III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 471 Percepção Ambiental por meio de Trilha Ecológica no Instituto Federal do Espírito Santo, Município de Alegre. Márcio Vieira da Costa Filho1*, Atanásio Alves do Amaral2 & Karla Maria Pedra de Abreu2 1 Graduando em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, (Ifes) Campus de Alegre 2 Professor, Doutor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, (Ifes) Campus de Alegre 3 Professora, Doutora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, (Ifes) Campus de Alegre *Endereço para correspondência: [email protected] Introdução Nos dias atuais o mundo vem sofrendo uma grande crise envolvendo o meio ambiente, no qual o desenvolvimento econômico cresce a qualquer custo sem levar em consideração os impactos ambientais e a retirada de recursos naturais que ocorre de qualquer maneira sem que haja preocupação (Silva et al., 2006). De acordo com a mesma autora, essa situação é desmotivadora e novas atitudes são necessárias para que haja mudança nesse quadro crítico de degradação do meio ambiente. A Educação Ambiental (EA) tem a finalidade de preparar cada indivíduo e a sociedade para realizarem ações de desenvolvimento sustentável como resposta aos desafios do crescimento populacional que acarreta uma demanda maior de recursos naturais, acentua a quantidade de resíduos sólidos e gera a necessidade de um maior crescimento econômico (Dias, 2004). As atividades voltadas ao ensino escolar devem ser realizadas de forma concreta, para proporcionar aos alunos a sensibilização acerca dos problemas ambientais e buscar soluções diferenciadas, problematizando questões do ambiente urbano, fatores psicossociais, históricos, políticos, éticos e estéticos (Dias, 2004). De acordo com o autor, essa estratégia de ensino pode ajudar o educando na construção de uma mentalidade que os levem a resolver os problemas ambientais. Para trabalhar a EA, podem-se utilizar locais naturais que gerem possibilidades educativas, em que são enfatizados problemas ambientais com os visitantes. Esses espaços podem ser praças, jardins, Unidades de Conservação (UC), dentre outros (Serpe & Rosso, 2010). As trilhas ecológicas são capazes de proporcionar aprendizado e sensibilização, pois estabelece o contato e aproximação com o meio ambiente, onde gera a interpretação da área visitada (Santos et al., 2012). 471 472 COSTA E FILHO ET AL: PERCEPÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DE TRILHA ECOLÓGICA. Com o intuito de promover a Educação Ambiental, os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio “Monsenhor Miguel de Sanctis” participaram de uma trilha em um fragmento florestal de Mata Atlântica do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre. Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido no Polo de Educação Ambiental da Mata Atlântica (PEAMA), localizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) – Campus de Alegre, no mês de março de 2013. O Campus de alegre possui um fragmento de Mata Atlântica, classificada como Floresta Estacional Semidecidual Submontana (FES), com área aproximada de 40 hectares, cuja vegetação característica é a mata secundária (Abreu et al., 2013). No primeiro momento da pesquisa os educandos de quatro turmas dos terceiros anos do Ensino Médio realizaram redações expondo opiniões sobre o que a viagem ao PEAMA poderia proporciona-los. Essa etapa envolveu coleta de dados, no qual, por meio das redações realizadas antes da viagem foi possível obter alguns resultados preliminares sobre o que os estudantes esperavam de uma visita a um fragmento de Mata Atlântica em um polo de Educação Ambiental. As quatro turmas dos terceiros anos totalizaram 120 estudantes e o total de vagas disponíveis devido ao transporte foram apenas de 80. Dessa maneira os discentes foram selecionados para realizarem a visita ao PEAMA. A seleção dos mesmos levou em consideração os seguintes quesitos: coerência do título, coerência do tema abordado, boa estrutura do texto e quantidade de linhas (mínimo 7 e máximo 15). No segundo momento da pesquisa, realizado no Ifes, foi apresentado aos estudantes um vídeo sobre o tráfico de animais, abordando os problemas ocasionados aos ecossistemas pela retirada de animais silvestres das florestas nativas. No terceiro momento, realizado no PEAMA, foram dadas explicações relacionadas à Mata Atlântica e o condutor ambiental, responsável pela trilha, fez as recomendações necessárias. No quarto momento, foi realizada a caminhada na trilha. Em vários pontos, o condutor fez explanações sobre a história do local e o que estava sendo observado. O método de Indicadores de Atratividade de Pontos Interpretativos (IAPI) (Magro & Freixêdas, 1998) foi aplicado, em três etapas. Na primeira etapa foi feito o levantamento dos pontos potenciais para interpretação, por meio da observação e do estudo dos recursos naturais do local. Na segunda, foram selecionados os indicadores, por meio da observação da paisagem e recursos naturais nos diferentes pontos potenciais da trilha. Os pontos III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 473 evidenciados foram: uma lagoa artificial, uma nascente, uma barragem para calcular a quantidade de chuva que desce da mata e a Cachoeira Seca, onde existiam várias espécies vegetais e uma caixa d’água, que abastecia a comunidade. Na terceira,procedeu-se à elaboração da ficha de campo, onde se relacionou a ausência ou presença dos indicadores em cada um dos pontos potenciais de interpretação. No quinto momento, os discentes escreveram textos sobre o que a visita ao PEAMA lhes proporcionaram em relação à percpção e ao conhecimento acerca da Mata Atlântica. Os textos escritos após as atividades seguiram os mesmos critérios dos textos escritos anteriormente a estas. Os dados foram analisados qualitativamente, utilizando-se o método fenomenológico, que busca a compreensão do que é estudado por meio da observação, voltando a atenção para o que é específico (Martins & Bicudo, 1989). Resultados e Discussão Ao realizarem as dissertações, nas quais os alunos tiveram que expor o que esperavam da visita técnica ao PEAMA, a maioria disse que o principal intuito da viagem seria adquirir conhecimento. Além destes alguns queriam somente conhecer a instituição e outros apenas viajar. As dissertações realizadas após as atividades tiveram efeitos positivos, pois alunos que queriam somente uma viagem ou conhecer a instituição foram mobilizados e quase todos demonstraram ter adquirido sensibilização ecológica e gostariam de voltar ao PEAMA com o intuto de se aproximar da natureza e estabelecer contato com os fatores que este meio lhes proporcionaram. Alguns discentes enfatizaram que a viagem coloca em prática os conteúdos trabalhados na sala de aula e que é possível aprender as dinâmicas ecológicas com maior facilidade. Os resultados das dissertações foram muito satisfatórios e 100% dos educandos demonstraram ter se sensibilizado o que pode ser evidenciado nos trechos descritos pelos estudantes a seguir: “O professor que nos guiou pela trilha ainda nos deu uma aula de consciência ambiental, que nos fez entender que não devemos degradar o meio e principalmente não degradar árvores.” “Aprendemos como cuidar um pouco mais do lugar onde vivemos, a preservar e conhecermos novas espécies de plantas, também de nossas plantas nativas e de nosso bioma.” 473 474 COSTA E FILHO ET AL: PERCEPÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DE TRILHA ECOLÓGICA. “Na mata foi mostrada a importância do ecossistema e pude aprender mais sobre o meio biótico e abiótico, aprendi que também devemos respeitar a natureza e o espaço dela.” O respeito pelo ambiente surge a partir de atividades como as realizadas no PEAMA que de acordo com Boff (2003) é capaz de possibilitar um caráter voltado para atitudes ecologicamente corretas e promover o respeito aos ecossistemas baseando-se no respeito à vida, em que “tudo que existe merece existir; tudo que vive merece viver”. Os resultados da utilização de trilhas interpretativas no trabalho de Bedim (2004) corroboram com os obtidos no presente trabalho, no qual as atividades foram capazes de motivar a capacidade de observação e reflexão, possibilitando a transmissão de conhecimentos na área de Ciências, sensibilização e conscientização ambiental. Dessa maneira de acordo com o autor a natureza é um instrumento que torna mais fácil o aprendizado e a preservação de recursos naturais, sendo positivo viabilizar mais contato e visita dos indivíduos em Unidades de Conservação. A aproximação com ambientes naturais pode ocasionar um sentimento de pertencimento aos ecossistemas como ocorreu com os educandos que visitaram o PEAMA. Segundo Pinheiro et al. (2010), é fundamental a educação para a conscientização, ou seja, conscientizar visitantes e todos que mantêm contato com locais de preservação, para entenderem que o ser humano é a própria natureza. Conclusão Através do passeio ecológico ao PEAMA foi possível verificar que o contato com a natureza é capaz de promover sensibilização e consequentemente aprendizagens voltadas à disciplina de ecologia. Dessa maneira o contato direto com a natureza demonstrou ser uma prática metodológica eficaz, pois gerou o sentimento de preservação do meio ambiente, no qual os educandos entenderam que estão diretamente inseridos na natureza. Agradecimentos Ao Programa Institucional de Bolsa e Iniciação à Docência (PIBID), a Escola Monsenhor Miguel de Sanctis e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CAPES) pelo auxílio e bolsa à pesquisa ao primeiro autor. III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014 475 Literatura Citada Abreu, K. M. P.; Costa Filho, M. V. & Sattler, M. A. 2013. O contato com a Mata Atlântica através de trilha interpretativa no polo de Educação Ambiental – IFES/ Campus de Alegre. Congresso Nacional de Botânica, 65., Belo Horizonte. Bedim, B. P. 2004. Trilhas Interpretativas como Instrumento Pedagógico para a Educação Biológica e Ambiental: Reflexões. Anais... Bio Ed, 2004. Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto. Disponível em: http://www.ldes. unige.ch/bioEd/2004/pdf/bedim.pdf. (28/04/2014). Boff, L. 2003. Ecologia e espiritualidade. In: Trigueiro, A. (org.). Meio Ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Sextante. Dias, G. F. 2004. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia. Magro, T. C. & Freixêdas, V. M. 1998. Trilhas: como facilitar a seleção de pontos interpretativos. Piracicaba, Circular Técnica IPEF, (186):1-9. Martins, J. & Bicudo, M. A. V. 1989. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Educ Moraes. Santos, M. C. et. al. 2012. Oficina de interpretação ambiental com alunos do ensino fundamental na “trilha do Jatobá” em Ilha Solteira, SP. Revista Eletrônica de Educação, 6(2):271-287. Serpe, B. M. & Rosso, A. J. 2010. Uma leitura Piagetiana do papel da percepção na construção do conhecimento socioambiental em trilhas interpretativas. Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas, 3(5):28-56. Silva, B. F. et. al. 2006. Educação ambiental: interação no campus universitário através de trilha ecológica. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 17:2040. 475