SAÚDE DO HOMEM NO ÂMBITO DA
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
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1
Maria das Graças Laurentino Silva ; Ana Lúcia Teixeira de Lima , Luzinete Nascimento da Silva
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3
Flôr¹, Léa Cristina Almeida Reul , Iaponira Cortez Costa de Oliveira
¹ Auxiliares de Enfermagem/Universidade Federal da Paraíba(UFPB); Mestrandas em Saúde coletiva e gestão
hospitalar(FACNORTE)
2
Enfermeira/Universidade Federal da Paraíba(UFPB); Mestrandas em Saúde coletiva e gestão hospitalar(FACNORTE)
3
Enfermeira. Professora de Enfermagem Escola Técnica de Saúde/UFPB. Doutora em Administração Hospitalar- UEX/
Espanha
RESUMO
Os homens precisam se reconhecer e também serem reconhecidos pela
sociedade, como portadores de direito à saúde, conforme a posição que
ocupam na estrutura social e econômica. Trata-se de um estudo qualitativo
com 10 homens usuários de um serviço de saúde público. O procedimento de
análise envolveu a modalidade de análise temática de Bardin. Teve o objetivo
de compreender a saúde do homem no âmbito da assistência de enfermagem.
Após as transcrições e análise das entrevistas emergiram duas categorias:
1)rede básica inadequada e 2) saúde do homem relacionada à cultura;
após a análise das entrevistas constatou-se para a primeira categoria que a
população masculina têm dificuldades em relação ao acesso aos serviços de
saúde e, à segunda, uma postura cultural de que o homem pouco adoece.
Acredita-se que a enfermagem exerce papel importante na saúde no âmbito da
promoção, prevenção, diagnóstico e recuperação devendo buscar estratégias
que facilitem a inclusão do homem ao serviço de saúde. Por ser um assunto
que envolve a questão de gênero, se faz necessário aprofundar os estudos
nessa temática considerando que as políticas públicas ainda não priorizam às
necessidades masculinas
Palavras-chave: Saúde do homem. Assistência de Enfermagem. Cultura.
INTRODUÇÃO
Apesar dos poucos investimentos governamentais para formular e
executar programas de políticas públicas de saúde para homem, em 2008 foi
instituído pelo Ministério da Saúde a área técnica de saúde do homem. No ano
seguinte, foi implantada a Politica Nacional de Atenção Integral a Saúde do
homem (PNAISH ) para ampliar o acesso do público masculino ao serviço de
saúde através de ações que constituem a compreensão da realidade masculina
nos diversos contextos, sociocultural, politico e econômico.
Para favorecer a implantação de serviços que atenda o homem em sua
especificidade faz-se necessário uma estruturação de base acerca do
acolhimento no contexto do cuidar, de uma atenção voltada para a saúde
masculina
e também gerar estratégias educativas que possam subsidiar o
acesso dessa população às instituições hospitalares para realização de
exames preventivos sem os exageros de fatores burocráticos.
Estudos de pesquisa comparativos entre homens e mulheres (Carrara;
Russo; Faro, 2009), têm demonstrado que os homens são mais vulneráveis às
doenças e lideram o índice de morbimortalidade, talvez por só procurarem o
serviço de saúde quando ocorre o agravamento da doença e em alguns casos
necessitam de internação. De acordo com Gomes et al.,( 2007), para justificar
a ausência masculina nos serviços de saúde, dentre os diversos fatores
elencados, o que mais se destaca é o fato da cultura de que o homem está
relacionado à despreocupação do auto cuidar e com a saúde.
Além do mais, os homens preferem serviços que supram suas
necessidades de saúde rapidamente, tais como: farmácia e pronto socorro,
onde os atendimentos são rápidos e realizados com maior facilidade. Neste
sentido, o Ministério da Saúde (2008) assevera que um fator que se vincula a
esta problemática é a forte dificuldade de os homens em reconhecer suas
próprias necessidades em saúde, cultivando o pensamento que rejeita a
possibilidade de adoecer, prevalecendo a questão cultural da invulnerabilidade
masculina, de seu papel social de provedor e de herói. Para Schraiber et al.,
(2010),
alia-se a isso a estruturação histórica do acesso aos serviços de
atenção básica, que são direcionados para atender mulheres e crianças, com
horários que coincidem com as jornadas laborais dos trabalhadores.
Fica evidente que o homem só procura assistência médica após a
doença instalada ignorando totalmente a ação da assistência preventiva. Esse
também pode ser considerado um dos motivos da superlotação nos hospitais
públicos o que gera transtornos não só financeiros, mas físico e psíquicos para
o paciente e seus familiares, além de onerar muito a instituição hospitalar o que
poderia ser evitado se não houvesse essa procura tardia ao serviço de saúde.
Segundo a PNAISH, os princípios da humanização e qualidade do
atendimento devem possibilitar melhoria do grau de resolutividade dos
problemas e acompanhamento do usuário pela equipe de saúde; Informações
e orientação à população-alvo, aos familiares e a comunidade sobre a
promoção, prevenção e tratamento dos agravos e das enfermidades do
homem; Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o atendimento do
Homem (BRASIL, 2008).
O Conselho Federal de Enfermagem-COFEN estabelece que os
enfermeiros, na abrangência de suas competências, realizam a consulta de
enfermagem identificando situações de saúde/doença,
prescrevendo e
implementando medidas de Enfermagem para a promoção da saúde,
prevenção de doenças, proteção da saúde, recuperação e reabilitação do
indivíduo, família e comunidade; modelo assistencial que se adequa às
condições e necessidades de saúde da população. Logo, a enfermagem tem
papel importante junto à população masculina em minimizar barreiras,
especialmente a do imaginário social com ações focadas na PNAISH buscando
a captação desses usuários ao serviço para um cuidar humanizado.
A escolha do tema para elaboração desse estudo surgiu após ouvir
relatos de alguns usuários de um serviço público sobre a assistência de saúde
prestada a população masculina. No entendimento das pesquisadoras é
importante que o paciente tenha uma assistência de qualidade que
corresponda as suas necessidades.
Diante do exposto, questiona-se: quais as dificuldades que os usuários
homens têm para o acesso ao serviço de saúde e o cuidar de si? A
problemática acerca da saúde do homem revela a importância da realização
deste estudo principalmente pela preocupação de a enfermagem elaborar
estratégias de inclusão desses pacientes a partir do próprio serviço. Neste
sentido, o estudo teve como objetivo compreender a saúde do homem no
âmbito da assistência de enfermagem.
METODOLOGIA
Pesquisa com abordagem qualitativa desenvolvida no período de janeiro
de 2015, com cinco pacientes atendidos no Ambulatório do Serviço de Urologia
de uma instituição pública de João pessoa-Paraíba. Utilizou-se como
instrumento um roteiro de entrevista com as seguintes perguntas norteadoras:
1) A atual rede básica de saúde está adequada às necessidades da população
masculina? 2) Por questões culturais o homem é visto pela sociedade como um
ser invulnerável, imune a qualquer adoecimento. Isso contribui para que ele se
descuide de sua saúde? .
Procedimento de análise: as entrevistas foram transcritas e a análise
de conteúdo envolveu a modalidade de análise temática de Bardin (1977),
resultando na definição dos principais conteúdos e temas das respostas
obtidas dos participantes. Vale ressaltar que foi explicado para os pacientes da
pesquisa o objetivo da mesma e apresentado o Termo de consentimento Livre
e Esclarecido TCLE, já que se trata de pesquisa com seres humanos. Após
leitura do termo foi assinado em duas vias, sendo uma para o paciente e outra
para a pesquisadora responsável. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade
Federal da Paraíba, sob o nº do Certificado de Apresentação e Aceite Ético –
CAAE: 36017414.3.0000.5183
RESULTADO E DISCUSSÃO
Após as transcrições e análise das entrevistas emergiram as seguintes
categorias: rede básica inadequada (oriunda do primeiro questionamento) e
saúde do homem relacionada à cultura (do segundo questionamento).
Em relação aos conteúdos das falas dos participantes emergiu, na sua
maioria, uma conotação negativa ao primeiro questionamento: a atual rede
básica de saúde está adequada às necessidades da população masculina?
“(...)Não porque há filas, muita demora e desisto (.... )É revoltante, desde as
sete horas que estou aguardando uma consulta já são doze horas o médico não
chegou, isso não é a primeira vez que ocorre . Já não suporto mais esse desrespeito
sou um cidadão pago impostos e tenho direito de reclamar (...)” (P.1)
“(....)Não. Porque há desigualdade entre homens e mulheres em relação as
campanhas: há campanha para as mulheres sobre muita coisa e para o homem quase
nada...se o SUS é igual por que não é igual em tudo (...)” (P.2)
“(...)É demorado para ser atendido e, não posso esperar devido ao trabalho
Volto sem o atendimento em razão do trabalho, por isso vou para a farmácia para
comprar medicamentos e não volto mais para os hospitais, pois há perda de dia de
trabalho e desconto nos salários. Meu tempo é corrido preciso trabalhar para levar o
sustento para minha família. (...)” (P.3)
“(...)Sim. Saio do sítio e sou atendido na cidade (P.4)
“(...) Pouco. A saúde é esquecida em razão dos desmandos, dos desvios de
dinheiro público não chegando a gente que precisa(...)” (P.5)
Percebe-se que na categoria 1)rede básica inadequada – os conteúdos
remetem às questões relativas às dificuldades no acesso, demora em realizar
uma consulta e falta de resolutividade dos serviços contribuindo como fatores
influenciadores para a desistência dos homens de cuidar de sua saúde.
Na visão dos autores (Gomes et al.,( 2007); (Schaiber, et al. 2010), os
homens se queixam da dificuldade de acesso ao serviço assistencial alegando
que para marcação de consultas, há de se enfrentar filas intermináveis,
ocasionando a perda de um dia inteiro de trabalho sem que necessariamente
tenha sua demanda resolvida em uma única consulta.
Na realidade, segundo Gomes (2003), as barreiras institucionais são
utilizadas pelos homens para justificarem medos, anseios, insegurança de
procurarem assistência nos serviços de saúde, alegando que: o funcionamento
do serviço coincide com o horário de trabalho. Dificuldade de enfrentar filas
imensas para marcarem uma consulta os mesmos alegarão indisponibilidade
de tempo, além da localização do serviço.
O outro tópico da categoria 2)saúde do homem relacionada à cultura
denota as percepções dos homens sobre o cuidar de si, revelando que,
culturalmente ainda permanece a prerrogativa de que o homem é um ser
invulnerável, imune ao adoecimento, como relevam as respostas apresentadas:
“(...)Sim. O homem não tem tempo e doença é para mulher, homem que é homem
não adoece, a mulher adoece porque não procura o que fazer e fica botando coisa na cabeça
(...)” (P1)
“(...)Sim. Não acredita muito no médico pois não sente nada e o médico descobre
várias doenças e quando o médico fala o homem adoece mesmo(...)” (P.2)
“(...)Sou vai ao médico quando está muito doente, pois um medicamento na farmácia
já resolve , né (...)”(P.3)
“(...)Só em pensar fazer aquele exame, o homem já foge de médico(...)” (P.4)
“(...)Muitos homens só vão ao médico quando já estão doentes mesmo. Não querem
se preocupar em ir ao médico de vez em quando (...)” (P.5)
Procurando reconhecer os motivos que levam o publico masculino a não
procurar os serviços de atenção primaria à saúde, identificou-se, na maioria
das respostas que a realidade do homem é totalmente diferente da realidade
da mulher. Para o homem não é comum permanecer no serviço de saúde
aguardando ser atendido enquanto o trabalho o aguarda; às vezes para fazer
um simples exame perde um dia de serviço, mesmo diante da declaração de
comparecimento à consulta médica o empregador o chama à atenção para
que não se repita tal situação.
Considerando o contexto cultural, ficou claro que o processo cultural
influencia no adoecimento do homem a partir do momento que o homem
cultua valores herdados da família patriarcal e esses valores interferem no
cuidar da própria saúde como relatam os autores (Braz, 2005; Gomes,
Nascimento e Araújo, 2007), quando se referem as questões da masculinidade
hegemônica, onde o homem é o ser forte, capaz, protetor decidido, corajoso.
Essas são atribuições enraizadas desde a tenra idade, onde o homem é
responsável por repassar através de gerações esse legado de crenças e
valores, cultuados pela sociedade reforçando tal comportamento, diferenciando
padrões de oposição entre os gêneros.
Embora existam diversos fatores que contribuam para as dificuldades de
acesso da população masculina aos serviços de saúde é possível entender que
ainda existem a forte influência cultural no imaginário dos homens. Urge, pois,
organizar uma assistência de saúde que atue no processo educativo da
população masculina em relação ao cuidar de si e no enfrentamento dos
fatores desencadeadores do risco da morbimortalidade.
É preciso que a enfermagem compreenda as singularidades dos
usuários homens que procuram o serviço de saúde de propiciando-lhes uma
assistência acolhedora e resolutiva.
COSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo possibilitou obter informações valiosas sobre os problema e
desafios enfrentados em relação à saúde do homem e, que certamente não
terão soluções imediatas. A superação dependerá da forma de enfrentamento
dos fatores desencadeadores de risco em vários níveis.
A saúde do homem no âmbito da assistência de enfermagem requer
conhecimento das vulnerabilidades dessa população, uma postura ética e
educativa especialmente no primeiro contato do paciente ao serviço de saúde.
Neste sentido, a enfermagem, pode contribuir muito com ações educativas
inclusivas
priorizando
as
especificidades
da
população
masculina,
reorganizando o atendimento de forma fácil, minimizando a burocracia a fim de
incluí-los no processo de valorização do cuidar de si mesmo.
Por ser um assunto que envolve a questão de gênero, se faz necessário
aprofundar os estudos nessa temática considerando que as políticas públicas
ainda não priorizam às necessidades masculinas.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa (Portugal), 1977.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de saúde de atenção à saúde. Departamento de
ações programáticas estratégicas: politica de atenção à saúde do homem. Princípios e
diretrizes. Brasilia, 2008.
BRAZ, M. A constituição da subjetividade masculina e seu impacto sobre a saúde do homem:
reflexão bioética sobre justiça distribuitiva. Ciência. Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n. 1,
p.97-104, ago. 2005.
CARRARA. S.; RUSSO, J.; FARO, L.A. A política de atenção à saúde do homem no Brasil: os
paradoxos da medicalização do corpo masculino. Rev. Saúde pública, Rio de Janeiro, v.19, n.
5, p. 657-78, 2009.
GOMES, R; NASCIMENTO, E. F.; ARAÚJO, F. C. Por que os homens buscam menos os
serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e
homens com ensino superior. Cad. Saúde Pública, Rio de janeiro, v. 23, n. 3,p. 565-72, mar.
2007.
GOMES, R. Sexualidade masculina e saúde do homem: proposta para uma discussão.
Ciência. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, p. 825-9, set, 2003.
SCHRAIBER LB, FIGUEIREDO, W.S; GOMES, R.; COUTO, M.T; PINHEIRO T.F, MACHIN,
R. et al. Necessidades de saúde e masculinidades: atenção primária no cuidado aos homens.
Cad Saude Publica. [on- line]. 2010 maio; [citado 2011 abr 04]; 26(5): 961-70. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v26n5/18.pdf.
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