saúde, o estudo mostrou que a principal causa observada foi por afecções agudas leves (54,2%). Dentre as afecções agudas leves encontram-se os seguintes perfis de agravos: gripes, amigdalite, dermatites, bronquites leves, tosse, febre, conjuntivite, dor lombar, vômito, diarréia, dor de 52 estômago, dor no corpo, dor de dente, DST. Em seguida lugar ficou por lesões (33,3%) que se caracterizaram como picada de inseto, cortes na pele, entorse e luxações. Tabela 3. Distribuição dos problemas de saúde que levam a busca por serviços especializados de saúde. Problemas de saúde F Afecções agudas leves* % 13 54,2 Lesões 8 33,3 Acidentes 2 8,3 Afecções agudas de moderada à grave** 1 4,2 (*) afecções agudas leves (gripes, amigdalite, dermatites, bronquites leves, tosse, febre, conjuntivite, dor lombar, vômito, diarréia, dor de estômago, dor no corpo, dor de dente, DST). (**) afecções agudas de moderada à graves (crise asmática, pico hipertensivo, cardiopatias, infecção urinária, cólica renal, sintomatologia de infarto, abscesso dentário, DPOC, tumor/câncer). Tabela 4. Freqüência aos serviços de saúde. F-% Serviços/ Freqüência Nunca Às vezes Sempre Unidade Básica de Saúde (UBS) 7 - 29,2 15 - 62,5 2 - 8,3 Centro de Saúde (CS) 7 - 29,2 16 - 66,7 1 - 4,2 Hospitais 1 - 4,2 20 - 83,3 3 - 12,5 Farmácias 6 - 25,1 13 - 54,1 5 - 20,8 Benzedeiras 22 - 91,7 2 - 8,3 0 Na tabela 4 identificou-se os tipos de serviços mais procurados por homens no momento em que se encontram doentes e de que maneira eles buscaram resolver seus problemas de saúde de forma mais rápida e prática. Como se pode observar a procura pela UBS é muito baixa (8,3%) quando se trata de primeira opção de acesso. O mesmo acontece com o Centro de Saúde (CS) com apenas 4,2%. Já nos hospitais a procura pelos serviços de saúde se mostra mais elevada na categoria “às vezes” (83,3%) significando, na opinião deles, que resolvem de forma mais rápido o seu problema de saúde apesar da demora do atendimento médico especializado. Com relação à resolução dos problemas de saúde durante sua vida, observou-se que 58,3% resolveram seu problema de saúde enquanto que 41,7% 53 não resolveram por alguns motivos explanados pelos entrevistados: nunca procurou o serviço, retornou ao atendimento, não teve acesso, é a primeira vez que busca o serviço de saúde, está em tratamento médico continuado e a medicação não resolveu o problema. Sobre as condições de saúde dos homens entrevistados 8,3% apresentam hipertensão arterial/doença renal e 4,2% dislipidemia/doença do coração. Os homens que estão realizando algum tratamento médico e que seguem a risca a prescrição médica apresentaram o seguinte percentual 84,6%. Quanto aos exames de rotina apenas 41,7% afirmaram que realizam anualmente. Dentre os motivos dos que não procuram realizar um check-up destacam-se “não achar necessário (20%), só quando precisa (13,3%), não sente nada (13,3%), a dificuldade de acesso aos serviços de saúde (6,7%), nunca precisou de atendimento (6,7%), de vez em quando, só quando está doente (6,7%), raramente (6,7%), falta de tempo (6,7%), desleixo (6,7%)”. Em relação à prática de atividade física apenas 45,8% afirmaram que realizam exercícios e os motivos pelos quais impedem que mais homens a realizem são: limitações por problemas de saúde (38,4%), falta de tempo (38,4%) e trabalho (30,6%). A alimentação se apresenta bem diversificada com predominância do arroz (20%), feijão (19%), carne vermelha (17%), carne branca (16%) e saladas (9%). arroz saladas; 10; 9% massas; 7; 7% carne branca arroz; 23; 20% frutas; 4; 4% doces frituras; 3; 3% feijão ; 20; 19% fast food carne branca; 17; 16% feijão frituras frutas fast food; 3; 3% doces; 2; 2% carne vermelha carne vermelha; 18; 17% massas saladas Gráfico 1. Distribuição dos alimentos consumidos diariamente pelos homens. 54 Há vários motivos que impedem a procura por serviços de saúde, principalmente, na atenção à saúde primária/secundária. Para a maioria dos homens entrevistados é mais fácil ser atendido no pronto-socorro de hospitais do que conseguir uma consulta no CS. Eles alegaram muitos motivos pelos quais ainda enfrentam dificuldades de acesso aos serviços de saúde (ver Tabela 5). Tabela 5. Principais barreiras de acesso aos serviços de saúde. F % demora do atendimento 9 37,5 nada impede 7 29,1 falta de médico 3 12,5 dificuldade do atendimento 2 8,4 péssimo atendimento 2 8,4 transporte 1 4,2 24 100 Total Dos homens entrevistados, 100% afirmaram que algum dia viria adoecer e que precisam de atendimento médico. 6.3 Prevenção do Câncer de Próstata Foi investigado também sobre os cuidados e prevenção do câncer de próstata. No que diz respeito este tema os homens que possuem idade igual ou superior a 40 anos afirmaram que nunca foram ao urologista para o acompanhamento de rotina da próstata. Os mesmos também disseram que nunca tiveram câncer de próstata. Sobre o histórico na família todos os 24 entrevistados afirmaram que não há nenhum caso desta doença entre parentes próximos (pai, tio, avô, entre outros). 55 6.4 Vacinação Com relação à vacinação 75% dos homens afirmaram que o cartão de vacinação está em dia. Em se tratando da vacina contra a rubéola, a maior campanha de vacinação já realizada no mundo abrangia a faixa etária entre 20 a 39 anos, no ano de 2008. Desta maneira, observou-se que 86,4% tomaram a vacina contra a rubéola dentro desta faixa etária. Ao indagar a importância desta vacina em homens foi-lhes perguntado se fazia alguma diferença tomar a vacina no controle da transmissão dessa doença e 83,3% responderam que sim. Tabela 6. Vacinação dos homens na faixa etária entre 21 e 49 anos. F % Vacinaram contra a rubéola na última campanha 19 86,4 Vacinação faz diferença no controle da transmissão 20 83,3 Cartão de vacina em dia 18 75 Reconhecem e aderem à vacinação 17 70,8 Dificuldades de entender a orientações do MS 12 50 não se aplica 7 29,2 Vacinação não faz diferença no controle da transmissão 4 16,7 6.5 Atendimento nos serviços de saúde Foi perguntado aos 24 homens entrevistados sobre o atendimento nos serviços de saúde e suas implicações (Tabela 7). Como se pode observar 79,2% disse que os profissionais que o atenderam ouviram e compreenderam seus problemas de saúde. Quanto às condições de vida e saúde da família do entrevistado apenas 29,2% dos profissionais perguntaram sobre este tema. Com relação a forma de esclarecimento dos profissionais de saúde quanto a forma de tratamento a ser seguido observou-se que 50% dos entrevistados afirmaram que a orientação foi clara e compreensível. Em se tratando de doenças 56 anteriores 56,5% afirmaram que buscaram o serviço de saúde e conseguiu resolver seu problema de saúde. Quanto à orientação e encaminhamento para outros serviços de saúde poucos precisaram se deslocar à unidade mais próxima de sua residência em busca de insumos mais complexos de equipamentos para investigar o seu problema de saúde. Os que foram encaminhados (29,2%) e orientados (20,8%). Um bom indicador observado nesta variável foi à resolução da maior parte dos problemas de saúde (68,2%). Sobre a postura de alguns profissionais de saúde no atendimento, 70,8% afirmaram que há falta de postura, de atendimento, de educação dos funcionários quanto à forma de tratamento, de paciência, de informação, da demora/espera, estresse, grande demanda, péssimo atendimento, estresse dos funcionários, descaso com os pacientes e só prescrevem, não dando satisfação nenhuma sobre o que realmente tem. Tabela 7. Características do atendimento feito pelos profissionais de saúde que atendeu os homens quando buscaram o serviço. F % Ouviram e compreenderam o seu problema de saúde Você acha que os profissionais deste serviço conseguem resolver a maior parte dos seus problemas de saúde? Resolveram seu problema de saúde Orientaram sobre o tratamento e cuidados com a saúde de forma compreensível Perguntaram sobre as condições de vida e saúde da sua família 19 79,2 15 68,2 13 56,5 12 50 7 29,2 7 29,2 5 20,8 3 12,5 Encaminharam-no para outro serviço de saúde Orientaram a procurar outro serviço de saúde Pediram sua opinião sobre tratamentos e cuidados prescritos Entre os motivos que levaram os homens entrevistados ao pronto-socorro do HRC predominou a decisão própria 95,8%, seguindo o conhecimento do peso do serviço que facilitam o acesso 16,7%, o atendimento ser mais rápido 8,3% e ser o serviço mais próximo da residência 8,3%. 57 Tabela 8. Escolha do Pronto-Socorro do Hospital Regional da Ceilândia-DF. F Decisão própria % 23 95,8 Peso do serviço que facilita o acesso 4 16,7 Atendimento é mais rápido 2 8,3 O serviço é mais próximo da residência 2 8,3 Com relação à prevenção de doenças e agravos à saúde todos os homens afirmaram que o melhor remédio é a prevenção e que deve começar desde cedo. Quanto a mentir sobre o local de moradia para ser atendido nesse serviço 21,7% afirmaram que já tiveram essa atitude. Sobre o tempo de espera pelo atendimento médico especializado predominou entre 4 e 12 horas (50%), entre 12 e 24 horas (20,8%), menos de 4 horas (16,7%), e entre 1 e 3 dias (12,5%). %; 12,5 entre 1 e 3 dias F; 3 menos de 4 horas %; 16,7 F; 4 entre 12 e 24 horas % F %; 20,8 F; 5 entre 4 e 12 horas %; 50 F; 12 0 10 20 30 40 50 60 Gráfico 2. Distribuição do tempo de espera por atendimento no serviço. 58 6.6 Qualidade de vida Após ter perguntado os tipos de alimentos que são consumidos pelos homens entrevistados, diariamente, tornou-se necessário investigar se a alimentação que ingerem está dentro dos parâmetros saudáveis recomendados atualmente. Segundo eles 54,2% afirmaram que consideram que a sua alimentação está balanceada contra 45,8% que reconheceram a necessidade de melhorar as opções de alimentos muitas vezes calóricas e gordurosas. Dentro de todas as variáveis discutidas com os homens pesquisados observou-se que o estado de saúde não é totalmente saudável 29,2%. Os 70,8% afirmaram que não estão totalmente saudáveis por diversos motivos: problemas de saúde, ritmo de vida, trabalham em excesso, alimentação errada em horários errados, entre outros. Sobre o estresse vivido por toda a população e neste trabalho focalizando um único gênero que é o sexo masculino, observou-se que 70,8% se consideram estressados por muitos motivos. Tabela 9. Características sobre Qualidade de vida. Alimentação dentro dos parâmetros recomendados Consideram totalmente saudáveis Consideram estressados F-% F-% Sim Não 13-54,2 11-45,8 7-29,2 17-70,8 17-70,8 7-29,2 E por fim, uma questão que deixou os homens bem reflexivos. O que eles mudariam na sua rotina para melhorar a sua qualidade de vida? Questão aberta que os levou a serem curtos e diretos em suas respostas. Na Tabela 10 pôde-se demonstrar algumas respostas dadas por eles. 59 Tabela 10. Motivos que ajudariam a mudar a qualidade de vida do homem atualmente. F Alimentação e prática de atividade física Emprego Saúde Tudo Nada Estudos Satisfeito % 7 5 4 4 2 1 1 29,2 20,8 16,7 16,7 8,3 4,2 4,2 Satisfeito; 1; 4% Alimentação e prática de atividade física Nada; 2; 8% Alimentação e prática de atividade física; 7; 29% Emprego Estudos Tudo; 4; 17% Saúde Tudo Nada Saúde; 4; 17% Emprego; 5; 21% Satisfeito Estudos; 1; 4% Gráfico 3. Motivos que ajudariam a mudar a qualidade de vida do homem atualmente. 60 7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Na literatura nacional e internacional, são recorrentes as considerações sobre o fato de os homens utilizarem menos os serviços públicos de saúde do que as mulheres, o que pode trazer prejuízos para a cura de doenças, que se diagnosticadas a tempo, podem ser tratadas ou controladas. Segundo Gomes (2008), a explicação para a menor procura de serviços por parte dos homens em comparação com as mulheres sugerida por esse estudo relaciona-se ao fato de os homens e mulheres terem necessidades de saúde distintas e ao maior interesse das mulheres por sua saúde (apud Gomes, 2008, p. 51). Neste sentido os resultados desta pesquisa seguem os padrões encontrados em outros estudos. Há realmente baixa procura por serviços de saúde pelos homens. Com relação ao estado civil observou que a maioria dos homens entrevistados mora com a companheira, realidade esta mais comum na sociedade atualmente. Há predominância de casamentos civis, mas a proporção do número de divórcios vem aumentando a cada dia. Verifica-se também no Brasil, como em outros países, uma associação direta entre o nível de escolaridade e a participação na força de trabalho. Apesar do aumento do desemprego a maioria dos entrevistados se encontra empregados. De acordo com as mudanças nos anos recentes, a socialização de gênero em casa e em todo o sistema educativo tende ainda a canalizar homens e mulheres para locais de trabalhos relacionados a gênero e à segregação ocupacional (apud. Junho Pena et al 2005, p. 104). Em estudos mais completos com trabalhadores pobres, homens e mulheres, em São Paulo por Martins Rodrigues (1991) mostraram a importância dos papéis de gênero e as pressões por eles exercidas sobre os homens. Os homens são primordialmente os responsáveis pela renda, e, se a família é pobre, o pai/marido é responsabilizado em não conseguir recursos suficientes para a família (apud. Junho Pena et al 2005, p. 109). Como agravo importante no quadro saúde do homem, menciona-se o alcoolismo. A maioria dos entrevistados afirmou que consome álcool pelo menos duas vezes por semana, em especial, finais de semana. O I Levantamento Nacional sobre os padrões do consumo de álcool na população brasileira, também aponta 61 que na população adulta, tanto o uso nocivo quanto à dependência do álcool predominam entre os homens, sendo em média quatro vezes mais comum do que entre mulheres. De acordo com este estudo, 52% dos brasileiros acima de 18 anos bebem, pelo menos uma vez ao ano. Destes, 65% são homens e 41% são mulheres. Do conjunto dos homens adultos, 11% bebem todos os dias e 28% consomem bebida alcoólica de uma a quatro vezes por semana (UNIFESP, 2007). O Relatório do Banco Mundial sobre a dimensão da questão de gênero no consumo de álcool na América Latina (2002), aponta a tendência dos homens a beber mais e a ter mais prejuízos em relação ao álcool. Em relação ao tabagismo, os homens usam cigarros também com maior freqüência que as mulheres, o que lhes acarreta em maior vulnerabilidade a doenças cardiovasculares, câncer, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, doenças bucais e outras, relacionadas ao uso regular de cigarro. O uso de álcool e cigarros, ainda, está diretamente relacionado aos indicadores de morbimortalidade. (Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem, 2008). A não procura pelos serviços de atenção primária faz com que o indivíduo fique privado da proteção necessária à preservação de sua saúde e continue a fazer uso de procedimentos desnecessários se a procura pela atenção houvesse ocorrido em um momento anterior. Muitos agravos poderiam ser evitados caso os homens realizassem, com regularidade, as medidas de prevenção primária. A resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a sobrecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família, na luta pela conservação da saúde e da qualidade de vida dessas pessoas (Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem, 2008). Apesar da maioria dos entrevistados serem de classe baixa e apresentarem baixa escolaridade observou-se que acessa o serviço seja no nível de atenção primário, secundário ou terciário à saúde. Para os homens é mais cômodo procurar a emergência no hospital e/ou farmácias, pois através deles resolverão o problema de saúde que esteja vivendo de forma mais rápida e efetiva. Não precisa esperar longos dias para serem atendidos no centro de saúde, ambulatórios e clínicas. Outro dado relevante é a espera por atendimento. Uma das maiores queixas relatadas pelos usuários entrevistados é a demora do atendimento. Muitas das vezes eles largam o seu local de trabalho por motivo de saúde, vão ao pronto- 62 atendimento e esperam por várias horas até serem atendidos (em se tratando de serviço público de saúde). A prevalência de doenças relatadas pelos homens foi: hipertensão arterial, cálculo renal, luxação, entorse e gripe. Com relação aos problemas de saúde crônicos os homens entrevistados não apresentavam índices elevados de morbidade. Até mesmo porque o maior índice de homens entrevistados encontravase na faixa etária de 24 a 30 anos. No caso dos homens a doença crônica que mais se destaca são as doenças do aparelho respiratório, em seguida do aparelho circulatório, das doenças infecciosas parasitárias, das doenças do aparelho digestivo e lesões. Um grande problema observado, hoje, é a falta de unidades de saúde específicas para o cuidado do homem. Para Gomes (2008), se torna uma grande barreira para o acesso ao público masculino aos serviços de saúde. Em contrapartida, a esse argumento de Gomes, na opinião dos entrevistados o check-up não é realizado anualmente e nem se realiza exames rotineiros pelo fato de não sentirem nada e/ou não terem necessidade de procurar um serviço médico. Apesar da masculinidade/machismo predominar em muitos homens, há momentos de fragilidade no caso de uma doença que poderia vir acontecer e mexer com seu sistema emocional e físico. O câncer da próstata é uma neoplasia que geralmente apresenta evolução muito lenta, de modo que a mortalidade poderá ser evitada quando o processo é diagnosticado e tratado com precocidade. Uma estimativa realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o aparecimento de novos casos de cânceres no ano de 2008, aponta o câncer de próstata como sendo o mais freqüente, só superado pelo câncer de pele não-melanoma (Brasil, 2008). A campanha de vacinação contra a rubéola realizada em 2008 mobilizou todo o Brasil para a erradicação dessa doença e teve como alvo os homens “assintomáticos” que transmitem este vírus para as mulheres existindo uma grande probabilidade de ocorrer transmissão vertical para o feto que pode nascer cego, surdo ou com problemas mentais. Durante a entrevista foi esclarecido a importância da vacina e qual o intuito do MS em vacinar a população masculina como sendo prioridade da campanha. Foi indagado também se eles iriam aderir à vacina e todos afirmaram que sim (100%) reconhecendo a importância da mesma. 63 Partindo deste pressuposto foi investigado se durante a campanha de vacinação contra a rubéola se houve alguma dificuldade em entender as orientações passadas para o sexo masculino e 50% dos homens responderam que não entenderam as orientações passadas pelo MS. A campanha nacional de vacinação contra a rubéola foi direcionada a homens e mulheres com idade entre 20 e 39 anos de idade. A meta do MS foi vacinar 35,3 milhões de homens. Dos 8.407 casos de rubéola confirmados no país, em 2007, 70% corresponderam a pacientes homens. A meta nacional de vacinação contra o vírus da rubéola foi 92,47%. O DF atingiu 95,31% superando a meta nacional. Através dessa percentagem é possível observar a grande adesão dos homens a vacina. O serviço público de saúde, atualmente, apresenta-se precário, não atendendo a demanda necessária com qualidade. No DF, por exemplo, muitas pessoas que residem no entorno (Goiás) buscam os serviços de saúde nas cidades satélites e Brasília. A demanda de mulheres, crianças e idosos que procuram atendimento médico é bastante grande. Quando o homem acessa algum serviço de saúde, principalmente, hospitais, esperam por várias horas e ao ser atendido pelo profissional de saúde é pouco compreendido, consultas e procedimentos muito rápidos, deixando de considerar dados que poderiam ajudar na resolução de vários problemas de saúde. Quanto à postura dos profissionais a maioria dos homens entrevistados afirmou que muitos médicos não possuem presteza, educação, atenção, paciência e muito menos explicam verdadeiramente qual o problema de saúde dos mesmos. A maioria dos entrevistados procurou o serviço por conta própria. Isso quer dizer que sentiram necessidade de buscar o médico para saber o que estava acontecendo com a sua saúde. Durante a entrevista não apresentaram resistência em procurar atendimento e não rejeitam a possibilidade de adoecer. Pelo contrário, eles sentem necessidade de usar o serviço médico embora existam barreiras para o acesso ao atendimento. Afirmaram ainda que seu objetivo é resolver o seu problema de saúde de forma mais rápida e prática possível e a grande preferência são os hospitais e farmácias. O termo ‘qualidade de vida’ traz consigo uma forte conotação de valor, ao atribuir prioridades a alguns aspectos da existência. Trata-se de uma noção eminentemente humana, subjetiva e polissêmica que tem sido aproximada ao grau 64 de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e ao próprio sentido da existência (apud. Minayo et al 2008, p. 271). O termo que abrange muitos significados reflete conhecimentos, experiências, valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam, variando de acordo com o processo histórico, a cultura e as classes e estratificações sociais. Na pesquisa quando se perguntou sobre alimentação os homens destacou-se mais a falta de tempo para se alimentar melhor. Muitos têm a consciência de que precisa excluir fast foods, frituras, doces da sua rotina e consumirem mais frutas, verduras, legumes e carne branca. Reclamaram também sobre a carga de trabalho e a falta de tempo para o lazer e a família. O segundo tema muito evidente é a dificuldade que os homens têm em praticar alguma atividade física. A maioria manifesta o desejo, mas faltam-lhes tempo para isso. Outro ponto a ser considerado é nível de estresse que possuem no seu dia-adia. A maioria afirmou que era muito estressante a vida que levam. Excesso de trabalho, trânsito, família, salários, problemas de saúde entre outros, Foram investigadas também questões subjetivas, dando ênfase o conceito de qualidade de vida, às relações interpessoais e o que eles mudariam na sua rotina para melhorá-la. É interessante observar que muitos homens se espantaram com esse questionamento. Não sabiam dizer de forma imediata o que seria interessante mudar na sua rotina. Através da Tabela 10, foi possível observar que alguns homens não achavam necessário mudar nada. Estão satisfeitos com sua vida. Em relação ao futuro ficou implícita a intenção de saber que expectativas de melhoria estão presentes entre eles. 65 8 CONCLUSÕES Esta pesquisa teve como objetivo identificar os principais motivos que levam os homens na faixa etária entre 21 e 49 anos a procurar os serviços de saúde, levantar as principais dificuldades de acesso por eles e elaborar recomendações de mudanças nos serviços de saúde para ampliar o acesso nesses serviços. Em relação aos motivos que levam os homens a procurarem os serviços de saúde os resultados indicaram que os homens buscam atendimento médico principalmente por afecções leves agudas (gripes, resfriados, febre, dores nas articulações) e lesões (entorse, luxação). No que se refere ao acesso, observou-se que há dificuldades de acesso pelo sexo masculino nos serviços de saúde como, por exemplo, a demora do atendimento, a falta de médico, a falta e péssimo atendimento e transporte. Com base nos resultados obtidos, conclui-se que a demora em conseguir atendimento médico na atenção primária leva-os a procurar um serviço mais fácil e efetivo na intenção de solucionar o seu problema. Há também dificuldade em se mudar a cultura, masculinidades, mas é preciso seguir caminhos da prevenção de forma variada e complementar. Com base nestes resultados recomendo as seguintes mudanças no atendimento para ampliar o acesso dos homens aos serviços de saúde: Em relação aos procedimentos de intervenção é importante que a enfermagem, como uma das promotoras da educação em saúde juntamente com uma equipe multiprofissional, participe dentro de uma posição central do discurso preventivista, significando, também sua forma de validação e legitimidade. É necessário que os princípios e diretrizes da Política Nacional Integral à Saúde do Homem venham ser colocados em prática em todos os níveis de serviços de saúde. Como essa política está atrelada a PNAB, será de extrema importância que os serviços de atenção primária à saúde venham se adaptar e implantar meios que facilitem o acesso dos homens nos serviços de saúde. 66 Assim como outros programas de prevenção de agravos, por exemplo, da criança, da mulher e do idoso, o homem também se enquadra nesta questão de direito à saúde. É preciso ampliar o cuidado com a saúde. Eles necessitam de atendimento médico-hospitalar, mas antes que se chegue ao pronto-atendimento é interessante investir em educação a saúde. É de suma importância produzir estratégias efetivas para integrar e valorizar a subjetividade dos homens, contar com a sua saúde e responsabilizá-los individual e coletivamente pelo desempenho pessoal e social. Além disso, é necessário dar mais atenção aos alarmantes problemas de saúde do homem que tenham elos relacionados a gênero, tais como as altas taxas de mortalidade e violência entre eles através do sistema educacional, dos programas comunitários e da mídia para a prevenção da violência relacionada a gênero. É necessária maior equidade para que muitos homens venham ser atingidos e que tenham maior facilidade no acesso aos serviços de saúde. Ampliar o acesso à saúde voltada especificamente para os homens criando centros de referências no cuidado e prevenção de agravos. Os programas de saúde reprodutiva e sexual devem incentivar a população masculina sobre o controle da natalidade, dada a baixa utilização de camisinhas e orientar quanto a transmissão de DSTs e epidemia de HIV/Aids nas relações sexuais. É interessante trabalhar com as organizações locais, pois aumenta a eficiência dos programas de acordo com as condições e as práticas específicas colocando menos pressão sobre orçamentos limitados do setor público. O Estado e sociedade civil devem estabelecer parcerias e assumirem responsabilidades na implementação de políticas sociais na área da educação, do emprego, da cultura e da saúde. Alterar comportamentos arraigados é uma tarefa longa, árdua e delicada, mas a junção de ações individuais e sociopolíticas poderá 67 favorecer a (re) construção e/ou adequação das práticas dos atores sociais, visando à adoção de ações preventivas. 68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, E.M.L, MENEZES, G. M. S, AMOEDO, M. B. Gênero e saúde no Brasil: considerações a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 26, n 3, p. 195-202, jun. 1992. 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INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS SOBRE O ACESSO DOS HOMENS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE. 74 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE Entrevistador: _________________________________________________________________ Local da entrevista: Hospital Regional da Ceilândia Dia da semana: 2° ( ) 3° ( ) 4° ( ) 5° ( ) 6° ( ) Turno: ( ) Manhã ( ) Tarde O Senhor está sendo convidado a participar do projeto: As principais dificuldades de acesso aos serviços de saúde na região administrativa de Ceilândia-DF por homens entre 21 e 49 anos. O nosso objetivo é - Avaliar como os homens utilizam e acessam os serviços de saúde no Hospital Regional da Ceilândia - Distrito Federal. Pretendemos discutir como os serviços de atenção primária e secundária podem contribuir para ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde e melhorar a qualidade de vida. O senhor receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da pesquisa e lhe asseguramos que seu nome não aparecerá sendo mantido o mais rigoroso sigilo através da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo. A sua participação será através de um questionário que você deverá responder no Pronto – Socorro do Hospital Regional da Ceilândia. Não existe um tempo pré-determinado para responder o questionário sendo respeitado o tempo de cada um para respondê-lo. Informamos que o senhor pode se recusar a responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo para o senhor. Os resultados da pesquisa serão divulgados aqui no Hospital Regional da Ceilândia e na Universidade Católica de Brasília podendo inclusive ser publicado posteriormente. Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sobre a guarda da Acadêmica de Enfermagem da UCB, Vânia Monteiro Guedes dos Santos Moura. Se você tiver qualquer pergunta em relação à pesquisa, por favor, telefone para Prof(a) Leila Bernarda Donato Göttems fone: 8417-5175 no horário comercial. Dúvidas e esclarecimentos favor entrar em contato com a pesquisadora pelo telefone: 8116-5762 este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da SES/DF – Fone: 61-3325-4955. Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra com o sujeito da pesquisa. ______________________________________________ Nome / assinatura ____________________________________________ Pesquisador Responsável Nome e assinatura Brasília, ___ de __________de 2009. 75 QUESTIONÁRIO SOBRE O ACESSO DOS HOMENS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE Atenção entrevistador! Esclarecer os objetivos do estudo e Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). FILTRO: Entrevistar usuários que concordarem em participar da pesquisa e após o término do atendimento. OBJETIVO: Analisar como os homens utilizam e acessam os serviços de saúde no Hospital Regional da Ceilândia – Distrito Federal. Entrevistador: _________________________________________________________________ Local da entrevista: ____________________________________________________________ Dia da semana: 2° ( ) 3° ( ) 4° ( ) 5° ( ) 6° ( ) Turno: ( ) Manhã ( ) Tarde Identificação: Nome: ________________________________________________________________________ Data de Nascimento: ___/___/_____. Endereço: _____________________________________________________________________ Bairro: ____________________ Município: ________________ Zona urbana ( ) Zona rural ( ) Telefone: ____________________. Perfil sócio-econômico dos homens que buscam os serviços de saúde: Idade: Estado civil: solteiro ( ) casado ( ) divorciado ( ) viúvo ( ) mora com a companheira ( ) Número de pessoas que residem no mesmo domicílio: ________________________ Filhos: sim ( ) não( ), se sim quantos ________________________________________ Situação de moradia: próprio ( ) próprio ainda pagando ( ) abrigo ( ) aluguel ( ) albergue ( ) mora em casa ( ) apartamento ( ) outros ( )_________________________ Número de cômodos: 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 3 ou mais ( ) Situação trabalhista: empregado ( ) desempregado ( ) autônomo ( ) afastado pelo INSS ( ) aposentado ( ) sem ocupação ( ) Até que série você estudou? _____________ Renda familiar: de 1 a 2 salários mínimos ( ) de 2 a 4 salários mínimos ( ) de 5 salários mínimos ou mais ( ) Consumo de drogas: sim ( ) não ( )quais? _________________________________________ Uso de bebidas alcoólicas: sim ( ) não ( ) quantas vezes por semana? __________________ Fumante: sim ( ) não ( ) Quantos cigarros por dia? ___________________________________ Você já foi fumante? sim ( ) não ( ) se sim, quanto tempo?______________________________ Acesso aos serviços de saúde 1. Por qual problema de saúde veio a este serviço hoje? ( ) Afecções agudas leves (gripes, amigdalite, dermatite, bronquites leves, tosse, febre, conjuntivite, dor lombar, vômoto, diarréia, dor de estômago, dor no corpo, dor de dente, DST); ( ) Afecções agudas de moderada à graves (crise asmática, pico hipertensivo, cardiopatias infecção urinária, cólica renal, sintomatologia de infarto, abscesso dentário, DPOC, tumor/câncer); ( ) Acidente (fraturas, PAF, ingestão de corpo estranho); ( ) Lesão (picada de inseto, cortes na pele, entorse, luxações); ( ) Retorno (cirurgia, consultas de rotina, controle, apresentar resultados de exame); ( ) Controle de agravos (tuberculose, hanseníase, diabetes, hipertensão, doença de chagas, prevenção de câncer, hipertensão); ( ) Ações programáticas (vacinação, ação educativa, outroas); ( ) Solicitar atestado médico/atestado de saúde; ( ) Outro: ______________________________________________________________________ 2. Com que freqüência você costuma procurar os serviços de saúde? (marque com um X as opções que achar necessário). Serviços Nunca Às vezes Sempre Unidade Básica de Saúde Centro de Saúde Hospitais Farmácias Benzedeira 76 3. Você resolveu seu problema quando procurou alguns desses serviços? ( ) sim ( ) não, se não porque? ____________________________________________________________ Condições de Saúde 4. Atualmente você possui doenças crônicas como: SIM NÃO Hipertensão Arterial Diabetes Melittos Dislipidemias Derrame Doença Renal Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) Doenças do Coração Câncer 5. Seu tratamento está sendo realizado de acordo com o que foi prescrito pelo médico? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ ( ) não se aplica 6. Com que freqüência você realiza exames de rotina anualmente? ( ) sim ( ) não, se não porque?_______________________________________________________ 7. Atualmente você pratica atividade física? ( ) sim Qual (is)?___________________________________________________________________ ( ) não, se não porque? _____________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 8. O que geralmente você come durante as suas refeições diárias? _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 9. O que te impede o acesso aos serviços de saúde atualmente? _________________________________________________________________________________ 10. Você se julga imune às doenças, consideradas por ele sinais de fragilidade? ______________________________________________________________________________________ 11. Você acha que precisa de atendimento médico? ______________________________________________________________________________________ Prevenção do Câncer de Próstata 12. Caso tenha idade superior a 40 anos, você realiza consultas com o urologista anualmente no acompanhamento de rotina da próstata? ( ) sim ( ) não, porque? ____________________________________________________________ ( ) não se aplica 13. Você já teve câncer de próstata? ( ) sim ( ) não ( ) não se aplica 14. Na família há casos de câncer de próstata? ( ) sim ( ) não Vacinação 15. Seu cartão de vacina está em dia? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ 16. Você se vacinou contra a rubéola nesta última campanha? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ 77 17. Você acha que a vacina contra a rubéola em homens não faz diferença no controle da transmissão desta doença? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ 18. Caso você não tenha tomado a vacina durante a campanha de vacinação, e após esclarecido a importância da imunização, você iria aderir a vacina contra a rubéola? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ 19. Durante a Campanha de Vacinação contra a rubéola do Ministério da Saúde você teve dificuldade de entender as orientações passadas para os homens? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ Atendimento nos serviços de saúde 20. Sobre os profissionais de saúde que o atenderam, responda: SIM NÃO Ouviram e compreenderam o seu problema de saúde Perguntaram sobre as condições de vida e saúde da sua família Orientaram sobre o tratamento e cuidados com a saúde de forma compreensível Pediram sua opinião sobre os tratamentos e cuidados prescritos Resolveram seu problema de saúde Orientaram a procurar outro serviço de saúde Encaminharam-no para outro serviço de saúde Você acha que os profissionais deste serviço conseguem resolver a maior parte dos seus problemas de saúde? 21. Você considera que há falta de posturas de alguns profissionais de saúde nos serviços que procura? ( ) sim ( ) não, se sim porque? ___________________________________________________________ 22. Por que você ESCOLHEU esse serviço de saúde? ( ) Foi orientado pelo Agente Comunitário de Saúde da área ( ) Foi indicação/solicitação de outros serviços de saúde ( ) Foi encaminhado formalmente de outros serviços ( ) Por decisão própria, da família ou de terceiros ( ) Conhecem pesos nesse serviço que facilitam o acesso ( ) Esse é o serviço de saúde mais próximo da sua residência ( ) O atendimento aqui é mais rápido ( ) É o único existente ( ) É o máximo do local de trabalho e/ou estudo ( ) Sou cadastrado nesse serviço ( ) Outro motivo 23. Você acha que a prevenção é o melhor remédio? Porquê? ( ) sim ( ) não, se não porque? ___________________________________________________________ 24. Você já precisou mentir sobre o local de residência para ser atendido nesse serviço? ( ) sim ( ) não ( ) não se aplica 25. Quanto tempo você leva para conseguir a consulta médica que você precisa neste serviço? ( ) Menos de 4h ( ) Entre 1 e 3 dias ( ) Mais de 15 dias ( ) Entre 4h e 12h ( ) Entre 3 e 5 dias ( ) Menos de um mês ( ) Entre 12h e 24h ( ) Mais de uma semana ( ) Mais de 1 mês 26. Que avaliação você faz do atendimento recebido nesse serviço: Recepção ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim/péssimo ( ) não se aplica 78 Qualidade de vida 27. Você considera que sua alimentação está dentro dos parâmetros saudáveis recomendados atualmente? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ 28. Você se considera, hoje, totalmente saudável? ( ) sim ( ) não, se não porque? _______________________________________________________ 29. Você se considera estressado? ( ) sim ( ) não 30. O que você mudaria na sua rotina para melhorar sua qualidade de vida? __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 79 ANEXO APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA EM SERES HUMANOS SES-DF. 80 81