José Luis Plasencia Cabanillas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Deposição de Parafina em Escoamento Laminar na Presença de Cristais em Suspensão Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Engenharia Mecânica da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientador: Prof. Luis Fernando Alzuguir Azevedo Rio de Janeiro, Abril de 2006 José Luis Plasencia Cabanillas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Deposição de Parafina em Escoamento Laminar na Presença de Cristais em Suspensão Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pósgraduação em Engenharia Mecânica do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada Prof. Luis Fernando Alzuguir Azevedo Orientador Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Prof. Paulo Roberto de Souza Mendes Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Dr. Geraldo Spinelli Martins Ribeiro CENPES/PETROBRAS Prof. José Eugenio Leal Coordenador Setorial do Centro Técnico Científico – PUC-Rio Rio de Janeiro, 07 de Abril de 2006 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e do orientador. José Luis Plasencia Cabanillas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Graduou-se em Engenharia Mecânica no Dpto. de Engenharia Mecânica da UNT (Universidad Nacional de Trujillo, Trujillo-Perú) em 2002. Ficha catalográfica Plasencia Cabanillas, José Luis Deposição de parafina em escoamento laminar na presença de cristais em suspensão / José Luis Plasencia Cabanillas ; orientador: Luis Fernando Alzuguir Azevedo. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, Departamento de Engenharia Mecânica, 2006. 128 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Mecânica. Inclui referências bibliográficas. 1. Engenharia mecânica – Teses. 2. Deposição de parafina. 3. Dutos submarinos. I. Azevedo, Luis Fernando Alzuguir. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Mecânica. III. Título. CDD: 621 À minha esposa Sara e minha Família. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Agradecimentos A Deus por cada novo dia. Ao meu orientador, Professor Luis Fernando Azevedo por sua dedicação, confiança e amizade concedida ao longo do curso. A Andréa Leiroz pelo constante apoio durante o desenvolvimento do presente trabalho. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Aos professores do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio pelos ensinamentos que contribuíram na minha formação. Aos colegas e funcionários pela hospitalidade e apoio. Aos amigos do Laboratório de Mecânica dos Fluidos, muito obrigado pela ajuda e amizade. A todos os amigos que com seu apoio e amizade contribuíram para que minha permanência seja muito agradável. Finalmente minha gratidão à CAPES e à PUC-Rio pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado. Resumo Plasencia Cabanillas, José Luis; Azevedo, Luis Fernando Alzuguir. Deposição de Parafina em Escoamento Laminar na Presença de Cristais em Suspensão. Rio de Janeiro, 2006. 128p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Engenharia Mecânica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A tendência da produção offshore do petróleo é crescente. O transporte do óleo nestes ambientes frios (águas profundas) ocasiona a perda de solubilidade e precipitação das parafinas de alto peso molecular. A deposição de parafinas nas paredes internas das linhas é um problema crítico para o transporte do óleo, causando o bloqueio parcial ou total da linha, um incremento da potência de bombeamento e elevados custos de manutenção que são PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA proporcionais ao aumento da lâmina de água. A pesquisa bibliográfica realizada neste trabalho revela que ainda existem discordâncias entre os pesquisadores sobre a relevância de cada um dos mecanismos de deposição de parafina conhecidos. O melhor entendimento dos mesmos resultaria em previsões mais acuradas das taxas de deposição que seriam muito importantes para orientar programas de manutenção e o projeto de novas linhas. A filosofia do presente trabalho é realizar experimentos simples, com propriedades de fluido conhecidas e condições de contorno bem controladas procurando um melhor entendimento da importância e relevância de cada um dos mecanismos de deposição. Para este fim, foram realizadas experiências de visualização do fenômeno de deposição para uma mistura de óleo-parafina escoando em regime laminar, submetida a diferentes condições de temperatura. Experiências feitas com cristais de parafina precipitados em suspensão mostraram que é necessário um fluxo de calor negativo para produzir deposição. Para fluxos de calor zero e positivo não foi visualizada deposição alguma. Adicionalmente, para condições de fluxo de calor negativo, foram realizadas medições da evolução temporal da espessura da camada depositada tendo como variáveis, diferentes números de Reynolds e gradientes de temperatura. Os perfis de deposição obtidos das experiências realizadas são informação importante e original que podem ser utilizadas para validação de modelos de simulação numérica. Palavras-chave Deposição de parafina, dutos submarinos. Abstract Plasencia Cabanillas, José Luis; Azevedo, Luis Fernando Alzuguir. Wax deposition in Laminar Flow with Suspended Crystals. Rio de Janeiro, 2006. 128p. MSc. Dissertation – Departamento de Engenharia Mecânica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Offshore crude oil production is steadily growing. Oil transport in these cold environments (deep water) causes the precipitation of the heavy organic crude oil components like waxes. Wax deposition at the inner wall of pipelines is a serious problem in crude oil transportation causing the partial or total plugging of pipelines, increase in pumping energy and a high cost of maintenance that is proportionally greater as development depth increases. A literature research conducted in the present work leads to the conclusion that the relative PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA importance of the wax deposition mechanisms is still misunderstood. The importance of this knowledge will result in more accurate prediction of paraffin deposition rates that would be very important to sub sea pipelines maintenance and design. The philosophy of this work is to make simple experiments with known fluid properties and well controllable conditions trying to understand the importance and relevance of each known fouling mechanism. Hence, wax deposition experiments were performed in laminar flow for different temperature conditions with a single-phase paraffin-oil mixture, having the particle migration visualization in mind. Experiments with oil mixture injection temperature below the Wax Appearance Point (with wax crystals flowing) have shown that it is necessary a negative heat flux to produce significant deposition. For positive and zero heat fluxes there was no deposition visualized. Also, the unsteady fouling state for negative heat flux was followed and their temporal deposition profiles measured for different Reynolds and temperature conditions. Those temporal and dimensional deposition profiles are original important information to be compared with numerical simulation. Keywords Wax Deposition, Pipelines. Sumário 1 . Introdução 18 2 . Revisão Bibliográfica 21 2.1. Características da Parafina 21 2.2. Temperatura inicial de aparecimento de cristais (TIAC) 22 2.3. Mecanismos de deposição 24 2.3.1. Difusão molecular 24 2.3.2. Difusão Browniana 25 2.3.3. Dispersão por cisalhamento 27 2.3.4. Deposição por efeitos gravitacionais 29 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 2.4. Revisão da Literatura 30 2.4.1. Hunt, 1962 31 2.4.2. Burger et al., 1981 32 2.4.3. Weingarten et al., 1988 34 2.4.4. Hartley et al., 1989 36 2.4.5. Brown et al., 1993 36 2.4.6. Hsu et al., 1994 37 2.4.7. Hamouda et al., 1995 38 2.4.8. Creek et al., 1999 39 2.4.9. Leiroz, 2004 40 2.4.10. Todi, 2005 42 2.5. Resultados relevantes 46 2.6. Objetivo do Presente Trabalho 48 3 . Procedimento e Montagem Experimental 49 3.1. Montagem experimental 49 3.2. Procedimento Experimental 63 4 . Resultados 4.1. Validação dos experimentos 4.1.1. Comparação com os Resultados de Leiroz [14] 4.1.2. Comparação dos Testes Realizados Com e Sem o Uso do 66 66 68 Sistema de Jatos de Ar 74 4.2. Resultados para Deposição com Fluido Estagnado 83 4.3. Resultados para Deposição sob Escoamento Laminar 88 4.3.1. Resultados para Espessura de Deposição de Parafina – Fluxo de Calor Negativo 89 4.3.2. Resultados sobre a Observação da Movimentação de Cristais de Parafina 102 4.3.3. Resultados para Espessura de Deposição de Parafina – Fluxo de Calor Nulo e Positivo 4.4. Comparação dos Resultados com o Trabalho de Todi, 2005 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 5 . Conclusões e Comentários 110 116 120 5.1. Conclusões 120 5.2. Sugestões para Trabalhos Futuros 121 6 . Referências Bibliográficas 123 A. Apêndice 126 A.1. Caracterização das Parafinas 126 A.1.1. Determinação da Temperatura Inicial de Aparecimento de Cristais (TIAC) e Variação da viscosidade com a Temperatura. 126 A.1.2. Determinação da Massa Específica da Mistura ÓleoParafina como Função da Temperatura A.2. Curva de Calibração da Bomba de Cavidade Progressiva 127 128 Lista de figuras Figura 1.1: Arranjo típico de linhas submarinas de transporte de petróleo (Cortesia do CENPES / Petrobras). 19 Figura 1.2: Exemplo de uma linha bloqueada por deposição de parafinas (Cortesia do CENPES / Petrobras). 19 Figura 2.1: Perfil de concentração de cristais de parafina precipitados devido ao resfriamento da parede [5]. 26 Figura 2.2: (a) Distribuição de partículas na seção transversal do duto com (b) o correspondente histograma de probabilidade, para Re=67. 28 Figura 2.3: (a) Distribuição de partículas na seção transversal do duto PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA com (b) o correspondente histograma de probabilidade, para Re=350. Figura 2.4: 28 Comparação das taxas de deposição medidas experimentalmente com a previsão das equações propostas [5]. Figura 2.5: Comparação entre a deposição 34 medida experimentalmente com uma previsão por difusão molecular para baixas taxas de cisalhamento [31]. Figura 2.6: Comparação entre 35 a deposição medida experimentalmente com uma previsão por difusão molecular para elevadas taxas de cisalhamento ainda em regime laminar [31]. 35 Figura 2.7: Teste para a avaliação da simetria da camada de parafina depositada nas paredes superior e inferior do canal. Temperatura de entrada 40°C. Temperatura da parede igual a 15°C. Re=580. TIAC igual a 36,6°C [14]. 42 Figura 2.8: Concentração de cristais suspensos em função do raio da tubulação. Te=5ºC, Tp=0, 5 e 25ºC [29]. 43 Figura 3.1: Vista esquemática da seção de testes para ensaios de deposição de parafina em condições de escoamento. 50 Figura 3.2: Vistas da montagem do canal com as duas peças de acrílico na entrada e saída. 51 Figura 3.3: Vistas de conjunto e explodida do canal. 51 Figura 3.4: Vista de frente e detalhe das dimensões do canal. 52 Figura 3.5: Vista lateral e detalhe das dimensões do canal. Figura 3.6: Vista isométrica e lateral do reservatório 53 de armazenamento. 54 Figura 3.7: Vista do topo e tampa do reservatório de armazenamento. 55 Figura 3.8: Vista isométrica e tampa do reservatório de alumínio. 56 Figura 3.9: Vista lateral e de topo do reservatório de alumínio. 57 Figura 3.10: Vista superior da seção de testes que mostra o posicionamento da câmera. 58 Figura 3.11: Vista esquemática do sistema de aquecimento por jatos de ar utilizado. 60 Figura 3.12: Imagem que mostra o posicionamento do sistema por jatos de ar nas paredes de vidro do canal. 60 Figura 3.13: Vista lateral do posicionamento dos jatos em ambas paredes de vidro. 61 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Figura 3.14: Detalhe da disposição dos termopares na parede de vidro do canal. 62 Figura 4.1: Esquema das diferentes posições da câmera para cada experiência. 68 Figura 4.2: Esquema da disposição do tanque, canal e bomba na seção de testes usada por Leiroz [14]. 69 Figura 4.3: Teste para avaliar da simetria das camadas de depósito nas paredes superior e inferior do canal (Re=863). 71 Figura 4.4: Comparação dos testes com os realizados por Leiroz para Re=368. 72 Figura 4.5: Comparação dos testes com os realizados por Leiroz para Re=519. 73 Figura 4.6: Comparação dos testes com os realizados por Leiroz para Re=863. 73 Figura 4.7: Efeito da utilização de aquecimento por jatos na deposição de parafina no interior do canal. (a) Sem deposição de parafina. (b) Depósitos de parafina obtidos sem a utilização de jatos de aquecimento. (c) Depósitos de parafina obtidos com a utilização de jatos de aquecimento. Figura 4.8: Visão esquemática da seção transversal do canal com depósito gerado para as mesmas condições de resfriamento das paredes de cobre. (a) Formação típica do depósito sem o uso de 76 sistema de jatos por ar. (b) Formação típica do depósito com o uso de sistema de jatos por ar. 77 Figura 4.9: Teste para avaliar da simetria das camadas de depósito nas paredes superior e inferior do canal, com o uso do sistema de jatos de ar (Re=519). 78 Figura 4.10: Comparação dos testes realizados com e sem jatos de ar (Re=368). 79 Figura 4.11: Comparação dos testes realizados com e sem jatos de ar (Re=519). 80 Figura 4.12: Comparação dos testes realizados com e sem jatos de ar (Re=863). 80 Figura 4.13: Temperaturas ao longo do canal, da linha central da parede de vidro para os testes realizados sem o uso de jatos de ar (Te=40ºC, Tps=15ºC, Tpi=15ºC). 82 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Figura 4.14: Temperaturas ao longo do canal, da linha central da parede de vidro para os testes realizados com o uso de jatos de ar (Te=40ºC, Tps=15ºC, Tpi=15ºC). 82 Figura 4.15: Seqüência de imagens registrada nos testes de fluido estagnado com Tq=45ºC e Tf=5ºC. (a) Paredes de cobre superior e inferior antes de iniciado o resfriamento. (b) Camada de depósito resultante na parede inferior após 1 minuto. (c) Camada de depósito após 3 minutos. (d) Camada de depósito após 10 minutos. 84 Figura 4.16: Evolução temporal da espessura de depósito para os testes realizados com fluido estagnado para ∆T = 40º C , ∆T = 30º C e ∆T = 20º C . TIAC igual a 36,6ºC. 85 Figura 4.17: Detalhe dos primeiros 30 minutos da evolução temporal da espessura do depósito dos testes realizados com fluido estagnado. 86 Figura 4.18: Evolução dos perfis de temperatura para testes com fluido em cavidade estagnada. 87 Figura 4.19: Comparação da espessura do deposito em regime permanente (4 horas) para diferentes números de Reynolds ( ∆T = 5º C ). Figura 4.20: Temperaturas na linha central da parede de vidro para os testes realizados na presença de cristais em suspensão 92 (Te=34ºC, Tps=35ºC, Tpi=29ºC). 92 Figura 4.21 - Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 15º C ). Re=151. 94 Figura 4.22: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 15º C ). Re=213. 94 Figura 4.23: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 15º C ). Re=354. 95 Figura 4.24: Taxa de crescimento de depósito para os 10 primeiros minutos dos testes realizados com cristais em suspensão (∆T = 15º C ) . 96 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Figura 4.25: Temperaturas na linha central da parede de vidro para os testes realizados na presença de cristais em suspensão (Te=34ºC, Tps=35ºC, Tpi=19ºC). 96 Figura 4.26: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos (∆T = 25º C ) . Re=151. 98 Figura 4.27: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos (∆T = 25º C ) . Re=213. 99 Figura 4.28: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos (∆T = 25º C ) . Re=354. 99 Figura 4.29: Taxa de crescimento de depósito para os 10 primeiros minutos dos testes realizados com cristais em suspensão (∆T = 25º C ) . 100 Figura 4.30: Temperaturas na linha central da parede de vidro para os testes realizados na presença de cristais em suspensão (Te=34ºC, Tps=35ºC, Tpi=9ºC). 100 Figura 4.31: Região de concentração de cristais perto da parede nos primeiros segundos depois de iniciado o resfriamento. Figura 4.32: Seqüência de imagens obtidas na entrada do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com 103 Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=151. Aumento utilizado 45x. 104 Figura 4.33: Seqüência de imagens obtidas na saída do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=151. Aumento utilizado 45x. 106 Figura 4.34: Seqüência de imagens obtidas na entrada do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=354. Aumento utilizado 45x. 108 Figura 4.35: Seqüência de imagens obtidas na saída do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=354. Aumento utilizado 45x. 109 Figura 4.36: Temperaturas da parte exterior das paredes de vidro geradas pelo aquecimento de ar para as experiências realizadas para condições de fluxo de calor nulo com Te=34ºC e Tp=35ºC. 113 Figura 4.37: Temperaturas da parte exterior das paredes de vidro PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA geradas pelo aquecimento de ar para a experiência realizada para a condição de fluxo de calor nulo com Te=32ºC e Tp=33ºC. 114 Figura 4.38: Temperaturas da parte exterior das paredes de vidro geradas pelo aquecimento de ar para a experiência realizada para condição de fluxo de calor positivo com Te=32ºC e Tp=35ºC. 116 Figura 4.39: Comportamento da viscosidade com a temperatura do óleo utilizado por Todi comparado com um tipo de petróleo cru [29]. 118 Figura A.1 - Variação da viscosidade com a temperatura da solução utilizada. TIAC igual a 36,6ºC 126 Figura A.2 - Massa específica em função da temperatura da mistura utilizada. 127 Lista de tabelas Tabela 2.1 - Comparação entre os diferentes métodos de determinação do ponto de névoa [25] - reprodução parcial. 24 Tabela 2.2: Dados das condições em que foram realizadas as experiências em laboratório [5]. 33 Tabela 2.3: Reprodução parcial dos resultados das experiências realizadas para condições de fluxo de calor nulo, positivo e negativo [29]. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Tabela 2.4: Principais conclusões da revisão bibliográfica realizada. 45 47 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Lista de símbolos A área, m2 C fração volumétrica da parafina na solução, adimensional C w* fração de partículas sólidas, adimensional D coeficiente de difusão, m2/s k* constante da taxa de deposição, kg/m2 m massa, kg r coordenada radial, m R raio do duto, m Re número de Reynolds t tempo, s T temperatura, ºC TIAC temperatura inicial de aparecimento de cristais Símbolos Gregos ρ massa específica, kg/m3 γ taxa de cisalhamento na parede, 1/s ∆ diferença µ viscosidade dinâmica, Pa.s PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Subscritos amb ambiente e entrada no canal f parede fria inj injeção no canal i incorporação de cristais j saída do jato m molecular p parede pi parede inferior os parede superior q parede quente w parafina B Browniana 1. Introdução A importância do petróleo na geração da energia mundial é ainda significativa. A necessidade de este recurso foi e é ainda responsável de numerosos conflitos bélicos entre países. A grande demanda e o esgotamento parcial das reservas em terra em alguns paises mudou o horizonte da exploração para o mar. Uma prova disto são as estatísticas dos últimos anos que mostram que a tendência da exploração e produção offshore é cada vez maior atingindo águas profundas e ultraprofundas. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA A produção de petróleo em águas profundas é basicamente caracterizada pelo ambiente frio destas regiões (5ºC) em que estão localizadas as linhas de transporte. A temperatura do óleo saindo do reservatório e entrando nas linhas no fundo marinho está normalmente acima dos 40ºC. As distâncias entre os poços de produção e as plataformas são muitas vezes de vários quilômetros. O petróleo escoando pelos dutos, submetido a condições de baixas temperaturas externas, é resfriado rapidamente gerando a precipitação dos hidrocarbonetos mais pesados que na sua maioria são constituídos por parafinas. O ponto de inicio da precipitação de cristais é conhecido como ponto de névoa, e é definido como a temperatura crítica em que os hidrocarbonetos mais pesados que compõem o petróleo perdem sua solubilidade e começam a precipitar. A Figura 1.1 fornece uma idéia da complexidade de um sistema de produção de óleo e das distâncias de transporte típicas entre os poços e as plataformas. A deposição de parafinas nas paredes internas das linhas de transporte é um dos grandes desafios enfrentados pela indústria do petróleo na produção em ambientes frios. A precipitação de cristais gera um aumento da viscosidade do óleo que pode mudar o seu comportamento Newtoniano para não-Newtoniano [15]. O acúmulo da parafina depositada nas linhas pode acarretar problemas como bloqueio parcial ou total do duto, aumento da potência de bombeamento, diminuição da vazão e até problemas mecânicos [19]. Um exemplo da obstrução de uma linha de transporte, ocasionada pela deposição de parafinas, pode ser observada na Figura 1.2. 19 Figura 1.1: Arranjo típico de linhas submarinas de transporte de petróleo (Cortesia do CENPES / Petrobras). O problema de deposição de parafina é comumente enfrentado com a utilização de pigs para a remoção mecânica, com o uso de inibidores químicos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA ou com aquecimento elétrico das linhas. Os custos destas tecnologias de manutenção em águas profundas são muito elevados, e aumentam consideravelmente com o aumento da lâmina da água. Figura 1.2: Exemplo de uma linha bloqueada por deposição de parafinas (Cortesia do CENPES / Petrobras). O processo de deposição de parafina é reconhecidamente um fenômeno muito complexo. Nos últimos anos foram realizadas pesquisas significativas orientadas para a solução deste problema. A deposição de cristais de parafina é descrita na literatura como uma combinação de diferentes mecanismos de deposição como a difusão molecular, a difusão Browniana, a dispersão por cisalhamento e a deposição por efeitos gravitacionais. A importância relativa de cada um destes mecanismos é ainda desconhecida, e a pesquisa bibliográfica realizada no presente trabalho revelou que ainda existem contradições entre os autores sobre a relevância de cada mecanismo de deposição. 20 A capacidade de predizer acuradamente a distribuição espacial e temporal de depósitos de parafina no interior de dutos seria de grande ajuda na redução de investimentos em isolamento de dutos, projetos de novas linhas e na implementação de programas de prevenção que minimizem ou eliminem os custos de manutenção por bloqueio de tubulações. Para lograr este objetivo é necessário um melhor entendimento dos diferentes mecanismos responsáveis pela deposição de parafina. O presente estudo procura contribuir para melhorar a compreensão dos mecanismos de deposição, utilizando uma filosofia de trabalho baseada na realização de experimentos simples que não mascarem a importância relativa de cada um dos mecanismos conhecidos. Seguindo esta filosofia, foram realizadas experiências de visualização do fenômeno de deposição, para uma solução óleo-parafina com propriedades conhecidas e submetida a condições de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA escoamento bem controladas. As experiências foram realizadas em condições de regime laminar e na presença de cristais em suspensão para as diferentes condições de fluxo de calor (nulo, positivo e negativo). Os resultados obtidos são comparados com as conclusões encontradas na revisão bibliográfica realizada. No Capítulo 2 é apresentada a revisão bibliográfica realizada, ressaltando as conclusões mais importantes e relevantes para o tema de estudo da presente dissertação. Os detalhes da montagem experimental e procedimentos seguidos são descritos no Capítulo 3. No Capítulo 4 são apresentados e discutidos os resultados experimentais obtidos, para finalmente no Capítulo 5 citar as conclusões e sugestões para trabalhos futuros. 2. Revisão Bibliográfica Muitas pesquisas foram realizadas na tentativa de entender e resolver o problema de deposição de parafinas nas linhas de transporte de óleo. Diferentes trabalhos de modelagem numérica e experimental foram desenvolvidos com a finalidade de predizer o fenômeno de deposição de parafina. A seguir são apresentadas as conclusões de algumas das pesquisas mais relacionadas ao presente trabalho, direcionando o foco do estudo para a relevância dos mecanismos de deposição. Primeiramente, é feita uma breve descrição da parafina, suas características e os mecanismos considerados como PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA responsáveis pelo fenômeno de deposição. 2.1. Características da Parafina O petróleo é uma mistura formada principalmente de hidrocarbonetos pesados os quais se encontram em proporções diversas. Estes hidrocarbonetos podem incluir proporções variáveis de parafinas normais e ramificadas, cicloparafinas, naftenos e hidrocarbonetos aromáticos [3]. Além disto, podem estar presentes compostos polares (resinas) e asfaltenos [17]. Dentre estes componentes, as parafinas e os asfaltenos são os componentes mais pesados do petróleo possuindo cadeias de carbonos de C20 ou maiores. Uma característica importante no estudo das parafinas é a sua solubilidade no petróleo. A solubilidade é uma propriedade que define as condições de temperatura e pressão nas quais estes compostos precipitarão da solução na forma de cristais. Estudos feitos revelam que a solubilidade das parafinas depende fortemente da temperatura, e decresce com a diminuição da mesma [20]. A pressão pelo contrário, parece não afetar significativamente a solubilidade. As condições de elevada temperatura e pressão nas quais o petróleo é encontrado nos reservatórios garantem a solubilidade das parafinas. O óleo 22 retirado do reservatório normalmente entra nas linhas com temperaturas superiores a 40ºC, sendo transportado através do ambiente frio que prevalece nas operações em águas profundas, onde a temperatura do mar encontra-se a aproximadamente 5ºC. A troca de calor entre o escoamento e a água do mar resfria o petróleo, podendo atingir uma temperatura crítica conhecida como temperatura inicial de aparecimento de cristais (TIAC), na qual os primeiros cristais de parafina precipitam da solução. As pesquisas revelam que as parafinas de maior peso molecular precipitam primeiro formando cristais estáveis que entrelaçam-se para formar uma matriz sólida nas paredes das linhas [30]. As parafinas formam predominantemente o material depositado nas paredes dos dutos. Outros compostos, principalmente asfaltenos e resinas, também são encontrados em menor quantidade. A concentração de resinas e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA asfaltenos no óleo, afeta diretamente a solubilidade das parafinas. Em condições de baixo conteúdo de impurezas e baixas taxas de resfriamento, as parafinas precipitam na forma de cristais ortorrômbicos. No entanto, condições desfavoráveis, como alto conteúdo de impurezas, causam a precipitação de cristais hexagonais ou amorfos [20]. É importante ressaltar que a morfologia dos cristais formados depende fortemente das taxas de resfriamento e cisalhamento a que é submetido o escoamento. 2.2. Temperatura inicial de aparecimento de cristais (TIAC) A temperatura inicial de aparecimento de cristais (TIAC) ou ponto de névoa é definida como a temperatura em que os primeiros cristais parafínicos surgem à pressão atmosférica. Nesta temperatura as cadeias mais pesadas de parafina precipitam-se primeiro. Com a continuidade do resfriamento outras espécies de menor peso molecular também se precipitam. A temperatura inicial de aparecimento de cristais varia com a composição do óleo. Estudos experimentais indicam que a TIAC não é necessariamente um valor fixo, podendo ser uma função da taxa de resfriamento. Seu valor pode depender também fortemente do método experimental usado para medi-la. Foi comprovado que a TIAC medida por microscopia pode ser de 10 a 20ºC superior 23 do que a obtida por outros métodos como viscosimetria e calorimetria diferencial [12]. A microscopia, a calorimetria diferencial e a viscosimetria são os métodos mais conhecidos, embora seus resultados possam ser bastante díspares. A microscopia é comumente usada como um método de referência para a observação e medição de crescimento de cristais. Amostras do petróleo são observadas em microscópio ótico enquanto são resfriadas a uma taxa controlada. A temperatura onde surgem os primeiros cristais é tomada como sendo o valor da TIAC [21]. Esta é considerada a metodologia mais indicada para a determinação da TIAC, embora possa requerer ensaios de longa duração. A calorimetria diferencial conhecida como DSC, é uma técnica usada para a observação de mudança de fases sólido-líquido. Dois aquecedores PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA independentes permitem o aquecimento ou resfriamento com taxas controladas da amostra a ser ensaiada, juntamente com uma amostra de referência. O instrumento detecta a diferença de temperatura entre a amostra e a referência durante o aquecimento ou resfriamento, armazenando a quantidade de calor fornecido ou retirado [21]. Este procedimento usa o monitoramento calorimétrico marcando um ponto base (calor sensível) e detectando um pico exotérmico devido ao aparecimento dos cristais (calor latente). A técnica de determinação da TIAC por viscosimetria é baseada na mudança das propriedades reológicas do óleo causada pela precipitação de cristais de parafina. Ronningsen et al [25] observaram para os métodos de calorimetria diferencial e viscosimetria que uma quantidade de parafina suficiente deve cristalizar para que seus efeitos térmicos ou viscosos possam ser detectados, o que quer dizer que os pontos de névoa determinados por estes métodos resultam quase sempre abaixo do verdadeiro valor. A Tabela 2.1 mostra uma reprodução parcial dos resultados obtidos da medição dos pontos de névoa para diferentes amostras de óleo pelos três métodos mencionados [25]. Estes dados mostram a discordância de resultados entre as diferentes técnicas mencionadas. 24 Tabela 2.1 - Comparação entre os diferentes métodos de determinação do ponto de névoa [25] - reprodução parcial. Óleo Ponto de Névoa (ºC) Microscopia D.S.C. Viscosimetria 1 30,5 11,0 23,0 2 38,5 17,0 28,0 3 41,0 33,5 35,0 4 48,0 32,5 31,0 5 39,5 39,5 40,0 6 39,0 39,5 39,0 7 34,5 32,0 28,0 8 38,0 32,0 31,0 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 2.3. Mecanismos de deposição A capacidade de previsão do fenômeno de deposição de parafina nas paredes dos dutos depende fundamentalmente do entendimento dos mecanismos físicos que governam a deposição. Um dos mais importantes e mais citados trabalhos que buscou identificar os mecanismos responsáveis pela deposição de parafina é aquele de Burger et al. [5]. Neste trabalho foram identificados os possíveis mecanismos de deposição como sendo a difusão molecular, a difusão Browniana, a dispersão por cisalhamento, e a deposição por efeitos gravitacionais. A seguir é apresentada uma descrição de cada um destes mecanismos, tal com apresentada no referido trabalho de Burger [5]. 2.3.1. Difusão molecular A difusão molecular é considerada como um dos possíveis mecanismos de deposição de parafina na fase líquida. Quando o óleo escoando pelas linhas é resfriado, é gerado um gradiente de temperatura na direção radial da tubulação, sendo a região da parede, a mais fria. Devido ao fato da solubilidade da parafina decrescer com a temperatura, o gradiente de temperatura estabelecido, gera uma maior concentração de parafina dissolvida na região mais quente o que ocasiona um transporte por difusão molecular de parafina na fase líquida na direção da parede do duto. Burger et al. [5] representaram a 25 difusão molecular com a equação de difusão de Fick, onde o gradiente de concentração de parafina na parede é representado como o produto da derivada da concentração com relação à temperatura, pelo gradiente radial de temperatura. Assim, dmm dC dT = ρ w ADm dt dT dr (2.1) onde dmm/dt é a taxa de deposição de parafina por difusão molecular, ρw é a massa específica da parafina sólida, A é a área de deposição, Dm é o coeficiente de difusão da parafina líquida no óleo, dC/dT é o coeficiente de solubilidade da parafina no óleo e dT/dr é o gradiente radial de temperatura. A difusão molecular é amplamente aceita pelos pesquisadores como o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA principal mecanismo de deposição de parafina. A grande maioria dos modelos numéricos de simulação do fenômeno de deposição foram desenvolvidos considerando deposição por difusão molecular como o único mecanismo atuante [4, 8, 28]. No entanto, conforme discutido em [1], acredita-se que não exista evidência experimental suficiente para confirmar esta dominância do mecanismo de difusão molecular para todas as condições de operação dos dutos. 2.3.2. Difusão Browniana A difusão Browniana é um mecanismo que considera o transporte de partículas na fase sólida. Pequenas partículas de cristais formados suspensos em regiões do escoamento com temperatura abaixo da TIAC colidirão continuamente com moléculas termicamente agitadas de óleo, gerando movimentos randômicos dos cristais suspensos. No caso de existir gradiente de concentração de partículas, estas serão difundidas na direção de menor concentração. A expressão matemática utilizada para quantificar este fenômeno é similar à difusão molecular. A lei de Fick para a difusão Browniana é caracterizada por um coeficiente de difusão de partículas sólidas. Assim, dm B dC = ρ w ADB dt dr (2.2) 26 onde dmB/dt é a taxa de deposição de parafina por difusão Browniana, ρw é a massa específica da parafina sólida, A é a área de deposição, DB é o coeficiente de difusão Browniana para os cristais de parafina no petróleo, C é a fração volumétrica da parafina sólida fora da solução e r é a coordenada radial. Como será visto mais a frente, vários modelos de predição da deposição disponíveis na literatura desprezam o mecanismo de difusão Browniana [4, 10, 11, 17, 28]. No entanto, acredita-se que esta conclusão não tem um suporte experimental suficiente. Como foi dito, o gradiente de concentração de cristais suspensos é a força motora deste mecanismo. Um perfil de concentração esperado na seção transversal de um duto ocasionado pelo resfriamento da parede (fluxo de calor negativo), apresentaria uma maior concentração de cristais na região perto da parede semelhante àquele na Figura 2.1 [5]. Nesta figura, é apresentada a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA variação de concentração em volume da parafina sólida, em função da coordenada radial adimensional do duto (r/R). O perfil de temperatura mostrado evidencia a menor temperatura da parede. Assim, devido ao gradiente de temperatura gerado e com a condição de contorno que impõe a concentração nula de cristais na parede, é produzido um pico no perfil de concentração na região próxima á parede. Observando o pico de concentração gerado, pode-se concluir que a difusão Browniana existirá em ambos sentidos, para a parede e na direção da linha de centro do duto. Assim, seguindo estas conclusões, pode ser dito que a difusão Browniana poderia ser responsável pelo transporte de partículas (cristais) para o depósito. Figura 2.1: Perfil de concentração de cristais de parafina precipitados devido ao resfriamento da parede [5]. 27 2.3.3. Dispersão por cisalhamento A dispersão por cisalhamento é considerada como um possível mecanismo responsável pelo transporte de parafina precipitada (cristais). Partículas pequenas suspensas no escoamento sofrem, devido à viscosidade do fluido, um movimento rotacional. Em regiões suficientemente afastadas da parede do duto estas partículas tenderão a ser transportadas na mesma velocidade axial que a da linha de corrente que passa pelo seu centro, e com velocidade angular igual à metade da sua taxa de cisalhamento. Esta rotação por sua vez, induz um movimento circulatório em uma região adjacente à partícula. Para uma grande densidade de partículas suspensas acontecerá um número significativo de interações entre elas. Assim, estes movimentos poderiam desviar as partículas de sua trajetória original resultando em um PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA transporte lateral das mesmas [5]. Burger et al. [5] definiram este mecanismo como responsável pelo transporte de cristais na direção da parede quando a quantidade de cristais precipitados em suspensão é grande. Por outro lado, diferentes pesquisas realizadas sobre a migração de partículas em suspensões concentradas, revelaram que o transporte lateral destas é na direção oposta da parede. Segre et al [26] na sua pesquisa utilizando partículas esféricas, afirmaram que estas migram para uma região anular de equilíbrio entre a parede e a linha central do duto. Já um trabalho mais recente realizado por Matas et al, [18], também para partículas esféricas rígidas, mostrou que o aumento do número de Reynolds muda a posição da região anular de equilíbrio na direção da parede. As Figuras 2.2 e 2.3 mostram seus resultados experimentais para Re=67 e Re=350 respectivamente. Em ambos dos casos, os eixos representam o raio interno adimensional da tubulação (parede em r=1). Cada figura é acompanhada do histograma que mostra a probabilidade como função do radio adimensional. 28 Figura 2.2: (a) Distribuição de partículas na seção transversal do duto com (b) o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA correspondente histograma de probabilidade, para Re=67. Figura 2.3: (a) Distribuição de partículas na seção transversal do duto com (b) o correspondente histograma de probabilidade, para Re=350. Como também será visto mais a frente, Todi [29] estudou a distribuição da concentração de cristais com uma solução óleo-parafina escoando com temperatura abaixo da TIAC (cristais de parafina suspensos). Uma experiência com o fluido entrando na mesma temperatura da parede (fluxo de calor nulo), resultou em maiores concentrações de cristais em uma região anular próxima à linha de centro do duto. Nesta condição de fluxo de calor nulo, a ausência de fluxo de calor radial que conseqüentemente elimina o fluxo radial difusivo de parafina líquida, elimina a possibilidade da existência de um gradiente de concentração não sendo possíveis a deposição por difusão molecular e difusão Browniana. Assim, é dito que a dispersão por cisalhamento é o único mecanismo participante. Desta experiência Todi concluiu que a dispersão por cisalhamento transporta os cristais suspensos para uma região intermediaria entre a parede e a linha central do duto (longe da parede). Um segundo experimento realizado por Todi desta vez com uma temperatura de parede menor (fluxo de calor negativo), não afeto significativamente a distribuição da concentração de cristais resultando um perfil de concentração similar ao obtido para fluxo nulo. Por outro lado, contrariamente ao dito por Matas et al [18], Todi 29 afirmou que o aumento do número de Reynolds muda a posição de equilíbrio da seção anular de maior concentração de cristais, na direção da linha central do duto. As diferentes pesquisas mencionadas concordam em afirmar que o cisalhamento causa a migração das partículas para uma região anular entre a parede e a linha central do duto. No entanto, a discordância em relação á influencia do número de Reynolds na posição final desta região, poderia ser ocasionada pelo fato de que os cristais de parafina deferem muito da morfologia das esferas rígidas. Como foi explicado, acredita-se que experiências em condições de fluxo de calor nulo poderiam servir para avaliar o transporte de cristais por dispersão por cisalhamento. No entanto, com os resultados observados que mostram que o cisalhamento gera concentrações de cristais em regiões anulares intermediarias, pode ser dito que a dispersão por cisalhamento PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA pode facilitar condições para que a difusão Browniana aconteça. Assim, uma experiência na condição de fluxo de calor nulo poderia também servir para estudar a difusão Browniana (movimentação de cristais suspensos devido ao gradiente de concentração) além da dispersão por cisalhamento. 2.3.4. Deposição por efeitos gravitacionais A deposição por gravidade foi também considerada como um possível mecanismo de deposição de cristais. Os cristais precipitados no escoamento são mais densos que o líquido circundante. Assim, esta diferença da massa especifica poderia gerar a precipitação destes cristais na parte inferior das paredes da tubulação ou tanques de armazenamento. No entanto, testes feitos pelo método de centrifugação para amostras de óleo em experiências de longa duração determinaram que a deposição por gravidade não é um mecanismo relevante [5]. Um ponto de concordância entre os autores é precisamente que a deposição de parafinas por efeitos gravitacionais não é relevante em condições de escoamento. Recentemente, estudos detalhados realizados no Laboratório de Termociências da PUC-Rio mostraram, pela primeira vez, imagens do processo transiente da deposição de parafina em canais [14]. Neste trabalho foi mostrado que as espessuras de depósito nas paredes superior e inferior do 30 canal eram iguais, o que descarta os efeitos gravitacionais como mecanismo relevante de deposição. 2.4. Revisão da Literatura Após a apresentação dos principais fenômenos envolvidos na deposição de parafina em dutos, apresentam-se agora os trabalhos publicados na literatura considerados mais relevantes para o presente estudo. As pesquisas realizadas com a finalidade de entender o fenômeno de deposição de parafinas ainda mostram algumas discordâncias principalmente no que se refere à relevância dos mecanismos de deposição de parafina. A difusão PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA molecular, um mecanismo de transporte de parafina na fase líquida, é o mecanismo de deposição mais aceito, sendo considerado como predominante pela maioria dos autores. As maiores contradições surgem na literatura na definição dos mecanismos responsáveis pelo transporte de cristais sólidos suspensos no escoamento. Há contradições também quanto a atuação da tensão cisalhante imposta pelo escoamento sobre o depósito no que diz respeito à sua remoção. A pesquisa bibliográfica apresentada a seguir procura mostrar as principais conclusões das referências mais citadas voltadas ao entendimento do transporte de cristais no escoamento. O transporte de cristais na fase sólida está diretamente relacionado com testes na presença de cristais em suspensão em condições onde não há troca de calor do fluido através da parede do duto (fluxo de calor nulo), e quando a parede encontra-se mais quente que o fluido (fluxo de calor positivo). Sob estas duas condições, não há possibilidade de deposição por difusão molecular que exige a presença de um fluxo de calor negativo, isto é, a parede do duto mais fria que o fluido. Assim, se houver deposição sob estas condições, o mecanismo deve necessariamente envolver o transporte de cristais em suspensão no escoamento. O presente trabalho tem seu foco exatamente no estudo da deposição de parafina na presença de cristais em suspensão no escoamento. 31 2.4.1. Hunt, 1962 Hunt [11] realizou experiências de deposição de parafina para condições estáticas e com escoamento. O objetivo principal destas experiências foi estudar os efeitos dos revestimentos em dutos e dos aditivos químicos sobre a deposição de parafinas. Experiências para medição das propriedades do depósito como sua dureza e aderência foram feitas usando como seção de testes uma placa fria. Além de medir as propriedades, esta experiência permitiu a medição de quantidades de parafina depositada para longos períodos de tempo (15 h). Foi observado, por exemplo, que o depósito não tinha aderência em aço inox polido, mas sim em uma superfície jateada com areia do mesmo material, do que foi PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA concluído que o depósito não é preso numa superfície por forças de adesão, mas sim pela rugosidade da superfície. Todos os experimentos realizados por Hunt foram para condições de escoamento em regime laminar. O estudo tentou simular a deposição de parafinas produzida na tubulação vertical de saída de um poço de petróleo. A seção experimental usada permitia submeter o escoamento a diferentes gradientes de temperatura. Das experiências realizadas, concluiu-se que o resfriamento é o fator necessário para a deposição de cristais. Outros estudos feitos para condições de temperatura constantes não resultaram deposição. Visualizações de manchas de parafina depositada na região de entrada da seção de testes no início do resfriamento levaram a concluir que a deposição de parafinas é iniciada por nucleação. Com o transcorrer do tempo estas manchas transformavam-se numa camada homogênea, propondo que o crescimento do depósito depois da nucleação era causado pela difusão molecular. Visualizações similares para pequenos e elevados gradientes de temperatura concluíram que o mecanismo de deposição não varia devido ao gradiente de temperatura imposto. Em conseqüência, ele não considera a deposição de partículas já precipitadas na sua teoria. 32 2.4.2. Burger et al., 1981 Problemas de deposição na Trans Alaska Pipeline System (TAP), mesmo para vazões elevadas, geraram a necessidade de um estudo mais profundo dos mecanismos que causam a deposição de parafinas e da natureza temporal e espacial do depósito. A pesquisa desenvolvida por Burger et al. [5] iniciou-se com testes em escala em laboratório simulando as condições similares de operação da TAP. Todas as experiências realizadas em condições de escoamento em regime laminar consideraram a taxa de cisalhamento como a variável mais importante, seguida do gradiente de temperatura imposto ao escoamento. Experiências de deposição realizadas em laboratório em tubulações com PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA disposições horizontais e verticais, não mostraram variação significativa sobre o depósito total resultante. Foi assim, que a deposição por gravidade foi desprezada em condições de escoamento. Burger et al [5] consideram a difusão molecular como o mecanismo de deposição mais importante, seguida da dispersão por cisalhamento e ainda a difusão Browniana em menor escala. Deste modo, as taxas de deposição foram modeladas como a somatória das taxas geradas por difusão molecular de parafina dissolvida, e pela ação combinada da dispersão por cisalhamento e difusão Browniana de cristais precipitados. A difusão molecular foi modelada pela lei de Fick (Eq. 2.1). Por outro lado, a taxa de incorporação de partículas sólidas (cristais), dmi/dt, foi considerada proporcional, à fração de partículas sólidas na região da interface sólido-líquido, C w* , à taxa de cisalhamento na parede, γ , e à área superficial disponível, A. Assim, dmi = k *C w* γA dt (2.3) onde k* é uma constante de deposição. Esta equação representa o efeito combinado dos mecanismos de difusão Browniana e dispersão por cisalhamento em condições de elevadas concentrações de cristais suspensos, em que a taxa de incorporação de cristais ao depósito é menor que o fluxo de transporte lateral de cristais até a interface por ambos mecanismos. A forma desta equação 33 empírica indica que a taxa de deposição aumenta linearmente com o aumento da taxa de cisalhamento. Os resultados experimentais obtidos dos testes realizados em laboratório mostraram que as taxas de deposição eram muito pequenas em testes com taxas de cisalhamento muito baixas. A Tabela 2.2 mostra as condições em que foram realizados os diferentes testes desenvolvidos em laboratório. Por outro lado, a Figura 2.4 mostra as taxas de deposição medidas nas experiências, comparadas com as previsões das equações propostas (Eq. 2.1 e 2.3). É claramente mostrado que a previsão por difusão molecular subestima as taxas de deposição medidas. O mais importante na Figura 2.4, independentemente das conclusões obtidas pelos autores, é perceber que a taxa de deposição medida PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA experimentalmente foi na maioria dos casos superior ao previsto por difusão molecular. Isto evidencia a presença de outros mecanismos de deposição de cristais. Como foi dito, o comportamento da equação proposta para a taxa de incorporação de cristais contemplava o aumento linear da taxa de deposição com o incremento da taxa de cisalhamento. Esta conclusão é contraditória já que em testes adicionais para taxas de cisalhamento elevadas, foi observado que o depósito era reduzido evidenciando a presença do fenômeno de remoção de cristais por cisalhamento. Tabela 2.2: Dados das condições em que foram realizadas as experiências em laboratório [5]. 34 Figura 2.4: Comparação das taxas de deposição medidas experimentalmente com a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA previsão das equações propostas [5]. Referindo-se aos testes realizados em condições de fluxos de calor nulos em que a difusão molecular não acontece, Burger et al, [5] visualizaram uma camada muito fina com uma taxa de deposição inferior ao estimado pela equação 2.3. Este resultado é mostrado na Figura 2.4 apresentada na serie H-7. Assim, da visualização da desprezível camada de parafina mencionada, eles concluíram que é provável que muito pouca ou nenhuma deposição seja causada em condições de fluxo zero. 2.4.3. Weingarten et al., 1988 Weingarten et al. [31] fizeram um estudo de deposição de parafinas com a finalidade de estimar as condições críticas de operação de um duto e as taxas de deposição geradas. Os experimentos realizados para escoamento com baixas taxas de cisalhamento resultaram em medições de depósito maiores do que o previsto por difusão molecular. Adicionalmente foi observado que as taxas de deposição foram maiores do que as previstas por difusão molecular, evidenciando a presença de outros mecanismos de deposição. Eles concluíram que a dispersão por cisalhamento tem a mesma importância que a deposição por difusão molecular em condições de taxas de cisalhamento baixas. A Figura 35 2.5 mostra seus resultados obtidos para taxas de cisalhamento baixas comparando o depósito medido com uma previsão por difusão molecular. Figura 2.5: Comparação entre a deposição medida experimentalmente com uma PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA previsão por difusão molecular para baixas taxas de cisalhamento [31]. Figura 2.6: Comparação entre a deposição medida experimentalmente com uma previsão por difusão molecular para elevadas taxas de cisalhamento ainda em regime laminar [31]. Por outro lado, a Figura 2.6 mostra o resultado da experiência para condições de escoamento com altas taxas de cisalhamento. Aqui o depósito mostrou um crescimento rápido no início, aparentemente com a taxa de deposição originada pela difusão, diminuindo a taxa de deposição com o transcorrer do tempo. Nesta vazão, ainda em escoamento laminar, os cristais eram removidos quando o esforço gerado pelo cisalhamento era maior que a resistência do depósito. Conclusões como estas que revelam a presença de outros mecanismos em condições de taxas de cisalhamento baixas e remoção 36 de cristais em taxas de cisalhamento elevadas, servirão de comparação no capitulo de analise de resultados com algumas visualizações realizadas no presente trabalho. 2.4.4. Hartley et al., 1989 Hartley et al. [9] estudaram problemas potenciais no transporte de óleo devido ao resfriamento, tentando reproduzir em laboratório as condições de produção do campo de Troll na Noruega. Os estudos feitos para deposição de parafinas, determinaram que a deposição após a cristalização depende fortemente do número de Reynolds e da diferença de temperaturas entre o óleo escoando e a parede do duto. Eles concluíram que um elevado gradiente de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA temperatura aumenta as condições de precipitação, devido ao fato que o mecanismo de difusão molecular é incrementado como resultado da concentração de parafina líquida gerada pelo gradiente de temperatura. Por outro lado, em relação à vazão como variável no processo de deposição, eles afirmaram que a máxima acumulação de cristais é esperada na faixa da transição do número de Reynolds (entre 2000 e 4000). Afirmaram também que para escoamento em regime turbulento a deposição diminui e é limitada pela remoção de cristais. 2.4.5. Brown et al., 1993 Brown et al. [4] desenvolveram experimentos de deposição de parafina para períodos de tempo longos para escoamento em regime laminar. Eles compararam os resultados experimentais com simulações numéricas feitas para condições de operação de uma linha submarina e o reinício do escoamento após uma parada. A quantidade de parafina depositada foi estimada a partir da queda de pressão, a vazão e geometria da tubulação. O estudo do fenômeno de deposição evidenciou a diminuição das taxas de deposição para tempos longos devido à uma diminuição do fluxo de calor causado pelo efeito isolante do 37 depósito, somado ao aumento das taxas de cisalhamento gerado pela diminuição da área efetiva do duto. Na análise feita sobre a relevância dos mecanismos de deposição de parafinas, eles desprezaram os mecanismos de deposição por gravidade e a difusão Browniana afirmando que não são significativas para condições de escoamento. Experiências projetadas para avaliar a influência da taxa de cisalhamento sobre o fenômeno de deposição, foram realizadas mantendo constantes a temperatura do fluido e da parede para diferentes tipos de óleo e taxas de cisalhamento. Estas experiências revelaram que a taxa de deposição decresce com o incremento da taxa de cisalhamento. Adicionalmente, em experiências realizadas para fluxo de calor nulo, não foi observada deposição alguma. Assim, considerando que o único mecanismo atuante nestas condições é a dispersão por cisalhamento, eles concluíram que este mecanismo não PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA contribui positivamente ao fenômeno de deposição. Por esta razão, o modelo numérico por eles desenvolvido foi baseado no mecanismo de difusão molecular. 2.4.6. Hsu et al., 1994 Hsu et al. [10] realizaram testes de deposição para condições de escoamento turbulento submetido a elevada pressão. A seção de testes foi projetada com o fim de estudar diferentes regimes de escoamento, composições de óleo e testar diferentes inibidores químicos. Os resultados experimentais concluíram que a deposição de parafinas depende da composição do óleo, das temperaturas do óleo e da parede do duto, das condições de escoamento, da dimensão da tubulação, do seu isolamento e da pressão do sistema. Eles afirmaram que a diminuição da temperatura do óleo abaixo da temperatura do ponto de névoa aumentará a potencialidade do problema de deposição em um duto. Porém, a deposição de parafinas somente acontecerá quando a temperatura da superfície de deposição no duto estiver abaixo do ponto de névoa. Esta afirmação, apesar de não ter sido claramente explicada, contempla a possibilidade que a deposição aconteça para as três 38 condições de fluxo de calor (zero, positivo e negativo) sempre que ambas a temperatura do óleo e da parede estejam abaixo da TIAC. Estudos sobre o comportamento do óleo usado submetido a temperaturas menores que o ponto de névoa revelaram que o óleo pode ainda continuar com um comportamento Newtoniano. A taxa de deposição de parafinas para os testes feitos nestas temperaturas críticas foi menor durante o comportamento Newtoniano do óleo e aumentaram ao mudar seu comportamento para pseudoplástico. Também foi concluído que o aumento da viscosidade (mudança do coeficiente de atrito) em testes feitos a baixas temperaturas resultaram em camadas menores de depósito devido ao incremento da remoção de cristais por cisalhamento. Foram também realizados testes para avaliar o impacto da remoção de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA cristais por cisalhamento. No início dos testes o óleo escoando em vazões pequenas era resfriado permitindo a precipitação de cristais. O incremento da vazão, e por tanto da taxa de cisalhamento, causava a remoção de cristais reduzindo a camada depositada até atingir uma espessura de equilíbrio. Baseados nestas observações, concluíram que a deposição de parafinas pode ser reduzida significativamente em condições de escoamento turbulento. 2.4.7. Hamouda et al., 1995 Hamouda et al. [8] realizaram experiências para regimes laminar e turbulento com o objetivo de verificar a importância dos mecanismos de deposição por difusão molecular e dispersão por cisalhamento. Eles projetaram uma seção de testes com três seções diferentes dispostas em série, nas quais o fluido era submetido a diferentes condições de temperatura. Partindo da consideração de que a difusão molecular é o mecanismo de deposição mais importante, decidiram testar a relevância da dispersão por cisalhamento para uma vazão fixa em que eles acharam previamente uma máxima taxa de deposição de cristais. Para este teste o óleo entrava na primeira seção com uma temperatura maior que o ponto de névoa. Nesta seção o óleo era resfriado até atingir uma temperatura menor que o ponto de névoa gerando 39 a deposição de parafinas. A temperatura de saída do óleo da primeira seção (menor que a TIAC) garantia que o óleo entrasse na segunda na presença de cristais em suspensão. Na segunda seção (a mais importante) tentava-se garantir um fluxo de calor nulo, para finalmente na terceira seção ser restabelecido o resfriamento gerando novamente a deposição de cristais. Se a dispersão por cisalhamento fosse um mecanismo relevante na deposição de parafinas, uma quantidade razoável de depósito deveria ser achada para as condições de teste da segunda seção (fluxo de calor nulo). Nesta seção de interesse, não foi visualizado depósito mensurável para condições de fluxo zero. Os autores concluíram então que a dispersão por cisalhamento não é o mecanismo responsável pelo transporte de cristais em suspensão na direção da parede, enfatizando que um fluxo nulo gera uma relativamente homogênea distribuição de cristais num duto. Hamouda et al. compartilham a mesma conclusão dada por Burger [5] na qual afirmam que a dispersão por PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA cisalhamento poderia ser um mecanismo de transporte lateral em condições de elevadas concentrações de cristais perto da parede (geralmente causada por um resfriamento). 2.4.8. Creek et al., 1999 Creek et al. [7] projetaram experiências com o objetivo de determinar os efeitos da temperatura e da vazão sobre a taxa de deposição e as características do depósito. Eles propuseram que a deposição de parafinas é gerada na camada limite laminar para condições de escoamento turbulento, e na região de baixas velocidades para condições de escoamento laminar. Cinco diferentes técnicas foram empregadas para estimar a espessura da camada depositada (diferença de pressão, balanço de energia, variação de volume no interior da seção de testes, ultrasom e medição direta). Mesmo assim, os resultados da estimativa da espessura mostraram uma considerável dispersão, revelando que a estimativa da espessura do depósito é realmente uma tarefa difícil. As experiências realizadas variando a diferença entre a temperatura do óleo e a da parede fria, concluíram que o fator gradiente de temperatura dT/dr é diretamente proporcional à taxa de deposição para ambos os regimes laminar e 40 turbulento. Os testes feitos para diferentes taxas de cisalhamento concluíram que a remoção por cisalhamento deve ter uma influencia importante quando as taxas de cisalhamento são aumentadas. A camada de depósito formada para condições de escoamento turbulento foi significativamente mais resistente e com menor conteúdo de óleo que a camada formada em condições laminares. Por outro lado, elevados gradientes de temperatura geravam camadas mais macias que os pequenos gradientes, o que foi atribuído ao fato que gradientes pequenos ocasionam somente a deposição dos componentes mais pesados. A espessura da camada de depósito para condições de escoamento laminar foi consideravelmente maior que aquela obtida para regime turbulento. Isto revela, uma vez mais, a participação do cisalhamento como possível mecanismo de remoção de depósito. Foi realizado adicionalmente um teste para condições de fluxo nulo para PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA avaliar a relevância do mecanismo de dispersão por cisalhamento e sua contribuição na deposição de cristais precipitados. Um teste inicial feito em condições de escoamento laminar, resultou em um depósito desprezível. O teste feito em regime turbulento nas mesmas condições de temperatura do anterior não mostrou deposição alguma. A aparente deposição achada nas condições de escoamento laminar foi atribuída a possíveis erros na medição de temperatura. Assim, poderiam ter acontecido na experiência fluxos de calor negativos não percebidos que, como é sabido, produzem a difusão molecular. Finalmente eles concluíram que em condições de fluxo de calor nulo não é produzida deposição de parafinas. 2.4.9. Leiroz, 2004 Leiroz [14] direcionou o seu trabalho para estudos de caráter fundamental buscando, mediante experimentos simples, tentar contribuir com o melhor entendimento dos mecanismos fundamentais responsáveis pela deposição de parafinas em dutos. Suas primeiras experiências consistiram no estudo do fenômeno de deposição em cavidades com fluido estagnado. O aparato experimental usado consistiu em uma cavidade retangular, feita de vidro, com as paredes dos 41 extremos de cobre que atuavam como aletas condutoras, que permitiam impor um gradiente de temperatura controlado. As paredes de vidro foram projetadas com a idéia de acompanhar visualmente o fenômeno de deposição, tentando detectar alguma movimentação dos cristais devido ao gradiente de temperatura imposto. Com este aparato experimental foram testadas diferentes condições de temperaturas, obtendo-se a evolução temporal da espessura do depósito. Para estas experiências de fluido estagnado, realizadas com lentes de aumento de até 1000x vezes, não foi visualizada a movimentação de cristais na direção da parede como seria o caso da difusão Browniana. Um modelo numérico para simular estas experiências de fluido estagnado foi baseado em difusão molecular como único mecanismo de deposição. Os resultados mostraram que o modelo difusivo subestimou os perfis de deposição indicando que outros mecanismos além da difusão molecular poderiam estar agindo. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Seguindo a filosofia de estudar-se problemas com grau crescente de dificuldade, foram realizadas experiências de deposição sobre escoamento laminar. A seção de testes consistia num canal retangular com duas paredes de vidro que permitiam a visualização, e duas de cobre para controlar a temperatura. O fluido usado foi uma solução de 90% de óleo spindle e 10% de parafina comercial, com propriedades bem conhecidas. Os testes foram realizados todos com temperaturas de injeção do fluido acima do ponto de névoa submetido a diferentes condições de resfriamento. Os perfis da evolução temporal e espacial dos depósitos de parafina foram obtidos para os diferentes casos, com a finalidade de serem comparados com modelos de simulação numérica. Aparentemente foram o primeiro conjunto de dados disponível na literatura que revela em detalhe a evolução temporal e espacial dos depósitos de parafina. Os resultados obtidos nestes testes de deposição revelaram uma perfeita simetria entre as camadas de depósitos obtidos nas paredes superior e inferior do canal. A Figura 2.7 mostra o resultado referido que evidencia que os efeitos gravitacionais são realmente irrelevantes em condições de escoamento. 42 Figura 2.7: Teste para a avaliação da simetria da camada de parafina depositada nas paredes superior e inferior do canal. Temperatura de entrada 40°C. Temperatura da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA parede igual a 15°C. Re=580. TIAC igual a 36,6°C [14]. É importante dizer que o presente trabalho é uma continuação desta pesquisa feita por Leiroz e, como será detalhado mais a frente, foi desenvolvido utilizando seu aparato experimental projetado para condições de escoamento. Assim, como será visto no capítulo de resultados, foram repetidos alguns dos testes feitos por Leiroz tentando avaliar algumas mudanças realizadas na seção de testes utilizada no presente trabalho. 2.4.10. Todi, 2005 Todi [29] desenvolveu um modelo numérico baseado em experiências realizadas com a finalidade de estudar a deposição de parafinas em condições de escoamento, e com temperaturas de injeção do óleo menores que o ponto de névoa (na presença de cristais em suspensão). A finalidade deste estudo foi avaliar os mecanismos de deposição de cristais já formados e suspensos na solução. O aparato experimental era formado por um duto circular posicionado em um ambiente, com a temperatura controlada por um termostato que possuía uma incerteza de ±1ºC. Este duto foi construído de acrílico para possibilitar a visualização da formação de camadas de depósito de parafina. O fluido usado foi uma mistura de querosene, óleo mineral e parafina industrial. Assim, com esta composição conseguiu que o modelo de óleo preparado apresente um 43 comportamento pseudoplástico quando resfriado em temperaturas menores que a TIAC. A TIAC da solução utilizada por Todi foi medida em 10,9°C. O estudo do escoamento foi realizado utilizando a técnica de PIV (Particle Image Velocimetry), com que foram obtidos os perfis de velocidades para as diferentes condições de escoamento estudadas. Para o estudo da concentração de cristais devido ao cisalhamento foi usada uma técnica chamada Laser Light Scattering, que consistiu na iluminação da região de estudo da tubulação mediante um plano de luz emitido por um laser, acompanhando a visualização com uma videocâmara. Com esta técnica, Todi observou que os cristais de parafina migram para uma região anular perto da linha central da tubulação. Ao mesmo tempo ele visualizou estes cristais difundindo para regiões de menor concentração como resultado da difusão Browniana. O estudo do efeito da taxa de cisalhamento na distribuição de cristais revelou que elevadas taxas de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA cisalhamento ocasionavam que a concentração anular de cristais ficasse mais perto da linha central do duto. A Figura 2.8 mostra uma curva de concentração típica para uma taxa fixa de cisalhamento e para diferentes condições de temperatura do óleo. Pode ser observado que a concentração de cristais, medida em intensidade de pixels, varia em função do raio do duto. Foi concluído também que as diferentes temperaturas do fluido e as diferentes condições de fluxo de calor a que é submetido, não influenciam significativamente a distribuição de cristais na tubulação. Figura 2.8: Concentração de cristais suspensos em função do raio da tubulação. Te=5ºC, Tp=0, 5 e 25ºC [29]. As experiências de deposição de parafina com temperaturas de injeção do fluido e da parede abaixo do ponto de névoa resultaram em deposição para as três condições de fluxo de calor (nulo, positivo e negativo). Para o caso de fluxo 44 zero e positivo, as camadas de depósito visualizadas foram muito finas e os tempos de formação de depósito para alguns casos foi de até 3 dias. O teste realizado para fluxo de calor positivo foi projetado inicialmente com uma temperatura de injeção de 5°C e temperatura ambiente de 22°C. Esta temperatura do ambiente gerava uma temperatura da parede do duto de 13,5°C (maior que a TIAC). Para 3 dias de teste não foi achado material depositado. Um segundo teste diminuindo a temperatura do ambiente para 15°C gerou uma temperatura de parede de 9°C (menor que a TIAC), resultando em uma muito fina e homogênea camada de depósito visualizada depois de 3 dias. De ambos dos testes concluiu-se que a deposição em condições de fluxo positivo ocorre se ambos a temperatura de injeção do óleo e da parede encontram-se abaixo da TIAC. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Os testes para fluxo de calor nulo foram realizados para alta e baixa concentração de cristais. A alta concentração de cristais foi gerada com as temperaturas de injeção e do ambiente, iguais a 5°C. Com esta temperatura, uma camada visível de depósito foi achada depois de 8 h. De outro lado, o teste com baixa concentração de cristais foi feito para a temperatura de 9ºC. Nestas condições, a deposição de cristais foi visualizada a jusante da tubulação na metade inferior depois do dia 3. Uma experiência adicional com maiores taxas de cisalhamento para as mesmas condições de temperatura do teste com alta concentração de cristais, não resultou em deposição para um tempo de experimento de 3 dias. Isto revelou uma vez mais que o aumento da taxa de cisalhamento pode ocasionar a remoção de cristais. As conclusões de Todi, sobre os resultados dos testes para fluxo de calor zero, consideraram que a deposição por gravidade é um possível mecanismo responsável pelo transporte de cristais, especialmente em condições de vazões muito pequenas. Afirmou também que na ausência de difusão de parafina dissolvida devido ao fluxo de calor nulo, alguma forma de transporte de partículas na direção da parede devia ser responsável pelo depósito. O fluxo de calor negativo foi avaliado com a temperatura de injeção de 5°C e a temperatura do ambiente de 0°C. Um depósito fino e contínuo foi visualizado após 7 h. Nestas condições, a difusão de parafina dissolvida cumpre uma função relevante devido ao gradiente de temperatura imposto. A formação de 45 finas camadas de depósito foi atribuída a que um material de baixa condutividade térmica como o acrílico (material do duto) gera um isolamento natural. Por outro lado, o aumento da taxa de cisalhamento para este teste resultou em camadas descontinuas de depósito, evidenciando a remoção de material depositado causado pelo aumento da vazão. Uma reprodução parcial dos resultados obtidos das experiências realizadas por Todi, é apresentada na Tabela 2.3. Aqui são detalhadas as condições de temperatura, número de Reynolds, fluxo de calor além do resultado da experiência. É importante ressaltar que as vazões em que foram feitos os testes foram muito baixas. Os números de Reynolds mostrados na tabela evidenciam essa afirmação. Tabela 2.3: Reprodução parcial dos resultados das experiências realizadas para PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA condições de fluxo de calor nulo, positivo e negativo [29]. Tamb (ºC) Tinj (ºC) Tparede (ºC) Re calc 22 5 13,5>TIAC 11,7 Condição Sem Fluxo positivo 15 5 9,5 11,7 5 5 5,2 4,3 9 9 8,7 4,1 5 5 5,2 88,5 0 5 2,3 4,1 Resultados deposição Depósito após 3 dias Depósito após 8h Fluxo nulo Depósito após 3 dias Sem deposição Fluxo negativo Depósito após 7h Assim, das experiências realizadas variando-se as taxas de cisalhamento, foi concluído que um aumento da vazão gera sempre uma redução da espessura da camada de parafina depositada causada pela remoção por cisalhamento. Por outro lado, dos resultados das experiências realizadas para o estudo de concentração de cristais (Figura 2.8), o autor conclui que a dispersão por cisalhamento é um mecanismo importante e possível de estabelecer um perfil de concentração de cristais na tubulação (levando os cristais longe da parede), afirmando que este mecanismo não é responsável pelo transporte de 46 cristais na direção da parede. Finalmente fazendo referência aos testes para fluxos positivo e nulo, foi concluído que a deposição por efeitos gravitacionais e principalmente por difusão Browniana poderiam ser os mecanismos responsáveis pelo transporte de cristais na direção da parede. 2.5. Resultados relevantes As conclusões mais relevantes para o presente trabalho sobre a revisão da literatura detalhada, são apresentadas na Tabela 2.4. A coluna referida ao transporte de partículas indica se o autor considera ou não o transporte de cristais de parafina suspensos no escoamento na direção da parede. Na coluna do fluxo de calor são apresentadas as conclusões das experiências para PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA condições de fluxo de calor nulo e positivo, lembrando que para o fluxo negativo o gradiente de temperatura gerado sempre ocasiona deposição por difusão molecular, desde que a parede esteja em uma temperatura menor que a TIAC. Finalmente, a coluna remoção de cristais indica se o autor considerou a remoção de cristais depositados relevante e sobre que condições. Todos os autores aceitam que a difusão molecular (transporte de parafina na fase líquida) seja o mecanismo predominante na deposição de parafinas na presença de gradientes de temperatura no escoamento. As maiores contradições entre os autores encontram-se presentes nos estudos que procuram o esclarecimento do fenômeno de deposição de cristais suspensos no escoamento. Dos autores que estudaram a influencia da taxa de cisalhamento no fenômeno de deposição de parafinas [7, 10, 29, 31], todos aceitaram que o aumento da mesma ocasiona a remoção de material depositado. Pesquisas mais recentes baseados em experiências que estudaram a distribuição da concentração de cristais [29], afirmam que a dispersão por cisalhamento leva os cristais suspensos para uma região anular perto da linha central do duto, não contribuindo como mecanismo de deposição. Assim, a maior parte dos pesquisadores concorda em que o cisalhamento influencia negativamente ao fenômeno de deposição de parafina. 47 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Tabela 2.4: Principais conclusões da revisão bibliográfica realizada. 48 De outro lado, a presença de outros mecanismos de transporte de cristais na direção da parede foi continuamente mencionada com um número importante de evidencias experimentais [5, 9, 31]. Porém, ainda não foi confirmado com evidencias experimentais consistentes, qual ou quais são os mecanismos responsáveis pelo transporte de cristais formados e sobre que condições estes seriam relevantes. 2.6. Objetivo do Presente Trabalho A pesquisa bibliográfica realizada revelou o desconhecimento da relevância dos mecanismos de transporte de parafina na fase sólida. Assim, o objetivo do presente trabalho foi desenvolver experiências que procurem um PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA melhor entendimento da importância dos mecanismos de transporte de cristais suspensos no escoamento. A filosofia deste estudo foi realizar experiências simples, com propriedades do fluido bem conhecidas e condições de contorno bem controladas que possam ser simulados numericamente. Com este fim, foram realizados experimentos de visualização do fenômeno de deposição para diferentes condições de fluxo de calor (nulo, positivo e negativo) com a solução óleo-parafina escoando na presença de cristais em suspensão (temperatura abaixo da TIAC). Acredita-se que este tipo de experimentos em que o fluido possui uma concentração de cristais precipitados, poderia evidenciar o transporte das partículas por algum dos mecanismos conhecidos. Foi também parte dos objetivos, a obtenção detalhada da evolução temporal e espacial das camadas de depósito formadas, a partir das imagens de visualização registradas. Esta informação detalhada do transiente da deposição é considerada relevante para a avaliação da importância relativa dos mecanismos de deposição ao serem comparados com modelos de simulação numérica. 3. Procedimento e Montagem Experimental O presente trabalho é uma continuação da pesquisa iniciada por Leiroz [14]. A seção de testes usada para nosso estudo de deposição de parafina sob condições de escoamento laminar, foi obtida a partir de melhorias feitas no aparato experimental projetado e utilizado por ela. As modificações foram realizadas levando em conta suas sugestões, além das exigências decorrentes das novas condições de teste a serem investigadas onde cristais em suspensão são admitidos na seção de testes. Assim, no presente capítulo é apresentada em detalhe a disposição dos diversos elementos que compõem a seção de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA testes, além do procedimento experimental utilizado em cada uma das experiências. 3.1. Montagem experimental A seção de testes foi construída seguindo-se a filosofia de realizar experimentos simples que permitam avaliar a importância de cada um dos diferentes mecanismos de deposição conhecidos. Tendo em mente esta filosofia de estudo, foi construído um sistema composto por um reservatório de alimentação, uma bomba de cavidades progressivas e um canal retangular de dimensões internas 3 x 10 x 300 mm (largura x altura x comprimento), que é o coração da seção de testes (região de visualização). Em seguida serão descritos em detalhe cada uma das características e funções dos diferentes componentes listados. A Figura 3.1 mostra esquematicamente o detalhe da disposição de cada um dos elementos da seção de teste. 50 Figura 3.1: Vista esquemática da seção de testes para ensaios de deposição de parafina PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA em condições de escoamento. A parte principal da seção de testes é o canal. É aqui onde foram realizados os experimentos de deposição de parafina com o acompanhamento visual do comportamento transiente do fenômeno. O canal é constituído por duas paredes de cobre que atuam como espaçadores das duas paredes de vidro. As paredes de vidro, de 10 mm, foram projetadas tendo em mente a idéia de visualização do processo de deposição. As outras duas paredes de cobre, de 3 mm, foram usinadas a partir de blocos que contendo um furo axial por onde era circulada água proveniente de banhos termostáticos, que controlavam a temperatura. Assim, estas paredes de cobre atuavam como aletas condutoras que garantiam a homogeneidade da temperatura imposta como condição de contorno para as diferentes condições de deposição estudadas. A temperatura das duas paredes de cobre era controlada por dois banhos termostáticos Haake modelo Phoenix C25P com capacidade de geração de rampas de aquecimento e resfriamento. Adicionalmente, duas peças de acrílico a jusante e a montante das paredes de cobre, davam rigidez ao canal e garantiam a visualização do escoamento antes e depois da região de deposição. A Figura 3.2 mostra a montagem do canal com as duas peças de acrílico na entrada e saída. Um detalhe da construção do canal é mostrado na Figura 3.3. Nesta figura podem ser observadas as paredes de cobre e vidro que formavam a seção transversal retangular. Nas Figuras 3.4 e 3.5 são detalhadas as dimensões de construção do canal. 51 Figura 3.2: Vistas da montagem do canal com as duas peças de acrílico na entrada e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA saída. Figura 3.3: Vistas de conjunto e explodida do canal. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 52 Figura 3.4: Vista de frente e detalhe das dimensões do canal. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 53 Figura 3.5: Vista lateral e detalhe das dimensões do canal. 54 O reservatório era outro elemento importante da seção de testes. Este alimentava e armazenava a solução óleo-parafina utilizada nas diferentes experiências e foi fabricado de forma cilíndrica em aço inoxidável. Uma serpentina de cobre, ligada a um banho termostático, envolvia o reservatório mantendo a temperatura da mistura controlada. A solução óleo-parafina contida no cilindro era homogeneizada por um agitador de marca Fisatom modelo 713. O reservatório de alimentação e a serpentina foram-se instalados em um tanque maior construído também em aço inox. Adicionalmente, a jusante do canal, encontrava-se um tanque de dimensões menores. Fabricado em alumínio, este tinha a função de fixar o canal além de receber o fluido de saída. Os detalhes da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA construção dos tanques são mostrados nas Figuras 3.6 a 3.9. Figura 3.6: Vista isométrica e lateral do reservatório de armazenamento. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 55 Figura 3.7: Vista do topo e tampa do reservatório de armazenamento. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 56 Figura 3.8: Vista isométrica e tampa do reservatório de alumínio. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 57 Figura 3.9: Vista lateral e de topo do reservatório de alumínio. 58 A seção de testes era alimentada por uma bomba de cavidades progressivas modelo NM015BY01L06B da marca Netzsch. Este tipo de bomba foi escolhido devido à sua característica de gerar vazões volumétricas constantes. Adicionalmente, foi utilizado um inversor de freqüência da série CFW-08 da Weg, para controlar as revoluções da bomba e em conseqüência facilitar o controle de sua vazão. O inversor de freqüência utilizado tinha a capacidade de variar de 0 a 60 Hz com uma resolução mínima de 0,01 Hz. Assim, foi obtida a curva de vazão da bomba em função da freqüência do inversor, que pode ser encontrada no Apêndice A.2. Mangueiras de 3/4 de polegada foram utilizadas como linhas de transporte entre o canal, o tanque de alimentação e a bomba. As mangueiras, suas conexões e até o rotor da bomba foram aquecidas por resistências elétricas na forma de fitas e isoladas com lã de vidro. Variadores de tensão permitiam o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA controle de aquecimento. Assim, o aquecimento das linhas evitava a deposição indesejável da parafina antes da entrada do fluido no canal retangular. Figura 3.10: Vista superior da seção de testes que mostra o posicionamento da câmera. Com a finalidade de minimizar as vibrações geradas durante o funcionamento da bomba, o tanque de alimentação e o canal foram montados sobre uma placa de alumínio com bases de borracha. Esta placa de alumínio 59 permitia a fixação dos elementos mediante uma matriz de furos roscados. A câmera digital, usada para a visualização do fenômeno, foi também montada sobre a placa de alumínio sobre um sistema de trilhos dispostos especialmente para facilitar seu posicionamento. Posicionadores micrométricos, com uma resolução de 0,01 mm, permitiam a movimentação da câmera com a resolução necessária para garantir uma boa focalização das imagens para os diferentes aumentos usados. A Figura 3.10 mostra a vista superior da seção de testes onde pode ser observada a montagem da câmera digital. Sistema de Aquecimento por Jatos de Ar Como foi mencionado, as paredes de cobre do canal eram controladas por banhos termostáticos. Quando estas paredes eram resfriadas para permitir a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA condução de experimentos de deposição de parafina, as paredes laterais de vidro em contato com as paredes de cobre eram também resfriadas por condução de calor. Geralmente o resfriamento do vidro produzia deposição de parafina em suas paredes internas o que dificultava, e às vezes até impossibilitava, a visualização do fenômeno de deposição no interior do canal. Para contornar este problema foi projetado e construído um sistema de aquecimento das paredes de vidro utilizando jatos de ar. Assim, seis jatos, espaçados 50 mm um do outro, foram posicionados em ambos dos lados do canal para controlar a temperatura de cada parede de vidro. Os jatos foram calibrados em uma vazão e posicionados em uma distância tal que evitasse a formação de picos de temperatura no vidro. O ar, fornecido por um soprador, era aquecido até a temperatura desejada numa caixa com duas resistências de 1000W cada uma, que eram controladas por um variador de tensão. O soprador utilizado foi da série CR-2 da marca Aspo, e tinha a capacidade de gerar vazões de até 5 m3/min. Por outro lado o motor do soprador, estava também ligado com um inversor de freqüência da série CFW-08 da Weg para controlar sua vazão. As Figuras 3.11 a 3.13 mostram em detalhe o sistema de alimentação de ar. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 60 Figura 3.11: Vista esquemática do sistema de aquecimento por jatos de ar utilizado. Figura 3.12: Imagem que mostra o posicionamento do sistema por jatos de ar nas paredes de vidro do canal. 61 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Figura 3.13: Vista lateral do posicionamento dos jatos em ambas paredes de vidro. Controle e Medição de Temperatura O objetivo de comparar os resultados obtidos dos testes experimentais com diferentes modelos de simulação numéricas gerou a necessidade de um bom controle das condições de temperatura a que é submetido o escoamento. Assim, foi instrumentada a região do canal com 15 termopares tipo E com diâmetro de 0,12 mm. Um dos termopares, introduzido numa agulha hipodérmica, controlava a temperatura da solução óleo-parafina na entrada do canal. Um segundo, controlava a temperatura na saída dos jatos de ar. Os treze termopares restantes foram colados em uma das paredes de vidro com a finalidade de conhecer a distribuição espacial da temperatura na linha central da mesma ao longo do canal. Estes termopares dispostos na parede de vidro cumpriam uma função importante mostrando a influencia do aquecimento por jatos de ar mencionado. Os termopares utilizados foram conectados a um sistema de aquisição de dados AGILENT modelo 34970A. A temperatura era armazenada em intervalos de tempo de 10 segundos, tempo que foi considerado suficiente para acompanhar o transiente em estudo. A Figura 3.14 mostra em detalhe a disposição dos termopares na parede de vidro do canal. 62 Figura 3.14: Detalhe da disposição dos termopares na parede de vidro do canal. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Sistema de Visualização e Processamento de Imagens Para acompanhar e visualizar o fenômeno de deposição de cristais durante a realização das experiências foi usada uma câmera CCD modelo 630044 da TSI. A câmera estava ligada com um microcomputador e um aparelho de vídeo-cassete VHS em que eram registrados os filmes ou imagens, dependendo do tipo de estudo. A resolução espacial de esta câmera foi de 640 x 480 pixels, possuindo uma taxa fixa de 30 quadros por segundo. O acompanhamento do fenômeno de deposição foi realizado com três lentes de aumento diferentes dependendo do objetivo de estudo e da resolução desejada. Os aumentos utilizados durante este trabalho foram de 6x, 11x e 45x. Os experimentos registrados em modo VHS foram convertidos para arquivos digitais no formato AVI por meio de uma placa Pinnacle Systems Gmbh PCTV USB, o que facilitou a geração de seqüências de imagens. Solução Óleo-parafina Para os experimentos realizados, foi usada uma solução de 10% em peso de parafina em óleo. A parafina utilizada nas experiências foi da marca Vetec com um ponto de fusão na faixa de 56 a 58 ˚C. O óleo utilizado como solvente, foi o óleo Spindle proveniente da destilação a vácuo do petróleo e que foi fornecido pelo Centro de Pesquisa Leopoldo Miguez de Mello - Cenpes. Para o 63 preparo da solução, fundiu-se totalmente 1 Kg de parafina sendo posteriormente misturado com 9 Kg de óleo Spindle. A TIAC desta solução medida por viscosimetria, resultou ser de 36,6ºC. Detalhes da medição da TIAC e a apresentação das diferentes curvas das propriedades da parafina são apresentadas no Apêndice A.1. 3.2. Procedimento Experimental Dois tipos diferentes de testes foram desenvolvidos no presente trabalho, ambos em condições de escoamento laminar. Como será visto mais a frente, inicialmente foram realizados testes com o objetivo de avaliar as mudanças realizadas no aparato experimental usado por Leiroz [14], como por exemplo, a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA implementação do sistema de aquecimento por jatos de ar. O segundo tipo de experiências corresponde aos estudos de deposição na presença de cristais em suspensão, isto é, com temperaturas de entrada da solução óleo-parafina abaixo da TIAC. Assim, nesta seção serão detalhados ambos procedimentos experimentais. Experiências de Validação As experiências de validação foram desenvolvidas com temperaturas de injeção do fluido de 40ºC (maior que a TIAC) para diferentes temperaturas de resfriamento das paredes de cobre. Nesta seqüência de testes foram resfriadas ambas paredes de cobre superior e inferior do canal. A preparação do aparato experimental era iniciada derretendo a parafina do tanque de armazenamento mediante a recirculação de água quente proveniente de um dos banhos termostáticos. Depois de dissolvida a parafina do tanque, a solução era homogeneizada fazendo uso do agitador. A parafina sólida da região do canal era derretida mediante o aquecimento das paredes de cobre com água proveniente de outro banho termostático. Além disso, eram ligadas as resistências distribuídas ao longo das tubulações de transporte e do rotor da bomba. Somente depois de garantir que a parafina da seção de testes estivesse completamente derretida, era acionada a bomba na vazão requerida. A constante monitoração das temperaturas da experiência permitia controlar e 64 atingir as condições de temperatura desejadas para o caso em estudo. Assim, as experiências eram iniciadas com o resfriamento das paredes de cobre, mediante o acionamento do sistema de válvulas que controlava a passagem de água fria, dando inicio ao processo de deposição. Após o término da experiência de visualização, a parafina depositada no canal era derretida mudando a posição do sistema de válvulas e permitindo a passagem de água quente. Para a realização de cada experiência, sempre foram garantidos a homogeneidade da solução e o regime permanente do escoamento mediante o controle da estabilidade das diferentes temperaturas medidas. Nas experiências realizadas com o uso do sistema de aquecimento de jatos por ar, o soprador era ligado na vazão desejada e as resistências PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA aquecidas. A temperatura de saída dos jatos de ar requerida era atingida controlando a tensão de alimentação das resistências. Experiências com Cristais em Suspensão Este tipo de experimentos exigiu um maior cuidado. As diferentes experiências foram desenvolvidas com temperaturas de injeção do fluido abaixo da TIAC. O fluido na presença de cristais, foi submetido a diferentes condições de fluxo de calor (negativo, nulo e positivo). Para o caso de fluxo de calor nulo, ambas paredes de cobre foram mantidas na mesma temperatura do fluido de injeção. Por outro lado, para a geração de fluxos de calor negativos e positivos foi variada somente a temperatura da parede inferior, tentando manter a superior na mesma temperatura de injeção do fluido. Nestas experiências foi utilizado o sistema por jatos de ar para todas as condições de estudo. A preparação prévia do experimento era iniciada do mesmo modo que nos testes de validação. Somente depois de garantir que a parafina da seção de testes estivesse completamente derretida, era acionada a bomba na vazão requerida. Assim, a bomba era ligada mantendo as duas paredes de cobre em 40ºC e, ao mesmo tempo, a temperatura do ar na saída dos jatos em 38ºC (maior que a TIAC). Com estas temperaturas das paredes de cobre e do ar 65 fixas, ia sendo diminuída a temperatura de entrada do fluido ao canal. Esta temperatura de entrada da solução devia atingir uma temperatura menor que a TIAC garantindo a presença de cristais em suspensão. Logo após a temperatura da solução atingir a temperatura desejada, eram diminuídas as temperaturas das paredes de cobre e do ar até atender as condições necessárias para o experimento. A seqüência desta metodologia era importante já que garantia que não fossem produzidos antes da experiência, fluxos de calor negativos (temperaturas da parede menores que a do fluido) que ocasionam a deposição por difusão molecular. Assim, as experiências eram iniciadas, mediante o acionamento do sistema de válvulas que controlava a passagem da água proveniente do banho a temperatura controlada, dando inicio ao experimento. Do mesmo modo que nos testes de validação, depois da finalização da experiência de visualização, a parafina depositada no canal era derretida PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA mudando a posição do sistema de válvulas e permitindo a passagem de água quente. Para a realização de cada uma destas experiências, sempre foram garantidos a homogeneidade da solução e o regime permanente do escoamento mediante o controle da estabilidade das diferentes temperaturas medidas. 4. Resultados No presente capítulo serão apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir da visualização do fenômeno de deposição de parafinas sob condições de escoamento laminar. Como observado no Capítulo 2, verificou-se ainda existir dúvidas sobre a dependência do processo de deposição de parafina com as possíveis condições de fluxo de calor (positivo, negativo e nulo). Em particular, sobre o comportamento dos cristais de parafina quando o fluido de trabalho penetra no canal com temperatura inferior à TIAC. Como sugerido por Leiroz [14], o acompanhamento visual com lentes de aproximação do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA movimento destes cristais pode revelar algum mecanismo de transporte lateral de cristais. A seção de testes usada, detalhada no Capítulo 3, resultou de algumas modificações feitas no aparato experimental projetado e construído por Leiroz [14]. Assim, foi considerado necessário explicar e justificar as diferentes mudanças realizadas, além de repetir alguns experimentos realizados anteriormente para avaliação do impacto das mudanças introduzidas. Por esta razão, são apresentados primeiramente os dados gerados com a nova configuração do aparato experimental, comparando-os com aqueles obtidos por Leiroz [14]. 4.1. Validação dos experimentos As experiências realizadas no presente trabalho são baseadas na medição e visualização do fenômeno de deposição de parafina. A visualização do crescimento do depósito de parafina ao longo do canal foi realizada com a ajuda de uma câmara digital montada sobre um trilho. Para a obtenção da espessura do depósito, nas diferentes condições de estudo, utilizou-se a mesma técnica apresentada em Leiroz [14]. Esta técnica baseia-se na análise digital de seqüências de imagens em intervalos de tempo fixos. A capacidade de 67 enquadramento da câmara digital, limitada pelas diferentes lentes de aumento usadas, impossibilitava o enquadramento total dos 300 mm de comprimento do canal com as resoluções desejadas. Devido a este fato, o canal era subdividido em uma série de posições sucessivas para a câmera, cobrindo assim todo o comprimento do canal. Após posicionado o conjunto câmera e lente, era feita uma calibração da imagem utilizando marcações na parede do canal. Esta calibração possibilitava conhecer a dimensão horizontal e vertical de cada imagem, calculando assim o número de posições que a câmera deveria percorrer na direção axial do canal para cobrir toda sua extensão. Em cada posição era registrada uma seqüência de imagens (em intervalos de 1 minuto), com a evolução temporal da camada de depósito, desde a condição inicial sem depósito até o tempo de 10 minutos. A condição inicial era marcada pelo acionamento das válvulas dos banhos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA termostáticos, que permitiam a circulação de água fria pelas paredes de cobre produzindo o início da deposição. Após o término do registro das imagens, as paredes de cobre eram aquecidas mediante a circulação de água quente proveniente dos banhos termostáticos até que todo o depósito fosse removido. Antes de realizar a seqüência de imagens na posição seguinte, era garantida a condição de regime permanente do escoamento mediante a estabilidade das temperaturas controladas. Após ser estabelecida esta condição, a câmera era deslocada para a posição seguinte para iniciar um novo registro de seqüência de imagens. Durante o procedimento de registro de imagens para a medição de espessura do depósito em condições de regime permanente, as condições de vazão e temperatura eram ajustadas previamente e o crescimento do depósito acompanhado. O regime permanente era alcançado quando a camada de depósito atingia uma espessura de equilíbrio. Experiências previas determinaram que esta condição estável em que a espessura da camada de parafina depositada não variava com o tempo era atingida em 4 horas. Assim, dada esta condição de equilíbrio, a câmara era movimentada percorrendo todo o canal, posição a posição, registrando as diferentes imagens. A Figura 4.1 mostra um esquema das diferentes posições da câmera nas experiências de visualização e medição da espessura de depósito. Pode ser observado que as medições de espessura da camada são uma justaposição de várias imagens obtidas de replicações distintas do experimento. 68 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Figura 4.1: Esquema das diferentes posições da câmera para cada experiência. Para o emprego desta metodologia de medição da espessura de depósito, deveria ser garantida a repetibilidade de cada experiência. Isto quer dizer que para as mesmas condições de temperatura e vazão, diferentes testes para uma mesma posição deveriam resultar em espessuras do depósito iguais dentro de uma faixa de incerteza aceitável. Esta repetibilidade garantiria que a medição de espessura de uma determinada posição tivesse concordância com a medição da posição seguinte, formando em conjunto o perfil de espessura de depósito para todo o canal. Os testes de repetibilidade realizados por Leiroz resultaram em desvios na faixa de ± 5%. Este desvio foi considerado aceitável para as exigências do experimento, considerando-se as incertezas dos instrumentos de medição usados. 4.1.1. Comparação com os Resultados de Leiroz [14] O presente estudo sobre a deposição de parafina em um canal retangular é uma continuação do trabalho de pesquisa realizado por Leiroz [14]. Com o objetivo de possibilitar diferentes condições de teste foram realizadas algumas mudanças no aparato experimental usado por Leiroz. Uma destas mudanças consistiu em modificar o posicionamento da bomba e do canal no sistema. A 69 disposição da seção antiga consistia na localização do canal imediatamente na saída do tanque de alimentação, antes da bomba. Isto significava que o fluido escoava pelo canal nas condições de baixa pressão da bomba (pressão de sucção). A Figura 4.2 mostra esquematicamente a disposição antiga dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA elementos principais que formavam a seção de testes (tanque, canal e bomba). Figura 4.2: Esquema da disposição do tanque, canal e bomba na seção de testes usada por Leiroz [14]. O novo sistema possui a bomba instalada na saída do tanque de alimentação impulsionando o fluido na direção do canal localizado a jusante. A nova disposição do sistema pode ser observada na Figura 3.1 do capítulo em que foi detalhada a montagem experimental do presente trabalho. Esta nova disposição permite realizar os testes nas condições de pressão de recalque da bomba. Na montagem anterior com o canal ligado à sucção da bomba foi verificada a formação de bolhas de gás devido ao abaixamento da pressão, quando o experimento era operado com as vazões mais elevadas. A mudança efetuada solucionou este problema. Outra modificação introduzida na seção de testes foi a substituição do canal de entrada de acrílico por outro com comprimento 50 % superior àquele utilizado anteriormente. Este novo canal permitiu uma melhor visualização do escoamento na parte não aquecida do canal. Também foi realizada uma alteração no material da junta de vedação utilizada entre o canal de acrílico e o de cobre. O novo material utilizado, com espessura significativamente inferior àquele utilizado nos ensaios de Leiroz [14], permitiu a obtenção de uma transição suave entre os dois canais, evitando a formação de zonas de recirculação de escoamento que poderiam vir a afetar o perfil do depósito de 70 parafina naquela região de entrada do canal de cobre. Devido a estas mudanças na seção de testes, novos dados foram gerados para a evolução espacial e temporal da espessura de deposição. Estes dados foram comparados com os dados experimentais obtidos por Leiroz [14]. Como uma verificação do procedimento experimental adotado e da seção de testes construída, Leiroz realizou testes para avaliar a simetria da espessura do depósito obtido. Os resultados deste teste resultaram em camadas simétricas de depósito para as paredes superior e inferior. Isto, além de corroborar com a hipótese que a deposição por gravidade não é um mecanismo de deposição importante em condições de escoamento, evidenciou uma boa simetria dos perfis de temperatura e velocidade com que foram desenvolvidos os testes. Dada a importância deste teste, a simetria do depósito obtido também foi avaliada para esta nova configuração da seção de teste utilizada no presente PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA trabalho. A Figura 4.3 mostra o resultado do teste de simetria realizado. Levando-se em conta o nível de incertezas esperado para o experimento, pode-se confirmar que as camadas de depósito formadas nas paredes superior e inferior são iguais. Assim como em Leiroz [14], pode ser afirmado, uma vez mais, que os perfis de temperatura e velocidade gerados no canal que influenciam na formação de depósito, também são simétricos. As Figuras 4.4 a 4.6 apresentam a comparação entre os resultados experimentais obtidos no presente trabalho e aqueles obtidos por Leiroz [14] para a evolução espacial e temporal da espessura de parafina. Nas figuras os valores de número de Reynolds investigados foram, respectivamente, 368, 519 e 863, sendo os testes realizados com as mesmas condições de temperatura de entrada da solução Te=40ºC, e da temperatura das paredes de cobre, Tp=15ºC, que aquelas utilizadas por Leiroz [14]. A mesma solução de parafina com óleo spindle foi empregada. Os intervalos de tempo entre cada medição foram de 1 minuto em um total de 10 intervalos de tempo. Adicionalmente, foi medida também a espessura para a condição de regime permanente da deposição. Nas figuras, a espessura do depósito, dada em milímetros, é apresentada em função da coordenada axial do canal, também dada em milímetros. Para evitar uma superposição dos dados experimentais são apresentados somente os perfis de espessura de depósito para os tempos de 1, 5 e 10 minutos, além dos 71 resultados para regime permanente (4 horas). Os dados de Leiroz [14] são representados por símbolos abertos enquanto os dados do presente trabalho PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA são representados por símbolos cheios. Figura 4.3: Teste para avaliar da simetria das camadas de depósito nas paredes superior e inferior do canal (Re=863). Uma análise geral das figuras mostra que a concordância entre os resultados do presente trabalho com aqueles produzidos por Leiroz [14] é satisfatória. Nota-se uma ótima concordância entre os resultados no primeiro terço do comprimento do canal e também para maiores valores do número de Reynolds. Este processo de medição está associado a um nível de incerteza elevado devido à dificuldade em estimar-se a posição da interface sólido-líquido nas imagens digitalizadas. A partir do primeiro terço do canal, nota-se a formação de depósitos de parafina na parede interna do vidro que não representam a verdadeira posição da interface, necessitando de uma interpretação, até certo ponto subjetiva, por parte do observador. O problema de deposição no vidro é minimizado para os maiores valores do número de Reynolds, onde a parede de vidro mantém-se mais aquecida pelo escoamento. A influência da formação de depósitos na parede interna na avaliação da espessura de parafina depositada levou à instalação de jatos de ar aquecido 72 incidindo na parte externa das paredes de vidro, como será comentado mais adiante. Acredita-se que o nível de concordância obtido com os experimentos de Leiroz [14] seja satisfatório. Além disto, nas situações onde prevalecem discrepâncias maiores entre os dois experimentos, os resultados do presente trabalho parecem mais consistentes fisicamente não apresentando as variações abruptas encontrada em algumas regiões dos experimentos de Leiroz [14]. Credita-se este melhor desempenho à melhoria no procedimento experimental e, principalmente, à melhor qualidade da monitoração das temperaturas do experimento. Com estes dados era possível descartar-se experimentos que apresentassem variações excessivas de temperatura na parede externa de vidro fruto, possivelmente, de alterações na temperatura do laboratório. Diante dos resultados obtidos, a nova seção de testes foi considerada apta para a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA realização dos testes programados. Figura 4.4: Comparação dos testes com os realizados por Leiroz para Re=368. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 73 Figura 4.5: Comparação dos testes com os realizados por Leiroz para Re=519. Figura 4.6: Comparação dos testes com os realizados por Leiroz para Re=863. 74 Além da finalidade de qualificar a seção de testes construída, os resultados apresentados nas Figuras 4.4 a 4.6 mostram tendências interessantes do processo de deposição de parafina. Verifica-se que existe uma tendência à obtenção de menores espessuras de depósitos para maiores valores do número de Reynolds. Esta tendência está associada às menores espessuras da camada limite térmica formada no canal, o que limita a região onde a temperatura do líquido está abaixo da TIAC. Existe a possibilidade, não comprovada nestes experimentos, que as maiores taxas de cisalhamento associadas aos maiores valores do número de Reynolds possam contribuir para a remoção de cristais depositados. Os resultados também mostram que elevadas taxas de deposição são geradas no início do resfriamento e que estas vão diminuindo com o transcorrer do tempo até que uma espessura de equilíbrio seja atingida. Pode-se observar PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA nos resultados que os 10 primeiros minutos são responsáveis pela maior parte do material depositado. Por exemplo, a Figura 4.4 mostra que para Re=368 os 10 primeiros minutos de acumulação de depósito são responsáveis por cerca de 50% do valor da espessura final da camada obtida em regime permanente (4 horas). 4.1.2. Comparação dos Testes Realizados Com e Sem o Uso do Sistema de Jatos de Ar Como já comentado, as imagens obtidas nos experimentos que geraram os dados de crescimento do depósito apresentadas não permitiam observar com clareza a interface sólido-líquido devido à formação de depósito de parafina na superfície de vidro. Para uma melhor visualização do fenômeno de deposição, algumas modificações foram realizadas na seção de testes. Primeiramente, construiu-se um aquecedor de ar para manter o controle da temperatura das paredes de vidro. Este sistema era baseado no escoamento de ar quente em canal formado pela instalação de uma segunda parede de vidro paralela a cada parede do canal. Esperava-se que o ar quente escoando no espaço entre as paredes fosse capaz de manter a parede de vidro do canal em uma temperatura que fosse razoavelmente uniforme na direção axial e, ao mesmo tempo, mantivesse a parede livre dos depósitos de parafina que prejudicavam a observação da deposição no interior do canal. Este arranjo não funcionou como 75 esperado, produzindo variações significativas de temperatura da parede ao longo do comprimento do canal. Para contornar este problema, foi projetado um sistema de aquecimento da parede de vidro por jatos de ar. Como descrito no capítulo anterior, este sistema consistia em 6 jatos de ar dispostos de cada lado do canal, ao longo do seu comprimento, apontando na linha central das paredes de vidro. Além do sistema de distribuição de ar, o conjunto possuía um soprador de ar e uma caixa de resistências elétricas. O ar, impulsionado pelo soprador e aquecido na caixa de resistências, era distribuído em ambos dos lados do canal apontando ortogonalmente para as paredes de vidro. O desenho deste sistema é apresentado em detalhe no Capítulo 3. A idéia que motivou a utilização deste sistema de aquecimento foi baseado na constatação que sempre há perdas de calor da parede de vidro para o ambiente do laboratório, e que estas perdas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA afetam a espessura de parafina depositada. Como as perdas são inevitáveis, optou-se por controlá-las, isto é, por produzir um sistema de aquecimento por meio de jatos onde os coeficientes de troca de calor externos à parede de vidro pudessem ser muito bem estimados. Assim, no caso dos jatos empregados, o conhecimento da vazão de ar em cada jato, seu diâmetro, a distância da parede, bem como a temperatura do ar e da parede de vidro, permitiam uma excelente estimativa para o calor perdido pelas paredes de vidro que pode ser usada, por exemplo, em estudos de simulação numérica para fins de comparação com os resultados aqui reportados. O resultado obtido com este novo sistema de aquecimento por jatos de ar pode ser observado na Figura 4.7 As três imagens foram obtidas para uma mesma posição da câmera em relação ao canal e com as mesmas temperaturas de resfriamento das paredes de cobre. A primeira imagem, Figura 4.7.a, mostra as paredes superior e inferior de cobre sem depósito, em instantes anteriores ao início do resfriamento, portanto sem deposição de parafina. A imagem da Figura 4.7.b mostra um instante após o início do resfriamento onde podem ser observadas espessas camadas de depósito denso (cor escura) nas paredes superior e inferior. Junto aos depósitos, na direção do centro do canal observam-se regiões de coloração branca intensa correspondente à porção da camada depositada menos densa. Esta região que caracteriza a interface sólido-líquido está sobreposta na imagem 76 ao depósito de parafina formado na parede do vidro. Esta sobreposição dificulta a determinação da espessura de depósito, como já comentado. Prosseguindo na observação da imagem, verifica-se uma região central do canal onde uma fina camada de parafina depositada no vidro é verificada. No experimento que deu origem a esta imagem não foi utilizado o sistema de aquecimento por jatos. A imagem apresentada na Figura 4.7.c mostra um teste com o uso do sistema de jatos de ar nas mesmas condições de resfriamento da imagem da Figura 4.7.b. A parte central da parede de vidro, com muita menor quantidade de parafina depositada, é uma indicação do nível de melhoria obtido com a utilização dos jatos. A interface sólido-líquido pode ser agora identificada com maior facilidade, fornecendo assim medições do depósito com menores níveis de incerteza experimental. No entanto, é notória uma diminuição da espessura da camada de depósito de parafina, o que indica uma leve influência do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA aquecimento do vidro mediante o uso dos de jatos ar. Para caracterizar a influência das perdas de calor introduzidas pelos jatos, foram instalados termopares na superfície externa do vidro. Como foi descrito no Capítulo 3, foram colados nove termopares na linha central das paredes de vidro, na parte exterior do canal. Deste modo o leve aquecimento das paredes de vidro é levado em conta conhecendo-se os perfis de temperatura gerados e influenciados pelo sistema de aquecimento por jatos de ar. (a) (b) (c) Figura 4.7: Efeito da utilização de aquecimento por jatos na deposição de parafina no interior do canal. (a) Sem deposição de parafina. (b) Depósitos de parafina obtidos sem a utilização de jatos de aquecimento. (c) Depósitos de parafina obtidos com a utilização de jatos de aquecimento. A Figura 4.8 explica com maior detalhe as observações realizadas nas imagens da Figura 4.7. A Figura 4.8.a mostra a seção transversal do canal com uma camada de depósito obtida sem o uso de aquecimento por jatos de ar, 77 onde é observada uma camada de depósito nas paredes de vidro. Por outro lado, a Figura 4.8.b representa um teste nas mesmas condições de resfriamento, mas com o uso do aquecimento por jatos. Neste esquema também pode ser observada a consistência típica que possui a camada de depósito nas experiências realizadas. Esta é caracterizada por uma textura mais densa na PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA base do depósito junto à parede de cobre e uma mais porosa na superfície. Figura 4.8: Visão esquemática da seção transversal do canal com depósito gerado para as mesmas condições de resfriamento das paredes de cobre. (a) Formação típica do depósito sem o uso de sistema de jatos por ar. (b) Formação típica do depósito com o uso de sistema de jatos por ar. A redução da camada depositada de parafina provocada pelos jatos de aquecimento pode causar problemas, caso o aquecimento não seja bem controlado. Valores elevados da temperatura de aquecimento, ou de sua vazão, podem provocar altas taxas de aquecimento localizados na região de estagnação de cada jato, produzindo um efeito indesejável de vales e picos no perfil de espessura do depósito. Para evitar este problema, diversos testes foram realizados até obter-se uma combinação ideal entre os parâmetros que controlam o aquecimento por jatos. A situação ideal era representada por um depósito de espessura uniforme, sem a presença de depósitos na parede e que fosse obtida pelo menor valor possível da temperatura e vazão do jato. A configuração de aquecimento considerada ideal e utilizada nos experimentos realizados foi formada por um conjunto de 6 jatos incidindo ortogonalmente sobre cada parede lateral de vidro da seção de testes, espaçados de cerca de 50 mm. O diâmetro de cada jato era de 6 mm com um 78 afastamento do vidro de 24 mm. A vazão mais apropriada foi ajustada em 0,035 m3/min por jato, que era pequena o suficiente para não gerar picos de temperatura na região de incidência do ar provocando deformação do depósito. A temperatura considerada apropriada para a saída do jato foi de Tj=35ºC, produzindo uma razoável uniformidade na parede, como será visto adiante nos resultados dos perfis de temperatura resultantes das experiências. Como uma verificação da nova configuração da seção de testes equipada com os jatos de aquecimento, foram realizados experimentos para avaliar a simetria da espessura do depósito obtido. Leiroz [14] mostrou que os testes realizados sem a utilização do sistema de aquecimento por jatos de ar da parede de vidro geravam camadas simétricas de depósito para as paredes superior e inferior. Para garantir a simetria dos depósitos utilizando jatos de aquecimento foi necessário realizar um cuidadoso posicionamento vertical dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA jatos em relação às paredes de cobre. A Figura 4.9 mostra o resultado do teste de simetria realizado. A cuidadosa distribuição dos jatos gerou distribuições de temperatura homogêneas tanto vertical como horizontalmente, que foram manifestadas em camadas simétricas de depósito. Figura 4.9: Teste para avaliar da simetria das camadas de depósito nas paredes superior e inferior do canal, com o uso do sistema de jatos de ar (Re=519). 79 Após de realizado o teste de simetria foi considerado importante repetir as primeiras experiências realizadas, que foram comparadas com os resultados obtidos por Leiroz [14], Estes testes foram realizados para os mesmos números de Reynolds (Re=368, 519 e 863) e nas mesmas condições de temperatura (Te=40ºC, Tp=15ºC). As Figuras 4.10 a 4.12 mostram a comparação entre os resultados obtidos sem sistema de jatos de ar e com o uso do mesmo, para tempos de 1, 3, 5, 10 minutos e 4 horas. O eixo das ordenadas representa a espessura do depósito dada em milímetros, enquanto o eixo das abscissas representa o comprimento do canal dado também em milímetros. Como é observado nas figuras, desde o primeiro até o terceiro minuto não existe grande influência do aquecimento do vidro na espessura da camada de depósito. Isto é mais evidente para os números de Reynolds mais elevados, onde as camadas de depósito formadas são menores. Com o transcorrer do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA tempo, e com a espessura das camadas mais perto da linha central, a influência do aquecimento do vidro é maior, causando espessuras de depósito levemente menores. A diferença de espessura de depósito é mais notória para a condição de regime permanente (4 horas) devido à sua maior proximidade da linha central do canal onde o aquecimento é mais pronunciado. Figura 4.10: Comparação dos testes realizados com e sem jatos de ar (Re=368). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 80 Figura 4.11: Comparação dos testes realizados com e sem jatos de ar (Re=519). Figura 4.12: Comparação dos testes realizados com e sem jatos de ar (Re=863). 81 A boa concordância entre os resultados obtidos para os primeiros minutos, com e sem o uso do sistema de jatos de ar, garantem um bom desempenho do novo sistema de aquecimento implementado. A homogeneidade e similaridade dos perfis de espessura resultantes com aquecimento do vidro revelam que a vazão e temperatura escolhida para os jatos geram uma condição de contorno homogênea o suficiente, para cobrir a necessidade requerida. A diferença de espessura das camadas é somente uma conseqüência do leve aquecimento das paredes de vidro, e por tanto, de uma nova e melhor controlada condição de contorno estabelecida ao experimento. As figuras a seguir apresentam resultados típicos dos perfis axiais de temperatura medidos na linha de centro da parede externa de vidro para os três valores dos números de Reynolds estudados. Nas figuras, a temperatura da linha de centro do canal é apresentada como uma função da posição axial dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA termopares. As Figuras 4.13 e 4.14 mostram as temperaturas médias da linha central da parede de vidro, para as experiências realizadas sem e com a utilização de aquecimento por jatos de ar, respectivamente. Observa-se que para os experimentos de deposição de parafina realizados com a utilização do aquecimento das paredes de vidro com jatos de ar, obtém-se um melhor controle da temperatura ao longo da parede de vidro. Os perfis de temperatura gerados podem ser utilizados como condições de contorno para testes dos modelos de simulação desenvolvidos. Concluí-se também que a utilização dos jatos de ar reduz significativamente a influência gerada pela variação do número de Reynolds na temperatura ao longo da parede de vidro. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 82 Figura 4.13: Temperaturas ao longo do canal, da linha central da parede de vidro para os testes realizados sem o uso de jatos de ar (Te=40ºC, Tps=15ºC, Tpi=15ºC). Figura 4.14: Temperaturas ao longo do canal, da linha central da parede de vidro para os testes realizados com o uso de jatos de ar (Te=40ºC, Tps=15ºC, Tpi=15ºC). 83 4.2. Resultados para Deposição com Fluido Estagnado Após a validação da seção testes e do procedimento experimental utilizados, apresentaremos os resultados obtidos nos experimentos realizados. Iniciaremos a apresentação pelos os resultados obtidos para a deposição sob a condição de fluido estagnado. Nesta investigação a solução de óleo e parafina é mantida sem escoar no canal, sendo as extremidades de saída e entrada fechadas para impedir escoamento para os tanques. O fluido aprisionado no canal era então submetido a um gradiente de temperatura transversal através do aquecimento da parede superior de cobre simultaneamente ao resfriamento da parede inferior de cobre. O gradiente de temperatura assim formado é estável impedindo a formação de correntes de convecção natural. Estes experimentos têm como objetivo fornecer dados para validação de simuladores PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA computacionais do processo de deposição. A utilização da seção de testes do canal com um comprimento de 300 mm é conveniente, pois permite a realização dos testes na região central do canal, longe da influência das paredes laterais verticais que estariam presentes em uma cavidade com razão de aspecto mais próxima de 1. A visualização do experimento foi realizada com o mesmo procedimento já descrito para as experiências em condições de escoamento. Para obter imagens com a resolução desejada, foi usada uma lente que permitia um aumento de 6 vezes. Este aumento permitia visualizar na mesma imagem as duas paredes de cobre, superior e inferior, importantes como referência para a medição da camada de depósito. A câmera, posicionada no centro do canal e previamente calibrada, registrava uma seqüência de imagens em intervalos de tempo fixos. Estas imagens permitiam a medição da espessura de depósito formado, usando como ferramenta as dimensões de cada pixel obtidas na calibração prévia. Os experimentos para fluido estagnado foram desenvolvidos aplicando-se uma diferença de temperaturas entre as paredes de cobre. Esta diferença foi obtida mantendo-se a parede superior em uma temperatura fixa igual a 45ºC enquanto a parede inferior foi testada para três diferentes níveis de temperatura: 5, 15 e 25ºC. Uma experiência prévia realizada com o uso do aquecimento por jatos de ar resultou em depósitos irregulares, mostrando que estes causavam uma influência indesejável nos perfis de espessura esperados na ausência de 84 escoamento. Foi possível identificar que as regiões da camada de depósito mais afetadas pelos jatos encontravam-se nos pontos de estagnação dos jatos. Porém, outros testes sem o aquecimento do vidro, resultaram em boas condições de visualização com imperceptíveis camadas de depósito nas paredes de vidro, motivo pelo qual decidiu-se realizar os testes sem o aquecimento por jatos de ar. A Figura 4.15 apresenta imagens típicas obtidas nos testes de visualização da evolução da frente de deposição para fluido estagnado. Originalmente, nos primeiros 10 minutos de teste as imagens foram capturas com intervalo de tempo de 30 segundos. Entre os 10 e 15 minutos de experimento as imagens foram capturas com intervalo de 1 minuto. A partir deste momento foram capturas apenas mais duas imagens, uma para 30 minutos e outra para 150 minutos de teste. As imagens representam tempos de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 0, 1, 3 e 10 minutos após o início do resfriamento. (a) (b) (c) (d) Figura 4.15: Seqüência de imagens registrada nos testes de fluido estagnado com Tq=45ºC e Tf=5ºC. (a) Paredes de cobre superior e inferior antes de iniciado o resfriamento. (b) Camada de depósito resultante na parede inferior após 1 minuto. (c) Camada de depósito após 3 minutos. (d) Camada de depósito após 10 minutos. 85 A preparação para o experimento era iniciada com o aquecimento das paredes de cobre na temperatura de 45ºC. Estas condições eram mantidas por um tempo considerável para permitir um aquecimento homogêneo do fluido estagnado e conseguir uma estabilidade das temperaturas, que eram controladas pelo sistema de aquisição de dados. O inicio da experiência era marcado pelo resfriamento da parede de cobre inferior mediante a circulação de água fria. O movimento da frente de formação do depósito de parafina pode ser claramente observado nas imagens. Imagens como estas apresentadas na Figura 4.15 foram processadas para produzir informações quantitativas da variação temporal da frente de deposição. Os resultados das experiências para as três diferentes temperaturas da parede de cobre inferior são apresentados nas Figuras 4.16 e 4.17. A Figura 4.16 mostra a evolução temporal do depósito em toda a experiência, enquanto a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Figura 4.17 mostra os mesmos resultados para uma escala de tempo ampliada de modo a tornar mais fácil a interpretação dos resultados. Nas figuras a espessura dada em milímetros, é apresentada em função do tempo decorrido desde o resfriamento da parede inferior, dada em minutos. A figura é composta de três conjuntos de pontos cada um representando um experimento realizado para uma dada diferença de temperatura. Figura 4.16: Evolução temporal da espessura de depósito para os testes realizados com fluido estagnado para ∆T = 40º C , ∆T = 30º C e ∆T = 20º C . TIAC igual a 36,6ºC. 86 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA Figura 4.17: Detalhe dos primeiros 30 minutos da evolução temporal da espessura do depósito dos testes realizados com fluido estagnado. A Figura 4.17 mostra as elevadas taxas de deposição geradas nos 10 primeiros minutos das experiências. Após este tempo o crescimento de depósito é muito lento, atingindo uma espessura de assintótica de equilíbrio de aproximadamente 8,2 mm para Tf=5ºC, 7,3 mm para Tf=15ºC e 4,6 mm para Tf=25ºC (ver também Figura 4.16). Assim, a maior espessura de depósito resultou do teste com maior diferença de temperaturas entre as paredes ( ∆T = 40º C ), que é o caso do teste em que a temperatura da parede inferior foi de 5ºC. A temperatura externa da seção de testes era controlada por meio de termopares. Sua variação temporal nas experiências é apresentada na Figura 4.18. Estas três curvas correspondem aos valores medidos pelo termopar mais próximo da região central do canal, região onde foram realizadas as experiências. Uma análise da figura mostra que inicialmente os termopares indicam uma temperatura aproximadamente uniforme em torno de 43 °C. Esta temperatura foi obtida mantendo-se as duas paredes de cobre aquecidas e aguardando-se a obtenção da condição de regime permanente. Após esta condição ser atingida no segundo 1000, uma manobra de válvulas fazia com que a água proveniente de um banho termostático já previamente ajustado nas temperaturas estudadas fluísse para o trocador de calor conectado a uma das 87 placas de cobre. A outra placa era mantida ligada ao banho com temperatura de 45 °C. Os dados da figura mostram a evolução temporal do perfil de temperatura na parede de vidro. O inicio do resfriamento e marcado pela queda brusca da temperatura no segundo 1000. Como pode ser observado cerca de 250 segundos após o início do resfriamento da parede inferior de cobre, o perfil de temperatura atinge um valor praticamente constante. Como já mencionado, estes resultados obtidos para fluido estagnado constituem-se em excelentes testes para modelos de simulação da deposição. No Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio, Romero [24] apresentou em sua dissertação de Mestrado um trabalho de simulação numérica da deposição de parafina. Como um primeiro teste básico do modelo, a condição sob fluido estagnado pode agora ser avaliada contra os dados obtidos no presente trabalho. Este trabalho de comparação estava sendo realizado no PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA momento da redação deste texto, não estando ainda disponível para apresentação. Figura 4.18: Evolução dos perfis de temperatura para testes com fluido em cavidade estagnada. 88 4.3. Resultados para Deposição sob Escoamento Laminar Apresentaremos agora os principais resultados do presente trabalho, quais sejam, os perfis temporais e espaciais de deposição de parafina em um canal sob condições de escoamento laminar. Em particular, o presente trabalho focou atenção nos casos onde o fluido de trabalho penetrava na seção de testes com temperatura abaixo da TIAC tendo, portanto, cristais de parafina em suspensão. Os resultados obtidos para os depósitos formados são úteis para a verificação da existência de mecanismos de deposição de parafina além daquele por difusão molecular. Serão apresentados resultados para a deposição sob diferentes condições térmicas impostas ao escoamento. Estas condições são caracterizadas pelo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA sentido do fluxo de calor através das paredes de cobre. Assim, três condições foram investigadas: fluxo de calor negativo, fluxo de calor nulo e fluxo de calor positivo. No presente trabalho convencionou-se denominar fluxo de calor negativo a situação onde o calor é retirado do fluido através da parede, ou seja, a temperatura da parede encontra-se abaixo da temperatura média de entrada do fluido. Inversamente, no caso de fluxo de calor positivo, a temperatura da parede de cobre encontra-se acima da temperatura do fluido, sendo o calor fornecido para o fluido. No caso de fluxo de calor nulo, a temperatura da parede é igual à temperatura de entrada do fluido. Como será comentado mais adiante, a condição de fluxo de calor nulo é de difícil obtenção no laboratório, podendo gerar flutuações de sinal no fluxo, o que torna difícil a interpretação dos resultados. A existência ou não de depósitos de parafina sob condições de fluxo de calor nulo ou positivo ainda é assunto controverso na literatura. O presente trabalho visa a contribuir para o esclarecimento deste ponto. Deve ser ressaltado que os resultados a serem apresentados no presente trabalho são os primeiros resultados de perfis espaciais e temporais de deposição de parafina em dutos disponíveis na literatura. Os outros poucos resultados disponíveis apresentam sempre espessuras de depósitos medidas por técnicas globais empregadas sempre após o término dos experimentos, impedindo assim a obtenção de resultados instantâneos, como os aqui apresentados. 89 4.3.1. Resultados para Espessura de Deposição de Parafina – Fluxo de Calor Negativo Como mencionado na pequena introdução apresentada anteriormente, serão apresentados aqui resultados para a deposição de parafina sob escoamento laminar e com o fluido entrando no canal com temperatura inferior à TIAC, apresentando portanto, cristais em suspensão disponíveis para deposição nas paredes. A deposição de parafinas na presença de cristais em suspensão no escoamento é ainda uma condição muito pouco estudada pelos pesquisadores. Experiências deste tipo podem contribuir para um melhor entendimento da relevância dos mecanismos considerados responsáveis pelo transporte de cristais. A maior parte dos modelos numéricos encontrados na bibliografia PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA assume a difusão molecular como o mecanismo dominante do fenômeno de deposição de parafinas. Outros mais sofisticados consideram adicionalmente um mecanismo de remoção de depósito por cisalhamento, mas muito poucos consideram a deposição de cristais formados suspensos no escoamento. Como já foi visto na revisão bibliográfica, a evidência experimental que considera a deposição de cristais já formados para condições de baixas taxas de cisalhamento é considerável [5, 9, 29, 31]. Por esta razão que experiências com a solução óleo-parafina entrando no canal com temperaturas abaixo da TIAC, submetida a diferentes fluxos de calor e números de Reynolds, são interessantes. Este novo caso, em que cristais em suspensão acompanham o escoamento, é sem duvida um teste importante para modelos de deposição que contemplem o transporte de cristais em suspensão. A seguir serão apresentados resultados de diferentes experiências realizadas com temperaturas de injeção do fluido abaixo do ponto de névoa, em condições de fluxo de calor negativo, isto é, com temperaturas das paredes do canal menores que a temperatura de injeção do fluido. Os diferentes testes de validação realizados até agora no presente trabalho foram feitos com resfriamento das duas paredes de cobre (superior e inferior), o que gerava camadas de depósito simétricas. Para as experiências realizadas com temperaturas menores que o ponto de névoa, a presença de cristais no escoamento aumentava a taxa de deposição gerando camadas mais espessas de depósitos. Devido a este fato, optou-se por conduzir os 90 experimentos resfriando-se apenas a parede de cobre inferior (fluxo de calor negativo), mantendo-se a temperatura da parede superior próxima à temperatura de entrada do fluido (fluxo de calor nulo). Desta forma, evitava-se que os depósitos bloqueassem o canal, impedindo testes a baixas temperaturas. Todas as experiências desenvolvidas com cristais suspensos no escoamento foram realizadas com o sistema de aquecimento por jatos de ar operando nas condições mencionadas anteriormente. Os valores do número de Reynolds utilizados nos testes foram de 151, 213 e 354. Foi verificado que, ainda que trabalhando com as mesmas vazões volumétricas da bomba utilizadas nos testes de validação, a significativa variação da viscosidade da solução devida à presença de cristais e aumento de viscosidade do óleo, gerou uma diminuição importante no valor do numero de Reynolds calculado. Em todos os experimentos com fluxo de calor negativo foram utilizadas as mesmas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA condições de temperatura de injeção da solução óleo-parafina, Te=34ºC, e mesma temperatura da parede superior, Tps=35ºC. Três diferentes condições de temperatura da parede inferior foram testadas para cada um dos números de Reynolds investigados, Tpi=29, 19 e 9ºC. Como a temperatura das paredes de vidro influenciam na espessura do depósito e são controladas pelo sistema de aquecimento por jatos utilizado, para cada teste realizado foram monitoradas e apresentadas as temperaturas da parede de vidro. Assim, o fluxo de calor perdido pela parede pode ser avaliado por um futuro usuário dos resultados aqui apresentados. A condição de fluxo de calor negativo mencionada é obtida pela diferença imposta entre a temperatura de fluido e a temperatura da parede inferior. Por outro lado, a condição de fluxo de calor nulo entre o fluido e a parede superior foi aproximada com a temperatura da solução óleo-parafina mantida na faixa de Te = 34 ± 0,3º C e da parede superior mantida na faixa T ps = 35 ± 0,3º C . Estas faixas de temperatura consideram as incertezas dos instrumentos de medição, além das possíveis oscilações das temperaturas de teste devido à influência do ambiente externo. A mínima diferença possível entre estas duas temperaturas resulta ser de 0,4ºC, sendo mais que evidente que esta condição de calor nulo é na verdade, por vezes, uma condição de fluxo de calor positivo. Esta diferença de 0,4ºC foi utilizada para evitar que as oscilações da temperatura gerassem fluxos de calor negativos, condição de contorno que, como é conhecido, sempre gera deposição de parafina. 91 Os primeiros resultados da espessura do depósito apresentados na Figura 4.19 foram obtidos para a condição de regime permanente, para valores do número de Reynolds de 151, 213 e 354 e temperatura da parede inferior, Tp=29°C. A diferença de temperatura entre a parede inferior e a temperatura de injeção da solução é de 5 °C. Este foi o menor ∆T usado nas experiências, gerando as camadas de depósito menos espessas. A TIAC para a mistura utilizada era de 36,6oC. O depósito dado na forma dimensional em milímetros é apresentado em função da coordenada axial do canal também dada em milímetros. Como era esperado, o maior número de Reynolds gerou camadas de depósito menos espessas, assim como observado nos testes realizados com temperaturas de injeção da solução acima da TIAC. Resultados típicos dos perfis de temperatura nas faces externas das paredes de vidro medidos para estes experimentos, são mostradas na Figura PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 4.20. Nesta figura, a temperatura da linha de centro da parede é apresentada como função da posição axial dos termopares. Como pode ser observado, a temperatura da parede de vidro é praticamente constante e igual a 34,5ºC. Esta distribuição homogênea da temperatura, quase constante para os diferentes números de Reynolds testados, confirma que o uso do aquecimento por jatos de ar gera uma condição de contorno homogênea. É importante mencionar que sem o uso do sistema de aquecimento por jatos de ar, o problema de deposição de parafina nas paredes de vidro mostrado nas Figuras 4.7 e 4.8, geraria sem dúvida problemas mais críticos nestas experiências realizadas na presença de cristais, causando muitas dificuldades na visualização e na medição do depósito. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 92 Figura 4.19: Comparação da espessura do deposito em regime permanente (4 horas) para diferentes números de Reynolds ( ∆T = 5º C ). Figura 4.20: Temperaturas na linha central da parede de vidro para os testes realizados na presença de cristais em suspensão (Te=34ºC, Tps=35ºC, Tpi=29ºC). 93 Continuando com a seqüência de experiências programada, foram realizados novos testes desta vez com a temperatura da parede inferior Tpi=19ºC. Aqui foram obtidos os perfis espaciais e temporais de deposição para os mesmos números de Reynolds de 151, 213 e 354. As Figuras 4.21 a 4.23 mostram a evolução espacial e temporal da espessura de depósito de parafina para os tempos de 1, 3, 5, 10 e 150 minutos. O depósito, dado em milímetros, é apresentado em função da coordenada axial do canal também dada em milímetros. Nos experimentos reportados nas Figuras 4.21 a 4.23 não foi possível atingir o regime permanente devido a dificuldades na visualização da camada de parafina depositada. A diferença de temperaturas entre o fluido e a parede inferior de cobre ( ∆T = 15º C ) somado ao incremento potencial da deposição devido à presença de cristais, geraram camadas de depósito nas paredes de vidro mesmo com o uso do aquecimento por jatos de ar. Assim, a interface sólido-líquido somente foi possível de ser identificada até o minuto 150, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA tempo no qual foi obtido o último perfil de espessura do depósito. Assim como nos testes de validação com temperaturas acima da TIAC, aqui as taxas de deposição foram elevadas nos primeiros minutos, diminuindo com o transcorrer do tempo. Uma característica do perfil de espessura de depósito medida, também notória nos testes de validação, é evidente na região de entrada do canal para os primeiros minutos da experiência. Pode ser visto nas Figuras 4.21 a 4.23 que o perfil gerado no primeiro minuto apresenta uma espessura levemente maior na entrada, que diminui e novamente aumenta na região a jusante do canal. Esta morfologia característica da espessura na entrada do canal vai desaparecendo com o transcorrer do tempo. Na experiência com a menor vazão (Re=151) e em conseqüência menor taxa de cisalhamento, esta característica é mais clara (ver Figura 4.21). Por outro lado, na Figura 4.23, para taxas de cisalhamento maiores (Re=354), este comportamento é desprezível. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 94 Figura 4.21 - Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 15º C ). Re=151. Figura 4.22: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 15º C ). Re=213. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 95 Figura 4.23: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 15º C ). Re=354. A Figura 4.24 mostra a taxa de crescimento do depósito para um ponto fixo na região central do canal e para os dez primeiros minutos dos experimentos. Este gráfico compara os três testes mostrando que são geradas menores taxas de crescimento do depósito na medida que o número de Reynolds aumenta. A distribuição de temperatura na linha central das paredes de vidro é apresentada na Figura 4.25. Estes valores encontram-se próximos de 33,5ºC, mostrando um comportamento quase uniforme ao longo do canal. Pode também ser percebida que a variação do número de Reynolds afeta muito pouco a temperatura local medida por cada um dos termopares. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 96 Figura 4.24: Taxa de crescimento de depósito para os 10 primeiros minutos dos testes realizados com cristais em suspensão (∆T = 15º C ) . Figura 4.25: Temperaturas na linha central da parede de vidro para os testes realizados na presença de cristais em suspensão (Te=34ºC, Tps=35ºC, Tpi=19ºC). 97 Os resultados a serem apresentados do próximo teste realizado correspondem a uma diferença de temperatura entre o fluido e a parede de 25oC. Por esta razão, o problema da deposição de parafina no vidro agravou-se permitindo que os testes fossem conduzidos até um tempo máximo de 80 minutos, tempo ainda distante daquele esperado para a obtenção do regime permanente. A partir deste tempo, as observações da deposição por meio da câmera tornavam-se impossíveis. Para estes testes, a temperatura da parede inferior de cobre foi mantida em Tpi=9ºC. As condições de temperatura mencionadas geram a condição mais crítica de deposição estudada. Esta maior diferença de temperatura entre o fluido e a parede inferior ( ∆T = 25º C ) gera o maior fluxo negativo das experiências realizadas na presença de cristais em suspensão, resultando em camadas de depósito mais espessas. As Figuras 4.26 a 4.28 mostram os resultados da evolução temporal dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA perfis de espessura medidos. Os dados apresentados nestas figuras apresentam comportamento da espessura de depósito semelhante àquele já comentado para o caso das Figuras 4.21 a 4.23. Ressalte-se que aqui é mais notória a maior espessura característica observada na entrada do canal nos primeiros minutos. Isto pode ser devido ao aumento das taxas de deposição geradas pela significativa diferença de temperaturas entre o fluido e a parede fria. Esta morfologia característica do depósito, mais notória para Re=151 (Figura 4.23), também vai desaparecendo com o passar do tempo. As elevadas taxas de deposição podem ser observadas na Figura 4.29. Aqui é apresentada novamente a evolução da espessura das três experiências juntas, para os dez primeiros minutos e para um ponto fixo na região central do canal. É observado que maiores números de Reynolds, geram menores taxas de deposição. Este fato, já observado para o caso da temperatura de entrada da mistura acima da TIAC, é mais uma vez verificado para o caso onde há presença abundante de cristais em suspensão. Caso um mecanismo baseado no cisalhamento fosse relevante, os experimentos com maiores valores de número de Reynolds e, portanto, apresentando maiores taxas de cisalhamento, poderiam revelar maiores espessuras de depósito. Este não foi o caso, indicando que a dispersão por cisalhamento não deve ser um fator relevante na deposição. Deve ser lembrando, no entanto que a dispersão por cisalhamento pode ser responsável por formar gradientes de concentração de cristais em regiões próximas à parede, requisito necessário para a ativação do mecanismo de deposição por 98 difusão Browniana. Voltaremos a este assunto mais adiante quando comentarmos o trabalho de Todi [29]. A distribuição de temperatura na linha central das paredes de vidro pare estes testes é apresentada na Figura 4.30. Estes valores apresentam uma leve variação com uma média de aproximadamente 32ºC, apresentando uma maior dispersão que nos casos anteriores. Assim, pode-se concluir que a dispersão da temperatura da linha central das paredes de vidro é influenciada principalmente pela diferença de temperaturas entre o fluido e a parede fria (parede inferior). Aqui foi notada uma maior variação da temperatura medida por cada termopar para os diferentes números de Reynolds. No entanto, o sistema de aquecimento por jatos de ar implementado para a realização de estes testes, foi de muita ajuda na realização destas experiências na presença de cristais suspensos no escoamento. O leve aquecimento por ele gerado permitiu registrar a evolução da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA camada de espessura do depósito nestas difíceis condições de experimento. Figura 4.26: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 25º C ) . Re=151. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 99 Figura 4.27: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos (∆T = 25º C ) . Re=213. Figura 4.28: Evolução temporal e espacial da espessura do depósito na presença de cristais com o uso do sistema de jatos ( ∆T = 25º C ) . Re=354. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 100 Figura 4.29: Taxa de crescimento de depósito para os 10 primeiros minutos dos testes realizados com cristais em suspensão ( ∆T = 25º C ) . Figura 4.30: Temperaturas na linha central da parede de vidro para os testes realizados na presença de cristais em suspensão (Te=34ºC, Tps=35ºC, Tpi=9ºC). 101 Um teste especial realizado até o regime permanente (4 horas) feito para a condição mais crítica, representada pelo menor número de Reynolds (Re=151) e a maior diferença de temperatura entre o fluido e a parede inferior, ∆T = 25º C , mostrou que o canal não era bloqueado pela parafina. A espessura de equilíbrio foi atingida em um máximo de aproximadamente 6 milímetros, evidenciando de algum modo que o aumento das taxas de cisalhamento devido ao bloqueio parcial do canal não permitiram camadas de depósito mais espessas. Na análise dos resultados obtidos, ainda não foram mencionadas as características da camada de parafina depositada. Como foi dito no procedimento experimental, nos testes na presença de cristais em suspensão, eram mantidas as duas paredes de cobre a 35ºC. A temperatura de injeção da solução era mantida em 34ºC até que a condição de regime permanente fosse atingida. Após alcançada essa condição, o resfriamento era iniciado circulando PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA água fria somente pela parede inferior iniciando assim a deposição de material. Após o término da experiência, era circulada pela parede inferior água a 35ºC com a finalidade de remover a parafina depositada. Inicialmente, foi planejado aumentar a temperatura do banho de 35ºC para 40ºC (acima da TIAC) para conseguir derreter a parafina depositada e iniciar um novo teste. Porém, contrariamente ao esperado, a temperatura de aquecimento da parede de 35ºC (menor que a TIAC), ocasionava que a parafina em contato com a parede fosse fragilisada causando a remoção do depósito pelo escoamento, desde sua base junto à parede de cobre. A remoção do depósito com a temperatura de aquecimento de 35ºC (menor que a TIAC), aconteceu em todas as experiências realizadas na presença de cristais em suspensão. No entanto, os depósitos produzidos com os maiores números de Reynolds demoravam mais tempo para serem removidos, sendo um indicativo de que maiores vazões e em conseqüência maiores taxas de cisalhamento, geram depósitos mais resistentes e densos. A densidade do depósito é outra característica particular. Os depósitos mostraram sempre uma parte espessa, mais densa próxima à parede fria, e outra mais porosa na interface. A Figura 4.7.c mostra as camadas de depósito com uma região espessa e mais densa de cor escura perto da parede, e com a superfície mais clara e porosa. Esta imagem confirma esta característica mencionada. 102 4.3.2. Resultados sobre a Observação da Movimentação de Cristais de Parafina Ao longo dos experimentos realizados para a condição de fluxo de calor negativo foi possível visualizar a movimentação de cristais escoando e depositando. Com o aumento de 11x usado naqueles experimentos, visualizouse uma concentração maior de cristais perto da parede, mais visível nos primeiros instantes após o início do resfriamento. Devido a este fato, decidiu-se realizar experimentos adicionais de visualização com uma lente de maior aumento, tentando identificar os cristais formados depositando na parede fria. Assim, utilizou-se uma lente com aumento de 45x que, além de conseguir a resolução desejada, proporcionava o enquadramento de um campo visual suficiente. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA A grande concentração de cristais suspensos junto da parede de cobre observada com o aumento de 11x, era gerada imediatamente depois de iniciado o resfriamento. Esta região apresentava uma concentração de cristais muito maior que a parte central do canal que se encontrava com uma temperatura mais elevada, porém ainda menor que a TIAC. A densa camada de cristais suspensos mostrava uma morfologia característica, fina na entrada e espessa na região de saída do canal. Aparentemente, esta camada de alta concentração de cristais era formada devido ao resfriamento brusco, podendo ser da ordem de grandeza da camada limite térmica, gerada pela influência da temperatura da parede fria. Ao mesmo tempo, formava-se na parede uma fina camada de depósito que crescia continuamente, em condições similares ao fenômeno de formação de depósito sob a condição de fluido estagnado. A região de maior concentração de cristais suspensos escoando junto da parede, apresentava um pico de concentração quase imediatamente depois de iniciado o resfriamento. Com o passar do tempo, a camada crescente de depósito que se formava na parede atuava como um isolante térmico diminuindo a troca de calor com a parede, e em conseqüência tornando menos densa a região de maior concentração de cristais. A Figura 4.31 dá uma idéia da morfologia da camada de concentração de cristais visualizada nos primeiros segundos do resfriamento. Aqui também são mostradas as posições da câmera em que foram obtidas as imagens das visualizações que serão mostradas mais para frente. 103 Figura 4.31: Região de concentração de cristais perto da parede nos primeiros segundos depois de iniciado o resfriamento. As visualizações detalhadas foram observadas em todas as experiências PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA feitas com cristais em suspensão para condições de fluxo de calor negativo. As diferentes temperaturas da parede de cobre e o número de Reynolds do escoamento influenciavam na espessura e densidade de partículas desta região de maior concentração de cristais. Assim, maiores números de Reynolds assim como menores gradientes de temperatura entre o fluido e a parede, contribuíam a diminuir a espessura da camada mencionada. O primeiro teste de visualização da movimentação de cristais suspensos, foi o realizado nas condições de deposição mais críticas estudadas (Re=151 e Tpi=9ºC), com posições da câmera na entrada e saída do canal e para um aumento de 45x. Este número de Reynolds representa os testes com as menores taxas de cisalhamento, enquanto a temperatura da parede fria de 9ºC correspondia ao maior ∆T estudado. Para a região de entrada do canal, esta experiência de visualização revelou um crescimento homogêneo da espessura do depósito similar ao observado em condições de fluido estagnado. Nesta posição foi observada uma fina camada, que apresentava uma maior densidade de cristais suspensos, escoando junto ao depósito. A Figura 4.32 mostra uma seqüência de imagens do teste de visualização com tempos de 2 segundos entre cada uma das elas. A imagem (a) mostra a parede inferior do canal sem depósito antes do resfriamento. A imagem (b), mostra a fina camada de depósito formando-se no inicio do resfriamento. Pode-se observar que esta camada cresce com uma taxa aparentemente constante até a imagem (h). Para uma rápida identificação da superfície do depósito, as imagens foram marcadas com 104 um ponto cor laranja que mostra a espessura da camada para cada instante de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA tempo. (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) Figura 4.32: Seqüência de imagens obtidas na entrada do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=151. Aumento utilizado 45x. 105 A deposição de parafina na região de saída do canal aconteceu mais bruscamente nos primeiros segundos do resfriamento. Como foi dito, uma espessa camada de concentração de cristais junto à parede foi observada ao mesmo tempo em que uma fina camada de depósito era formada. A Figura 4.33 mostra a seqüência de imagens para a região de saída do canal para intervalos de tempo de 2 segundos. A imagem (a), sem depósito, mostra instantes anteriores ao resfriamento. A imagem (b) marca o inicio do resfriamento mostrando uma fina camada de depósito crescente. Dois segundos depois na imagem (c), pode ser observada a mencionada espessa camada de concentração de cristais escoando junto da ainda fina camada de depósito. Como pode ser visto na imagem (d), estes cristais que vêm da região a montante do canal, são depositados rapidamente na parede aumentado subitamente a espessura do depósito. Foi visualizado que a camada de cristais concentrados que ocasionaram o aumento acelerado da espessura do depósito, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA vai diminuindo sua espessura e concentração com o passar do tempo. Assim, a deposição de cristais precipitados que foi mais visível no instante de produção do pico de concentração de cristais, também vai diminuindo até voltar para as condições de deposição similares às geradas na região de entrada do canal. As imagens mostram que a súbita deposição de cristais suspensos gerou uma superfície irregular do depósito (Imagens (f), (g) e (h)) que vai sendo homogeneizada com o passar do tempo e com a estabilização das taxas de deposição. É difícil definir o mecanismo de deposição responsável pela deposição de cristais suspensos observado neste teste de visualização. O fato que esta deposição é mais visível quando é gerado o pico de concentração de cristais, não quer dizer que somente aconteça para essas condições. Assim, esta deposição de cristais poderia ter acontecido em menor escala também na região de entrada, sendo imperceptível para os instrumentos de visualização utilizados. Porém, a deposição de cristais já formados na parede fria foi evidente, embora seja difícil definir o mecanismo de deposição responsável e as condições de deposição requeridas. As limitações dos instrumentos de visualização usados na experiência, não permitiram identificar a procedência dos cristais escoando junto da parede. Uma câmara de alta velocidade com lentes de aumento maiores, poderiam ter sido de muita ajuda para o seguimento da movimentação dos cristais de 106 parafina suspensos no escoamento. Não foi possível identificar se a elevada concentração de cristais junto da parede, produzida nos segundos iniciais e possivelmente causada pelo resfriamento brusco, continha também cristais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA removidos do depósito a montante do canal. (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) Figura 4.33: Seqüência de imagens obtidas na saída do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=151. Aumento utilizado 45x. 107 Depois de feita a experiência de visualização para as condições mais críticas de deposição com as mais baixas taxas de cisalhamento (Re=151), foi considerado importante a realização de uma experiência similar para o maior número de Reynolds possível permitido pela seção de testes (Re=354). Esta nova experiência foi realizada com as mesmas condições de temperatura da anterior e a mesma temperatura de resfriamento da parede de cobre. Assim, poderia ser estudada a influência da taxa de cisalhamento no fenômeno de deposição de cristais formados. O primeiro registro de imagens para este teste foi obtido na região de entrada do canal. Este mostrou um comportamento de crescimento do depósito igual ao observado na mesma posição do teste anterior, para a menor taxa de cisalhamento. A única diferença observada foi referida à velocidade de crescimento do depósito. Neste novo teste a camada de depósito crescia com PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA uma menor taxa de deposição. A Figura 4.34 mostra a seqüência de imagens para este teste com as mesmas características de deposição mostradas pelo teste para Re=151 registrado na região de entrada do canal. A imagem (a) mostra a parede de cobre sem depósito, entanto a imagem (b) marca o inicio da deposição mostrando uma fina camada de parafina que vai crescendo nas imagens subseqüentes. Os intervalos de tempo entre estas imagens foram também de 2 segundos. Com o posicionamento da câmera na região de saída do canal, foram registradas as seqüências de imagens da Figura 4.35, também para intervalos de tempo de 2 segundos. Nesta posição também foi observada a camada de concentração de cristais visualizada nas experiências para Re=151. Esta mostrava uma aparentemente menor concentração e espessura possivelmente causada pela maior velocidade do fluido que resultava em menores espessuras da camada limite térmica. Nesta experiência a taxa de deposição de cristais formados foi menor. Assim, a deposição de cristais formados é pouco perceptível nas imagens mostradas. Este resultado evidencia que o aumento da taxa de cisalhamento influencia no fenômeno de deposição evitando que cristais formados sejam depositados na parede fria. As imagens (g) e (h) mostram as irregularidades da superfície do depósito ocasionadas pela deposição de cristais formados. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 108 (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) Figura 4.34: Seqüência de imagens obtidas na entrada do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=354. Aumento utilizado 45x. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 109 (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) Figura 4.35: Seqüência de imagens obtidas na saída do canal, mostrando a evolução temporal do depósito para o teste com Te=34ºC, Tpi=9ºC e Re=354. Aumento utilizado 45x. 110 As explicações acerca das visualizações feitas e as diferentes seqüências de imagens apresentadas, mostram a elevada complexidade do fenômeno de deposição de parafinas. Porém, foi possível visualizar cristais formados depositando na parede por algum mecanismo de deposição não identificado, mostrando maiores taxas de deposição em condições de baixas taxas de cisalhamento. Com a qualidade das visualizações obtidas não foi possível evidenciar claramente a remoção de depósito por cisalhamento, mas uma conclusão das observações foi que elevadas taxas de cisalhamento podem evitar que cristais já formados e suspensos no escoamento possam ser depositados na parede fria. As limitações da seção de teste evitaram a realização de experiências com maiores taxas de cisalhamento como em condições de regime turbulento, que poderiam ter ajudado ao entendimento do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA fenômeno. 4.3.3. Resultados para Espessura de Deposição de Parafina – Fluxo de Calor Nulo e Positivo Após a realização dos testes para fluxo de calor negativo foram realizadas experiências para condições de contorno de fluxo de calor positivo e nulo. A revisão bibliográfica feita revelou discordâncias nos resultados dos trabalhos realizados para estas condições. Pesquisas como as de Hunt [11], Brown et al [4], Hamouda et al [8] e Creek et al [7] em que foram desenvolvidas experiências para condições de fluxo de calor nulo, revelaram que não existe deposição de parafina para estas condições. No entanto, Burger et al [5] e Todi [29] realizaram testes experimentais para as mesmas condições de fluxo zero observando camadas muito finas de parafina depositada depois de algumas horas. Estas discrepâncias motivaram o desenvolvimento de experimentos tentando reproduzir as condições de fluxo de calor zero. Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos para estas experiências, detalhando previamente o procedimento experimental e as condições de temperatura utilizadas. O procedimento experimental era iniciado do mesmo modo como foi detalhado no Capítulo 3 para as experiências realizadas na presença de cristais em suspensão. Com a parafina derretida, as paredes de cobre na temperatura de 40ºC e a temperatura do ar na saída dos jatos em 38ºC, era ligada a bomba na vazão desejada dando inicio ao escoamento. O primeiro passo consistia em 111 diminuir a temperatura de injeção no canal da solução óleo-parafina até 34ºC, nível de temperatura no qual seriam realizadas as experiências. Isto era obtido abaixando-se a temperatura do banho termostático que controlava a temperatura do tanque de alimentação e diminuído também as temperaturas das resistências que aqueciam as tubulações da seção de teste. Nesta temperatura abaixo da TIAC, era possível ver o fluido de uma cor mais opaca confirmando assim a presença de cristais suspensos. Após a solução óleo-parafina atingir os 34ºC, as temperaturas da saída dos jatos de ar e das paredes de cobre iam sendo lentamente diminuídas até atingir os 35ºC, condição de temperatura desejadas para a experiência. Este procedimento era necessário para garantir que não fosse produzido um fluxo de calor negativo que, como é sabido, gera deposição de parafina. O teste era iniciado depois de um tempo considerável em que as temperaturas monitoradas pelo sistema de aquisição de dados mantinham-se estáveis, confirmando assim o regime permanente da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA experiência. Partindo deste instante, eram contabilizadas as 4 horas que foram consideradas suficientes para atingir o regime permanente do processo de deposição. A vazão utilizada para estes testes de fluxo de calor zero foi a mínima possível (Re=151). A razão desta escolha foi baseada no fato que as baixas taxas de cisalhamento geradas por estas condições de escoamento ocasionariam melhores condições de deposição. A condição de fluxo de calor nulo entre o fluido e as paredes de cobre foi aproximada com a temperatura de injeção da solução óleo-parafina de Te = 34 ± 0,3º C e a temperaturas das paredes de cobre de T p = 35 ± 0,3º C . Estas faixas de temperatura consideram as incertezas dos instrumentos de medição, além das possíveis oscilações das temperaturas nas experiências devido à influencia do ambiente externo. É facilmente calculado que a mínima diferença possível entre as temperaturas das paredes de cobre e a do fluido foi de 0,4ºC. É também evidente que esta condição de calor nulo é na verdade uma condição de fluxo de calor positivo que contempla uma pequena diferença de 0,4ºC para evitar que as oscilações da temperatura gerem fluxos de calor negativos, causando a deposição de parafina. A temperatura da face externa da parede de vidro foi medida pelos termopares dispostos ao longo do canal. A temperatura do vidro era influenciada diretamente pelo sistema de aquecimento ar, que para este teste foi ajustado em 112 uma temperatura do ar de T j = 35 ± 0,5º C imediatamente na saída de cada jato. Esta maior incerteza apresentada foi devido ao fato que o soprador que alimentava o sistema de aquecimento do ambiente apresentava uma variação de temperatura ao longo do dia. O uso do sistema de aquisição de dados de temperatura somado ao constante controle do experimento evitou que estas incertezas mencionadas fossem ser maiores. Para o estudo do fluxo nulo inicialmente foram realizadas três experiências para as condições de temperatura e vazão definidas. Todas elas terminaram sem a observação de qualquer deposição em testes com durações de 4 horas. As temperaturas das paredes de vidro medidas pelos termopares para estas três experiências são mostradas na Figura 4.36. Cada uma delas apresenta uma barra de incertezas representando a influência da variação da temperatura PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA ambiente. Neste gráfico são apresentadas também uma faixa que representa a variação da temperatura de injeção da solução ( Te = 34 ± 0,3º C ) e outra que define a possível variação da temperatura das paredes de cobre ( T p = 35 ± 0,3º C ) em cada experimento. Pode ser observada também a pequena diferença de 0,4ºC entre a temperatura das paredes de cobre e a do fluido que tenta aproximar as condições de fluxo nulo ideais. Da figura pode ser observado que tanto na região de entrada como na de saída do canal poderia ter sido gerado em algum instante da experiência um fluxo de calor negativo entre o vidro e o fluido. Esta condição é confirmada pela interseção das incertezas de cada medição da temperatura do vidro com a região de possível variação da temperatura da solução óleo-parafina. Assim, em algum instante da experiência a parede de vidro poderia ter assumido uma temperatura menor que a do fluido. No entanto, estas isoladas condições que poderiam ter acontecido não foram suficientes para resfriar a parede de cobre e gerar qualquer deposição. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA 113 Figura 4.36: Temperaturas da parte exterior das paredes de vidro geradas pelo aquecimento de ar para as experiências realizadas para condições de fluxo de calor nulo com Te=34ºC e Tp=35ºC. Após a realização dos experimentos descritos realizaram-se testes adicionais onde buscou-se aumentar ainda mais a concentração de cristais em suspensão. Para isso, a temperatura de entrada da mistura foi diminuída ainda mais. O limite desta temperatura foi estabelecido levando-se em conta a visibilidade do escoamento no canal e o bom desempenho da bomba de cavidades progressivas tendo em vista o aumento de viscosidade produzido como conseqüência do resfriamento do fluido. A mínima temperatura de entrada da mistura no canal que atendia aos requisitos mencionados foi de Te = 32 ± 0,3º C . As temperaturas das paredes de cobre foram ajustadas para T p = 33 ± 0,3º C . A temperatura de saída do ar para cada jato foi ajustada em T j = 33 ± 0,5º C . A diminuição da temperatura de injeção para esta nova experiência de Te=34ºC para Te=32ºC ocasionou que um aumento considerável na viscosidade do fluido. Por esta razão, para a mesma vazão volumétrica da bomba do teste anterior, foi calculado o novo número de Reynolds de Re=106. Este novo teste sob condições mais criticas devido ao aumento da concentração de cristais suspensos no escoamento, não apresentou qualquer deposição de parafina em 4 horas de experimento. As temperaturas da face externa da parede 114 de vidro medidas pelos termopares para esta nova experiência são mostradas na Figura 4.37. Igualmente são apresentadas aqui as faixas de possível variação das temperaturas de injeção e das paredes de cobre. Nesta figura pode ser observada mais uma vez, a interseção das incertezas das temperaturas medidas pelos termopares com a região de possível variação da temperatura da solução. Porém, do mesmo modo que nos testes anteriores, isto não afetou o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA resultado obtido para estas condições de maior concentração de cristais. Figura 4.37: Temperaturas da parte exterior das paredes de vidro geradas pelo aquecimento de ar para a experiência realizada para a condição de fluxo de calor nulo com Te=32ºC e Tp=33ºC. Após de estudar a deposição nas condições de vazão mais críticas possíveis, foi realizado um teste adicional com as mesmas temperaturas desta ultima experiência, mas aumentando as taxas de cisalhamento para Re=249. Como era esperado, não foi encontrado qualquer depósito ao final da experiência que teve a mesma duração que as anteriores. Este resultado contradiz de alguma forma a possibilidade de que elevadas taxas de cisalhamento aumentam a deposição de cristais formados, como foi proposto por Burger et al. [5]. 115 Um resultado que vale a pena mencionar foi obtido nas primeiras tentativas de geração das condições de fluxo de calor nulo. O procedimento experimental utilizado para atingir estas condições de fluxo zero foi concluído depois de realizar experimentos errados que resultaram em deposição. Nestas primeiras experiências tentou-se abaixar gradualmente as temperaturas do fluido, das paredes de cobre e do aquecimento simultaneamente. Assim, depois de algumas horas de experiência era visualizada uma fina camada de depósito da ordem de 0,1 mm devido a fato que, em algum momento, poderiam as temperaturas das paredes do canal, ter estado abaixo da temperatura do fluido gerando uma pequena diferença de temperatura (fluxo negativo) que resultou em deposição. Estas observações motivaram a implementação da metodologia descrita acima onde optou-se por diminuir primeiramente a temperatura da solução antes do que as temperaturas das paredes do canal, evitando assim a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA geração de fluxos de calor negativos. A revisão bibliográfica detalhada no Capítulo 2 mostrou algumas conclusões referentes ao estudo do comportamento do fenômeno de deposição em condições de fluxo de calor positivo. Hsu et al. [10] afirmaram que fluxos positivos e nulos poderiam gerar deposição de parafinas, sempre que as temperaturas do petróleo e da parede fossem menores que a TIAC. Outra pesquisa realizada por Todi [29] em que foi desenvolvido um experimento para estas condições de fluxos positivos, resultou na visualização de uma fina e irregular camada de depósito aparecendo no terceiro dia de experiência. Baseado nestas informações foram desenvolvidos estes experimentos buscando observar a ocorrência de deposição de parafina em condições de fluxo de calor positivo. Nos experimentos realizados primeiramente era fixada a temperatura do fluido para depois diminuir as temperaturas das paredes do canal até os valores desejados. Esta experiência foi realizada uma vez mais para o menor número de Reynolds (Re=106) procurando produzir as melhores condições de deposição. A temperatura de injeção da solução Te = 32 ± 0,3º C , a temperatura das paredes de cobre, T p = 35 ± 0,3º C e a temperatura do ar saindo dos jatos de T j = 35 ± 0,5º C foram as condições utilizadas para conseguir o fluxo positivo. Estas temperaturas são representadas graficamente na Figura 4.38. Aqui é mostrada a temperatura da parede do vidro comparada uma vez mais, com a faixa da temperatura de injeção e da temperatura das paredes de cobre. É possível observar uma diferença significativa entre as temperaturas das paredes 116 do canal e a temperatura de injeção do fluido, o que representa as condições necessárias para produzir um fluxo de calor positivo. A experiência realizada para esta condição de fluxo positivo não resultou em qualquer depósito para um tempo de teste de 4 horas. Isto contradiz o resultado experimental obtido por Todi [29] que será discutido comparando seu trabalho com as nossas condições PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA de experimento na seção seguinte do presente capítulo. Figura 4.38: Temperaturas da parte exterior das paredes de vidro geradas pelo aquecimento de ar para a experiência realizada para condição de fluxo de calor positivo com Te=32ºC e Tp=35ºC. 4.4. Comparação dos Resultados com o Trabalho de Todi, 2005 O objetivo do presente trabalho está dirigido ao estudo da deposição de parafina na presença de cristais em suspensão. Os resultados obtidos das experiências com temperaturas de injeção de fluido abaixo da TIAC que foram apresentados até agora concordam com a maioria dos pesquisadores, que afirmam que é necessário um fluxo de calor negativo para que o fenômeno de deposição de parafinas aconteça. No entanto, uma pequena minoria, entre eles um trabalho recente realizado por Todi [29] discorda de nossos resultados. Por 117 esta razão, e devido à sua atualidade, o trabalho de Todi [29] será discutido a seguir. Todi [29] desenvolveu diferentes experimentos na presença de cristais em suspensão submetendo o escoamento a fluxos de calor nulo, positivo e negativo. As suas experiências, realizadas para temperaturas de injeção do fluido menores que a TIAC, tornaram seu trabalho o estudo disponível na literatura que mais se aproxima dos objetivos do presente trabalho. No entanto, seus resultados que indicam a existência de deposição de parafina para as três condições de fluxo de calor, divergem dos resultados aqui apresentados. Uma das diferenças mais perceptíveis entre o trabalho de Todi [29] e o presente trabalho é a faixa de números de Reynolds investigada nas experiências. Como pode ser visto na Tabela 2.3, em que foi apresentada uma PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA reprodução parcial das condições de suas experiências, observar-se que os números de Reynolds por ele utilizados encontram-se na faixa de 4,1 a 88,5, enquanto no presente trabalho utilizou-se números de Reynolds na faixa de 106 a 354. Esta diferença, dependendo do tipo de óleo, poderia resultar em maiores esforços cisalhantes, o que provocaria, possivelmente, a remoção parcial ou total do material depositado. O objetivo de Todi [29] foi obter um modelo de óleo que representasse bem o comportamento não-Newtoniano que poderia resultar do resfriamento. A Figura 4.39 mostra a variação da viscosidade do óleo utilizado por Todi comparado com um tipo de petróleo cru. Assim, lembrando que a TIAC do óleo utilizado por ele foi de 10,9ºC, poderíamos verificar nesta figura que a viscosidade do seu modelo de óleo na temperatura de aparecimento de cristais era da ordem de 1,0 Pa.s. A viscosidade da mistura utilizada no presente trabalho era da ordem de 0,01 Pa.s, medida também na TIAC (36,6ºC). Esta significativa diferença compensa a desigualdade entre os números de Reynolds utilizados em ambas pesquisas, o que resulta em esforços cisalhantes na parede da mesma ordem de grandeza e, portanto, em condições similares de teste. Assim, a ausência de depósito dos testes realizados no presente trabalho dificilmente poderia ser atribuída aos diferentes números de Reynolds utilizados. 118 Figura 4.39: Comportamento da viscosidade com a temperatura do óleo utilizado por Todi comparado com um tipo de petróleo cru [29]. Em nossa visão, a razão para as diferentes conclusões quanto à presença de deposição sob condições de fluxo de calor nulo vem da condição de contorno térmica implementada no trabalho de Todi [29]. A condição de fluxo de calor PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA nulo é na verdade uma condição ideal de difícil realização prática. Para tanto, seria necessário que a temperatura da solução de óleo e parafina fosse igual à temperatura da parede do duto. As incertezas presentes em um experimento não permitem que esta condição seja obtida exatamente. Como já foi mencionado, um pequeno fluxo de calor negativo entre o fluido e a parede poderia resultar em uma camada de depósito obtida quando o experimentalista acreditava estar trabalhando sob condições de fluxo de calor nulo. Uma crítica que fazemos ao trabalho de Todi [29] está ligada à forma como foi estabelecida a condição de contorno térmica de seus experimentos. Todi optou por realizar experimentos de longa duração, cerca de 3 dias, instalando para isso um controlador termostático para a temperatura do ambiente externo a seu experimento. Como é descrito em seu experimento, o controlador era capaz de manter a temperatura externa dentro de uma faixa de ±1ºC. Esta incerteza, de acordo com a nossa experiência, seria mais que suficiente para gerar fluxos de calor negativos que gerariam deposição de parafina por difusão molecular. Assim, a observação feita no trabalho de Todi [29] de finas camadas de depósito resultantes em seus experimentos poderiam ter acontecido devido a regiões na tubulação nas quais foram gerados fluxos de calor negativos e não pelos mecanismos de deposição por gravidade e difusão Browniana como ele conclui. O aparente desconhecimento do problema explicado pode ser um indicativo de deficiências no controle de temperatura dos seus testes. 119 Os testes realizados por Todi [29] para condições de fluxo de calor positivo, foram desenvolvidos em condições similares às do presente trabalho. No entanto, contrariamente aos nossos resultados, ele também observou uma camada muito fina de depósito após 3 dias de experimento. A temperatura de injeção da mistura de 5ºC e da parede do duto de 9,5ºC comparadas com a TIAC de 10,9ºC das experiências realizadas por Todi [29], geraram diferenças de 5,9ºC e 1,4ºC respectivamente. No presente trabalho foi realizado um teste com a temperatura de injeção de 32ºC e das paredes de 35ºC, que comparados com a TIAC de 36,6ºC, resultam diferenças de temperatura de 4,6ºC e 1,6ºC, valores próximos àqueles utilizados por Todi. Também, a concentração de parafina no óleo utilizada por Todi foi a mesma utilizada no presente trabalho, qual seja, 10% em massa. Assim, vê-se que ambos experimentos foram realizados sob condições semelhantes, apresentando, no entanto resultados distintos. Não foi possível encontrar uma explicação física plausível para o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA aparecimento de pequenos depósitos de parafina nos experimentos de Todi [29] somente após 3 dias de testes. 5. Conclusões e Comentários 5.1. Conclusões A pesquisa bibliográfica realizada revelou a carência de estudos experimentais de caráter fundamental e em escala de laboratório, direcionados ao melhor entendimento da importância relativa dos mecanismos responsáveis pela deposição de parafina. Assim, o presente trabalho focalizou o estudo na procura de um melhor entendimento da relevância dos mecanismos de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA transporte de cristais de parafina, mediante a realização de experiências com escoamento em regime laminar na presença de cristais em suspensão. Dificuldades encontradas na visualização do fenômeno de deposição devido a camadas de parafina formadas nas paredes de vidro do canal, ocasionadas pelo resfriamento das paredes de cobre, foram solucionadas mediante a implementação de um sistema de aquecimento por jatos de ar. A avaliação de este novo sistema mostrou resultados satisfatórios fornecendo condições bem controladas de temperatura nas paredes de vidro. Assim, foi desenvolvida uma seção de testes confiável, a partir do aparato experimental projetado por Leiroz [14], e com capacidade de gerar dados de qualidade para a simulação de experimentos de deposição de parafinas em condições de campo. Aproveitando á facilidade de adaptação do canal da seção de testes como uma cavidade, foram realizadas experiências sob a condição de fluido estagnado em que foi obtida a evolução temporal da frente de deposição. Com a finalidade de estudar a relevância dos mecanismos de deposição de cristais precipitados como a difusão Browniana e a dispersão por cisalhamento, foram desenvolvidos experimentos de deposição sob regime de escoamento laminar na presença de cristais suspensos (temperatura de injeção da solução menor que a TIAC). Os testes feitos para condições de fluxo de calor nulo e positivo não resultaram em deposição, o que evidenciou que é necessário 121 um fluxo de calor negativo para que este fenômeno aconteça. De outro lado, os experimentos para condições de fluxo de calor negativo resultaram em espessas camadas de depósito, podendo ser obtida a evolução temporal e espacial dos perfis para cada uma das condições de resfriamento estudadas. Este tipo de dados e o detalhe e que são apresentados, é informação carente na literatura e é considerada de muita importância para a validação de modelos de simulação desenvolvidos. O aumento da taxa de cisalhamento em experiências com escoamento realizadas para as mesmas condições de temperatura resultou em menores camadas de parafina depositada, evidenciando a possível presença de um mecanismo de remoção de cristais depositados por cisalhamento. Caso um mecanismo baseado no cisalhamento fosse relevante, os experimentos com maiores valores de número de Reynolds e, portanto, apresentando maiores PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA taxas de cisalhamento, poderiam revelar maiores espessuras de depósito. Resultados da visualização dos experimentos realizados para condições de fluxo de calor negativo mostraram a movimentação de cristais suspensos escoando perto da parede e sendo adicionados ao depósito. A deposição de cristais já formados na parede fria foi evidente, embora seja difícil definir o mecanismo de deposição responsável e as condições de deposição requeridas para que este fenômeno aconteça. Estas experiências de visualização mostram a elevada complexidade do fenômeno de deposição de parafinas, mostrando maiores taxas de deposição em condições de baixas taxas de cisalhamento. Com a qualidade das visualizações obtidas não foi possível evidenciar claramente a remoção de depósito por cisalhamento, porém pode ser concluído que elevadas taxas de cisalhamento podem evitar que cristais já formados e suspensos no escoamento possam ser depositados na parede fria. 5.2. Sugestões para Trabalhos Futuros Durante o desenvolvimento do presente trabalho foram sendo revelados diferentes aspectos que precisam ser estudados com maior detalhe. Encontrase disponível uma significativa quantidade de dados da evolução temporal e espacial do depósito que podem ser utilizados para avaliar diferentes modelos 122 de simulação. Acredita-se que os trabalhos futuros devem continuar com a filosofia adotada de realizar experimentos simples que procurem entender a relevância relativa de cada um dos mecanismos conhecidos. As experiências de visualização realizadas evidenciaram que é possível estudar a movimentação dos cristais depositando na parede. Assim, os resultados obtidos destas visualizações poderiam ser melhorados mediante o uso de uma câmera de alta velocidade que ajude a acompanhar com detalhe a movimentação de cada partícula. Adicionalmente, a utilização de maiores lentes de aproximação poderia também ser de uma ajuda importante. As condições de escoamento na presença de cristais suspensos parecem ser experiências interessantes para o estudo da relevância dos mecanismos de transporte de cristais de parafina. Estudar condições de escoamento em regime PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA turbulento poderia revelar resultados interessantes sob a movimentação dos cristais suspensos, ajudando ao melhor entendimento do comportamento dos mecanismos de deposição em condições de elevadas taxas de cisalhamento.. 6. Referências Bibliográficas [1] AZEVEDO, L. F. A.; TEXEIRA, A. M. A critical review of the modeling of the wax deposition mechanisms. Petroleum Science and Technology, Vol.21, No.3 and 4, p. 393-408, 2003. [2] BIDMUS, O. H.; MEHROTRA, A. K. Heat-transfer analogy for wax deposition from paraffinic mixtures. American Chemical Society 2004, 43. 791-803. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA [3] BROOKS, B. T.; KURTZ, Jr. S. S.; BOORD, C. E.; SCHMERLING, L. The chemistry of petroleum hydrocarbons. Reinhold Publishing Corporation, 1954. [4] BROWN, T.; NIESEN V.; ERICKSON, D. Measurement and prediction of the kinetics of paraffin deposition. 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Figura A.1 - Variação da viscosidade com a temperatura da solução utilizada. TIAC igual a 36,6ºC 127 A Figura A.1 mostra a variação da viscosidade com a temperatura obtida da solução óleo-parafina utilizada no presente trabalho. Pode ser observado que a TIAC é claramente definida pela mudança repentina da viscosidade da solução. A TIAC por este método foi medida em 36,6ºC. A.1.2. Determinação da Massa Específica da Mistura Óleo-Parafina como Função da Temperatura A massa específica da solução óleo-parafina foi determinada mediante a utilização de um picnômetro modelo 60198 com um volume de 25 ml. As medições foram realizadas para a faixa de 20ºC até 50ºC. A Figura A.2 mostra a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA curva da massa específica em função da temperatura. Figura A.2 - Massa específica em função da temperatura da mistura utilizada. 128 A.2. Curva de Calibração da Bomba de Cavidade Progressiva A bomba de cavidade progressiva utilizada nos experimento foi calibrada utilizando-se óleo spindle como fluido de trabalho. A calibração foi realizada utilizando-se um recipiente de volume conhecido e um cronômetro. A curva correspondente é apresentada na Figura A.3. Esta curva representa uma reta da forma Q = 9,4762 . f + 0,5568 que foi obtida pelo método de mínimos quadrados. Nesta equação a vazão volumétrica Q é dada em l/h e a freqüência PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0412762/CA em Hz. Figura A.3 - Curva de calibração da bomba de cavidade progressiva. 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