PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Programa de Estudos Pós-Graduados em Administração OTAVIO TOSI DA SILVA Transformações Organizacionais e Gestão de Pessoas no Setor Financeiro Mestrado em Administração SÃO PAULO 2012 ii OTAVIO TOSI DA SILVA Transformações Organizacionais e Gestão de Pessoas no Setor Financeiro Mestrado em Administração Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração, sob a orientação do Professor Doutor Arnaldo José França Mazzei Nogueira. SÃO PAULO 2012 iii Banca Examinadora: __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ iv Agradecimentos Agradeço ao professor e orientador Doutor Arnaldo José França Mazzei Nogueira, pelas produtivas sessões de orientação, que foram para mim de extrema importância. Agradeço também aos professores da banca do exame de qualificação, Professor Doutor Leonardo Trevisan e Professora Doutora Elsa Velozo, e sou grato também a todos os outros Mestres da PUC, pelos conhecimentos transmitidos e pelas ricas discussões em sala de aula; aos demais professores da Instituição, como o Professor Doutor Arnoldo Hoyos e o Professor Doutor Luciano Junqueira, que também tiveram grande participação na minha formação como mestre; à Capes, fomentadora da minha bolsa, cujo apoio é essencial para que a pesquisa acadêmica possa ajudar no desenvolvimento do nosso país; aos entrevistados, por disponibilizarem de seu tempo para poderem me ajudar nessa pesquisa exploratória. Também agradeço aos meus pais, por terem dado sempre o suporte necessário para que eu conseguisse desenvolver esse belo trabalho. v Resumo O objetivo da pesquisa é estudar o impacto provocado nos processos de recursos humanos utilizados em bancos no Brasil que participaram do processo de fusão e aquisição. Teve-se, ainda, como objetivo específico realizar uma revisão da literatura sobre as transformações organizacionais e gestão de pessoas no setor financeiro. A pesquisa se aproxima de estudo de casos múltiplos comparativos em duas organizações, por meio de pesquisa qualitativa. Foram selecionados os bancos Santander e do Brasil como sujeitos de investigação. Os dados foram coletados por meio de entrevistas exploratórias semiestruturadas, além de análise documental e de sites. A pesquisa apontou que em ambos os bancos há políticas de recursos humanos bem desenvolvidas, mas que a aplicação na prática deixa a desejar. O foco é cumprir as metas estabelecidas, não importa de qual forma. Dessa maneira, as melhores práticas de recursos humanos acabam sendo deixadas de lado. Constatou-se também que a relação dos estabelecimentos financeiros com o sindicato da categoria de seus funcionários, devido à política de enxugamento do quadro e de mudanças decorrentes dos processos de automação, vem sofrendo uma transformação, o que aponta para a necessidade de mudanças das práticas das instituições sindicais. Palavras-chave: Transformações organizacionais. Processos e políticas de recursos humanos. Sistema financeiro brasileiro. vi Abstract This research aims at studying the impact on the human resources processes used in banks in Brazil that have participated in the process of merger and acquisition. There was also a specific purpose to conduct a review of the literature on organizational transformations and personnel management in the financial sector. This study approaches comparative multiple case study in two organizations, through qualitative research. The banks Santander and Banco do Brasil were selected as research subjects. Data were collected through semi-structured exploratory interviews, besides analysis of documents and sites. The survey showed that in both banks the human resources policies are well developed, but the practical implementation is still weak. The main focus is to achieve the established targets, no matter in what form. Thus, the best human resources practices are eventually put aside. Another finding was that the relationship of financial institutions with the labor union, due to downsizing policy and changes from the automation processes, has been under transformation, which points to the need for changes in the practices of union institutions. Keywords: Organizational transformations. Human resources processes and policies. Brazilian financial system. vii Lista de figuras Figura 1: Etapas do processo de transformação organizacional…………………….15 Figura 2: Exemplo de perfil de características organizacionais………………………18 Figura 3: Resultado da Fusão: autonomia ou semiautonomia………………………19 Figura 4: Resultado da Fusão: absorção e assimilação………………………………20 Figura 5: Resultado da Fusão: cocriação de uma nova família……………………..20 Figura 6: O ciclo emocional das mudanças……………………………………………..21 Figura 7: Integração da estratégia de RH na estratégia da empresa. Etapas do processo de formulação………………………………………………………………...…26 Figura 8: Quadro Institucional do Sistema Financeiro Brasileiro……………………...39 Figura 9: Exemplo de Segmentação dos Clientes……………………………………...43 Figura 10: Participação de Mercado de Agências………………………………………67 Lista de tabelas Tabela 1: Variação mensal de empregos no Setor Financeiro Brasileiro……………40 Tabela 2: Rede Bancária no Brasil……………………………………………………….41 Tabela 3: Canais de Atendimento Bancário……………………………………………..44 Tabela 4: Relação e condições dos trabalhadores bancários e terceirizados que realizam atividades relativas à retaguarda (dados referentes ao ano de 2008)………………………………………………………………………..………………..49 Tabela 5: Expansão do Emprego por Região Natural. Brasil – Janeiro a Março de 2011………………………………………………………………………………………….62 Tabela 6: Movimentação e Remuneração Média dos Trabalhadores, por região natural. Brasil – Janeiro a Março de 2011……………………………………………....62 Tabela 7: Admitidos, desligados, remuneração média, saldo de emprego e diferença da remuneração média, por ocupação. Brasil – Janeiro a Março de 2011……….....65 viii Lista de gráficos Gráfico 1: Evolução do emprego formal dos bancários (2000-2010)……………….55 Gráfico 2: Admitidos, desligados e saldo de emprego por faixa etária. Brasil – Janeiro a Março de 2011………………………………………………………………………..…63 Gráfico 3: Admitidos e desligados por grau de escolaridade. Brasil – Janeiro a Março de 2011………………………………………………………………………………….….64 Gráfico 4: Total de desligados por tempo de emprego. Brasil – Janeiro a Março de 2011………………………………………………………………………………………….64 ix Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1 Problema de pesquisa ............................................................................................... 1 Objetivo de pesquisa ................................................................................................. 3 Estrutura da dissertação............................................................................................ 4 1. TRANSFORMAÇÕES ORGANIZACIONAIS NO CONTEXTO ATUAL ................. 6 1.1. Mudanças na gestão das empresas ................................................................... 9 1.2. Fusões, aquisições e incorporações ................................................................ 13 1.3. Conflitos e administração ................................................................................. 20 1.4. Síntese do capítulo ........................................................................................... 24 2. A MUDANÇA DE PARADIGMA NA GESTÃO DE PESSOAS ............................. 27 2.1. Os processos de Recursos Humanos .............................................................. 34 2.1.1. Seleção e recrutamento .............................................................................. 35 2.1.2. Treinamento e desenvolvimento ................................................................. 36 2.1.3. Avaliação de desempenho .......................................................................... 38 2.1.4. Remuneração .............................................................................................. 40 2.1.5. Relação com o sindicato ............................................................................. 41 2.2. Desafios para a gestão de recursos humanos ................................................. 42 2.3. Síntese do capítulo ........................................................................................... 43 3. O SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO ............................................................ 46 3.1. A gestão e conflito nos bancos ......................................................................... 54 3.2. Análise do setor financeiro brasileiro ................................................................ 60 3.3. Síntese do capítulo ........................................................................................... 64 4. PROCESSOS E CONFLITO NOS BANCOS: VISÃO DOS GESTORES ............. 66 4.1. Metodologia de pesquisa.................................................................................. 66 4.2. O Banco Santander .......................................................................................... 68 4.3. O Banco do Brasil ............................................................................................ 72 4.4. As transformações na visão dos gestores ........................................................ 75 4.4.1. O departamento de RH e as estratégias de gestão de pessoas: ................ 77 4.4.2. Um olhar sobre a agência: .......................................................................... 78 4.4.3. Sobre o processo de contratação: ............................................................... 82 x 4.4.4. Sobre o processo de treinamentos: ............................................................. 83 4.4.5. Sobre carreiras: ........................................................................................... 88 4.4.6. Sobre a política de remuneração:................................................................ 90 4.4.7. Sobre a política de incentivos/benefícios: ................................................... 92 4.4.8. Sobre a relação com o sindicato: ................................................................ 93 4.4.9. Sobre a rotatividade: ................................................................................... 95 4.5. Síntese do capítulo ........................................................................................... 98 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 104 ANEXOS ................................................................................................................. 109 Anexo 1: ................................................................................................................ 109 Anexo 2: ................................................................................................................ 110 1 INTRODUÇÃO Problema de pesquisa O sistema financeiro brasileiro vem passando por mudanças significativas, sendo que os aspectos mais importantes se referem ao processo de fusão e aquisição dentro do setor, em função da competição global acirrada entre os bancos e também o consequente aumento da pressão no trabalho. Essas mudanças explicam-se principalmente pela concorrência cada vez mais acentuada existente entre os bancos globais, e pelo fato desta concorrência impor uma otimização na produção e um enxugamento nos custos de produção, colocando no mercado produtos mais competitivos e que possam agregar o máximo possível de valor à empresa. Dentro deste cenário, essas empresas desenvolvem estratégias para poderem ter uma parcela mais significativa do mercado ou então aumentarem sua competitividade, para não serem absorvidas pela concorrência, por meio de fusões e aquisições. O processo de fusão e aquisição tem como principal objetivo aumentar o poder de mercado e maximizar os lucros, gerando grandes mudanças organizacionais e comportamentais. O Brasil já se encontra em sua terceira fase, pois esse movimento de reestruturação começou com o saneamento do sistema financeiro, passando pela entrada dos investimentos estrangeiros diretos, e agora vive um momento de adequação dos bancos ao novo contexto imposto. Mas, apesar dos benefícios que essas transformações podem trazer – como avanços tecnológicos, economias de escala no setor, diversificação dos riscos (pois as instituições bancárias têm procurado diversificar seus negócios além da intermediação financeira, aumentando suas receitas não financeiras, como tarifas ou comissões) e desenvolvimento de novos produtos e serviços –, há, em contrapartida, uma concentração de mercado, ou seja, uma diminuição na quantidade de instituições bancárias e também no número de trabalhadores, além de aumentarem as remessas de lucro enviadas ao exterior, já que o processo de fusão e aquisição de bancos no País é caracterizado pela forte presença de investidores estrangeiros. E, mesmo em se tratando de empresas que estão no mesmo setor de atuação, com administrações, estratégias, culturas diferentes, e que de uma hora para outra passam a ter um novo estilo de gestão em decorrência dessas 2 transformações organizacionais, devem-se desenvolver habilidades para que haja melhores resultados, mas sem grandes impactos negativos para os empregados e os clientes. Os bancos incorporadores e incorporados acabam convergindo para um modelo de gestão único, com foco nas vendas de produtos e serviços, para que superem o valor de lucro conquistado no ano anterior. Logo, o trabalhador bancário, nesse novo perfil comercial, pode sentir-se pressionado pela cobrança por resultados, o que pode gerar consequências negativas, como elevadas cargas de trabalho e estresse. Nesse sentido, ganha força o papel representado principalmente pelos sindicatos dos trabalhadores bancários que lutam por melhores condições de vida e de trabalho de seus representados, defendendo a independência e autonomia da representação sindical, atuando na manutenção e na defesa de instituições democráticas no País. Desse modo, a gestão de pessoas passa a ser uma atividade complexa dentro dessas organizações. O papel dos gestores se torna importante, tanto no aspecto da obtenção dos resultados, como na sua forma de liderança. Todas as unidades do banco incorporado e do banco incorporador sofrem adaptações de processos, produtos e pessoas, exigindo treinamentos para um melhor resultado das equipes de trabalho, ou seja, tornam-se articuladores importantes entre o corpo diretivo e a força de trabalho, principalmente nas agências bancárias, onde se dá o contato direto com os clientes. Fica à sua responsabilidade administrar toda a transação estratégica de sistemas e de pessoas, sem impactos negativos para empregados e clientes, bem como fazer todas as operações normais de trabalho, exigidas no dia a dia de um estabelecimento bancário. Para isso é necessário que haja apoio das demais áreas administrativas da empresa, pois, como mencionado anteriormente, o gestor é apenas um articulador dessas mudanças, e, assim, deve ser subsidiado para implementá-las da melhor forma possível. Portanto, a preparação, a transparência e a comunicação entre todos os níveis hierárquicos da companhia passam a ser imprescindíveis para tal. Porém, mediante o ranking de reclamações do Banco Central do Brasil, é possível perceber que os bancos que passaram por fusões e aquisições eram os que ocupavam as primeiras posições, principalmente sobre a ocorrência de débitos não autorizados em conta, cobrança de tarifas irregulares e a falta de informações 3 sobre as demais atividades. Mas não é somente em relação aos clientes que tem havido reclamações, também há problemas com o processamento de novas folhas de pagamentos, desconhecimento sobre os novos produtos ofertados e sobre novas políticas praticadas, falta de treinamento para se fazer operações em novos sistemas, dificuldade para lidar com pontos polêmicos pré-existentes, etc. Assim, ganha importância a área de recursos humanos, pois são suas políticas, práticas e processos que darão suporte aos demais departamentos e seus líderes dentro das corporações financeiras, com o objetivo de normalizar os possíveis impactos da transformação organizacional, bem como o eventual conflito existente entre a política empresarial que exige qualificação e desempenho no trabalho e aumento da produtividade e vendas, por meio de metas definidas pelo corpo diretivo do novo conglomerado financeiro e adaptação do novo quadro de pessoal com o impacto causado no trabalhador, mediante a interrupção da carreira, com a redução de níveis e postos de trabalho, pelas cobranças de metas e desempenho sem medidas e pelas políticas salariais. É por intermédio de sua política que deverá ser solucionado o dilema entre atender às demandas dos funcionários e às da empresa, principalmente em uma fase de turbulência, incertezas e falta de preparação para uma incorporação tão onerosa e complexa no setor financeiro. Com isso, o estudo dos impactos nos processos de recursos humanos das estratégias empresariais de reestruturação se justifica devido à relevância cada vez maior do tema no cenário atual. Em particular, as fusões e aquisições são processos complexos, que favorecem a expansão dos negócios econômicos e empresariais, em termos de competitividade e lucratividade. Objetivo de pesquisa Diante desse quadro, esta pesquisa tem por objetivo investigar o impacto provocado nos processos de recursos humanos utilizados em bancos no Brasil que participaram do processo de fusão e aquisição. Esse objetivo geral desdobra-se em três objetivos específicos, descritos a seguir: O primeiro objetivo específico dessa investigação é analisar as transformações organizacionais que as empresas vêm sofrendo atualmente, mais 4 especificamente os processos de fusão e aquisição e seus impactos na gestão de pessoas das instituições financeiras. Procura-se investigar, mediante a visão dos gestores, como os funcionários enfrentaram os reflexos dessas mudanças na sua vida profissional e se receberam o devido suporte da área de recursos humanos para a gestão de pessoas. Uma vez que se trata de uma adaptação cultural grande por parte das empresas que passam por processos de fusão e aquisição, pretende-se analisar as estratégias adotadas na gestão de pessoas pelo departamento de recursos humanos no sistema financeiro atual: mediante estratégia de controle ou de comprometimento do empregado, conforme Albuquerque (2002), ou seja, como é feita a administração de conflitos entre o aumento da produtividade e das vendas e o impacto causado no trabalhador bancário. O segundo objetivo específico é compreender a evolução do sistema financeiro nacional, seu papel na sociedade, mediante sua forma de gestão e seus impactos nos trabalhadores, bem como a relação com os sindicatos, analisando também as características do setor bancário, mediante pesquisa desenvolvida pelo DIEESE. O terceiro objetivo específico é analisar o Banco Santander e o Banco do Brasil, por meio de sua trajetória no País, mediante sua missão, visão, valores, seus objetivos financeiros e sociais, seus modelos de negócios, suas participações no mercado nacional e seus processos de fusão, aquisição e incorporação de outros bancos. Ademais, nesses bancos serão feitas entrevistas com gestores de agências/unidades de negócios e com os profissionais da área de recursos humanos, buscando conhecer como são os processos de RH e avaliar os impactos dessas mudanças organizacionais na gestão de pessoas. Estrutura da dissertação A dissertação está estruturada em quatro capítulos. Há uma introdução ao tema, e os capítulos um, dois e três apresentam os pressupostos teóricos da pesquisa sobre o tema, que permitem compreender, explicar e dar significado aos fatos a serem estudados e investigados posteriormente no capítulo quatro. 5 O capítulo um apresenta o conceito de transformações organizacionais no contexto atual, com destaque para os impactos nos processos de fusões, aquisições e incorporações de empresas. No capítulo dois é abordada a evolução do paradigma na gestão de pessoas, mediante suas políticas e práticas, descrevendo os principais processos de recursos humanos. O capítulo três discorre sobre o setor de serviços, especificamente o sistema financeiro brasileiro, através de sua evolução, apresentando a sua forma de gestão, bem como características gerais do setor. No capítulo quatro são descritas as características das instituições pesquisadas, definindo-se a população, a amostra, o instrumento de pesquisa e a forma de realização da coleta e análise dos dados. Em seguida são apresentados, discutidos e analisados os resultados da pesquisa de campo, com estudo de caso de duas instituições bancárias, de modo a conhecer a opinião dos gestores de pessoas e dos profissionais da área de recursos humanos em relação às consequências das transformações organizacionais. Finalmente são apresentadas as conclusões finais e as implicações da pesquisa. Na sequência são apresentadas as referências bibliográficas e os anexos. 6 1. TRANSFORMAÇÕES ORGANIZACIONAIS NO CONTEXTO ATUAL Neste capítulo pretende-se demonstrar brevemente o conceito de transformações organizacionais no contexto atual, demonstrando que houve benefícios em consequência desse processo, porém, destacando também os impactos negativos à sociedade. Há destaque para os impactos nos processos de fusões, aquisições e incorporações de empresas. Desde o início do século passado se tem discutido sobre qual seria a melhor forma de se administrar uma organização. Inúmeras teorias foram sendo desenvolvidas para se otimizar os resultados e também para aumentar a satisfação com o trabalho, principalmente no cenário de uma economia global. Os paradigmas organizacionais apresentaram várias transformações ao longo dos anos, passando da administração científica, no começo do século XX, com foco em eficiência e eficácia operacional na administração industrial, através do controle inflexível, mecanicista e burocrático para um modelo em que o homem é entendido como um ser de comportamento imprevisível e não pode ser reduzido a esquemas mecanicistas. Segundo esta visão, o homem começa a ser encarado como alguém amplamente movido por necessidades de segurança, aprovação social, afeto, prestígio e autorrealização. A organização, então, passa a ser entendida como uma rede de tomada de decisões, cuja eficiência dependerá da articulação de diversos fatores estruturais e também comportamentais (MOTTA, 2003). Nogueira (2007) afirma que na segunda metade do século XX houve também novas mudanças na história do pensamento e da técnica das organizações. Ao lado da aceleração na área das tecnologias de comunicação, ocorreram mudanças paradigmáticas, dada a alta velocidade com que as transformações ocorriam no mundo, tornando-as cada vez mais complexas. Uma teoria surge para explicar o funcionamento dos sistemas complexos e dinâmicos, a teoria do caos. Nesses sistemas, determinados resultados podem ser instáveis, imprevisíveis e até aleatórios, ocorrendo ao acaso. A ideia principal é a de que uma pequena variação nas condições em determinado ponto de um sistema dinâmico pode ter consequências de proporções inimagináveis, portanto, deixando de ser determinísticas e passando a ser probabilísticas (MARIETTO et al, 2006). Genelot (1998) demonstrou como a aplicação dos conceitos de simplificação e lógica cartesiana (característicos da administração científica) podiam ser 7 prejudiciais no processo de gestão empresarial, pois tais conceitos tendem a manter a empresa sempre no mesmo plano e, em um mundo se tornando cada vez mais globalizado e competitivo, as empresas precisam saber adaptar modelos de gerenciamento que integram valorização do ser humano com o uso de tecnologia, com o objetivo de alcançar um diferencial competitivo. Conforme Cardoso e Olivo (2005), atualmente as empresas estão enfrentando um sistema que é simultaneamente estável e instável e comportamento previsível no curto prazo e imprevisível no longo prazo. Quanto mais complexo se torna o ambiente de mercado, mais frágil e menos duradoura será a relação entre sua causa e efeito. E a grande maioria das empresas, para tentar minimizar estas ambiguidades, conflitos e incertezas, desenvolveu funções administrativas como análise e planejamento estratégico. A década de 1960 e a primeira metade da década de 1970 são marcadas pela obsessão do planejamento estratégico, com as empresas querendo antecipar o futuro, aumentando assim sua previsibilidade de ação. Porém, de acordo com Bauer (2009), as pessoas e os grupos em uma organização podem sim escolher, planejar e controlar suas próprias ações, mas não podem escolher, planejar, nem controlar os desdobramentos futuros dessas ações, que dentro das organizações dependem também das interações humanas, as quais podem levar a situações de instabilidade, pois, apesar de as pessoas serem dotadas de livre-arbítrio, estão sujeitas à coerção das outras, cujo comportamento passa a ser, portanto, imprevisível. Mais do que classificar os ambientes como instáveis ou turbulentos, precisa-se compreender que neles só será capaz de sobreviver uma empresa também instável ou turbulenta, ou seja, uma empresa altamente dinâmica. Portanto, possuiria altos padrões de interação e conectividade entre as pessoas, de modo a permitir e estimular o surgimento de sinergias potencializadoras de novas possibilidades futuras e que também reconheça ser inevitável a existência de contradições, de ambiguidade e de conflitos, procurando utilizá-los em seu proveito como fonte de aprendizado, criatividade e inovação. Uma organização […] é aquela que compreende residir em seus próprios recursos internos, todo o potencial necessário para sua evolução, além de buscar permanentemente atualizar sua identidade, 8 em conformidade com as mudanças em seu ambiente externo, fazendo uso da criatividade, da inovação e da experimentação, para desenvolver e aprimorar seu conhecimento. (BAUER, 2009, p. 68). A partir da década de 1970, houve, consequentemente, necessidade da revisão dos velhos paradigmas de administração e sua substituição por novos, baseados em organizações que incorporam novas estruturas estratégicas. As organizações passam a depender diretamente de variáveis externas, como tecnologia, informação, economia mundial, ecologia, etc. e suas projeções passam a ser de curto prazo, em função da sua complexidade, da sua dinamicidade e das suas incertezas. Prahalad e Hamel (1990) criam o conceito de competências essenciais para as organizações que, dessa forma, se tornam capazes de gerar produtos essenciais aos clientes, permitindo à empresa competir em vários mercados e, o mais importante, entendendo a empresa como um conjunto de recursos tangíveis e intangíveis. Somente desenvolvendo suas competências principais é que a organização consegue se manter e até se tornar líder, em um ambiente em que a competição se torna acirrada. Logo, uma organização deve saber interpretar as possibilidades de vir a sofrer uma ruptura estrutural imposta pelo ambiente externo, sendo capaz de tirar proveito disso, produzindo alternativas e caminhos inovadores. As profundas transformações exigem a necessidade de reunir recursos menos comercializáveis, desenvolver recursos intangíveis, visando criar competências intrínsecas para cada organização, ou seja, menos passíveis de imitação, construindo assim uma vantagem competitiva sustentável, com seus próprios recursos (TEIXEIRA; ZACCARELLI, 2007). Fleury e Oliveira corroboram também com a lógica de se investir em recursos intangíveis: O conhecimento desempenha um papel central e estratégico nos processos econômicos, e os investimentos nos ativos intangíveis crescem mais rápido do que os investimentos nos ativos físicos ou tangíveis. Países, empresas, pessoas com mais conhecimento são mais bem-sucedidos, produtivos OLIVEIRA Jr, 2002, p. 134). e reconhecidos. (FLEURY; 9 Entende-se, portanto, que as organizações dependem diretamente de suas variáveis internas, como seus recursos humanos que, no contexto atual, são empregados ávidos por um rápido crescimento profissional, funcionários que despendem menos tempo em poucas organizações durante sua vida profissional, se adaptam a reestruturações constantes, reengenharias, downsizing, etc. O enfoque corporativo passa a estar também nos sistemas relacionais e na sua compreensão humana. Equipes e células de trabalho passam a ser formadas para execução das tarefas nas corporações, baseando-se em solidariedade no grupo, capacidade de ouvir, de se adaptar às diversas circunstâncias exigidas, sendo necessário maior cooperativismo, para que gere maior competitividade (Nogueira, 2007). 1.1. Mudanças na gestão das empresas Segundo Nogueira (2007), a velocidade avançada das mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas mostra como as organizações precisam se adaptar, pois os consumidores tornaram-se mais exigentes, há um número cada vez maior de competidores no mercado, o ciclo de vida dos produtos está menor, a força de trabalho requer novo tipo de tratamento, etc., ou seja, diariamente empresas se reestruturam ou passam por mudanças profundas. O processo de mudanças nas empresas se dá através da continuidade da construção e da reconstrução da organização, que tem como objetivo aperfeiçoar sistemas, processos, políticas e práticas, desenvolvendo melhores competências (pessoais e organizacionais), que constituem seu mais valioso patrimônio. Estruturas centralizadas e formais impedem que a organização responda rapidamente a mudanças ambientais, tecnológicas e sociais. Para isso, é importante o desenvolvimento de estruturas organizacionais que permitam a gestão compartilhada. Em organizações mais flexíveis, as condições para gerar e disseminar conhecimentos e competências são mais favoráveis (FISCHER, 2002). Para Wood (2000), os principais elementos de mudança nas empresas são a tecnologia, o comportamento social e as estruturas. A geração contínua de produtos inovadores leva a empresa a adotar novas formas de trabalho, renovando assim suas práticas administrativas. Herzog (1991) complementa que a chave para 10 enfrentar com sucesso o processo de mudança é o gerenciamento das pessoas, mantendo alto nível de motivação e evitando desapontamentos em geral. O grande desafio é mudar as pessoas e a cultura organizacional, pois a ação natural do ser humano é de resistir a qualquer mudança, planejada ou não. E isso dificulta a adaptação e o progresso. Para Schein (1985), a cultura oferece estabilidade e integração aos grupos, quanto aos seus relacionamentos com o ambiente interno e externo, que visam reduzir a ansiedade das pessoas em lidar com ambientes e situações instáveis e imprevisíveis. A resistência à mudança pode aparecer de duas formas: aberta e imediata ou implícita e protelada, o que, nesse caso, pode derivar em perda de lealdade à organização, de motivação, aumento de erros e de absenteísmo. Os principais motivadores individuais para essa oposição seriam alterações dos hábitos, sentimento de ameaça, preocupação com os rendimentos e medo do desconhecido. Porém, a transformação organizacional só se efetiva com as pessoas, por meio de seu envolvimento e comportamento. Para Ulrich (1998), há três tipos de mudanças de cultura: de ordem, que é definida e determinada pelos primeiros níveis de comando da organização, ou seja, que são determinadas de cima para baixo, patrocinadas pelos executivos da empresa e implementadas por intermédio de processos de RH; horizontal, que está relacionada à reengenharia de processo, ou seja, o trabalho realizado é analisado a partir de quais propostas de melhoria são elaboradas e implementadas, visando à otimização das operações (consequentemente, surge a necessidade de mudanças culturais para colocar adequadamente em prática os novos processos); empowerment, que ocorre quando a cultura desejada é rapidamente traduzida em ação dos funcionários, que recebem maior poder para agirem com base na nova cultura. De acordo com Robbins (2002), há dois tipos de mudanças organizacionais: a de primeira ordem, que é linear e contínua, ou seja, não implica em nenhuma modificação fundamental nas práticas adotadas pelos membros da organização em relação ao mundo (mudanças lentas, sutis, discretas); e a de segunda ordem, que é uma modificação multidimensional, multinível, descontínua e radical, envolvendo a redefinição das convicções sobre a organização e o mundo no qual ela se insere, por exemplo, fusões e aquisições. A transformação não pode ocorrer de forma 11 imprevista e extemporânea, mas deve ser modelada e gerenciada com instrumentos que assegurem a sua internalização nas esferas mais íntimas da organização. Há quatro categorias de mudanças possíveis para o autor: mudança estrutural, na forma como as tarefas são divididas, agrupadas e coordenadas ou também mudanças na hierarquia; mudança tecnológica, mediante a introdução de novos equipamentos, ferramentas ou métodos, além da automação e da informatização; mudança nas instalações físicas, como eliminar paredes e divisórias, mudar a iluminação, aumentar a limpeza, etc.; mudanças nas pessoas, ou seja, nos grupos de trabalho. Fischer (2002) afirma que os administradores são os principais articuladores das mudanças na maioria das organizações. Seu grande desafio encontra-se mediante suas decisões e o modelo de seu comportamento, dirigindo assim a mudança organizacional. O paradigma da transformação pressupõe que o esforço de direcionamento de uma organização deve estar voltado para o aperfeiçoamento contínuo, e não para a estabilidade de normas, padrões e regras previamente instaurados e perenemente tornados rotineiros. E que o gestor deve funcionar como facilitador de condições e recursos que propiciam o desenvolvimento permanente. Ele não centraliza, mas mobiliza as informações e o conhecimento; ele não limita, mas amplia, a participação e o intercâmbio; ele não restringe a abrangência, mas coordena as ações específicas de mudança para assegurar sua integração. (FISCHER, 2002, p. 152). Para o autor, em organizações com estruturas flexíveis e formas compartilhadas de se tomar decisões, as condições para gerar e disseminar conhecimentos e competências são mais favoráveis. O processo de mudança pode ser sintetizado interdependentes, conforme ilustra a Figura 1 a seguir: em quatro etapas 12 Figura 1: Etapas do processo de transformação organizacional Fonte: FISCHER, Rosa. Mudança e transformação organizacional. ( 2002, p. 155) Para Fischer (2002), na fase de auscultação, são levantados os dados internos e externos à organização, para identificação dos processos de trabalho, o fluxo de comunicação utilizado e a interação entre as áreas, para que sejam medidas a eficiência dos procedimentos e a eficácia de seus resultados. É importante que a análise do material final seja compartilhada entre todos os membros da organização, para que haja clareza em relação aos principais problemas da empresa, estando aberta a opiniões e sugestões de todo o grupo. Em seguida, na etapa de concepção, devem-se desenvolver propostas de mudanças (novas diretrizes estratégicas) por grupos de funcionários pertencentes a diversas áreas e que possuam níveis hierárquicos diferenciados, com o objetivo de se definir um plano de ação e projetos de melhoria contínua. O impacto dessa fase se dá na 13 configuração de um modelo de excelência de gestão que assegure a capacidade de obter resultados efetivos do desempenho organizacional. Na fase de disseminação/adesão se faz a difusão e absorção dos novos objetivos e estratégias definidos para toda a organização. Os empregados passam a se transformar em multiplicadores desse novo conhecimento. E finalmente, a etapa de sustentação visa monitorar e avaliar as ações tomadas. 1.2. Fusões, aquisições e incorporações No contexto das transformações organizacionais, situam-se as fusões e aquisições que, para Barros et al. (2003), têm a finalidade de juntar forças entre empresas para atuar em outras áreas, visando expandir-se geograficamente, ganhando na escala de produção e buscando sinergias financeiras e tecnológicas, entre outras metas. O processo de fusão envolve o desaparecimento legal de duas ou mais empresas e a combinação das mesmas em uma nova empresa, teoricamente sem predominância de nenhuma das empresas anteriores. Deve-se definir também dois outros processos de envolvimento de empresas: aquisição, que determina a supressão completa da empresa incorporada, ou seja, há a compra do controle acionário de uma empresa por outra; e incorporação, que é um tipo especial de estratégia de aquisição em que a empresa-alvo não solicita a oferta da empresa compradora (HITT, 2007). Para Rourke (1995) os principais motivos para esses processos são, diversificação: empresas com poder aquisitivo que, ao perceberem que o mercado em que atuam está se retraindo, decidem comprar uma empresa em outra indústria, para amparar o declínio esperado; melhor posição no mercado: a empresa adquire uma pequena unidade dentro de outra empresa; situações de reestruturações: a empresa resolve adquirir outra empresa, com boa posição no mercado, que está enfrentando problemas, e que por isso, está sendo vendida por um baixo preço, para que seja gerenciada de uma forma melhor; aquisição de tecnologia: a empresa visa fazer uma aquisição de outra empresa, que possui tecnologia mais avançada e desenvolvida. Hitt (2007) acrescenta que outras estratégias – como a de transpor barreiras à entrada em novos mercados ou regiões, evitar os custos de desenvolvimento de 14 novos produtos e aumentar a velocidade de novas entradas nos mercados, reduzir o risco de entrada de um novo negócio, reformular seu escopo competitivo ao desenvolver um novo portfólio de negócios e melhorar seus aprendizados e assim aumentar a sua base de conhecimento – também são utilizadas nesses processos. De acordo com Gitman (2004) e com Hitt (2007), há três tipos de fusões e aquisições: fusão horizontal, quando duas ou mais empresas atuam na mesma linha de negócios e passam a se unir; fusão vertical, que ocorre entre empresas que fazem parte da mesma cadeia produtiva, ou seja, a empresa adquire um fornecedor ou cliente; fusão por conglomerados/relacionadas, que é a combinação de empresas de negócios que não estão no mesmo ramo específico de atuação. Para se garantir a eficácia desses processos, a empresa compradora e a empresa-alvo devem ter recursos complementares que podem ser a base das competências essenciais da empresa recém-criada, a aquisição deve ser amigável, a empresa-alvo escolhida e comprada deve ter base em estudos minuciosos, garantindo que não tenha dívidas ou problemas de caixa, e a empresa compradora e a empresa adquirida devem ter experiências em termos de adaptação e mudanças organizacionais (HITT, 2007). Porém, no processo para a integração pós-fusão/aquisição, não há regras definidas, pois não há duas aquisições iguais, nem dois adquirentes/adquiridos iguais. A alta gerência, na maior parte das grandes corporações, envolve-se pesadamente nas decisões para adquirir empresas, mas deixa para outras pessoas os detalhes mais específicos, como sua integração ao novo conglomerado. Porém, deveria assumir e fazer os julgamentos a respeito do que deve ser modificado e quando. O objetivo dessa integração é uma transformação e não uma revolução. De qualquer forma, as demissões pós-mudança ocorrem de forma natural, pois existem empregados que ou se aborrecem por serem localizados na extremidade inferior da carreira, pelo fato de fazerem parte da empresa adquirida; ou não se adaptam à nova cultura corporativa; e ainda há outras pessoas que acabam se sentindo redundantes no ambiente de trabalho (ROURKE, 1995). Para Senn (1995), as questões referentes ao quadro de pessoal recebem pouca prioridade durante o processo de avaliação pré-aquisição. 15 Evidências cada vez maiores sugerem que a incompatibilidade cultural é a maior causa isolada da não concretização do desempenho projetado, da saída de executivos-chave e de demorados conflitos na consolidação dos negócios. (SENN, 1995, p. 272). Para o autor, um terço das fusões fracassa dentro de cinco anos e cerca de 80% nunca atingem suas expectativas, e que grande parte dessas falhas se devem a fatores humanos e não a análises quantitativas, pois podem existir nas organizações culturas conflitantes, como ilustra a Figura 2 a seguir: Figura 2: Exemplo de perfil de características organizacionais AUTOCRÁTICA PARTICIPATIVA CENTRALIZADA DESCENTRALIZADA RECOMPENSA BASEADA EM TEMPO DE CASA RECOMPENSA BASEADA NO DESEMPENHO MUITOS NÍVEIS DE APROVAÇÃO E POUCA AMPLITUDE DE CONTROLE POUCOS NÍVEIS DE APROVAÇÃO E GRANDE AMPLITUDE DE CONTROLE FORMAL INFORMAL MUDANÇAS LENTAS MUDANÇAS RÁPIDAS HORIZONTES DE PLANEJAMENTO LONGOS HORIZONTES DE PLANEJAMENTO CURTOS FOCO EM LUCROS A CURTO PRAZO FOCO EM LUCROS A LONGOPRAZO FOCO NO CONTROLE DE DESPESAS FOCO EM ATENDIMENTO E QUALIDADE Fonte: SENN, Larry. Cultura. (1995, p. 284) A integração de duas empresas após a aquisição pode ser bastante difícil, pois seus desafios incluem a combinação de duas culturas corporativas distintas, a união de sistemas financeiros e de controle diferentes, o desenvolvimento de relações de trabalho eficazes e a resolução de problemas quanto à situação dos empregados da empresa recém-adquirida (HITT, 2007). 16 Incerteza e insegurança estão associadas a quase todas as fusões e aquisições. Segundo Tanure et al. (2007), a retenção de pessoas-chave é essencial para a conquista dos objetivos da aquisição, tanto no que se refere às tarefas de integração de curto prazo, quanto ao desempenho da empresa no longo prazo. É essencial identificar as pessoas cruciais para a continuação do processo e garantir que elas não saiam da companhia. Esses dois fatores fazem com que os empregados possam perder seu entusiasmo pelo trabalho e pela organização. Quanto mais cedo se tiver certeza do futuro, com a visão da organização, novos alvos traçados e as oportunidades de carreira estabelecidas, mais cedo as pessoas se acalmarão. Se essas perdas psicológicas não receberem atenção logo no início, poderão conduzir a problemas de atitude e comportamento. Os melhores talentos acabam se desligando da empresa após passarem por esses processos, atraídos por outras oportunidades de mercado e por ofertas de empresas concorrentes, pois quanto mais cedo forem definidas as metas e os novos objetivos da empresa, maior será a sensação de segurança e certeza transmitida aos funcionários (BARROS et al., 2003). Para Senn (1995), outra causa existente de perda de pessoal é a atitude „nós versus eles‟, ou seja, de ganhadores e perdedores nesse processo de transformação organizacional. Quando duas empresas se juntam, elas olham para as mesmas situações com dois pontos de vista diferentes, pois são influenciadas por suas culturas e experiências passadas. Se uma empresa tem sido historicamente bem-sucedida baseada em cultura de atendimento e qualidade, cortes de custos rápidos e insensíveis podem destruir aquilo que tornou grande a organização. Da mesma forma, a aquisição de uma empresa pequena e altamente empreendedora por uma empresa maior e mais formalizada representa desafios culturais. (SENN, 1995, p. 278). O fracasso de uma aquisição pode se relacionar com a falta de ajuste cultural entre as duas organizações, ou seja, quando se encontram duas culturas diferentes, possuindo pressupostos, crenças e modos distintos de interpretar a realidade (TANURE et al., 2007). 17 Há três tipos de resultados após a mudança organizacional, segundo Senn (1995): Autonomia ou semiautonomia: quase não há interação entre as empresas, a sinergia é criada sem mudar necessariamente a natureza das organizações, conforme ilustra a Figura 3: Figura 3: Resultado da Fusão: Autonomia ou semi-autonomia A A B B Cultura Antes Cultura Depois Fonte: SENN, Larry. Cultura. (1995, p. 284) Absorção e assimilação: a empresa adquirida deve ter seus funcionários reeducados para as novas regras da empresa adquirente, conforme ilustra a Figura 4: Figura 4: Resultado da Fusão: Absorção e assimilação A B A B Cultura Antes Cultura Depois Fonte: SENN, Larry. Cultura. (1995, p. 284) Cocriação de uma nova família: há o desenvolvimento de nova visão e missão organizacional, bem como um novo conjunto de valores comuns, conforme ilustra a Figura 5: 18 Figura 5: Resultado da Fusão: Co-criação de uma nova família A C B Cultura Antes Cultura Depois Fonte: SENN, Larry. Cultura. (1995, p. 284) O mesmo autor também desenvolveu um chamado ciclo emocional da mudança, que tem cinco fases, conforme ilustra a Figura 6 seguinte: Figura 6: O ciclo emocional das mudanças Fonte: SENN, Larry. Cultura. (1995, p. 288) A fase 1, do otimismo desinformado, ocorre quando as pessoas estão entusiasmadas com o novo empreendimento e ainda não enfrentaram os reais desafios e complicações. A fase 2 é do pessimismo informado, quando estão sendo enfrentados todos os problemas, boatos e perturbações. Na fase 3, os eventos 19 podem tomar um de dois cursos: o pessimismo pode transformar-se em realidade e ser eterno (nesse caso ocorrem as desistências); ou, o pessimismo é substituído pela esperança, através de um plano desenvolvido e um compromisso continuado da organização. Na fase 4, a esperança leva ao otimismo informado e a confiança cresce. E a fase 5 é de satisfação plena (SENN, 1995). Para Tanure et al. (2007), os aspectos culturais das fusões e aquisições podem aumentar drasticamente as probabilidades de sucesso de qualquer integração organizacional e fornecer muitos benefícios, como aumento da produtividade e lucratividade, bem como um presente senso de comunidade, uma vez que os valores comuns ligam os indivíduos à organização e unem as pessoas. A área de recursos humanos pode trazer uma contribuição substancial, desde uma análise prévia da cultura da empresa que irá ser adquirida e seu capital humano, até o desenvolvimento de planos e estratégias de comunicação, estrutura organizacional, plano de desenvolvimento de novos objetivos e plano de pessoal, por meio das novas políticas e procedimentos. Para os mesmos autores, nesses processos é comum haver um grande número de desligamentos, uma vez que é sobreposição de atividades na “nova” empresa e, para que seja feito da forma mais eficiente possível, é desenvolvido um plano de demissão voluntária (PDV), em que se podem oferecer bônus por ano trabalhado, participação nos lucros, serviço gratuito de consultoria para recolocação profissional, etc. como forma de incentivos a aderir ao plano. Porém, há possibilidade de o sindicato firmar um acordo com a empresa adquirente, com o objetivo de garantir a permanência no emprego para os funcionários da organização. Marsack (1995) analisa as estratégias para se tratar com o sindicato, na tentativa de se esclarecer quais são as obrigações legais da empresa adquirente para com os funcionários da empresa adquirida. Como regra geral, uma troca na propriedade de ações não afeta a obrigação de uma empresa de reconhecer o sindicato como representante dos funcionários na negociação, nem a de continuar vivendo sob os termos e condições de um contrato de negociação coletiva existente. Se o comprador contratar a maior parte de sua nova força de trabalho nas fileiras da força de trabalho sindicalizada do vendedor, a lei irá presumir que a maioria da nova força de trabalho quer a 20 representação do sindicato. Por outro lado, se a nova força de trabalho for composta por indivíduos cujos desejos sindicais são desconhecidos, porque eles não trabalhavam para o vendedor, não existirá uma base legal para se presumir uma condição majoritária; portanto, o comprador poderá recusar-se a reconhecer o sindicato, sem entrar em choque com a lei. (MARSACK, 1995, p. 296). 1.3. Conflitos e administração Nogueira (2007) afirma que há um debate entre três autores clássicos relacionado com o trabalho: Marx, Durkheim e Weber. Cada um, a seu modo, encara as organizações modernas do ponto de vista mais abrangente da sociologia, como ilustrado abaixo: Segundo a visão crítica de Karl Marx, o conflito entre o capital e o trabalho é inerente ao desenvolvimento do capitalismo, porém, desde a primeira revolução industrial há a desigualdade entre os proprietários de meios de produção e os não proprietários, ou seja, a partir do momento em que o empregado passa a trabalhar na indústria. Com o advento do capitalismo, o objetivo da organização é de valorizar o capital, em detrimento da exploração do trabalho, apropriando-se do excedente. O desafio (e o conflito) de todo o processo de valorização é a proporção entre o pagamento do trabalho necessário para o trabalhador produzir e o que o trabalhador produz a mais (contradição e crítica). Para Émile Durkheim, a sociedade progride com a divisão social do trabalho. Esta é responsável pelo rápido desenvolvimento intelectual e material das sociedades, o que leva à maior integração e estruturação dos grupos sociais, à interdependência de seus membros e à formação do espírito corporativo, admitindo que a divisão do trabalho é a fonte principal da solidariedade, que deve ser construída racional e organicamente por meio das distintas especializações (função e integração). De acordo com Max Weber, a burocracia seria o espírito da empresa ideal, com o trabalho a serviço de uma organização racional que produz os bens necessários à humanidade e que, ao fazer isso, gera lucros e possibilita a criação de empregos. A divisão do trabalho resultaria da racionalização dos meios, sempre tendo em vista a meta de aumentar os lucros e a riqueza de determinado 21 empreendimento econômico. Dessa maneira, a divisão ou a organização racional do trabalho faria coincidir os interesses de trabalhadores e de empreendedores. Mas a burocracia pode levar à negação de liberdade e pode representar um problema preocupante nas sociedades modernas, ou seja, o indivíduo troca sua liberdade pela obediência às regras da empresa (preocupação e ameaça ao homem). Para Nogueira (1986), consequentemente, há lutas de classes para conter o abuso de força de trabalho na organização, tendo no sindicalismo o resultado dessa ambiguidade na sociedade. O sindicato, as organizações de base e de massa vão caracterizar os meios pelos quais os trabalhadores se contrapõem desde a base até o topo do sistema capitalista. O desenvolvimento de teorias para a compreensão das organizações mediante uma abordagem múltipla que combina organização formal e informal, com recompensas materiais e sociais, foi o primeiro passo para a eliminação desse conflito. A eliminação do conflito deu-se mediante uma estratégia combinada entre o atendimento das necessidades econômicas e salariais e a promoção da satisfação psicológica e social. O conflito existente é destacado a seguir, pelo autor: Enquanto a produção é social, coletiva, a apropriação é privada. Quanto mais se expande o capital, maior é a desvalorização do trabalho […] A divisão do trabalho entre intelectual e material, a separação entre o planejamento e a execução do trabalho, o parcelamento das tarefas, a fragmentação do processo de trabalho, a desqualificação e degradação do trabalhador, a criação de uma camada social com a função de supervisão e controle direto e indireto, a formação de uma rede hierárquica de autoridade e poder na organização, são algumas características dos tais meios que subordinam realmente o trabalho ao capital. (NOGUEIRA, 1986, p. 73). As escolas de gestão tentam começar a responder com mais sofisticação aos problemas sociais do trabalho e, com algumas diferenças entre si, entendem a natureza humana como adaptativa às organizações e funções, admitem a existência do conflito entre capital e trabalho e propõem uma organização cooperativa e 22 sistêmica aberta ao ambiente. Passa-se a ter como pressuposto que o grupo social deve ser consultado e participar das escolhas para uma interação mais adequada entre empresa e ambiente. Daí por diante, os modelos de gestão da força de trabalho tendem à descentralização e ao participacionismo com a formação dos grupos semiautônomos, das células de manufaturas, do trabalho em equipe, dos círculos de controle e qualidade, até o limite da produção enxuta determinada pela introdução intensiva das tecnologias microeletrônicas (NOGUEIRA, 2002). No momento em que a função de RH assume o modelo sistêmico (como resultado da integração funcional dos subsistemas de suprimento, aplicação, manutenção, desenvolvimento e avaliação) está completo o ciclo de crescimento, independência e autonomia relativa, e o RH já está habilitado a disputar um papel estratégico na gestão da empresa moderna e a lidar mais diretamente com a gestão das relações de trabalho. […] A gestão de pessoas como desdobramento desse processo, nesse contexto, assume um compromisso maior com a individualização da relação do trabalho e com a reestruturação da área. (NOGUEIRA, 2002, p. 119). Muitas empresas modernas vincularam a área de relações trabalhistas à diretoria (ou vice-presidência) de recursos humanos, implicando em um compromisso muito maior com a democratização da empresa. Nogueira (2002), conclui que toda a estrutura montada para gerir as relações de trabalho na era do capitalismo está na proporção direta de atuação da mais importante organização dos trabalhadores: o sindicato e suas diversas formas de organização, que atingiram poder semelhante ao da empresa ao longo do século XX, passando de um sindicalismo de confronto e de oposição para o sindicalismo de controle e participação. Conforme Kon (2004), a partir dos anos 1970, uma nova espécie de reestruturação e de divisão internacional do trabalho se desenvolveu devido às mudanças tecnológicas baseadas nas formas flexíveis de organização do trabalho e dos processos produtivos, para responder com maior rapidez às mudanças de mercado e à competição, que se tornou mundial. 23 Para Harvey (2010), com essas mudanças, a questão da flexibilidade ganha papel central no novo capitalismo, que continua voltado para o crescimento e para a expansão dos lucros com base na extração do trabalho excedente da força de trabalho. Esse novo paradigma, além de expandir os serviços, conduziu ao aumento do desemprego, o trabalho precário, a subcontratação, a terceirização, o trabalho temporário ou por projeto (flexível), as atividades autônomas, de consultoria, e o sindicato se vê cada vez mais enfraquecido. Há uma visão otimista que acredita que a flexibilidade produzida pelas novas tecnologias abre possibilidades positivas de uma profunda revisão das relações de trabalho e dos sistemas organizacionais, trazendo novas oportunidades. A posição intermediária reconhece as mudanças nos padrões tecnológicos e organizacionais, abrindo novos caminhos para a qualificação, para o aumento da remuneração e novas oportunidades de empreendimento, mas também observa novas dificuldades para o mercado de trabalho e um aprofundamento das desigualdades entre os trabalhadores e as organizações. Já a visão pessimista vê a flexibilidade como uma maneira de manter o poder dominante do grande capital. Os trabalhadores continuam a ser controlados e prejudicados (NOGUEIRA, 2007). Sennett (2010) adverte sobre a possibilidade de que o moderno capitalismo flexível afete o caráter das pessoas ao promover um individualismo competitivo, voltado para o sucesso independentemente de carreiras e compromissos. Com um caráter corrompido por tal sistema, os indivíduos acabariam por desempenhar um papel social discutível. Esta situação organizacional, em que há constantemente novas tomadas de decisão nas organizações, leva uma situação de ansiedade a seus empregados, que não sabem os efetivos riscos que estão correndo, e a que lugar irão chegar. A crise do sindicalismo é consequência dessas mudanças ocasionadas pela reestruturação produtiva e tecnológica conduzida pelo capital, em detrimento do mundo do trabalho (NOGUEIRA, 2007). As organizações sindicais e os partidos políticos, outrora atuantes na defesa econômica e política dos trabalhadores, não estão conseguindo manter o poder de intervenção conquistado, o que 24 aumenta cada vez mais os flancos do trabalho. (NOGUEIRA, 2002, p. 129). Segundo Jinkings (2000), que estuda o trabalho no sistema financeiro, as possibilidades das lutas de resistência da classe trabalhadora ficaram mais reduzidas na década de 1990, no contexto da reestruturação produtiva do capital, sob transformações que destruíram as mediações coletivas das relações de trabalho. O sindicalismo brasileiro expressou os limites e as dificuldades, atuando defensivamente. No entanto, conforme Chaves (2005), na década de 2000, a representação sindical bancária conseguiu promover movimentos e ações importantes. A atuação passa a ser de indicar o inconformismo da categoria bancária frente à realidade das transformações do setor. As mobilizações mais recentes até 2010 mostraram um deslocamento das lutas sindicais em direção aos bancos privados e houve uma inovação das pautas de reivindicação. 1.4. Síntese do capítulo Novos conceitos, teorias e visões de mundo foram sendo desenvolvidas, para que se conseguisse entender as ciências humanas e também o impacto da importância de seu papel na administração. A observação da prática gerou novas teorias, tanto quanto a aplicação dessas novas teorias transformou as práticas originais, num ciclo dialético. Para as organizações, esta evolução teórica também se deu de forma necessária para o desenvolvimento das mesmas, mediante um arcabouço teórico bastante adequado à concepção de novas teorias das organizações, que permitem tanto compreender melhor as dinâmicas organizacionais, quanto verificar como elas podem tirar partido da turbulência, para poder evoluir. Porém, o modo atual de gestão e controle do trabalho recria padrões de dominação de classe que tentam construir um trabalhador integrado ideologicamente ao capital. Por meio da formação de equipes de trabalhadores vinculadas aos programas de qualidade total, do treinamento de trabalhadores para o atingimento de melhores resultados, da criação de campanhas para premiação de ideias e sugestões inovadoras relacionadas ao processo e às relações de trabalho, 25 as novas práticas gerenciais visam eliminar resistências, buscando assegurar a obtenção da eficácia e da produtividade máximas. O desafio neste novo cenário, de empresas complexas e modernas, é permanecer em constante desenvolvimento e, frequentemente, sofrendo transformações organizacionais, levando em conta princípios de flexibilidade, compartilhando decisões e descentralizando as atividades. As funções das empresas passam a ser, portanto, de se tornarem estratégicas, competitivas, focadas nos processos de mudança organizacional, mas também responsáveis pelo envolvimento dos funcionários na organização social, mediante condições ótimas de trabalho. As organizações, no contexto atual, estão mais voltadas para os clientes, com produtos e serviços de alta qualidade, tendo uma relação mais próxima com a comunidade, ou seja, assumindo maior responsabilidade para com o meio ambiente. Internamente, possuem menos níveis hierárquicos, aparecendo a figura do líder, como treinador e motivador, uma vez que as empresas dependerão mais do nível de motivação de sua força de trabalho, que deverá passar obrigatoriamente por um maior nível de especialização. E, para tal, sofrem constantes transformações organizacionais, para conseguirem atuar num mercado cada vez mais dinâmico e concorrido. Estratégias de fusões, aquisições e incorporações têm se tornado comuns entre as empresas, sendo usadas devido às incertezas no cenário da concorrência, principalmente no sistema financeiro nacional que, mediante esses processos, está vivenciando uma diminuição no número de instituições bancárias e o desenvolvimento de conglomerados cada vez mais dominantes na sociedade. Logo, essas novas formas de trabalho impactam diretamente nos empregados e no seu desempenho, o que, por sua vez, reflete diretamente nos resultados da companhia. Ou seja, gerenciar as pessoas corretamente, analisando todos os impactos interna e externamente é crucial para que haja uma evolução e um bom andamento em sua administração. Nos capítulos a seguir será tratada a evolução da função de recursos humanos como subsistema da gestão, desde a antiga função de pessoal, passando pela formação do departamento de recursos humanos, até assumir posição estratégica na empresa, habilitando-se de forma crescente a lidar com a gestão das 26 relações de trabalho. Também serão discutidos dados do DIEESE sobre a evolução do emprego nas instituições bancárias, que destacam algumas questões críticas sobre como o departamento de RH lida com os conflitos existentes dentro da organização, seguido de depoimentos da visão dos gestores e dos trabalhadores desse setor, em relação ao suporte dado pela área de RH às demais áreas da empresa. 27 2. A MUDANÇA DE PARADIGMA NA GESTÃO DE PESSOAS Neste capítulo pretende-se abordar brevemente a evolução do paradigma na gestão de pessoas, através de suas políticas, práticas, descrevendo os principais processos de gestão de pessoas, e colocar em questão os desafios encontrados na gestão de pessoas no contexto atual. Conforme Fischer (2002), acompanhando toda mudança organizacional encontra-se a área de recursos humanos, que procura atender às novas demandas, em um ambiente atrativo e de crescimento mediante a implantação de políticas e modelos flexíveis de gestão, para o desenvolvimento das competências essenciais de cada empresa, estimulando, oferecendo suporte, gerando lideranças que inspirem e facilitem a transformação contínua. A importância que o comportamento humano vem assumindo no âmbito dos negócios fez com que a preocupação com sua gestão ganhasse maior espaço na teoria das organizações, ocasionando o surgimento do conceito de modelo de gestão de pessoas. Entende-se por modelo de gestão de pessoas a maneira pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho. Para isso, a empresa se estrutura definindo princípios, estratégias, políticas e práticas ou processo de gestão. Através desses mecanismos, implementa diretrizes e orienta os estilos de atuação dos gestores em sua relação com aqueles que nela trabalham. (FISCHER, 2002, p. 12). Segundo Araújo (2006), no início do século passado, o papel do então chamado Departamento de Pessoal era de apenas recrutar, selecionar, admitir e demitir os candidatos que procuravam por um emprego. A administração de recursos humanos gerenciava seus empregados como custos, elemento diferenciador de competitividade na época. Essa fase é marcada no Brasil pela criação do Ministério do Trabalho e do Emprego, determinando leis trabalhistas, que futuramente resultariam na CLT (Consolidação das Leis de Trabalho). Portanto, passa a ficar também sob responsabilidade dessa área a garantia de obediência à legislação trabalhista, o que fez com que o cargo de chefia passasse a ser assumido na época, em sua maioria das vezes, por advogados. 28 A figura da indenização trabalhista passa a existir acompanhada de procedimentos muito conhecidos entre nós como o aviso prévio, as férias estabelecidas e um incipiente de sistema previdenciário que atingiu as empresas sob a forma de impostos. (ARAUJO, 2006, p. 2). Para o mesmo autor, apesar de já haver algumas políticas para o gerenciamento de pessoas, o recrutamento de funcionários era feito, geralmente, por intermédio de rádios, jornais e indicações; a seleção era por meio de provas de datilografia e possíveis testes psicológicos; o treinamento era apenas de integração à empresa; e sua forma de gestão era a de registrar a presença dos seus empregados e lhes proporcionar apenas uma recompensa monetária satisfatória. Estudos psicológicos desenvolvidos provocaram nova orientação do foco de ação da gestão de recursos humanos, passando a atuar sobre o comportamento das pessoas, procedimento que se mostrou importante para o aumento da produtividade nas empresas, reduzir o absenteísmo e a rotatividade e aumentar a cidadania e a satisfação com o trabalho, instrumentalizando-se métodos de avaliação e desenvolvimento dos trabalhadores. O foco de atuação passa a ser o treinamento gerencial, avaliação de desempenho, motivação e liderança, com o objetivo de manter o empregado motivado econômica e socialmente, o que geraria maior eficiência. O trabalho humano passa a constituir um dos principais ativos de qualquer organização (FISCHER, 2002). Para Albuquerque (2002), há uma evolução do conceito de administração de recursos humanos, visando à mudança do modelo de controle (no qual os empregados são vistos como números, custos e fator de produção, que, para desempenhar bem as funções, devem ser mandados e controlados) para o de comprometimento (no qual as pessoas são consideradas parceiras no trabalho, e que a empresa deve investir nelas para conseguir melhores resultados empresariais. Neste modelo, o comprometimento dos colaboradores está relacionado com o aumento de desempenho). As distinções desses dois modelos podem ser verificadas mediante as seguintes características organizacionais: A estrutura organizacional é altamente hierarquizada, com separação da tomada de decisão com a ação, ou há redução de 29 níveis hierárquicos e de chefias intermediárias, com a tomada de decisão em diversos segmentos da organização; A organização do trabalho é muito especializada, o que pode gerar desmotivação, ou o trabalho é enriquecedor, gerando desafios; A realização do trabalho é individual ou em grupo; O sistema visa ênfase em controles explícitos do trabalho ou é implícito no grupo; A política de emprego tem foco no cargo, ou seja, emprego a curto prazo, ou tem foco no encarreiramento flexível, a longo prazo; O nível de educação e formação exigido é baixo, uma vez que a demanda é de trabalho automatizado e especializado, ou é alto, pois há necessidade de trabalho enriquecido e intensivo em tecnologia; A relação empregador-empregado é de independência, ou é de interdependência, ou seja, confiança mútua; A relação com o sindicato da categoria é de confronto, baseado na divergência de interesses, ou é de diálogo, buscando sim uma convergência de interesses; A participação dos empregados nas decisões é baixa, ou seja, são tomadas de cima para baixo, ou é alta (tomadas em grupo); A contratação é feita para um cargo ou para um conjunto especializado de cargos, ou é uma contratação para uma carreira longa na empresa; Os treinamentos visam ao aumento do desempenho na função atual, ou visam preparar o empregado para futuras funções; As carreiras são rígidas e especializadas, de pequeno horizonte e amarradas na estrutura de cargos, ou são flexíveis, de longo alcance, com permeabilidade entre diferentes carreiras; A política salarial é focada na estrutura de cargos, com alto grau de diferenciação salarial entre eles, ou é focada na posição da carreira e no desempenho, com baixa diferenciação entre níveis; A empresa se promove incentivos individuais, ou o foco são os incentivos grupais vinculados a resultados empresariais. 30 O mesmo autor acredita que, com o fator humano se tornando peça vital para o atingimento dos resultados das organizações, nas décadas de 1970 e 1980, começa a haver uma vinculação dos modelos de gestão de pessoas às estratégias organizacionais, ou seja, o modelo de gestão de pessoas passa a fazer parte integrante das estratégias corporativas da empresa, considerando todas as pessoas da companhia, e não apenas o grupo de executivos, tendo suas decisões ligadas ao aprendizado, à comunicação, à participação e ao comprometimento das pessoas com os objetivos e as estratégias, conforme ilustra a Figura 7 a seguir: Figura 7: Integração da estratégia de RH na estratégia da empresa. Etapas do processo de formulação Fonte: ALBUQUERQUE, Lindolf o. A Gestão Estratégica de Pessoas. (2002, p. 41) O autor também destaca que: 31 Muitas organizações estão descobrindo os benefícios de ter mais empregados envolvidos na formulação estratégica, incluindo o desenvolvimento de um planejamento de alta qualidade, que reflete tanto a capacidade do negócio quanto a do mercado, o comprometimento das pessoas responsáveis pela implementação estratégica e a profunda compreensão das estratégias em todos os níveis da organização. (ALBUQUERQUE, 2002, p. 42). Por sua vez, Ulrich (1998) afirma que os profissionais da área de recursos humanos precisam apoiar as organizações para enfrentar o desafio da competitividade, ou seja, a área deve estar preparada para assumir papéis estratégicos nas organizações. A ferramenta de que o departamento de recursos humanos dispõe para esse alinhamento e priorização é o diagnóstico organizacional, possibilitando a identificação de forças e fraquezas organizacionais frente às estratégias, apoiando a definição e implementação de planos de ação estratégicos. Para esse autor, oito é o número de desafios enfrentados pelos grandes líderes: globalização; cadeia de valor para a competitividade empresarial e os serviços de recursos humanos; lucratividade entre custo e crescimento; foco na capacidade; mudança de parâmetros; tecnologia; atração, retenção e mensuração da competência e do capital intelectual; reversão não é transformação. São as pessoas o ponto de partida e de sustentação para a ação estratégica da organização. Indivíduos motivados, satisfeitos e bem atendidos em suas necessidades estão prontos para atuar, porém isso pode não significar nada para as diretrizes estratégicas da empresa. O executivo de RH, então, passa a ser envolvido, de uma forma ou de outra, na formulação das estratégias organizacionais, em grande parte das organizações. O modelo passa a se tornar cada vez menos prescritível e genérico para ocupar a função de elemento de diferenciação. Monitorar continuamente o ambiente global (no qual a força de trabalho muda constantemente) e tomar atitudes proativas em relação às eventuais mudanças, revendo os cenários desenhados e reformulando as estratégias de RH adotadas é fundamental para a sobrevivência da maioria das organizações (FISCHER, 2002). Para o autor, para que os empregados também estejam vinculados ao resultado dos negócios, desenvolveu-se nas décadas de 1980 e 1990 um modelo 32 articulado por competências humanas que, ao ser implantado, permite que as competências organizacionais também se viabilizem em um ambiente externo cada vez mais competitivo. Competências é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (e não apenas a conhecimento técnico e instrumental) que justificam um alto desempenho e que agregam valor à organização e ao indivíduo. O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associadas ao cargo, mas se torna o prolongamento direto da competência que o indivíduo possui, frente a um contexto cada vez mais mutável e complexo. Geralmente a concepção de competência procura ir além do conceito de qualificação, associada à posição ou cargo, englobando também a capacidade da pessoa assumir iniciativas, ir além das atividades determinadas, ser capaz de compreender e dominar novas situações no trabalho e ser responsável e reconhecida por isso. As competências devem agregar valor econômico para a organização e valor social para o indivíduo (ZARIFIAN, 1999). Segundo Fischer, anteriormente citado: A principal tarefa do modelo competitivo de gestão de pessoas seria […] desenvolver e estimular as competências humanas necessárias para que as competências organizacionais da empresa se viabilizem. É assim que a gestão de recursos humanos deixaria de ser estratégica, devido a uma condição genérica, como o fato de as pessoas serem o principal ativo da organização ou porque pessoas motivadas seriam, por definição, mais produtivas e engajadas ou ainda por estar alinhada a uma estratégia global. Pessoas passam a ser estratégicas somente nas situações em que o ser humano é visto e tratado como uma fonte de vantagem competitiva. (FISCHER, 2002, p. 31). Vê-se, desse modo, que houve mudança também no paradigma da gestão de recursos humanos, influenciado diretamente pelas macromudanças ocorridas no mundo corporativo, com o intuito de atender às novas exigências mercadológicas. Para Dutra (2002), estruturas e formas de organização do trabalho passam a ser flexíveis e adaptáveis às contingências impostas pelo ambiente, gerando demanda 33 por pessoas em processo de constante adaptação; processos decisórios mais ágeis e focados nas exigências de mercado, necessitando de pessoas comprometidas e envolvidas com a organização; passa-se então a necessitar de empregados que apresentem velocidade para entrar e sair de mercados locais e globais, exigindo trabalhadores atualizados com as tendências de mercado e alto grau de competitividade, com articulação entre eles e que tenham excepcional formação acadêmica e profissional e em contínuo processo de aprimoramento e aperfeiçoamento. O trabalho humano passa a ser o de desenvolver respostas a serem dadas a um ambiente social complexo e instável, com o trabalho passando a ser compreendido como a ação do indivíduo. Wood e Picarelli (2004) ressaltam as características de empresas flexíveis, que estimulam o crescimento pessoal de seus empregados, recompensam o desempenho e a iniciativa, formulando valores e visões organizacionais desafiadoras. Com isso favorecem estruturas interligadas e multidisciplinares, incentivando a qualidade de vida de seus funcionários, permitindo a flexibilidade de horários ou operações. Além disso, estimulam a participação e o relacionamento informal entre as pessoas, proporcionando treinamento e educação para toda a vida, buscando comunicação clara e ágil com seus trabalhadores e clientes. Estruturas verticalizadas e altamente centralizadas cedem espaço para estruturas horizontalizadas e amplamente descentralizadas. A rígida divisão entre trabalho mental e manual tende a ser eliminada. Tarefas fragmentadas e padronizadas tornam-se integrais e complexas, exigindo, em todos os níveis organizacionais, pessoas com capacidade de pensar e executar simultaneamente. (EBOLI, 2002, p. 187). Todos os empregados passaram a ganhar maior atenção dentro e fora das organizações, uma vez que contar com funcionários motivados para o trabalho pode se tornar um diferencial valioso, trazendo maior retorno para a companhia, ou seja, aperfeiçoando a sua eficiência, com reflexos nos lucros gerados. É fato que a produtividade de cada indivíduo é alavancada pelo aumento diário de sua motivação, assim, nem sempre a corporação que detém os melhores empregados 34 tecnicamente possui maiores perspectivas, mas sim aquela que une a técnica à motivação. O departamento de gestão de pessoas deve diferenciar a instituição no mercado em que atua, potencializando sua imagem e também sua competitividade. As empresas atualmente têm no comportamento humano um valor intrínseco à atividade dos negócios, sendo isto um diferencial na determinação de sua vantagem em seu mercado (PORTER, 1989). Relativamente a esse aspecto, mais uma vez, trazemos a contribuição de Fischer, que enfatiza: O comportamento humano passa a integrar o caráter intrínseco dos negócios, tornando-se elemento de diferenciação e potencializando a vantagem competitiva […] Quanto mais os negócios se sofisticam em qualquer de suas dimensões – tecnologia, mercado, expansão e abrangência etc. –, mais seu sucesso fica dependente de um padrão de comportamento coerente com esses negócios. (FISCHER, 2002, p. 13). 2.1. Os processos de Recursos Humanos Conforme Fischer (2002), os componentes formais de um modelo de gestão de pessoas se definem por princípios, políticas e processos que interferem nas relações humanas no interior das organizações. Por princípios entendem-se as orientações de valor e as crenças básicas adotadas pela empresa, e que determinam o modelo de gestão de pessoas; as políticas, por sua vez, estabelecem diretrizes de atuação que buscam objetivos de médio e de longo prazo para as relações organizacionais; já os processos são os elementos mais visíveis do modelo, pois são cursos de ação previamente determinados, orientados por políticas específicas, instrumentalizados mediante ferramentas de gestão, que são: Seleção e Recrutamento, Treinamento e Desenvolvimento, Avaliação de Desempenho, Remuneração e Relação com o Sindicato. E, nesses processos, a peça fundamental para colocá-los em prática é o gestor de pessoas, pois é por intermédio dele que essas ferramentas tomam vida quando são por ele utilizadas e sua inadequação põe em risco toda a composição do modelo. 35 O importante, quando se fala em processos, é que somente ganham sentido efetivo num contexto dado, ou seja, o processo depende de um princípio ou crença que lhe dê conteúdo e direção e de sua capacidade de interferir nas relações organizacionais. Somente assim um processo poderá cumprir seu papel de orientar ou estimular o comportamento humano na empresa. […] O desenho organizacional, ou seja, a maneira pela qual o modelo opera, a estrutura específica de organização do trabalho dos profissionais especializados e a forma pela qual eles prestam serviços a seus clientes também são elementos constituintes do modelo. (FISCHER, 2002, p. 18). 2.1.1. Seleção e recrutamento Segundo Limongi-França e Arellano (2002), o recrutamento e a seleção de pessoal são ferramentas da área de recursos humanos, importantes e integradas na estratégia de negócios da empresa. O recrutamento é a fase inicial para o preenchimento de uma vaga em aberto e que é influenciado diretamente pelo mercado de trabalho. A empresa que é reconhecida como um bom lugar para se trabalhar terá provavelmente uma procura maior por parte dos candidatos. O recrutamento pode ser interno, atraindo pessoas já contratadas pela empresa, mas que trabalham em outros cargos, proporcionando crescimento na carreira de seus funcionários, não havendo necessidade de socialização com os novos membros; e externo, buscando-se candidatos que não têm vínculo direto com a empresa, no mercado de trabalho, ou seja, a busca de novos talentos, com mentes inovadoras. A seleção é a escolha do candidato mais adequado para a organização, dentre todos os previamente recrutados. Para se operacionalizar a seleção dos empregados, utilizam-se ferramentas para se obter maiores informações sobre os candidatos, como entrevistas, que, se forem conduzidas de uma forma semiestruturada, podem dar subsídios para uma avaliação da inteligência do candidato, bem como seu nível de motivação, habilidades interpessoais, sua personalidade, seus valores pessoais e demais traços que podem ser semelhantes à cultura da organização; provas de conhecimento, para verificar a aptidão e habilidade do candidato em relação ao que se espera de temas específicos; testes 36 psicológicos, que visam predizer o comportamento do entrevistado; técnicas vivenciais, que forçam os candidatos a interagirem e participaram de situações em grupo; e também avaliação de saúde (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002). Para Robbins (2002), esses processos visam adequar as características do empregado aos requisitos do cargo/função. Tanto o desempenho quanto a motivação do funcionário dependem de uma boa seleção por parte da empresa. E, para que isso ocorra, deve ser feita uma descrição detalhada das atividades, identificando-se quais habilidades e capacidades são necessárias para desempenhá-las. Deve-se também especificar, além do conteúdo do trabalho, o ambiente e as condições de emprego. Para facilitar a flexibilidade, as organizações têm cada vez mais feito suas contratações com base nas necessidades organizacionais, e não em cargos/funções específicos. As organizações desejam que seus funcionários permanentes sejam capazes de desempenhar uma variedade de tarefas e de se movimentarem com facilidade de uma equipe para outra […] as organizações buscam funcionários que, além das habilidades específicas para o trabalho, tenham também personalidades e atitudes que se ajustem à cultura organizacional. (ROBBINS, 2002, p. 464). 2.1.2. Treinamento e desenvolvimento O objetivo principal do treinamento e do desenvolvimento nas empresas é o de desenvolver habilidades específicas que enfatizem necessidades individuais, dentro da estratégia adotada pela empresa. E, com o passar dos anos, exige-se cada vez mais dos empregados uma postura voltada para o autodesenvolvimento e para aprendizagem contínua. A educação continuada vira competência, que depois vira qualidade e posteriormente se transforma em lucro e sucesso para a organização (EBOLI, 2002). Robbins (2002) acredita que esses processos fazem com que os empregados sejam sempre competentes para suas atividades, mesmo com as turbulências do mundo atual. Apesar de serem onerosos às empresas, seus retornos são comprovadamente maiores. Pode haver treinamentos para desenvolvimento de 37 habilidades de linguagem, técnicas, interpessoais e para solução de problemas e que podem ser de dois tipos: os formais, que são planejados e estruturados (que podem ser realizados dentro ou fora do ambiente de trabalho), e os informais, em que os funcionários devem ajudar uns aos outros a solucionarem eventuais problemas, com o objetivo de satisfazer as carências de conhecimento dos empregados. Nas condições atuais, os empregados podem acabar não se pautando somente pela busca de seus próprios interesses, mas também pelo oportunismo, que consiste na busca do interesse próprio, mesmo em detrimento do coletivo, para atingir suas metas pessoais. Por esse motivo há também necessidade do chamado treinamento ético, visando regular todas as ações tomadas, tanto interna como externamente, para se atingir os resultados previstos. Existe um relacionamento direto entre cultura organizacional e ética, no qual organizações mais tradicionais, hierárquicas e centralizadoras teriam sua cultura ética voltada para regras formais, com orientação para conformidade e controle (compliance based). Já as empresas com modelos de gestão modernos e descentralizados teriam sua cultura ética voltada para valores pessoais com foco na integridade (value based) (CHERMAN; TOMEI, 2005). Porém, para Eboli (2002), está havendo uma migração de treinamento e desenvolvimento tradicionais para educação corporativa, o que intensifica sua força estratégica, pois as universidades corporativas conseguem desenvolver parcerias estratégicas e inovadoras entre a empresa e a escola. São associações, sindicatos ou organizações não-governamentais que realizam proveitosas parcerias com as organizações tendo o objetivo de formar profissionais com o perfil adequado ao setor. Como consequência de tal migração, há um desenvolvimento, por parte da organização, de planos de carreira dos empregados. Porém, deve haver uma contrapartida por parte dos funcionários, que devem administrar suas próprias carreiras, independente da empresa em que atuam. A carreira bem-sucedida será obtida com a manutenção da flexibilidade e da atualização das habilidades e conhecimentos (ROBBINS, 2002). Para Dutra: 38 Associa-se à noção de plano de carreira a ideia de uma estrada plana, asfaltada e bem conservada que, trilhada pelo empregado, a conduzirá ao sucesso e à satisfação pessoal. Porém, quando se olha para a realidade das empresas, verifica-se que a carreira é uma sucessão de acontecimentos inesperados tanto para o trabalhador, quanto para a empresa. A carreira é, portanto, uma estrada sempre em construção por ambas as partes. A empresa flexível desenvolve um sistema com opções e possibilidades de carreira, como suporte para que seja possível o planejamento profissional dos empregados. (DUTRA, 2002, p. 100). Robbins corrobora com as ideias citadas, conforme é possível verificar abaixo: As carreiras, em si, mudaram de uma série de movimentos ascendentes, que compreendiam aumentos consecutivos de remuneração, autoridade, status e segurança, para algo em que as pessoas se adaptam rapidamente, aprendem continuamente e mudam a identidade de seu trabalho com o passar do tempo. […] As empresas recrutavam jovens trabalhadores com a intenção de que eles passassem sua vida profissional inteira dentro de uma organização. […] As incertezas de hoje limitam a capacidade das organizações de prever necessidades. A administração busca flexibilidade, e não permanência. (ROBBINS, 2002, p. 471). 2.1.3. Avaliação de desempenho O propósito da avaliação de desempenho é verificar o quanto o profissional se adapta aos objetivos da empresa e às demandas e exigências do trabalho (HIPÓLITO; REIS, 2002). Segundo Robbins (2002), esse processo serve não só para a definição de remuneração, mas também para dar feedback do desempenho do empregado, determinar se há necessidade de treinamento, promoção ou até demissão, em função do atingimento de metas e resultados previamente esperados. Devem ser feitas avaliações de potencial (caso ocupe determinado cargo na organização), 39 avaliações de comportamento, avaliação do desenvolvimento profissional (para que sejam atribuídas mais responsabilidades para sua atuação) e avaliação dos seus resultados individuais alcançados (para poder fazer comparações com os resultados dos demais colegas). A técnica mais avançada para mensurar todos esses itens é a avaliação 360º, ou seja, todas as pessoas dentro da organização envolvidas com seu trabalho (superior imediato, colegas, subordinados imediatos, clientes, fornecedores, etc.) devem avaliá-lo e deve-se fazer também uma autoavaliação. Para os autores anteriormente citados: No entanto, a avaliação de desempenho se propõe a ser mais do que um recurso que auxilia a isolar, observar, mensurar formalizar e recompensar comportamentos e resultados alcançados pelos indivíduos […] constitui-se num sistema que tem por objetivo a melhoria global do desempenho e da produtividade das pessoas ao longo do tempo, configurando-se, portanto, em um sistema de gestão de desempenho. […] No contexto atual, as avaliações devem deixar de focar simplesmente o cumprimento do que está descrito no cargo e passar a observar diretamente o grau de complexidade das responsabilidades assumidas pelas pessoas, vis-à-vis a necessidade da organização. E como os trabalhos dentro das organizações modernas são desenvolvidos em equipes, os resultados da equipe são atrelados às metas organizacionais, havendo medição tanto do indivíduo, quanto da sua equipe. (HIPOLITO; REIS, 2002, p. 73). Uma ferramenta utilizada para mensuração de desempenho pode ser a Balanced Scorecard (BSC), que, segundo Kaplan e Norton (1996), é um modelo conceitual que traduz a visão de uma organização em um conjunto de indicadores de desempenho distribuídos em quatro perspectivas: financeira, do cliente, do processo interno e do aprendizado e crescimento. Podendo, portanto, contribuir para a atuação estratégica de RH, uma vez que permite não só medir e monitorar o desempenho financeiro, mas também, e ao mesmo tempo, medir e monitorar o progresso na construção de capacidades e na aquisição dos ativos intangíveis necessários para o crescimento futuro da empresa. 40 A proposta inicial do BSC era responder a como ajudar as empresas a traduzirem e a implementarem a sua missão e estratégia por intermédio de um conjunto de indicadores de desempenho. No entanto, a ferramenta permitiu que as empresas acompanhassem o desempenho financeiro levando em consideração também a capacidade de inovar, a melhoria percebida pelos clientes internos e externos e o aprendizado organizacional (ALBUQUERQUE et al., 2010). 2.1.4. Remuneração A remuneração consiste em pagar quem faz o trabalho em troca de um resultado apresentado. Antigamente era totalmente absorvida somente pelo dono do negócio. Hoje há uma divisão do ganho com quem participou desse resultado (HANASHIRO, 2007). Para o mesmo autor, a gestão de recompensas tem os seguintes objetivos, para garantir sua efetividade: manter a equidade dos salários dos empregados; atrair e manter os melhores talentos necessários à organização; recompensar o desempenho passado dos funcionários; vincular o futuro desempenho dos funcionários às metas da organização; estimular os comportamentos para a realização das metas; veicular os valores da organização; ser um instrumento de gestão do desempenho, vinculando estratégias à remuneração, com vistas ao desenvolvimento dos funcionários. O modelo tradicional, baseado essencialmente no salário-base, tendo como referência as atribuições do cargo, passa a compor também os incentivos, ou seja, novas formas de recompensas que, de acordo com Hipólito (2002), podem ser por meio de: Remuneração Fixa: salário e benefícios, como assistência médica, alimentação, auxílio-transporte, etc.; Remuneração Variável: participação nos lucros e resultados, comissionamento sobre as vendas, etc.; Recompensas Alternativas: promoções, participação em congressos, etc. Para esse autor, essas formas de recompensas devem ser balizadas pelo conceito de competências, pois um método que não atende às atuais necessidades das organizações (com foco em cargos e não nas pessoas) deixa de reconhecer 41 talentos que se destacam, que assumem responsabilidades e, portanto, agregam maior valor à companhia, correndo grande risco de perdê-los para o mercado de trabalho. Para cada nível de complexidade/responsabilidade criado a partir das competências, é possível construir faixas salariais e critérios de evolução dos empregados. Já a remuneração variável está atrelada ao acompanhamento da performance/desempenho, com maior ou menor intensidade, em função dos resultados obtidos. Porém, não é possível implementar a participação nos lucros e resultados de forma unilateral pela empresa, devendo resultar de participação entre a organização, os empregados e o sindicato. Essa ferramenta de gestão, portanto, é importante para os empregados como recompensa pelo trabalho realizado e para as empresas como motivador dos comportamentos e desempenho das pessoas. 2.1.5. Relação com o sindicato A relação com o sindicato, conforme Robbins (2002) se dá por intermédio da área de recursos humanos, pois é com o intuito de proteger e promover seus interesses que os empregados agem de forma coletiva. Os acordos coletivos determinam os níveis salariais, as regras de estabilidade de emprego, os procedimentos de demissão, os critérios de promoção e os sistemas de segurança. Sempre que existe um sindicato, ele interfere em diversas atividades organizacionais. As fontes de recrutamento, os critérios de contratação, os horários de trabalho, o planejamento do trabalho, os procedimentos para indenizações, as regras de segurança e a elegibilidade para programas de treinamento são alguns exemplos de atividades influenciadas pelo sindicato. (ROBBINS, 2002, p. 482). Para Nogueira (2002), é essencial enfatizar o papel central da contradição entre trabalho e capital, em especial no momento em que as ações e organizações coletivas são desenvolvidas pelos sindicatos, que pressionam as instituições por mudanças nos padrões das relações de trabalho e gestão de pessoas. O sindicato ganhou poder semelhante ao da empresa, com o passar dos anos, tornando-se o principal instrumento de ação dos trabalhadores, negociando fortemente junto às 42 organizações para que as condições de trabalho se tornem mais justas, intensificando as necessidades e aspirações sociais do empregado, em detrimento dos resultados econômicos. O mesmo autor afirma que a dinâmica das relações de trabalho no Brasil é definida por questões como negociação, acordo, contrato, reivindicação salarial, condições de trabalho, jornada de trabalho, benefícios, introdução de novas tecnologias, políticas de admissão e demissão, etc. Porém, no contexto atual em que há trabalho regular e trabalho irregular, formal e informal, sindicalizado e não sindicalizado, estável e temporário, contratado e terceirizado, de tempo integral e de tempo parcial, há necessidade de se desenvolver novas formas de gestão das relações de trabalho, com adoção de normas para jornada flexível, participação nos lucros, programas de demissão voluntária, subcontratação, etc. Nesse sentido, Nogueira enfatiza que: O momento não favorece os sindicatos, que vivem uma crise estrutural que abrange aspectos financeiros, poder de atração para a sindicalização, diminuição das bases trabalhadoras devido às reestruturações organizacionais e aos deslocamentos do capital e uma crise de natureza subjetiva que envolve a política, a ideologia e a cultura na relação entre tendências sindicais e entre dirigentes e bases. (NOGUEIRA, 2002, p. 128). Segundo Chaves (2005), as empresas podem optar em negociar individualmente, diretamente com o sindicato, ou mediante a representatividade de uma entidade sindical patronal, alinhando as concessões que poderão ser feitas. Para o mesmo autor, as novas práticas de trabalho, condições, ambiente, mercado, perfil das ocupações, emprego e o próprio sentido do trabalho fazem com que haja uma desestruturação da ordem social, em prol da busca de resultados e desempenho organizacionais. 2.2. Desafios para a gestão de recursos humanos A mudança de paradigma na gestão de pessoas trouxe também consequências negativas, principalmente para o sindicalismo e para a organização 43 dos trabalhadores como um todo. Rodrigues (1999) defende que, ademais ao ganho de produtividade nas empresas, houve queda do nível de emprego no setor industrial brasileiro, acirrando a competição entre os próprios trabalhadores. A questão da prioridade no lucro é consenso entre as empresas, porém, está sempre associada a outras questões como: diminuição da empregabilidade do funcionário, diminuição de sua qualidade de vida e a constante preocupação com o seu crescimento profissional (GIDDENS, 1984). Há o desenvolvimento de novas formas de relações de trabalho em virtude das transformações recentes na tecnologia e nos modelos de produção, como: subcontratação, terceirização, trabalho temporário e trabalho informal. O constante medo da perda do emprego, bem como a intensificação do trabalho, mediante o grande aumento da pressão sobre o ritmo das tarefas, são fatores predominantes nas atuais condições de trabalho. A pressão por produtividade também demonstra ser mais uma forma da exploração capitalista do trabalho. Para Jinkings (2000), o novo instrumento de gestão de pessoas voltado exclusivamente ao lucro se dá por meio da criação de equipes de qualidade, organização de campanhas de vendas de produtos e serviços, determinação de metas de produtividade individuais e coletivas e estabelecendo um sistema complexo de premiações e punições. Os gestores da área de recursos humanos devem entender que o seu papel é o da administração eficaz do conflito e de obtenção de vantagem competitiva da empresa no mercado, mediante a defesa do emprego, a participação nos resultados, a flexibilização da jornada de trabalho e a discussão de mudanças na gestão e organização do trabalho como um todo (NOGUEIRA, 2009). Giddens (1984) afirma que os conflitos, dilemas e ambiguidades gerados entre o capital e o trabalho devem ser conjugados com o plano das políticas de recursos humanos e não devem ser desprezados pela alta direção organizacional. A gestão de pessoas envolve muito mais a mediação das diferenças, construídas cotidianamente com as pessoas, do que apenas a integração organizacional. 2.3. Síntese do capítulo As organizações passaram a adotar novas formas de trabalho, com maior ênfase no trabalho em equipes e em projetos multifuncionais, nos quais o 44 conhecimento se torna fator chave para geração de valor. Apesar de o ser humano ser considerado complexo, não é impossível gerenciá-lo, e recai sobre o departamento de recursos humanos a responsabilidade de trazê-lo ao centro da empresa, envolvê-lo com as ações da organização, motivá-lo e dar a possibilidade de que ele se sinta parte importante do meio no qual está inserido. Mas nem sempre os gestores estão capacitados para tal, aliás, na maioria das vezes estão apenas focados em resultados independentemente de quais sejam os meios, o que pode gerar grande descontentamento nos seus liderados, que, por consequência, não se sentirão felizes em participar daquela determinada companhia. Hoje todos os gestores precisam conseguir explorar e otimizar o potencial de cada funcionário, bem como alinhar as suas expectativas com as tarefas que lhes são atribuídas. E para que isso seja possível é necessário que a cultura organizacional, difundida pelo RH, também tenha esta missão. Tem que ser um objetivo único, disseminado em toda a estrutura da organização. O papel desse departamento deve garantir ao trabalhador um envolvimento com o que faz, estimulando sua iniciativa, desenvolvendo novas fontes de recrutamento, novos métodos de seleção, treinamento e desenvolvimento com diversas roupagens, planos de carreira não só desenhados pela própria organização, mas também projetados pelas próprias pessoas, avaliação de desempenho e autoavaliação, benefícios crescentes, extrema valorização da saúde e cuidados com a segurança do trabalho, exigências da assimilação das novas competências (por parte dos trabalhadores) e relações trabalhistas cada vez mais próximas dos movimentos sindicais. O papel do líder passa a ser o de descentralizar os processos decisórios, incentivar e ampliar a disseminação de informações, de facilitar a gestão dos recursos disponíveis na companhia e integrar as diversas iniciativas de mudança que existem na empresa, ou seja, deve gerir/articular a mudança organizacional. Portanto, a estrutura do departamento de recursos humanos e a gestão de pessoas tomaram um rumo completamente diferente do de antigamente, e passaram a ter enorme importância no interior de todas as corporações, principalmente no sistema financeiro, que necessita de profissionais capacitados que consigam, a partir destas ferramentas, atingir melhores resultados para as companhias, bem como contar com profissionais engajados e motivados para atingir tal meta. 45 3. O SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO Neste capítulo pretende-se discorrer brevemente sobre o setor de serviços, especificamente o sistema financeiro brasileiro, através de sua evolução, apresentando a sua forma de gestão e identificando seus aspectos positivos e negativos para a sociedade brasileira. Segundo a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), o Sistema Financeiro Brasileiro foi instituído pela lei número 4.595, de 1964, que dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias, com características de operações eminentemente básicas de depósitos, empréstimos e descontos. A sua normatização e regulação cabem ao Conselho Monetário Nacional, cujo esquema é ilustrado na Figura 8 abaixo: Figura 8: Quadro Institucional do Sistema Financeiro Brasileiro Fonte: Bacen Elab.: DIEESE - Ss/CNB O Conselho Monetário Nacional é o órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional, é presidido pelo Ministro da Fazenda e composto também pelo Ministro do Planejamento e pelo Presidente do Banco Central. Seu caráter é eminentemente normativo cabendo-lhe a determinação de diretrizes de política monetária, creditícia e cambial. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) são instituições de apoio na regulação e fiscalização do sistema. Contudo, devido à 46 abrangência de atuação e a predominância de instituições bancárias, o Banco Central do Brasil é a grande autoridade monetária. De acordo com Cerqueira e Amorim (1998), os bancos passaram a se tornar empresas muito lucrativas apoiados nos ganhos proporcionados pelas altas taxas inflacionárias no País nas décadas de 1970 e 1980 e também nos financiamentos da dívida pública, e o contingente de trabalhadores nessas instituições cresceu consideravelmente. Porém, com as políticas de racionalização e modernização adotadas pelas empresas, que transformaram o processo produtivo, houve uma queda no número de empregados nos bancos, conforme ilustra a Tabela 1 abaixo: Tabela 1: Variação mensal de empregos no Setor Financeiro Brasileiro Fonte: Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Lei 4923/65). Para Faria et al. (2006), o governo brasileiro reagiu a esse cenário adverso, procurando adequar o setor bancário brasileiro às recomendações do Primeiro Acordo de Capital do Comitê da Basileia, reestruturando o sistema mediante liquidações e privatizações de bancos públicos por meio do Programa de Incentivo para a Reestruturação do Sistema Financeiro Estatal (PROES), incentivando fusão, aquisição e transferência do controle acionário de bancos privados por meio do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER) e permitindo a entrada de instituições estrangeiras para a compra de alguns bancos nacionais. Em consequência, houve uma mudança na estrutura do setor financeiro brasileiro, que passa a ser influenciado pela concentração de capital e por uma regulação internacional. 47 Pôde-se perceber um processo significativo de fusões e aquisições a partir desse período, em parte via privatizações com o aumento de capital estrangeiro. Esse processo ficou evidente no Brasil, pela redução do total de instituições e pelo aumento do grau de concentração no setor. Conforme estudo do DIEESE (Setor Financeiro: conjuntura, resultados, remuneração e emprego), dos 336 bancos em funcionamento em 1964, restavam 120 em 1987. Chesnais (1996) sustenta que foi devido à prévia globalização das instituições financeiras que se tornou possível aos mercados alcançarem o atual estágio de integração mundial, graças ao relacionamento global das instituições bancárias e financeiras foram extremamente facilitadas as fusões e aquisições internacionais. De 1988 a 1993, o sistema financeiro brasileiro reagiu às novas regras do Conselho Monetário Nacional, principalmente instituindo o banco múltiplo, que acabou consagrando os conglomerados financeiros, aumentando a concorrência entre os bancos. A perspectiva dessas instituições financeiras era de se criar outras empresas de segmentos diferenciados, como empresas de cartões de crédito, seguros, capitalização, leasing, consórcios e investimentos. Tais companhias passaram então a se tornar departamentos do banco comercial. Essa diversificação de atividades tem como objetivo principal aumentar significativamente os lucros, o que faz com que se tornem holdings financeiras que, por meio dessa sinergia em suas estruturas, consigam maior poder de negociação, consolidando fortemente sua marca. O principal canal de distribuição continua sendo a rede de agências bancárias, na qual os clientes podem fazer pagamentos e cobranças, recebem ofertas de cartões de crédito, gestão de seus ativos, serviços de corretagem, consórcios, seguros e previdências (SANCHES; DAVANÇO, 2010). Consequentemente, houve a criação de novos bancos, cujo número saltou de 106 instituições em 1988 para 246 em 1994, conforme ilustra a Tabela 2 a seguir: 48 Tabela 2: Rede Bancária no Brasil Fonte: BANCO CE NTRAL DO BRASIL. Exposições de Motivos e Resolução do Banco Central que Criam Incentivos à Fusão dos Bancos. Conforme Sanches e Davanço (2010), para aumentar os lucros obtidos, em função da maior concorrência no País, os bancos começaram a desenvolver novas estratégias para gerir seus ativos. Houve diversificação do mix de produtos e serviços financeiros ofertados, o que passou a conquistar grande parcela das receitas advindas das tarifas bancárias nessas organizações (que passaram, posteriormente, a serem oferecidas também aos não-correntistas). Também segmentaram os clientes, em pessoas físicas (conforme seus rendimentos) e jurídicas (conforme o porte da empresa), como ilustra a Figura 9 que se segue: 49 Figura 9: Exemplo de Segmentação dos Clientes Pessoa Física Pessoa Jurídica Private Corporate Prime Empresas Varejo Correspondentes Bancários Fonte: SANCHES, Ana; DAVANÇO, Ana. A Economia Política das Holdings Financeiras no Brasil. (2010, p. 235) Ademais, as inovações tecnológicas também passaram a fazer parte do dia a dia do sistema financeiro. Percebe-se um processo de informatização/automatização das agências bancárias no Brasil, para se ajustarem à competitividade do setor, na qual essas novas tecnologias vêm sendo utilizadas no sentido de viabilizar diversas operações financeiras fora do espaço físico das agências. Uma grande quantidade de caixas eletrônicos foi espalhada por todo o País, e também foram ampliados outros canais de atendimento fora das agências tradicionais, como bankfone, internet e celular (conforme Tabela 3). O cliente passa a poder acessar os seus serviços e informações sobre: saldo e movimentação de conta corrente; saldo e movimentação de cobrança/contas a pagar; posição, aplicações e resgates em fundos; operações de empréstimos; cotação de moedas/índices e bolsas de valores; saldo em caderneta de poupança. Também passa a comunicar-se diretamente com 50 o banco, solicitando alterações dos seus títulos em cobrança, talões de cheques ou qualquer outro tipo de demanda não negocial. Existe também o papel do correspondente bancário, que presta serviços como recepção e encaminhamento de propostas de abertura de contas, inclusive poupança, recebimento de depósitos, aplicações e resgates em fundos de investimentos, recebimento de pagamentos conveniados, encaminhamento de pedidos de empréstimos, análise de crédito e cadastro, etc. fora do ambiente bancário, para clientes de baixa renda (SANCHES; DAVANÇO, 2010). Tabela 3: Canais de Atendimento Bancário 1996 2000 2007 2008 Agências 16.484 16.590 18.572 19.142 Postos Tradicionais 9.229 9.495 10.555 11.661 Postos Eletrônicos 5.762 15.639 34.669 38.710 Correspondentes 0 13.731 95.849 108.074 Fonte: SANCHES, Ana; DAVANÇO, Ana. A Economia Política das Holdings Financeiras no Brasil. (2010, p. 236) Consequentemente, a categoria bancária voltou a crescer, até alcançar 483 mil postos em 2010. Essa retomada está relacionada principalmente ao novo perfil dos profissionais desse setor e também à presença dos correspondentes bancários, como é possível verificar no Gráfico 1, a seguir: 51 Gráfico 1: Evolução do emprego formal dos bancários (2000-2010) Fonte: MTE-RAIS – Elaboração DIEESE Subseção CONTRAF/CUT A FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) é a principal entidade representativa do setor bancário brasileiro, fundada em 1967, com o compromisso de fortalecer o sistema financeiro e suas relações com a sociedade e contribuir para o desenvolvimento econômico, social e sustentável do País, com o objetivo de concentrar esforços que favoreçam o crescente acesso da população a produtos e serviços financeiros. Faria et al. (2006) afirmam que houve uma significativa melhoria na eficiência técnica dos bancos envolvidos em fusões e aquisições, possivelmente decorrente de aprimoramentos no gerenciamento operacional dos bancos, como desenvolvimento tecnológico, corte nos custos administrativos e de pessoal, economias de escopo que ocorre quando os custos médios diminuem nos períodos em que o banco oferece vários produtos a um custo mais baixo do que no caso de cada banco oferecer separadamente cada um dos produtos. Ao mesmo tempo ocorreu uma economia de rendas representada por um rendimento maior ou melhor retorno por segmento de clientes. Porém, para o DIEESE (mediante sua nota técnica sobre Fusões no Setor Bancário: emprego e concorrência), algumas entidades de defesa do consumidor responsabilizam a concentração bancária pelos altos juros e tarifas vigentes no País. De acordo com este entendimento, a redução da concentração aumentaria a competição e reduziria as margens de ganhos dos bancos. Jinkings (2000) 52 demonstra que os dez maiores bancos controlam aproximadamente 70% dos ativos totais do segmento bancário brasileiro, ou seja, um reduzido número de instituições exerce um considerável controle sobre o volume total de recursos que circula pelo sistema. Por outro lado, alguns estudiosos sustentam que a concentração bancária no Brasil contribuiu para fortalecer o sistema financeiro e, assim, blindá-lo contra eventuais crises bancárias. Além disso, advogam que uma maior concentração não significa prejuízos para a competição. Os bancos têm procurado soluções práticas para o alcance de estratégias de redução de custos, aumento de base de clientes e melhoria da qualidade de serviços. Contudo, em decorrência das adaptações necessárias das fusões, há também mudanças na estrutura de cargos, adaptações de layout e aplicação de novas tecnologias desenvolvidas. Observa-se, portanto, que a lógica que orienta as decisões de maximizar o valor acionário das empresas no curto prazo tem como contrapartida a relação com os outros setores diretamente envolvidos, como empregados, terceirizados e clientes (VELOSO, 2005). Segundo Chaves (2005), um dos resultados negativos observados é a sobrecarga aos trabalhadores bancários que devem oferecer os mais variados produtos, ou uma combinação deles, a clientes dos diferentes segmentos. Isso não é uma tarefa fácil, seja pela natureza dos produtos ou pela diversidade dos clientes que muitas vezes não se enquadram nos critérios de segmentação. Esta configuração que o capital financeiro brasileiro está adquirindo e suas formas de gestão e atuação tendem a imputar ao trabalho um vínculo forte na execução das estratégias de negócios definidos nos conselhos de administração das holdings. Para o mesmo autor, essa situação se exprime pela nova configuração do trabalho bancário e da própria condição bancária imprimida pelos novos sistemas tecnológicos e organizacionais, bem como pelas novas táticas e políticas empresariais adotadas diante dos diferentes panoramas conjunturais. O papel do sindicato, portanto, ganha força, uma vez que se precarizaram as relações de trabalho de vários segmentos de trabalhadores que participam da intermediação financeira. O desemprego estrutural também é um aspecto que desponta com importante relevância no quadro de dificuldades enfrentado pelo sindicalismo bancário. 53 A Federação Nacional dos Bancos (FENABAN) é um braço sindical do sistema financeiro, que representa os associados em todas as questões trabalhistas. Seu papel estatutário é contribuir para a modernização das relações entre capital e trabalho no setor bancário e representar os sindicatos nas negociações dos acordos coletivos de âmbito nacional. 3.1. A gestão e conflito nos bancos Nogueira (2011) afirma que a gestão bancária (financeira e de pessoas) busca o alinhamento e o compromisso do funcionário com as metas e os resultados, sempre para maximizar o valor do capital e, evidentemente, para isso cria sistemas complexos de gestão, vendas e recursos humanos para favorecer o processo de desenvolvimento do negócio. Segundo Sanches e Davanço (2010), o modelo de gestão comum aos bancos é o de tecnologias gerenciais que, além de sofisticadas, requerem contínuas inovações. Assim, além dos resultados financeiros, são monitorados: os desempenhos dos processos internos e dos empregados; a satisfação dos clientes; bem como as inovações e a tecnologia desenvolvida. Estabelecendo uma relação entre a estratégia da holding e as ações do dia a dia, o modelo de gestão comum a essas formas de organização do capital é o Balanced Scorecard (BSC), no qual os gestores passam a ter instrumentos para avaliar até que ponto suas unidades de negócios geram valor e como devem aperfeiçoar as capacidades internas e os investimentos necessários em pessoal, sistemas e procedimentos, visando melhorar o desempenho futuro. Os conglomerados financeiros em geral implementam o BSC e, no que se refere à gestão de pessoas, definem-se as atribuições e responsabilidades de cada competência e os requisitos de acesso, como formação, experiência e conhecimento. A partir dessas definições estruturam-se modelos organizacionais, carreiras, seleção, avaliação, desenvolvimento e manutenção do quadro de pessoal. A gestão interna das holdings financeiras é diferenciada em relação ao tipo de prestação de serviço, ou seja, apesar de serem do mesmo grupo, os empregados possuem contratos de trabalho diferentes ao atuarem nos diversos segmentos, como no banco propriamente, ou nas atividade de seguro, ou na previdência, ou nos demais segmentos. Isso porque são representados por vários sindicatos. Os bancos 54 adotam o modelo de gestão de pessoas por competências, no qual as empresas definem suas estratégias competitivas no mercado e, a partir disso, adotam as competências pessoais necessárias (nesse modelo, as pessoas passam a ser estratégicas como recursos e depósito de competências). Além do salário fixo, há um programa de remuneração para os bancários variável, baseado na meritocracia, com o objetivo de melhoria contínua do desempenho e da produtividade dos colaboradores ao longo do tempo, baseando o seu reconhecimento no alcance ou superação de suas metas pré-acordadas, atreladas ao seu desempenho individual. Existe a classificação desses resultados, que explicita diferentes patamares de desempenho individual de forma comparativa no intuito de construir uma cultura de competição e de meritocracia, inclusive com premiações diferenciadas, também com o objetivo de aumentar o desempenho do trabalhador (SANCHES; DAVANÇO, 2010). Segundo os mesmos autores, é possível medir a produtividade do empregado a qualquer momento do dia, em função de os processos serem, em grande parte, automatizados e integrados. A implementação de uma cultura competitiva entre os trabalhadores gera grandes possibilidades de assédio moral e problemas de doenças ocupacionais. Há um perceptível aumento das doenças relacionadas ao esgotamento físico e mental, bem como elevado nível de estresse entre os trabalhadores. Quanto mais alto o cargo, maior a remuneração potencial, caso cumpra as metas estabelecidas, e maior também a pressão para que as mesmas sejam atingidas. Reestruturações produtivas promovidas pelos bancos nas últimas décadas alteraram a forma e conteúdo do trabalho. As novas formas de gestão da força de trabalho, a padronização e automação de diversas rotinas possibilitaram o gerenciamento remoto das atividades dos empregados que, mesmo sendo terceirizados e distantes, em outra locação física, podem ser monitorados online a partir de relatórios detalhados que os sistemas de informação integrados entre empresas disponibilizam. (SANCHES; DAVANÇO, 2010, p. 252). 55 De acordo com estudo do DIEESE (Balanços dos bancos e seus reflexos na remuneração variável), a remuneração variável também está diretamente relacionada ao lucro líquido dos bancos. A análise dos balanços tem impacto direto na negociação coletiva da categoria, como, por exemplo, nos programas de participação nos lucros e resultados (PLR) pelos bancários. O acordo coletivo estabelece para a PLR, atualmente, em 80% do salário acrescido de um valor fixo de R$ 828,00, com o teto de dois salários, ou os valores fixos de R$ 5.496,00 e R$10.992,00, e ainda estabeleceu um pagamento adicional de até R$ 1.500,00. Porém, desde o início, a reestruturação se caracterizou pela eliminação de postos de trabalho. Mas as transformações nos bancos não se limitaram a reduzir o quadro de pessoal das empresas, como também alteraram o perfil da categoria. Os empregados são submetidos aos processos de trabalho marcados pela baixa autonomia em relação à tomada de decisões e subordinados ao modelo de gestão centralizado pela alta administração. Os trabalhadores considerados menos qualificados sob os princípios empresariais da qualidade total e excelência do atendimento ao cliente são desligados, sendo substituídos por máquinas automatizadas ou por trabalhadores subcontratados (JINKINGS, 2000). Para Chaves (2005), até então, os caixas eram meros pagadores e recebedores de valores. Com o advento da tecnologia, alguns bancos começaram a adotar a figura do caixa executivo, o qual passava também a executar tarefas dos escriturários, como, por exemplo, conferência de assinaturas. Posteriormente, vem a se transformar no caixa online que, através de seu terminal informatizado, processa lançamentos de pagamentos e recebimentos, eliminando diversas tarefas, como a de digitação. As próprias agências mudaram o perfil de ação, na qual antigamente tinha no papel do gerente de agência relativa independência, para apenas repassar instantaneamente as transações para a matriz poder fiscalizar e controlar, com uma gerência administrativa ou de vendas dos serviços (os gerentes gerais das agências recebem as metas a serem cumpridas, porém não participam da sua elaboração. Dessa forma, não sabem exatamente quais são os objetivos organizacionais que compõem a estratégia da empresa). Serviços e rotinas executados antigamente por três ou quatro funcionários passaram a ser acumulados por um só. Segundo o DIEESE (Qualificação, empregabilidade e competência: mitos versus realidade), há uma modificação das rotinas de trabalho e o conteúdo das 56 funções, geralmente dispensando o trabalho de controle e supervisão exercido pelas chefias intermediárias e criando grupos de trabalho que assumem novas tarefas e se responsabilizam por sua execução. A terceirização também representa uma nova forma de organização dos serviços nos bancos, principalmente nas atividades consideradas tipicamente bancárias, como processamento de dados, microfilmagem, atendimento, cobrança, compensação de cheque, transporte de valores, etc. (VELOSO, 2005). Para ilustrar essa situação, a Tabela 4 a seguir permite perceber as formas de relação de trabalho nos bancos, bem como os direitos e deveres correspondentes dos funcionários. Para Sanches e Davanço (2010), a terceirização possibilitou que formas atípicas de contratação ganhassem espaço na cena produtiva do sistema financeiro, revelando o lado on demand do setor. Nesse sentido, centenas de temporários, diaristas e horistas são recrutados nas empresas prestadoras de serviços, para viabilizarem as mais diversas transações bancárias para os clientes, executando-as em condições mais flexíveis, como, por exemplo, convocados apenas nos dias de pico. 57 Tabela 4: Relação e condições dos trabalhadores bancários e terceirizados que realizam atividades relativas à retaguarda (dados referentes ao ano de 2008) BANCÁRIOS efetivados nos bancos Cargos/Funções Equivalentes e Salários Jornada de Trabalho Autenticações por hora trabalhada (média dias de pico) PLR Participação nos Lucros e Resultados Escriturário: R$ 1.013,64 ou Caixa: R$ 1.416,51 6 horas TERCEIRIZADOS TERCEIRIZADOS efetivados trabalhando nas empresas como temporários terceirizadas Auxiliar Adm.: Auxiliar Adm.: mínimo R$ 500 mínimo R$ 500 e máximo de R$ e máximo de R$ 700 (conforme 700 (conforme a empresa) a empresa) 8 horas e 48 minutos 8 horas e 48 minutos TERCEIRIZADOS trabalhando nos dias de pico Diarista: Valor/dia trabalhado R$ 13,10 Média 10 horas 108 250 250 250 90% salário + valor fixo de R$966,00 + Parcela Adicional Não tem Não tem Não tem (Para empresas (Para empresas (Para empresas Tíquete Restaurante que pagam) valor que pagam) valor que pagam) valor R$ 15,92 (dias úteis) (vale-refeição) médio é de R$ 6 (dia médio é de R$ 6 (dia médio é de R$ 6 (dia trabalhado) trabalhado) trabalhado) Para empresas Para empresas Para empresas que pagam: 50% do Tíquete Alimentação que pagam valor R$ 272,93 (mês) que pagam: R$ 100 valor (vale-mercado) médio é de: R$ 5 (mês) recebido pelos (por dia trabalhado) terceirizados efetivos Auxílio-Creche R$ 196,18 Não tem Não tem Não tem Convênio Médico Subsidiado Subsidiado Subsidiado Não tem Em algumas Prevenção Doenças instituições há Não há Não há Não há Ocupacionais programas próprios Qualificação Há programa Não há Não há Não há Profissional Treinamento Há programa Não há Não há Não há Há grande repreRepresentante sentação sindical Sindical na maior parte dos Há casos isolados Não há Não há Trabalhadores bancos e em todos os estados do país Fonte: SANCHES, Ana; DAVANÇO, Ana. A Economia Política das Holdings Financeiras no Brasil. (2010, p. 253) Para os mesmos autores, trabalhadores terceirizados são reconhecidamente marcados pela alta rotatividade, haja vista as condições precárias que os remetem à busca de oportunidades melhores. Já os empregados efetivos dos grandes 58 conglomerados, aqueles contratados diretamente, possuem condições mais vantajosas em relação aos outros, pois possuem organização sindical. A Convenção Coletiva do Trabalho serve como referência legal apenas para aqueles reconhecidos pelo estatuto de bancário. Como destaca Jinkings (2000), o desenvolvimento de práticas flexíveis de organização do trabalho, implicou, a partir dos anos 1990, num grande crescimento da subcontratação e da terceirização. A terceirização das atividades bancárias se deu de forma direta, nos serviços de natureza não gerencial e não negocial, e de forma indireta, com a disponibilização de serviços fora das agências através de terminais eletrônicos), permitindo ao banco focar nas suas atividades principais. Os trabalhadores terceirizados não detêm a mesma condição dos bancários, conforme afirma Chaves: Escamoteado sob o manto da comodidade e facilidade de atendimento a qualquer horário e em muitos lugares, o auto-serviço não prescinde do trabalho vivo de alguém que talvez jamais esperava realizar um trabalho em bancos: o próprio cliente. (CHAVES, 2005, p. 127). Para o autor, a substituição de bancários por trabalhadores vinculados a empresas prestadoras de serviços cria uma situação de difícil enfrentamento para a tradicional visão de ação sindical, historicamente construída a partir de uma estrutura legal compartimentada por categorias estanques. Num mesmo espaço de trabalho, num mesmo banco, convivem trabalhadores de categorias profissionais diversas, representadas por entidades sindicais diversas e subsumidas a diferentes estatutos. A terceirização fragmenta não só a homogeneidade do trabalho bancário, como também a unidade dos processos de negociação, que passam a ser multissetoriais. As tentativas de implementar a transferência de funções e atividades internas bancárias para funcionários terceirizados sempre encontraram resistências dos bancários e das instituições públicas de proteção do trabalho. 59 3.2. Análise do setor financeiro brasileiro A seguir serão apresentados os principais resultados da 9ª edição da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB), desenvolvida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF). O levantamento acompanha a evolução do emprego nas instituições bancárias, a partir dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgado mensalmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Em termos absolutos, a região Norte registrou o menor saldo no emprego bancário, com a criação de 693 postos de trabalho em 2011, porém com a maior expansão do emprego (4,29%). No extremo oposto aparece o Sudeste, com a geração de 2.899 vagas. Na média nacional, a expansão das vagas ficou em 1,42%, conforme ilustra a Tabela 5 a seguir: Tabela 5: Expansão do Emprego por Região Natural Brasil – Janeiro a Março de 2011 Fonte: PESQUISA DE EMPREGO BANCÁRIO. DIEESE. (2010, p. 2) A disparidade de remuneração também é grande entre as regiões. Na região Norte, a remuneração média de admissão é de R$ 1.589,38, enquanto no Sudeste, o valor médio de admissão é de R$ 2.754,84, aproximadamente 73% superior à remuneração referente à região Norte, conforme ilustra a Tabela 6 a seguir: 60 Tabela 6: Movimentação e Remuneração Média dos Trabalhadores, por região natural . Brasil – Janeiro a Março de 2011 Fonte: PESQUISA DE EMPREGO BANCÁRIO. DIEESE. (2010, p. 3) A análise do Gráfico 2 apresentado a seguir, revela que o saldo de empregos gerados estabelece relação inversa com a idade dos contratados, pois o maior saldo foi verificado entre os mais jovens: 5.511 postos nas faixas até 24 anos versus um saldo negativo mediante o fechamento de 2.002 postos de empregados a partir dos 40 anos. A movimentação de pessoal nos bancos por faixa etária revela que 6.704 ou 42,44% dos admitidos têm até 24 anos. Gráfico 2: Admitidos, desligados e saldo de emprego por faixa etária Brasil – Janeiro a Março de 2011 Fonte: PESQUISA DE EMPREGO BANCÁRIO. DIEESE. (2010, p. 5) 61 Os bancários têm escolaridade acima da média observada para a força de trabalho brasileira. A movimentação registrada no Caged confirma essa afirmação. Tanto entre os admitidos quanto entre os desligados predominam trabalhadores com nível superior (incompleto e completo). Do ponto de vista do saldo do emprego, o Gráfico 3 ilustra que o saldo é positivo para bancários com ensino médio completo, superior incompleto e completo. Embora positivo, o saldo de empregos entre os que possuem Ensino Superior completo foi de 1.416, enquanto o saldo para Ensino Médio completo e Superior incompleto foi superior a 2.000 postos. Gráfico 3: Admitidos e desligados por grau de escolaridade Brasil – Janeiro a Março de 2011 Fonte: PESQUISA DE EMPREGO BANCÁRIO. DIEESE. (2010, p. 7) Do total de 8.947 trabalhadores desligados dos bancos brasileiros em 2011, 29,38% estavam no emprego há 10 anos ou mais. Um dado importante que ajuda a entender a rotatividade no setor bancário é que 18,92% dos desligados tinham até um ano de trabalho no banco, conforme pode ser observado no Gráfico 4 a seguir: 62 Gráfico 4: Total de desligados por tempo de emprego Brasil – Janeiro a Março de 2011 Fonte: PESQUISA DE EMPREGO BANCÁRIO. DIEESE. (2010, p. 9) O maior saldo de empregos é para “Escriturário”, ocupação de início de carreira dos bancários, com 9.498 admissões e 3.222 desligamentos em 2011, totalizando 6.276 postos. A ocupação “Agentes, assistentes e auxiliares administrativos” também apresenta saldo positivo de geração de empregos no trimestre. Essas duas ocupações apresentam salário médio de admissão R$ 1.479,32 e R$ 1.737,33. Já nas ocupações de maior remuneração, o saldo de empregos é negativo. Para os cargos de diretoria, cujo salário médio dos desligados é de R$ 19.523,41, o saldo é de -37. Para os cargos de gerência, o salário médio de desligamento é de R$ 6.313,82 e podem ser notados 174 postos a menos. Para supervisores o salário médio é R$ 3.406,09 e o saldo é negativo em 272 postos, conforme ilustra a Tabela 7 a seguir: 63 Tabela 7: Admitidos, desligados, remuneração média, saldo de emprego e diferença da remuneração média, por ocupação Brasil – Janeiro a Março de 2011 Fonte: PESQUISA DE EMPREGO BANCÁRIO. DIEESE. (2010, p. 12) 3.3. Síntese do capítulo A entrada dos bancos estrangeiros no sistema financeiro brasileiro está mudando o perfil do setor bancário. Se, por um lado, há a adoção de novas tecnologias, introdução de novos produtos e diversificação dos serviços, por outro, acaba-se levando esse setor a uma concentração em um número menor de instituições, o que faz crescer o seu poder de mercado, impactando diretamente os empregados dessas empresas. O estágio atual do capitalismo representou no sistema financeiro revolucionárias transformações, com adoção de novas formas de gestão da força de trabalho, marcadas pela intensificação do trabalho, menor qualificação exigida, maior controle e menor envolvimento dos trabalhadores. A gestão da força de trabalho bancária vem experimentando novas formatações, eliminando diversos níveis funcionais e fomentando a plurifuncionalidade de outros. O efeito dos processos de fusões e aquisições, além de permitir ao cliente uma melhora na qualidade dos serviços prestados, provocou também enxugamento dos empregos, como forma de reduzir os gastos totais, e, em particular, as despesas de pessoal. O trabalho feito por terceiros também mostra um impacto negativo, marcado pela deteriorização das condições de trabalho, principalmente quando comparado ao patamar dos trabalhadores bancários, mesmo 64 que realizem as mesmas rotinas de trabalho, são submetidos a maiores jornadas de trabalho e menores salários. Portanto, de um lado, houve a redefinição de suas estratégias de mercado, que passaram pelo crescimento da captação de recursos externos, participação em processos de privatização ou fusão de empresas, automação dos processos. Por outro lado, houve a adoção de novas técnicas de gestão da mão de obra (terceirização, qualidade total, etc.) acompanhadas pela ampliação acelerada dos programas de automação. O trabalhador passa a ser medido e avaliado com prazos rigorosos que acabam extrapolando sua jornada de trabalho, trabalha sob pressão de metas agressivas e risco de demissão, passa a ter seu futuro profissional incerto e com salários cada vez mais enxutos, que, às vezes, não são suficientes para equilibrar o estresse diário. Os gestores costumam ter claro que um sistema de administração baseado na cobrança de metas no curto prazo acaba por gerar pressão e causar estresse, tentando elucidar as consequências negativas dessa política aos empregados. Na tentativa de manter o estímulo destas pessoas, as organizações implementam programas de remuneração variável, com o objetivo de convencer o trabalhador de que valorizam os mais dedicados merecedores de uma remuneração diferenciada em relação ao grupo. Porém, é possível notar algumas questões críticas, mediante análise dos dados do setor financeiro, principalmente quanto à relação do alto percentual dos bancários desligados que havia atingido somente até um ano de trabalho no banco, do alto número de desligamentos de profissionais que estavam no emprego há 10 anos ou mais e do alto número de admissões no setor para profissionais de faixa etária não elevada, ou seja, de profissionais considerados jovens. Aparentemente, é possível inferir que existe uma utilização de profissionais com o considerado perfil produtivo ótimo dentro dos bancos, com um turn over (rotatividade) alto, para que haja oxigenação do quadro de pessoal somente para empregados que estejam no auge de sua carreira e que, quando já passarem dessa fase, serão desligados dos bancos. Nesse sentido, seria interessante entender qual é o papel da área de recursos humanos para resolver esse dilema. 65 4. PROCESSOS E CONFLITO NOS BANCOS: VISÃO DOS GESTORES Primeiramente será definida a população e a amostra, o instrumento de pesquisa e a forma de realização da coleta e análise dos dados. Em seguida serão demonstradas algumas informações sobre o Banco Santander e o Banco do Brasil, extraídas nos sites dos próprios bancos, relativas às transformações decorrentes de fusões e aquisições. Essas instituições são objeto desta pesquisa. E, posteriormente, são apresentados, discutidos e analisados os resultados qualitativos da pesquisa de campo, com estudo de caso das duas instituições bancárias, de modo a conhecer a opinião dos gestores de pessoas e da área de recursos humanos, em relação às consequências de transformações organizacionais. 4.1. Metodologia de pesquisa Para atingir os objetivos propostos, o trabalho se aproxima do estudo de casos múltiplos comparativos, pois permitiu analisar as políticas de recursos humanos e os impactos derivados dos processos de fusão e aquisição nas duas empresas do mesmo segmento de atuação pesquisadas que passaram por esses processos, em períodos semelhantes. Essa opção baseou-se em Yin (2010), que afirma que o método do estudo de caso permite que os investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real, e que a necessidade diferenciada dos estudos de caso surge do desejo de se entender os fenômenos sociais complexos e, em se tratando de casos múltiplos, considerandose a replicação literal com resultados similares em relação a algumas questões de avaliação e replicação teórica com resultados contrastantes. O estudo de caso é um método da pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (2007), refere-se às investigações no campo das ciências sociais com um nível de realidade que não pode ser analisado quantitativamente. Ou seja, atribui a avaliação subjetiva do que se está pesquisando, mediante entrevistas exploratórias semiestruturadas, cuja construção foi fundamentada nos processos de recursos humanos nas empresas, fazendo um levantamento das características de cada processo de fusão e aquisição dos bancos. Quivy e Campenhoudt (2008) afirmam que essas entrevistas contribuem para descobrir os aspectos a serem considerados e aumentam ou retificam o campo de investigação da teoria, revelando determinadas situações do fenômeno estudado em que o investigador não teria espontaneamente 66 pensado por si mesmo e, assim, completar as proposições de trabalho sugeridas pelas leituras. Foram selecionados dois dos principais bancos do sistema financeiro nacional, o Banco do Brasil (incorporador da Nossa Caixa) e o Banco Santander (incorporador do Banco ABN Amro Real e do Banespa), com o intuito de poder englobar dois pilares do considerado tripé econômico brasileiro, que agrupa em um mesmo cenário o capital estrangeiro, o capital estatal e o capital privado nacional, compreendendo assim os fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos. Em populações grandes é necessário coletar muitos dados para cada indivíduo ou unidade, ou então quando se põe um problema de representatividade pode-se utilizar técnicas de amostragem, ou seja, amostras representativas do que se está pesquisando, ao invés da totalidade da população. Há também uma terceira possibilidade, que é estudar componentes não estritamente representativos, mas característicos desta população (QUIVY; CAMPENHOUDT, 2008). Os sujeitos dessa pesquisa foram, em ambos os bancos, alguns profissionais da área de recursos humanos e os gestores de agências/unidades de negócios, a fim de se procurar conhecer como são os processos de RH e avaliar os impactos dessas mudanças organizacionais na gestão de pessoas. Para Yin (2010), os estudos de caso permitem generalizações locais e não universais. Esta pesquisa de caráter qualitativo foi realizada em duas etapas: revisão da bibliografia existente sobre transformações organizacionais no sistema financeiro e seus impactos na gestão de pessoas. O objetivo, nesta etapa, foi o de buscar contribuições que permitissem estabelecer os fundamentos teóricos nos quais o estudo se baseou. Posteriormente foram elaborados dois roteiros de pesquisa para a realização das entrevistas que, por meio da interação entre entrevistador e entrevistado, apresenta como vantagem o grau de profundidade dos dados obtidos; um dos roteiros foi utilizado para os gestores de agências/unidades de negócios e o outro com os profissionais da área de recursos humanos. Cada um deles é dividido em duas partes: questões objetivando levantar perfil dos entrevistados (dados pessoais e profissionais) e perguntas sobre as políticas de recursos humanos do banco antes e depois das fusões, para ambos os bancos. Elaborado o instrumento de pesquisa, foram realizadas cinco entrevistas pessoal e individualmente no Banco Santander, sendo uma com Gerente de 67 Relacionamento, uma com Especialista de RH, duas com Gerentes de RH e uma com Superintendente de RH. No Banco do Brasil foram realizadas três entrevistas pessoais: uma com Gerente Geral da Agência e outras duas com Gerentes de RH. As entrevistas foram gravadas com o consentimento dos entrevistados, digitalizadas e posteriormente analisadas, confrontando os testemunhos com os objetivos das questões propostas. Os conteúdos foram analisados, pergunta a pergunta, no caso de ambos os bancos, para poder confrontar os processos e impactos pesquisados. Os roteiros de entrevistas encontram-se disponíveis no Anexo, e as análises dos depoimentos estão detalhadas no item a seguir. Nesta visão de pesquisa, as análises dos dados levam em consideração a opinião dos entrevistados, influenciada pelos fatores: idade, tempo de trabalho no banco, posição ocupacional e futuro na carreira. 4.2. O Banco Santander O Banco Santander Brasil pertence ao Grupo Santander, um dos maiores grupos financeiros do mundo em termos de capitalização de mercado. Em 30 de junho de 2009, esse grupo tinha um patrimônio líquido de €66,8 bilhões e ativos totais de €1.148,5 bilhões, atendendo a cerca de 90 milhões de clientes por meio de mais de 14.000 agências. A operação no Brasil respondeu por mais de 20% do lucro líquido do grupo e 53% de seu lucro líquido na América Latina. O Santander iniciou suas atividades no Brasil em 1982, com atuação restrita ao mercado de capitais, trabalhando os recursos de investidores espanhóis. A partir de 1991, o perfil operacional do banco foi modificado, seguindo uma estratégia de segmentação de suas atividades no atacado e no varejo. Em 1998, com a compra do Banco Geral do Comércio e do Banco Noroeste, estreou no setor de capitalização, após autorização da Superintendência de Seguros Gerais (Susep). Em ambos os casos houve implementação de PDVs (Programas de Demissão Voluntária), com o desligamento de aproximadamente sete mil empregados. Em 2000 é registrada a maior aquisição de um banco público no Brasil, com a venda do Banco do Estado de São Paulo – Banespa (que tinha no tesouro do Estado de São Paulo seu acionista majoritário) para o banco espanhol Santander, no valor de R$ 7.050 bilhões, em leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. No ano seguinte, o Santander lança um programa de demissão voluntária que contou com a 68 adesão de aproximadamente oito mil funcionários, com o objetivo de adequar à nova estrutura de custos e ao novo foco estratégico. Cinco anos após essa fusão, os dois bancos conseguiram unificar os seus sistemas tecnológicos, abrindo caminho, portanto, para compartilhar agências e carteira de clientes. Em 2008, foi autorizada a fusão entre o Santander Brasil e o Banco ABN Amro (controlador do Banco Real) pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e pelo Banco Central do Brasil. A aquisição do ABN Amro Real pelo Santander custou US$ 100 milhões e teve o desmembramento formal do Banco Real de seu antigo controlador holandês ABN Amro e transferência de seu controle ao Banco Santander. A integração do Banco Real pelo ABN Amro considerava o sentimento de resistência natural à mudança que surgiria nos funcionários das duas organizações, e incluía ações concretas para minimizá-los. Dessa forma, um grande trabalho de comunicação interna foi realizado e uma estratégia de desenvolvimento organizacional de baixo impacto no curto prazo foi adotada. A preocupação fundamental era de respeitar as culturas e os profissionais envolvidos. Na integração pelo Santander, o então Presidente do Banco Real, Fábio Barbosa, foi conduzido à liderança do então criado Grupo Santander Brasil, que inicialmente foi composto pelos dois bancos: Santander e ABN Amro Real. O novo conglomerado passou a assumir a terceira posição no ranking dos bancos privados no Brasil (atrás apenas do Bradesco e do Itaú), e quinto lugar no mercado total (atrás também do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal). Em 2010, o Santander Brasil registrou ativos totais de R$ 375 bilhões, em torno de 24 milhões de clientes, de 10,9 milhões de contas correntes com depósitos à vista ativas e 54 mil funcionários. A rede é composta por 2.201 agências, 1.495 postos de atendimento e 18.312 caixas eletrônicos, tendo sua maior participação de mercado na região Sudeste, conforme ilustra a Figura 10 a seguir: 69 Figura 10: Participação de Mercado de Agências Fonte: IBGE e Banco Central Seu modelo atual de negócios é dividido em três segmentos operacionais: Banco Comercial, Banco Global de Atacado e Gestão de Recursos de Terceiros e Seguros. Banco Comercial: O foco deste segmento são os clientes classificados em Pessoas Físicas (PF) e Pessoas Jurídicas (PJ). Para clientes Pessoa Física há um canal de serviços múltiplos, com o suporte de seus gerentes de conta. O Banco Santander oferece serviços diferenciados a clientes que possam vir a se tornar clientes de alta renda. Para clientes Pessoa Jurídica, como pequenas e médias empresas, o modelo do Banco Santander é focado no relacionamento com os gerentes de conta, sendo que para empresas de pequeno porte oferece canais de serviços diversos. O Santander também está organizado para prestar serviços financeiros a empresas de dois grandes segmentos econômicos: Segmento Corporate (grupos econômicos com faturamento anual acima de R$ 250 milhões, que tenham a necessidade de produtos e serviços financeiros especializados e de alto valor agregado) e Segmento Empresas (dedicado ao atendimento de médias empresas 70 nacionais e internacionais, com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 250 milhões), que constituem a Unidade de Negócios que delineamos na sequência. Banco Global de Atacado: Seu foco são os clientes corporativos globais, aproximadamente 700 grandes empresas brasileiras e conglomerados multinacionais, incluindo algumas das maiores empresas do Brasil. Os clientes do Banco neste segmento estão espalhados por um amplo ramo de setores, inclusive os setores de energia e recursos naturais, telecomunicações, financeiro, construção e infraestrutura, agricultura, varejo, industrial (incluindo montadoras de veículos) e serviços. O negócio de atacado do Banco fornece aos clientes uma ampla gama de serviços locais e internacionais, e busca oferecer soluções especificamente personalizadas às necessidades de cada cliente. Gestão de Recursos de Terceiros e Seguros: O Banco faz a gestão de recursos de terceiros por meio de fundos mútuos, fundos de pensão e carteiras de investimentos de pessoas físicas e pessoas jurídicas. A oferta de fundos de investimento inclui fundos de renda fixa, investimento financeiro e ações e multimercado (ou seja, fundos que não focam somente em um tipo específico de risco e, portanto, oferecem uma maior diversificação). Como parte de seu negócio de seguros, o Banco Santander oferece aos clientes de varejo e pequenas e médias empresas vários produtos, tais como de vida e acidentes pessoais, residenciais, perda e roubo de cartão de crédito, e planos de previdência privada, considerados como seguros pela legislação aplicável (embora se assemelhem a planos privados de aposentadoria) e produtos de capitalização (produtos de poupança em que geralmente se requer a realização de depósitos fixos). O Banco Santander tem como missão ser uma equipe capaz de gerar boas ideias, que satisfaçam os clientes, sejam rentáveis para os acionistas e consolidem o banco como um líder financeiro internacional e como entidade que colabora com o desenvolvimento sustentável da sociedade. Criar vínculos de qualidade entre os funcionários e com nossos clientes, fornecedores e acionistas para buscar ideias 71 inovadoras em gestão, produtos e serviços que respondam aos desafios da nossa época. Assim, sendo líderes do setor e referência para o mercado em geral. Seus valores corporativos são: Liderança: vocação de liderança em todos os mercados onde estamos presentes, com as melhores equipes e constante foco em clientes e resultados. Dinamismo e antecipação: iniciativa e agilidade para descobrir e explorar as oportunidades de negócios, antes de nossos concorrentes, e flexibilidade de adaptação às mudanças do mercado. Fortaleza de balanço: a força do nosso balanço e a prudência na gestão de riscos são as melhores garantias da nossa capacidade de crescimento e de geração de valor para os nossos acionistas, a longo prazo. Inovação: procura constante de produtos, serviços e processos que atendam às necessidades dos clientes e nos permitam obter aumento de rentabilidade superior ao dos nossos concorrentes. Orientação ao cliente: o cliente é o foco de nossa estratégia. Queremos melhorar de maneira contínua a captação, a satisfação e a vinculação de clientes, por meio de uma ampla oferta de produtos e serviços, sempre com a melhor qualidade. Ética profissional: além do estrito cumprimento das Leis, dos Códigos de Conduta e das normas internas, exige-se de todos os profissionais do Santander atuar com a máxima honestidade e transparência, considerando-se sempre o interesse do Grupo e dos clientes acima da posição pessoal. 4.3. O Banco do Brasil O Banco do Brasil foi o primeiro banco a operar no País, fundado com a chegada da família real portuguesa, em 1808. Em 2001 adotou a configuração de Banco Múltiplo, trazendo vantagens como redução dos custos, racionalização de processos e otimização da gestão financeira. 72 Em 2008, ainda em meio à crise mundial financeira, foi aprovada a Medida Provisória 443, que autorizou o Banco do Brasil, pela primeira vez em sua história, a comprar participação de bancos privados e estatais. A quebra desse paradigma possibilitou ao BB a aquisição do Banco Nossa Caixa no valor de R$ 5.380 bilhões, consolidando o primeiro lugar no ranking dos bancos públicos no País e segundo lugar do mercado, ficando atrás do novo conglomerado Itaú Unibanco. O Banco Nossa Caixa era uma sociedade de economia mista, da qual o Estado de São Paulo detinha diretamente 71,25% das ações ordinárias. Em 2006 houve um grande aumento no número de clientes, pois os servidores públicos estaduais começaram a receber pelo banco e assim foram geradas oito mil novas contas correntes. Quando de sua extinção, o Banco Nossa Caixa tinha cerca de 15.000 funcionários, todos contratados por meio de concurso público, porém com contratos regidos pela CLT. Em 30 de novembro de 2009 houve a incorporação societária do banco e a consequente extinção do CNPJ da Nossa Caixa, assim como a alteração de sua hierarquia, que se subordinou à do Banco do Brasil. A partir desta data os funcionários puderam optar pela carreira de funcionários do Banco do Brasil Alguns bancos privados sugeriram que a venda da Nossa Caixa fosse a leilão, no entanto, com a definição do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre a obrigatoriedade de manutenção dos Depósitos Judiciais em Bancos Públicos, o Banco do Brasil tornou-se o único capaz de pagar a máxima quantia possível pela Nossa Caixa, pois os demais concorrentes privados teriam de subavaliar a Nossa Caixa, visto que perderiam os depósitos judiciais. Além disso, a sociedade paulista e brasileira enxergaria com receio a venda da Nossa Caixa aos bancos privados, pois seria caracterizada a privatização. O Banco do Brasil se comprometeu a manter o patrimônio público, principalmente no que se refere a depósitos judiciais e operações financeiras privativas de instituições financeiras oficiais. Os programas sociais do Governo do Estado de São Paulo também continuariam a ser operacionalizados pelo banco, além de manter agências bancárias em todas as cidades que eram atendidas pela Nossa Caixa, banco que possuía agências em todas as cidades do Estado. 73 Em novembro de 2009, o Banco do Brasil lançou o primeiro PDV aos funcionários do Banco Nossa Caixa, direcionado aos funcionários que estavam mais próximos de se aposentarem, ou que já estavam aposentados. No mês de junho de 2010, o processo de integração do Banco Nossa Caixa foi concluído permitindo ao novo banco ampliar sua base de clientes e negócios com pessoas físicas e jurídicas no Estado de São Paulo. Desde então, tal processo vem redefinindo o perfil operacional dos empregados e modificando radicalmente as relações e condições de trabalho, ou seja, a conquista do concurso público para ingresso e a estrutura burocratizada, que estabeleciam um padrão quanto às políticas salariais e de carreiras, dão lugar à racionalidade de mercado e de capital. Atualmente, o Banco do Brasil tem presença nacional e no mundo. No Brasil já são mais de 4 mil agências e mais de 40 mil caixas eletrônicos. Além disso, vem ampliando sua presença internacional contando hoje com mais de 40 pontos de atendimento no exterior. Sua missão é de ser um banco competitivo e rentável, promover o desenvolvimento sustentável do Brasil e cumprir sua função pública com eficiência. Seus valores são: Ética e transparência; Compromisso com o desenvolvimento das comunidades e do País; Responsabilidade socioambiental; Respeito ao consumidor; Excelência e especialização no relacionamento com o cliente; Gestão participativa, decisão colegiada e trabalho em equipe; Ascensão profissional baseada no mérito; Marca como diferencial competitivo; Proatividade na gestão de riscos; Comprometimento com solidez, rentabilidade, eficiência e inovação; Respeito à diversidade; Compromisso com os acionistas e a sociedade. Tem como principal objetivo ser o primeiro banco dos brasileiros, das empresas e do setor público, referência no exterior, o melhor banco para trabalhar, 74 reconhecido pelo desempenho, relacionamentos duradouros e responsabilidade socioambiental. Desde 1991, o BB patrocina o esporte brasileiro. Os resultados obtidos são positivos não só para o Banco, mas em especial para o esporte. Em 2006, R$ 45,6 milhões foram investidos em marketing esportivo, e em 2007 serão investidos R$ 60 milhões. O Banco do Brasil apoia a cultura nas áreas de artes cênicas, artes plásticas, audiovisual, música, ideias e programa educativo. Nos diversos segmentos artísticos, o Banco do Brasil tem aplicado seus recursos nos Centros Culturais Banco do Brasil – Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo – e no Circuito Cultural, projeto itinerante que ocorre em diferentes regiões do País. Como um dos principais agentes do desenvolvimento econômico e social do País, o Banco do Brasil impulsiona a economia e o desenvolvimento, atuando de forma responsável para promover a inclusão social, por meio da geração de trabalho e renda. O Banco do Brasil registrou lucro líquido de R$ 11,7 bilhões em 2010, resultado 15,3% superior ao registrado no exercício anterior, com retorno anualizado sobre o patrimônio líquido de 27,0%. O lucro líquido por ação foi de R$ 4,32 no período. Os ativos somaram R$ 811,2 bilhões, crescimento de 14,5% em 12 meses, com retorno sobre ativos de 1,5% em 2010. O patrimônio líquido alcançou R$ 50,4 bilhões, incremento de 39,6% em 12 meses, influenciado pela oferta pública de ações. O BB encerrou o exercício de 2010 com 109.026 funcionários, ante 103.971 em 2009. 4.4. As transformações na visão dos gestores A seguir serão analisadas as falas dos bancários sobre os impactos das mudanças organizacionais nas políticas de recursos humanos e também com o sindicato. No entanto, considerando o discurso das pessoas entrevistadas, há muitas indicações relevantes que ora afirmam ou negam os argumentos do debate, em torno dos interesses envolvidos. Os resultados da pesquisa são apresentados em duas etapas: na primeira é delineada uma análise relacionada aos perfis dos entrevistados, e na segunda são 75 analisadas as entrevistas, pergunta a pergunta em ambos os bancos, verificando no discurso dos profissionais que suporte foi oferecido pelo departamento de recursos humanos principalmente por meio de suas políticas e processos. Na primeira parte, foram realizadas entrevistas com o total de oito respondentes, com base nos roteiros disponíveis no Anexo, e foi possível mapear seus perfis socioprofissionais resumidos, mediante o quadro abaixo: Tipo de instituição Idade Escolaridade Formação Sindicalizado Tempo de Empresa Gerente de Privada 28 Superior Administração de relacionamento Estrangeira anos completo Empresas Não 10 anos Privada 46 Especialista de RH Estrangeira anos Mestrado Psicologia Não 7 anos Privada 46 Superior Administração de Gerente de RH Estrangeira anos completo Empresas Não 11 anos Privada 47 Superior Gerente de RH Estrangeira anos completo Pedagogia Não 25 anos Superintendente de Privada 50 Superior RH Estrangeira anos completo Economia Não 9 anos Gerente geral de agência Gerente de RH Gerente de RH Pública Pública Pública 45 anos Administração de Pós-graduação Empresas Não 31 anos Doutorado Engenharia Sim 26 anos 52 Superior Administração de anos completo Empresas Não 30 anos 45 anos Número de funcionários sob supervisão 2 4 10 2 97 15 19 14 O quadro acima indica os cargos assumidos pelos entrevistados nos bancos, sendo a maioria composta por Gerentes, e também a instituição em que o bancário atua, podendo ser estatal ou privada estrangeira; a seguir a idade, com uma variação razoável de 28 a 52 anos de idade; posteriormente é possível observar que há uma diferença entre os níveis de escolaridade, a partir do superior completo até nível de doutorado; a sindicalização é de apenas um entrevistado; vindo seguida de uma distorção grande em termos de tempo na empresa de 7 até 31 anos. Essa pequena amostra revela muita coisa sobre o perfil do bancário de hoje marcado por forte heterogeneidade social e econômica. 76 Na segunda parte, foram realizadas entrevistas com o total de oito respondentes, com base nos roteiros disponíveis no Anexo, com o objetivo de verificar o suporte oferecido pelo departamento de recursos humanos. A seguir serão analisadas as entrevistas, pergunta a pergunta, em ambos os bancos: 4.4.1. O departamento de RH e as estratégias de gestão de pessoas: Para os profissionais de recursos humanos, verificou-se que no banco Santander a estrutura de RH é considerada tradicional, ou seja, semelhante à dos demais bancos, como Itaú-Unibanco, HSBC, Citibank, etc., voltada para atender o cliente interno, por meio da presença dos consultores, para desenvolver as práticas de gestão de pessoas. Na estrutura de RH há aproximadamente 410 funcionários, sendo composta por duas áreas de Consultorias, que têm como objetivo apoiar os líderes nas estratégias de negócios, mediante uma visão estratégica de médio e longo prazo; uma área de Produtos e Serviços, responsável por desenvolver ferramentas para a gestão de RH em toda a empresa, por exemplo, avaliação de desempenho, remuneração fixa e variável (curto e longo prazo), incluindo programa de PLR, Programa de Capacitação, etc.; uma área de Atração e Carreira (Recrutamento e Seleção), cujo objetivo principal é atrair e reter talentos para a organização, atuando prioritariamente em mobilidade interna, ou seja, contrata na base para gerar movimentos internos; e uma área de Operações, que funciona como retaguarda de todos os processos de RH, desde a admissão até o desligamento do funcionário, incluindo responsabilidade pelos temas ligados a benefícios, gestão de processos e ferramentas de sistema para RH. Faz-se muito benchmarking no setor, para garantir que sejam implementadas as melhores práticas de mercado, observando seus concorrentes. Porém, em função de constantes transformações organizacionais, a implantação de políticas inovadoras fica mais difícil, conforme o discurso do entrevistado abaixo: “Eu vejo como uma estrutura sem muita inovação, sem muita mudança em relação ao mercado. Isso só acontece depois de se estabilizar após uma compra […] é difícil começar a implementar mudanças radicais sem organizar tudo antes. Na situação atual, e o 77 Santander vem de várias compras, nunca chegou a inovar na atuação de recursos humanos. Busca isso, mas leva tempo […] a compra muda a cultura, sempre traz mudanças. É um recomeço, porque sempre tem aquela questão: como vai acontecer? Como vai funcionar? Vai ter mudança? E na última fusão mudou bastante a questão da gestão, porque ficou bem mesclado. Porque quando foi a compra do Banespa, ficaram poucas pessoas do Banespa. Agora tem realmente, até para garantir que essa cultura seja mais miscigenada, que ser melhor aproveitada, foi uma mudança grande.” Em relação a essa necessidade de miscigenação, é possível inferir dos discursos dos entrevistados que antes da fusão a estratégia utilizada pelo Santander era de controle, ou seja, para os empregados desempenharem bem as funções, deveriam ser mandados e controlados. E pôde-se inferir também que a estratégia utilizada pelo ABN Amro Real, antes da fusão, era de comprometimento, ou seja, a empresa investia nas pessoas para conseguir melhores resultados empresariais. Para esse banco, o comprometimento dos colaboradores está intimamente relacionado com o aumento de desempenho. Para os profissionais de recursos humanos, verificou-se que no Banco do Brasil há uma estrutura baseada em uma vice-presidência de RH, uma diretoria de gestão de pessoas, com dois gerentes executivos, um responsável pela parte de Desenvolvimento, Treinamento, Carreira e Modelo de Competências, e outro responsável pela parte de Folha de Pagamento, Benefícios, Remuneração, Assiduidade no trabalho, Saúde no trabalho, atuando separadamente, ou seja, sendo duas áreas distintas. Essa vice-presidência tem um desdobramento dentro do Banco do Brasil regionalmente, isto é, uma em São Paulo, uma em Campinas, uma em Ribeirão Preto e uma em Bauru, em função do número de pessoas há uma quebra dessa gestão. 4.4.2. Um olhar sobre a agência: Para os gestores de pessoas das agências, verificou-se que no banco Santander houve um acúmulo de tarefas nos últimos anos, com aumento na cobrança em vendas de produto, como é possível verificar no discurso abaixo: 78 “A gente não deixou de ser gerente de relacionamento/agência, mas nós somos cobrados diariamente, fervorosamente por números, metas […] resultados de vendas, de serviços e de produtos. Pelo menos na instituição em que eu estou o papel do gestor é controlar produtividade, ponto final.” Diretamente ligada a resultado e produtividade está a questão do relacionamento com o cliente. O banco espera que o gerente entenda as necessidades do cliente a fim de oferecer-lhe o produto adequado; porém, essa situação apresenta uma exigência, até certo ponto, paradoxal, como se pode perceber na fala do entrevistado: “Em contrapartida, você tem o „diabinho‟ da produção que fala: hoje é o dia do Seguro e você precisa fazer Seguro e se virar pra entregar 10 Seguros. E aí o funcionário tem que oferecer um Seguro pra um cliente que não precisa daquele produto e precisa arrumar produtos pro cliente querer […] a gente tem uma listagem com todos os produtos que tenho que vender no mês. Eu tenho que abrir 4 contas, só posso encerrar 5 contas, a carteira de investimentos tem que ser positiva em 200 mil, não posso ter inadimplência na carteira, tenho que vender 25 cartões, 300 reais de capitalização mensal…” Em função das metas cumpridas é estabelecido um ranking no interior da agência e o desempenho dos gerentes é visualizado por todos eles, gerando competição. Se as metas foram 100% cumpridas, o gerente recebe um adicional ao salário (remuneração variável). Aqueles que apresentam a totalidade das metas préestabelecidas, portanto candidatos à remuneração variável, são submetidos a uma avaliação de qualidade operacional, pela qual todos os processos são examinados a fim de se verificar se todos os quesitos foram preenchidos corretamente. Além disso: “Existe outro item, que é reclamações, ou seja, se um cliente faz uma reclamação dentro do SAC, dentro da ouvidoria, e essa reclamação é por mau atendimento, ou um produto vendido inadequadamente, é 79 penalizado. E a gente tem uma nota mínima. Não adianta entregar de qualquer jeito, tem que entregar certo. Controle rigoroso pelo gestor da agência. Se um dos gerentes não entrega, a agência não entrega. E o gestor não ganha.” Porém, é possível verificar que em todas as instituições há metas agressivas. O Itaú-Unibanco, o Bradesco, o HSBC, etc. cobram assim como o Santander. Essa é a prática de mercado. A maneira como esse objetivo é cobrado pode ser um pouco diferente, pode haver formas diferenciadas de recompensar o seu atingimento. Mas a questão “meta” é notavelmente um incômodo. Às vezes é o próprio funcionário que quer se destacar e acaba se impondo um ritmo maior de trabalho. Mas é claro que esse processo está mais agressivo que antes, muito em função de o tamanho de uma agência ter reduzido bastante, e o número de clientes aumentado drasticamente, mas o atendimento tem que se manter igual. O sistema evoluiu, a forma de atender e o cliente evoluíram também. O autoatendimento já filtra bastante, mas o dever do funcionário é atender esses clientes e tentar vender. Se eles não vão até a agência, tem que se ir atrás deles. Isso pode dar a sensação da meta ser mais agressiva atualmente. No entanto, essas cobranças parecem vir acompanhadas de ações da área de recursos humanos como avaliação de desempenho dos funcionários e, consequentemente, o desenvolvimento de um plano de carreira, bem como medição do clima organizacional dentro das agências, como se verifica no discurso do mesmo entrevistado: “Recentemente, a gente passou a ter uma avaliação semestral, que agora eles mudaram para uma avaliação anual, que é um momento que a gente tem pra conversar, discutir os pontos fortes, os pontos fracos, o que melhorou, piorou. Nesse sentido foi uma coisa legal, e é uma coisa institucional, que veio do RH. […] e a gente faz uma avaliação de clima, pra eles poderem entender, ou seja, pra quem tá lá em cima entender o que tá acontecendo, qual é o nosso sentimento aqui na agência […] outra metodologia que veio do RH, é a questão dessa avaliação de desempenho que nós temos. O funcionário se autoavaliar e o gestor direto dele avalia o funcionário. 80 Depois é feito uma conversa aonde a gente discute o que eu coloquei como autoavaliação e o que o meu gestor colocou como minha avaliação, e nisso trata-se plano de desenvolvimento individual, que coloco minhas expectativas e o que eu espero para minha carreira e o que o meu gestor espera para minha carreira. Então isso é muito legal, e tem surtido efeito. Antes de eu vir pra essa agência, […] uma das coisas que eu queria era ser transferida para uma agência próxima da minha casa. Hoje não saio mais daqui, de jeito nenhum […] tem mudança sim.” Para os gestores de pessoas das agências, verificou-se que no Banco do Brasil há atualmente uma preocupação em mudar um pouco a cultura do funcionário de forma geral, ou seja, a forma como ele se enxerga no sistema financeiro. O funcionário deve tentar assimilar que está na área de negócios, isto é, ele é um vendedor. Os bancários deixaram de lado as atividades propriamente administrativas e de orientação do cliente, para se envolverem cada vez mais com sistemas eletrônicos e com as vendas. Então, o banco tem reforçado essa condição, procurando adequar os perfis de acordo com os funcionários. Porém, como não há condições de buscar profissionais no mercado, é preciso se utilizar de uma seleção, de um concurso público, ou seja, não necessariamente se contratam pessoas com o perfil adequado que o quer. Portanto, o grande desafio nesses últimos tempos é da transformação da cultura e uma missão até mais difícil: tentar que o funcionário se aproxime mais ao perfil de vendas. O BB tem um portfólio de produtos muito amplo, pois foi se adequando ao longo do tempo à concorrência. O banco para pessoa física tem aproximadamente um leque de duzentos produtos ou serviços para oferecer. Quando houve a fusão, os empregados na Nossa Caixa chegaram preparados para oferecer seis ou sete produtos e serviços. Então, a cobrança em cima do funcionário da NC foi grande, pois ele conhecia somente os serviços básicos de uma instituição financeira. O Banco do Brasil tinha pontos melhores do que a Nossa Caixa. Só que foi uma aquisição, não foi uma fusão, ou seja, mantiveram-se todos os processos do BB. Em um primeiro momento, esses funcionários da Nossa Caixa não conseguiram atender às expectativas, primeiro devido ao choque inicial 81 propriamente dito, ou seja, o funcionário demora um determinado tempo para se adaptar ao sistema que irá utilizar, ao tipo de equipamento que mudou, deve passar a conhecer o leque de produtos que tem que oferecer aos clientes, como é possível perceber no discurso abaixo: “Como você vai se sentir confortável em atender um cliente se você não conhece em detalhe, por exemplo, um título de capitalização, ou uma coisa mais complexa, que demandaria uma especialização melhor, como um plano de previdência, que tem uma série de nuances, de detalhes dentro dele, que não é lendo um manualzinho no final do dia que você tem condição de conversar sobre um plano de previdência com o cliente. Então foi muita informação ao mesmo tempo, e de cobrança em cima desses funcionários. Eles não tiveram tempo hábil para se preparar […] a sinergia esperada, tanto de negócios, quanto integração de pessoas, de recursos […] acabou não acontecendo exatamente de acordo com o que foi previsto.” 4.4.3. Sobre o processo de contratação: No banco Santander é possível inferir, pelas entrevistas, que não houve mudança após a fusão, ou seja, manteve-se a política existente no banco, que não era muito diferente da política do banco ABN Amro Real. Inicialmente o processo era híbrido, ou seja, contratações poderiam partir tanto interna como externamente. Atualmente, o foco de atuação está voltado para priorizar a movimentação interna, ou seja, com exceção de necessidades específicas, todo processo passa obrigatoriamente por uma publicação interna onde todos têm acesso e podem se candidatar, no caso de evolução profissional e de carreira, mediante um programa chamado Mobilidade Interna. Quando não se encontra o profissional, utiliza-se consultorias que fazem o recrutamento, isto é, a busca de profissionais do mercado no próprio setor financeiro, mediante a troca de emprego entre as instituições existentes no País, como é possível perceber no discurso do entrevistado abaixo: “E como o mercado está aquecido, há muita troca entre os bancos. Fora do sistema é muito difícil a adaptação. Quando é posição comercial, que atua na agência, o importante é ter experiência e 82 contato com o mercado. Geralmente se procuram profissionais na concorrência, o que acaba inflacionando o mercado, e tem que pagar mais […] e quando acontece isso, tem que levantar a remuneração interna, porque senão se acaba perdendo o profissional. […] tem que estar sempre olhando o mercado.” O Banco do Brasil realiza concurso público com o objetivo de constituir reserva de pessoal para suprir as vagas decorrentes do fluxo natural de saídas de funcionários. Os concursos são regionalizados e a convocação obedece à classificação na microrregião em que o candidato se inscreveu, de acordo com o edital de abertura da seleção, observado o prazo de validade do concurso. O cargo inicial, que exige ensino médio completo como escolaridade mínima, é o de Escriturário, como se pode inferir do depoimento a seguir: “O sujeito faz algumas provas como Matemática Financeira, Informática, Inglês, Redação, Conhecimentos Bancários, Atualidades, etc. Ele faz uma prova, entra nessa posição mais baixa de Escriturário e depois de dois anos ele pode começar a galgar novas posições. Atualmente, como tem uma questão geracional muito forte, eles acabaram baixando essa trava em alguns momentos para um ano, pois depois de um ano a pessoa quer ganhar mais e já tem proposta de outros lugares, pois geralmente tem uma formação muito boa, e o banco acabou flexibilizando um pouco. Isso ocorria em ambos os bancos, e praticamente se manteve.” 4.4.4. Sobre o processo de treinamentos: Percebe-se que o Banco Santander investe nesse aspecto, sendo considerado como referência na disponibilização de verba para o desenvolvimento de pessoas, independente do segmento de atuação. Disponibiliza aos funcionários cursos a distância e presenciais. Os cursos online (a distância) são para todos os funcionários, que podem escolher o que querem fazer, dentre as opções prédeterminadas. Já os treinamentos presenciais são feitos sob demanda das áreas, mas não são para todos os empregados, somente para os definidos por avaliações e 83 baseados no orçamento anual do departamento, ou seja, exclusivamente para quem tem avaliação acima da média. No tocante aos treinamentos específicos para a transformação organizacional, conclui-se das entrevistas que não houve uma preparação adequada, ou seja, houve apenas algumas frentes de trabalho para os impactos decorrentes da fusão, apesar de na área de treinamento ter havido foco exclusivo na capacitação, com o objetivo de uniformizar o conhecimento e treinar todos os colaboradores em novos produtos e serviços. Na área de RH havia reuniões envolvendo profissionais, tanto do Santander quanto do ABN Amro Real, para definir e mapear todos os processos da área, ou seja, como funcionava em cada um dos bancos, além de levantar as boas práticas do mercado, para esse grupo poder definir a nova forma de existir do banco, que teoricamente não seria nem ABN Amro Real nem Santander, seria uma terceira forma. Mas verificou-se que o real aprendizado foi na prática diária: “Treinamento para a mudança não houve, a coisa foi acontecendo porque a atividade continua, tem que tocar o dia a dia, além de fazer o processo de unificação. Essas diretrizes […] de certa forma, é um processo de treinamento, a descoberta de levantar um cenário e definir o que vai fazer com determinado processo. O ideal é quando é feito de uma forma tranquila […] é difícil ter que parar todo mundo para fazer um trabalho específico. Dependendo de cada gestão, acaba tendo somente workshops para planejar trabalho.” Nas agências, por outro lado, a preparação para as transformações, segundo os entrevistados, deixou a desejar, principalmente na implantação dos novos sistemas. Apesar de haver treinamentos online, a mudança foi drástica, principalmente da incorporação do Banespa com o Santander, onde se trabalhava em um sistema de máquina de escrever nas agências, em 2001. Quanto ao ABN Amro Real também não foi muito diferente, como mencionado abaixo: “A mudança veio igual a uma enxurrada. Então a gente não teve tempo hábil para ser preparado como deveria. Eu vou falar um português simples: nós fomos jogados. Se vira, corre atrás. O banco, 84 em si, colocou uma metodologia de treinamento online, em que a gente tinha que entrar no computador, tinham os treinamentos em que davam umas situações (um curso didático), mas não está ali representando o dia a dia mesmo. Ainda mais nós que trabalhamos com uma diversidade de produtos muito grande. Os cursos eram extensos e a gente acabava não tendo tempo hábil para concluí-los […] ficamos uma, duas semanas em treinamento fora da agência, fora do atendimento e não era suficiente para aprender todas as ferramentas. Então um número maior de treinamentos presenciais, uma agência-piloto para que a gente pudesse fazer o dia a dia não aconteceu.” A urgência em terminar os cursos no expediente de trabalho, ao mesmo tempo em que se deveria atender os clientes e fazer treinamentos no final do dia, foi uma experiência muito sofrida para os funcionários. Situações em que eles se deparavam com clientes em sua mesa e não sabiam como manusear o sistema tecnológico para as funções mais corriqueiras e não terem como obter a informação completa geravam momentos estressantes que, por outro lado, fizeram com que eles criassem soluções pessoais e aprendessem a sair de situações complicadas do dia a dia. No Banco do Brasil existem muitos treinamentos internos, por exemplo, o gerente de marketing é considerado tão bom que vai dar treinamento de Comunicação para os demais funcionários do banco. Não existia contratação de uma empresa para aplicar treinamentos. Já na Nossa Caixa se contratava muitas empresas de fora. E essa diferença acabou gerando conflitos internos, como é possível identificar abaixo: “A pessoa que vinha da Nossa Caixa estava mais antenado com o mercado. Ele já estava em São Paulo e acabava participando de todos esses cursos. E a Nossa Caixa acabou investindo bastante em MBAs. Em 2009, teve mil pessoas aproximadamente com o banco bancando em até 80%, com uma política que era inversamente proporcional ao salário. E isso deixava o funcionário em um nível melhor. No Banco do Brasil poderia até pagar 100% de um MBA, 85 mas os treinamentos em si são muito internos, certificações internas e Ensino a Distância. O cara na Nossa Caixa tinha 150 treinamentos ao longo da carreira dele e quando chegou no BB, para se cadastrar no sistema interno de carreira, o próprio sistema não aceitava esses treinamentos. Só aceitava os treinamentos dados internamente. Apesar de ter todos os treinamentos, como eram externos, não houve um reconhecimento no Banco do Brasil.” O grande desafio do banco era colocar em prática os treinamentos, porque há uma demanda prioritária, que é o cumprimento de metas. E com essa exigência cada vez maior, e a concorrência cada vez mais acirrada também entre as instituições financeiras, não tem como não direcionar o foco na busca pelo resultado. Porém, o banco tem tomado algumas atitudes em relação a isso. Foi colocada, em acordo de trabalho, uma carga mínima de treinamento presencial para os funcionários, ou seja, pelo acordo tem que se destinar 30 horas semestrais ao treinamento para seus funcionários. Caso isso não seja cumprido, o gestor é penalizado. É mediante esses treinamentos que o funcionário faz um plano de capacitação, desenvolvimento, como é verificado no depoimento abaixo: “O funcionário faz o seu plano de desenvolvimento, e seu gestor, na medida do possível, vai tentar direcionar isso. Nos momentos em que eu passei em área negocial, era muito difícil cumprir esse plano. Os períodos que eu fiquei em área meio e em auditoria, consegui ter uma formação melhor, cumprir meu plano de desenvolvimento […] Nestes últimos 3 anos, consegui fazer o maior número de treinamento presencial, que o banco incentiva essa parte também. Então o impacto tá muito relacionado à localização do funcionário no momento, se ele tiver na linha de frente dificilmente ele irá conseguir […] as exigências são cada vez maiores e, para que você consiga atender essas exigências, você precisa dedicar um maior tempo ao trabalho.” O acordo de trabalho em vigor no BB e a implantação do ponto eletrônico, segundo o mesmo depoente, contribuíram para que, nos últimos anos, os 86 funcionários conseguissem se adequar melhor à nova sistemática, melhorando até suas situações familiares e pessoais. Isso porque passaram a ter horário para entrar, sair do banco e para almoçar, incluindo nesse horário a capacitação e o treinamento, eles passaram a ter um acompanhamento que respeitasse suas funções e necessidades profissionais e pessoais. No tocante aos treinamentos específicos para a transformação organizacional, também se conclui das entrevistas que não houve uma preparação adequada, apesar de terem sido utilizadas consultorias renomadas. Acreditou-se que a transformação seria de forma tranquila, ou seja, só uma questão de “virar a chave” no dia e que tudo iria acontecer automaticamente, continuando em harmonia; com isso, acabou sendo deixado de tomar algumas precauções, como se verifica na fala: “Apesar de o banco ter tido preocupação, ter pedido apoio, contratado essas consultorias todas, acho que eles não estavam preparados e a coisa acabou não ocorrendo da forma como eles esperavam. Pelo fato de o pessoal que encabeçou tudo isso, não ter tido toda preparação, obviamente isso desencadeou que o restante dos gestores, em suas unidades, também não recebesse um treinamento adequado.” Para esse depoente o treinamento não foi suficiente para que os funcionários pudessem enfrentar o choque cultural causado pela fusão. Segundo ele, quem tinha mais dúvidas eram os empregados do banco incorporado, mas os do BB também tinham preocupação, pois o banco tinha o compromisso de manter os cargos. O espaço de tempo foi muito curto e, além disso, mesmo nessas reestruturações, o banco estava focado somente no resultado. “O gestor tem que se virar com a ferramenta que tem disponível. Então você não está recebendo orientação direta nesse sentido do que está fazendo. Você tem que ter o resultado tal e as outras coisas você tem que ir administrando, você fica responsável. Só que não existe um treinamento específico pra esses gestores, para que eles enfrentem esse tipo de situação. Então cada um acaba 87 administrando conforme melhor convier e nem sempre é da forma mais adequada, mais convencional.” Houve uma definição de quais agências da Nossa Caixa iam se transformar em agências do BB. Para isso, desenvolveu-se um treinamento com um conceito de agência madrinha, que apadrinhava a outra que seria incorporada. Faltando três meses era feita uma mescla dos profissionais, para aprenderem as novas rotinas e receberem os treinamentos básicos dos produtos e dos serviços. Em 10 meses transformaram-se em torno de 700 agências, ou seja, foi um trabalho muito forte. O consumidor ficou um pouco desorientado nesse processo, pois, diferentemente do Santander e o Banco ABN Real, o cliente Nossa Caixa quando menos percebia já estava recebendo um cartão do BB, sem nem saber o que estava acontecendo. 4.4.5. Sobre carreiras: No Banco Santander, as entrevistas apontam que não houve mudanças após o processo de fusão com o ABN Amro Real, pois essa era a sua prática também, a da meritocracia. Todos os negócios no interior do banco têm uma carreira, que pode ser vencida de acordo com a oportunidade e com a disponibilidade de vagas, que são divulgadas para todas as pessoas se candidatarem. O volume de aproveitamento interno é grande, representando uma evolução na carreira. Dentro do banco há uma cultura de mobilidade interna e internacional também. Há atualmente uma prioridade em se preencher as vagas por pessoas de fora da área (podendo também ser preenchida dentro da própria área), para que o gestor possa ter conhecimento dos empregados que têm capacitação, interesse em participar e de iniciar negócios na sua área, mesmo trabalhando em outro departamento. A carreira é aberta dentro da instituição. Já no Banco do Brasil, o funcionário começa trabalhando em uma agência, e passados os 90 dias de experiência já pode galgar novos cargos. Em tese, qualquer concursado do banco pode chegar ao cargo de presidente. Um concursado que comece a trabalhar como escriturário, tem condições de assumir rapidamente a gerência de uma unidade do BB, dependendo exclusivamente de seu desempenho. Há possibilidade também de se obter transferências para setores específicos para a sua área de formação profissional. 88 Para estimular a qualificação profissional, há adoção de um programa de talentos e oportunidades, em que ficam registrados a formação e os cursos de especialização concluídos pelo funcionário. Assim, quando uma oportunidade em um departamento do banco surge, esse programa é capaz de direcionar quem é o mais apto a ocupá-la. Vai competir por meio de um sistema de pontuação que analisa o currículo, algumas certificações feitas dentro do banco, a trajetória no interior da organização. E entre as pessoas que mais pontuam é feita uma seleção. O programa também concede bolsas de estudo para graduação e pós-graduação e para a Universidade Banco do Brasil. Porém, na Nossa Caixa havia um sistema de carreira que era relativamente complexo, como é descrito abaixo: “Na NC havia cargos e funções. Por exemplo, um funcionário poderia ter o cargo de técnico em análise de informática, mas sua função era de gerente de departamento de informática. Você era uma coisa e estava em outra coisa. No Banco do Brasil, se você perder seu cargo, imediatamente você volta ao cargo mais baixo de Escriturário – como se fosse um auxiliar administrativo. E na Nossa Caixa não, você voltava para seu cargo anterior. Isso deu um choque entre os dois bancos, pois um funcionário que vinha da NC que era engenheiro e estava gerente do departamento de engenharia, tinha um acumulado de história de salário. Vamos supor que o Escriturário do BB ganhasse 2 mil reais por seis horas. Esse funcionário no exemplo, se perdesse todos os benefícios da função dele, ele podia virar Escriturário no Banco do Brasil com seis horas de trabalho, ganhando 15 mil reais. Porque ele carregava todo o histórico dele na Nossa Caixa. Então isso causou um estresse e ainda vem causando dentro do BB, pois eles absorveram uma gama de funcionários que preferiam ficar em uma posição mais baixa, trabalhando seis horas por dia e ganhando seis vezes mais que o colega do lado. Pois se assumissem uma posição mais alta, ganhariam um pouco mais só e teriam mais trabalho. Isso acabou criando um problema que é muito difícil administrar.” 89 Na Nossa Caixa, o funcionário era demissível. E se demitia muito. Por exemplo, em 2007, houve uma demissão de aproximadamente duas mil pessoas por falta de performance. Isso era a contrapartida, ou seja, o empregado tinha um incremento salarial bom que não perdia, mas poderia ser demitido sem justa causa. E no Banco do Brasil o nível de demissão sem justa causa era muito baixo. Então, o funcionário ficava com o salário muito baixo, mas não era demitido. E até hoje é assim, gerando um problema de cultura. Na época do processo de fusão ficou evidente que o empregado do BB estava sempre tentando se fortalecer, para não voltar para uma posição muito baixa, mas, ao mesmo tempo, não tinha medo de cometer um grande erro, porque não seria demitido. E o inverso ocorria na Nossa Caixa. Então tinha uma vantagem e uma desvantagem de cada lado. 4.4.6. Sobre a política de remuneração: No Banco Santander se pratica Remuneração Fixa, Remuneração Variável, Remuneração Variável de Longo Prazo (em que o banco concede ações a determinados empregados). Dependendo do nível hierárquico, disponibilizam-se os três modelos. Para níveis abaixo de Diretoria, só Remuneração Fixa e Remuneração Variável. Nota-se que o controle do pagamento de remuneração variável ficou mais severo após a crise imobiliária em 2008, ou seja, a legislação no Brasil passou a obrigar o banco a reportar esse tipo de pagamento. Então, os bancos começaram a fazer deferimento de ações, isto é, pagar em ações vinculadas ao resultado de longo prazo (essa modalidade de pagamento variável é exclusiva para o nível de Diretoria para cima). Há duas formas de Remuneração Variável: a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) que é atrelada ao lucro líquido do banco e negociada com o sindicato a cada convenção coletiva; a outra forma é: para área comercial é atrelada à produção, ou seja, há metas mensais individuais e coletivas de vendas de produtos, de atendimento, etc. e para área administrativa há um bônus anual, que também está atrelado ao resultado do banco, mas leva em consideração o quanto está direcionado para cada área contribuir com esse resultado. Porém, nesse caso, há subjetividade na avaliação do gestor, o que pode gerar certo desconforto no valor dessa remuneração. 90 Na fusão com o Banespa houve necessidade de se desenvolver um plano de ajuste de remuneração dos empregados, que durou três anos para se concluir, pois havia diversas faixas de remuneração para o mesmo cargo, muito diferente da praticada pelo Santander. Houve inclusive planos de demissão exigidos pelo próprio Banespa, por haver condições muito diferentes de salários, principalmente por se tratar de um banco estatal. Um exemplo era o plano de previdência que complementava o salário dos funcionários desse banco. Muitos desses estavam em tempo de aposentadoria e, até para incentivar sua saída, foi desenvolvido o plano de demissão voluntária. Já com a fusão com o ABN Amro Real, essa política manteve-se praticamente inalterada, havendo apenas equalização salarial em alguns casos, como podemos identificar mediante o discurso abaixo: “Houve uma comparação entre os bancos Santander e Real. Eram bancos apartados, com políticas apartadas, que concorriam entre si. Mas depois a gente sentou na mesa para ver como eram as políticas de remuneração, as tabelas de pagamento, e era tudo muito parecido […] com o Real, praticamente não houve nenhuma demissão em função desse processo. Nada fora de uma reestruturação normal, de ter que desligar alguma área, algumas pessoas. Nenhum movimento de demissões, como foi anteriormente.” No Banco do Brasil, de acordo com o edital do processo seletivo, a remuneração inicial oferecida corresponde a R$ 1.132,80 para uma jornada de trabalho de 30 horas semanais. Ao vencimento básico, é acrescida uma gratificação semestral, paga mensalmente, e que eleva o salário para R$ 1.413,10. A política de remuneração básica era muito parecida entre a Nossa Caixa e o Banco do Brasil. Há pagamento referente à participação nos lucros e resultados, tendo uma parcela paga todo semestre, ao contrário das empresas que costumam efetuar o pagamento uma única vez ao ano. No caso do BB, o valor pago é muito maior do que era na NC, pois é vinculado à performance do banco, e como o banco vem dando resultados excepcionais, é muito comum o funcionário receber seis, sete 91 salários adicionais. Em alguns casos avalia-se a performance individual também. No caso das agências tem uma espécie de Balance Scorecard, um painel de resultados, capturando a performance da agência, amarrando com a performance individual, dando remuneração variável. 4.4.7. Sobre a política de incentivos/benefícios: No Banco Santander há algumas campanhas pontuais de vendas, que acontecem raramente, dependendo muito do cenário e da necessidade de alavancar um determinado produto, fazendo parte da estratégia específica do produto e não da política de remuneração do banco. Os benefícios oferecidos aos empregados garantidos pela convenção coletiva são: benefícios de refeição, alimentação, transporte, assistência médica, odontológica, previdência privada, academia, etc. É padrão para todos os bancos. Raros há que não cumprem exatamente o que está estabelecido com o sindicato, ou seja, que pagam um pouco mais, porque no mínimo tem que cumprir o estabelecido, como se pode verificar no discurso abaixo: “Sempre se olha o mercado, e analisa o quanto sobe, o quanto desce, o quanto a gente ganha ou o quanto a gente perde com o que estamos oferecendo, não estando além do que deveria, nem perdendo […] mantendo a competitividade em retenção e atração dos funcionários.” Os benefícios foram alinhados após a fusão e seguiu-se o mesmo conceito que o banco fez para os seus produtos e serviços, isto é, ter o melhor dos dois bancos. No Banco do Brasil há benefícios como auxílio-creche, vale-refeição, cesta alimentação, participação em programas de assistência social e até uma 13ª cesta alimentação, que chega junto com o 13º salário no final do ano, tendo direito também de se ausentar do trabalho cinco vezes ao ano e ter essas faltas abonadas. Há também demais benefícios importantes, como descritos no discurso abaixo: “Tem o plano de previdência do banco – Previ – no qual o pessoal mais antigo não paga nada faz anos. Foram aplicando tanto dinheiro 92 e ganhando tanto dinheiro, que já não paga nada há muitos anos. Tinha também benefícios de cursos universitários. No BB há a possibilidade de carreira no exterior. Para os jovens isso é muito interessante. Se ele tiver outro idioma, e tiver um bom relacionamento, pode ir para outro país. Ele acaba olhando esses benefícios indiretos. Ele tem uma certa tranquilidade, que não vai ser demitido, pode ter MBA pago, ter curso de inglês pago, ter certificações, e também possibilidade de ir para o exterior. Já na Nossa Caixa tinha menos benefícios, não tinha possibilidade de ir para o exterior, por exemplo. A NC começou a mudar isso muito tardiamente, mas também por uma questão de cultura. O funcionário da NC vestia muito a camisa, mas não era preocupado com carreira, em crescer no emprego.” 4.4.8. Sobre a relação com o sindicato: No Banco Santander pode-se perceber que os primeiros anos após a fusão com o Banespa foram de conflito e confronto, até por conta da proximidade com o sindicato e do número dos sindicalizados que faziam parte da organização. Durante muitos anos o sindicato atuou fortemente, fechando as portas do banco, não deixando os funcionários entrarem para o trabalho. Nos últimos anos é que, devido a vários acordos que foram realizados, houve uma diminuição do embate. A negociação não foi tão simples, pois havia negociação da coletividade, porém com acordos específicos para o Santander, como não demitir, pagar algum benefício complementar, etc. Após o processo de fusão, houve um programa de demissão voluntária, pelo qual o banco pagava determinado número de salários de acordo com o tempo de casa do empregado, mantinha assistência médica e pagava programas de outplacement (recolocação no mercado de trabalho). Nessa última fusão, foi um processo mais organizado. Houve uma fusão praticamente ao mesmo tempo em que o ABN Amro Real estava fazendo com o Santander, quando o Itaú também unificou com o Unibanco. Então, o sindicato já estava mais familiarizado com essa situação. Quando não há um volume muito alto de demissões, o sindicato não tem muito poder de atuação. Porém, o sindicato passa a se tornar um pouco fragilizado com isso, pois com um número maior de bancos, acaba tendo uma menor força na negociação, ou seja, 93 é mais difícil de impor uma condição de trabalho desejada. Por isso, ao longo do tempo o sindicato vinha exigindo dos bancos uma maior proximidade, criando-se agendas com mesas temáticas para colocar em discussão os temas de interesse de ambas as partes (empresa e empregados) e tornar mais visível para os sindicatos a linha de atuação dos bancos. No sistema financeiro, a presença do sindicato é mais evidenciada na época de campanha salarial, ou seja, uma presença não tão próxima no restante dos dias. Mesmo com as notícias que saem nos jornais sobre assédio moral, nada é feito para defender os interesses do funcionário, como, por exemplo, reivindicando metas menos abusivas. A importância do sindicato se dá para os empregados principalmente pela negociação sobre a remuneração variável, de acordo com o discurso abaixo: “Acho que a única coisa que difere esse sindicato dos demais é que é um sindicato forte, quando eles resolvem fazer paralisação, fazer greve, eles vão pra cima e vão mesmo! Essa última campanha salarial, que foi no final do ano passado, nós da instituição tivemos diversos problemas no pagamento de PLR, porque o banco tinha maquiado o balanço. Comprou o Real, e aí não deu lucro, então nós acabamos não tendo o teto da PLR 2 anos seguidos. Só nesse último ano o sindicato finalmente conseguiu e o teto foram 2,2 salários de PLR.” Para os funcionários do Banco do Brasil há um entendimento que as pessoas que representam o sindicato não são pessoas que estão preparadas, que não estão qualificadas. E aquelas que estão na linha de frente do sindicato, que visitam as agências, são vistas como pessoas que não querem trabalhar: “É mal visto, porque não quer trabalhar, e vem trazer alguns tipos de reivindicação, no dia a dia, de coisas totalmente desconexas, sem importância, não preocupadas com o bem-estar total da categoria, ou com o futuro da categoria em si. Eles vêm trazer algumas questões de uma forma muito agressiva e até mesmo prepotente, arrogante. Então, na hora que chega pra conversar com o gestor, eles colocam 94 algumas questões desnecessárias […] no sindicato, especificamente essa semana, aconteceu uma situação interessante. Foram reclamar porque não queriam que os funcionários da Nossa Caixa fossem obrigados a fazer o mínimo de 100 autenticações por dia,sendo que os funcionários do Banco do Brasil, que estão há mais tempo lá, fazem uma média de 300 a 400. […] Nós já passamos um ano de transição, então já foi um período de adaptação. Então andou criando atrito essa semana. Então você não pode bater de frente com eles, você tem que procurar conciliar e mostrar pra quem está representando o sindicato, o que você tem feito. É uma questão de habilidade no tratamento com eles.” Em outro depoimento é possível verificar a atuação do sindicato no processo de fusão: “O sindicato apoiou o processo, porque eles tinham medo que o comprador fosse o Santander, que já tinha todo aquele histórico do Banespa. Então acharam que era mais vantajoso ser o BB. Acabaram apostando um pouco nisso. Vários políticos, na época da fusão entre os dois bancos, eram do BB. Então esse pessoal tem uma relação intrínseca com o poder. E usavam esse canal para negociar, então as negociações se davam nas instâncias governamentais […] e como só houve demissões voluntárias, o discurso do sindicato era: pessoal da Nossa Caixa, eu garanti que ninguém ia perder o emprego. Sei que está difícil, mas pelo menos isso eu garanti.” 4.4.9. Sobre a rotatividade: No Banco Santander é possível afirmar que são elevados em torno de 12% dos funcionários. Desse percentual, aproximadamente 50% são voluntários, e as razões colhidas por amostragem nas entrevistas de desligamentos relatam que ainda há insegurança sobre o futuro (instabilidade), em função de o banco ter uma política comercial agressiva, de cobrança por resultado. A carga de trabalho nas agências ficou maior após o processo de fusão. Antes havia uma pessoa para 95 desenvolver uma determinada atividade e outro funcionário que conferia. Atualmente, a mesma pessoa faz e tem que conferir. E isso reflete diretamente nas relações pessoais, pois o empregado fica mais nervoso, mais estressado. E deve-se levar em conta que agora as pessoas têm que cumprir obrigatoriamente a jornada de trabalho, não existindo mais possibilidade nenhuma de fazer hora extra no banco. Isso acaba gerando estresse dentro da organização, como se pode verificar abaixo: “Tinha bastante estresse, tanto na administração central, quanto na rede de agências. Não foi o meu caso, fiquei lá muitos anos e tenho um perfil meio „rapidinho‟ de resolver as coisas. Gosto das coisas dinâmicas. Era um banco que não trabalhava com horas de planejamento, não era um banco que não pensava muito antes de fazer, ele pensava fazendo, pensava fazendo. Então, para muita gente, soava uma certa desorganização. Mas era o modo de o banco espanhol funcionar e acabava saindo na frente de outros bancos na questão inovação.” No Banco do Brasil, a rotatividade é baixa. Apesar de também ter metas muito agressivas. O mercado de banco passou a ser considerado commodity, pois o produto que há em um banco, existe em todos os outros. E a escolha do cliente recai sobre atributos que não são facilmente vendáveis, como o atendimento, o relacionamento, etc. E isso criou uma condição de trabalho no banco muito difícil. O nível de absenteísmo por estresse atualmente é altíssimo. No caso do BB, se o funcionário não atingir a meta ele é “descomissionado”, ou seja, tem seu cargo e salário diminuídos, significando uma perda salarial absurda. Muito tem se desenvolvido para contornar essa situação, como fica claro no discurso do depoente a seguir: “Quando o banco perdeu a famosa conta movimento há anos atrás e os funcionários começaram a ser cobrados sobre resultados e venda de produto, eu lembro que o índice de suicídio de funcionários do banco cresceu assustadoramente. Doença mental, muitos casos. E nos últimos tempos, a gente tem visto uma redução significativa nesse sentido. Há dez anos o número de funcionários afastados por 96 depressão era uma coisa assustadora. Agora, nos últimos três anos, se houve, foi um ou dois casos. […] A questão da redução da jornada de trabalho […] e o programa de qualidade de vida no trabalho tem ajudado bastante. […] Por exemplo, aqui na agência para qualidade de vida, eles (os funcionários) preferiram que fosse feito ginástica laboral a cada 15 dias e quick massage a cada 15 dias também, alternando. Tem agências que pegam uma parte dessa verba e compra frutas, que ficam disponível na copa. Ou senão contrata alguém para dar palestra, um profissional da área. Isso tem ajudado bastante.” Finalmente, quanto ao suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências, no Santander foi verificado que há um investimento em tecnologia, desenvolvendo um portal na intranet específico de RH para os funcionários (desde o caixa da agência, até um executivo na área administrativa) se relacionarem, ou seja, possibilitando fazer sua própria gestão de forma automática, como seu desenvolvimento, seu treinamento, agendamento de férias, candidatar às vagas abertas, permite também ao gestor fazer todo o processo de promoção, avaliação, etc. Isso dá maior autonomia para os gestores. É o autoatendimento do cliente interno. Mesmo o banco se mostrando avançado também em termos dos modelos de gestão de pessoas adotados, não é possível colocá-los em prática nas agências, ou seja, os gerentes têm os programas, mas não conseguem no dia a dia implantar e ter as iniciativas desejadas, pois têm os clientes para atender e as metas para atingir. Apesar de terem os empregados como agentes da estratégia, eles mesmos são quem tem que vender os produtos e serviços. É possível notar nos discursos de gerentes de agências que é sentida uma ausência da área de RH e um certo distanciamento de suas políticas. A área de RH não teve uma presença efetiva no processo de fusão e aquisição e é mais notada pelos serviços de avaliação e apoio, enquanto o gestor direto preza pela produtividade e resultado. Após a fusão, mediante as entrevistas, pôde-se perceber uma relativa melhora, ou seja, adoção de algumas políticas que eram utilizadas no ABN Amro Real, mas que não eram utilizadas originalmente no Santander, favorecendo os 97 funcionários. Atualmente também se pode verificar um plano de carreira com mais clareza no banco, bem como a incorporação de novos benefícios. Porém, acreditase que pode haver melhorias, porque ainda existem duas culturas que estão se “acomodando”, e, portanto, existem expectativas diferentes. Quanto ao suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências, no Banco do Brasil foi verificado que há um investimento em tecnologia, mediante um sistema chamado de Radar, no qual são elencados vários atributos, como clima organizacional, satisfação dos clientes, nível de inadimplência, reclamações, etc. das agências. Depois é feito um cruzamento com a média de todas as agências da mesma região. Para todos os itens que têm desvios-padrão em relação a essa média geral são desenvolvidas análises cruzadas para se verificar o que está ocorrendo e atuar em cima disso. Porém, esse sistema funciona muito em São Paulo, mas em outros Estados não, ou seja, é parcial, não ocorrendo no País inteiro. O papel do RH é visto como positivo, mas também é difuso, com particularidades ocorrendo somente em São Paulo, deixando a desejar em outros Estados. 4.5. Síntese do capítulo Nesse capítulo ocorreu a análise de conteúdo de todas as entrevistas transcritas. Inicialmente foi realizada uma primeira análise do perfil dos respondentes e, após, foram realizadas as análises dos discursos dos profissionais, tendo como referência os processos da área de recursos humanos. Assim, os conteúdos foram analisados e correlacionados com o referencial teórico. A seguir, nas conclusões, realiza-se um aprofundamento dos estudos, mediante a análise de conteúdo de todas as entrevistas transcritas, de forma correlacionada com o referencial teórico dos capítulos anteriores. 98 CONCLUSÕES O objetivo central desta pesquisa foi investigar o impacto provocado nos procedimentos de recursos humanos utilizados no Banco Santander e no Banco do Brasil, pelo processo de fusão e aquisição ocorrido nesses estabelecimentos. Acredita-se que os conceitos de transformações organizacionais, evolução dos modelos de recursos humanos, foram amplamente discutidos e apresentados sob várias perspectivas e diversos autores, o que pareceu ser forma adequada para compreender, explicar e dar significado aos fatos estudados, cumprindo assim um objetivo específico, que era de realizar uma revisão da literatura sobre o assunto. De uma maneira ampla, verificou-se que o olhar do trabalho e das pessoas em suas trajetórias profissionais no sistema financeiro é mais conformista e adaptável às mudanças. Na perspectiva das pessoas entrevistadas e de acordo com a sua posição profissional, idade e renda, foram detectadas diversas concepções: favoráveis e desfavoráveis aos processos de reestruturação; alguns veem as mudanças como oportunidade para o desenvolvimento e crescimento profissionais, e outros, como ameaça; raras são as sinalizações para o que seria um processo diferente de inovação organizacional nos bancos, com maior legitimidade social e coletiva. Teve-se também como objetivo específico compreender a evolução do sistema financeiro nacional, seu papel na sociedade, mediante sua forma de gestão e seus impactos nos trabalhadores, bem como a relação com os sindicatos. Nesse aspecto, constatou-se que, conforme citado anteriormente, por um lado houve a redefinição de estratégias de mercado mas, por outro lado, houve a adoção de novas técnicas de gestão da mão de obra. Também se visou analisar as características do setor bancário, mediante pesquisa desenvolvida pelo DIEESE, baseado em algumas questões críticas, principalmente relacionadas à alta rotatividade dos bancários com pouco tempo de empresa. O terceiro e último objetivo específico foi analisar a política de recursos humanos do Banco Santander e o Banco do Brasil, mediante entrevistas com gestores de agências/unidades de negócios e também com profissionais da área, buscando conhecer como são os processos de RH e avaliar os impactos dessas mudanças organizacionais na gestão de pessoas, se aproximando, dessa forma, do estudo de casos múltiplos comparativos. Em termos gerais, em relação ao 99 Santander, o que se percebe é que, apesar da diferença de cultura entre o Banespa e o Banco Santander, tecnicamente para fazer a fusão foi mais simples do que a fusão com o Banco ABN Amro Real, porque a decisão da organização espanhola fora de assumir o Banespa, utilizando as regras e todos os sistemas que o Santander já tinha, que eram todos mais evoluídos. Já na fusão com o ABN Amro Real, houve uma decisão de comparar as rotinas de ambos os bancos em todos os setores, e decidir qual das duas prevaleceria, o que seria melhor para o negócio, ou seja, utilizando-se um pouco das experiências dos dois grupos de profissionais. Esse processo, portanto, foi um pouco mais demorado. Em termos de RH, prevaleceu como política a do Santander, mas quanto à prática (a forma de atuação dos profissionais), preponderou a do Real, que é reconhecida como mais flexível e que tornou um pouco mais dinâmica a gestão das pessoas. O Santander era considerado mais austero, mais regulado, mais focado. Já o ABN Amro Real era um banco de relacionamento, que não tinha tanta burocracia, que dava uma autonomia maior para o funcionário na agência. A fusão também abrandou um pouco essa visão mais burocrática do Santander, que internamente trouxe muitos ganhos. As fusões, em termos de negócio, foram muito boas para o banco Santander, principalmente a compra do Banespa. Para os funcionários, no caso do Banespa, o ponto negativo foi o número muito elevado de demissões, e o ponto positivo seria o aumento de oportunidades internas, em função da grande quantidade de pessoas que saíram. No caso do ABN Amro Real, a diversidade trazida pelas duas culturas é muito boa para o negócio e para o funcionário. Aumentaram as oportunidades e enriqueceu essa relação dentro da própria empresa. Ao invés de piorar o clima, houve um enriquecimento, porque as pessoas que eram pares em bancos distintos estão agora trabalhando em conjunto, complementando um ao outro. Raros foram os negócios que tiveram que se reduzir. Os gestores do Banco Santander acreditam que esta aquisição ofereceu oportunidades significativas para a criação de sinergias operacionais, comerciais e tecnológicas, por meio da preservação das melhores práticas de cada banco. Porém, também trouxe impactos sobre o emprego, mediante programas de adiantamento de aposentadorias ou desligamentos voluntários, à semelhança do que havia acontecido com os funcionários do Banespa. E, para os empregados que 100 ficaram, houve um aumento de pressão para crescimento nas vendas de produtos e serviços, com a definição de metas diárias e individuais, com o objetivo de se adequar à nova estrutura de custos e enfoque na nova estratégia de atuação. As metas são estabelecidas na presidência do grupo, instalada na Espanha. A partir daí, essas metas são divididas globalmente, até que haja uma distribuição nacional interna, para que cheguem às agências. Em termos gerais, em relação ao Banco do Brasil, nota-se que o banco está mais agressivo hoje do que foi no passado, com sua lógica predominantemente mercantil, principalmente nas agências. Essa instituição financeira fora considerada por várias décadas como símbolo de identidade nacional e sinônimo de segurança e ascensão profissional para os seus funcionários. O plano de reestruturação do BB, que tinha por objetivos a redução de custo e a melhoria de resultados, para torná-lo mais competitivo, tinha claras motivações de modernização, alterando a missão do banco. De uma instituição que tinha como metas a concretização de objetivos sociais e a promoção do desenvolvimento nacional, ela passou a atuar nos moldes de uma organização privada, voltada para o lucro. A incorporação da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil trouxe muitas mudanças para os funcionários dos dois bancos, principalmente aos da instituição adquirida. Apesar disso, todos parecem ter gostado dos novos serviços e considerado que estes ajudaram no trabalho de oferecer o melhor para os clientes, pois apresentavam melhores condições que aqueles que a NC oferecia. Já os treinamentos não agradaram a todos, pois, como foram oferecidos muitos novos produtos, o tempo de preparo e a sua forma não foram avaliados positivamente. A incorporação ao Banco do Brasil foi uma boa negociação em geral para os funcionários da Nossa Caixa, já que o banco precisava crescer no Estado de São Paulo, sua principal área de atuação, podendo manter muitos empregos, algo que um banco privado em fase de consolidação muito provavelmente não manteria. Para o governo federal foi importante também manter o BB como o maior banco do País, e para o governo estadual foi uma excelente maneira de arrecadar fundos para outras obras públicas, já que o governo estadual pouco investia na NC e com isso acabava perdendo mercado para a concorrência. Em ambos os bancos percebe-se que há políticas de recursos humanos bem desenvolvidas, mas não há sua aplicação na prática. O foco é cumprir as metas 101 estabelecidas, não importa de qual forma. Dessa maneira, as melhores práticas de recursos humanos acabam sendo deixadas de lado. Deve-se comentar também que, durante o desenvolvimento desse trabalho, os bancários em geral entraram em greve, após a quinta rodada de negociações com a Federação Nacional de Bancos (Fenaban). A proposta patronal contemplava reajuste de 8% sobre os salários, o que representava aumento real de 0,56%, segundo o Comando Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (ContrafCUT). A reivindicação inicial da categoria era de 12,8% de reajuste, sendo 5% de aumento real. Os bancários pediam, ainda, valorização do piso, maior Participação nos Lucros e Resultados (PLR), mais contratações, fim da rotatividade, melhoria do atendimento aos clientes, fim das metas abusivas e do assédio moral, mais segurança e igualdade de oportunidades. A greve dos bancários completou mais de duas semanas e fechou 9.254 agências e centros administrativos de bancos públicos e privados em todo o País, segundo balanço da Contraf. O número equivale a 46,1% dos 20.073 estabelecimentos. Dezessete dias depois, a Fenaban e os representantes da Contraf chegaram a um acordo para encerrá-la. Segundo o presidente da Contraf, a Fenaban apresentou proposta de 9% de reajuste sobre salários, retroativos a 1º de setembro, e 12% de reajuste no piso da categoria, que passa de R$ 1.250 para R$ 1.400 para a função de escriturário. Também houve avanço na discussão sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR). A partir de agora, cada trabalhador poderá receber até 2,2 salários mais R$ 2.800 por ano (contra 2,2 salários mais R$ 2.400). Este foi um processo de negociação bastante longo, mas que teve um acordo entre as partes, construído na mesa de negociação, o que pode demonstrar uma melhoria e uma evolução nesse processo e, consequentemente, no papel da área de recursos humanos, que parece estar querendo resolver os conflitos inerentes ao trabalho no sistema financeiro. Os sindicatos em geral poderão ter posturas diferentes daqui a alguns anos, porque as relações de trabalho estão mudando: houve uma época em que havia helicópteros para os empregados subirem nos prédios, só que isso vai mudar, o funcionário vai trabalhar de casa, com modem, o que indica que o sindicalismo vai ter de se adaptar a isso também. 102 Ressaltam-se algumas limitações da presente dissertação. O estudo exploratório baseou-se em apenas duas empresas, mas se tentou desenvolver o tema de transformações organizacionais e gestão de pessoas no setor financeiro e como estão estruturadas suas práticas e políticas de recursos humanos, assim quaisquer generalizações devem ser cautelosas. Portanto, as investigações futuras poderão ampliar o número de empresas e também investigar o futuro do trabalho nos bancos. Uma das questões percebidas durante as entrevistas no presente trabalho é a permanência das contradições sociais e das ambiguidades no futuro do trabalho nos bancos, que está condicionado pelo avanço da tecnologia. Daqui a alguns anos, acredita-se que as pessoas vão cada vez menos procurar no banco um local de desenvolvimento profissional. Hoje as soluções estão automatizadas, então a sensação que se tem é que o número de agências vai diminuir e que o papel do gerente de relacionamento não vai ser mais de relacionamento, vai ser gerente de negócios, buscando negócios fora do banco e apenas isso. O relacionamento aparentemente será todo automatizado. E o próprio cliente vai ser praticamente autossuficiente, sem precisar da agência. Então a tendência seria dos bancos, de uma forma geral, terem cada vez mais agências com pequeno número de funcionários, com menos clientes, mas mais próximas destes, agências estas mais espalhadas nos bairros, em shopping centers, etc. A profissão vai exigir cada vez mais um nível de especialização mais adequada, porque a população está mais exigente em relação a isso. Espera-se que essa pesquisa possa contribuir com o aprimoramento da compreensão das transformações organizacionais e gestão de pessoas no setor financeiro, podendo colaborar para o desenvolvimento desse segmento, mediante resolução do conflito entre o papel social e o papel capital no interior dessas empresas. 103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, Lindolfo. A Gestão Estratégica de Pessoas. In: FLEURY, Maria Tereza Leme (Org.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. __________; SILVA, Leliane; CORREIA, Monica. Utilizando o Balanced Scorecard para uma atuação estratégica de Recursos Humanos. In: Gestão de Pessoas: práticas modernas e transformações nas organizações. São Paulo: Atlas, 2010. ARAUJO, Luis. Gestão de Pessoas: estratégias e integração organizacional. São Paulo: Atlas, 2006. BANCO CENTRAL DO BRASIL. 50 maiores bancos e o consolidado do sistema financeiro nacional. Disponível em: <www.bcb.gov.br>. Acesso em: mai. 2011. __________. 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A agência tem autonomia para tomar decisões? Houve mudanças nesse aspecto? 4) Fale um pouco sobre os treinamentos realizados no banco. Houve uma preparação para as mudanças ocorridas? 5) Qual sua perspectiva de carreira no banco? Atualmente a sua possibilidade de desenvolvimento profissional é maior ou menor, após o processo de fusão/aquisição? 6) Fale um pouco sobre a política de remuneração no banco. Houve mudança na sua faixa salarial, ou na sua remuneração variável, após o processo de fusão/aquisição? 7) Fale um pouco sobre a política de incentivos/benefícios no banco. Houve mudança na forma de reconhecimento do seu trabalho, após o processo de fusão/aquisição? 8) Qual relação atual do banco com os sindicatos? Houve mudanças? 2 9) Na sua visão, as políticas de RH ajudam na solução de conflitos/problemas? Elas melhoram as condições de trabalho dentro da agência? 10) Qual a sua visão sobre o departamento de Recursos Humanos sobre as mudanças ocorridas? Você está satisfeito com o suporte oferecido? Anexo 2: Abaixo o roteiro de entrevistas utilizado para os profissionais da área de recursos humanos: Dados pessoais e profissionais do respondente: Idade Escolaridade Formação Sindicalizado? Tempo de empresa Cargo atual Número de funcionários sob sua supervisão (caso tenha cargo de liderança) 1) Como está organizado o departamento de Recursos Humanos atual do banco? Quais são as estratégias adotadas para a gestão de pessoas? 2) Fale um pouco sobre a forma de contratação no banco. Houve mudança na política de recrutamento e seleção, após o processo de fusão/aquisição? 3) Fale um pouco sobre os treinamentos realizados no banco. Houve uma preparação para as mudanças ocorridas? 4) Qual o plano de carreira para os empregados do banco? Atualmente a possibilidade de desenvolvimento profissional é maior ou menor, após o processo de fusão/aquisição? 5) Fale um pouco sobre a política de remuneração no banco. Houve mudança nas faixas salariais, ou na remuneração variável, após o processo de fusão/aquisição? 6) Fale um pouco sobre a política de incentivos/benefícios no banco. Houve mudança na forma de reconhecimento do trabalho dos empregados, após o processo de fusão/aquisição? 3 7) Qual relação atual do banco com os sindicatos? Houve mudanças nesse aspecto? 8) Qual o grau de rotatividade dentro do banco atualmente? Por que os empregados resolvem deixar a companhia? 9) Na sua visão, quais são os principais problemas nas condições de trabalho no banco? 10) Como você avalia o suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências (áreas comerciais)? Entrevistas realizadas: Respondente 1: 1) Como está organizado o departamento de Recursos Humanos atual do banco? Quais são as estratégias adotadas para a gestão de pessoas? Resposta: No meu departamento eu cuidava da gestão de jovens de alto potencial, então eu tinha uma certa autonomia, eu tinha um budget anual de 1 milhão de reais para gerir e dentro disso eu tinha uma certa independência para atuar. Eu só não podia contratar ou demitir funcionários. Eu precisava do aval do meu superintendente. Para as demais atividades eu mesma assinava as contratações de consultoria e todo o andamento do departamento. Acima de mim havia o Superintendente e acima dele o Vice-Presidente de RH, e posteriormente, o Presidente do banco. Uma outra definição ou orientação estratégica, eu acaba envolvendo meu chefe. Porque, apesar de eu ter cargo de especialista, tinha cargo de gestora, ou seja, autorizava férias, assinava o ponto eletrônico dos meus funcionários, etc. 2) Fale um pouco sobre a forma de contratação no banco. Houve mudança na política de recrutamento e seleção, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: A política era via departamento de Recrutamento e Seleção, mesmo se fosse uma indicação, obrigatoriamente tinha que passar pelo RH. Se fosse cargo até o nível de Coordenação tinha que ter 3 aprovações de gestores para ingressar no banco e nível de Gerência pra cima, tinha que ter 5 aprovações de gestores de áreas distintas. Se uma dessas pessoas não concordasse com essa contratação, essa pessoa não seria contratada. Precisaria pelo menos cursando nível superior e para algumas posições mais importantes, nível superior completo. Na área de jovens de alto potencial o recrutamento era via consultoria. A gente participava do processo como um todo, mas era a consultoria que apresentava os candidatos e nos apoiava em todas as etapas do processo. Isso vale pros programas de trainee, e MBA internacional (summer job). Para os outros programas de carreira interna, era processo interno e era 100% desenvolvido pela minha equipe. Os profissionais que vinham do mercado era via consultoria a parte de recrutamento e os programas de carreira interna era desenvolvido pela nossa área. A política sempre foi a mesma, baseado no Santander. 3) Fale um pouco sobre os treinamentos realizados no banco. Houve uma preparação para as mudanças ocorridas? Resposta: Havia treinamento. Uma parte desses treinamentos era online, ensino a distância (para todos os funcionários), e parte era feito sob demanda das áreas, mas não era para todos. Os EADs a pessoa podia escolher o que queria fazer, os outros treinamentos (presenciais) eram definidos por avaliação e baseado no orçamento anual. Era para poucos e geralmente era para quem tinha avaliação acima da média. Para o processo de mudança não houve treinamentos, houve algumas frentes de trabalho. Na área de RH havia reuniões envolvendo profissionais tanto do Santander, quanto do Real para definir e mapear todos os processos de RH, como funcionava em cada um dos bancos, e o terceiro tripé era levantar as boas práticas do mercado para esse grupo definir a nova forma de existir do banco, que não seria nem Real, nem Santander, seria uma terceira forma. Mas o real aprendizado era no dia-a-dia. 4) Qual o plano de carreira para os empregados do banco? Atualmente a possibilidade de desenvolvimento profissional é maior ou menor, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Sempre teve um processo de recrutamento interno do banco chamado Carreira, em que as vagas eram disponibilizadas na intranet, e que o empregado podia se candidatar com o aval do gestor, sempre. Por outro lado, havia o chamado relacionamento, se você conhecesse as pessoas, ficaria sabendo das vagas. No geral tinha sim um plano de carreira, para o crescimento do empregado. O critério para participar era ter boa avaliação e pelo menos 1 ano de casa. Caso o gestor barrasse, entrava em cena a figura do consultor de RH, para mediar essa situação. 5) Fale um pouco sobre a política de remuneração no banco. Houve mudança nas faixas salariais, ou na remuneração variável, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Há duas formas de remuneração variável. O PLR que é atrelado ao lucro líquido do banco e é definido pelo sindicato. A outra forma é, para área comercial era atrelado à produção. Tinham as metas mensais de vendas de produtos, de atendimento...uma série de indicadores que as pessoas tinham que fazer. Eram metas individuais e de grupo. E dependendo do que a pessoa atingisse, tinha um percentual de remuneração em dinheiro, trimestralmente. Para área administrativa tinha um bônus anual, que também estava atrelado ao resultado do banco e o quanto tava direcionado para cada área contribuir. Mas tinha muita subjetividade na avaliação do gestor, o que podia gerar estresse. O Santander sempre deu resultado acima da média. 6) Fale um pouco sobre a política de incentivos/benefícios no banco. Houve mudança na forma de reconhecimento do trabalho dos empregados, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Tinha benefícios obrigatórios do sindicato, que eram vale refeição, vale alimentação, tinha uma excelente assistência médica, com 7 tipos de plano, relacionado ao cargo da pessoa, tinha assistência odontológica. A empresa oferecia academia, etc. Premiação, na rede de agência, havia recompensa como viagens. Fora isso , não havia outro tipo de recompensa não financeira. 7) Qual relação atual do banco com os sindicatos? Houve mudanças nesse aspecto? Resposta: Nos primeiros anos após a fusão com o Banespa, de muito conflito e confronto. Durante muitos anos o sindicato pegou muito pesado, de fechar as portas, não deixar os funcionários entrarem. Nos últimos anos é que, devido vários acordos que foram realizados, a coisa melhorou um pouco. A negociação não era tão simples, havia a negociação da coletividade e acordos específicos para o Santander, para não demitir, para pagar algum benefício complementar, etc. Após o processo houve um programa de demissão involuntário, mas o banco dava “x” salários de acordo com o tempo de casa, de manter assistência médica, de pagar um programa de outplacement. Dessa fez foi um processo muito mais organizado. Um programa que durava em torno de 6 meses. 8) Qual o grau de rotatividade dentro do banco atualmente? Por que os empregados resolvem deixar a companhia? Resposta: Elevadíssima. Em torno de 10%. Acho que o banco tinha uma política comercial muito agressiva. De muita cobrança. Era um banco muito ágil, muito veloz e acho que muita gente acabava não se adaptando com isso. Era muita cobrança por resultado. Metas bastante agressivas. Tinha bastante estresse, tanto na administração central, quanto na rede de agências. Não foi o meu caso, fiquei lá 7 anos e tenho um perfil meio rapidinho de resolver as coisas. Gosto das coisas dinâmicas. E era um banco que não trabalhava com horas de planejamento, não era um banco que não pensava muito antes de fazer, ele pensava fazendo, pensava fazendo. Então, para muita gente, soava uma certa desorganização. Mas era o modo do banco espanhol funcionar e acabava saindo na frente de outros bancos na questão inovação. 9) Na sua visão, quais são os principais problemas nas condições de trabalho no banco? Resposta: Eu acho que tinha muita panelinha no banco, ou seja, se eu fosse amiga do rei, estava bem, se não fosse, estava mal. Apesar de ser normal, isso acontecia de uma forma muito forte no banco. E um pouco de falta de respeito de alguns gestores, que agiam de forma muito dura. O resultado era obtido a qualquer custo. Depende do gestor, mas eu via tanto gestor como colchão, que sabiam filtrar a pressão que tinham, e outros que não sabiam. Dentro do próprio RH tinha isso. O pior clima do banco era do RH...fizeram uma pesquisa e esse foi o resultado. Havia esforços de tentar mudar essa cultura, talvez porque o Santander é produto de 6 outros bancos. Isso acabava tendo uma competição muito forte, entre os próprios funcionários, de querer marcar seu território. E, quando eu achei que o Santander conseguiu atingir um nível de maturidade, para um patamar de qualidade de gestão e qualidade bacana, veio a compra do Real, e tudo começou a complicar de novo. Levou cerca de 5 anos de atingir um patamar bacana de trabalho, coleguismo, de gestão diferenciada e veio a compra do Real e acabou com isso, com todo mundo de novo tentando defender o seu território. Pelo menos 1/3 ou metade do público vai sair num processo desses. 10) Como você avalia o suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências (áreas comerciais)? Resposta: Então, eu acho assim. Antes da aquisição, o banco estava chegando nesse patamar de conseguir dar esse tipo de suporte. Porque teve tanta coisa pra resolver, que quando a gente tava chegando nesse patamar, de identificar quem eram os gestores, qual seria o processo sucessório, que tipo de desenvolvimento as pessoas teriam que ter, e em que tempo, veio a compra do Real e as coisas complicaram de novo. Eu acho que havia agências com superintendências regionais que tinham muita independência e maturidade na forma de gestão, porém algumas ainda não e dependiam muito do RH. Mas sempre havia um profissional de RH suportando as decisões de contração, demissão, etc. No banco, toda decisão de contratar e demitir não era exclusividade do gestor, tinha que subir um nível. Tinha uma sinergia grande com as áreas, como por exemplo, mapear todos os talentos da rede, no Brasil inteiro, para ver quem realmente tinha competências, quem tava preparada para receber alguma formação para ascender à novas posições. Isso depois de 5 anos, pós compra do Banespa. Depois da compra do Real, não sei como ficou. Mas havia preocupação do banco com os talentos. Como o presidente do Santander passou a ser o Fabio Barbosa, o RH também manteve a estratégia do Real, ou seja, ficou, na minha visão, muito engessado, muito burocratizado, tudo muito lento, comparando como era o Santander antes. A estratégia era de muito planejamento para tomada de ação, enquanto no Santander era praticamente simultâneos, o planejamento e a ação. O Santander, de modo geral, é uma boa empresa para se trabalhar, o ponto é que o RH precisa ter mais um pouco de cuidado com os estilos de liderança, principalmente dentro da área. Respondente 2: 1) Como está organizado o departamento de Recursos Humanos atual do banco? Quais são as estratégias adotadas para a gestão de pessoas? Resposta: Especificamente de Remuneração é tradicional. É uma estrutura bem tradicional, que se assemelha ao Itaú, Bradesco, HSBC, Citibank. É uma estrutura que cuida Remuneração Fixa, Remuneração Variável, Remuneração Variável de Longo Prazo, processos, políticas, estruturas de cargos, olhando para o mercado, é o padrão. E as outras áreas, a gente olha muito comparando com o mercado, principalmente remuneração, através de benchmarking, também não tem muita diferença do que pratica os outros bancos, é uma estrutura voltada para atender o cliente interno, através da presença dos consultores, que estão próximos dos clientes para desenvolver as práticas de RH. Eu vejo como uma estrutura sem muita inovação, sem muita mudança em relação ao mercado. Isso acontece depois de estabilizar depois de uma compra...é difícil começar a implementar mudanças radicais, sem organizar tudo. Na situação atual, e o Santander vem de várias compras, nunca chegou a inovar na atuação de recursos humanos. Busca isso, mas leva tempo. A compra muda a cultura, sempre trás mudanças. É um recomeço, porque sempre tem aquela questão: Como vai acontecer? Como vai funcionar? Vai ter mudança? E no último caso mudou bastante a questão da gestão, porque ficou bem mesclado. Porque quando foi a compra do Banespa, ficaram poucas pessoas do Banespa. Agora tem realmente, até para garantir que essa cultura seja mais miscigenada, que seja mais aproveitada, foi uma mudança grande. 2) Fale um pouco sobre a forma de contratação no banco. Houve mudança na política de recrutamento e seleção, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Continua da mesma forma. A busca de profissionais do mercado financeiro, que costuma se trocar muito entre as instituições, é muito parecido quando era só Santander. Também pela prática que a gente conheceu do Real, não era muito diferente. Primeiro é priorizado a oportunidade interna, no caso de evolução e de carreira, tendo uma ascensão interna. Quando não se encontra o profissional, se utilizam de consultorias que fazem o recrutamento. E como o mercado tá aquecido, há muita troca entre os bancos. Fora do sistema é muito difícil a adaptação. Quando é comercial mesmo, que atua na ponta, na agência, o importante é ter experiência e contato com o mercado. Geralmente se procura profissionais na concorrência e acaba inflacionando o mercado, e tem que pagar mais. Quando acontece muito o cara acaba fazendo um leilão. E quando acontece isso, tem que levantar a remuneração interna, porque senão acaba perdendo o profissional. Senão ninguém fica. Tem que estar sempre olhando o mercado. 3) Fale um pouco sobre os treinamentos realizados no banco. Houve uma preparação para as mudanças ocorridas? Resposta: Treinamento para a mudança não houve, a coisa foi acontecendo porque a atividade continua, tem que tocar o dia-a-dia e tem que fazer o processo de unificação. Essas diretrizes que o próprio movimento já gera, de certa forma, é um processo de treinamento, a descoberta de levantar um cenário e definir o que vai fazer com determinado processo. O ideal é quando é feito de uma forma tranqüila. E como as pessoas continuam o que estavam fazendo e isso não muda, é difícil ter que parar todo mundo para fazer um trabalho específico. Dependendo de cada gestão, acaba tendo workshops, trabalho, para planejar trabalho. Em termos de treinamento em geral, o banco investe muito nisso. Já foi referência em orçamento, em verba para desenvolvimento de pessoas, independente do segmento de atuação. Tem cursos a distância, utilizando e-learning e presenciais também. 4) Qual o plano de carreira para os empregados do banco? Atualmente a possibilidade de desenvolvimento profissional é maior ou menor, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Não mudou não. Essa prática também era do Real. Não existe um plano de carreira...olhando para o BB é uma carreira fechada, um processo bem diferente. Aqui a gente pratica a meritocracia. Todos os negócios têm uma carreira, que pode ser vencida de acordo com a oportunidade, com a vaga. Essas oportunidades internas, quando surge uma vaga, é um processo que a gente pratica. São divulgadas e as pessoas se candidatam, e se avalia o perfil. O volume de vagas que são aproveitadas internamente é muito grande, representando uma evolução na carreira. Uma das coisas que a gente tem priorizado é que seja preenchida por pessoas de fora da área, pode ser preenchida dentro da própria área, pois o gestor passa a ter conhecimento das pessoas que tem capacitação, tem interesse em participar, de iniciar negócios em na sua área, mesmo trabalhando em outra. A carreira é aberta. 5) Fale um pouco sobre a política de remuneração no banco. Houve mudança nas faixas salariais, ou na remuneração variável, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: O banco está bem alinhado com o mercado, quanto à isso. Pratica Remuneração Fixa, Remuneração Variável, Remuneração Variável de Longo Prazo (o banco concede ações), dependendo do nível hierárquico tem os três modelos, níveis mais abaixo só dois. Pra todos os níveis tem a possibilidade de remuneração fixa e variável. O controle do pagamento de variável ficou mais severo, após a crise de 2008, a legislação aqui no Brasil obriga o banco a reportar esse tipo de pagamento então os bancos começaram a fazer diferimento de ações, pagar em ações. Ações tá vinculado ao resultado, ou seja, vai buscar o resultado de longo prazo, para poder garantir as suas ações e receber em três anos. Essa modalidade de variável deve passar a ser prática também para níveis mais baixos. Os empregados têm metas individuais e coletivas também. Atingindo as metas, eles recebem. Nesse segmento é muito parecido. O PLR é negociado com o sindicato a cada convenção coletiva, que é feita com todos os bancos, em uma mesa de negociação, definindo o pagamento. Depende do resultado do banco, paga o que for negociado, o básico. Se esse resultado for maior, ele vai multiplicando até 2.2 salários...não passa disso. O índice negociado é praticado por todos os bancos. Até por ser muito próximo e até pra ratificar isso da proximidade, a gente comparou os bancos. Eram bancos apartados, com políticas apartadas, que concorriam entre si. Mas depois a gente sentou na mesa para ver como eram as políticas, as tabelas e era tudo muito parecido. Como o Banespa houve um plano que durou 3 anos de ajuste, que foi bem mais complicado, porque tinham várias faixas de remuneração bem grande, para o mesmo cargo. Houve inclusive planos de demissão forte, porque foi uma exigência do próprio Banespa, porque tinha condições diferentes, por se tratar de um banco estatal. Tem ainda um plano de previdência que complementa o salário. Muitos estavam em tempo de aposentadoria e, até para incentivas essa saída, foi desenvolvido o plano. Isso foi interesse do Santander, porque renovaria bastante aquele público. Com o Real, praticamente nenhuma demissão em função desse processo. Nada fora de uma reestruturação normal, de ter que desligar alguma área, algumas pessoas. Nenhum movimento de demissões como foi anteriormente. 6) Fale um pouco sobre a política de incentivos/benefícios no banco. Houve mudança na forma de reconhecimento do trabalho dos empregados, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: O Varejo até faz algumas campanhas, mas são pontuais. Relacionadas à metas, que são fora dos planos. Mas são campanhas que acontece uma por ano, quando acontece...depende muito de cenário, da necessidade de alavancar um determinado produto. Faz parte da estratégia do produto. Não faz parte da estratégia de remuneração do banco. Benefícios entra dentro de um pacote, que está garantido pela convenção coletiva, que regulamenta. São os benefícios de refeição, alimentação e transporte, que é o padrão para todos os bancos. Raros são os bancos que não cumprem o que está estabelecido, que pagam um pouco mais, porque no mínimo tem que cumprir. Assistência médica é um plano, comparando com o mercado, até bastante agressivo, que já era no Santander e foi mantido após a entrada do Real. Nesse caso até melhorou um pouco o que era o do Real. Tem a previdência para os funcionários. Já tinha nos dois bancos, simplesmente foi unificado e mantido. Isso é pago lá fora também. Sempre se olha o mercado, e analisa o quanto sobe, o quanto desce, o quanto a gente ganha ou perde com isso, não estando além do que deveria, nem perdendo...mantendo a competitividade em retenção e atração dos funcionários. 7) Qual relação atual do banco com os sindicatos? Houve mudanças nesse aspecto? Resposta: É difícil ter uma relação harmônica com o sindicato, pelo próprio perfil do sindicato, que briga pelos funcionários. Já foi muito mais conflitante, quando falava do Banespa, que tinha uma força muito mais atuante no sindicato. Até por conta da proximidade do sindicato e do número do sindicato que fazem parte da organização. Acaba direcionando o esforça. Isso não tem mais esse conflito. Foi depois da compra do Banespa bem pesado, durante uns 3, 4 anos. O Itaú também unificou com o Unibanco, então teve uma fusão praticamente ao mesmo tempo que o Real tava fazendo com o Santander. Então o sindicato tá mais familiarizado com essa situação. Quando não tem um volume muito alto de demissão, o sindicato não tem aonde atuar muito. O Sindicato se sente um pouco fragilizado com isso, porque com um número maior de bancos, então ele acaba tendo uma menor força na negociação. Mais difícil de impor uma condição de trabalho desejado. Eu não vejo nada além do normal, que é a briga do sindicato pelo seu ideal. 8) Qual o grau de rotatividade dentro do banco atualmente? Por que os empregados resolvem deixar a companhia? Resposta: Na média de mercado também, em torno de 8% / 9%. É normal. Principalmente porque a gente olha muito pra fora e pratica as mesmas coisas que os principais bancos. 9) Na sua visão, quais são os principais problemas nas condições de trabalho no banco? Resposta: A gente não vê muito desconforto, muito problema. Talvez ainda o problema que possa existir, é decorrente dessa unificação, desses ajustes que tão acontecendo. Pode ter um pouco de incômodo de quem cede, quem manda...um pouco disso. Reclamação que pode acontecer na ponta é de ter que aprender uma nova ferramenta para atender, que isso as vezes é difícil, leva um tempo e aí toda a mudança demanda um tempo de aprendizado, só que tem que acontecer com o “avião em vôo”...não dá para parar atender, tem que atender o cliente. Tem treinamento, mas na hora da prática pode haver erros. Isso acho que é o maior desconforto, mas que é também normal, que a gente troca com os outros bancos...no Itaú Unibanco também acontece a mesma coisa. Existe um pouco a dificuldade de aceitar a mudança. O estresse em função de metas é normal...é a vida como ela é. Em todas as instituições há metas agressivas...o Itaú, o Bradesco, o HSBC, etc. cobram meta igual ao Santander. Essa é a prática de mercado. Tá nesse mercado, tem que trabalhar com metas. Como é que essa meta é cobrada pode ser um pouco diferente, pode ter formas diferentes de recompensar o atingimento dessa meta. Mas a questão meta incomoda todo mundo. Isso acaba sendo a competição do dia-a-dia. As vezes é o próprio funcionário que quer chegar além, que quer se destacar, e acaba se impondo um ritmo maior de trabalho. No Itaú também teria que fazer alguma coisa que faça a diferença, independente de superar a meta. Tá mais agressivo que antes, mas faz parte desse mercado. O tamanho de uma agência reduziu bastante, e o número de clientes aumentou drasticamente e tem que atender igual. O sistema evoluiu a forma de atender o cliente evoluiu também. O auto-atendimento já filtra bastante. Mas o dever do funcionário é atender esses clientes e tentar vender...se eles não vão até a agência, tem que sair atrás. Isso dá a sensação da meta ser mais agressiva agora. 10) Como você avalia o suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências (áreas comerciais)? Resposta: Tem investido muito em tecnologia. Hoje há um portal na intranet específico de RH para o funcionário se relacionar, que hoje ele consegue fazer praticamente tudo ali, como gestão de desenvolvimento, treinamento, o gestor consegue fazer todo o processo de promoção, avaliação, orçamento, tudo ali. Tá tudo na mão deles. Hoje dá pra dizer que é o único banco que tem esse sistema aqui no Brasil. O Itaú tá fazendo criando isso agora. E dá maior autonomia para os gestores. É o auto-atendimento do cliente interno, dá para agendar férias, posso me candidatar às vagas abertas, posso pedir minhas férias, agendar meus treinamentos. Esse é o resultado da busca para evolução das constantes compras. O suporte é bom. Acho que pode melhorar, porque ainda existem duas culturas que vão se acomodando, e ainda existem expectativas diferentes. O funcionário do Real não estava acostumado à essa tecnologia do portal. Era bem menos evoluído essa interface que tem. Mais ainda há pessoas que reclamam que não há interação com o gestor, mas sim com a máquina, mas faz parte dessa evolução. Hoje tá bem mais aceito e bem mais utilizado. A taxa de utilização é altíssima. Vale para todos os funcionários, desde o caixa da agência, até um executivo na área administrativa. Não tem muita reclamação à prestação de serviço do RH. Respondente 3: 1) Como está organizado o departamento de Recursos Humanos atual do banco? Quais são as estratégias adotadas para a gestão de pessoas? Resposta: Temos 1 VP de RH, 8 diretos e mais ou menos 300 funcionarios. Estrategia: Atrair, reter , desenvolver e contribuir para o sucesso dos funcionários e consequentemente da empresa 2) Fale um pouco sobre a forma de contratação no banco. Houve mudança na política de recrutamento e seleção, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Sim, cada banco tinha a sua estratégia. Hoje adotamos um Programa de Mobilidade Interna, e so quando não temos os recursos especificos, vamos buscar candidatos no mercado. 3) Fale um pouco sobre os treinamentos realizados no banco. Houve uma preparação para as mudanças ocorridas? Resposta: Sim, sempre é necessário informar os funcionários sobre as mudanças, preparamos vários treinamentos, team bulding, e palestras. 4) Qual o plano de carreira para os empregados do banco? Atualmente a possibilidade de desenvolvimento profissional é maior ou menor, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Penso que é maior hoje, pois a empresa ficou maior e as possibilidades são enormes, principalmente sendo uma multinacional. Existe a cultura de mobilidade interna e internacional. Como disse cada um é responsável por sua carreira. 5) Fale um pouco sobre a política de remuneração no banco. Houve mudança nas faixas salariais, ou na remuneração variável, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Existiu uma equalização. 6) Fale um pouco sobre a política de incentivos/benefícios no banco. Houve mudança na forma de reconhecimento do trabalho dos empregados, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Sempre nas aquisições, há mudanças principalmente para acomodar o numero de funcionários X custos. Fizemos varias equalizações, mas sempre com o cuidado de evitar perdas . 7) Qual relação atual do banco com os sindicatos? Houve mudanças nesse aspecto? Resposta: A relação é aparentemente boa. 8) Qual o grau de rotatividade dentro do banco atualmente? Por que os empregados resolvem deixar a companhia? Resposta: Temos um grau razoável de rotatividade, porem não depende somente da empresa. O mercado mostra-se aquecido. Temos no Brasil aproximadamente 800.000 vagas, sem contar com as empresas que estão abrindo e empresas estrangeiras que estão se mudando para o Brasil, em função de ser um pais emergente. Penso que hoje os salários no Brasil estão altos frente ao mercado mundial, em função da falta de profissionais qualificados (apagão de talentos) 9) Na sua visão, quais são os principais problemas nas condições de trabalho no banco? Resposta: Penso que temos as melhores condições para se trabalhar em uma grande empresa. Como toda a integração as pessoas por vezes tem que dar alem do normal...penso que estão ainda um pouco atarefadas, mas com o tempo a tendência é estabilizar. 10) Como você avalia o suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências (áreas comerciais)? Resposta: Atualmente temos um canal direto e especifico para RH , alem de um canal direto para todos os gestores. Por enquanto atende a demanda estabelecida. Respondente 4: 1) Como está organizado o departamento de Recursos Humanos atual do banco? Quais são as estratégias adotadas para a gestão de pessoas? Resposta: - Total de pessoas: 410 - 2 áreas de Consultorias – objetivo apoiar os Lideres nas estratégias de negócios, incluindo “pessoas” nessa agenda. Visão estratégica de médio e longo prazo. - 1 área de Produtos e Serviços – responsável por desenvolver ferramentas para a gestão de RH em toda empresa.. ex. avaliação de desempenho; remuneração fixa e variável (curto e longo prazo), incluindo programa de PLR; Programa de Capacitação, etc. - 1 área de Atração e Carreira (Recrutamento e Seleção) – objetivo principal, atrair e reter talentos para a organização. Atua prioritariamente em mobilidade interna, ou seja, contrata na base para gerar movimentos internos. - 1 área de Operações – funciona como retaguarda de todos os processos de RH, desta a admissão até o desligamento do funcionário, incluindo responsabilidade pelos temas ligados a Benefícios, gestão de processos e ferramentas de sistema para RH. 2) Fale um pouco sobre a forma de contratação no banco. Houve mudança na política de recrutamento e seleção, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Inicialmente o processo era hibrido, contratações poderiam partir tanto interna com externamente. Atualmente o foco de atuação está voltado para priorizar a movimentação interna, ou seja, com exceção de necessidades específicas, todo processo passa obrigatoriamente passa por uma publicação interna onde todos têm acesso e podem se candidatar, caso não exista recursos internos, parte-se para o mercado. 3) Fale um pouco sobre os treinamentos realizados no banco. Houve uma preparação para as mudanças ocorridas? Resposta: a área de treinamento teve durante o processo de integração foco exclusivo na capacitação, objetivo uniformizar o conhecimento e treinar todos os colaboradores em novos produtos e serviços. Foram realizadas aprox. 2 milhões de horas em capacitação na preparação e durante o período de integração 4) Qual o plano de carreira para os empregados do banco? Atualmente a possibilidade de desenvolvimento profissional é maior ou menor, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: as chances atualmente são maiores, justamente pelo processo aberto e transparente de R&S com foco em mobilidade. 5) Fale um pouco sobre a política de remuneração no banco. Houve mudança nas faixas salariais, ou na remuneração variável, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: o tema de remuneração é complexo e requer um planejamento a médio e longo prazo. As ações que já foram realizadas são: 1) alinhamentos das estruturas (organizacionais) 2) pesquisa de mercado; 3) alinhamento das faixa; 4) criação de um plano p/ analise do escopo das funções, pós fusão Os próximos passos são: 1) planejar os enquadramentos e alinhar com o orçamento 2) validar com a alta direção as ações 6) Fale um pouco sobre a política de incentivos/benefícios no banco. Houve mudança na forma de reconhecimento do trabalho dos empregados, após o processo de fusão/aquisição? Resposta: Os benefícios foram alinhados e seguiu o mesmo conceito que o Banco fez para os seus produtos e serviços, isso significa ter o melhor dos 2 bancos...2 exemplos para facilitar o entendimento.. 1) realinhamento do plano médico com melhorias no serviços e desenho do plano; 2) extensão do fundo de previdência privada para aqueles que não tinham. 7) Qual relação atual do banco com os sindicatos? Houve mudanças nesse aspecto? Resposta: sim, Ao longo do tempo os bancos vinham tentando manter uma maior proximidade com o Sindicato e continua nessa trajetória. Criou-se agendas com mesas temáticas para colocar para discussão os temas de interesses de ambas as partes (empresa e empregados) e tornar mais visível para os sindicatos a Visão e fundamentalmente dar transparência sobre a linha de atuação do Banco. 8) Qual o grau de rotatividade dentro do banco atualmente? Por que os empregados resolvem deixar a companhia? Resposta: O percentual em 2010 foi de 11,5% e para 2011 há uma projeção de 12,%, desse percentual aproximadamente 50% é voluntário e as razões colhidas por amostragem nas entrevistas de desligamentos relatam que ainda há insegurança sobre o futuro (estabilidade), propostas atrativas dos concorrentes. 9) Na sua visão, quais são os principais problemas nas condições de trabalho no banco? Resposta: estão fundamentalmente no alinhamento dos processos para dar suporte para as áreas de negócios para que possamos cada vez mais atender os clientes. 10) Como você avalia o suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências (áreas comerciais)? Resposta: ainda há muitas oportunidades, algumas já mapeadas e em curso, por exemplo dar mais velocidade nos processos de entrada para que as agências fiquem o menor tempo possível a espera de uma eventual reposição e outras, ainda estão sendo levantadas diretamente com os “clientes internos” para que possamos ser mais efetivos nas ações. Respondente 5: 1) Como está organizado o departamento de Recursos Humanos atual do banco? Quais são as estratégias adotadas para a gestão de pessoas? Eu vinha do Banco Nossa Caixa e nos últimos dois anos, mais ou menos, eu já vinha na estrutura BB. Minha gerência era de RH e Marketing na transição entre os dois bancos. Eu fiquei nisso mais ou menos de Julho de 2008. Foi quando eles tomaram a decisão, em Maio de 2008 e em Agosto de 2008 já começaram a fazer uma gestão compartilhada. Pois tecnicamente já tinha um acordo. Depois quando chegou o BB, o BB tem uma vice-presidência de RH e tem basicamente um diretor de gestão de pessoas, pois também cuida de relações sindicais e também tem dois gerentes executivos, um da parte de desenvolvimento, treinamento, carreira, modelo de competências, e outra parte responsável por folha de pagamento, benefícios, salários, remuneração, assiduidade, saúde, atuando separadamente, sendo duas áreas distintas, tendo um desdobramento dentro do BB regionalmente. Em São Paulo, em Campinas e uma em Ribeirão Preto e Bauru, porque de acordo com o número de pessoas eles têm que quebrar um pouco essa gestão. 2) Fale um pouco sobre a forma de contratação no banco. Houve mudança na política de recrutamento e seleção, após o processo de fusão/aquisição? Concurso público que o sujeito faz algumas provas como Matemática Financeira, Informática, Inglês, Redação, Conhecimentos Bancários, Atualidades, etc. Ele faz uma prova, entra nessa posição baixa e depois de dois anos ele pode entrar no TAO e começar a galgar novas posições. Agora como tem uma questão geracional muito forte, eles acabaram baixando essa trava em alguns momentos para um ano, pois depois de um ano o cara quer ganhar mais e já tem proposta de outros lugares, pois geralmente tem uma formação muito boa e o banco acabou flexibilizando um pouco. Isso ocorria em ambos os bancos, e praticamente se manteve. 3) Fale um pouco sobre os treinamentos realizados no banco. Houve uma preparação para as mudanças ocorridas? No caso de treinamentos, na NC existia muito mais que no BB. Treinamentos externos. O BB tem uma cultura muito fechada de ele mesmo dar treinamento. Por exemplo, meu gerente de marketing é tão bom que vai dar treinamento de comunicação para os demais funcionários do banco. Não contratava uma empresa de fora. Na NC já contratava muito fora. Qual era a vantagem? Na minha percepção, o cara que vinha da NC estava mais antenado com o mercado. Ele já estava em São Paulo e acabava participando de todos esses cursos. E a NC acabou investindo bastante em MBAs. Em 2009, teve mil pessoas aproximadamente com o banco bancando em até 80%, com uma política que era inversamente proporcional ao salário. E isso deixava o funcionário em um nível melhor. No BB poderia até pagar 100% de um MBA, mas os treinamentos em si são muito internos, certificações internas e EaD. O cara na NC tinha 150 treinamentos ao longo da carreira dele e quando chega no BB, para entrar no TAO, o sistema não aceita esses treinamentos. Só aceita os treinamentos dados internamente. Apesar de ter todos os treinamentos, como são externos, não há um reconhecimento no BB. Por outro lado, no processo de fusão, foi um processo bastante complicado. Na NC o sujeito era muito ligado ao banco, ele vestia a camisa. E acredite, no BB não é tanto assim. É bem menos, porque ele ganhou muito essa cara comercial. Então era um pessoal que saia com certa facilidade do banco. Tinha até um kit Bem vindo ao BB, que era um treinamento básico para o pessoal fazer, mas o grande problema foi que no nível médio e alta gerência...a idéia era contratar a DBM para fazer o cara vivenciar o luto, um rito de passagem de mudar de uma empresa para a outra e tem que viver todas as fases. Tem um ciclo mesmo. E a DBM faz um coaching para os funcionários da NC repensarem a trajetória profissional. Mas não ocorreu devido ao valor ser muito alto. Então não foi feito um bom trabalho, gerando um problema, pois eles acabaram absorvendo caras caros e que acabavam não vestindo a camisa. E isso é um passivo a ser administrado. No nível mais baixo até que fizeram um trabalho razoável, mas nos demais níveis acabaram deixando muito simples e acabou tendo um impacto negativo. Nas agências, se definiram as agências que iam virar da NC para BB. Eles tiveram um treinamento, com um conceito de agência madrinha, que apadrinhava a outra que era próxima. Faltando 3 meses eles mesclavam profissionais, para aprenderem as rotinas e receberem os treinamentos básicos dos produtos e dos serviços. Em 10 meses virou em torno de 700 agências. Um trabalho muito forte. Mas isso foi bem feito. O cliente que ficou um pouco órfão, pois com o Itaú com o Unibanco avisaram tudo. E no BB, apesar de terem feito muita pesquisa com cliente, através do Ibope, o cliente quando menos percebia já estava recebendo um cartão do BB, sem nem saber o que estava acontecendo. 4) Qual o plano de carreira para os empregados do banco? Atualmente a possibilidade de desenvolvimento profissional é maior ou menor, após o processo de fusão/aquisição? Dentro do BB existe um sistema chamado TAO – Talentos e Oportunidades. Toda vez que se entra no BB é com o cargo chamado PE (posição estrutural básica), como se fosse um agente administrativo, e vai galgando posição. E para isso, você tem que se inscrever no TAO. E informa que gostaria de tentar ir para outra área. E vai competir através de um sistema de pontuação que tem a ver com seu currículo, algumas certificações que você faz dentro do banco, sua trajetória dentro da organização. E entre as pessoas que mais pontuam, é feito uma escolha entre eles. Com a incorporação ficou bem diferente. Na NC tinha um sistema de carreira que era relativamente complexo. Havia cargos e funções. Por exemplo, você poderia ter o cargo de técnico em análise de informática, mas sua função era de gerente de departamento de informática. Você era uma coisa e estava outra coisa. No BB você é o PE (a posição mais baixa). Se você perder seu cargo, imediatamente você volta a ser PE – como se fosse um auxiliar administrativo. E na NC não, você voltava para seu cargo anterior. Isso deu um choque entre os dois bancos, pois um cara que vinha da NC que era engenheiro e estava gerente do departamento de engenharia. Esse cara ele tinha um acumulado de história de salário. Vamos supor que o PE do BB ganhe 2 mil reais por seis horas. Esse cara aqui se perdesse todos os benefícios da função dele, ele podia virar PE no Banco do Brasil com seis horas, ganhando 15 mil reais. Porque ele carregava todo o histórico dele na NC. Então isso causou um estresse e ainda vem causando dentro do BB, pois eles absorveram uma gama de funcionários, que preferiam ficar em uma posição mais baixa, trabalham seis horas por dia e ganham seis vezes mais que o colega do lado. Pois se assumissem a posição mais alta, ganhariam um pouco mais só e teriam mais trabalho. Isso acabou criando um problema que é muito difícil administrar. Na NC, por ter criado isso, que o cara acabava trazendo na história dele todo o impacto financeiro, ele era demissível e se demitia muito. Por exemplo, em 2007, a gente acabou demitindo 2 mil pessoas. Por falta de performance mesmo. Isso era a contrapartida. Ele tinha um incremento bom que ele não perdia, mas era demitido sem justa causa. E no BB para demitir alguém sem justa causa, a chance era muito pequena. Então o cara ficava com o salário muito baixo, mas não era demitido. Essa era uma diferença básica também. Até hoje é assim. Tem um problema de cultura. A gente fez um trabalho nessa transição com a Accenture para medir a cultura organizacional dos dois bancos. E ficava evidente essa coisa: o cara do BB estava sempre tentando se fortalecer para não voltar para uma posição muito baixa e na NC era diferente. Mas esse mesmo cara não tinha medo de fazer uma grande besteira porque não era demitido e na NC era demitido. Então tinha uma vantagem e uma desvantagem de cada lado. 5) Fale um pouco sobre a política de remuneração no banco. Houve mudança nas faixas salariais, ou na remuneração variável, após o processo de fusão/aquisição? Na NC tinha gente ganhando 35 mil reais, por exemplo. E também tinha no BB. Só que isso era um acumulado de histórias na vida do sujeito. Então a política de remuneração básica era muito parecida. Quando começou a fusão, o piso do cara da NC era 1.400 e do BB era 1.450. Era mais ou menos a mesma coisa. O problema era o encadeamento de carreira, que era muito diferente. Isso acabou trazendo problemas, como falei anteriormente. Tem os PLRs. No caso do BB é muito melhor do que da NC, pois é vinculado á performance do banco, e como o BB vem dando resultados excepcionais, é muito comum o funcionário do BB ter 6, 7 salários a mais. Em alguns casos avalia-se a performance individual também. No caso das agências tem uma amarração dessas. Tem uma espécie de balance scorecard, um painel, capturando a performance da agência, amarrando com performance individual, dando remuneração. Analisa por cargos também. Da NC era bem mais simples, baseado na performance total do banco, só. 6) Fale um pouco sobre a política de incentivos/benefícios no banco. Houve mudança na forma de reconhecimento do trabalho dos empregados, após o processo de fusão/aquisição? No caso do BB tem a Previ, o pessoal mais antigo não paga nada faz anos. Foram aplicando tanto dinheiro e ganhando tanto dinheiro, que o cara já não paga nada há muitos anos. Tinha benefícios de cursos universitários. No BB há a possibilidade de carreira no exterior. Pros jovens isso era muito interessante. Se você tiver outro idioma, e tiver relacionamento, talvez cursado relações internacionais, pode ir para outro país. O cara acaba olhando esses benefícios indiretos. Ele tem uma certa tranqüilidade que não vai ser demitido, tem MBA pago, tem Inglês pago, tem certificações, possibilidade de ir para o exterior, tem programa de diversidades interessantes. Na NC tinha menos, não tinha possibilidade de ir para o exterior. A NC começou a mudar isso muito tardiamente, mas também por uma questão de cultura. O cara da NC vestia muito a camisa, mas não era preocupado com carreira, em crescer no emprego. 7) Qual relação atual do banco com os sindicatos? Houve mudanças nesse aspecto? O BB historicamente tem uma relação muito forte com o sindicato. Vários caras que estão no PT hoje vieram do BB. E eram todos do movimento sindical bancário e do BB também. Mas durante o processo foi complicado, pois na gestão do PT eles puseram sindicalistas na área de relação sindical. Só que, começou a dar um choque entre os sindicalistas que estavam fazendo o papel do banco e dos sindicalistas que estavam fazendo o papel do sindicato. Mesmo com o sindicato ter apoiado...porque eles tinham medo que o comprador fosse o Santander, com todo o histórico do Banespa. Então acharam que era mais jogo ser o BB. Acabaram apostando um pouco nisso. Vários políticos, na época da fusão entre os dois bancos, o ministro da previdência era do BB. Então esse pessoal tem uma relação intrínseca com o poder. Então usavam esse canal para negociar, então as negociações se davam nas instâncias governamentais. Como só houve demissões voluntárias eles falavam: NC eu garanti que ninguém ia perder o emprego. Sei que tá difícil, mas isso eu garanti. 8) Qual o grau de rotatividade dentro do banco atualmente? Por que os empregados resolvem deixar a companhia? Turn over baixo nos dois bancos. O pessoal fica pelos benefícios que comentei anteriormente. Mas no processo de fusão, pro pessoal da NC não ficou bom pro pessoal que tinha acima de 40 e poucos anos de idade, mais de 20 anos de banco, porque esse cara fica espremido entre a possibilidade de aposentadoria, porque no BB tem uma mentalidade assim: se você fez 50 anos, mesmo que você não tenha as condições técnicas de aposentadoria, você é extra oficialmente um aposentado. E na NC tinha muita gente na faixa de 42, 43 anos que o cara não consegue crescer muito, porque demora muito para pegar o jeito e quando pega o jeito ele está no limiar do quase aposentado. Esse cara ficou ensanduichado. Mas para o pessoal mais novo, foi privilegiado. O pessoal do BB não gostou, porque acabaram abrindo por força do sindicato, mil e poucas vagas para absorver o pessoal da NC, ou seja, acabaram tomando as vagas que seriam do pessoal do BB. Isso criou um certo grau de conflito. Pois os bancos não eram tão parecidos, como se imaginava e deu alguns choques naturais. 9) Na sua visão, quais são os principais problemas nas condições de trabalho no banco? As metas são fortes. E, na minha percepção, o mercado de banco é commodity, pois o produto que tem em um, tem em todos os outros. E a escolha do cliente recai sobre atributos que não são facilmente vendáveis, como atendimento, relacionamento, etc. E isso criou uma condição de trabalho no banco de matar um leão por dia. O ambiente de banco está mais difícil que ambiente de chão de fábrica, de metalúrgicos. O nível de absenteísmo por estresse é altíssimo. Isso significa que o cara acaba trabalhando com um nível de estresse muito alto. No caso do BB, se não tingir a meta ele é descomissionado, voltando ao PE. Isso significa uma perda salarial absurda. Para o sujeito da NC, não necessariamente. A pressão é por isso. 10) Como você avalia o suporte dado pelo departamento de RH às demais áreas do banco, principalmente às agências (áreas comerciais)? No caso do BB, depende um pouco do RH. Tem um sistema chamado de Radar. Eles pegam, por exemplo, vários atributos, como clima organizacional, satisfação dos clientes, nível de inadimplência, reclamações, etc. Eles pegam isso contra a média das agências daquela região. E eles vêm tudo que foge, todos os desvios padrões e começam a cruzar para verificar o que está ocorrendo. Eles vêm que está ocorrendo alto nível de inadimplência e baixo nível de treinamento. Então eles atuam em cima disso. Eles criaram um sistema que funciona muito em São Paulo. Em outros Estados não. E dá para ter um bom diagnóstico. Mas acho que isso é parcial. Não no país inteiro. Um papel positivo, na minha opinião. Acho que o papel do RH no BB é muito difuso. Isso ocorre aqui em São Paulo. Mas sei que em outros lugares do Brasil não é tão bom assim. Respondente 6 (entrevista realizada em conjunto com o orientador): 1) Atividades exercidas no emprego: “entrei no banco no programa de menor aprendiz, com 14 anos de idade. Fiquei 4 anos nessa função. E naquela época você poderia fazer o concurso externo e, se passasse você era efetivado, como as pessoas colocam. Depois fiquei como escriturário por uns 2, 3 anos, como caixa executivo por mais uns 5 anos. Trabalhei também no setor de suporte do banco, suporte operacional por mais uns 5 anos aproximadamente. E em seguida, eu fui pra uma agência, especificamente, pra atender pessoa física por 4 anos, aproximadamente. Depois eu entrei num programa que teve do banco, de consultores de previdência, onde nós nos desligávamos na agência e ficamos atuando em uma área mais abrangente, regionalmente digamos. Eu fiquei nesse cargo de consultor de previdência corporativa por mais 2 anos.Em seguida, eu trabalhei no atacado do banco, no corporate, atendendo empresas com faturamento superior a 500 milhões ano também. Em seguida, eu fui para o atendimento pessoal física, que é o atual Estilo, onde um banco fez uma segmentação, atendimento a clientes com renda superior a 6 mil reais ou investimentos superior a 100 mil reais. Depois de todo esse tempo eu quis experimentar uma área diferente no banco, então me inscrevi num processo interno para auditoria, fui aprovado nesse processo. Acabei ficando na auditoria interna do banco por 3 anos. E agora, há 2 semanas, eu voltei para área negocial do banco. Há um convite que teve da superintendência, pela minha experiência, tanto no atacado, quanto no varejo (na agência Estilo), que atuo agora há 2 semanas.” Cargo atual – Gerente geral da agência Estilo Perspectiva de carreira – “Como teve toda essa alteração na questão, em termos de aposentadoria de previdência oficial. Quando eu entrei com 14 anos de idade, minha expectativa era me aposentar com 44 anos. Então agora eu já vou ter direito a aposentadoria oficial em 4 anos. Então dentro dessa área negocial que estou agora, o próximo passo seria superintendente regional. O banco, aqui na cidade de São Paulo, capital, nós temos aproximadamente umas 6 regionais. Uma regional específica de alta renda, que cuida das agências Estilo em São Paulo (que são 22) e as outras são de varejo. E nós temos uma específica que é do atacado, que cuida de corporate (pessoa jurídica).” 2) Identificação das mudanças organizacionais mais importantes ocorridas no banco nos últimos anos. Identificar se a mudança foi tecnológica, organizacional e comercial. “Na minha percepção, a mudança mais importante foi...não sei se seria o termo, mas a preocupação do banco, a necessidade do banco, de mudar um pouco a cultura do funcionário de forma geral, a forma que ele se enxerga no sistema financeiro. Por exemplo, a questão mais voltada para o negócio. Que o funcionário deve tentar assimilar que está na área negocial é um vendedor. Então o banco tem reforçado muito essa condição, procurando adequar os perfis de acordo com o funcionário. Mas você concorda que numa instituição do tamanho do BB, todo nosso potencial dos funcionários, está na área de vendas. Nosso suporte é bem mais restrito. Como não temos condições de buscar no mercado novos talentos, temos que nos utilizar de uma seleção, de um concurso, não necessariamente nós temos pessoas com o perfil adequado que o banco quer. Então, o grande desafio do banco nesses últimos tempos, ele tem reforçado assim, é justamente isso, transformação da cultura e uma missão até mais difícil. Até tentar que o funcionário se aproxime mais ao perfil de vendas, pois não pode buscar no mercado aquele funcionário. Porque o funcionário entra no banco hoje, e fala: eu não gosto de vendas. Então, você escolheu a profissão errada. A gente tá vendendo o tempo todo. Você vai negociar um seguro, uma aplicação financeira, um consórcio, é uma venda o tempo todo. Foi um estrondo que aconteceu na fusão/aquisição, porque o BB já vinha trabalhando essa questão de adequar a cultura, o perfil de negocial dos seus funcionários. O BB como instituição tem um portfólio de produtos muito amplo, ele foi se adequando ao longo do tempo à concorrência, então temos um portfólio infinito. O banco para pessoa física teria um leque de 200 produtos ou serviços para oferecer. O pessoal da NC chegou preparado para oferecer 6 ou 7 produtos e serviços. Então a cobrança em cima do funcionário da NC, a exigência pra que ele colocasse esses produtos era muito menor, porque ele não tinha muita opção para oferecer, ele tinha os serviços básicos de uma instituição financeira. Quando eles chegaram no banco, e o banco com todo esse leque de produtos, eles tiveram vários desafios. O primeiro, eles já vieram contrariados, na maior parte dos casos que a gente identificou, eles eram contrários à incorporação/integração. E depois, os administradores dos bancos, os gestores das agências, eles estavam acostumados a obter um resultado diferenciado, dos funcionários do banco. E que nesse primeiro momento, esses funcionários da NC não conseguiram atender. Por diversos motivos. Tentando elencar os principais, primeiro esse choque inicial mesmo, a pessoa demora um tempo para se adaptar ao sistema que se usa, o tipo de equipamento que mudou tudo, você conhecer aquele leque de produtos, que você tem que oferecer aos clientes. Então como você vai se sentir confortável em atender um cliente, se você não conhece em detalhe, por exemplo, um título de capitalização, ou uma coisa mais complexa, que demandaria uma especialização melhor, como um plano de previdência, que tem uma série de nuances, de detalhes dentro dele, que não é lendo um manualzinho no final do dia, que você tem condição de conversar sobre um plano de previdência com o cliente. Então foi muita informação ao mesmo tempo, e de cobrança em cima desses funcionários. Eles não tiveram tempo hábil para se preparar. Em termos de tecnologia, o que o banco tem feito é (só reforçando que ele tem que aproveitar os talentos dentro de casa...algumas coisas específicas o banco contrata uma empresa no mercado para desenvolver alguma coisa)...pra conseguir fazer essa integração com a NC, o banco passou por um processo sim, ele dobrou, triplicou o quadro de funcionários de tecnologia dele. Hoje em Brasília, nós temos assim...é coisa assim de 2, 3 mil funcionários envolvidos diretamente no sistema tecnológico. Ele é apartado, quase como uma cidade fora de onde fica a cidade fora do banco. É uma coisa espantosa. Parece que é um lugar do futuro. Investiu bastante em tecnologia antes disso, e vem investindo e a tendência é contratar mais profissionais nessa área e investir mais. Só não foi possível conseguir um resultado maior ainda porque eu acho que o banco não tinha idéia do impacto que seria a absorção da NC. Eu fiz até um trabalho de auditoria, em cima da aquisição da NC. E quando eu tava começando a trabalhar como foi a integração, me desliguei da auditoria. Mas o banco contratou consultorias renomadas no mercado pra isso, e infelizmente, o planejado acabou não acontecendo da mesma forma. A sinergia esperada, tanto de negócios, quanto integração de pessoas, de recursos como um todo acabou não acontecendo exatamente de acordo do que foi previsto. Tem muita coisa sendo feita de imediato, na urgência, sem ter uma preparação mais adequada.” 3) Essas mudanças exigiram novas qualificações/novos desafios na sua carreira? Quais alterações mais relevantes no seu trabalho? “Nós temos um programa de capacitação, de treinamento. No meu entendimento, ele tá até bem adequado. Mas o grande desafio, que a gente não tá conseguindo, é colocar em prática no dia-a-dia, porque nós temos a exigência do cumprimento de metas. E com essa exigência cada vez maior, e a concorrência cada vez maior também entre as instituições financeiras, não tem como você direcionar todo seu foco, em busca do resultado na venda em sim mesmo. Então a gente tem procurado treinar, capacitar esses funcionários, principalmente no dia-a-dia, o aprenda fazendo. O banco tem tomada algumas atitudes em relação a isso. Foi colocado em acordo de trabalho, das próprias dependências, uma carga mínima de treinamento presencial pros funcionários. Teve uma variação muito grande de gestor para gestor, um ia segurar todo seu quadro e não ia treinar, outro ia treinar mais, então o banco definiu um acordo de trabalho, que tem que destinar 30 horas semestrais de treinamento semestral para seus funcionários, e agente tem que cumprir, senão a gente é penalizado. Não é feito com o sindicato. É interno. É uma conduta interna.” 4) Fale um pouco sobre o papel dos gestores, na condução do seu trabalho. “Tem um impacto direto. E tem uma responsabilidade muito direta do próprio funcionário, porque o banco dá uma abertura para que o funcionário faça um plano de capacitação, de treinamento. Plano de desenvolvimento. Ele faz o seu plano de desenvolvimento, e seu administrador, na medida do possível, vai tentar direcionar isso. Os momentos em que eu passei em área negocial, em área de frente, era muito difícil cumprir esse plano. Os períodos que eu fiquei em área meio e em auditoria, consegui ter uma formação melhor, cumprir meu plano de desenvolvimento, os cursos que eu havia solicitado, consegui fazer todos. Nesses últimos 3 anos, foi o que eu mais consegui fazer o maior número de treinamento presencial, externo, que o banco incentiva essa parte também. Então o impacto tá muito relacionado à localização do funcionário no momento, se ele tiver na linha de frente dificilmente ele irá conseguir. Foi até uma questão interessante, porque assim, as exigências são cada vez maiores, pra que você consiga atender essas exigências, você precisa dedicar um maior tempo ao trabalho. Eu percebi nitidamente nos últimos anos, que os funcionários conseguiram se adequar um pouco melhor nesse sentido, porque agora foi implementado no banco o ponto eletrônico, então é bem rigoroso o acompanhamento, impacta em acordo de trabalho que nós temos. Então agora o funcionário tem horário pra entrar e pra sair, pra almoçar também. Então ele tem que tentar atender essas exigências, dentro desse horário de trabalho, tanto no trabalho como si, como na capacitação, treinamento, porque o treinamento também tem que ser feito dentro desse horário específico. E isso acabou contribuindo até pra melhoria da questão familiar e pessoal mesmo de qualidade de vida inclusive.” 5) Qual a relação do seu trabalho com sua vida social/vida pessoal? “Hoje é muito difícil um funcionário do BB ficar depois das 18h, 18h30 no ambiente de trabalho. De 4 a 5 anos era muito comum os funcionários ficar até 21h, 21h30. Eu já tive vezes de sair 22h, 23h da agência. E isso assim, a gente percebe até em depoimento da própria família, minhas filhas e minhas esposa falam que eu estou muito mais tempo em casa. Nos últimos 10 anos, vem significativamente aumentando o tempo que venho dedicando à família e outras atividades que não sejam coisas do banco. Talvez as pessoas que entraram no banco e estão nessas atividades nos últimos 3,4 ou 5 anos não tem essa percepção porque já pegaram num estágio que já estava assim. Quem tá há mais tempo, tem essa nítida visão do tempo que a gente consegue se dedicar a essas outras atividades extra trabalho, extra jornada de trabalho. E mesmo em cargos de gestores. Só tenho ficado um pouco mais tarde, por essa questão, que to nessa fase de adaptação ali. Mas até uma própria orientação do banco, que os próprios gerentes não fiquem nas agências mais que 18h, 18h30, até por questão de segurança também.” 6) Como você percebia a área de RH no processo do seu trabalho? “Poderia até classificar em 2 níveis. Gestores são as pessoas que encabeçaram essa mudança. Apesar de se terem utilizadas de consultorias renomadas, não sabiam o tamanho da encrenca que tava vindo por aí. Quando você acha que vai ser muito mais tranqüilo, vai ser só uma questão de virar a chave no dia e que tudo vai acontecer automaticamente, vai continuar em harmonia, você deixa de tomar algumas precauções um pouquinho mais cuidadosas. Então eu entendo assim, apesar deles terem tido preocupação, terem pedido apoio contratado dessas consultorias todas, acho que eles não estavam preparados e a coisa acabou não ocorrendo da forma como eles esperavam. Pelo fato do pessoal que encabeçou tudo isso, não ter tido toda preparação, obviamente desencadeou, o restante dos gestores de acordo com suas unidades, também não receberam um treinamento adequado. Seja na forma de divulgação, ou treinamento mesmo para enfrentar essas situações que acabaram ocorrendo, de estresse, esse choque cultural que teve ao receber esses funcionários. No meu entendimento não foi adequado. Ninguém estava preparado para responder. Quem tinha mais dúvida, era que tava vindo. Quem já tava na casa tinha preocupação também, porque você não sabia ate que ponto esses funcionários chegassem, você ia...porque o banco tinha compromisso de manter uns cargos. Então claro que havia preocupação pra quem estava aqui na casa também. O espaço de tempo foi realmente muito curto, mas assim, o banco mesmo nessas reestruturações de regional, superintendências, tava focado no resultado. O gestor tem que se virar com a ferramenta que tem disponível. Então você não tá recebendo orientação direta nesse sentido do que tá fazendo. Você tem que ter o resultado tal e as outras coisas você tem que ir administrando, você fica responsável. Só que não existe um treinamento específico pra esses gestores, para que eles enfrentem esse tipo de situação. Então cada um acaba administrando conforme melhor convier, e nem sempre é da forma mais adequada, mais convencional.” 7) Papel do sindicato: qual foi o papel do sindicato no processo? Avalie se o sindicato conseguiu intervir no processo e representar os interesses dos funcionários? “Eu já tive algumas experiências com o pessoal do sindicato aqui, e os administradores que conversam nesse sentido também, quem tá na linha de frente do sindicato, no nosso entendimento, não são pessoas que estão preparadas, que não estão qualificadas. Então, eu acho que o sindicato é uma instituição super importante, existem os sindicalistas de respeito que realmente fazem um trabalho muito bom, focado. Mas como é que é visto as pessoas que estão na linha de frente do sindicato, que visitam as agências. Na maioria dos casos, é vista como uma pessoas que não quer trabalhar. A visão geral que se tem. É mal visto, porque não quer trabalhar, e vem trazer alguns tipos de reivindicação no dia-a-dia, de coisas totalmente desconexas, sem importância, não preocupadas com o bem estar total da categoria, ou com o futuro da categoria em si. Eles vem trazer algumas questões assim, e sempre, de uma forma muito agressiva e até mesmo prepotente, arrogante. Então a hora que chega pra conversar com o administrador, eles colocam algumas questões que você percebe... É um desafio muito grande, o banco é uma loja, então você tem que vender as coisas. Então assim, o banco também precisa ter metas, até porque, eu vou ser sincero, eu mesmo como gestor, se eu não tenho uma meta e não sou cobrado do meu regional, relax. Eu acho que é uma tendência natural do ser humano. Quando você não estabelece um objetivo, uma meta, você se acomoda. Eu tento colocar sempre na agência, nosso objetivo dessa semana é, por exemplo, comercializar 50 títulos de capitalização na agência toda. Pra gente conseguir atingir esse 50, nós somos em 25 funcionários, então a gente tem que tentar no mínimo 2 títulos por funcionário, porque aquele que não fizer os 2 vai sobrecarregar o outro, porque nós temos que atingir os 50. No sindicato, especificamente essa semana, aconteceu uma situação interessante. Foram reclamar porque não queriam que os funcionários da NC fossem obrigados a fazer o mínimo de 100 autenticações por dia. Sendo que os funcionários do BB, que estão há mais tempo lá, fazem uma média de 300 a 400. Como eu vou falar: funcionário da NC você pode fazer 100 e o meu vai ter que fazer 500, porque as 200 que você ficou devendo vou ter que passar pra ele. Por isso que falo, que quando eles vão pedir alguma coisa assim, não faz sentido eu falar pro funcionário da NC nós já passamos 1 ano de transição, então já foi um período de adaptação. Então mesmo no trabalho do dia-a-dia, você tem que estabelecer... Esse caso, eles foram conversar diretamente com a gerente responsável pela bateria de caixa. Aqui dentro da USP, tem vários postos de serviços do banco, e eles queriam interferir até assim: não quero que fique trocando funcionário do posto. Aí a gerente responsável pelos postos falou: eu como gerente não posso alocar meus recursos sejam humanos, ou de equipamentos, da forma que eu achar mais conveniente, dentro do mesmo espaço? Que diferença faz pro funcionário estar dentro da FEA ou da ECA ou do HU. Então andou criando uns tipos de atrito essa semana, nessas duas situações mais específicas. Então você não pode bater de frente com eles, você tem que procurar conciliar e mostrar pra quem ta representando o sindicato, o que você tem feito. È uma questão de habilidade no tratamento com eles.” 8) Para você qual o significado mais importante do seu trabalho no Banco? Explique o sentido desse trabalho para você? Renda? Status? Poder? Carreira? Desenvolvimento? Aprendizado? Outro aspecto? “O banco em si, o BB, pelo fato de ser uma empresa de capital misto, ele tem o seu papel social também. Por exemplo, eu me senti assim, muito bem, até recompensado, o período que fiquei trabalhando especificamente com pequenos produtores rurais. Quando você faz um financiamento, você ajuda a família a estrutura sua própria subsistência, te traz uma sensação gostosa. E mesmo em casos em que você ajuda uma pessoa a fazer um planejamento financeiro, uma assessoria financeira que você dá a um cliente, ao tentar auxiliar o cliente e que ele tenha uma maior comodidade possível. E agente percebe muitos funcionários tem feito esse depoimento. Isso é muito gratificante. A função do banco é tentar conciliar essa questão financeira, de resultado, mas também fazer um papel pra sociedade como um todo, independente do seu segmento, no crédito rural a gente tem feito muitas coisas. Quando a gente ajuda um cliente a comprar seu primeiro imóvel, agora o banco trabalha com crédito imobiliário, é uma das operações mais complexas pra gente, que ta há pouco tempo fazendo isso. Mas todo mundo se sente gratificado com isso, quando o cliente consegue pegar a chave. Isso tem motivado muitas pessoas. A agência, especificamente, tem tido uma vocação para o crédito imobiliário inacreditável. Os funcionários se sentem contribuindo com alguma coisa, que deixa o cliente tão feliz, é um momento de muita felicidade pra pessoa. Não é só vendedor, tá ajudando a pessoa a realizar um sonho. É uma satisfação pessoal mesmo.” 9) Você está satisfeito com as condições de trabalho no banco? “Em termos de condições de trabalho, eu queria reforçar o que conversamos, a redução da carga horária. Isso dá reflexo em muitas outras situações. A condição, por exemplo, de capacitação, de treinamentos, o gestor tem bastante também. De recursos tecnológicos também, notebook, celular pra você conseguir desenvolver seu trabalho com mais facilidade. E como todas as agências, a gente tem percebido, mas quando o banco perdeu a famosa conta movimento há anos atrás e os funcionários começaram a ser cobrados sobre resultados e venda de produto, eu lembro que o índice de suicídio de funcionários do banco cresceu assustadoramente. Doença mental, muitos casos. E nos últimos tempos, a gente tem visto uma redução significativa nesse sentido. Há 10 anos o número de funcionários afastados por depressão era uma coisa assustadora. Agora, nos últimos 3 anos, se houve, foi 1 ou 2 casos. Antes era corriqueiro, os funcionários serem afastados por depressão. A questão de LER, tendinite...também acho que teve o ápice há 10 anos atrás. Essa questão da redução da jornada de trabalho, que o ponto eletrônico contribuiu bastante, que as pessoas estão ficando menos tempo dentro do trabalho e o banco também tem incentivado algumas ações de funcionários, por exemplo, programa de qualidade de vida no trabalho. Especificamente na agência aqui, nós temos uma verba que é destinada por funcionário, de acordo com o número de funcionários da dependência, que você tem que destinar pra ações de qualidade de vida no trabalho. Cada agência monta a sua equipe, que ela chama ECOA, equipe de comunicação e desenvolvimento, e acaba destinando essa verba de forma mais adequada. Por exemplo, aqui na agência essa equipe consulta os funcionários e para QVT eles preferiram que fosse feito ginástica laboral a cada 15 dias e quick massage a cada 15 dias também, alternando. Tem agências, que pegam uma parte dessa verba e compra frutas, que ficam disponível na copa. Ou senão contrata alguém para dar palestra, um profissional da área. Isso tem ajudado bastante.” 10) Qual sua visão sobre o futuro do trabalho no banco? “O futuro, até a pouco tempo, todo mundo tava achando que o banco ia ter o mínimo de funcionários possível. Que era uma tendência do cargo de bancário era uma profissão em extinção. Só que é interessante, que o banco vem passando por algumas experimentações, que tem feito. Porque a medida que você diminuiu seus funcionários e investiu em recurso tecnológico, todos os bancos, queriam o cliente fora da agência, queria que usassem os canais alternativos, terminal de autoatendimento, internet, call center, o que fosse. Essa interação com o público trouxe reflexos negativos para o banco. As pessoas valorizam isso. Você pensar que um cliente vai contratar um plano de previdência no terminal de auto-atendimento, seria utópico, porque só uma pessoa que tivesse um conhecimento mais profundo, que teria. Então começaram a fazer o inverso, quero chamar meu cliente pro banco, quero que ele use os canais alternativos, mas quero que ele venha aqui. E, a partir do momento em que o cliente vem pro banco, ele tem que ter um funcionário para atendê-lo. Ele quer se sentir único. Eu mesmo no passado cheguei a pensar que é uma profissão em extinção, mas agora eu to vendo de outra forma. Eu acho assim, que a tendência vai ser os bancos, de uma forma geral, terem cada vez mais agências de pequeno número de funcionários, com menos cliente, mas mais próximas do cliente, mas espalhadas nos bairros, em shopping centers, etc. O banco não aprova uma criação de uma nova agência, se ela ultrapassar 15 funcionários. A profissão vai exigir cada vez mais um nível de especialização mais adequada, porque a população tá mais exigente em relação a isso. Em termos de carga de trabalho, deve se manter, dentro do horário acordado mesmo. Uma carga de horário reduzida. Eu nunca tive experiência no mercado, fora do banco. No momento eu penso assim, quando eu tiver tempo suficiente para aposentadoria, eu pretendo me desligar do banco, mas pelo fato de eu não ter tido experiência fora. O futuro do trabalho, pra mim, não será no banco. Procurar novas alternativas.” Respondente 7 (entrevista realizada em conjunto com o orientador): Atividades exercidas no emprego – “eu comecei no programa de estágio. Entrei no balcão, e no auto-atendimento auxiliando caixa eletrônico, fazendo solicitações de documento, arquivo. Depois de um período fui para assistente de pessoa jurídica. Trabalhei 1 ano e meio como assistente de pessoa jurídica, cuidava de todos os processos de renovação de contratos, atendimento ao cliente pessoa jurídica. Depois assumi, como gerente de relacionamento, então primeiro fui gerente de relacionamento de um posto de atendimento bancário, numa empresa na Santo Amaro, na Mapfre seguradora. Fiquei durante 1 ano e pouquinho. Retornei para a agência, fui gerente de segmento baixa renda. Fui gerente de segmento média renda. E agora sou gerente de segmento alta renda.” Cargo atual – Gerente de relacionamento Van Gogh Perspectiva de carreira – “daqui eu tenho duas possibilidades: a possibilidade de assumir uma agência, como gerente geral. Porque estou no último estágio dos gerentes de relacionamento; ou eu posso partir para gerente de relacionamento business, que no nível hierárquico do Santander, é praticamente o mesmo cargo do gerente geral. Eu busco partir para o atacado, eu to me qualificando, tirando uma nova certificação (que nós somos obrigados) pra tentar ir para o banco de atacado, pra tentar trabalhar na área de investimento, num private, sair da rede, mudar um pouco os ares. São 10 anos no varejo.” 2) Identificação das mudanças organizacionais mais importantes ocorridas no banco nos últimos anos. Identificar se a mudança foi tecnológica, organizacional e comercial. “Eu acho que a mudança mais importante, pelo mesmo que foi a que eu senti, foi a questão do número de funcionários, no atendimento da agência. Automatizou muito mais a atividade e diminuiu o número de braços. Agente fala assim: tinha uma área operacional dentro da agência, que cuidava bastante de processos. E essa área operacional foi substituída drasticamente pelos processos eletrônicos. Foi tecnológica. Que sensibilizou diretamente os funcionários, que diminuiu drasticamente o número de funcionários. A gente vem numa crescente. Tenho a sensação que de 5 anos pra cá, a cobrança em vendas de produto (que é o comercial). A gente não deixou de ser gerente de relacionamento, mas nós somos cobrados diariamente, fervorosamente por números, metas. Resultados de vendas, de serviços e de produtos. Nas agências do Santander, a gente teve uma melhora muito grande no que se refere a RH. Algumas políticas que não eram adotadas quando era só Santander, que trouxeram do Real e que isso favoreceu demais os funcionários. Foi percepção geral. Do plano de carreira, de não acontecer as promoções que ninguém sabe por que foi promovido, simplesmente foi. Então hoje a gente tem um plano de carreira, tem mais clareza. E também em termos de benefício, mudou muita coisa. A gente tem uma série de reembolsos que não tinha. Algumas coisas que vieram a somar. Sistemicamente não mudou nada. Pra quem é Santander não mudou nada. Pra quem é Real mudou muita coisa. Na verdade assim, a implantação do sistema, eu acredito que não foi bem preparado. Não da forma que deveria. Nós tivemos sim um preparo, teve treinamento. Mas treinamentos online, a mudança foi muito grande, principalmente quando a gente teve a mudança sistêmica de Banespa para Santander. Nós trabalhávamos num sistema que ainda usávamos máquina de escrever na agência. Usávamos Olivetti. Isso em 2001. E a mudança foi muito drástica. Tínhamos pouquíssimos serviços em relação a auto-atendimento. Então veio tudo de uma vez. A mudança veio igual a uma enxurrada. Então a gente não teve tempo hábil para ser preparado como deveria. Eu vou falar um português simples: nós fomos jogados. Se vira, corre atrás!” 3) Essas mudanças exigiram novas qualificações/novos desafios na sua carreira? Quais alterações mais relevantes no seu trabalho? “O banco em si, colocou uma metodologia de treinamento online, que a gente tinha que entrar no computador, tinham os treinamentos (os Net cursos), em que davam umas situações (um curso didático), mas não tá ali representando o dia-a-dia mesmo. Bem superficial. Ainda mais nós que trabalhamos com uma diversidade de produtos muito grande. Os cursos eram extensos e a gente acabava não tendo tempo hábil para concluí-los. Nós ficamos um período afastado, ficamos 1, 2 semanas em treinamento fora da agência, fora do atendimento e não era suficiente para aprender todas as ferramentas. Então um número maior de treinamentos presenciais, uma agência piloto para que a gente pudesse fazer o dia-a-dia não aconteceu. Era uma percepção geral do banco. Aquele desespero de terminar os cursos, porque nós tínhamos prazos, tinha que ser realizado dentro do expediente de trabalho, ou seja, temos uma carga de 8 horas trabalhadas (entra as 9h e sai as 18h) e dentro desse horário a gente tinha que, além de fazer as atividades comerciais, atender os clientes, banco aberto e fazer os treinamentos no final do dia. E não era feito com qualidade, porque o tempo era muito pequeno... Na verdade assim, acho que o mudou bastante, é que você aprende a sair de situações novas, desafiadoras. Você consegue contornar melhor. Então acho que profissionalmente pra mim, essa questão da dificuldade sistêmica, fez com que....por exemplo, posso citar situação do caso da conta do seu pai: tenho mais jogo de cintura pra contornar uma coisa que não é do dia-a-dia. Então eu acho que pro meu crescimento profissional foi primordial. Foi sofrido, não foi fácil, era difícil você chegar...o cliente sentar na sua mesa e você não fazer a menor idéia que botão você clica, pra você olhar o saldo ou a data de aniversário de uma poupança, por exemplo. Hoje claro, eu tiro de letra. São praticamente, de quando terminou a integração do Banespa em 2006, são 5 anos que a gente já trabalha com o mesmo sistema. Hoje eu clico ali de olho fechado. Mas a vivência do não saber, pra quem perguntar, ninguém saber da informação completa e você ter que se virar pra poder resolver um problema que tava ligado diretamente ao sistema tecnológico, fez com que eu aprendesse a sair de situações complicadas do dia-a-dia, de um cliente que está estressado, de uma situação que a gente não vê alternativa.” 4) Qual a relação do seu trabalho com sua vida social/vida pessoal? “Houve sim. Porque a carga de trabalho ficou maior, ou seja, a gente tinha um número de atividades bem reduzidas quando o número de funcionários era maior. Antes eu tinha uma atividade e tinha outro funcionário que conferia. Hoje não, hoje eu tenho que fazer e tenho que conferir. E isso reflete diretamente nas relações pessoais em casa. Você chega mais nervoso, mais estressado, vai embora pra casa e fala: meu Deus, eu não conferi. Será que vai dar certo? Eu acabei esquecendo. Porque o tempo é curto, a gente tem que agora cumprir obrigatoriamente a jornada. Não existe mais possibilidade nenhuma de fazer hora extra no banco. Eu tenho que me ajustar, o meu tempo de trabalho. E você chega em casa sem paciência com marido, sem paciência com filho. Reflete diretamente sim.” 5) Você está satisfeito com as condições de trabalho no banco? “Uma coisa assim que percebo, os funcionários saem mais de licença, estão mais afastados de quando eu iniciei no banco. Um exemplo meu, eu to na segunda gestação trabalhando no banco. A minha primeira gestação foi em 2008, foi tranqüila, já tinha terminado a integração e a gente tinha um número de funcionários maior. Foi mais tranqüila, eu não tive nenhum problema de saúde. Já nessa não, eu já iniciei a gestação com diabetes, já to com minha pressão no limite, então eu tenho que cuidar bastante e é complicado você controlar a mente de falar: eu vou desligar. Porque tem aquela contrapartida de falar: eu preciso do meu trabalho. Ele é primordial pra eu poder pagar as minhas contas e suprir minhas necessidades financeiras. Eu também não posso abrir mão e falar assim: como eu vou ter um filho eu posso deixar tudo...Em termos de saúde, eu sou uma pessoa mais nervosa, eu sou uma pessoa menos paciente. E as vezes, numa fila de cinema, ou num estacionamento do supermercado, minha paciência esgota muito fácil. A gente acumulou mais tarefas. E a partir do momento que você acumulou mais tarefas, você tem que aprender a administrar o seu horário melhor.” 6) Fale um pouco sobre o papel dos gestores, na condução do seu trabalho. “Eu não consegui sentir essa proximidade. De verdade assim, pelo menos na instituição que eu estou, o papel do gestor é controlar produtividade, ponto final. Resultado e produtividade. Apesar de alguns anos pra cá, a gente passou a ter uma avaliação semestral, que agora eles mudaram para uma avaliação anual, que é um momento que a gente tem pra conversar, discutir os pontos fortes, os pontos fracos, o que melhorou, piorou. Nesse sentido foi uma coisa legal, e é uma coisa institucional, que veio do RH. Não é uma coisa que é determinada pelo gestor da agência, por exemplo. E a gente faz uma avaliação de clima, pra eles poderem entender, ou seja, pra quem tá lá em cima, que nós aqui da ponta, da rede, não tem nenhum contanto, entender o que tá acontecendo, qual é o nosso sentimento. Realmente foi feio, foi muito legal, mas ficou no muito legal. Não avançou. Apesar de que a gente tem o feedback e assim, em termos dessa avaliação... Na questão da pesquisa de clima deveria mudar essas relações. E acabou que nós já fizemos 2 pesquisa de clima, há 2 anos, e ficou nisso. Foi feita a pesquisa, foi notado que o clima não estava bom e não aconteceu nada pra mudar isso. Em contrapartida, outra metodologia que veio do RH, é a questão dessa avaliação de desempenho que nós temos. O funcionário se auto-avaliar e o gestor direto dele avalia o funcionário. Depois é feito uma conversa aonde a gente discute o que eu coloquei como auto-avaliação e o que o meu gestor colocou como minha avaliação, e nisso trata-se plano de desenvolvimento individual, que coloco minhas expectativas e o que eu espero para minha carreira e o que o meu gestor espera para minha carreira. Então isso é muito legal, e tem surtido efeito. Antes de eu vir pra essa agência, eu era de outra agência. E no meu plano de carreira individual, uma das coisas que eu queria era ser transferida para uma agência próxima da minha casa. Hoje eu estou do lado de casa. Não saio mais daqui, de jeito nenhum. Tem mudança sim. A organização tá preocupada, mas acho que tem que ter bastante ajuste.” 7) Papel do sindicato: qual foi o papel do sindicato no processo? Avalie se o sindicato conseguiu intervir no processo e representar os interesses dos funcionários? “Eu vejo a presença do sindicato, somente na época de campanha salarial. Eu não vejo uma presença tão próxima. A gente teve durante todas essas mudanças, tanto de Banespa para Santander e de Real para Santander, houve sim algumas agências, algumas áreas que teve assédio moral, teve uma série de coisas, e assim, eu pelo menos, eu vejo o sindicato muito afastado disso. Sai as notícias no jornal, mas nada que mostre a luta, que vai defender os interesses do funcionário, vamos acabar com tudo isso, com as metas abusivas. Nada muda. Não há diferença entre funcionário sindicalizado. Eu não sou sindicalizada. Eu tenho minha contribuição anual com o sindicato e não revejo aquele valor, e acho que estou contribuindo demais, bastante. Não consigo ver uma luta tão grande por parte do sindicato. Tem alguns funcionários que são sindicalizados só por conta de benefícios e descontos em algumas coisas... Não descartaria nada de importante. Acho que a única coisa que difere de outros sindicatos, é que é um sindicato forte, quando eles resolvem fazer paralisação, fazer greve, eles vão pra cima e vão mesmo. Essa última campanha salarial que foi no final do ano passado, nós da instituição, a gente teve por diversos problemas por pagamento de PLR, porque o banco tinha maquiado o balanço. Comprou o Real, e aí não deu lucro, igualou, então nós acabamos não tendo o teto da PLR 2 anos seguidos. Esse último ano o sindicato finalmente conseguiu. O teto foram 2,2 salários de PLR.” 8) Para você qual o significado mais importante do seu trabalho no Banco? Explique o sentido desse trabalho para você? Renda? Status? Poder? Carreira? Desenvolvimento? Aprendizado? Outro aspecto? “Honestamente, pra eu pagar minhas contas e poder ter uma condição de vida razoável. É pra isso que eu trabalho. Eu não sei se vou poder falar ou não...não era meu sonho ser bancária. Eu fui parar nisso. Eu fiz 1 semestre de enfermagem, queria muito trabalhar na área de saúde, mas não tive condições pra isso. Não estudei o suficiente pra entrar em uma universidade que não era paga. Minha mãe viúva não consegui...não tive apoio financeiro pra falar assim: eu vou seguir o que eu quero. E acabei tendo que trabalhar, então vou procurar uma universidade particular, vou fazer algum curso, pra poder arrumar um trabalho razoável. Fiz Administração, que no meu ponto de vista, que quando você não sabe o que fazer escolhe Administração. Entrei no banco e fiquei. Hoje gosto muito do que eu faço. Eu não me vejo fazendo outra coisa. Eu não iria pro hospital hoje. Então assim, também não me vejo diretora do banco. Eu brinco com meu marido: eu não quero ser uma profissional super bem sucedida, milionária, que não tem tempo pros filhos, que não tem tempo pro marido, pra minha família...ela tá em primeiro lugar. Por isso meu trabalho é pra que eu consiga obter recursos pra poder desfrutar o melhor com a minha família. Isso é primordial pra mim. O primeiro era renda e o segundo seria eu conseguir dar solução pro cliente. Porque, apesar da gente ser cobrado por metas, por produção, pra mim não tem satisfação maior do que assinar um financiamento imobiliário e a pessoa ter o sonho realizado do primeiro imóvel próprio. Não tem situação melhor do que fazer um acordo, uma renegociação de dívida, e ver que consegui solucionar a vida da pessoa. Eu trazer a solução pra pessoa, é o que me traz mais satisfação, porque um cliente que busca o banco hoje, busca por uma necessidade financeira, seja ela por um investimento, uma dívida, e eu trazer a solução é o que me traz mais satisfação. O banco não valoriza isso como deveria. A gente tem hoje, no caso da instituição, tem sim a questão do relacionamento do cliente, o banco busca isso, pra que o gerente tenha uma boa relação com o cliente, que ele entenda as necessidades pra poder oferecer o produto adequado, pra necessidade do cliente. Em contrapartida, você tem o diabinho da produção que fala: hoje é o dia do seguro e você precisa fazer seguro e se vira pra entregar 10 seguros. E aí o funcionário tem que oferecer um seguro pra um cliente que não precisa daquele produto e precisa arrumar produtos pro cliente querer. A gente tem uma listagem com todos os produtos que tenho que vender no mês. Eu tenho que abrir 4 contas, só posso encerrar 5 contas, eu tenho que na carteira de investimentos, tem que ser positiva em 200 mil, não posso ter inadimplência na carteira, tenho que vender, 25 cartões, 300 reais de capitalização mensal, por exemplo. Uma infinidade de produtos que tenho que cumprir, que cria um ranking dentro da agência. Os gerentes melhores ranqueados...a gente tem a visualização dos outros. Tem uma competição. Não posso deixar ninguém me passar. A gente tem que entregar esses números, mas em contrapartida, se o gerente entrega os números em 100% tem um adicional ao salário, que é a remuneração variável. Se não entrega, não tem. Pra que ele seja elegível à essa remuneração variável, existe uma nota no banco, chamada nota de atendimento em qualidade operacional, que é avaliação de qualidade operacional, então é visto todos os processos. E dentro dessa avaliação a gente tem: os processos estarem todos feitos, certinho. O cliente ter assinado o termo, estar preenchido certo, ou seja, não basta eu vender, não posso vender de qualquer jeito, tem que ser direitinho. Existe outro item, que é reclamações, ou seja, se um cliente faz uma reclamação dentro do SAC, dentro da ouvidoria, e essa reclamação é por mau atendimento, ou um produto vendido inadequadamente, é penalizado. E a gente tem uma nota mínima. Não adianta entregar de qualquer jeito, tem que entregar certo. Controle rigoroso pelo gestor da agência. Se um dos gerentes não entrega, a agência não entrega. E o gestor não ganha. A gente teve treinamentos online para explicar a regra do jogo. Pra mim, isso incomoda, porque eu me coloco demais do outro lado da mesa. O tempo todo tem aprendizado. A gente lida com uma diversidade de clientes muito grande. Então assim, vejo que minha rede de relacionamento e de contatos, as vezes num bate papo, eu já atendi diretores de empresas, agora professores doutores da universidade, que era um contato que eu não tinha, que enriqueceu demais meu aprendizado, entender outras áreas, o fato de você lidar com uma diversidade grande, de até mesmo de donas de casa que tem experiências de vida, que me conta a vida dela e eu posso enxergar o mundo de uma forma diferente.” 9) Quais suas perspectivas de carreira e desenvolvimento no banco? “Os próximos 10 anos, pretendo ir pro atacado. Eu pretendo sair da rede, do varejinho, de vender o produtinho. A gente estuda, se dedica, faz uma universidade. Eu já estou a muito tempo sem estudar, quero voltar. Agora que eu tiver o segundo filho, tenho um plano pra voltar a estudar e tá claro pro banco. Eu coloco no meu plano individual. Estou buscando essa certificação primeiro, pra ter uma especialidade melhor na área de investimentos, que gosto de lidar com fundos, papéis. E tenho vontade de trabalhar no atacado, pra trabalhar com grandes investidores, no private, com grandes valores. Daí pra frente, pretendo curtir minha família e acho que está bom demais. Isso dobraria meu salário. O que é muito interessante. Porque honestamente acredito que a gente é muito mal remunerado, dependendo qual o seu trajeto de carreira no banco.” 10) Qual sua visão sobre o futuro do trabalho no banco? “Daqui a alguns anos, acredito que as pessoas vão cada vez menos procurar o banco. Hoje as soluções estão muito automatizadas, então a sensação que tenho que o número de agências vai diminuir e que o papel do gerente de relacionamento não vai ser mais de relacionamento, vai ser gerente de negócios, vai buscar negócio, trazer pra dentro do banco e apenas isso. O relacionamento vai ser automatizado. Pode ser o meu futuro também. Mesmo tendo a visão de atacado, eu acredito que a tendência é que o burocrático, o operacional saia cada vez mais e automatize cada vez mais. E o próprio cliente vai ser praticamente auto-suficiente, sem precisar da agência. Há 10 anos atrás, o cliente ia pra pagar uma conta e tinha um relacionamento pessoal e hoje não vai mais. Hoje já paga na internet e se bobear vai uma vez por ano no banco e não sabe quem é o gerente da conta. No fundo, acho negativo, porque as pessoas acabam se relacionando cada vez menos. Eu sinto muita falta disso. Minha impressão é que daqui 10 anos não tenha mais caixa na agência, pra autenticar. Mesmo para cliente da classe C.” Respondente 8 (entrevista realizada em conjunto com o orientador): Trajetória no banco: começou como escriturário e passou por todas as áreas: crédito, cadastro, engenharia (foi engenheiro do banco), área habitacional, crédito imobiliário, assessoria da vice presidência de finanças, mesa de operações, departamento financeiro, controladoria, planejamento estratégico, marketing e RH. 2) Identificação das mudanças organizacionais mais importantes ocorridas no banco nos últimos anos. organizacional e comercial. Identificar se a mudança foi tecnológica, Na verdade, se eu pegar a Nossa Caixa especificamente, o quê aconteceu com ela? Quando chegou em 94 ela estava com redesconto no Banco Central, ou seja, ela não fechava o caixa, no dia a dia. Então, estavam a Nossa Caixa e o Banespa na mesma situação, eles não conseguiam fechar o caixa, vinham da gestão do Fleury que tinha feito uma gestão péssima do ponto de vista de antecipação de receita orçamentária e de créditos para empresas que não tinham condição de tomar crédito (a Cooperativa Agrícola de Cotia, Paraquímica, e tal)...e a Nossa Caixa sofreu um pouco menos do que o Banespa. O Banespa efetivamente quebrou contabilmente, a Nossa Caixa não chegou a quebrar contabilmente, mas ela ficou sem ter como fechar o caixa. E aí começou uma gestão que durou mais ou menos - acho que de 94 até comecinho de 2003, quer dizer, uns 9 anos mais ou menos - que foi de um cara chamado Geraldo Gardenali, que é um cara que foi colocado pelo Covas, era professor aqui da GV, e ele era um sujeito bastante austero, ele era um cara que ...o trabalho dele foi recolocar o banco no prumo e fazer o banco conseguir zerar caixa. Nesse ínterim teve a renegociação da dívida do estado. E nessa renegociação, (eu participei, um monte de gente participou), a gente trocou toda aquela papelada podre que o banco tinha por papéis do governo federal, quer dizer, a dívida ficou a valores de mercado...o Covas reclamou muito, mas enfim... ficou a valores de mercado, o que significa o seguinte: o estado, na verdade, passava...se ele não quisesse ter a dívida ele tinha de dar o banco. Então ele acabou não dando o banco, ele deu o Banespa para...”deu” não, o Banco Central federalizou, e eles ficaram com a Nossa Caixa mas, com uma renegociação da dívida . Então isso acertou o caixa porque ela recebeu papéis de títulos públicos federais, acertou o caixa do banco, só que o banco passou a ser administrado fazendo dinheiro em cima de papéis, quer dizer, a partir dali a Nossa Caixa sentou em cima desse caminhão de papéis, isso rendia CELIC, numa época em que a CELIC estava alta, e portanto o banco não precisava fazer mais nada, ele vivia basicamente da mesa de operações. Apesar de ter muitas agências, onde o banco dava lucro mesmo era na mesa de operações. E aí...depois, quando chegou no finalzinho do Gardenali, que foi justamente quando o Covas faleceu, o Alckmin assumiu, o Gardenali ficou mais um tempo, eles ficaram fazendo essa gestão austera, mas também o banco não tinha mais para onde crescer. E aí...o Alckmin ganha um segundo mandato, o Fernando Henrique perde o governo, e eles trazem uma turma de Brasília para cá: então trouxeram o Eduardo Guardia para secretário da fazenda, e trouxeram para a Nossa Caixa o Valdery Albuquerque que era Presidente da Caixa Federal. E o Valdery trouxe uma turma de Brasília, essa turma de Brasília veio para a Nossa Caixa, o Rubens Sardemberg (que hoje é o economista chefe da FEBRABAN), veio como diretor financeiro, reestruturar, e resolveram o seguinte: “nós vamos fazer o planejamento estratégico na Nossa Caixa”. Foi aí que eu fui para o planejamento estratégico, coincidiu. Eu estava indo para o planejamento estratégico, então eu participei de todo o planejamento desde 2003. Então em 2003 o que foi feito? Um re planejamento do banco para ele conseguir de fato crescer e fazendo intermediação financeira e não sentando em cima de papel, de título público federal. E aí foi que contratou-se uma empresa (que foi a Accenture), que foi uma consultoria que eles contrataram. A Accenture fez um trabalho de reposicionar o banco estrategicamente... né...então esse trabalho foi muito interessante. O que eles fizeram? Eles repensaram o banco de cabo a rabo, tudo, tudo,tudo,tudo... Então o que foi pensado ali? O banco tinha de melhorar... o banco não tinha de trazer, no curto prazo, mais clientes, ele tinha de tentar melhorar a penetração de produtos nos clientes. Quer dizer, então o índice de penetração dos produtos nos clientes era muito baixo, comparado aos outros bancos, quer dizer, como era um banco que não era agressivo, então ele não chegava pra você “Arnaldo, você quer mais um produto?”, ele não te oferecia, ele fazia aquilo que você queria que fizesse com o banco, né. E aí eles começaram a tentar tornar o banco mais agressivo, criar uma segmentação de clientes (criaram 3 segmentos de clientes: o pleno, preferencial e o personalizado). E também do lado de pessoa jurídica, resolveram que o banco ia ter uma segmentação de pessoa jurídica, porque naquela época o banco tinha em torno de 100 mil clientes só de pessoa jurídica, a maioria eram fornecedores do Estado. Então quebrou-se isso, então o banco ficou com 3 focos basicamente: pessoa física (turbinar essas pessoas físicas, fazê-los consumir mais), aumentar a carteira de clientes pessoa jurídica e trabalhar com o governo, né. Então eles fecharam essas 3 grandes linhas, e o banco, a partir dali, começou - isso foi um processo de 1 ano mais ou menos, de re estudar o banco, redirecionar, redesenhar modelo de negócios, estudou-se tudo o que você pode imaginar, quer dizer, carteira de clientes, como é que o cliente operava com outros bancos e tal - e a idéia foi, a partir daí, tentar tornar o banco mais agressivo. Então se criou um planejamento, tinha 16 grandes ações estratégicas, essas ações tinham...desculpe, 16 grandes objetivos estratégicos, esses objetivos tinham ações, montou-se um plano de ação que se monitorava, e começou-se a se monitorar o planejamento estratégico. Isso começou a dar algum resultado, mas aí teve uma série de problemas: teve aquele caso da Getec, da Caixa federal, não sei se vocês lembram disso, foi para a CPI e tal, e aí foram envolvidos exatamente esses caras que estavam no banco, eles eram da gestão anterior da caixa federal. Então boa parte deles ficou envolvida nisso. Aí, o que é que o governo de São Paulo fez? Acabou tirando esses caras, manteve um deles (que era o diretor jurídico, que era o Carlos Eduardo) como presidente, e tentou mudar um pouco, pelo menos aqueles que não estavam envolvidos com o caso da Getec, trouxe esses caras. Bom, aí a gente teve uma pequena mudança porque se suavizou um pouco essa cobrança, porque o Carlos Eduardo não era um cara de banco, ele era um funcionário de carreira do Banco Central, não era um cara de mercado, vamos dizer assim. Aí se começou a ter uma coisa mais específica, né (isso em 2005), e todo mundo contava com a folha de pagamento do Estado, que tinha sido acertada com o estado lá atrás, que viria gratuitamente porque isso envolveu a compra do Banespa, 7 anos após a compra do Banespa (em 2000), a folha passaria em 2007 automaticamente para a Nossa Caixa. Então a Nossa Caixa contava com isso porque imaginava, se vêm mais 700 mil clientes mais ou menos (de 1,1 milhão já tínhamos uns 500 mil, sei lá...400, 500 mil), vêm mais uns 700 mil clientes, esses caras vêm consumindo aqui dentro, né, a gente consegue dar uma equacionada, e tal. A Accenture esteve participando o tempo todo, inclusive a Accenture fez uma prática (muito estranha até hoje...enfim), é um contrato em que ela fez o processo e depois ela passou a executar também. Quer dizer, ela planejou, e ela começou a vender os produtos dela. Então, por exemplo, ela falava assim: ação 2, olha, só tem uma empresa que faz bem a ação 2, a Accenture. Ação 3: só tem uma empresa que faz bem a ação 3: a Accenture. Então ela começou a entrar no banco em vários tentáculos(?), principalmente PI (?) porque eles sempre foram muito bons nisso (processos né), mas até em RH, por exemplo, toda a reestruturação de RH foram eles que fizeram, coisa estranha porque eles não são especialistas em RH, eles trouxeram uma equipe da Argentina, e essa equipe acabou fazendo o processo de RH no banco, foi um novo modelo de competências e tal. Aí o que é que aconteceu? Isso. E ocorreram 2 episódios. O primeiro foi a questão da publicidade...tinha 2 empresas de publicidade que trabalhavam para a Nossa Caixa, de propaganda e marketing, e descobriu-se num certo momento, que elas não tinham contrato, né, que elas estavam trabalhando sem contrato... elas tinham um contrato que tinha vencido, não tinha sido renovado, e elas estavam fazendo e recebendo, tudo bem, eram valores de mercado, tudo correto, mas elas estavam a descoberto. E aí foi o escândalo da área de marketing, o Jaime que é o gerente da área de marketing rodou porque, na verdade, percebeu-se depois que ele cometeu alguns erros grossos...até hoje eu converso com ele e tal...mas um dos erros, por exemplo, a Assembléia Legislativa fez um requerimento de dados sobre os contratos e ele respondeu direto, sem passar pela diretoria, que ele se responsabilizava, que estava tudo assinado, ele é ex auditor, advogado, e não era verdade o que ele estava respondendo, quer dizer, ele respondeu para a Assembléia Legislativa um negócio mentiroso, e aí a diretoria o demitiu por justa causa, mas tinha gente da diretoria envolvida...esse processo por exemplo, tinha uma empresa contratada por essa empresa que tinha contratado o Roger Ferreira, que tinha sido ex assessor da área de comunicação do banco, ele trabalhava para a campanha do Alckmin (até trabalhou nessa do Serra também), é um cara da área de comunicação. Então, assim, eles tinham um contrato... é uma coisa bem complicada, é um negócio que envolvia um monte de gente, tinha algum esquema ali de caixa 2, que depois a própria Assembléia Legislativa levantou isso. E aí isso, explodiu por volta de 2006, todo mundo esperava a benesse em 2007, foi exatamente o ano da eleição para governador, e aí, tinha que se colocar alguém na parte de marketing, e chamaram a mim e à Marli, que trabalhava comigo. Nós saímos da área estratégica e fomos para marketing, para tentar dar uma arrumada na casa, porque estava tudo aos pedaços, não tinha... Aí nós pegamos, fomos para lá, o Jaime tinha sido demitido, demitiu um monte de gente da área de marketing porque todo mundo de alguma forma estava envolvido nisso. Aí nós saímos para a área de marketing e coincidiu, final do ano a gente retomou a posição do banco que estava fora e tal, e coincidiu de...o Serra terminou a eleição para governador né, e foi muito estranho porque, assim, a despeito de tudo, quer dizer, eu conheci o Covas relativamente, o Alckmin a gente conheceu bem porque a gente conversava muito com ele, com os secretários e tal, e foi um choque a entrada do Serra. Foi um negócio assim: esse pessoal (Covas e Alckmin), o pessoal que trabalhava com eles em geral, primeiro, era mais macaco velho, mais político, e mais profissional. Profissional do ponto de vista assim: nós chegávamos, conversávamos, ele passava alguma coisa para você, e em geral era alguma coisa técnica, não tinha nada de pedir alguma coisa que fosse heterodoxa, vamos dizer assim. Quando chegou a turma do Serra foi muito estranho. Primeiro, o presidente que estava que era o Carlos Eduardo, o recado que veio é que ele não poderia estar lá no dia em que o Serra tomasse posse. Ele tinha de estar fora. Eles fizeram a limpeza, como eles diziam, da turma do Alckmin. Eles se odiavam...E agora o Alckmin está fazendo a limpeza do Serra. Então eles tiraram esse pessoal, todos basicamente, e o Mauro Ricardo veio como secretário, eles tinham uma agente lá, e ele disse o seguinte: a partir de agora a área de marketing vai responder para mim, secretário da fazenda. Era muito estranho isso. Mas a questão veio diretamente para mim. E nós vamos trabalhar em equipe conjunta, e tal...a gente já ficou meio assustado, nunca tinha acontecido isso. A gente respondia tecnicamente para áreas técnicas. Segundo, foi que ele trouxe 2 assessoras de comunicação, que não eram pessoas de comunicação (um negócio muito estranho), e o primeiro papo que a gente teve com essas meninas elas disseram o seguinte: “a gente odeia bancos, em geral”, o papo era muito assim, “nós somos de esquerda, odiamos banco, banco não tem nenhuma serventia, e público menos ainda, e nós temos uma missão, nós vamos acabar com o banco”. Eu achei estranho, porque eram 2 meninas jovens, não eram da área, nem de comunicação nem de banco, (uma era formada em zootecnia...um negócio assim), bom eram jovens, na faixa de 30 anos, e ninguém sabia de onde vinham também, porque não tinha curriculum, não tinha nada. E elas ficaram fazendo uma espécie de intervenção branca, e aí começou o calvário. Porque, na verdade é assim, tudo, a partir daquele momento, você tinha de passar por elas, pela secretaria de comunicação e pelo secretário da fazenda. E isso não era só a Nossa Caixa, eram todas as empresas do Estado. Quer dizer, a gente começou a sentir um outro jeito de administrar, né. E aí você tinha vários...várias figuras estranhas que começaram a aparecer e a gente...pra ser sincero, não posso nem dizer que pediram alguma coisa heterodoxa enquanto eu estava lá, porque não pediram. mas assim, era muito estranho o direcionamento que estava sendo dado. O que acontecia era o seguinte, por exemplo, você fazia um plano de marketing, você tinha que ir lá na sala do Mauro Ricardo, sentava com ele, e ele falava “tudo bem isso, não, ta tudo bem...” a única coisa que eles fizeram foi o seguinte: toda propaganda do banco, assim como da Sabesp etc, tinha de ter o logo do Governo do Estado. Até então isso não acontecia. A gente só punha em casos específicos, não institucionais e tal...e tinha de ter depoimentos de cidadãos. Tanto é que a propaganda, a partir dali, passou a ter depoimento de cidadão verídico. Estabeleceram, não tinha jeito, e a gente começou a fazer. E aí começou...eles trouxeram um presidente que era o Milton Luiz, que é o cara que está hoje tocando a empresa de fomento aqui do Estado, esse cara era o chefe de gabinete do Henrique Meireles no banco Central. Era um cara de carreira do Banco Central muito ligado ao Henrique Meireles. Então ele veio ser presidente, que dizer, foi muito estranho: porquê que um cara ligado ao Henrique Meireles, que estava no governo do PT, veio participar do governo PSDB e tal? A gente achou muito estranho isso. Mas ele veio, aparentemente com um perfil muito técnico, colocou algumas pessoas técnicas em áreas técnicas...ele sempre falou pra gente: “não aceitem nada, nenhum pedido estranho, vocês estão numa área perigosa, cuidado com o que pedirem”, ele sempre assinou muito embaixo quando a gente falava “isso aqui está meio estranho, não vamos aceitar”, e aí, corroborava. Aí, quando chegou em 2007, a Marli (eu sempre trabalhei com a Marli que é uma pessoa de carreira também), ele a convidou para ser a diretora de marketing e RH do banco. Ele convidou e ela aceitou (começo de 2007), porque uma outra pessoa estava saindo, e ela ficou e me levou para o RH. Falou, “olha o Rh precisa mexer porque o modelo da Accenture não tinha ido muito bem e tal, você vem para o RH”. E eu continuava dando uma assessoria em marketing mas com um outro colega lá no marketing. Eu ficava no mesmo andar então a gente trabalhava junto. E aí foi, 2007 a gente foi tentando reestruturar aquilo e veio a folha de pagamentos, só que veio comprada. Foi isso que quebrou a Nossa Caixa. Aí que a Nossa Caixa veio comprada. O Serra estipulou o seguinte: não vai de graça como tinha sido acertado. Não sei se vocês lembram, o Claudio Lembo, que substituiu o Alckmin porque ele se candidatou a presidente, ele passou um decreto dizendo o seguinte: a folha é de vocês. Quando chegou o Serra, logo em janeiro, ele avisou o seguinte: não tem isso, se vocês quiserem vocês vão comprar a folha, eu vou leiloar a folha. E a folha, juntando tudo deu uns 4 bilhões, quer dizer, comeu o lucro do banco por uns 10 anos (ele vinha dando uns 400 milhões/ano), então assim, matou o lucro do banco, tudo aquilo que a gente tinha pensado matou porque teve de fazer um desembolso, pra comprar uma folha que era sua, que já estava vindo por decreto, só que ele falou “vem, mas agora vem paga, esse dinheiro tem de entrar para os cofres do Estado” . E foi aí que a Nossa Caixa degringolou, porque aí ela começou em 2007 a não conseguir fazer resultado porque tinha um desembolso muito grande. Quando chega em 2008 começou uma história estranha, e tal, até que um dia, acho que foi 21 de abril ou 21 de maio (não me lembro agora) de 2008, eles chamaram a gente, chamaram todos os gerentes e falaram “olha, a Nossa Caixa está sendo adquirida pelo banco do Brasil, foi um acerto que o Serra fez, e tal, porque ele precisa de dinheiro para o caixa do Estado (metrô, rodoanel, etc), só os 4 bilhões não deu, então ele precisa de um dinheiro razoável, e o banco do Brasil fez uma proposta, e a gente vai caminhar nessa proposta”. Então foi aí que começou a aquisição, o banco do Brasil fez todo o processo de aquisição e aí, nesse final, eu fiquei designado pelo Banco do Brasil para fazer a transição entre os 2 bancos na área de RH e marketing. 3) Essas mudanças exigiram novas qualificações/novos desafios na sua carreira? Quais alterações mais relevantes no seu trabalho? A impressão que eu tenho foi o seguinte...é...eles começaram a exigir um pouco mais do cara que estava na ponta para vender. Tanto é que a idéia era essa, exatamente, que você passasse a fazer o cliente consumir mais. Então começou-se a cobrar mais meta, na verdade. O que aconteceu aí foi que, existia um sistema de metas, muito incipiente e tal, aí eles desenharam um sistema bem mais amarrado. Esse sistema teve uma inteligência por trás, o (inaudível) uma inteligência de negócios, e aí passou a ficar tudo muito amarrado. Então a área de controladoria, por exemplo (é interessante isso, né), até aí, 2003-2004, os caras que chegavam em diretorias, ou eles vinham da auditoria, porque conheciam muito bem o banco, ou da área comercial. A partir daí começou a sair o pessoal da controladoria, porque a controladoria se tornou a área mais importante do banco. Ela passava a designar as metas, ela passava a controlar o planejamento, o orçamento, quer dizer, a parte de custos...então tudo isso começou a ser feito, porque não era feito com regularidade. E começou a se cobrar bastante metas, se criaram áreas estratégicas de negócios, gerentes específicos para cobrar na área de pessoa física, pessoa jurídica, de governos, enfim...então do ponto de vista do impacto, houve sim, e houve inclusive impacto por requalificação, quer dizer, começou a se cobrar um pouco a coisa do pessoal se qualificar melhor, estudar um pouco mais, enfim, fazer cursos específicos, criaram um sistema de CRM, a idéia era aquilo ter um relacionamento melhor com o cliente, e tal. Então isso teve impacto, eu acho que foi um impacto considerável, só que, quando ele estava num crescendo, que é 2006 início de 2007, aí vem a venda da folha, e isso quebrou literalmente o... eles puseram um diretor (que o sindicato é que deve lembrar bem), o Luiz Francisco, o “Chico picadinho”. Ele era um cara que tinha vindo da Caixa Federal, e ele virou diretor de rede. Ele era um cara que cobrava absurdamente o pessoal de rede. Ele cobrava com muita força, ele tinha fama de não dormir, de trabalhar full time etc, então ele começou a cobrar muito pesado. E o que aconteceu aí foi que o pessoal passou a sentir...agora, veja bem, pro pessoal mais jovem do banco abriu aí uma oportunidade, vou ser bem sincero, esse pessoal acabou abraçando, cresceu entendeu? É mais ou menos assim: “ah ele é agressivo, eu também sou, então vamos todos ser agressivos e vamos...”. E o pessoal mais velho sentiu muito...alguns se adaptaram outros tiveram...tanto é que a gente acabou fazendo uma espécie de PDV logo que entramos no RH...não era nem um PDV, era mais ou menos assim um incentivo à demissão, à aposentadoria, mas muito pequeno. Geralmente as pessoas que eram aposentadas teve uma espécie de “forçação” de barra da diretoria para que saíssem, e saíram 2 mil pessoas do banco. Numa leva só. Com nenhum incentivo. Eram os 40% mais...era meio assim: o cara estava estressado, cansado, o banco percebeu ali que se desse qualquer incentivo as pessoas sairiam, e as pessoas acabaram saindo. Não foi nem um PDV típico. Na verdade o Banco do Brasil pegou um negócio fantástico. Arrumado, com a folha já acertada, (quer dizer, ele ficou devendo ainda uma parte da folha do Estado - o Banco do Brasil), mas assim, todo o serviço sujo, vamos dizer assim, de alguma forma estava feito. Então, desse ponto, de vista não dá pra negar que foi um bom negócio...porque ele era o 4º banco do estado de São Paulo. Aí ele precisava ganhar mercado aqui e pegou um banco já mais ou menos pronto, com todo serviço mais difícil feito. 4) Qual a relação do seu trabalho com sua vida social/vida pessoal? Deixa eu te falar um negócio bem curto e grosso: quando eu entrei no banco, entrei... eu tinha 18 pra 19 anos, e tal, e...assim, eu era muito menino e não tinha...eu trabalhava na editora Ática que é (inaudível) a editora Ática era de um comunista, professor Hélio, que liberava a gente pra qualquer manifestação política imaginável, a gente era liberado, meu pai comunistão, ele comunista né, então assim, “Diretas Já”? Tavamos aqui! Qualquer coisa que fosse política e fosse de esquerda ele liberava a gente do trabalho. Quando eu chego no banco, imagina o choque que foi pra um cara moleque, sair de uma empresa onde a gente tinha contato com os escritores angolanos...tudo o que era socialista, comunista, ele punha a gente lá. Ele falava “você é filho de comunista, então vem pra cá”. E venho pro banco, foi um baque. Detalhe: eu vim ganhando 3 vezes menos, pelo fato de poder estudar. Eu trabalhava só à tarde. Então pra mim o atrativo foi esse. E eu vim...um cara com 18, 19 anos, ele vem pra comprar um aparelho de som. Você não vem pra tentar uma carreira. Então, você imagina... eu tinha ali 19 anos, você pensa: pô, que é que eu vou fazer eternamente aqui? Vou pensar numa carreira, ou não? Então eu fui por osmose no banco. Tanto é assim que eu nunca paguei o plano de previdência, portanto eu nunca pensei em me aposentar no banco, e tal...e aí eu fui sendo levado, quer dizer, fui passando de área em área, passei por muitas áreas, sempre gostei dessa coisa de mudar, e tal, estudei muito dentro do banco, não posso negar que nesse sentido foi fantástico...agora...quando chegou em 2003, eu acho que assim...ali eu estava mais ou menos pelo auge da carreira dentro do banco, quer dizer, dali pra frente, só se fosse diretor. E dali pra frente também não tinha mais pra onde correr, quer dizer, você tinha... enquanto foi o desafio do planejamento estratégico parecia um negócio interessante, porque a impressão que dava (eu não sei se existia alguma coisa por trás), mas a impressão que dava era que, de fato, os caras iam tornar aquele banco competitivo, e de fato tinha seriedade naquela coisa, naquela reestruturação. Só que, quando chegou em 2006/2007, quando vem chegando a turma do Serra, aí a percepção era assim, game over, acabou. Porque a percepção que a gente tinha, desde essas meninas, que depois sumiram e eram muito estranhas, até Mauro Ricardo, enfim, era assim: eles vão arrancar o máximo de dinheiro que puder, e depois vão vender o banco. Estava meio claro o que ia acontecer. A gente achava que ou vai ser pro setor privado, dificilmente seria o Banco do Brasil. Até nos causou surpresa porque, de alguma forma, o governo federal jogou dinheiro na campanha do Serra. De alguma forma isso aconteceu. E foi estranho. A gente achou: pô, por que o Lula faz um negócio desses, comprar um banco do Serra, por que fez isso? Depois é que você vai entender, tinha uma lógica. Mas assim, no começo a gente ficava irritado: “pô, como é que foi feito isso?”, e tal. Aí...ali, profissionalmente, pra mim o banco tinha acabado. Eu estava num...estava muito claro.Tanto é, que a Marli, que foi minha companheira nesses anos todos, a gente sempre trabalhou junto, eu falei pra ela: “você está na diretoria e eu estou na gerência. Na hora que o Banco do Brasil sentar com a gente, a primeira coisa, vamos conversar com eles e ver se eles fazem um PDV pra gente.” Porque era a primeira coisa...a gente que tentou negociar com eles, foi assim: nós sentamos com o Luiz Oswaldo (vocês devem lembrar que era uma ótima figura, vindo do movimento sindical e tal), sentamos lá e falamos, “Luiz Oswaldo, na boa, sem nenhum constrangimento, pense numa forma de...a gente faz a transição pra você, mas a gente não quer ficar”...não é nem pelo Banco do Brasil, mas assim, era um ciclo que tinha acabado, que estava fechando (estava muito claro pra mim isso), não tinha nenhuma...e eu não tinha mais nada a acrescentar ali. Nem ali, nem no Banco do Brasil. Pra mim aquilo tinha sido um fim, o fim estava ali...em 2007, eu até nessa época dei uma entrevista pra Ana Carolina e pra Helena, as duas estavam pelo Dieese aqui, eu sentei com elas aqui, acho que foi nesse prédio aqui, e a gente conversou um pouco, elas perguntaram: “pra você o quê que significa essa compra da folha de pagamento?” Pode perguntar pra elas (encontrei até a Helena hoje aqui, ela está no Travessia), eu falei pra elas: olha, acabou o banco agora, aqui, pode escrever isso. Eu lembro que eu falei isso : pode escrever que o banco acabou. Porque não tem como ele se sustentar e ele vai ser vendido. Vai ser questão de tempo (isso antes do banco do Brasil fazer a oferta, e tal). Então assim, estava muito claro pra mim nesse ponto, que não tinha mais carreira. Eu tinha casado em 1990, a Fátima trabalhava no Banespa, e quando o Santander comprou o Banespa, a Fátima (minha mulher), nós sentamos e ela falou: eu vou sair do Banespa. Então assim...eu lembro até que o Camilo ficou, um pessoal ficou, elas eram todos da aérea do complexo de saúde ali no parque clínicas, e ela resolveu sair porque ela não agüentava mais, estava cansada, ela queria fazer mestrado e tal...aí eu falei pra ela “sai”, tem um PDV relativamente interessante, ela tinha alguns anos de banco, então ela investiu em alguns imóveis, então a gente...ela ficou 1 ano sem trabalhar, depois ela prestou concurso para professora na prefeitura, passou, fez o mestrado e tal, e aí começou uma nova carreira pra ela. Então eu falava pra ela: no dia em que acontecer isso na Nossa Caixa eu vou fazer o mesmo, porque a gente não tem filhos, então, imaginou-se o seguinte: bom, vamos conseguir fazer essa saída...Então eu vinha me programando há alguns anos. Eu tinha começado a dar aula, já há alguns anos, tinha feito o mestrado, doutorado eu terminei em final de 2005. Então assim, quando eu terminei, eu já dava aula. E aí a minha idéia era o seguinte: ficava fazendo alguma coisa de consultoria (porque eu já tinha uma empresa de consultoria desde 2000, ainda tenho).Junto com o trabalho no banco. Só que, na verdade, a minha orientadora na faculdade abriu uma empresa e eu entrei como sócio (uma empresinha pequenininha, uma microempresa), pra prestar consultoria. Então a gente chegou a prestar alguma consultoria de cenários pra tendências, pra MBA, pra uma série de empresas de consultoria...aí eu pensei: pô, quando eu sair eu vou tentar ativar essa empresa de consultoria, vou centralizar um pouco mais nas aulas, e vou tocar minha vida mais ou menos em torno disso. Vinha também alguma demanda por palestra, e tal...então assim, eu fui estruturando a minha vida de modo que, quando aconteceu o banco do Brasil eu estava muito certo de que eu sairia, só não sabia por quanto que eu sairia. 6) Fale um pouco sobre o papel dos gestores, na condução do seu trabalho. A tecnologia, em relação ao processo de reestruturação, veio. Na verdade, quando a Caixa comprou a folha estávamos no meio do processo. A idéia era assim, a Nossa Caixa tinha uns 300 sistemas legados, era um banco que...toda a área de tecnologia da Nossa Caixa veio da Prodesp. Então o pessoal que era da Prodesp veio pra Nossa Caixa e criou um sisteminha. Então o sistema de conta corrente era um, o de poupança era outro...o quê que a Accenture vinha fazendo: transformando todos esses legados, botando um midle air ali, tentando fazer uma espécie de RP, eles estavam tentando amarrar isso num sistema de gestão da informação. E aí o processo de compra da folha pegou isso no meio, quer dizer, cortou-se gastos aqui, e aí isso começou a ficar mais lento. Então isso, ali já era um problema...porque a Nossa Caixa sempre foi muito percebida como um banco atrasado em termos de tecnologia e tal. Então, houve uma mexida. Segunda questão dos gestores, eu vou te dar um exemplo. No ano de 2007 a Nossa Caixa tinha uma coisa...duas coisas muito fortes: primeiro, o cara que era da Nossa Caixa, ele vestia violentamente a camisa da Nossa Caixa, era um negócio assim descomunal. Vou dar um exemplo pra você, então era assim, o cara era Nossa Caixa, e a vida dele era essa, se possível o filho dele ia ser da Nossa Caixa e o neto também, ele pensava a vida dele a partir dali. Em 2007, quando venderam a folha, houve...e ao mesmo tempo extremamente conservador. Pergunte pros meninos aqui que são da Nossa Caixa, quantas vezes o David e o pessoal que se alinhou aos gerentes ganhou as eleições dentro da Nossa Caixa. David Zaia e o pessoal dele. Eles se alinhavam aos gerentes. o gerente tinha um poder imenso dentro da Nossa Caixa, e na eleição podia por quem quisesse, perdia, porque esses caras tinham um esquema no interior de São Paulo fortíssimo, bastante conservador, muito ligado...mais ao PMDB, até coisas mais antigas, quercismo, e tal, e isso era forte. Então essa mistura de conservadorismo com uma atração pelo banco, deu uma coisa impar assim, uma cultura de amor ao banco dos caras porque aquilo era a vida deles. Em 2007, incrivelmente, esses caras começaram a se manifestar (David Zaia que já tinha virado deputado), eles começaram a se manifestar no sentido de não aceitar aquela forma como o banco estava sendo dilapidado, eles perceberam isso, e tal. Quando esse presidente chegou, e quando ele anunciou, no famigerado dia que...(eu não me lembro mais quê dia, eles decoraram isso, por isso que eu vou te falar), ele chamou a gente que estava aqui no dia a dia na gestão, anunciou pra gente, (eu lembro que era uma quarta à noite, eu dava aula aqui na Sociologia e Política, e nem fui dar aula porque não deu pra terminar), e ele chamou esses caras (tinha um feriado na quinta, eu acho que era semana santa), e na sexta ele chamou os gerentes regionais. Esses caras vieram todos de camiseta vermelha com uma faixa de luto preta, choraram copiosamente e chamaram o presidente de traidor, na frente de todo mundo. Foi assim que foi o processo. Mas assim, foi chamado de traidor, foi violento o embate, eles choravam muito, alguns falavam assim “acabou minha vida”...pra você ter uma idéia depois, a gente fez um trabalho em 2008 ainda, tentando recuperar um pouco essa coisa de auto estima e tal, e trouxemos um cara de motivacional, e tal...o cara, a primeira pergunta que ele fez foi “fale melhor e o pior acontecimento da sua vida nos últimos 5 anos”. Todos, sem exceção, o pior acontecimento eles falavam que foi o...tinha um nome isso...foi o fato relevante. E aí eles escreviam, cara, e choravam copiosamente. Aí esses caras entraram em parafuso, começaram a peitar a diretoria (um negócio estranho pros caras conservadores que eram, submissos que eram, começaram a peitar a diretoria), e assim, tudo o que esse presidente falava eles nem queriam ouvir falar dele...e se negavam a aceitar...então assim, foi um processo extremamente doloroso do ponto de vista da cultura organizacional. 7) Papel do sindicato: qual foi o papel do sindicato no processo? Avalie se o sindicato conseguiu intervir no processo e representar os interesses dos funcionários? Isso são 2 momentos, Arnaldo, assim, o papel naquele momento da reestruturação, acho que o sindicato...da reestruturação de 2003 até 2006 mais ou menos, o sindicato bateu bastante, e principalmente a questão lá do problema na publicidade, isso calhou de ser o mesmo...o problema, aliás, era de alguma forma parecido com o do...que era o cara de Minas lá, que tinha uma empresa de publicidade...que causou ao mensalão...era uma coisa muito parecida, de alguma forma. Era uma espécie de tentativa de utilização da área de marketing pra fazer...só que aqui tínhamos uma coisa piorando a história, que era o fato de estar descoberto contratualmente. Então, isso virou uma CPI também aqui...eu não precisei depor, mas a Marly foi...foi um deus-nos-acuda, eu lembro até do Romeu Tuma Jr que batia e falava assim “eu vou acabar com tudo”...isso a gente sentado ali, e tal. E assim, foi um período muito duro, a gente sabia, tinha sempre um contato direto com o pessoal aqui, todo mundo sabia o quê estava ocorrendo de fato ali mas, de alguma forma, foi até uma utilização política porque estava correndo a história do mensalão lá, e a mesma coisa muito parecida, senão pior, aqui. Só que aqui ele tinha maioria na Assembléia, então isso, de alguma forma, abafava um pouco o negócio. Então assim...e quando reestruturação, isso o sindicato bateu muito, principalmente nessa coisa do operacional do Luiz Francisco, que era um cara que cobrava coisas absurdas, de uma forma absurda e tal. No caso do Banco do Brasil, aí eu acho que teve 2 papéis diferentes. Eu acho que o primeiro papel (depois eu acho que você tem de confirmar isso com o pessoal que esteve na linha de frente, a Raquel, o próprio Luiz Claudio, enfim...), acho que num primeiro momento foi um papel de estranhamento e até de aceitação porque, veja bem, era um banco federal, era melhor isso do que um Santander ou qualquer outra coisa que o valesse, um Bradesco, e tinha uma ligação com o partido e tal, teve uma certa aceitação, incrivelmente quem aparecia posando como o paladino da justiça era o David Zaia, quer dizer, era o pessoal do PPS, mostrava assim “ah, mas nós não estamos aceitando tanto”, então houve uma coisa um pouco diferente, o sindicato, num primeiro momento tentou absorver, na minha percepção. Num segundo momento eu acho que foi...teve um embate difícil porque...eu lembro que a Raquel, num certo momento, começou a estressar com o pessoal do Banco do Brasil porque começou a ficar claro, nas entrelinhas, que tinhase prometido...eu vou ser bem sincero, a estrutura do Banco do Brasil, diferente da estrutura da Nossa Caixa (a Nossa Caixa era relativamente corporativista, mas era extremamente conservadora. Já tinha absorvido bancos nesse período: absorvemos o Sulbrasileiro, o Haspa...e absorvemos as pessoas também...lá atrás, absorvemos). O banco do Brasil é um corpo que rejeita tudo o que não é banco do Brasil. Historicamente é assim...eu fui estagiário do Banco do Brasil, eu sei, eu conheço a história. Até que num certo momento a Raquel começou a se bater com isso. Porque era assim, eles prometiam pra gente um monte de coisa (tem mil e poucas vagas...), teve muito menos ruído do que se imaginava, só que começou a se perceber o seguinte, que essas vagas respondiam a parte do processo, mas outra parte ia ficar alijada do processo...eles demoraram muito pra dar uma solução pra essa coisa de PDV...o Banco do Brasil, a impressão que dá é o seguinte: normalmente quem propõe é sempre alguém que está num cargo relativamente mais baixo, propõe, leva tecnicamente até o paroxismo quase, depois, na última hora vem um e diz vai, ou não vai. Na Nossa Caixa sempre o caminho era um pouco ao contrário, vinha meio top down (o que eu acho até de repente aqui é até um pouco mais democrático), mas eram culturas muito diferentes nesse aspecto, do processo decisório. E aí começou a haver um embate, a partir de um certo momento, que não tava claro...eles decidiram o PDV nas últimas 24 horas possíveis, eles decidiram uma série de coisas no finalzinho (tanto é que acho que decidiram agora o pagamento de uma gratificação variável que existia lá...decidiram agora). Eles demoraram muito pra tomar certas decisões que eram vitais. O povo ficou bastante inseguro, aí começou o embate do sindicato nesse ponto da insegurança. Porque eu me lembro muito bem que tinha um menino da...o...o cara que cuidava das relações sindicais lá era o Zé Roberto (não sei nem se ainda é) era um cara do movimento sindical. Ele era do Banco do Brasil, ele era do movimento sindical, aí ele foi colocado pra tomar conta dessa parte de...lá no RH, essa parte que fazia as relações sindicais...e houve um nível de embate duríssimo com ele, principalmente por causa do pessoal aqui do sindicato. Porque, chegou num certo momento, assim, aparentemente estamos todos na mesma raia, só que aí começou a pesar o corporativismo. E o corporativismo do Banco do Brasil, cara...eu saí do Banco do Brasil, eu fiquei 1 ano, em 1980, eu era menino...cara, é o mesmo banco. É inacreditável, as pessoas pensam da mesma forma, 25 anos depois...não 30 anos depois...eu fiquei olhando isso e falei, poxa, mas é o mesmo banco, é uma coisa assim muito...forte, e isso começou a pesar...a gente tinha proposto o seguinte: um trabalho de contratar uma empresa, a empresa que a gente propôs era a BBM (ou BBN?) que é uma empresa assim, (vocês podes não acreditar que exista isso, mas existe) ela iria tentar fazer os funcionários, pelo menos os de cargo de gestão, viver o luto. Viver o luto. Porque isso é uma fase de luto mesmo, se você não viver o luto você não absorve a morte, entendeu. Então assim, essa empresa é uma empresa de consultoria especializada...ela fez isso em várias empresas, fez o Real, fez o Santander...que é assim, o cara, esse cara que está aqui no nível de gestão, se ele não absorver, ele passa uma coisa muito negativa pra quem está embaixo, e a idéia é assim, se ele não absorver que morreu aquele banco que punha a camisa, se ele não conseguir por a camisa do outro...e até hoje...vai lá no banco do Brasil, “ah esse aqui é ex BNC, esse aqui é BB”, tem muito essa coisa forte, “ex BS” e tal. E o cara do BNC também fala “nossa patotinha”, entendeu? Então assim, no limite, isso não funciona. E a BBM ia fazer um trabalho, com uns 300 gestores mais ou menos, que era um trabalho assim de tentar convencer o cara de que dali pra frente a camisa era outra, e que ele tinha que viver a morte daquilo ali que ele viveu. Porque senão isso seria muito duro pro Banco do Brasil. Mas isso acabou não sendo comprado pelo Banco do Brasil, ele acabou não topando fazer...o que eu acho que foi um erro, porque na verdade eles criando um segundo banco ali dentro (tudo bem, são 15 mil pessoas contra 85 mil) mas eles criaram um grupo ali que não é muito fechado com o Banco do Brasil. Então, na verdade é o seguinte, seriam 6 seções de coaching...nós vimos eles fazendo isso com outros bancos. Na primeira seção o cara desaba de chorar. É uma coisa meio psicológica. Ele começa a contar como foi a vida e porque que ele amava aquele banco. E os caras começam a fazer um trabalho psicológico mesmo...na verdade o cara entra num processo quase que de regressão, é uma terapia mesmo. Então são 6 seções pesadas mesmo, o cara...ele tem de repensar a carreira...porque tem de ser claro pra ele assim, aquele mundo que existia ele não vai ter mais. Então assim, é engraçado, mas depois eu li livros sobre isso, assim, a teoria é o luto mesmo, de viver um luto... Deixe eu te falar um negocio, não me leve a mal, eu vou ser bem sincero. Uma coisa...eu acho que o sindicato ainda precisa crescer no conhecimento de banco. Sinceramente. Eu vou ser bem sincero aqui. Eu acho que tem uma coisa importante que é assim, o sindicato conhece muitas pessoas dos bancos, mas ainda conhece poço...eu estou sendo bem sincero, já falei isso pra Raquel, não tenho porquê esconder. Eu acho que tem uma coisa simples: precisa conhecer melhor como funciona um banco, a coisa técnica mesmo. Porque eu acho que é só assim que você vai derrubar o banco. Eu acho que...eu sempre falo isso, você vê que em toda reunião eu falo isso, eu acho que greve do jeito que está não vai funcionar mais daqui a algum tempo, banco não funciona mais assim, banco tem um outro jeito de funcionar, e eu acho que o sindicato precisa pensar sobre isso. Por que? Porque eu acho que o sindicato se apegou às pessoas, e é fundamental que isso aconteça, é pra isso que o sindicato está aqui, mas tinha um processo técnico girando por trás disso que não foi bem absorvido de início. Sinceramente. Eu acho que assim, ficou uma guerra meio que assim, o Zé Roberto era o sindicalista do lado de lá, era o João Marcelo, era todo mundo de sindicato. E aqui também. De repente isso virou pessoal, quebrava-se o pau entre o Zé Roberto e Raquel, uma coisa pessoal que eu digo assim “pô, você era do nosso lado como é que você está contra mim?”. Só que o cara estava representando, às vezes, uma outra concepção técnica que estava por trás...o que eu digo é assim: num certo momento a briga era técnica e virou quase pessoal. Quase pessoal que eu digo é assim: a gente perde a amizade, e somos do mesmo barco, militamos no mesmo partido, porque tem modelos diferentes aqui. E aqui, vou ser bem sincero com você, aqui no Banco do Brasil o partido deles é o Banco do Brasil. Quando entra em jogo essa coisa forte assim, aí é família. Eles começaram a ficar azedos com todo o processo (pergunte isso pra Raquel, teve momentos dela gritar com o Zé Roberto). Porque o processo é assim: o Robson, o ex presidente de RH prometia uma coisa. Aí descia pro Amauri, que era o diretor de RH, ele já era um cara que vinha de rede e tinha uma outra cabeça, e o Zé Roberto era um cara de sindicato. Quer dizer, ali existia uma coisa técnica por trás, que poderia estar nas entrelinhas, mas a gente estava ainda na briga do o quê é meu, o quê é teu. O que eu acho que aconteceu aí foi o seguinte: teve um projeto do Banco do Brasil técnico, forte, de fazer do jeito dele...o quê eu acho que ficou sem acontecer nesse processo? Ninguém olhou o quê era melhor nos 2 bancos. Esse é que foi o ponto. Isso aconteceu, por exemplo, no Real Santander, de alguma forma. A Nossa Caixa tinha um ou outro ponto razoáveis. O Banco do Brasil tinha muitos pontos melhores do que a Nossa Caixa. Só que a absorção foi deita mais ou menos assim: sugou-se isso aqui, e adapta-se tudo...quer dizer, o processo da Nossa Caixa, inclusive, foi uma aquisição, não foi uma fusão. EUA acho que assim, talvez tenha faltado...faltou porque tinha pouco quadro, eu acho, não deu pra fazer tudo isso ao mesmo tempo, o pessoal foi pego de surpresa pela voracidade do banco do Brasil...porque foi voraz o negócio... Por isso que eu digo técnico, no sentido de que esses caras não queriam deixar nenhuma chance dessa chave virar antes de passar o mandato do Lula. Por isso que eles fecharam 30 de novembro agora, seria o último dia pra acontecer tudo, só a contabilidade poderia ter...porque eles imaginavam assim: “se o Serra ganhar pode ter uma virada de governo, e não vamos deixar entrar dezembro pra não modificar a equipe de transição. Então tinha uma coisa fechada. Só que isso impactou todo o cronograma pra cá, pras pessoas. As pessoas tiveram que, em tempo recorde, tomar decisões de vida. Entendeu? Então o que eu estou dizendo é assim, a coisa técnica que eu estou dizendo é assim: tinha uma série de argumentos técnicos por traz, não estou dizendo que o sindicato não absorveu, eu estou dizendo que , de alguma forma, o sindicato se apegou à coisa das pessoas ( e tinha de fazer isso), e não tinha quadros técnicos pra ver o que é que está acontecendo do ponto de vista técnico, pra gente eventualmente falar “tecnicamente isso aqui não é o melhor modelo”. Não sei nem se esse seria o papel do sindicato...eu estou conjecturando aqui, ta bom? Mas eu acho que , de alguma forma, o que aconteceu ali é que se fez isso à toque de caixa...pra você ter uma idéia, o processo para as pessoas optarem pelo Banco do Brasil, ele foi aberto e fechado em 1 mês...quer dizer, 1 mês, só pra te dar um exemplo, mulher que estava grávida ficou sem cargo. Mulher que tinha tido nenê ficou sem cargo...elas ficaram sem cargo por quê? Porque eles não deram tempo sequer...olha que coisa absurda, eu achei isso, do ponto de vista do ser humano, dos direitos humanos, um absurdo. Toda mulher que teve nenê na época de opção pelo cargo, perdeu o cargo. Porque a percepção deles é a seguinte: não estava aqui fisicamente nesse período curto, então perdeu o cargo. E eu encontrei várias delas aí, e eu acho triste, a pessoa tecnicamente, o pecado delas foi ter filho na época do...então assim, aparentemente...e o Banco do Brasil não é um banco de fazer esse tipo de coisa. Ele fez porque a coisa técnica era tão forte, o prazo era tão curto, que eles foram fazendo coisas que eu acho que nem eles acreditariam nisso que eles fizeram. Agora, foi tempo recorde, isso sem dúvida. 8) Para você qual o significado mais importante do seu trabalho no Banco? Explique o sentido desse trabalho para você? Renda? Status? Poder? Carreira? Desenvolvimento? Aprendizado? Outro aspecto? Arnaldo, posso ser sincero? Eu nunca parei pra pensar sobre isso. Na verdade, assim, nunca teve sentido nenhum. Eu vinha ao banco e trabalhava, e enquanto eu estivesse feliz estava bom. Nunca parei pra pensar em carreira, nunca pensei nisso...nunca pensei em futuro no banco, nunca pensei em poder, pergunte pra quem me conhece aqui...o salário era interessante, não dá pra negar, mas achei que poderia viver com menos tranquilamente...e...entrei no banco esperando sair em pouco tempo e fiquei, fui ficando...não posso negar sim, fiz amigos no banco, tenho amigos até hoje... fiz uma carreira mas, eu nunca parei pra pensar nisso, juro pra você que eu nunca parei pra pensar nisso...literalmente, o dia em que o banco acabou, 30 de junho, morreu pra mim, não teve nenhum resquício, encontro as pessoas, janto com eles, almoço com eles, não tem nenhum membro...hoje é a primeira vez que eu estou falando do banco depois do dia 30 de junho...assim, eu gostava muito das pessoas do banco, tinha uma ligação muito forte com isso...mas assim, com o banco em si, não representou absolutamente nada. Sinceramente eu só lamento... Pô, eu acho assim, eu fiz coisas pelo banco que eu nunca faria . Eu participei do World show da abertura de capital...coisas que eu não faria em lugar algum. Então assim, aprendizado...o banco foi uma universidade pra mim. Eu não trocaria os 3 cursos de MBA, o mestrado, a pós, o mestrado, doutorado, pelo banco, eu não trocaria. Eu aprendi no banco coisas fenomenais...eu acho que assim, as pessoas com as quais eu convivi, figuras interessantíssimas, até do ponto de vista negativo, o cara pra eu não ser...isso foi fantástico. Agora, o que eu interessante é assim, a minha mulher...uma vez eu entrevistei uma menina pra um cargo no banco eu perguntei assim (foi a melhor resposta que eu já ouvi...por isso que você não pode subestimar a moçada), eu perguntei pra ela assim (ela tinha uns 22 ou 23 anos, isso faz uns 2 anos), eu perguntei pra ela assim: “o quê você espera do banco?”, ela falou: “eu espero ser feliz”, olhou na minha cara e falou “eu espero ser feliz”. Aí eu perguntei pra ela: “o quê que é ser feliz pra você?”, e ela falou “é ouvir a musiquinha do Fantástico e não chorar”. Cara, foi sensacional, eu peguei essa menina e falei, é a primeira resposta original, ela realmente era uma figura original... Fui feliz, tranqüilo, e nunca chorei com a musiquinha do Fantástico...(risos)...nunca tive nenhum problema em vir pro banco, sempre foi muito gostoso, sempre foi muito tranqüilo, agora, como tudo na vida, um dia tinha de acabar...e acabou pra mim sem nenhum trauma. Você deve lembrar, no penúltimo dia eu estava aqui em reunião com você, no último dia eu saí, almocei com os amigos, virei pra trás e o banco acabou, daquela mesma forma. Acho que assim, nos últimos 2 anos a gente já estava lá dentro, e a gente já trabalhava como banco do Brasil...e assim, indo pro banco do Brasil (é engraçado, você pode achar até que isso seja...), mas assim, eu não queria trabalhar com o Banco do Brasil. Acho que assim, estava muito claro pra mim...cada vez que eu vinha, sentava, não é pelas profissionais, mas assim, tem uma coisa forte ali dentro que é assim... Nossa caixa também tinha uma coisa forte. A Nossa Caixa tinha uma coisa que não tem no Banco do Brasil...escrevam isso, depois vocês vão me cobrar...(risos)...não tem amizade entre as pessoas, não tem. Pode ir lá e ver. Não tem amizade. Isso é uma coisa que a Nossa caixa tinha, cara, a gente era amigo, assim amigo de se ajudar...eu sai...eu entrei e saí do banco nenhum inimigo, sem nenhum. Pode perguntar isso aqui pra Raquel, o pessoal que conversou comigo, que trabalhou comigo em processo...eu acho assim, primeiro: transparência, a gente era muito claro, olhava no olho, e se não dava, não dava. Agora, a segunda coisa que eu acho que era bacana, cara, era assim: todo mundo se respeitava e se conhecia há muito tempo. E aí a gente, mais ou menos o tempo inteiro estava falando, “olha, fulano, beltrano e tal”. A hora que terminou, o cara que foi diretor de RH, que foi um canalha, o Itamar Mortagua, ele criou um blog...aliás acho até legal vocês entrarem...um blog da Nossa Caixa. Um blog de “como eu era feliz e não sabia”, vocês podem dar uma olhada. Foi o RH da Nossa Caixa antes da gente, antes da nossa gestão que foi a última. Então assim, eu estava no Rh na época da integração. Não tem lugar melhor pra você ver...aí, assim, eu vi tudo o que aconteceu, senti tudo...e o que eu achei engraçado, esse cara que criou um blog...detalhe, olhe quantas pessoas estão nesse blog...olhe quantas pessoas estão nesse blog e o quê elas falam...ali é assim, é voluntário (eu não estou porque eu acho ele um canalha) mas enfim, eu acho ele um grande sacana (foi ele que demitiu o Didi, entendeu?), foi um cara assim, ele tinha uma lógica bastante conservadora...era ligado a esses gerentes, foi um gerente regional e tal... 10) Qual sua visão sobre o futuro do trabalho no banco? Olha...vão acontecer 2 coisa. Primeiro, vai se exigir cada vez mais caras especializados, mas não em front ofice, quer dizer, não em atendimento, em back ofice, eu acho. Por quê? porque tudo aquilo que a gente vem levantando sobre o futuro dos bancos aponta pra...o banco vai investir cada vez mais na tecnologia e tal, e tentar fazer com que se transacione com a máquina ou com...só que, é obvio, isso nunca vai ser total, nem...quando o Santander entrou aqui no lugar do Banespa há 10 anos eles diziam: isso vai ser banco virtual, em 5 anos, totalmente virtual. Furou. Não foi. Não acho que em 10 anos também vá ser. Só acho que eles vão trabalhar rápido pra você não entrar no banco...mais do que isso, pra você trabalhar pro banco. Isso já é uma linha que a gente vinha trabalhando, com FEBRABAN também...então assim, qual era a linha? Fazer o cliente trabalhar por você. Ele não percebe mas ele põe o dinheiro lá e ainda trabalha. Não falava abertamente mas, assim, estava claro que era isso. Porque de alguma forma você vai fazer o cliente transacionar com a máquina e ter menos gente nessa interação, ta? Agora...as pessoas...assim, o meu pai foi caixa executivo de banco. Não sei se você sabe, o caixa executivo era um cara que, ele fazia tudo, ele era o caixa e...ele fazia...era uma espécie de supervisor. Essa figura morreu. Não existe mais essa figura. Depois virou caixa, molecada. Então assim, o banco cometeu um erro, na minha percepção, que é um erro que...os bancos pegaram as pessoas menos preparadas, ou mais novas, e puseram abrindo conta. Isso é um erro total porque é o cara que está abrindo o relacionamento com alguém, é o menos preparado, e às vezes ele esquece de pedir um dado vital, esquece de buscar um dado vital do cliente, e tal. Eu acho que agora a tendência vai ser ao contrário: os caras mais experientes, mais vividos, eles vão pra essa linha de frente com o cliente, porque tem a experiência. E essa moçada mais jovem, mais agressiva (porque isso é típico da própria geração, eles são bastante agressivos), eles vão entrar nessa coisa de trabalhar muito nessa retaguarda, essa retaguarda vai ser muito forte, principalmente essa parte de controles, gestão de risco e TI (ou PI?), isso vai ficar muito forte nos bancos, e o pessoal vai se especializar nisso, vai contar com o front ofice, vai sentar na frente do cliente o cara com mais experiência, o cara que consiga resolver pepino. Porque o cliente que for entrar na agência, fora o pessoal de mais baixa renda, vai entrar pra resolver pepino. E isso, obviamente, ele vai tentar pôr o pessoal um pouco mais experiente. Na minha percepção o que vai acontecer é isso. O processo de trabalho, acho que é meio inevitável, ele vai ficar cada vez mais...bom, primeiro, vai ter cada vez mais agências, ao contrário do que se imagina eu acho que vai ter muitas agências, por quê? A estratégia dos bancos vai ser abrir pequenas agências, com pouca gente, e bastante capilar. Você vai ter a noção de que em cada esquina tem um banco. O Itaú e o Bradesco já estão um pouco nessa estratégia. Então assim, vai ser bastante capilar só que, nesse banco que você vai, vão ter 6 pessoas, não vai ser um banco com um estrutura completa. Então eles vão pegar e distribuir as pessoas que tem, abrir mais pontos de atendimento pra dar mais capilaridade, mas ao mesmo tempo o banco vai ser uma loja pro cara entrar e fazer uma primeira transação, e depois eles tentarem fazer com que você transacione de acordo com o teu perfil. E isso eu acho, é o futuro relativamente próximo. Acho que as pessoas também vêem os bancos um pouco assim, se você pegar ...se faz uma pesquisa anual de como as pessoas vêem o banco (até é o teu colega o Celso Grisi que faz isso com a Fractal). O Grisi faz uma pesquisa de clientes de bancos, sobre bancos, o quê eles pensam dos bancos e tal, cliente PF, PJ, ele faz isso, só que ele cobra uma fortuna por isso. É ele e o Canton que era do IME (?). Então, eles fazem essa pesquisa todo ano, é o que eles chamavam de painel USP, aí um dia proibiram eles de chamar de painel USP então eles chamam de Pactal. Ali tem muito claro o quê que o cliente espera do banco também. O cliente espera do banco agilidade, o cliente não quer, de alguma forma, (as pessoas um pouco mais velhas) um tratamento especial, ele quer chegar com rapidez, resolver e, se puder dar uma máquina pra ele, ele até prefere, se ele resolver com aquela máquina. O problema é que ele nem sempre resolve com a máquina. 10) Qual é o futuro do sindicalismo bancário? Eu acho assim, que os sindicatos em geral vão ter posturas diferentes daqui a alguns anos, isso não tem...porque o trabalho está mudando...o trabalho bancário, sinceramente, é o seguinte: antigamente, eu peguei as greves do Gushiken em 1985, peguei as greves boas, que a gente fechava tudo isso aqui, tem foto minha pelo sindicato, e tal...quando...de uma época pra cá, eu lembro que uma época ( a Ana Tércia deve se lembrar disso), os caras punham helicópteros pra gente subir nos prédios, o Unibanco aqui punha...só que isso aí, o quê é que vai acontecer daqui a pouco tempo? O cara vai trabalhar de casa, com moden, não tem...e vai conseguir...acho que cada vez...isso cada vez tem menos eficácia, acho que o sindicalismo vai ter de se adaptar a isso... por exemplo, quer ver ação mais eficaz...eu falo pra Raquel (eu entendo a Raquel porque ela era a pessoa mais conhecida do sindicalismo) (inaudível) mas eu falo dela porque é uma pessoa com quem eu tenho amizade há muitos anos, mas assim, pergunte pra ela qual foi o momento mais importante dessa fusão que ela conseguiu peitar os caras, qual foi? O dia em que ela fechou a área de TI. Ela foi lá na área de TI e parou a área de TI. Pergunte se nesse dia...eu fui negociar com ela. Eu fui em nome do banco...porque o banco do Brasil me ligou e falou você é a única pessoa que ainda... porque o Zé Roberto já não conseguia falar com ela, então vai você...eu sentei com ela (pergunte pra ela!a gente reproduz aqui o diálogo)...estavam todos sentados ali, ela falava “não vai entrar ninguém”...a gente sentou, conversou, mas assim, pra mim aquilo foi o grande acerto estratégico. Fechou a área de TI. Ali parou, entendeu? Então assim, eu acho que tem...lá dentro...não estou...entendo isso no sentido crítico. O que eu estou dizendo é assim, eu acho que a agência tem um efeito visual, é bacana, fechando X agências e tal, mas o cara pode colocar 1 funcionário... Então, eu não consigo entender muito, pelo seguinte: quando você fala, por exemplo...vou te dar um exemplo, nós fizemos um processo de cadastramento de gerentes (um concurso interno), foi a última coisa com Nossa Caixa que eu fiz... o pessoal do sindicato até participou bastante comigo nisso...porque assim, veio, eu peguei feito, tinha uma coisa direcionada pra ajudar algumas pessoas que eram ligadas ao diretor antigo e tal, e a gente tentou desfazer aquilo...foi um trabalho de pegar, Soninha vai, quase me matou e tal, mas a gente sentou e refez. E teve um negócio interessante ai: o carinha que não passava, geralmente o mais jovem, ele denunciava, punha o nome, só que não batia só na gente, batia no sindicato também. Ele batia de todos os lados e dizia o seguinte...agora engraçado, porque que ele queria resolver o problema dele? Não era o problema da categoria. Então assim, quando resolvia o dele, aí ele saía escrevendo assim: “olha está tudo certo, não precisa mais atender esse pessoal” etc. Cara, quando eu comecei a ver isso eu me assustei bastante, foi final de 2008. Foi a última coisa que ainda era a Nossa Caixa que restou da Nossa Caixa. Não sei nem se eu tenho esses e-mails guardados, mas assim, eles denunciavam um ao outro, uma coisa bem assim dedo duro mesmo, eles falavam assim: “olha fulano de tal fez tal coisa, tal dia”. E era uma coisa muito pessoal, num nível pessoal. Quando eu vi isso, eu juro pra você o seguinte, a minha hipótese é de que esse pessoal é bastante individualista. Não sei como é que eles pensariam coletivamente. E esse é um pessoal que está chegando nos CPD (CPD é uma linguagem antiga, mas enfim), nas área de TI e tal. Eu não sei o quanto seria fácil...assim, eu acho que se afetar diretamente o bolso deles e a carreira no curto prazo...porque eles sempre falavam assim pra mim: “como é que você passou tantos anos dentro desse banco, estudando isso que você estudou, eu já teria caído fora há muito tempo”...quer dizer. eles são muito mais imediatistas, entendeu? Como é que esse pessoal vai se relacionar com o sindicato...sugestão, acho que o sindicato tem de fazer um belo trabalho de entender a geração Y, e ver o quê essa geração pensa em termo de sindicato. Porque é esse cara que está chegando nos bancos. A minha geração acho que só tinha 2 coisas: ou você era conservador pra cacete ou então você era mais politizado e conseguia se entender com o pessoal. Era isso. Essa geração, acho que assim, não é nem necessariamente conservadora , nem necessariamente politizada. Esse cara...quer ver onde você conhece esse cara...vá nas redes sociais e comece....nas redes sociais, orkut, face book , e dá uma espiada nesse pessoal conversando, por exemplo, na greve de setembro. O pessoal da Nossa Caixa e do Banco do Brasil discutindo a greve. Então é um perfil bem mais jovem...isso a gente estava começando a fazer no banco, o Banco do Brasil monitora isso (não sei se vocês sabem disso), monitora as redes sociais. E monitora as pessoas falando. Eles discutem, inclusive, o fechamento das agências, discutem um monte de coisas dentro das redes sociais. Espiona abertamente porque eles sabem que alguém entrou ali. Aliás eles têm gente do banco dentro dessas redes sociais. Agora, olhem lá pra vocês verem o quê essa moçada pensa. É muito interessante. É muito interessante. Porque essa moçada pensa numa coisa bastante imediata...não estou dizendo...talvez o que a gente chame de politizado, Arnaldo, eu talvez seja um dos últimos dessa geração, politizado pra mim era assim, eu fui da LIBELU, entrei pro PT, etc, isso pra mim era politizado. Acho que pra essa moçada não é isso. A minha impressão é de que não é isso. É alguma outra coisa o politizado deles, assim, mexeu no calo eles se mexem. Agora, como o sindicato vai chegar neles é que eu não sei. Sinceramente, acho que essa é uma coisa pra vocês refletirem um pouco porque essa moçada é bastante individualista também.