figura Herculano Lima, juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça jubilado, com uma vasta experiência profissional, já desempenhou várias funções de relevo, nacional e internacionalmente. De magistrado do Ministério Público a Procurador-Geral do Distrito Judicial do Porto, passando por uma permanência na Comissão Europeia, tomou posse, em Janeiro de 2007, como presidente do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, tendo renunciado ao cargo em Outubro do mesmo ano. 56 herculano lima Experiência ao serviço da Justiça Texto: Marta Almeida Carvalho Fotos: Virgínia Ferreira Herculano Lima conta com uma já longa carreira na magistratura. Quarenta e sete anos a desempenhar funções na justiça resultaram numa vasta experiência e prestígio na área. Licenciou-se em Direito, em 1960, na Universidade de Coimbra, onde frequentou ainda o Curso Complementar de Ciências Jurídicas. “Esse curso era uma espécie de mestrado na altura e dava-me acesso a todas as profissões jurídicas”. Nesse mesmo ano começou a desempenhar funções no Ministério Público como magistrado, onde se manteve até 1967, altura em que passou a Juiz de Direito. Em 1975 ascendeu a Procurador-Geral Distrital do Distrito Judicial do Porto, cargo que desempenhou durante doze anos. Em 1987 viajou até Bruxelas para desempenhar funções na Comissão Europeia - como AdministradorGeral e Chefe de Divisão - e por lá se manteve durante cerca de sete anos. Regressou a Portugal em 1994, ao Supremo Tribunal de Justiça, onde permaneceu até 1997, altura em que ingressou como Juiz Presidente do Tribunal Arbitral do Consumo do Vale do Ave, cargo que ainda mantém. Para além da intensa actividade profissional, o juiz desembargador, natural de S. Martinho do Campo, concelho de Santo Tirso, é um desportista. “Sou um apaixonado por minigolfe, desporto que pratico desde muito jovem e onde já ganhei todos os títulos que havia 57 herculano lima figura para conquistar. Também pratiquei columbofilia durante muitos anos”, conta. Confessa ser um fervoroso adepto de futebol e o seu coração é azul e branco, nutrindo ainda alguma simpatia pelo Boavista e pelo Vizela, onde também é associado. Não gosta de mediatismo e assegura ser uma pessoa que não cede a pressões. “Decido sempre em consciência e pela minha cabeça”. Renúncia ao cargo na FPF Por ser uma figura conceituada no meio jurídico, foi convidado para presidente do Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), 58 tendo tomado posse em Janeiro de 2007 com a perspectiva de se manter na liderança durante um ano, período em que iria presidir às decisões dos recursos no caso «Apito Dourado». Ao fim de dez meses renunciou ao cargo em virtude de uma decisão do plenário do Conselho de Justiça, em sede de recurso, que veio reduzir de seis meses para cem dias um castigo imposto a Valentim Loureiro. Recorde-se que este processo foi desencadeado por declarações do então presidente da Liga dirigidas ao juiz Pedro Mourão, na altura membro da Comissão Disciplinar daquele organismo. Herculano Lima votou vencido na decisão que permitiu a Valentim Loureiro retomar a presidência da Mesa da Assembleia-Geral. “A minha declaração de voto de vencido neste processo traduz a minha concepção de Justiça, que exige isenção e respeito pela legalidade. A decisão que fez vencimento não interpretou correctamente os preceitos legais definidores dos critérios de graduação das penas e, o que é mais grave, fez apelo a elementos estranhos a essa graduação. Precisamente por isso é ilegal e praticou um abuso de poder, ao intrometer-se injustificadamente no poder legislativo desportivo”, sustenta o juiz conselheiro, salientando que qualquer sanção acima dos 120 dias torna o arguido não elegível a cargos futuros. Com esta renúncia, António Gonçalves Pereira, vice-presidente do CJ e vereador sem pelouro da Câmara de Gondomar, subiu ao cargo de presidente. “Como ex-presidente não me pronuncio sobre a actual liderança. Como cidadão, atento ao fenómeno desportivo, tenho plena confiança em alguns dos seus membros, mas a decisão proferida neste processo criou um precedente altamente inibitório de aplicação de penas disciplinares superiores à que aí foi aplicada”. Relativamente ao caso “Apito Dourado”, Herculano Lima diz “não conhecer aprofundadamente o processo criminal”, que tem por objecto a corrupção desportiva em matéria de arbitragem e cujos arguidos são agentes desportivos de relevo social. “Não conheço o seu conteúdo e, muito menos, os elementos probatórios que dele constam. Obviamente que não posso, nem quero, emitir qualquer opinião sobre o seu desfecho. Mas pela minha longa experiência judiciária, tenho a convicção que “a montanha vai parir um rato”, diz. Q 59