UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO INSTITUTO QUALITTAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA EM ANIMAIS SELVAGENS E EXÓTICOS OSTEOMA EM Amazona aestiva. - RELATO DE CASO João Felipe Rito Cardoso Rio de Janeiro, ago. 2008 João Felipe Rito Cardoso Aluno do Curso de Especialização Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens e Exóticos do Instituto Qualittas OSTEOMA EM Amazona aestiva. - RELATO DE CASO Trabalho monográfico de conclusão do curso de Especialização latu sensu em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens e Exóticos (TCC), apresentado à UCB e ao Instituto Qualittas como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Clínica e Cirurgia de Animais Selvagens e Exóticos, sob orientação do Prof. Mário Antônio Pinto Romão Rio de Janeiro, ago. 2008. OSTEOMA EM Amazona aestiva. - RELATO DE CASO Elaborado por João Felipe Rito Cardoso Aluno do curso de Pós Graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens e Exóticos do Instituto Qualittas Foi analisado e aprovado com grau................................................... Rio de Janeiro, _____ de _______ de ____. _________________________ Membro _________________________ Membro ______________________________ Professor Orientador Presidente Rio de Janeiro, ago. 2008. ii Dedico este trabalho a meus familiares, amigos, a minha namorada e aos animais que precisam de nossos empenho profissional. iii Agradecimentos Agradeço a minha mãe Cléa, meu pai João e a minha avó Maria – que sempre me apoiaram e rezaram por mim; à minha eterna e querida namorada Célia por toda a paciência e companheirismo nessa caminhada. Agradeço aos meus professores, Dr. Marcelo Levy, Dra. Rosana, Dra. Graça Danelli e ao Prof, Mario Antonio Romão, por todo ensinamento passado e por me mostrarem a importância e a responsabilidade da vida profissional. Iv CARDOSO, João Felipe Rito Osteoma em papagaio verdadeiro (Amazona aestiva). Relato de caso. Resumo: Apesar da prevalência de neoplasia em papagaios e outras aves não ser bem documentada, a incidência de neoplasias benignas ou malignas está aumentando na rotina clínica de médicos veterinários de animais selvagens. Osteomas são neoplasias geralmente benignas que podem se originar no crânio, escápula, tarsometatarsus e articulação humero-radioulnar. Este relato estuda um caso clínico de um papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) apresentando aumento unilateral na cera submetido à avaliação radiográfica e diagnóstico histopatológico. Osteoma in blue-fronted parrot (Amazona aestiva). Case report. Abstract: Despite the prevalence of neoplasm in parrots and other birds is not well documented, the incidence of benign or malignant neoplasms in routine clinical veterinary doctors of wild animals is increasing. Osteomas are usually benign tumors that appear in the skull, scapula, tarsometatarsus and articulation humero-radioulnar. This report examines a clinical case of a blue fronted parrot (Amazona aestiva) with unilateral increase in wax, with radiographic and histopatologic studies. v SUMÁRIO Página Resumo.............................................................................. v Lista de Figuras................................................................... vii Lista de Abreviaturas........................................................... viii Parte 1. Introdução ........................................................................... 1 2. Relato de Caso.................................................................... 3 2.1. Exame radiológico....................................................... 5 2.2. Procedimento Cirúrgico............................................... 7 2.3. Exame histopatológico................................................. 8 Discussão........................................................................... 10 4. Referências Bibliográficas................................................... 13 4.1. Obras Citadas.............................................................. 13 4.2. Obras Consultadas...................................................... 15 3. vi LISTA DE FIGURAS Figuras Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Pagina Papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho, apresentando aumento da cera sobre a narina esquerda (seta)............................................................................ Papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho, em perfil lateral direito com normalidade da narina direita............................................................................. Figura 3 - Radiografia simples em posição ventro-dorsal de papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho; presença de estrutura radiopaca, circunscrita, no seio frontal esquerdo (seta)................................................................. Radiografia simples em posição lateral de papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho; presença de estrutura radiopaca no seio frontal (seta).................................... Papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho, sendo submetido à anestesia inalatória com isofurano...................................................................................... Remoção cirúrgica de amostra do tecido tumoral da cera sobre a narina esquerda de papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho..................................................... Osteoma em seio frontal de Amazona aestiva macho com 24 anos de idade. Observar osteoblastos monomórficos (seta) associados à ponte óssea bem formada. H.E. 400X................... Osteoma em seio frontal de Amazona aestiva macho com 24 anos de idade. Observar infiltrado perivascular de mononucleares (setas) na derme superior. H.E. 400X................ vii 4 4 5 6 7 8 9 9 LISTA DE ABREVIATURAS sid................................. Uma vês ao dia. mg............................... Miligrama H.E................................ Hematoxilina e eosina Viii 1. Introdução Neoplasias são proliferações celulares anormais, incontroláveis e progressivas em qualquer tecido ou órgão (LATIMER, 1994). Suas classificações e nomenclaturas são baseadas nos tecidos de origem e critérios de malignidade. Existem registros de neoplasias em aves de cativeiro, ao contrário de aves de vida livre; isso provavelmente ocorre por terem um período de vida mais longo, predisposição genética por cruzamento e por serem observadas mais de perto. Entretanto, pouco se sabe a respeito das etiologias, fatores de predisposição, evolução, comportamento biológico ou tratamento para aves (LATIMER, 1994). Estudos retrospectivos feitos na Universidade Paranaense entre 1974 e 1996, relatam nove casos de neoplasias em aves, sendo a maioria (77%) de caráter maligno (WERNER et al., 1998). O surgimento de neoplasias ósseas em aves é observado ocasionalmente, acometendo geralmente ossos longos. As principais neoplasias ósseas relatadas em aves são o osteossarcoma e o osteoma, sendo que o osteossarcoma tem uma freqüência 3,5 vezes maior que o osteoma (LIU et al., 1982). Os osteomas são lesões osteoblásticas ativas, freqüentemente benignas, caracterizadas por seu pequeno tamanho, com bordos claramente delimitados e a presença freqüente, mas não constante, de uma zona periférica de neoformação óssea reativa; podem se originar no crânio, escápula, tarsometatarsus e articulação úmero-radio-ulnar (SCHAAF et al., 2007). Em pacientes humanos, osteomas são considerados relativamente comuns, benignos, de crescimento lento e freqüentemente assintomáticos (STREK, 2007) ocorrendo principalmente no complexo maxilofacial (FOBE et al., 2002 ) e seios paranasais (SAVIĆ, DJERIĆ, 1990; NAMDAR et al., 1998; FOBE et al., 2002; STREK et al., 2007); sua origem tem sido relacionada ao mal desenvolvimento de tecidos embrionários, trauma ou infecção sendo constituídos de osso compacto ou esponjoso com componentes vascular ou tecido conectivo; complicações do crescimento relacionam-se a processos obstrutivos e deslocamento de estruturas anatômicas (NAMDAR et al., 1998). Apesar de sua importância na rotina clínica, a prevalência de neoplasias em papagaios e outras aves não é bem documentada e poucos relatos são encontrados na literatura. Possivelmente em função da redução do espaço em residências urbanas, o numero de aves criadas como animais de estimação / companhia têm aumentado e com isso, a incidência de neoplasias benignas ou malignas esta aumentando na rotina de atendimento na clínica de animais selvagens. O objetivo deste relato é apresentar um caso de osteoma em papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) descrevendo seus aspectos clínicos e conduta diagnóstica. 2. Relato de Caso: Um papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho, pesando 400 gramas, com bom escore corporal, mantido em domicílio, foi atendido na Clínica Veterinária Zona Sul, na cidade do Rio de Janeiro, apresentando edema da cera, descarga nasal catarral abundante a ponto de promover obstrução das narinas, há dois anos. Inicialmente foi enviada amostra da secreção para exame de cultura com antibiograma a partir da qual foi implantada antibioticoterapia especifica com 15 mg de enrofloxacina, via oral, sid por 30 dias, 0.5 mg de piroxicam, via oral, sid por três dias e limpeza diária das narinas com soro morno; havendo desaparecimento da secreção após cerca de 15 dias de tratamento, mas sem haver diminuição do edema da cera. Ao término da terapia houve reaparecimento da secreção nasal, suspeitando-se de clamidiose (Chlamydia sp.); foi sugerido a confirmação laboratorial por meio de exame de PCR, mas o proprietário da ave não realizou o mesmo. Há este tempo, implementou-se o tratamento com 20 mg de doxiciclina sid por 30 dias que propiciou melhora dos sinais clínicos (remissão da secreção). Após dois meses desse tratamento, a ave começou a apresentar entumescimento unilateral na cera, mais especificamente no lado esquerdo do bico, de consistência dura, aderida e sem dor a palpação medindo aproximadamente cinco milímetros. Figura 1 - Papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho, apresentando aumento da cera sobre a narina esquerda (seta). Figura 2 - Papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho, em perfil lateral direito com normalidade da narina direita. 2.1. Exame radiológico Suspeitando-se de uma neoplasia, foi realizado um exame radiográfico empregando-se as posições lateral e ventrodorsal onde foi observado um aumento de volume e presença de moderada reação osteoesclerótica no seio nasal esquerdo e terço proximal do bico que sugeriam neoplasia óssea, além de perda da radiotransparência dessa estrutura. Figura 3 - Radiografia simples em posição ventro-dorsal de papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho; presença de estrutura radiopaca, circunscrita, no seio frontal esquerdo (seta). Figura 4 - Radiografia simples em posição lateral de papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho; presença de estrutura radiopaca no seio frontal (seta). A partir do diagnóstico presuntivo pelo exame radiográfico e por tratar-se de lesão de pequena dimensão, considerou-se a punção aspirativa por agulha fina. Entretanto, o emprego do mesmo não proveria material suficiente para diagnóstico citopatológico. Então, optou-se pela remoção cirúrgica. 2.2. Procedimento Cirúrgico Para a realização do procedimento cirúrgico, o papagaio foi submetido à anestesia geral inalatória com emprego do isofurano que promoveu plano e duração anestésica adequada e suficiente para remoção cirúrgica da tumoração. Figura 5 - Papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho, sendo submetido à anestesia inalatória com isofurano. A cirurgia iniciou-se com incisão sobre a área aumentada com divulção de tecidos moles até a superfície óssea, de modo a expor a tumoração que foi removida com auxílio de uma cureta óssea. A incisão cirúrgica foi suturada com fio absorvível 3-0 (vicryl®) com pontos simples em “U”. Figura 6 - Remoção cirúrgica de amostra do tecido tumoral da cera sobre a narina esquerda de papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) com 24 anos de idade, macho. 2.3. Exame histopatológico A amostra colhida foi fixada em formol neutro a 10% e enviada ao laboratório Plasma para realização de exame histopatológico. O tecido foi processado segundo as técnicas habituais para inclusão em parafina, laminado em 5µ e posteriormente corado pela hematoxilina e eosina (H.E.). O resultado laboratorial da analise histopatológica descreveu uma ponte óssea bem formada, com alguns osteoblastos bem diferenciados adjacentes e infiltrado discreto de mononucleares. Observou-se também epitélio estratificado queratinizado com infiltrado de mononucleares subjacente, sugerindo diagnóstico de osteoma. Figura 7- Osteoma em seio frontal de Amazona aestiva macho com 24 anos de idade. Observar osteoblastos monomórficos (seta) associados à ponte óssea bem formada. H.E. 400X. Figura 8- Osteoma em seio frontal de Amazona aestiva macho com 24 anos de idade. Observar infiltrado perivascular de mononucleares (setas) na derme superior. H.E. 400X. Entretanto, a presença de material ósseo encontrado na amostra também pode estar associada a uma metaplasia e o diagnóstico diferencial ficou impossibilitado pelo tamanho da amostra. 3. Discussão Na literatura em geral e, particularmente na consultada, os autores não descrevem os aspectos clínicos a serem observados em pacientes portadores de neoplasias; genericamente refere-se a alterações da arquitetura anatômica regional com possível diminuição ou, até mesmo, perda de função. No caso citado, as manifestações clínicas observadas enquadram-se neste caráter genérico, não possibilitando de imediato, suspeitar de processo neoplásico. A abundância e o caráter reicidivante da secreção nasal ao promoverem obstrução das narinas implicaram em comprometimento da função respiratória; este processo obstrutivo é citado por NAMDAR et al. (1998) em pacientes humanos. Somente numa fase mais tardia ao se observar entumescimento de consistência dura, aderida e sem dor a palpação unilateral na cera, mais especificamente no lado esquerdo do bico, foi possível aventar a hipótese de neoplasia. Suspeitando-se de neoplasia com possível acometimento do sistema esquelético, o exame radiográfico é de primeira escolha e imprescindível para diagnóstico de modo a orientar a conduta clínico-terapêutica. Este exame é também recomendado pela maioria dos autores consultados. As imagens radiográficas revelando aumento de volume e presença de moderada reação osteoesclerótica no seio nasal esquerdo e terço proximal do bico corroboraram a suspeita clínica de neoplasia óssea e nortearam a conduta subseqüente. A suspeita clínica, ainda que apoiada por exame radiográfico, de processo neoplásico deve, conforme citado enfaticamente na literatura e em geral seguida pela rotina, ser confirmada por exame cito ou histopatológico. Quanto ao tratamento, a literatura é algo conflitante. LATIMER (1994) propõem que o tratamento de escolha seja a remoção cirúrgica, enquanto outros autores como GUNTA et al. (2004) sugerem que o tumor não seja incomodado. No caso presente, tanto para extirpação quanto para a coleta de amostra de tecido implicariam em procedimento cirúrgico e para ambos, necessário todo o processo anestésico; a opção da equipe médico veterinária, baseada no tamanho do tumor e nos sinais clínicos apresentados, foi de não realizar total remoção do tumor já que a maior parte do mesmo apresentava-se na camada córnea do bico e provocaria uma ferida cirúrgica mutilatória que impediria a ave de alimentar-se normalmente, diferentemente de STREK et al. (2007) que afirmam ser fácil e radical a ressecção de osteomas de tamanhos pequeno a médio em seios nasais de pacientes humanos através de técnica endoscópica. O procedimento anestesiológico empregado, o qual é classicamente descrito na literatura, promoveu plano e duração anestésica adequada e suficiente para coleta cirúrgica de amostra da tumoração para diagnóstico histopatológico. Para LIU et al. (1982) as principais neoplasias ósseas em aves são o osteossarcoma e o osteoma, sendo o primeiro mais prevalente. SCHAAF et al. (2007) referem-se aos osteomas como lesões osteoblásticas ativas, freqüentemente benignas, de pequeno tamanho e bordos delimitados e freqüentemente apresentando zona periférica osteoesclerótica reativa; citam como localização, sem indicar preferência, crânio, escápula, tarsometatarsus e articulação umero-radio-ulnar. Contrariamente, em pacientes humanos há nítida localização preferencial pelo complexo maxilofacial ( FOBE et al., 2002) e seios paranasais (SAVIĆ, DJERIĆ 1990; NAMDAR et al., 1998; FOBE et al., 2002; STREK et al., 2007). No caso presente, localizava-se na região paranasal. Os osteomas são neoplasias ósseas de caráter benigno, de pequeno tamanho geralmente encontrados na superfície de ossos longos, chatos ou nos ossos craniais, usualmente compostos por ossos duros e compactos (ivory osteoma) ou ossos esponjosos (cancellous) (GUNTA et al., 2004). Histopatologicamente, são pequenos nódulos bem encapsulados compostos de trabéculas ósseas desorganizadas aderidas ao osso adjacente. No caso ora descrito, associando os achados histopatológicos aos aspectos macroscópicos e histórico, assim como os relatos da literatura consultada, pode-se concluir tratarse de osteoma. Considerando que a presença de material ósseo encontrado na amostra poderia estar associada a uma metaplasia, se fazia necessário outros procedimentos histopatológicos para um diagnóstico diferencial. Entretanto, devido à exigüidade da amostra, não foi possível esta etapa. Deve ser levado em conta que, nesses pacientes há em geral e especificamente neste caso, dificuldade de obtenção de material em quantidade suficiente para diagnóstico quer seja primário ou diferencial. 4. Referência Bibliográfica: 4.1. Obras Citadas: FOBE, L. P. O.; MELO, E. C.; CANNONE, L. F.; FOBE, J. Cirurgia de Osteoma de Seio Frontal. Arq. Neuro-Psiquiatr. v.60 no.1, p. 101 – 105, 2002. GUNTA, K. 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