CUIDADO TRANSICIONAL NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
NEONATAL:
CONTRIBUIÇÕES
DA
ABORDAGEM
FENOMENOLÓGICA DE PESQUISA PARA A ENFERMAGEM
Rita de Cássia de Jesus Melo1
Ívis Emília de Oliveira Souza2
RESUMO: O nascimento será sempre um acontecimento que engloba e mobiliza diferentes
sentimentos, sensações, expectativas, em cada sujeito que o vivencia ou o experiência.
Quando, da ocorrência de um nascimento prematuro e da necessidade de internação desse
novo ser em uma unidade de tratamento intensivo neonatal (UTIN), esta é considerada por
vezes um fator que poderá provocar desestruturação do núcleo familiar(1,2). Para a mulher
passar pelo período gestacional requer adaptar-se a várias modificações fisiológicas,
psicológicas e sociais. Tornar-se mãe é um processo de intensa mudança existencial na vida
da mulher. No entanto, para algumas mulheres esse período requer ainda maiores adaptações,
ao ter seu bebê prematuro em uma UTIN. Este estudo teve como objeto o significado de
mulheres mães de recém-nascido prematuro acerca de sua vivência na UTIN. Objetivo:
desvelar o sentido do ser-mãe que vivenciou o processo de transição ao ter um filho
prematuro na UTIN. Entende-se por processo de transição a passagem, período, modificação
de um estado/condição para outra(3,4 ). Metodologia: Estudo de natureza qualitativa, baseado
no referencial teórico-filosófico-metodológico de Martin Heidegger (5 ). A fenomenologia
heideggeriana busca compreender o ser a partir do seu mundo, através dos significados que o
ser humano atribui às suas vivências e experiências, desvelando facetas dos fenômenos
vividos. O estudo foi realizado em uma UTIN da rede pública do município do Rio de
Janeiro. Participaram como depoentes nove mães que tiveram filhos prematuros internados na
UTIN. Foi realizada entrevista fenomenológica para captação dos depoimentos. Essa
modalidade de acesso permite vivenciar a possibilidade de encontro com os sujeitos captando
facetas de sua subjetividade. Os depoimentos foram analisados pelo método heideggeriano,
que prevê um “deixar e fazer ver por si mesmo, aquilo que se mostra, a partir de si mesmo”.
As entrevistas foram transcritas na íntegra, a partir das quais foi desenvolvida a escuta e
leitura atentiva do conteúdo significativo. Para tanto se buscou a suspensão dos pressupostos,
conceitos e juízos prévios, com vista à apreensão das estruturas essenciais, distinguindo-as
das estruturas ocasionais. As estruturas essenciais respondem aos objetivos do estudo e se
constituem em unidades de significação. O estudo foi e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da própria instituição sob o Nº 54/2009, em janeiro de 2010. Todas as
proteções dos sujeitos quanto aos princípios de voluntariedade, consentimento livre e
esclarecido, anonimato, confidencialidade de informações, justiça, equidade, diminuição dos
riscos e potencialização de benefícios foram cumpridos. Resultados: O processo de transição
vivido pela mulher-mãe de recém-nascido prematuro na unidade de terapia intensiva neonatal
constituiu-se em 04 unidades de significação: 1ª. Ter que esperar a possibilidade de chegar à
UTIN - Ao ter o parto prematuro a mãe é informada que seu filho será encaminhado para
UTIN, esse período é relatado como de sofrimento pela impossibilidade de estar junto ao
bebê. 2ª. Chegar à UTIN e aprender como fazer o contato inicial com seu filho - A adaptação
1
Enfermeira do Hospital Universitário Gafrée Guinle. Especialista em Enfermagem Neonatal. Mestre em
Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular de Enfermagem Obstétrica do Departamento de
Enfermagem Materno Infantil – DEMI/EEAN/UFRJ. Membro do Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde
da Mulher NUPESM e do Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde da Criança e do Adolescente –
NUPESC/EEAN/UFRJ.
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a um bebê que difere do bebê imaginário, é um processo transicional, ali está um ser com
características de fragilidade, que apresenta risco de vida e ela sabe que UTI é para pessoas
em estado grave. 3ª. Detalhar seu dia-a-dia acompanhando o filho na UTIN - A mãe passa a
acompanhar o dia-a-dia do seu filho na UTIN. Algumas permanecem no hospital todos os
períodos, vivendo cotidianamente a rotina dessa instituição, outras ao obter sua alta, passam a
estar junto ao bebê quase que diariamente, porém, tem sua permanência limitada aos horários
estipulados pela norma institucional. 4ª. Descrever com diferentes palavras a idéia do tempo
que levou para aceitar as condições de prematuridade de seu filho - O processo de
internamento é na maioria das vezes gerador de desgaste físico e emocional para a mulhermãe que vivencia essa transição de tornar-se mãe de um recém nascido prematuro.
Conclusão: Nessa facticidade o ser mulher-mãe relata a partir do parto prematuro como foi
chegar a UTIN e passar a conviver em um ambiente diferente do seu mundo próprio
cotidiano. O ser em sua cotidianidade vive na impropriedade, na inautenticidade sendo o que
todos querem, não é ela própria em suas possibilidades. Ao romper factualmente em
determinado momento sua espacialidade, experimenta uma angústia fugaz, ao ir ao encontro
do mundo circundante, mundo da UTIN, vive o medo, o temor da perda do filho. No mundo
das ocupações a mulher-mãe referencia os momentos junto ao filho de forma datável, enfatiza
cronologicamente cada período que esteve na unidade. Quando, porém, o ser mulher-mãe
refere os momentos de espera, a vontade de estar vivenciado seu mundo habitual junto ao seu
filho, essa temporalidade não pode ser determinada cronologicamente, pois exprime para cada
mulher-mãe um significado, um momento singular. Portanto exige do ser-aí, profissional
enfermeiro uma autocompreensão de sua ação como um acontecimento que abrange a vida
humana em sua totalidade. Emerge a possibilidade de um cuidado que vá além da ocupação
com os fatos e que considere a compreensão da vida humana consigo mesma e com os outros,
cuja própria ocupação seja pré-ocupação tendo em mente uma perspectiva de integralidade,
com a faticidade, a existencialidade e a decadência da ação humana. Implicaçõpes para a
Enfermagem: Compreender o processo de transição ao qual a mulher-mãe passa ao ter um
filho prematuro internado na UTIN, admitisse a importancia do conhecimento desse processo
e a necessidade dos profissionais inseridos no contexto assistencial, reconhecerem e
implementarem ações que favoreça a um cuidado transicional. Acredita-se que novos modos
de cuidar associando aos saberes técnicos e operantes, às tecnologias subjetivas e relacionais
venha favorecer a uma melhor adaptação da mulher-mãe ao período vivenciado na UTIN.
Descritores: Terapia intensiva neonatal, recém-nascido prematuro, enfermagem.
Referências
1. Pedroso GER, Bousso RS. O significado de cuidar da família na uti neonatal: crenças da
equipe de enfermagem. Revista Ciência, Cuidado e Saúde 2003; 2(2): 123-9.
2. Tamez RN, Silva MJ. P. Enfermagem na UTI Neonatal – Assistência ao recém-nascido de
alto risco. 3ª edição Guanabara Koogan, Rio de Janeiro
3. Machado M; Zagonel I - O processo de cuidar da adolescente que vivência a transição ao
papel materno. Cogitare Enfermagem. v. 8, nº2. Universidade Federal do Paraná 2003
4. Zagonel IPS. O cuidado humano transicional na trajetória de enfermagem. Rev. LatinoAm. Enfermagem[serial on the Internet]. 1999 July; 7(3): 25-32.
5. Heidegger, M. Ser e Tempo. Parte I. 15ª edição. Petrópolis (RJ), Vozes, 2005.
Eixo: Questões antigas e novas da pesquisa em enfermagem
Área temática: Processo de Cuidar em Saúde e Enfermagem
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cuidado transicional na unidade de terapia