READ IN WEB – APRENDENDO INGLÊS POR MEIO DA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ONLINE ANÁLISE DE UMA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM BASEADA NAS TIC Marilia Lopes Justino, Roberta Caroline Silva Salomão Universidade Estadual de Campinas – Instituto de Artes Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação Comunicação Social – Habilitação em Midialogia Prof. Dr. José Armando Valente RESUMO A língua inglesa é considerada de grande importância para as mais variadas esferas do conhecimento, inclusive no ambiente universitário, em que os estudantes constantemente se deparam com textos e artigos científicos de autores estrangeiros que costumam ser redigidos em inglês. Nesse contexto foi criado em 1997 por pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (IEL) o projeto piloto da plataforma Read inWeb. Hoje essa plataforma oferece um curso à distância que visa ao aprimoramento da leitura e interpretação de textos em inglês. Acompanhamos um usuário da plataforma a fim de observar a relação do aprendiz com a interface em questão. Foi analisado o comportamento desse usuário durante a realização de dois módulos de tarefas. Cada módulo continha com um texto inicial, seis perguntas de interpretação e quatro relativas à parte lingüística. Além disso, em entrevista pessoal o usuário revelou já recorrido a tutoriais na internet para aprender a usar programas de computador, mas não tem o costume de buscá-los. Ainda assim considerou fácil se adaptar à plataforma e julga que embora pudesse haver a possibilidade de esclarecer dúvidas por meio de e-mail com um mediador, o site em si apresenta uma proposta interessante de interpretação de textos e é autosuficiente. A aplicação do teste Vark apontou que a preferências de aprendizagem do usuário são voltadas para os aspectos auditivos, o que condiz com algumas com algumas atitudes constatadas, como o uso frequente do recurso de áudio e o fato de não se estender nas respostas ou ler minuciosamente os textos. Por fim, ainda que uma análise pontual não seja suficiente para que sejam tiradas conclusões definitivas acerca da eficiência da plataforma, consideramos a plataforma bem sucedida no objetivo de principal de possibilitar a aquisição de fluência de leitura de textos. Acreditamos ainda que seria possível extrapolar esses objetivos se a plataforma passasse a dispor de mais ferramentas de interatividade. PALAVRAS – CHAVE Inglês - Ensino à Distância - TIC INTRODUÇÃO Ainda hoje, a língua inglesa é considerada de grande importância para as mais variadas esferas do conhecimento, tanto que, apesar das controvérsias, continua a ser denominada por muitos como o “idioma universal”. No ambiente universitário, isso não é diferente, e os estudantes constantemente se deparam com textos e artigos científicos de autores estrangeiros que costumam ser redigidos em inglês. Nesse contexto, o aprendizado da língua torna-se necessário para o desenvolvimento acadêmico, o que leva muitos estudantes da Unicamp a buscarem esse conhecimento por meio de aulas presenciais oferecidas pelo Centro de Estudos de Línguas da Unicamp (CEL) ou escolas particulares de idiomas, professores particulares ou ensino autodidata. Tendo em vista a alta demanda de alunos interessados, o Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (IEL) criou um curso à distância que visa ao aprimoramento da leitura e interpretação de textos em inglês. A proposta inicial do curso surgiu em 1997 em um estudo piloto envolvendo oito professoras dos dois institutos e que foi financiado pelo Fundo de Apoio ao Ensino e Pesquisa da UNICAMP (FAEP). O curso gratuito, oferecido a graduandos e pós – graduandos da Unicamp (alunos de fora da Unicamp pagam uma taxa na inscrição) não tem como meta o aprendizado da língua desde o nível básico, de modo que se pressupõe que o aluno já tenha certa familiaridade com o idioma, de maneira que é destinado a estudantes de nível intermediário. O curso oferecido pelo “Read in Web” tem apenas uma aula presencial, a primeira, na qual o aluno recebe informações específicas sobre como usar o material. A partir de então são disponibilizados gradualmente um conjunto de 25 aulas virtuais. Cada aula contém um texto para leitura, perguntas de compreensão e exercícios de sistematização de língua. Além disso, o aluno tem acesso pela plataforma a um dicionário, uma apostila gramatical, um tutorial específico para cada texto sobre estratégias de leitura e o áudio com a leitura texto da atividade. A cada semana são disponibilizadas 2 aulas/atividades que devem ser acessadas através da internet, usando a identificação digital (ID) e senha escolhidas pelo usuário. O curso é automonitorado e a correção das questões é feita pelo próprio aluno, baseando-se nas sugestões de respostas oferecidas pelo sistema. OBJETIVO GERAL Acompanhar um aluno que utilize a plataforma Read in Web para ensino de inglês e observar a relação do aprendiz com a interface em questão. OBJETIVOS ESPECÍFICOS a. Selecionar uma plataforma de ensino de língua estrangeira; b. Entrar em contato com responsáveis pela plataforma; c. Recrutar um aprendiz; d. Acompanhar o uso da plataforma, focando na relação do aprendiz com a mídia; e. Entrevistar o aprendiz a fim de entender como ele mesmo encara o uso da mídia no processo de aprendizagem; f. Levantamento dos mecanismos eficientes e deficientes da plataforma; g. Realizar teste de preferência de aprendizagem; h. Elaborar relatório final com os resultados obtidos. METODOLOGIA Pesquisa: descritiva e qualitativa Local: Laboratório de Informático do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Unicamp Procedimentos da realização da pesquisa: a. Selecionar uma plataforma de ensino de língua estrangeira; Através de buscas na internet encontramos diversas plataformas para aprendizagem de línguas estrangeiras, pagas e gratuitas. Chamou nossa atenção a plataforma do Read in Web por ter sido desenvolvida na Unicamp e ter como público alvo alunos da universidade. Dessa maneira poderíamos entrar em contato com esses estudantes e observar a relação com a mídia de um usuário já habituado com a plataforma. b. Entrar em contato com responsáveis pela plataforma; Entramos em contato com Professora Lúcia Alves Costa, do Centro de Ensino de Línguas (CEL), da equipe responsável pelo Read in Web, a qual nos passou o nome de sete alunos atualmente matriculados no curso e que poderiam se dispor a nos ajudar. c. Recrutar um aprendiz; Entramos em contato com os sete alunos. Apenas dois nos responderam e desses, apenas um tinha possibilidade de nos encontrar em um horário que fosse compatível com o nosso. G., de 26 anos é atualmente aluno de mestrado da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. Já havia estudado inglês na escola, durante o ensino fundamental e médio. Durante dois anos frequentou um curso em escola de idiomas, mas parou por questões financeiras. Ficou sabendo do Read in Web por intermédio de uma ex-usuária da plataforma e por divulgação via e-mail acadêmico. Iniciou o curso em agosto de 2009 e se cadastrou no projeto motivado pela necessidade do uso da língua nas atividades acadêmicas, como leitura de textos científicos e publicação de artigos. d. Acompanhar o uso da plataforma, focando na relação do aprendiz com a mídia; Encontramos-nos com G. no Laboratório de Informático do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) – Unicamp. Em um computador com acesso a internet ele pôde entrar no ambiente da plataforma. Demos total liberdade ao usuário, frisando que ele deveria agir o mais naturalmente possível. Durante a atividade, tomamos notas do seu comportamento e da maneira como lidava com a plataforma. e. Entrevistar o aprendiz a fim de entender como ele mesmo encara o uso da mídia no processo de aprendizagem; Ao final da atividade conversamos com o usuário, buscando por mais informações sobre suas impressões acerca da plataforma. O roteiro completo dessa etapa está no Anexo I. f. Levantamento dos mecanismos eficientes e deficientes da plataforma; Baseamos-nos tanto em nossas observações e impressões quanto no relato feito por G. para avaliar o desempenho da plataforma como meio desencadeador do processo de aprendizagem. g. Realizar teste de preferência de aprendizagem; Por fim, aplicamos o teste VARK, que fora utilizado durante a disciplina CS405, para investigar as preferências de aprendizagem de G. tínhamos com isso o objetivo de buscar relações entre o perfil do aprendiz e a forma como utilizou a mídia. h. Elaborar relatório final com os resultados obtidos. Esta etapa constitui-se no presente artigo. RESULTADOS Acompanhamos o aluno durante a realização de dois módulos de tarefas. Cada módulo continha um texto inicial, seis perguntas de interpretação e quatro relativas à parte lingüística. O primeiro texto discutia a questão dos idosos viverem ou não no mundo de suas recordações “Do old people really live in the past?” e o segundo falava do Taj Mahal. Além das questões que pediam para depreender o tópico frasal de cada parágrafo, de interpretação e coesão, chamou nossa atenção uma pergunta que fornecia dois pequenos textos e pedia para o estudante identificar qual facilitava a interpretação. Essa atividade permitiu que os mecanismos de coesão “corretos” e “equivocados” fossem comparados e traduz uma tentativa de ensino cujos conteúdos gramaticais não sejam ensinados da forma tradicional/normativa. G. realizou todas as atividades na ordem proposta, sem pular nenhuma questão, apesar de ter admitido que às vezes desconsidera alguma de “gramática”e ainda que tenha respondido sucintamente, em tópicos, na maioria das vezes cumpria a resposta esperada, a qual vinha indicada abaixo, após o usuário clicar em “resposta”. Ele disse gostar dos temas tratados e que o fato das temáticas não serem específicas da sua área torna o aprendizado mais prazeroso. Contudo, aparentemente não lia muito cautelosamente os textos, de modo que ao realizar as atividades precisava voltar neles para respondê-las. O tempo total necessário para a realização dos exercícios dos dois módulos foi em torno de uma hora e meia e nesse período só recorreu algumas vezes à ferramenta de dicionário (isso porque perguntamos se ele não a usava). Quando o questionamos sobre as ferramentas disse que usa a gramática e o dicionário muito pouco, uma vez que prefere tentar depreender o sentido global do texto, não lê as estratégias de leitura (indicadas para cada texto), mas usa frequentemente o recurso de áudio do texto apresentado. No dia do acompanhamento, contudo, não foi possível a utilização do recurso de áudio porque era incompatível com o computador. G. afirmou que já recorreu a tutoriais para aprender a usar programas de computador, mas não tem o costume de buscá-los, apesar disso considerou fácil se adaptar à plataforma e julga que embora pudesse haver a possibilidade de esclarecer dúvidas por meio de e-mail com um mediador, o site em si apresenta uma proposta interessante de interpretação de textos e é autosuficiente. Além da sugestão de que houvesse a possibilidade de enviar eventuais perguntas acerca do conteúdo por e-mail, apontou que os significados das palavras do vocabulário poderiam aparecer em inglês. Após o acompanhamento dos exercícios, pedimos que ele realizasse o teste Vark cujo resultado apontou que suas preferências de aprendizagem são voltadas para os aspectos auditivos. Diante desse resultado, é possível supor que seja essa a explicação para o fato dele usar frequentemente o recurso de áudio e não gostar muito de se estender nas respostas ou ler minuciosamente os textos. É válido notar, ainda, que embora a plataforma apresente perguntas interessantes, falta a diversificação de gêneros textuais (como charges, tirinhas, letras de músicas, etc) e a interatividade. Essa última porque, no caso, o estudante fica sem um monitoramento mais próximo por parte dos professores de modo que não há registro do êxito ou da falta desse ao realizar as atividades e o aluno não interage com outros usuários, o que impede um aprendizado mais efetivo. CONCLUSÃO Ainda que uma análise pontual não seja suficiente para que sejam tiradas conclusões definitivas acerca da eficiência da plataforma, é possível tecer constatações que possam servir como instrumento de melhoria da plataforma e subsídio para futuras pesquisas. Considerando que a plataforma é destinada a estudantes de nível intermediário e que o objetivo principal refere-se à aquisição de fluência de leitura de textos, acreditamos que esta é bem sucedida. Ainda assim, nos parece que a plataforma teria potencial para extrapolar esses objetivos se passasse a dispor de mias ferramentas de interatividade, como a possibilidade e estímulo a envio de dúvidas com professores, realização de tarefas corrigidas não apenas pelo usuário e inserção de uma ferramenta de comunicação entre os usuários, que poderiam passar a se ajudar. Embora os textos disponibilizados possam apresentar uma dificuldade crescente e que conhecimentos adquiridos em uma atividade seja úteis na realização de uma próxima, o que permite um desenvolvimento espiral do conhecimento, ao implementar essas ferramentas a plataforma potencializaria a aprendizagem, de maneira que poderia passar a ser mais satisfatória no desenvolvimento de habilidade de escrita e, dependendo de como isso fosse feito, fala. Por fim, a atividade de observação do uso da plataforma Read in Web como modelo de TIC mediando o processo de aprendizagem nos permitiu constatar que esse mecanismo já é usado com sucesso, mas muitas medidas poderiam torná-lo ainda mais satisfatório. REFERÊNCIAS ANEXO I Uso da plataforma Read in Web 1. Roteiro de observação a. Ao abrir a plataforma, o usuário tem algum outro programa aberto no computador? Não. b. Durante a execução da tarefa, o usuário segue a linearidade proposta ou altera a ordem das atividades, conforme seu gosto? Seguiu as atividades na ordem. c. Faz uma atividade completa? Apenas uma? Fez duas atividades completas, mas disse que às vezes pula os exercícios de gramática. d. Faz uso de algum mecanismo de interatividade? (enviar perguntas a monitores, por exemplo) Não há essa opção. 2. Conteúdo aprendido a. Objetivo da lição – Interpretação de textos. b. Desempenho nos testes e exercício – Bom. Apesar de responder sucintamente, em tópicos, na maioria das vezes cumpria a resposta esperada. 3. Dados do usuário a. Idade – 26 anos b. Curso – Mestrado na Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP 4. Entrevista com o usuário a. Por que você decidiu fazer o curso? Necessidade do uso da língua nas atividades acadêmicas (leitura de textos científicos e publicação de artigos). b. Já havia estudado inglês antes? Qual era o seu contato com a língua? Já havia estudado inglês na escola e, durante o ensino médio, estudou por dois anos em uma escola de idiomas, mas teve que parar devido ao custo. c. Como ficou sabendo da existência da plataforma? Uma colega do mesmo laboratório que ele já havia feito o curso, além disso, recebeu a informação pelo e-mail acadêmico da Faculdade de Engenharia Mecânica. d. Há quanto tempo é usuário da plataforma? Um semestre. e. Considera-se adaptado? - Se sim, quanto tempo levou para se adaptar? Considera-se adaptado desde a primeira vez que fez as lições. Segundo ele não há dificuldade no uso da plataforma. - Se não, acredita que se adaptará? f. Usa alguma outra fonte complementar à aprendizagem? Quais? Não. g. Acredita que é possível aprender por essa plataforma? Sim. h. Essa foi a primeira experiência de curso à distancia? Sim. i. Costuma usar a internet para aprender conteúdos diversos, por vídeos, tutoriais e afins? Já recorreu a tutoriais para aprender a usar programas de computador, mas não tem o costume de buscá-los. j. O curso tem atingido suas expectativas? Sim. k. Quanto tempo demora normalmente para realizar cada módulo de atividades? Uma hora e meia, em média. l. O número de exercícios e atividades é satisfatório? Sim. m. O conteúdo abordado é interessante? O que você acha dos temas? Ele gosta, pois os temas são variados e diferem da área dele. n. Considera a forma de abordar /metodologia interessante? Sim, gosta do fato das atividades serem baseadas na interpretação de textos. o. Usa as ferramentas adicionais (gramática, dicionário, tutorial de estratégias de leitura do texto e áudio do texto da atividade)? Usa a gramática e o dicionário muito pouco, tenta depreender o sentido global do texto, não lê as estratégias, mas usa frequentemente o recurso de áudio. p. Sente falta de uma mediação de professores? Não, a plataforma para ele é suficiente, porém poderia haver a possibilidade de enviar eventuais perguntas acerca do conteúdo por e-mail. q. Quais sugestões de melhorias da plataforma você daria? Os significados das palavras poderiam aparecer em inglês como nos dicionários inglês-inglês e poderia haver um mecanismo para esclarecer dúvidas.