Iate Clube do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, 25 de março de 1920
A História do Fluminense Yacht Club se mescla com a história da cidade
¨O espírito de um clube é como a nossa própria alma, sem ele não se pode realizar o
menor programa porque não se fixa o presente, nem se prevê o futuro¨.
(Fragmento do discurso proferido por Jorge Bhering de Oliveira Mattos em 18/03/1953
no Conselho Deliberativo)
Há quase quatro séculos, antes da fundação do Fluminense Yacht Club, Estácio de Sá,
após constatar a impossibilidade de fundeação no morro Cara de Cão, procura a
enseada mais próxima e faz dali o seu porto. Busca uma área segura e estabelece ali o
marco da fundação da cidade do Rio de Janeiro. Era o dia 1° de março de 1565 e a
enseada hoje Praia do Forte, onde foi edificado o Forte de São José.
Pouco distante dali, havia outra praia pequena e bravia, chamada Praia Vermelha e
contornando o morro, um remanso, já dentro da barra, denominado, no início do século
passado, de Praia da Saudade onde mais tarde se instalaria o Fluminense Yacht Club.
Já sedimentado aqui o II Reinado em 1852, D. Pedro II manda construir na Praia da
Saudade, o Hospício Nacional dos Alienados, prédio esse que hoje abriga a
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Também faz edificar a Escola Militar em 1859 prédio com características de fortaleza, que por razões estratégicas bloqueava a Praia
Vermelha de ponta a ponta - e ainda constrói em 1872 a Escola Superior de Guerra que
poucos anos depois se tornaria o Imperial Instituto de Meninos Cegos, o conhecido
Instituto Benjamim Constant. Para completar manda edificar o Serviço Geológico e
Mineralógico do Brasil, atualmente Departamento Nacional de Produção Mineral.
Para a Exposição Nacional de 1908, que tinha como tema a comemoração do
Centenário da Abertura dos Portos Brasileiros às Nações Amigas, o governo de Affonso
Penna constrói, na Praia da Saudade, vários edifícios representando Estados, Nações e
Indústrias dando à mesma, grande destaque.
Infelizmente esses prédios não foram preservados como por exemplo, a Escola Nacional
de Medicina e a Escola de Odontologia.
Para dar apoio ao evento foi também construído um cais de desembarque para dar
apoio as barcas que traziam diretamente do Porto do Rio as pessoas vindas dos navios
estrangeiros para a exposição. Esse local é atualmente conhecido como Quadrado da
Urca. O Quadrado da Urca também foi utilizado mais tarde como piscina de provas de
natação tendo dentre os competidores, Jorge Bhering de Mattos.
Os anos que se seguiram ao término da I Guerra Mundial no Novo Continente foram
anos de fartura. Tanto no Rio de Janeiro, capital do País, quanto em São Paulo, estado
mais próspero, as pessoas se reuniam em festas, teatros e cinematógrafos. Era o high
life.
Em meio à efervescência da Belle Époque, surgiram os clubes seletos, dentre eles, o
Fluminense Football Club.
Ao Fluminense Football Club, fundado em 1902, continuava a faltar um segmento
náutico. Arnaldo Guinle, seu presidente, resolve adquirir um terreno para a sede náutica
de seu clube, já que os esportes do remo e da vela, trazidos pelos modismos britânicos,
eram a coqueluche do momento.
Formavam o clube de fundadores em 25 de março de 1920, Arnaldo Guinle, Luiz da
Rocha Miranda, Eugênio Honold, Octávio da Rocha Miranda, Octávio Reis, Oswaldo da
Rocha Miranda, Eduardo Guinle, Octávio Guinle, Guilherme Guinle, Linneo de Paula
Machado, Renato da Rocha Miranda, Luiz Betim Paes Leme, Raymundo Ottoni de
Castro Maya, Mariano Marcondes Ferraz, Alberto Rebello Valente, Luiz Leonel de
Moura, Affonso de Castro, Herberto Filgueiras, Hermano Cupertino Durão, Afrânio
Antonio Costa, Francisco Bueno Netto, Mário Pollo, Armênio da Rocha Miranda,
Anverino Floresta de Miranda, Maurício Gudin, Henrique Arthou.
O local escolhido para a implantação da sede náutica inicialmente fora um terreno no
Morro da Viúva, concedido pelo do Ministério da Guerra. Porém, logo se verificou a
impossibilidade de ali se construírem instalações adequadas para tal fim (vide imagem
anexada).
O Rio de Janeiro nesta época era palco de grandes transformações urbanísticas. Os
tempos modernos chegavam e uma nova ordem arquitetônica se impunha.
Grandes avenidas eram rasgadas e, desde a gestão do Prefeito Pereira Passos, havia a
movimentação para o embelezamento da Capital. Os projetos arquitetônicos eram
estudados com severidade, a fim de que se criasse uma certa harmonia no desenho da
cidade. Foi em atenção a esses novos padrões que o primeiro projeto para a sede do
Fluminense Yacht Club, elaborado por Alejandro Baldassini, foi rejeitado pelo arquiteto
Alfredo Agache, por parecer a massa do edifício incompatível com a do Instituto
Benjamin Constant.
Neste mesmo ano de 1920, ficam aprovados os estatutos do novo clube com um total de
oitenta e dois artigos, tendo como objetivo principal promover e incrementar por todos os
meios, o gosto pela navegação, regatas e excursões à vela, oferecendo para este fim,
aulas técnicas e práticas.
Embora o Fluminense Yacht Club fosse estreitamente ligado ao Fluminense Football
Clube, eram pessoas jurídicas diferentes e dissociadas.
Durante um longo período, as reuniões da Diretoria aconteceram no escritório do
patrono do clube, Arnaldo Guinle, e as reuniões do Conselho Deliberativo, na sede do
Fluminense Football Club.
Longa foi a jornada percorrida entre a fundação, em 1920, e a efetiva construção do
enrocamento, e da construção do cais, entregues à firma Christiani & Nielsen, até a
consumação do projeto do edifício da sede do Fluminense Yacht Club, o qual tornaria
fisicamente existente esta agremiação.
Apenas em 1926, o terreno compreendido entre a Avenida Venceslau Brás e o cais de
desembarque, hoje conhecido como Quadrado da Urca foi cedido pelo Ministério da
Guerra em troca do terreno anterior, ao Fluminense Yacht Club, ficando assim,
estabelecido definitivamente neste local.
Maria Elizabeth Labouriau
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