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23 fev 2015 O Globo ADALBERTO NETO [email protected]
O ‘bloco’ dos que queriam o fim da
folia
Moradores que não gostam da confusão causada pelo carnaval, que contribui
para a sujeira das ruas e a superlotação das praias, comemoram a retomada da
normalidade
Oúltimo domingo da temporada carnavalesca — que definitivamente não acaba na Quarta­Feira de
Cinzas — coincidiu com o fim do horário de verão. O cessar dos tamborins, o adeus de grande parte dos
turistas e o anoitecer “mais cedo” foram vistos como o sinal definitivo de que a vida voltou ao normal no
Rio. Motivo de comemoração para alguns moradores que não são fãs da folia e acreditam que, só agora, o
ano vai começar de verdade. Ontem, a orla vivia um certo clima de “a praia é nossa”.
Para o estudante Michel Willian, que dava show com seu violão, na tarde ontem, numa rodinha de dez
amigos na Praia de Ipanema, o fim da folia é bem­vindo.
— Eu adoro tocar na praia nos fins de semana, mas com os ônibus lotados de foliões que vinham para
os blocos da Zona Sul e a praia cheia, foi impraticável vir com o meu violão. O máximo que fiz foi curtir o
carnaval de rua perto de casa mesmo. Ainda bem que, uma hora, a farra chega ao fim — desabafou
Michel, que saiu do Cachambi, por volta das 8h, num 457 ( Abolição­ General Osório) vazio para um
domingo de sol.
ÔNIBUS E METRÔ MENOS CONCORRIDOS
O começo do “novo ano” também foi celebrado pela administradora gaúcha Ticiana Carvalho. Ela mora
no Rio há cinco anos e, pela quinta vez, pensou em deixar a cidade, justamente no carnaval.
— Moro no Flamengo, onde é impossível ficar em casa sem ter a sensação de ter um bloco tocando
dentro da sala. Acho que os desfiles deveriam acontecer só em lugares como o Aterro e a (Avenida)
Presidente Vargas, longe de perímetro residencial, dando às pessoas a escolha de evitar a confusão.
Durante o carnaval, eu fico uma semana sem ir à rua, porque uma ida à padaria vira um evento. As
pessoas ficam bêbadas, te abraçam, te pegam no colo, pulam em cima de você... — contou ela que,
ontem, finalmente, curtiu a praia com o marido e uma amiga, após um jejum forçado. — Com a cidade se
esvaziando, pude voltar a tomar meu banho de mar no fim de semana, sem ter que perder horas no
trânsito ou enfrentar o metrô abarrotado de gente.
Enquanto os blocos derradeiros passavam pelas ruas da cidade, a analista de comércio exterior Teresa
Mendes assistia, de camarote, às partidas de tênis do Rio Open, no Jockey. Fanática pelo esporte, ela
passaria longe do carnaval, se isso fosse possível:
— Só vivi os transtornos. Com a cidade superlotada, o trânsito caótico e as pessoas nada civilizadas,
bebendo até faltar com respeito a você, fazendo xixi nos postes e jogando lixo no meio da rua, deu para
sentir como foi o lado “B” da folia. Por isso que, nessa onda de despedidas, só lamento mesmo o fim do
horário de verão, porque eu gosto de sair do escritório com o dia ainda ensolarado.
Outro integrante do bloco­dos­quenão­foram, o empresário Aroldo Cardoso, de Brasília, fez vista grossa
diante do caos provocado pela passagem das agremiações de rua. Curtindo as últimas horas do sol de
ontem, ele já estava nostálgico por ter que deixar a cidade.
— Tirei mais dias para descansar do que para pular carnaval. E foi ótimo. Esse foi a 12ª vez que vim
ao Rio durante a folia. De uns três anos para cá, percebi um aumento de blocos e dos transtornos, mas
nada que tirasse a minha alegria.
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