FANTASIA DE ENFERMEIRA NO CARNAVAL DO RIO DE JANEIRO (1916) Há anos, no mes de fevereiro ou março, de acordo com o calendário lunar, no Brasil, e em especial no Rio de Janeiro, ocorre a festa de carnaval. Historiadores como, por exemplo, Jorge Amado em O país do carnaval(2011); Ana Vasconcelos Ottoni com o estudo “Cidade saqueada”: imprensa carioca, gatunagem e populares pobres no Rio de Janeiro (1900-1920) (2009) e; Julio Caro Baroja na obra El carnaval (2006), dissertaram e teorizaram sobre a temática em diversos aspectos. Muitas são as fantasias usadas durante o carnaval. Neste sentido, a imagem pública da Enfermeira se destaca nesse período de folia. Para o presente momento, se destaca o ano de 1916, quando foi veiculada na Revista da Semana, no contexto da I Guerra Mundial (1914-1918), mulheres fantasiadas de Enfermeiras. Isto conduz ao pensamento que não é só nos tempos atuais que as mulheres, por motivos diversos, se vestem de Enfermeiras para se divertirem nos dias de folia. Na capa da Revista da Semana o fac-simile n.1 anuncia aos seus leitores, por meio da imagem composta de uma mulher fantasiada e confetes, imagens posadas e flagrantes dos dias da folia, mesmo diante do conflito internancional. Dentre as diversas imagens apresentadas, foi possivel identificar duas, que apresentam mulheres trajando atributos, que nos fazem remeter ao uniforme das Enfermeiras da Cruz Vermelha. Cabe destacar que, no período, a Cruz Vermelha Fac-símile n. 1 – Capa da Revista da Semana (1916) Brasileira, no Rio de Janeiro e São Paulo, se encontravam preprarando seu Corpo de Saúde para a possibilidade do atendimento aos feridos e necessitados, em caso de urgência e emergência. Esta assertiva se pauta em dois estudos, dentre outros, sendo eles: A divulgação da competência técnica em socorro das enfermeiras da Cruz Vermelha (SP) nas circunstâncias da Primeira Guerra Mundial (1917-1918) (PORTO e SANTOS, 2006) e A produção da crença na imagem da Enfermeira da Cruz Vermelha Brasileira no Período da Primeira Guerra Mundial (1917-1918) (NETO, 2011). Sendo assim, eles possibilitam contextualizar a matéria jornalística veiculada na Revista da Semana, bem como ratificar que os trajes ostentados pelas mulheres no carnaval, tratam-se de elementos simbólicos semelhantes dos uniformes das Enfermeiras oriundas da Cruz Vermelha, mesmo considerando sendo as imagens em tons de cinza e com pouca nitidez de visualização. As duas imagens em apreço, sobre as fantasias de Enfermeiras, foram acompanhadas do seguinte texto “Mas há carnaval em 1916? Sim, ha um carnaval. Acomodado à crise, modesto na sua parte decorativa, mas enfim um carnaval, com bailesa demascaras, com cortejos, com um ruidoso simulacro de alegria e até com aspectos elegantes, a começar nas reuniões nocturnas do Assyrio, de que esta pagina archiva alguns aspectos.” (REVISTA DA SEMANA, 1916, p. 30). O fac-símile n. 2, trata-se de um grupo misto de retratados, parte inferior da imagem – três homens trajando ternos de cor escura e gravatas conhecidas pela apresentação como borboleta e cinco mulheres fantasiadas de Enfermeiras mascaradas. Como se pode identificar, elas se encontram sentadas, em meio ao baile de carnaval, em virtude do contexto circunscrito imagético – pessoas fantasiadas, decoração, moldura da imagem, título da matéria e o texto já mencionado. Fac-símile n. 2 – Mulheres fantasiadas de Enfermeiras mascaradas (REVISTA DA SEMANA, 1916, pag. 30) Pelo texto apresentado, o baile ocorreu no Assyrio. Este espaço é um dos tesouros do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, especialmente localizado no subsolo do estabelecimento - abaixo da plateia, que também é conhecido como Assyrius e onde, atualmente, funciona o Café do Theatro (LADEIRA, 2011). As mulheres fantasiadas de enfermeiras mascaradas, apresentadas no fac-símile n. 3, se destacam na imagem, mesmo com pouca nitidez, mas é possível identifica-las com uniforme na cor clara e véu, ostentando o símbolo da cruz, que se articula com o uniforme utilizado pelas Enfermeiras da Cruz Vermelha Brasileira, exceto pela pelerine que, pelo que se sabe nos estudos sobre a imagem da Enfermeira Brasileira, não fazia parte do seu uniforme à época, sendo mais utilizada pelas profissionais estrangeiras, possivelmente, em virtude do clima. Fac-símile n. 3 - Grupo de mulheres fantasiadas de Enfermeiras mascaradas (REVISTA DA SEMANA, 1916, pag. 30). Mas e a máscara? Primeiro, cabe o entendimento do significado da palavra máscara, que se refere a caráter duplo. Dito em outras palavras, se por um lado elas cumprem a função mais evidente que lhes é destinada, a de se esconder para os outros a identidade de quem as utiliza, se protegendo; por outro lado, é a tentativa de se preservar, o que conduz a certa situação inesperada, por exemplo, quando a própria pessoa se olha no espelho, não consegue se identificar. Portanto, a máscara é um dos instrumentos de preservação de si e ausência de identidade (CUSCHNIR e MARDEGAN JÚNIOR, 2001). Após o entendimento do significado da palavra máscara, no período de folia, muitas pessoas para esconderem/descaracterizarem sua identidade as utiliza. Neste caso, acredita-se que as máscaras de cor escura ostentadas pelas mulheres nos fac-símiles n. 2 e 3 podem ser entendidas como mera estratégia de folia, seja em respeito à prática profissional, ou pela brincadeira das mulheres em criarem certo mistério sobre suas identidades nesse período. Neste momento, alguns podem se perguntar: respeito de que? Mistério sobre as suas identidades pessoais? Respostas que podem ser polissêmicas, mas vale arriscar, considerando se encontrar no período da I Guerra Mundial, brincar com uma atividade profissional como o cuidar requeria e requer respeito, e o mistério, em virtude de não serem criticadas pela performance no clima de carnaval. Referencias AMADO, Jorge. O país do carnaval. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. BOROJA, Julio Caro. El carnaval. Espanha. Alianza. 2006. LADEIRA, Leonardo. Salão Assyrio. In: Coluna do Patrimonio Histórico. http://www.rioecultura.com.br/coluna_patrimonio/coluna_patrimonio.asp?patrim_cod=6 8. Publicado em 20 de abril de 2011. Acessado em 5 de março de 2014. NETO, M. A produção da crença na imagem da Enfermeira da Cruz Vermelha Brasileira no período da Primeira Guerra Mundial (1917-1918). [Dissertação de mestrado]. Programa de Pós-Graduação Mestrado – Enfermagem. Escola de Enfermagem Alfredo Pinto. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2011. PORTO, Fernando e SANTOS, Tania Cristina Franco. A divulgação da competência técnica em socorro das enfermeiras da Cruz Vermelha (SP) nas circunstâncias da I Guerra Mundial. In: Revista Eletrônica de Enfermagem. Sitio eletrônico: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen/article/viewArticle/7042. acesso em 5 de março de 2014. OTTONI, Ana Vasconcelos. “Cidade saqueada”: imprensa carioca, gatunagem e populares pobres no Rio de Janeiro (1900-1920). ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Sítio eletronico: http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0235.pdf REVISTA DA SEMANA. Carnaval em 1916. Revista da Semana. Rio de Janeiro. Número 4. 4 de março de 1916. Pg. 30. CUSCHNIR, Luiz e MARDEGAN JÚNIOR, Elyseu. Homens e suas máscaras – a revolução silenciosa. Rio de Janeiro. Campus. 2001. Autores: Anna Paula Ataide Acadêmica de Enfermagem, 7º período, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Membro dos grupos de pesquisa LAPHE, LACENF E LACUIDEN. Débora Villela Acadêmica de Enfermagem, 9º período, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Membro dos grupos de pesquisa LAPHE, LACENF E LACUIDEN. Marina Ribeiro Acadêmica de Enfermagem, 7º período, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Membro dos grupos de pesquisa LAPHE, LACENF E LACUIDEN. Como citar este posts (Vancouver adaptado): PORTO, Fernando; ATAIDE, Anna Paula; Villela, Débora; RIBEIRO, Marina. Fantasia de Enfermeira no Carnaval do Rio de Janeiro (1916) - [internet]. Rio de Janeiro (br); 2014 [[Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: http://www.lacenf.com.br/... (completar com os dados do site).