Discurso do presidente do CEE de Alagoas:
SAUDAR A MESA EM NOME DO VICE-GOVERNADOR E SECRETÁRIO DE
ESTADO DA EDUCAÇÃO, O EXMO. SR. JOSÉ LUCIANO BARBOSA E A SRA.
SUELI MELO DE CASTRO MENEZES, NOSSA PRESIDENTA DO FÓRUM
NACIONAL E PRESIDENTA DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO
ESTADO DO PARÁ.
Caríssimos, caríssimas que vieram prestigiar o 44a. Plenária Nacional do Fórum dos
Conselhos Estaduais de Educação – FNCE,
EU INTITULEI O MEU TEXTO DE
ODE AO EXÉRCITO DO CONHECIMENTO
É motivo de orgulho para Alagoas, terra de Lêdo Ivo, Breno Acyole, Jorge de
Lima, Graciliano Ramos, Pontes de Miranda, Zumbi dos Palmares, Calabar, Hermeto
Pascoal, Djavan, Jogadora de Futebol Marta, Zagalo, Marechal Deodoro da Fonseca,
Marechal Floriano Peixoto e tantos outros homens e mulheres que contribuíram com a
construção de nosso país, recebê-los aqui. Orgulho-me e fico cheio de vaidade por ser
um dos protagonistas deste momento histórico, ao lado de meus pares, Conselheiros
Estaduais de Educação do Estado de Alagoas e servidores públicos que assessoram essa
egrégia casa, que tanto tem contribuído com a Educação em nosso Estado. Assim, como
uma singela homenagem a vocês que dedicaram um pouquinho dos seus preciosos
tempos a esta terra, gostaria de tecer algumas linhas iniciais a partir de uma viagem pelo
universo da arte, mais precisamente da poesia, ao lado da educação, a minha grande
razão de existir. Conversar com vocês através da fala de tantos poetas que contribuíram
e contribuem para um outro pensar, para uma nova forma de ler e compreender o
mundo, com toda a sua complexidade. Na verdade, um convite a compor, comigo, um
exército do conhecimento.
Quero tranquilizar aos mais conservadores que hoje, diferentemente da forma
como faço minhas análises, ao refletir sobre a educação e seus desafios em Alagoas e no
Brasil, trarei toda a minha reflexão de forma bem leve e num tom que chamei de por
uma geografia poética da educação brasileira, sintetizando o meu incômodo com
algumas coisas que eu considero danosas à construção de uma educação pública,
gratuita e de qualidade para o conjunto da República Federativa do Brasil.
Estive contando meus anos, a partir do contato com a poesia do paulista Mário
de Andrade1, e descobri que “terei menos tempo para viver daqui para a frente do que
já vivi até agora”. Nesse sentido, creio ter mais passado do que futuro. Sinto-me,
acreditem, “como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas”. As primeiras ele
devorou, diz Andrade, displicente. Mas, ao perceber que estava perto do fim, passou a
roer o caroço. Da mesma forma, tenho estado na luta diária por uma melhor educação
como se fosse a última cereja do balde. Sem desejar que a ela – a cereja - acabe.
O tempo urge. E, como diria Mário, “já não tenho tempo para conversas
intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte
da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
idade cronológica, são imaturas. Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de
gente humana, muito humana” e convido vocês a me seguirem. É preciso criar um
exército de pensadores. De pessoas que contribuam, de fato, para uma sociedade
melhor. Afinal, como já disse o catarinense Cruz e Sousa2, “aqueles que atravessam no
silêncio escuro a vida” tornam-se mais simples e puros.
No poema Não Há Vagas, o maranhense Ferreira Gullar nos convida a pensar a
beleza do poema frente às condições materiais de existência. Muito me angustia
concordar com ele que “o preço do feijão não cabe no poema”, que “o preço do arroz
não cabe no poema”. Que nunca caberá no poema o gás, a luz, o telefone, a sonegação
do leite, da carne, do açúcar, e do pão. Doi n’alma dar-lhe razão em dizer que “o
funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome; sua vida fechada em
arquivos”. E que “não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão
nas oficinas escuras”. Tudo isso “porque o poema, senhores, está fechado: não há
vagas”. Alie-se ao desemprego, tão bem denunciado por Gullar, a denúncia do deserdar
das terras ameríndias dos seus verdadeiros donos. O tocantinense Pedro Tierra o faz
muito bem quando, numa belíssima construção poética3 descreve o que éramos e o que
tínhamos.
Eu era a Terra livre,
eu era a Água limpa,
eu era o Vento puro,
fecundos de abundância
repletos de cantigas.
Eu fazia um caminho cada vez que passava.
1
O Valioso Tempo dos Maduros
Vida Obscura
3
Ameríndia Morte e Vida
2
Era a Terra o caminho.
O caminho era o Homem.
Eu era a Terra inteira,
eu era o Homem Livre.
Como a árvore ferida, diria o amazonense Álvaro Maia, “ante a constelação do
céu florindo em lume temos, ó árvore, o mesmo ideal e a mesma sina”4. Por isso
acredito, concordando com ele, que na luta, junto ao povo, mesmo sangrando o peito
inerme5, tenho uma sensação divina que a acha6 há de sangrar a escuridão. Não quero
ser o personagem da poesia do pernambucano Manuel Bandeira7 ao propor ir embora
pra Pasárgada, tão somente por ser amigo do rei. Quero estar aqui e contribuir para a
mudança histórica. Afinal, “a vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa”
como nos ensina o gaúcho Mário Quintana8.
Mas, para rir da orquestra irônica estridente ou da ronda fantástica da serpente
que faz doudas9 espirais e que no chão resvala, para resgatar o Navio Negreiro, do
baiano Castro Alves, é preciso que se faça mais. Muito mais. Não se pode mais
continuar reproduzindo um modelo de educação cujo corolário é a reprodução das
relações de mercado. Assim, os convido, amigos, à construção de uma educação
emancipatória que não se compre nem se venda. Afinal, “só a ignorância aceita e a
indiferença tolera o reinado das mediocridades”, como diria o cearense José de Alencar.
Superada essa etapa
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza,
E também uma lembrança boa;
Que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades;
Nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo
Nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego;
E um indefinível remorso;
E um recôndito despeito.
Isso para citar o capixaba Rubem Braga10. Afinal, não sou, como dizia o
paraibano Suassuna, um otimista, nem pessimista. Pois o primeiro é ingênuo e o
segundo amargo. Prefiro ser, como ele, Ó saudoso Ariano!, um realista
esperançoso. Mas... nem sempre fui assim.
4
Árvore Ferida
Desarmado
6
Arma antiga com a forma de machado.
7
Vou-me Embora pra Pasárgada
8
O Tempo
9
Doidas
10
Despedida
5
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Uso esta poesia para citar a carioca Cecília Meireles11, que enxerga nos arautos
do tempo as mudanças a que estamos submetidos. Mas, também, para dizer que é
preciso ler na palma das mãos as linhas da vida: cruzadas, sinuosas, que interferem em
nosso destino como poetizou a goiana Cora Coralina12. Mais que isso, é preciso
lamentar como a potiguar, minha conterrânea, Auta de Souza, como o piauiense
Antônio Francisco da Costa e Silva. Mas é preciso perdoar erros imperdoáveis, para
citar o rondoniense Augusto Branco13. E, a poesia liberta, é o que diz o mato-grossense
Vagner Braz14. A poesia é, assim, necessária, para citar o poeta sergipano/alagoano,
meu amigo de magistério, Jeová Santana.
É preciso reconhecer, também, a contribuição de novos poetas à formação desse
nosso exército como Wélcio de Toledo e sua ideologia anarquista, do sul-matogrossense Guimarães Rocha, do paraense Alonso Rocha, do roraimense Eliakin Rufino
ou mesmo do polêmico paranaense Paulo Leminski. É preciso convocar a todos. Não
espere apenas por Deus que enviou seu filho para nos remir do cativeiro, pois o mundo
ainda é cativo. Pense como o sergipano Tobias Barreto15 para quem reis são sempre reis
até provar o duro freio. Aceite o convite. Junte-se a nós. Afinal, nos lembra o acreano
Mário de Oliveira, na voragem do tempo, a vida passa como tenuíssima fumaça 16”. É
preciso gozá-la da melhor e mais justa maneira em venturas e glórias.
Sendo assim, não fique no casulo. Se for para voar que voe. Não perca a vida à
toa como diria o amapaense Inácio Sena. Afinal, “[...] para sair do casulo basta um pulo.
11
Retratos
Meu Destino
13
Vida
14
Os Poetas
15
Ignorabimus
16
Epicurismo
12
O resto é com o vento, as asas e o momento”. Mas, em tempos de guerra, não basta ter
exército. É preciso, sobretudo, armas. Uma delas é o conhecimento. Entretanto, minha
luta anda viúva de outras lutas. Minhas forças, carece de outras forças. Por isso
conclamo ao enfrentamento, à construção de uma nova escola, de um novo sistema de
ensino, a uma revolução no processo ensino-aprendizagem, pra todos. Afinal, como
dizia o alagoano Lêdo Ivo, em Primeira Lição, foi na escola que Ivo viu a uva e
aprendeu a ler. Foi nela que Ivo viu a greve e nela que Ivo viu o povo. E é com o povo
que quero estar.
Obrigado ao Governador Renan Filho e ao vice-governador e Secretário de
Estado da Educação de Alagoas, José Luciano Barbosa, obrigado aos conselheiros
alagoanos na pessoa da Conselheira Sara, obrigado aos assessores na pessoa da
Secretária Executiva a Profa. Cristina Alves, obrigado aos atores sociais do MEC que
estão abrilhantando o nosso evento, obrigado a Universidade Estadual de Alagoas,
obrigado ao SINTEAL, na pessoa da nossa presidenta Consuêlo, obrigado a ASISEAL,
na pessoa da Profa. Rosinha, obrigado a Casa da Indústria, obrigado ao CESMAC, na
pessoa do Prof. Douglas Apratto, obrigado a FENEN, na pessoa da Profa. Bárbara
Heliodora, obrigado ao IEDUC, na pessoa da Profa. Ângela Marinho, obrigado ao
IETC, na pessoa do Duarte, obrigado ao CIMPRO na pessoa do Dr. Júlio, obrigado ao
Deputado Estadual Marcelo Vitor e obrigado a UNCME na pessoa da presidenta
Alagoas, Profa. Vidinha. Obrigado, obrigado, obrigado...
Finalizo, pois, citando o mineiro Drummond que ao escrever Cortar o Tempo
nos convidou a acreditar que o tempo vale a esperança, que a renovação virá. Que outro
modelo de sociedade é possível, pois o atual modelo não é irreversível.
Cortar o tempo
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra
vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.
Obrigado!
Maceió-Alagoas, 07 de junho de 2015.
Prof. Jairo José Campos da Costa
Presidente do Conselho Estadual de Educação de Alagoas – CEE-AL
Reitor da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL
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