ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO PARA LESÕES MUSCULARES EM ATLETAS............................. 627
ANÁLISE DOS FATORES DE RISCO PARA LESÕES MUSCULARES EM
ATLETAS
Carlos Marcelo Pastre, Fábio do Nascimento Bastos, Rosangela Akemi Hoshi,
Jayme Netto Júnior, Luiz Carlos Marques Vanderlei, Gustavo de Carvalho Lopes, Maria
Paula Ferreira de Figueiredo.
Faculdade de Ciências e Tecnologia/ UNESP – Presidente Prudente/SP - Brasil.
Palavras-chave: atletismo; lesões esportivas, fatores de risco
INTRODUÇÃO
O atletismo se destaca no âmbito das modalidades desportivas por apresentar
diversidade nas provas, cada qual com sua especificidade e tipo de treinamento. Sua
individualidade exige do atleta maior capacidade de aprendizagem e aperfeiçoamento das
técnicas, buscando sempre a superação de limites (COHEN e ABDALLA, 2002).
Em atletas de alto nível, a busca pelo máximo desempenho aproxima o limite entre as
fases de adaptação ao treinamento e exaustão, o que expõe o organismo a um estresse
elevado, favorecendo o aparecimento de lesões (PASTRE et al., 2005).
Os fatores causais para as lesões desportivas podem ser intrínsecos – idade, sexo,
individualidade biológica – e extrínsecos tais quais, clima, calçado, piso da prática esportiva,
modalidade, tipo de treinamento. (PASTRE et al., 2007).
Segundo PASTRE et al. (2005), o alto índice de lesões musculares no atletismo é
notável, e apresenta maior ocorrência em velocistas, sendo mais freqüente a afecção do tecido
muscular da coxa. Tais fatos podem ser explicados pela maior solicitação dessa musculatura
durante a corrida, alta intensidade e volume de treinamento (LAURINO et al., 2000).
De acordo com as estatísticas referentes às lesões musculares em velocistas, o controle
epidemiológico das mesmas, bem como de seus fatores causais, torna-se de suma importância
para maior efetividade na prevenção, diagnóstico e reabilitação de lesões, objetivando maior
desempenho dos atletas.
Assim, tem-se como objetivo desta pesquisa o estudo da associação entre lesão
muscular e seus fatores causais, por meio de inquérito aplicado em atletas da elite nacional de
atletismo.
METODOLOGIA
Para realização deste estudo foram levantadas informações sobre variáveis
antropométricas, tempo de treinamento, nível de competição e lesões desportivas sofridas na
temporada corrente, coletadas por meio de Inquérito de Morbidade Referida (IMR), de 130
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atletas velocistas, idade 22,51±4,84 anos, peso 66,94±11,11 kg, estatura 1,75±0,10 m,
participantes do XXVII TRÓFEU BRASIL CAIXA DE ATLETISMO ocorrido na cidade de
São Paulo – SP, no ano de 2008.
O IMR foi elaborado por meio de modelo fechado, contendo dados pessoais dos
atletas, entre os quais: idade, peso, altura, tempo de treinamento e nível de competição. Para
obtenção das informações referentes às lesões, foram inseridas questões sobre o tipo e local
anatômico acometido. Para efeito de pesquisa considerou-se lesão desportiva qualquer dor ou
afecção músculo-esquelética resultante de treinamentos e competições desportivas e que foi
suficiente para causar alterações no treinamento normal, seja na forma, duração, intensidade
ou freqüência. (PASTRE et al, 2007) Na posterior análise estatística da inter-relação entre as
variáveis estudadas, considerou-se apenas as lesões que acometeram o tecido muscular.
Os dados coletados foram armazenados em planilha eletrônica, para posterior análise
estatística. Utilizou-se o teste t de Student para investigar a associação entre lesão e variáveis,
peso e estatura. Para estudar a relação entre lesão e idade, utilizou-se o teste de Mann-Whitney
e para a associação entre nível de performance e presença de lesão foi avaliada por Odds
Ratio (OR) e Intervalo de Confiança (IC 95%).
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RESULTADOS
Os resultados obtidos seguem citados nas tabelas abaixo.
Tabela 1. Distribuição dos valores de média e desvio-padrão das variáveis antropométricas
dos participantes, segundo presença ou ausência de lesões musculares.
Lesão
Variáveis
Valor p
Presença
Ausência
23,31±5,00
22,18±4,76
Idade (anos)(1)
p>0,05
(2)
Peso (Kg)
p>0,05
68,42±9,29
66,33±11,77
Estatura (m)(2)
p>0,05
1,75±0,10
1,75±0,10
(1)
Teste de Mann-Whitney
(2)
Teste t de Student
Tabela 2. Distribuição de freqüências, absoluta e relativa (%) de lesões musculares nos
participantes, segundo locais anatômicos acometidos.
Local Anatômico
Freqüência
Membro Superior/ Tronco
01 (2,00%)
Quadril
03 (6,00%)
Coxa
40 (80,00%)
Joelho
0 (0,00%)
Perna
03 (6,00%)
Tornozelo/ pé
03 (6,00%)
Tabela 3. Distribuição dos valores de média e desvio-padrão das variáveis de treinamento dos
participantes, segundo presença ou ausência de lesões musculares.
Lesão
Variáveis
Valor p
Presença
Ausência
20,73 ± 6,72
20,35 ± 6,81
Horas semanais
p>0,05
Anos de treinamento
p>0,05
8,36 ± 4,27
7,47 ± 4,33
(1)
Teste de Mann-Whitney
(2)
Teste t de Student
Tabela 4. Distribuição de freqüências, absoluta e relativa (%) da presença ou ausência de
lesões musculares nos participantes, segundo nível de prática.
Lesão
Total
Variáveis
Presença
Ausência
Nacional
18 (26,47%)
50 (73,53%)
68 (100%)
Internacional
20 (32,26%)
42 (67,74%)
62 (100%)
ODDS RATIO = 0,6
IC 95%: 0,23 – 1,54
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DISCUSSÃO
No presente estudo tem-se a prevalência de lesões musculares em velocistas
praticantes de atletismo, quando comparado aos demais agravos (29,23%). Tal fato condiz
com estudos de Pastre et al. (2005) e Laurino et al. (2000).
Estudos também relatam a alta incidência de lesões musculares em outros esportes
como futebol, hockey, ginástica e futebol americano (Raymundo et al.,2005 e Anderson et al.,
2001), apesar da ausência de correlação biomecânica e de treinamento entre tais desportos.
Em relação à distribuição de lesões quanto ao local anatômico observou-se maior
acometimento na região da coxa (80%), o que conflui com os estudos de Pastre et al. (2005) e
Laurino et al. (2000), onde a prevalência de lesões foi a mesma quanto ao local anatômico.
Diferentemente ao que se encontra no atletismo, citando Fernandes et al. (2007), em
estudo com esportes coletivos como futebol, basquete, basebol e voleibol, as entorses
aparecem com maior freqüência, seguido de lesões musculares. O tornozelo foi o local
anatômico mais acometido, seguido do joelho e coxa, tendo como mecanismo de lesão mais
comum o choque contra o oponente.
Tais dados diferem do atletismo devido à especificidade de cada esporte. O atletismo
trata-se de um esporte individual, sem mudanças bruscas de direção e contato físico contra o
oponente.
No que se refere ao nível de prática esportiva, idade, estatura e peso não houve
diferenças estatisticamente significativas quanto à incidência de lesões musculares, como
encontrado em Pastre et al. (2007) e Netto Jr (1996).
Em relação aos anos de prática e horas semanais de treinamento, também não houve
relação com a presença de lesão muscular, corroborando com Pastre et al. (2007)
CONCLUSÃO
De acordo com os dados coletados, conclui-se que as lesões musculares são as que
mais acometem atletas velocistas, sendo a região da coxa o local de maior incidência, não
existindo nenhuma correlação estatística destes com as variáveis idade, peso, estatura, nível
de competição, anos de prática e horas de treinamento.
REFERÊNCIAS
Laurino, CFS; Lopes, AD; Mano, KS; Cohen, M; Abdalla, RJ.: Lesões músculo-esqueléticas
no atletismo. Revista Brasileira de Ortopedia, v.35, n.9, 364-368, 2000.
Pastre, CM; Carvalho Filho, G; Monteiro, HL; Netto Júnior, J; Padovani, CR.: Lesões
desportivas na elite do atletismo brasileiro: estudo a partir de morbidade referida. Revista
Brasileira de Medicina do Esporte, v.11, n.1, 43-47, 2005.
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Pastre, CM; Carvalho Filho, G; Monteiro, HL; Netto Júnior, J; Padovani, CR; García, AB.:
Exploração de fatores de risco para lesões no atletismo de alta performance. Revista Brasileira
de Medicina do Esporte, v.13, n.3, 200-204, 2007.
Cohen, M; Abdalla, RJ.: Lesões nos esportes – diagnóstico, prevenção e tratamento. Revinter,
São Paulo, 2002.
Netto Jr, J. Lesão muscular: estudo a partir da equipe brasileira de atletismo que participou
dos jogos olímpicos de Atlanta-1996. [Dissertação]. Campinas. Unicamp; Faculdade de
Educação Física; 2000.
Fernandes, W.G.; Yard, E.E.; Comstock, D.: Epidemiology of lower extremity injuries among
U.S. high school athletes. Academic Emergency Medicine, v.14, 641-645, 2007.
Raymundo, J.L.P.; Reckers, L.J.; Locks, R.; Silva, L.; Hallal, PC.: Perfil das lesões e
evolução da capacidade física em atletas profissionais de futebol durante uma temporada.
Revista Brasileira de Ortopedia, v.40, n.6, 2005.
Anderson, K.; Strickland, S.M.; Warren, R.: Hip and groin injuries in athletes. American
Journal in Sports of Medicine, v.29, 521, 2001.
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