Edição do Professor D2 As Crises do Século XIV Páginas da História História | 8.º Ano de Escolaridade Aníbal Barreira | Mendes Moreira Com colaboração de Eva Baptista No contexto de implementação das Metas Curriculares, esta publicação visa cumprir o subdomínio “As Crises do Século XIV” que, embora previsto no 7º. ano, poderá, neste período de transição, não ter sido lecionado. No ano letivo 2014/15, fará por isso parte do Manual Páginas da História, 8 º. ano. Capítulo D2 AS CRISES DO SÉCULO XIV Vítimas da Peste Negra (1347-1350). A Europa em dificuldades na 2ª metade do século XIV. Batalha de Aljubarrota (1385). Roteiro das Aprendizagens • Fichas de Trabalho .nº 1 (pág. 18) e nº 2 (pág. 19) • Aconteceu... A Peste Negra. (pág. 20) • Quem foi... Nuno Álvares Pereira? (pág. 21) • À Conversa com… D. João I, “O da Boa Memória”. (pág. 22) D2 1. A crise do século XIV na Europa – causas e consequências demográficas e económicas Com a aprendizagem deste assunto, vais ser capaz de: • Identificar as causas da crise do século XIV. • Explicar as suas consequências demográficas e económicas. • Indicar as medidas tomadas pelos senhores e pelo poder régio para fazer face à crise. As causas da crise do século XIV SUGESTÕES METODOLÓGICAS • Diálogo com os alunos sobre “Peste Negra” (conceito adquirido no 5º ano de escolaridade) a fim de despoletar as suas ideias tácitas e assim motivá-los para o estudo do tema. • Redação de um texto (cerca de 5 linhas) com base nas legendas internas do documento nº 4 “Enterramento das vítimas da Peste Negra”. • Trabalho para casa: realização da ficha “Aconteceu… A Peste Negra” (pág. 20). METAS CURRICULARES • Descritores de desempenho no.s 1.1. a 1.7. Entre os séculos XI e XIII, a economia europeia conheceu, como sabes, uma fase de expansão. Contudo, no século XIV, a Europa foi afetada por uma grave crise económica e social, em resultado de: • guerras – no século XIV, houve muitos conflitos entre as nações europeias. Entre todos, destacou-se a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), travada entre a França e a Inglaterra, que provocou numerosas vítimas e destruições (doc. 2); • fomes – ao longo do século XIV, as populações europeias foram afetadas por muitos períodos de fome. Na verdade, a paragem dos arroteamentos, as destruições causadas pelas guerras e as más condições climatéricas provocaram grandes quebras nas produções agrícolas, originando falta de alimentos; • epidemias – os períodos de fome foram agravados pela propagação de doenças. A falta de alimentos, as deficientes condições higiénicas e as destruições causadas pelas guerras favoreceram a expansão das doenças epidémicas. Entre todas, destacou-se a Peste Negra, proveniente do Oriente que, de 1347 a 1350, atingiu quase toda a Europa. Calcula-se que tenha morrido cerca de 1/3 da população europeia. Os centros urbanos foram muito afetados e, em algumas aldeias, a população desapareceu totalmente (docs. 3 e 4). Sabias que... DOC. 1 … o medo da morte era tão grande no século XIV que toda a gente clamava “Da fome, da peste e da guerra, livrai-nos Senhor”? Era o pedido que todos, ricos e pobres, faziam a Deus, apavorados com as desgraças da época. As consequências demográficas e económicas As guerras, as fomes e as epidemias provocaram um clima de insegurança e de medo (doc. 1). A população da Europa, em geral, diminuiu de forma drástica. Muita gente abandonou os campos e estabeleceu-se nas cidades, em busca de melhores condições de vida. Nos campos, por falta de mão de obra, muitas terras ficaram ao abandono, o que levou à quebra da produção agrícola e à subida dos salários dos trabalhadores. Os senhores (proprietários de terras), para compensar a perda de rendimentos, exigiram maiores rendas aos camponeses. Perante as dificuldades do mundo rural, vários monarcas europeus publicaram leis para obrigar os camponeses a trabalhar as terras, fixando-lhes também os salários. Nas cidades, o comércio foi, também, muito afetado. Por isso, os grandes mercadores e os mestres de ofícios, para fazerem face à diminuição dos seus negócios, fixaram os salários dos trabalhadores. Em resultado destas imposições, surgiram por toda a Europa levantamentos nos campos e nas cidades. Vamos ver. 4| Em resumo • No século XIV, a Europa viveu uma grave crise provocada por maus anos agrícolas (fomes), epidemias e guerras. • Um pouco por todo o Ocidente, a população diminuiu, a produção baixou e os preços subiram. • Para solucionar os problemas da quebra de rendimentos, os senhores exigiram maiores rendas aos camponeses. Também nas cidades, os assalariados foram sujeitos a exigências da burguesia. D2 – AS CRISES DO SÉCULO XIV Doc. 3 | A Peste Negra No ano do Senhor de 1347, na véspera do mês de janeiro, três galeras carregadas de especiarias chegaram ao porto de Génova, vindas à pressa do Oriente. Como estavam contaminados sem remédio, estes navios foram retirados do porto com ajuda de flechas inflamadas e outros engenhos. Empurrados de porto em porto, um dos três navios chegou a Marselha, onde morreram quatro quintos da população. Não servia de nada fugir porque, procurando-se um ar que se julgava sadio, morria-se mais depressa. Carta de Luís de Boeringen (cónego de Bruges), 1348 DOC. 2 | A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) – Provocada, em grande parte, por um velho conflito entre os reis ingleses e franceses por causa de certos territórios em França, esta guerra prolongou-se por mais de um século ainda que tivesse muitos períodos de tréguas. Em alguns locais, os sacerdotes fugiram, abandonando os fiéis que, ao morrer, ficavam sem a extrema-unção. A mortandade nas cidades era tão grande que os habituais locais de enterramento não chegavam para enterrar toda a gente. Em algumas cidades, os cadáveres eram lançados em valas comuns. O enterro das vítimas da peste era um suplício para os acompanhantes devido aos cheiros insuportáveis dos corpos. DOC. 4 | Enterramento de vítimas da Peste Negra na cidade de Tounai (Bélgica), em 1349 – Esta grande epidemia, transmitida ao ser humano pelas picadas das pulgas dos ratos infetados, atingiu cerca de 2/3 da população europeia, da qual 1/3 faleceu (cerca de 25 milhões de pessoas). 1. As guerras (destaque para a Guerra dos Cem Anos), as fomes e as pestes (sobretudo a Peste Negra). 2. A Peste Negra provocou elevada mortalidade na Europa, calculada em cerca de 1/3 da população. Esta epidemia afetou a população rural mas, sobretudo, a dos centros urbanos, o que se refletiu na redução de mão de obra. 3. Nos campos, diminuição da produção agrícola, subida de preços e das rendas. Nas cidades, fixação dos salários dos trabalhadores pelos grandes mercadores e mestres de ofícios. AGORA, RESOLVE... 1. Enumera fatores da crise do século XIV (docs. 1 e 2). 2. Refere os efeitos da Peste Negra na demografia europeia (docs. 3 e 4). 3. Que consequências económicas resultaram da crise do século XIV? FICHA DE TRABALHO Nº 1 (pág. 18) |5 D2 2. A crise do século XIV – os conflitos sociais e os movimentos milenaristas Com a aprendizagem deste assunto, vais ser capaz de: • Relacionar as revoltas rurais com as medidas senhoriais e régias. • Caracterizar os movimentos populares rurais e os conflitos sociais urbanos. • Explicar o aparecimento de movimentos milenaristas. As revoltas nos campos e nas cidades SUGESTÕES METODOLÓGICAS • Registo no quadro, ao longo da aula, das palavras-chave para posterior redação de um texto (4 a 5 linhas). • Realização ao longo da aula, de um esquema a fim de os alunos sistematizarem os conteúdos mais significativos. • Formulação de uma/duas questões (trabalho de pares) nos últimos 7 minutos da aula. Em seguida, outro grupo de alunos responde às perguntas dos colegas. METAS CURRICULARES • Descritores de desempenho no.s 2.1. a 2.3. As graves alterações na economia europeia provocaram, como sabes, mal-estar nas populações e geraram descontentamento: • nos campos, os rurais viram a sua situação agravada, em virtude de os senhores exigirem maiores rendas e tributos; • nas cidades, os assalariados enfrentaram o congelamento dos salários e as más condições de trabalho, impostas pelos grandes mercadores e pelos mestres das oficinas em defesa dos seus interesses. Assim, a crise económica provocou conflitos entre camponeses e senhores feudais e entre assalariados e mercadores e mestres das oficinas. Então, ocorreram por toda a Europa revoltas populares que, por vezes, assumiram grande violência. Entre as revoltas rurais (docs. 2 e 4), destacaram-se as “jacqueries” em França (1358), isto é, motins de camponeses que foram provocados pela queda dos preços dos cereais e aumento dos impostos lançados pelos nobres. Quanto às revoltas urbanas (docs. 2 e 3), salientaram-se os conflitos dos “Ciompi”, em Florença (entre 1343 e 1378), em que os trabalhadores da indústria têxtil se revoltaram contra a exploração salarial e disputaram violentamente o governo da cidade à alta burguesia. Estas revoltas populares, em particular as rurais, terminaram com ações de forte repressão por parte dos senhores (docs. 4 e 5). Sabias que... DOC. 1 … nesta época de tantas calamidades e de grande insegurança, a arte representava danças macabras, em sinal de medo do futuro (doc. 1)? Face aos vários perigos e dificuldades em que viviam, muitos até esperavam a vinda do Filho de Deus para realizar o Juízo Final. * Flagelantes – os que se castigavam a si próprios, com vista à purificação dos pecados. A crise moral Em resumo Perante um mundo de violência e de insegurança, as populações viveram tempos de grande perturbação e angústia (doc. 1). Na verdade, como se pode ver nas manifestações artísticas da época, a representação das danças macabras (doc. 1) e as figuras de Cristo e da Virgem, em sofrimento, conheceram então uma grande divulgação. Os fiéis, perturbados, procuraram formas de religião popular. Uns, como a seita dos flagelantes*, incitaram à penitência para expiar os seus pecados, outros desenvolveram heresias, isto é, doutrinas não aceites pela Igreja e outros ainda defenderam ideias de fim do mundo próximo e da realização do Juízo Final (movimentos milenaristas). Mas houve, ainda, grupos que, perante um futuro imprevisível, adotaram uma atitude de indiferença e procuraram viver da melhor forma o seu dia a dia. • Os problemas económicos provocaram grande agitação social nos campos e nas cidades da Europa. 6| • As revoltas rurais e urbanas opuseram, respetivamente, senhores feudais a camponeses e a burguesia das cidades aos seus assalariados. • Os motins populares, por vezes de grande violência, foram reprimidos duramente pelos senhores rurais e pela burguesia urbana. • Nesta época, a ideia da morte atormentava as populações. D2 – AS CRISES DO SÉCULO XIV Oslo Principais centros de revoltas urbanas 1250-1300 1300-1350 1350-1400 1400-1450 Saques das judiarias na Península Ibérica Estocolmo Gotemburgo Glasgow Belfast Dublin Copenhaga Mar do Norte Londres Amesterdão Essen Antuérpia ic o Principais zonas de revoltas camponesas 1300-1350 1350-1400 1400-1450 Hamburgo Manchester Oceano A t lânt Brest Berlim Varsóvia Frankfurt Cracóvia Estrasburgo Viena Zurique Munique Lião Budapeste Zagrebe Milão Veneza Belgrado Bucareste Génova Bilbau Lisboa Sofia Roma Porto 500 km 0 Praga Paris Mar Negro Doc. 3 | Revoltas urbanas Na cidade de Ruão (em 1382), duzentos homens de ofícios foram à loja de um negociante de tecidos, a quem chamavam o Gordo e fizeram-no seu chefe. (…) Levaram-no ao Mercado Velho e fizeram-no dar ordens para que não houvesse mais impostos. (…) A multidão pôs-se a matar os oficiais do rei por causa dos impostos. Depois, dirigiu-se com fúria à abadia e (…) em seguida ao castelo, pensando em o atacar. Michel Mollat, Génese Medieval da França Moderna Tirana Nápoles Madrid Valência Mar Mediterrâneo Palermo Sevilha DOC. 2 | Revoltas na Europa do século XIV. 1. No século XIV, ocorreram conflitos sociais um pouco por toda a Europa, em particular na Inglaterra e França (revoltas rurais) e nas repúblicas italianas (revoltas urbanas). 2. Devido à quebra de rendimentos, os senhores agravaram as rendas e tributos sobre os camponeses. Então, estes revoltaram-se (assaltos, incêndios, assassinatos), o que levou a uma forte repressão pelos senhores medievais. DOC. 4 | Violência nos campos da Europa – Grupos de camponeses, revoltados com o agravamento de rendas e taxas, desencadearam assaltos e incêndios a castelos, mosteiros e chacinaram nobres e clérigos. DOC. 5 | Repressão das revoltas – Os levantamentos populares foram duramente reprimidos pelos senhores medievais. AGORA, RESOLVE... 1. Que áreas da Europa foram mais afetadas por revoltas rurais e urbanas (doc. 2)? 2. A que se devem as revoltas nos campos da Europa do século XIV? 3. Mostra como a crise do século XIV afetou moralmente a sociedade (doc. 1). FICHA DE TRABALHO Nº 1 (pág. 18) |7 3. O clima de violência e de insegurança provocou perturbação e angústia, que se refletiu na arte – representação de danças macabras e de figuras de Cristo e da Virgem em sofrimento; por outro lado, surgiram seitas religiosas e movimentos milenaristas que pregavam ideias de fim do mundo próximo e da realização do Juízo Final. D2 3. As especificidades da crise do século XIV em Portugal Com a aprendizagem deste assunto, vais ser capaz de: • Caracterizar os problemas ocorridos em Portugal, em particular no reinado de D. Fernando. Os reflexos da situação europeia em Portugal Portugal, à semelhança de outros reinos da Europa, foi abalado pela crise do século XIV. No reinado de D. Afonso IV (1325-1357), ocorreram maus anos agrícolas, de que resultaram períodos de fome e epidemias, entre as quais se destacou a Peste Negra, em 1348. Esta epidemia provocou, em poucos meses, grande mortandade nas cidades (Lisboa, Coimbra, Santarém), nos mosteiros (Lorvão) e nas vilas (o caso de Almodôvar, no Alentejo). Com a diminuição da população portuguesa, muitas terras ficaram por cultivar, o que fez diminuir a produção agrícola e, por conseguinte, as receitas dos senhores; por outro lado, muitos dos camponeses abandonaram os campos e rumaram às cidades. Ora, para tentar resolver os problemas do mundo rural (abandono das terras e quebra da produção), D. Afonso IV publicou, em 1349, as “Leis do Trabalho”, obrigando os camponeses a trabalhar nas terras e fixando os salários (doc. 1). Mas estas iniciativas não tiveram sucesso. O agravamento da crise no reinado de D. Fernando SUGESTÕES METODOLÓGICAS • Levantamento das ideias tácitas dos alunos sobre os conceitos “Lei das Sesmarias” e “Guerras Fernandinas” (programa do 5.º ano de escolaridade). Registo no quadro das informações mais relevantes para apoio à aula. • Redação de duas/três frases essenciais do assunto abordado na aula (registo e leitura das mesmas nos últimos 7 minutos da aula). METAS CURRICULARES • Descritor de desempenho no. 3.1. No reinado de D. Fernando (1367-1383), a situação do reino agravou-se (doc. 2). Na verdade, a contínua falta de mão de obra nos campos (doc. 3) e o crescente aumento dos preços levaram D. Fernando a publicar a Lei das Sesmarias (1375), que determinava (doc. 4): • a obrigação de os proprietários rurais cultivarem as suas terras, sob pena de as perderem; • a fixação dos salários e das rendas, de modo a evitar abusos; • a proibição da mendicidade, para fazer regressar mão de obra à agricultura. Entretanto, o reino confrontava-se com outro grave problema: as Guerras Fernandinas, travadas por D. Fernando com Castela, entre 1369 e 1382, por se julgar com direito ao trono castelhano. Derrotado sucessivamente nas três guerras, Portugal saiu fortemente abalado desse conflito (doc. 5). Com efeito, agravou-se a crise financeira, devido aos elevados gastos militares, a que se seguiu a desvalorização da moeda e a subida dos preços. Por isso, os conflitos sociais aumentaram e ocorreram motins populares (doc. 6). Mas, a crise portuguesa do século XIV piorou, ainda mais, em 1383-1385. O que aconteceu? Vamos ver. 8| Sabias que... DOC. 1 … em Portugal, em meados do século XIV, no reinado de D. Afonso IV, decretou-se, pela primeira vez, obrigatório o trabalho na agricultura? Aos que não obedecessem, o rei ameaçava com “penas de prisão, multa, desterro ou açoites”. Em resumo • A crise do século XIV manifestou-se, também, em Portugal. • Para resolver os problemas da crise de cereais e da subida dos preços e dos salários, os reis tomaram medidas, como a Lei das Sesmarias de D. Fernando. • Apesar destas medidas, a situação agravou-se com as guerras travadas por D. Fernando com Castela (1369-1382). D2 – AS CRISES DO SÉCULO XIV Escassez de cereais Levantamentos populares contra o casamento do rei com D. Leonor Segunda guerra fernandina Primeira guerra fernandina contra Castela 1369 1367 Lei das Sesmarias Secas 1371 1372 1373 1374 Terceira guerra fernandina Morte de D. Fernando Epidemias e secas 1375 1376 Reinado de D. Fernando 1381 1382 1383 1383 DOC. 2 | Principais acontecimentos no reinado de D. Fernando. Doc. 4 | Lei das Sesmarias (1375) El-Rei nosso senhor (D. Fernando) considerando que por todas as partes de seu reino há grande falta de trigo e cevada, e outros mantimentos (…) mandou que todos os que tivessem herdades suas fossem constrangidos para as lavrar e semear. E quando os donos das herdades as não aproveitassem, nem dessem a aproveitar, a justiça as entregasse a quem as lavrasse. E todos os que eram ou costumavam ser lavradores, que usassem de um ofício que não fosse tão proveitoso ao bem comum como era o ofício de lavrador, que fossem constrangidos a lavrar (…). 1. Portugal, à semelhança da Europa, foi afetado por fomes, guerras e epidemias, com destaque para a Peste Negra. Fernão Lopes, Crónica de D. Fernando (adaptado) DOC. 3 | Dificuldades nos campos – Com a falta de mão de obra, a produção agrícola diminuiu. 2. D. Afonso IV publicou as “Leis do Trabalho”, obrigando os camponeses a trabalhar nas terras e fixando os salários. D. Fernando publicou a “Lei das Sesmarias”, que obrigou os proprietários a cultivar as terras, sob pena de as perderem, fixou salários e rendas e proibiu a mendicidade para fazer regressar a mão de obra à agricultura. Doc. 5 | Males provocados pelas Guerras Fernandinas Dois grandes males recebeu o reino com esta guerra que el-rei D. Fernando começou com el-rei D. Henrique (de Castela). O primeiro foi o grande gasto de ouro e prata para pagar coisas necessárias à guerra. Por causa disto as coisas subiram a tão altos preços que el-rei foi depois obrigado a tabelá-los. Fernão Lopes, Crónica de D. Fernando (adaptado) AGORA, RESOLVE... 3. Guerras travadas por D. Fernando com Castela entre 1369 e 1382, por se julgar com direito ao trono castelhano. As derrotas sofridas por Portugal provocaram uma grave crise financeira, conflitos sociais e motins populares. 1. Que problemas enfrentou Portugal no século XIV (docs. 2, 3 e 6)? 2. Refere medidas tomadas por D. Afonso IV e D. Fernando para combater a crise da agricultura (doc. 4). 3. O que foram as Guerras Fernandinas (doc. 5)? DOC. 6 | Assaltos e saques – Os motins populares levaram a assaltos a castelos, casas senhoriais e mosteiros, sobretudo, no sul do país, como em Beja, Estremoz, Évora e Portalegre. FICHA DE TRABALHO > Nº 2 (pág. 19) |9 D2 A Revolução de 1383-1385 Com a aprendizagem deste assunto, vais ser capaz de: • Identificar o problema da sucessão ao trono. • Descrever os momentos decisivos da afirmação da independência do reino. • Relacionar a chegada ao poder da dinastia de Avis com as alterações na sociedade portuguesa. O Contrato de Salvaterra de Magos e o problema da sucessão (crise dinástica) SUGESTÕES METODOLÓGICAS • Registo no quadro, ao longo da aula, das palavraschave para posterior redação de um texto (4 a 5 linhas). • Exploração pedagógico-didática da rubrica “Grande Plano Sobre... A Batalha de Aljubarrota, 1385” (Manual). • Trabalho para casa: realização da ficha “Quem foi… D. Nuno Álvares Pereira” (pág. 21). • Exploração pedagógico-didática da secção “À Conversa com... D. João I, O da Boa Memória” (pág. 22). METAS CURRICULARES • Descritores de desempenho no.s 3.2. a 3.4. As Guerras Fernandinas terminaram com a assinatura do Contrato de Salvaterra de Magos (abril de 1383), acordo de casamento celebrado entre D. Beatriz (filha única de D. Fernando) e o rei D. João de Castela. Segundo este contrato, D. Leonor Teles (viúva de D. Fernando) governaria o país como regente, até que D. Beatriz (a herdeira legítima) tivesse um filho que, ao atingir 14 anos, se tornaria rei de Portugal. No caso de não haver descendência, o rei D. João de Castela (marido de D. Beatriz) teria direito à Coroa de Portugal. Pouco depois, morreu D. Fernando e levantou-se o problema da sucessão. A população portuguesa estava dividida. A grande nobreza e o alto clero, fiéis ao juramento de fidelidade a D. Beatriz, eram favoráveis a Castela; em contrapartida, o povo miúdo, a burguesia e os estratos secundários da nobreza e do clero apoiavam D. João, mestre da Ordem de Avis e filho bastardo de D. Pedro I. Sabias que... DOC. 1 … a aclamação do Mestre de Avis nas Cortes de Coimbra (1385) teve a oposição de muitos nobres? Mas a pressão dos representantes dos concelhos e os argumentos do jurista João das Regras levaram à eleição de D. João como rei de Portugal. ZON@ WEB 1383-1385, a afirmação da independência nacional Queres saber mais sobre D. João I? Em dezembro de 1383, o povo revoltou-se em Lisboa e aclamou D. João “Regedor e Defensor do Reino”. Em inícios de 1384, as tropas castelhanas invadiram o Alentejo e foram derrotadas em Atoleiros (docs. 3 e 4). De seguida, o rei de Castela, em defesa dos seus direitos, invadiu Portugal e cercou Lisboa (doc. 5). Mas a peste alastrou às suas tropas e teve de se retirar para Castela. Nos inícios de 1385, o Mestre de Avis foi aclamado rei de Portugal nas Cortes de Coimbra (docs. 1 e 2). De novo, o rei de Castela invadiu o nosso país, sendo derrotado nas batalhas de Trancoso, Aljubarrota e Valverde (docs. 3 e 6). Desta forma, Portugal conseguiu garantir a independência. Mas a paz só veio a ser assinada em 1411. No decorrer da revolução de 1383-1385, distinguiram-se D. João, Mestre de Avis, Álvaro Pais (destacado burguês de Lisboa e apoiante de D. João), João das Regras (legista e defensor do Mestre de Avis nas Cortes de Coimbra), D. Nuno Álvares Pereira (comandante do exército português) e, naturalmente, as massas populares. A revolução de 1383-1385 abriu caminho a uma nova dinastia – a de Avis e a uma nova sociedade – os membros da nobreza que se tinham posto ao lado de D. João (ex-Mestre de Avis) receberam títulos, cargos e terras; certos estratos da burguesia que apoiaram a causa foram promovidos, recebendo cargos políticos e administrativos. http://www.paginasdahistoria7.asa.pt 10 | Consulta o sítio Em resumo • Na 2ª metade do século XIV, Portugal envolveu-se em guerras com Castela – as Guerras Fernandinas. • Mal sucedido, D. Fernando acordou com o rei de Castela o Tratado de Salvaterra de Magos (1383), que pôs em perigo a independência de Portugal. • Em 1385, após as Cortes de Coimbra terem aclamado D. João, Mestre de Avis, como rei de Portugal, travou uma batalha decisiva para o reino – a Batalha de Aljubarrota. • A revolução de 1383-1385 deu início a uma nova dinastia (Avis) e a uma nova sociedade. D2 – AS CRISES DO SÉCULO XIV Doc. 2 | Aclamação do Mestre de Avis como rei de Portugal De forma que, pelas coisas que até agora vimos, este D. João, Mestre de Avis, que tanto trabalhou e trabalha para honra deste Reino, é apto e idóneo e merece esta honra e estado de rei. E por acordo unânime de todos, os grandes e comum povo responderam que promovesse o Mestre (de Avis) à alta dignidade e estado de Rei. Juntos em Coimbra, os prelados e os fidalgos que entendiam defender Portugal e alguns procuradores de certas vilas e cidades do Reino começaram a falar de quem devia governar. Nisto, chegou-se o dia em que haviam de abrir as Cortes. – Ora, senhores, – disse aquele doutor (João das Regras) –, este Reino está de todo vago e posto à nossa disposição para elegermos quem o defenda e governe. Fernão Lopes, Crónica de D. João I 1. Este acordo de casamento estabeleceu que, após o falecimento do rei D. Fernando, D. Leonor Teles ficaria como regente até que D. Beatriz, a herdeira legítima, tivesse um filho que, ao atingir 14 anos, se tornaria rei de Portugal. No caso de não haver descendência, o rei D. João de Castela (marido de D. Beatriz) teria direito à Coroa de Portugal. Santiago de Compostela Tui Ocea no Atl â ntico Valença Porto Salamanca Celorico Cidade Rodrigo Guarda Coimbra DOC. 4 | Batalha de Atoleiros (1384). Leiria PORT UGA L Alegrete ATOLEIROS (1384) VALVERDE (1385) Badajoz CA ST EL A Évora A DE REINO DE Santarém Lisboa No lugar de Atoleiros, perto da vila de Fronteira, o jovem fidalgo Nuno Álvares Pereira, à frente de um exército de cerca de mil homens, derrotou as tropas castelhanas que se dirigiam para Lisboa. Tomar ALJUBARROTA (1385) RO DOC. 5 | Cerco de Lisboa (1384). Enquanto o exército de Castela se dirigia para Lisboa a fim de cercar a cidade, uma armada castelhana entrou no rio Tejo para bloquear a capital portuguesa. Zamora TRANCOSO (1385) CO Sevilha Primeira invasão (1384) Segunda invasão (1385) Fuga do rei de Castela para Sevilha (1385) 0 50 km Batalha 3. A vitória alcançada em Aljubarrota pelo exército português, (comandado por D. João I e D. Nuno Álvares Pereira e apoiado por arqueiros ingleses) sobre as tropas castelhanas, (chefiadas por D. João I de Castela) foi uma decisiva prova de afirmação de Portugal como nação independente. DOC. 3 | A guerra com Castela (1384-1385). AGORA, RESOLVE... 1. O que estabeleceu o Contrato de Salvaterra de Magos? DOC. 6 | Estandarte de D. João I na batalha de Aljubarrota. No dia 14 agosto de 1385, deu-se a decisiva batalha entre Portugal e Castela – a batalha de Aljubarrota (ver Grande Plano Sobre… nas páginas 12 e 13). 2. Porque, após a morte de D. Fernando, parte da população do país (estratos secundários da nobreza e do clero, povo miúdo e burguesia) não concordou com o estabelecido no Contrato de Salvaterra de Magos e apoiou D. João, mestre da Ordem de Avis, ao trono de Portugal. 2. Por que razão não foi respeitado o Contrato de Salvaterra de Magos (doc. 2)? 3. Mostra a importância da batalha de Aljubarrota (doc. 6). FICHA DE TRABALHO Nº 2 (pág. 19) | 11 D2 Grande Plano A Batalha de Aljubarrota (1385) sobre... Após a aclamação de D. João, Mestre de Avis, como rei de Portugal nas Cortes de Coimbra (abril de 1385), o rei de Castela reuniu um grande exército e invadiu de novo Portugal. Ao seu encontro partiu uma força militar de cerca de 10 mil homens, comandada por D. João I e Nuno Álvares Pereira. A maior parte dos combatentes era formada por gente do povo armada com ferros pontiagudos (os chuços), apoiada por cavaleiros, besteiros e um destacamento de algumas centenas de arqueiros ingleses. Batalha de Aljubarrota. Ao final da tarde do dia 14 de agosto de 1385, deu-se a grande batalha. No terreno, frente a frente, estavam quase 30 mil combatentes de Castela e pouco mais de 10 mil apoiantes de D. João I, rei de Portugal. Arqueiro inglês. 12 | Besteiro português. D2 – AS CRISES DO SÉCULO XIV A vanguarda, chefiada por Nuno Álvares Pereira, posicionou-se numa colina. Era um local rodeado de pequenas ribeiras e com um único acesso, protegido por trincheiras e armadilhas. A retaguarda, comandada por D. João I, era formada por peões e besteiros; logo atrás, situava-se o material de guerra de apoio ao exército português (a carriagem). Disposição das tropas portuguesas e castelhanas no terreno. As armadilhas no terreno (fossos , “covas de lobo”) cobriam uma área do terreno, que foi decisiva para a vitória portuguesa. Ocupavam um corredor de 80 metros de comprimento e 40 filas paralelas. As investidas das tropas castelhanas e o fecho, em tenaz, das alas portuguesas Tropas castelhanas Quando a batalha começou, a cavalaria castelhana atacou com grande ímpeto. Os que conseguiram romper as linhas da frente foram cercados em tenaz. Então, cavalos e cavaleiros foram atingidos por sucessivas vagas de setas e dardos lançados pelos arqueiros ingleses e besteiros portugueses. As vítimas foram em grande número. Ao fim de uma hora, as tropas castelhanas puseram-se em fuga. Tropas portuguesas | 13 D2 Em Poucas Palavras Quadro-síntese 1. A CRISE DO SÉCULO XIV NA EUROPA – CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DEMOGRÁFICAS E ECONÓMICAS 2. A CRISE DO SÉCULO XIV – OS CONFLITOS SOCIAIS E OS MOVIMENTOS MILENARISTAS • As causas da crise – guerras (destaque para a Guerra dos Cem Anos), fomes (causadas por destruições das guerras e mudanças climáticas) e epidemias (realce para a Peste Negra). • Os problemas económicos e sociais da crise – sérias dificuldades económicas (decadência da agricultura e do comércio) e sociais (diminuição da população, revoltas nos campos e nas cidades). • Levantamentos rurais – devido às exigências de maiores rendas e tributos (as “jacqueries” em França, entre outros). • Conflitos urbanos – em resultado do congelamento dos salários e das más condições de trabalho (movimentos dos “Ciompi” em Florença, entre outros). • Crise moral – reações da população perante um mundo de incerteza e insegurança (danças macabras, culto de Cristo e da Virgem); movimentos milenaristas (ideias de fim do mundo próximo e do Juízo Final). • Reflexos da situação europeia em Portugal – várias calamidades (fomes, epidemias, conflitos militares) que provocaram diminuição da população, abandono de terras e conflitos sociais nos campos e nas cidades. • A Revolução de 1383-1385: 3. AS ESPECIFICIDADES DA CRISE DO SÉCULO XIV EM PORTUGAL - as origens da crise nacional: o desastre militar das Guerras Fernandinas e a assinatura do Contrato de Salvaterra de Magos (o trono de Portugal à mercê do rei de Castela); - os momentos decisivos da afirmação da independência do reino: a aclamação de D. João, Mestre de Avis, como “Regedor e Defensor do Reino”; as Cortes de Coimbra e o reconhecimento do Mestre de Avis como Rei de Portugal (D. João I); os confrontos militares, com destaque para a vitória decisiva na batalha de Aljubarrota (1385). - o estabelecimento de uma nova dinastia e de uma nova sociedade: a dinastia de Avis; a criação de uma nova nobreza e a afirmação de certos estratos da burguesia (os apoiantes da causa do Mestre de Avis). 14 | D2 – AS CRISES DO SÉCULO XIV Esquema-resumo CRISES E REVOLUÇÃO NO SÉCULO XIV Na Europa Em Portugal a fome, a peste e a guerra provocaram à crise económica e social vivida na Europa destruição e doenças insegurança e medo diminuição da população Consequências económicas, sociais e morais ŔGBMUBEFNPEFPCSB ŔEJNJOVJ£PEBQSPEV£P ŔBVNFOUPEFQSF£PT ŔEFTWBMPSJ[B£PEBNPFEB ŔBVNFOUPEFJNQPTUPT Revoltas sociais nos campos e nas cidades profunda crise moral (ideia da morte e do Juízo Final) juntou-se uma crise política O problema da sucessão ao trono em 1383 de um lado, D. Beatriz (e Castela) do outro lado, D. João, Mestre de Avis provocou graves conflitos sociais e político-militares em 1384 e 1385 DPNCBUFTFOUSF BTUSPQBTQPSUVHVFTBT BGFUBTBP.FTUSFEF"WJT FBTUSPQBTDBTUFMIBOBT BQPJPQPQVMBSDBVTB EP.FTUSFEF"WJT OBT$PSUFTEF$PJNCSB USJVOGPNJMJUBS EFDJTJWPOBCBUBMIB EF"MKVCBSSPUB (1385) D. João I, rei de Portugal (início de uma nova dinastia – a de Avis) | 15 D2 A1 Prova o Que Sabes (realiza as atividades no teu caderno diário) A. Situar no tempo. 1. Ordena cronologicamente, do mais antigo para o mais recente, os acontecimentos A a D. A. Morte de D. Fernando. C. Subida ao trono de D. João I. B. Peste Negra. D. Batalha de Aljubarrota. B. Analisar diferentes tipos de documentos. A B 1. B-A-C-D. 2. Guerras, fomes e epidemias. 3. A Peste Negra provocou grande mortandade nos campos e nas cidades, ocasionando falta de mão de obra, o que se refletiu na produção e nos preços. 4. Devido à crise demográfica do século XIV, muitos campos ficaram ao abandono e a atividade económica regrediu. Assim, os senhores, para compensar a perda de rendimento, exigiram mais rendas aos camponeses; de igual modo, os mercadores e os mestres de ofícios, para enfrentar a queda do comércio, fixaram os salários. Por isso, nos campos e nas cidades, os camponeses e os artesãos revoltaram-se contra as medidas impostas. Vítimas da Peste Negra. C Milhões de habitantes 80 70 60 50 40 1000 Guerra dos Cem Anos. 1100 1200 1300 1400 Evolução da população da Europa (1000-1500). 2. Refere, a partir dos docs. A e B, as calamidades que atingiram a Europa no século XIV. 3. Comenta a afirmação: “A Peste Negra teve forte impacto na Europa”. 4. Explica, com base no doc. C, as revoltas sociais do século XIV. C. Utilizar conhecimentos em novas situações. 5. Assinala com um X a opção correta para cada uma das afirmações. 5.1. No século XIV, vários reis europeus tomaram medidas para resolver a crise. Em Portugal, a) D. Dinis enviou aos concelhos as “Leis do Trabalho”. b) Fernando publicou a “Lei das Sesmarias”. 5.2. Em Portugal, tal como na restante Europa, houve períodos de grande tensão social. a) Nos campos, os senhores da terra revoltaram-se devido à quebra dos seus rendimentos. b) Em Lisboa e noutras cidades, o povo revoltou-se contra os apoiantes de D. Beatriz. 5.1. b). 5.2. b). 16 | 1500 Anos D. Interpretar documentos/fontes históricas. Valença Caminha D. Pedro I Bragança Braga D. Constança D. Inês de Castro D. Teresa Lourenço Porto D. Beatriz Infante D. João Infante D. Dinis D. João, rei de Castela D. João, Mestre de Avis Casamento Pretendente ao trono Viseu Atlâ ntico D. Fernando 7. Com a morte de D. Fernando, levantou-se o problema da sucessão. De acordo com o Contrato de Salvaterra de Magos, D. Leonor Teles governaria o país como regente até que D. Beatriz tivesse um filho que, ao atingir 14 anos, se tornaria rei de Portugal. Mas certos estratos da população não concordaram e nomearam D. João, Mestre de Avis, “regedor e defensor do Reino”, e que veio a ser aclamado rei nas Cortes de Coimbra, em 1385. Guarda Coimbra Oc ean o D. Leonor Teles 6. Tio e sobrinha. Castelo Rodrigo Leiria Os candidatos à sucessão a D. Fernando. Abrantes O Cerco de Lisboa (1384) Estando a cidade assim cercada (…), não havia trigo para vender, e se o havia era muito pouco e tão caro que as pobres gentes não podiam chegar a ele. (…) Muitos comiam ervas (…) e outros, devido à falta de carne, comiam as carnes das bestas (…). Ao fim de algum tempo, cercados e cercadores sofriam grandes males – os da cidade esperavam que el-rei de Castela levantasse o cerco por causa da peste (…) e os castelhanos esperavam que os de dentro, forçados pela fome, lhes entregassem a cidade. Lisboa Évora Setúbal Moura 0 Silves 50 km Faro Localidades que tomaram partido por D. Beatriz (por Castela) Localidades que tomaram partido pelo Mestre de Avis Principais centros de rebelião popular Fernão Lopes, Crónica de D. João I (adaptado) Levantamentos populares em 1383. 8. Em dezembro de de 1383, o povo revoltou-se em Lisboa e aclamou o Mestre de Avis como “regedor e defensor do reino”. Em reação, as tropas castelhanas invadiram o Alentejo, sendo derrotados em Atoleiros; de seguida, o rei de Castela invadiu Portugal e cercou Lisboa. 6. Identifica a relação de parentesco entre o Mestre de Avis e D. Beatriz. 7. Explica o problema da sucessão a D. Fernando, em finais de 1383. 8. Descreve a evolução dos acontecimentos até ao cerco de Lisboa, em 1384. E. Relacionar documentos diversos. 9. Redige um texto (c. 8 linhas), a partir das figuras A e B, sobre o título “1385, um ano muito difícil para Portugal”. B Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino. A 9. Resposta livre. (itens principais de resposta: aclamação do Mestre de Avis nas Cortes de Coimbra; batalhas de Trancoso, Aljubarrota e Valverde, com destaque para a batalha de Aljubarrota na afirmação da independência nacional). João das Regras nas Cortes de Coimbra de 1385. | 17 1 Ficha de trabalho (consulta as páginas 4 a 9 do manual) As crises do século XIV A Peste em Itália No ano de Nosso Senhor de 1348, ocorreu em Florença, a mais bela cidade de toda a Itália, uma peste terrível, vinda alguns anos antes do Levante e sempre a provocar grandes danos por onde passava. Poucos escaparam, e quase todos morriam no terceiro dia após o aparecimento dos sintomas. O que deu a essa peste maior virulência foi o facto de passar do doente para o são, aumentando diariamente. Boccacio, Decameron, 1348-1353 Revolta social. Epidemias Guerras e inundações Falta de cereais Levantamentos populares Peste Negra em Portugal 1348 1356 1361 1365 1372 1371 1373 Revoltas populares Revoltas populares Surto de peste 1383 1384 Fome 1394 Crise económica e social em Portugal "Leis do Trabalho", de D. Afonso IV 1349 "Lei das Sesmarias", de D. Fernando 1375 Crise económica e social em Portugal. 1. Indica, a partir dos documentos, os fatores da crise do século XIV. ___________________________________________________________________________________________________ 2. Refere as manifestações dessa crise em: 2.1 população europeia. ____________________________________________________________________________ 2.2 produção agrícola. _____________________________________________________________________________ 2.3 agitação social. ________________________________________________________________________________ 3. Como se refletiu a crise do século XIV em Portugal? ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ 4. Que medidas tomaram os reis portugueses para solucionar os problemas económicos e sociais da época? ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ 18 | 2 Ficha de trabalho (consulta as páginas 10 a 13 do manual) A Revolução de 1383-1385 D. Pedro I (1357-1367) D. Constança D. Teresa Lourenço D. Inês de Castro D. Fernando (1367-1383) Infante D. João Infante D. Dinis D. Leonor Teles Linha de sucessão legítima D. João, Mestre de Avis D. Beatriz (casada com o rei de Castela, D. João I) Candidatos à sucessão de D. Fernando. Linha de sucessão ilegítima Pretendentes ao trono Batalha de Aljubarrota (agosto de 1385). Cortes de Coimbra (abril de 1385) Falou então nas Cortes o Dr. João das Regras, homem muito letrado em leis: (…) Senhores fidalgos e ilustres pessoas, bem sabeis como nestas Cortes foram por mim expostas algumas razões a mostrar que estes reinos estão de todo vagos e ninguém há que possa herdá-los por linhagem, nem a quem pertençam de direito (…) Mas como sempre estes reinos foram defendidos e mantidos por rei (…) convem-nos eleger rei que faça tudo o que cumpre para não cairmos na sujeição de nossos inimigos (…) E pois é de considerar a pessoa que deve ser eleita (…) vejamos que condições se requerem nela (…) deve ser de boa linhagem e de grande coragem para defender a terra; depois ter amor aos súbditos, e com isto perfeição e devoção. Ora que todas estas condições se acham no Mestre (…) que tanto trabalhou e trabalha por honra e defesa destes reinos (… ) e merece esta honra e estado de rei. Fernão Lopes, Crónica de D. João I (adaptado) 1. Refere, a partir do esquema genealógico, os graus de parentesco entre: 1.1 D. Fernando e D. Beatriz. ________________________________________________________________________ 1.2 D. Pedro e o Mestre de Avis. _____________________________________________________________________ 1.3 D. Beatriz e o Mestre de Avis. ____________________________________________________________________ 2. Explica o problema dinástico, em 1383, levantado pela morte de D. Fernando. ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ 3. Como foi resolvido o problema de sucessão nas Cortes de Coimbra (abril de 1385)? ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ 4. Comenta a informação: “A batalha de Aljubarrota foi decisiva para a afirmação do reino de Portugal”. ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ | 19 Aconteceu... A Peste Negra Lê o texto e, em seguida, responde às questões abaixo. DONDE VEIO? Esta epidemia foi trazida da Crimeia (Mar Negro) por barcos italianos que aí negociavam. Entre 1347 e 1350, percorreu toda a Europa, sendo poucas as regiões que escaparam. A doença era transmitida por pulgas infetadas que provocavam nas pessoas picadas, inchaços ou bubões negros (daí o nome de Peste Negra) acompanhados de vómitos e febres. A difusão da epidemia foi favorecida pelas precárias condições higiénicas e sanitárias e pela subalimentação das populações. PARA ONDE SE EXPANDIU? QUE CONSEQUÊNCIAS TEVE? A Peste Negra provocou na Europa elevada mortandade, variável de região para região. As cidades e os mosteiros foram muito afetados. Também desapareceram milhares de aldeias. Calcula-se ter morrido um terço da população, ou seja, cerca de 30 milhões de pessoas. Para não provocar pânico, em muitas regiões, os sinos deixaram de tocar a finados. QUE MEDIDAS FORAM TOMADAS PARA A COMBATER? A epidemia provocou reações emocionais incontroláveis entre as populações. Em muitas regiões, perseguiram-se os judeus acusados de serem os causadores da doença. Na Alemanha e na Flandres, organizaram-se procissões onde os participantes se autoflagelavam, com chicotes, para espiar os pecados. Para combater a epidemia, foram tomadas várias medidas como o encerramento dos portos, o isolamento dos viajantes, a queima de grandes quantidades de plantas aromáticas para desinfetar o ar. 20 | Quem foi? D. Nuno Álvares Pereira, 1360-1431 1415: Participação na conquista de Ceuta. 1360: Nascimento de Nuno Álvares Pereira. 2009: Canonização pelo Papa Bento XVI. 1423: Ingresso na Ordem dos Carmelitas, tomando o nome de Frei Nuno de Santa Maria. 1373: Entrada na corte de D. Fernando, como escudeiro de Leonor Teles. 1384: Batalha de Atoleiros (nomeado “Condestável de Portugal”). 1385: Batalha de Aljubarrota (vitória militar sobre Castela). 1431: Morre no dia 1 de abril, com fama de santo. Graças ao apoio militar que deu ao mestre de Avis, conseguiu ser nomeado fronteiro do Alentejo e em 1384, aos 24 anos, condestável do reino, à época, a suprema chefia do exército régio. Recebeu importantes mercês e grandes doações: foi feito conde de Ourém, de Barcelos, de Arraiolos e de Neiva. Aos títulos juntava-se o respetivo património, originando a maior concentração de riqueza fundiária reunida então no reino, fora da Casa Real. O seu impressionante e crescente poderio, a par dos interesses de grande senhor, com vassalos e exército próprios, fizeram de Nuno Álvares Pereira um potencial adversário do rei. Bernardo Vasconcelos e Sousa, História de Portugal, Rui Ramos (dir.) (adaptado) Nuno Álvares Pereira no fim da sua carreira militar (1423). A batalha de Atoleiros traduziu-se numa notável vitória dos portugueses, graças à tática da cavalaria apeada, posta em prática por Nuno Álvares Pereira, reforçada por besteiros e disposta em vanguarda, retaguarda e alas. A batalha de Aljubarrota foi ganha graças à estratégia e à tática impostas pelo Condestável e ao seu excelente comando. A escolha do terreno e as armadilhas que o reforçaram fizeram por certo equilibrar o número de combatentes em presença. Manuela Mendonça (coord.), História dos reis de Portugal. Da fundação à perda da independência, vol. I (adaptado) D. Nuno Álvares Pereira foi ___________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ | 21 À Conversa com... D. João I, “O da Boa Memória” (1357-1433) Filho ilegítimo de D. Pedro I, tornou-se Mestre de Avis aos 6 anos. Em 1383, à morte de D. Fernando, seu meio-irmão, D. João encabeçou a revolta popular em Lisboa, recebendo o título de “defensor e regedor do reino”. Em 1385, nas Cortes de Coimbra, foi aclamado rei de Portugal, e, na batalha de Aljubarrota, alcançou uma vitória decisiva sobre as tropas de Castela. Em 1415, comandou a expedição a Ceuta, dando início à expansão ultramarina portuguesa. – Hoje, connosco, Sua Alteza D. João I, “O da Boa Memória”. Entrevistador D. João I – Como disse?! – Então, não sabe que o seu cognome é “O da Boa Memória”?! Foi muito bem posto, pois o seu reinado deixou muito boas recordações. Para além de tudo, salvou a independência de Portugal após a morte de _________ __________. Entrev. – Ah! Compreendo, agora. Estou totalmente de acordo, pois nessa altura o reino correu grande perigo. D. João I Entrev. – Como é que tudo começou? – Olhe, a rainha-viúva D. Leonor tinha grande simpatia por Castela e a sua filha, _____________________ estava prometida em casamento ao rei de ____________________. D. João I Entrev. – Sim, e ainda ____________________. havia um tal Conde de – Era um forte partidário de Castela e, ainda por cima, diz-se que era amante de D. Leonor. D. João I Entrev. – Enfim, só problemas! – Bem, quanto ao Conde de Andeiro, o problema resolveu-se num instante. Um dia, acompanhado por gente boa de Lisboa, subi aos Paços da Rainha e, rapidamente, demos cabo dele. D. João I 22 | – Então, isso foi uma conspiração! E depois? Entrev. – Depois, tudo se complica. A rainha-viúva foi para Santarém e chamou o rei de Castela para vir a Portugal tomar posse do trono. D. João I Entrev. – Um problema grave. – Sim, tivemos logo de nos preparar para a invasão castelhana. Os burgueses de Lisboa deram dinheiro para as despesas da guerra e nomeei ______________, um dos poucos nobres que me apoiavam, como comandante-geral das tropas. D. João I – E, quando se deram os combates? O que aconteceu a Lisboa? Entrev. – Bem, D. Nuno levou um pequeno exército para Atoleiros, perto da vila de Fronteira, no Alentejo. Aí tudo correu bem. O pior foi em Lisboa, onde durante sete meses sofremos um grande _______________________. Conseguimos resistir aos ataques castelhanos, mas foi a peste que nos salvou. Eles, assustados, levantaram o cerco à cidade. D. João I Entrev. ram. – Então, os castelhanos não mais volta- – Voltaram, pois. Quando eu fui aclamado rei nas Cortes de _________, em abril de 1385, o rei de Castela lançou um grande ataque a Portugal. Eles eram mais de 30 mil soldados e, até, vinham apoiados por tropas francesas. D. João I Entrev. – E nós, como nos defendemos? – Tudo se decidiu em __________, ali bem perto da Batalha. D. Nuno Álvares Pereira organizou um grande plano para enfrentar o inimigo. Em primeiro lugar, minou o terreno com as chamadas “__________”, uns buracos no chão com paus afiados voltados para cima. Depois, preparou as nossas tropas para atacarem “em tenaz” os cavaleiros castelhanos; por fim, colocou os arqueiros ingleses, sabiamente, no terreno. D. João I Entrev. – Então, tiveram a ajuda da Inglaterra!… – Sim, se a França apoiava Castela, nós pedimos que a Inglaterra nos apoiasse. – Quem havia de ser? Claro que fomos nós. Mas, como eu estava um pouco receoso, prometi a Nossa Senhora em plena batalha, construir ali um grande mosteiro, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória. D. João I – Hoje chamado Mosteiro da ________. Enfim, as lutas terminaram para Sua Alteza! Entrev. – Não, ainda houve alguns combates com Castela. Mas, depois, voltei-me para o Norte de África para combater os muçulmanos e tomar-lhes algumas cidades. D. João I Entrev. – Bem, essa já é outra história. – É verdade. São histórias de grandes aventuras em terras e no mar, de valentes cavaleiros e audazes marinheiros que levaram o bom nome de Portugal a correr todo o mundo. D. João I D. João I – Bem feito. Quem ganhou, afinal, a batalha de Aljubarrota? Entrev. TAREFA Preenche os espaços em branco no texto. Estátua equestre de D. João I, em Lisboa. | 23 Título D2 – As Crises do Século XIV Páginas da História 3.º Ciclo do Ensino Básico 8.º Ano de Escolaridade Autores Aníbal Barreira Mendes Moreira Com a colaboração de Eva Baptista Imagens © Shutterstock Ilustração Nuno Duarte I+G Execução Gráfica CEM Depósito Legal N.º 369 688/14 ISBN 9788888901367 Ano / Edição 2014 / 1.a Edição / 1.a Tir. / 5800 Ex. Esta publicação é parte integrante do Manual Páginas da História, 8.º ano e não poderá ser vendida separadamente. © 2014, ASA, uma editora do Grupo Leya E-mail: [email protected] Internet: www.asa.pt Linha do Professor 707 258 258