25 ADAPTAÇÃO DO SUBTESTE DE VOCABULÁRIO ILUSTRADO DO STANDFORD-BINET IV Amanda Adamo Pimenta (Uni-FACEF, bolsista PIBIC/CNPq) Magaly Gomes Melo (Uni-FACEF, doutoranda USP) INTRODUÇÃO As Escalas Stanford-Binet (SB) são amplamente conhecidas e utilizadas principalmente nos Estados Unidos, onde foi publicada a quinta revisão em 2003. Contudo, as Escalas SB não foram traduzidas nem adaptadas para a população brasileira, impossibilitando seu uso e mantendo-as desconhecidas entre os psicólogos brasileiros mais jovens. As Escalas SB são compostas por subtestes, dentre eles o de Vocabulário, que de acordo com diversas pesquisas e autores, é considerado como o melhor indicador da inteligência geral (Lopez (1970); Glasser e Zimmerman (1972). Este subteste tem como pressuposto teórico que, a capacidade de organizar idéias mediante manipulação implícita de sinais e símbolos verbais é um índice de inteligência e busca avaliar a amplitude do repertório de informações, as idéias, o tipo e a qualidade da linguagem e o pensamento abstrato (Glasser e Zimmerman, 1972). Para Rapaport et al. (1965), Vocabulário avalia o conhecimento adquirido espontaneamente pelo sujeito durante o seu desenvolvimento normal, sendo que o enriquecimento e a integração do mesmo dependerá, tanto do seu potencial natural quanto da estimulação proporcionada pelo seu meio educacional durante os primeiros anos. Destaca também que Vocabulário é um subteste bastante válido para avaliar a inteligência, sendo muitas vezes utilizado isoladamente para tal, relacionando essa solidez do subteste ao fato de serem aceitas respostas com diferentes níveis de abstração. Porém, para que o Vocabulário seja uma medida fidedigna da inteligência é necessário que as palavras que o compõem sejam adequadas à população em que será utilizado, já que não é possível “recorrer à tradução direta das palavras de testes de inteligência estrangeiros, pois esta não 26 assegura o mesmo grau de familiaridade, de experiência de vida relacionada e de abstração da palavra original” (Bonilha, 1968, p.124). Lopez (1970) destaca três dificuldades fundamentais que apresentam os subtestes verbais, dentre os quais talvez o mais influenciado seja Vocabulário, quando utilizados em uma população para a qual não foram elaborados e nem estabelecidas normas específicas. O primeiro problema refere-se à tradução das palavras que em todos os idiomas apresentam mais de um significado, o que dificulta a compreensão e tradução para outra língua. A segunda dificuldade relaciona-se ao valor semântico das palavras que varia tanto de um idioma para outro quanto para o mesmo idioma empregado em países diferentes ou num mesmo país, com culturas diversas. O terceiro fator são as mudanças que ocorrem com o passar do tempo no uso das palavras, que podem ser comuns em uma determinada época e cair em desuso em outra. Outro aspecto a ser considerado na aplicação de testes não padronizados para a população em que serão utilizados refere-se ao critério de suspensão da administração das provas depois de determinado número de fracassos. Esse fato faz com que a não-ordenação adequada dos itens, quanto ao grau de dificuldade dos mesmos para a população a ser testada, diminua o nível de fidedignidade das provas e aumente a possibilidade de uma estimativa incorreta do nível intelectual dos examinandos. Também a seleção das palavras que o constituirão precisa ser muito criteriosa, pois elas deverão ser acessíveis à maioria dos sujeitos ao qual o teste se destina e apresentar um bom índice de poder discriminante entre sujeitos com escores altos e baixos. Por fim, a importância de Vocabulário é tão reconhecida que, na quarta revisão da Escala Stanford-Binet (SB-IV), é a combinação do escore neste subteste e a faixa etária, que determina o nível de início para todos os outros subtestes. O Subteste de Vocabulário do SB-IV é composto por 14 itens de Vocabulário Ilustrado que deve ter suas figuras nomeadas e 32 palavras de Vocabulário Oral a serem definidas pelos sujeitos examinados. O Subteste de Vocabulário Oral foi traduzido e adaptado por Melo (2007), e o presente estudo tem como objetivo complementar a pesquisa anterior ao adaptar o Subteste de Vocabulário Ilustrado do SB-IV para uma posterior padronização deste para o 27 Brasil. No entanto, serão apresentados neste artigo resultados preliminares, visto que a coleta de dados ainda não foi concluída. 3 METODOLOGIA 3.1 Sujeitos Participaram do estudo 120 crianças de 3 e 5 anos, 60 de cada faixa etária, metade de cada sexo, sendo 56% (N=34) de creches e escolas infantis municipais e 44% (N=26) de escolas particulares da cidade de Franca/SP. 3.2 Instrumentos Vocabulário Ilustrado do SB-IV traduzido e adaptado por Melo (2007). O Instrumento é constituído por 14 figuras de objetos apresentados em um caderno para serem nomeadas pelos sujeitos. 3.3 Procedimentos Foram contatadas escolas e creches municipais e particulares, em diferentes bairros e na região central da cidade de Franca/SP, solicitando-se aos diretores a permissão para a realização deste estudo com os alunos, na própria escola, em um local reservado. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais dos alunos que foram sorteados aleatoriamente, a aplicação do teste ocorreu em uma única sessão. A pesquisadora contou com o auxílio de dois aplicadores, estudantes de psicologia, especialmente treinados para este estudo. A avaliação das respostas foi realizada pela pesquisadora, seguindo como parâmetro da correção os critérios apresentados no manual do SB-IV, sendo as respostas valorizadas em 1 ou 0 ponto. 4 RESULTADOS Os resultados foram analisados em função dos objetivos pretendidos. Para tanto, foram estabelecidas as porcentagens de acertos para cada figura, para as faixas etárias de 3 e 5 anos e para a amostra total. Na tabela 1 são apresentados os dados da faixa etária de 3 anos. 28 Tabela 1. Freqüência de acertos dos itens absoluta e percentual, ordem de dificuldade no teste para a faixa etária de 3 anos do Vocabulário Ilustrado (N=60) Ordem de Itens Acertos % dificuldade Nova Ordem 60 100 1 1. Carro 1. Carro 48 80 9 2. Tesoura 2. Livro 55 91,66 4 3. Relógio 3. Flor 56 93,33 3 4. Flor 4. Relógio 52 86,66 5 5. Coelho 5. Coelho 50 83,33 6 6. Martelo 6. Martelo 26 43,33 2 7. Livro 7. Bandeira 38 63,33 8 8. Estrada 8. Estrada 58 96,66 7 9. Bandeira 9. Tesoura 23 38,33 10 10. Coruja 10. Coruja 09 15 13 11. Carneiro 11. Pá 03 5 11 12. Pá 12. Ponte 12 20 12 13. Ponte 13. Carneiro 0 0 14 14. Taco 14. Taco Como pode ser observado na Tabela 1, para a idade de 3 anos ordem de dificuldade das figuras carro, coelho, martelo, estrada, coruja e taco encontram-se coerente com a proposta por Melo (2007). Já tesoura, relógio, flor, livro, bandeira, carneiro, pá e ponte para esta idade não se mostraram na ordem adequada. Portando, a sequência das figuras em ordem de dificuldade crescente para a idade de 3 anos seria: carro, tesoura, relógio, flor, coelho, martelo, livro, estrada, bandeira, coruja, carneiro, pá, ponte e taco. Para a idade de 5 anos os resultados encontrados são apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Freqüência de acertos dos itens absoluta e percentual, ordem de dificuldade no teste para a faixa etária de 5 anos do Vocabulário Ilustrado (N=60) Itens Acertos Ordem de Nova Ordem % dificuldade 60 100 1 1.carro 1. Carro 53 88,33 4 2. relógio 2. Livro 57 95 5 3. coelho 3 Flor 60 100 9 4. tesoura 4. Relógio 60 100 6 5.martelo 5 .Coelho 59 98,33 3 6. flor 6. Martelo 51 85 2 7. livro 7. Bandeira 47 78,33 7 8. bandeira 8. Estrada 60 100 8 9. estrada 9. Tesoura 29 10. Coruja 11. Pá 12. Ponte 13. Carneiro 14. Taco 41 25 23 32 07 68,33 41,66 38,33 53,33 11,66 10 13 11 12 14 10. coruja 11. carneiro 12. pá 13. ponte 14. taco A Tabela 2 esboça a ordem de dificuldade crescente das figuras para a faixa etária de 5 anos, cuja a ordem deveria ser: carro, relógio, coelho, tesoura, martelo, flor, livro, bandeira, estrada, coruja, carneiro, pá, ponte e taco. Pode-se observar que para essa faixa etária somente as figuras carro, coruja e taco encontram-se na mesma posição proposta por Melo (2007) Na Tabela 3 são apresentados os dados obtidos para as idades de 3 e 5 anos e para a amostra total. Tabela 3. Porcentagem de acertos por idade do Vocabulário Ilustrado (N=120) Itens 3 5 Total Ordem de Nova dificuldade Ordem 1. Carro 100 100 100 1 1.carro 2. Livro 80 88,33 84,16 9 2.tesoura 3 Flor 91,66 95 93,33 4 3.relógio 4. Relógio 93,33 100 96,66 3 4 flor 5 .Coelho 86,66 100 93,33 5 5.coelho 6. Martelo 83,33 98,33 90,83 6 6.martelo 7. Bandeira 43,33 85 64,16 2 7.livro 8. Estrada 63,33 78,33 70,83 8 8.estrada 9. Tesoura 96,66 100 98,33 7 9.bandeira 10. Coruja 38,33 68,33 53,33 10 10.coruja 11. Pá 15 41,66 28,33 13 11. carneiro 12. Ponte 5 38,33 21,66 11 12. pá 13.Carneiro 20 53,33 36,66 12 13. ponte 14. Taco 0 11,66 11,66 14 14.taco Os resultados da Tabela 3 mostram que para a amostra total a ordem de dificuldade crescente do Vocabulário Ilustrado deveria ser alterada para se tornar adequada para a mostra testada. Considerando apenas os resultados preliminares das idades de 3 e 5 anos, a ordem crescente de dificuldade das 30 figuras deveria ser: carro, tesoura, relógio, flor, coelho, martelo, livro, estrada, bandeira, coruja, carneiro, pá, ponte e taco. Os resultados da Tabela 3 confirmam que o item mais fácil tanto para a idade de 3 como 5 anos foi carro com 100% de acerto e o mais difícil foi taco com apenas 11,66% de acerto para a amostra total, onde nenhuma criança dentro da faixa etária de 3 anos o indicou corretamente e apenas 11,66% dos sujeitos de 5 anos assim o fizeram. Estes dados confirmam o que diz a literatura sobre a influência dos aspectos culturais, principalmente nos subtestes verbais, visto que taco de beisebol não faz parte da nossa cultura e, portanto, foi à figura menos conhecida. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste estudo foi apresentar resultados preliminares da adaptação do subteste de Vocabulário Ilustrado do Stanford-Binet-IV para as idades de 3 e 5 anos da cidade de Franca/SP. Os resultados mostram que se considerando apenas essas faixas etárias os itens deveriam ser reorganizados para que se estabelecer uma ordem de dificuldade crescente. No entanto, há que se considerar que esta só deverá ser estabelecida considerando os resultados de todas as faixas etárias para as quais os subteste foi elaborado, o que será publicado em trabalho futuro. REFERÊNCIAS BONILHA, L. C; Definição de palavras com um instrumento de apreciação dainteligência infantil. Revista de Psicologia Normal e Patológica, 1968. p. 123134. GLASSER, A.J. & ZIMMERMAN, I.L; Interpretación clínica de la Escala de Inteligência de Wechsler para Niños (WISC). In: M. J. Benedet, (Trad.). Madrid: Ediciones TEA, S.A. 1972. LOPEZ, E. C. R; Adaptación de los subtestes de vocabulario de las escalas de inteligencia Stanford-Binet Forma L-M y Wechsler para ninõs. Revista de Psicologia General y Aplicada, 1970. p. 53-68. RAPAPORT, D: Tests del Diagnóstico Psicológico. Buenos Aires: Paidós.1965.