FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA
PROFESSORES
Anadir Aparecida Pedroso Batista1
Ana Tiyomi Obara2
Resumo
O presente trabalho relata a implementação do curso de formação continuada em
educação ambiental com professores de uma escola estadual localizada na região
noroeste do Paraná. A abordagem metodológica utilizada foi a pesquisa-ação
colaborativa em que a partir da identificação dos problemas e dificuldades dos
professores do colégio, com relação à inserção da dimensão ambiental na prática
pedagógica cotidiana, estabeleceu-se uma análise e reflexão conjunta no sentido de
ampliar a visão teórica e metodológica do grupo e, suscitar estratégias para superar
os obstáculos levantados. Inicialmente foi aplicado um questionário, para verificar
quais eram as dificuldades dos professores em trabalhar a educação ambiental e
analisar o nível de conhecimento sobre os conceitos e processos relativos ao meio
ambiente e à problemática ambiental no âmbito local. A análise das repostas foi feita
por meio da análise de conteúdo. O curso envolveu reuniões, grupos de estudo e
oficinas sobre os fundamentos teóricos e metodológicos para o desenvolvimento de
projetos de educação ambiental, tendo a bacia hidrográfica como tema gerador
principal. A avaliação do projeto evidenciou que alguns professores têm dificuldades
para inserir a dimensão ambiental na sua prática cotidiana, devido a formação
deficiente, mas que já iniciaram um processo de refletir sobre suas concepções e
práticas pedagógicas, na perspectiva de superar as dificuldades.
Palavras-chaves: Educação ambiental, formação continuada de professores, bacia
hidrográfica.
Abstract
This paper describes the implementation of continuing education course on
environmental education with teachers from a state school located in the northwest of
Paraná. The methodological approach was the collaborative action research in that
by identifying the problems and difficulties of teachers in the school, regarding the
inclusion of environmental concerns into daily practice, established a joint analysis
and reflection in order to expand theoretical and methodological overview of the
group and raising strategies to overcome the obstacles. Initially a questionnaire was
administered to see what were the difficulties of teachers working in environmental
education and analyze the level of knowledge about the concepts and processes
relating to the environment and environmental issues at the local level. The analysis
1
Professora de ciências da rede pública Estadual do Estado do Paraná e integrante do Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE
2
Professora do departamento de Biologia da Universidade Estadual de Maringá, Doutora em
Ecologia e Recursos Naturais. Orientadora
2
of the responses was done through content analysis. The course involved meetings,
study groups and workshops on the theoretical and methodological development of
environmental education projects, and the basin as the main theme generator. The
evaluation of the project showed that some teachers find it difficult to incorporate the
environmental dimension in their daily practice, due to poor training, but who have
commenced a process to reflect on their conceptions and teaching practices, in order
to overcome any difficulties.
Key words: Environmental education, continuing education for teachers, watershed.
3
INTRODUÇÃO
Para muitos cientistas, o meio ambiente é um determinado lugar, onde os
elementos naturais e sociais estão em interações dinâmicas. Segundo Reigota
(1997), o conceito de ambiente evolui no tempo e depende do grupo social que o
utiliza. As inter-relações que existem entre os elementos do ambiente compõem o
meio de vida de cada pessoa e de sua comunidade.
Contudo, os seres humanos utilizam o meio de vida apenas como residentes
passageiros e não como habitantes: não existe um sentimento de pertencimento ao
local em que vivemos (COAN; ZAKRZEVSKI, 2003).
Frente a crescente crise ambiental que se instaurou em diversos países logo
após a revolução industrial, inúmeras estratégias vêm sendo debatidas por
diferentes segmentos sociais, no sentido de reverter a relação desarmônica entre o
ser humano e seu meio ambiente. Neste cenário, surgiu a educação ambiental,
como possibilidade de trabalhar com os alunos e, também, com a sociedade em
geral, novos valores e posturas em relação ao ambiente em que vivem.
Para Santos e Ruffino (2003), a educação ambiental pode ser entendida
como:
Um processo no qual são trabalhados compromissos e conhecimentos
capazes de levar o indivíduo a repensar sua relação com o meio, de forma
a garantir mudanças de atitudes em prol da melhoria da qualidade de vida
da sociedade na qual está inserido, bem como reverter situações que
possam comprometer a sobrevivência das espécies animais e vegetais, e
consequentemente, a manutenção da vida no planeta. (SANTOS;
RUFFINO, 2003, p.9).
Na interpretação de Guimarães (1995), a educação ambiental apresenta
uma nova dimensão a ser incorporada no processo educacional, trazendo discussão
sobre as questões ambientais e as consequentes transformações de conhecimento,
valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Brasileira, Lei nº 9.394/96
garante liberdade para que as instituições educacionais organizem sua proposta
pedagógica quando diz que:
Os estabelecimentos de ensino terão a incumbência de elaborar sua
proposta pedagógica, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema
de ensino (Art. 12, I) e também que os currículos do ensino fundamental do
ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar,
4
por uma parte diversificada exigida pelas características regionais e locais
da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (Art. 26).
No entanto, é necessário que essa proposta pedagógica tenha origem em
discussões da comunidade escolar e que considere as questões ambientais do local,
sem perder de vista o regional e o global. Segundo Santos e Ruffino (2003) para reestruturar o projeto de acordo com a realidade local, tem que haver participação da
comunidade como um todo; tanto a escola quanto a sociedade precisam estar
preparadas para essas mudanças.
Carvalho (2000) enfatiza que as discussões sobre a temática ambiental,
quando levadas ao campo da educação, devem trazer mudanças das práticas
pedagógicas tradicionais, pois se referem a um processo que além de lidar com
conceitos e reflexões, não deve ficar restrita a simples oferta dessas informações,
mas trabalhar de modo amplo com conhecimentos, valores e ações.
Essa afirmação foi constatada na investigação realizada por Valeiras (2003).
Segundo a autora, um dos fatores importantes para melhorar a qualidade do ensino
em educação ambiental é o aperfeiçoamento dos docentes. Ao lado da formação de
recursos humanos e da geração de novos conhecimentos, se estende também o
desenvolvimento da tecnologia ambiental no sentido de incentivar o estudo, a
pesquisa e o aperfeiçoamento de métodos e técnicas para recuperar a qualidade
ambiental (PHILIPPI, 2000).
Nos processos educativos é fundamental que considerem as representações
ambientais, para que o ambiente seja percebido de uma forma global,
compreendendo as inter-relações existentes entre pessoa, sociedade e natureza, de
um modo complexo.
Através do estudo da teoria e da prática em Educação Ambiental, Sauvé et
al. (2000) identificam sete representações paradigmáticas sobre o ambiente:
ambiente como sistema, ambiente como meio de vida, ambiente como biosfera,
ambiente como projeto comunitário, ambiente como natureza, ambiente como
recurso e ambiente como problema (QUADRO 1).
5
QUADRO 1. Representações sobre o ambiente na Educação Ambiental.
AMBIENTE
Como natureza
RELAÇÃO
Para ser
apreciada,
admirada e
preservada
PROBLEMA
O ser humano
está dissociado
da natureza da
qual faz parte
CARACTERÍSTICAS
A natureza percebida
como matriz da vida,
aquela que a energia
Como recurso
Para ser
gerenciado
Os recursos são
limitados e se
degradam e o
ser humano os
utiliza de forma
abusiva.
Herança biofísica
coletiva, que sustenta
a qualidade de
nossas vidas
Como problema
Para ser
resolvido
Ênfase na poluição,
deterioração e
ameaças
Como meio de
vida
EA para, sobre e
no para cuidar
do ambiente
A saúde e a
sobrevivência
estão
ameaçadas
pelos impactos
negativos
ocasionados
pela atividade
humana
Não há
sentimento de
pertencimento
ao meio de vida
Como sistema
Para ser
compreendido a
fim de tomar
decisões
A realidade é
percebida de
maneira
fragmentada
Ênfase nas relações
ecológicas, no
equilíbrio ecológico
Como biosfera
Como local para
ser dividido
Desenvolvimento de
uma consciência
planetária, de um
pensamento
cósmico.
Como projeto
comunitário
No qual
precisamos nos
comprometer
Não há
solidariedade
entre os seres
humanos na
utilização dos
recursos
planetários
Falta de
compromisso
comunitário, de
solidariedade
coletiva
A natureza com os
seus componentes
sociais, histológicos e
tecnológicos
A natureza com foco
na análise crítica, na
participação política
da comunidade.
ESTRATÉGIAS
- imersão no
meio natural
(saídas de
interpretação, de
contato, etc.)
- campanhas de
economia de
energia, dos
3Rs, de
recuperação;
- auditorias
ambientais do
meio de vida.
- resolução de
problemas;
- estudos de
caso.
- projetos de
jardinagem;
- lugares ou
lendas sobre a
natureza.
- análise de
situações
ambientais com
enfoque
sistêmico.
- estudos de
caso em
problemas
globais;
- estórias com
diferentes
cosmologias.
- pesquisa-ação
participativa
para a
transformação
comunitária;
- fórum de
discussão.
Fonte: Sauvé (1996)
Reigota (1991) fez o estudo das representações sociais de professores e
concluiu que elas originam do senso comum que se tem sobre um determinado tema
e, portanto, são constituídas por ideologias, preconceitos e características
6
específicas das atividades cotidianas, sociais e profissionais. Neste sentido,
identificou três representações:
aa
Naturalista: destaca somente os aspectos naturais do ambiente.
aa
Antropocêntrica: são importantes para a sobrevivência do ser humano. O
homem é excluído do meio natural, sendo um ser dotado de inteligência,
capaz de modificar e melhorar o meio ambiente.
aa
Globalizante: evidencia as relações de reciprocidade entre natureza e
sociedade, em que o ambiente é compreendido enquanto interação das
dinâmicas sociais, biofísicas, políticas, filosóficas e culturais.
Na interpretação de Zakrzevski e Coan (2003), a interdisciplinaridade tem
sido apresentada como um requisito fundamental para o ensino relativo ao meio
ambiente, partindo de que o ambiente não pode ser considerado objeto de cada
disciplina, isolado de outros fatores. A interdisciplinaridade é definida por Carvalho
(1998, p. 275) como “uma maneira de organizar e produzir conhecimentos,
buscando integrar as diferentes dimensões dos fenômenos estudados”.
É um processo de encontro entre disciplinas representadas por pessoas
concretas, de modo que, o êxito ou o fracasso de um projeto
interdisciplinar depende, em grande medida, da empatia e capacidade para
o trabalho grupal de tais pessoas: não podemos pensar em projetos
interdisciplinares se não contamos com equipes dispostas a construir
coletivamente o conhecimento. (ZAKRZEVSK; COAN, 2003, p.67)
Na prática educativa, a adoção de uma proposta interdisciplinar implica uma
profunda mudança nos modos de ensinar e aprender. Uma postura interdisciplinar
em educação vai exigir muita abertura para mudanças que podem passar pela
construção de novas metodologias, re-estruturação dos temas e dos conteúdos
curriculares. Mas também é fundamental que a escola experimente novas formas de
organização escolar (CARVALHO, 1998).
A relação entre a bacia hidrográfica e a qualidade/quantidade de água
superficial, nas atuais circunstâncias mundiais, apresenta falta iminente em várias
localidades e regiões. Essa situação, inadequada, também tem proporcionado o
aumento das pesquisas científicas, contribuindo na elaboração e execução de
7
políticas menos permissivas de apropriação e descarte de recursos hídricos
(SANTOS; RUFFINO, 2003).
A partir do estudo da bacia hidrográfica, tem-se a oportunidade de
formação holística dos educadores diante das questões de dinâmica,
capacidades e adequados usos de diferentes recursos ambientais
contidos nessa área delimitada fisicamente. (RUFFINO; SANTOS,
2002 apud SANTOS; RUFFINO, 2003)
As atividades humanas causam impactos nos recursos hídricos, alterando o
ciclo hidrológico e a qualidade da água (TUNDISI, 2003). Nos últimos anos, a
concepção de que a bacia hidrográfica é a unidade mais apropriada para o
gerenciamento, à otimização de usos múltiplos e o desenvolvimento sustentável
consolidou-se de forma a ser adotada em muitos países e regiões. Não há duvida de
que a introdução dos conceitos de desenvolvimento sustentável a partir da agenda
21 teve ampla repercussão mundial (TUNDISI, 2003).
As discussões relativas à temática ambiental, quando levadas ao campo
educacional, implicam em mudanças das práticas pedagógicas tradicionais, pois se
referem a um processo que além de lidar com concepções e reflexões específicas e
relevantes, não deve se restringir à simples oferta dessas informações, mas
trabalhar de modo amplo com conhecimentos, valores e ações (CARVALHO, 2000).
A interdisciplinaridade tem sido apresentada como um requisito fundamental
para o ensino relativo ao meio ambiente, partindo-se do fato que o ambiente não
pode ser considerado objeto de cada disciplina, isolado de outros fatores
(ZAKRZEVSKI; COAN, 2003). A interdisciplinaridade é definida por Carvalho (1998)
como “uma maneira de organizar e produzir conhecimentos, buscando integrar as
diferentes dimensões dos fenômenos estudados”.
Para proporcionar uma estratégia criativa na formação de professores em
educação ambiental, o emprego do conceito de bacia hidrográfica, por ser uma
unidade física do meio que apresenta clara delimitação a natural interdependência
de processos climatológicos, geológicos, ecológicos, culturais e sociais existentes na
bacia hidrográfica, possibilitando uma visão sistêmica e integrada da problemática
ambiental da região, tem-se mostrado bastante eficaz, no trabalho interdisciplinar
(SCHIEL et. al., 2002; TUNDISI, 2003).
8
METODOLOGIA DA PESQUISA
O Colégio onde foi desenvolvido o projeto de intervenção está situado na
região central do Paraná, oferta Ensino Fundamental e Médio no período vespertino
e noturno num total de doze turmas e aproximadamente quatrocentos e cinquenta
alunos. O corpo docente é composto por vinte professores com formação de
licenciatura nas disciplinas da grade curricular, sendo que a maioria deles possui
especialização.
A comunidade onde está inserida a escola é formada principalmente por
pessoas de baixa renda, as crianças começam a trabalhar muito cedo, ajudando na
lavoura. A atividade predominante na região é a criação de gado leiteiro e a
agricultura familiar, existindo também pessoas que se dedicam à fruticultura e ao
comércio.
Com a atividade da agricultura e da pecuária na região, foi desmatando as
margens dos rios para aumentar a área de plantio, ficando a qualidade da água na
bacia hidrográfica comprometida. No curso de Educação Ambiental, procuramos
trabalhar compromissos e conhecimentos para que as pessoas pudessem repensar
suas atitudes em relação ao meio e consequentemente ter mudanças de atitudes
para melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Participaram do curso de formação continuada em Educação Ambiental 10
professores de diversas áreas de conhecimento e com experiência de docência na
rede pública estadual, principalmente nas séries finais do ensino fundamental
(Ciências, Português,inglês, biologia, geografia e história e artes) como mostra o
quadro 2.
Desses professores, 80% (oitenta por cento) além de trabalhar na escola
pesquisada também trabalham em outros colégios públicos do município.
9
QUADRO 2 - Perfil dos professores entrevistados
Entrevistado
sexo Experiência no Experiência
magistério profissional no
ensino de
Ciências
Grau de instrução:
E-1
F
12 anos
12 anos
Licenciatura
curta
em
Ciências com habilitação em
biologia e especialização em
ciências.
E-2
F
26 anos
15 anos
Licenciatura
Plena
em
Ciências e especialização em
biologia.
E-3
M
30 anos
20 anos
Licenciatura
Plena
em
Ciências e biologia com
especialização em ciências.
E-4
F
24 anos
01 ano
Licenciatura plena em língua
portuguesa e inglesa.
E-5
F
26 anos
00 anos
Licenciatura
Plena
com
habilitação
em
língua
portuguesa e inglesa.
E-6
M
06 anos
00 ano
Licenciatura
geografia
Plena
em
E-7
F
36 anos
00 anos
Licenciatura
história.
Plena
em
E-8
F
16 anos
00 ano
Licenciatura plena em artes.
E-9
F
17 anos
02 anos
Licenciatura
plena
ciências biológicas.
em
E-10
F
04 anos
01 ano
Licenciatura
geografia.
em
Plena
Como abordagem metodológica para se trabalhar a educação ambiental
com os professores foi utilizado a pesquisa-ação, configurando como uma proposta
de trabalho colaborativo, em que a partir da identificação dos problemas e
dificuldades pelos professores do colégio, fizemos a inserção da dimensão
ambiental na prática pedagógica cotidiana.
Inicialmente foi aplicado um questionário, para verificar quais eram as
dificuldades dos professores em trabalhar a educação ambiental e analisar o nível
de conhecimento sobre o meio ambiente e a problemática ambiental no âmbito local.
1
Após análise dos resultados, foram realizadas com os educadores envolvidos:
reuniões, grupos de estudo e oficinas sobre os fundamentos teóricos e
metodológicos para o desenvolvimento de projetos de educação ambiental, tendo a
bacia hidrográfica como tema gerador principal. O planejamento das atividades do
projeto foi realizado dentro de uma perspectiva interdisciplinar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com Reigota (1988), ambiente é um determinado lugar, onde os
elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e interação. Segundo o
autor, essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica,
processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído. As
inter-relações que existem entre os elementos do ambiente compõem o meio de vida
de cada pessoa e de sua comunidade.
As representações ambientais são, na verdade, leituras do ambiente, feitas
de diferentes formas, de acordo com o grupo que cada indivíduo vive, segundo sua
bagagem cultural, social, intelectual ou econômica.
No presente estudo, tendo como base as categorias de representações
ambientais apresentadas por Sauvé (1996), a análise dos questionários, permitiu
identificar que os professores apresentaram diferentes concepções de meio
ambiente, como ilustram o Quadro 3 e Gráfico 1.
QUADRO 3.
fundamental.
Representações
ambientais
dos
professores
AMBIENTE
PORCENTAGEM
Como natureza
25%
Como recurso
5%
Como problema
20%
Como meio de vida
0%
Como sistema
0%
Como biosfera
15%
Como projeto comunitário
35%
do
ensino
1
Para a maioria dos professores (35%), o ambiente esteve associado a um
projeto comunitário, no qual precisamos nos comprometer e 25% consideram o
ambiente como natureza a ser apreciada, admirada e preservada (Gráfico 1).
Nenhum dos professores participantes do projeto considerou o ambiente como meio
de vida e como sistema.
Como natureza
35%
Como recurso
30%
25%
Como problema
20%
Como meio de vida
15%
Como sistema
10%
5%
Como biosfera
0%
Como projeto
comunitário
Gráfico 1. Representações ambientais dos professores entrevistados.
Perguntamos aos professores se já tinham trabalhado a educação
ambiental em forma de projeto interdisciplinar e todos responderam que sim, pelo
menos uma vez. Segundo os entrevistados as Diretrizes Curriculares Estaduais,
afirmam que é preciso trabalhar os conteúdos de forma interdisciplinar, exigindo do
professor além da utilização de métodos diferenciados, um domínio grande de
conteúdos. “A Educação Ambiental é uma estratégia nessa ampla formação de
consciência crítica das relações sociais e de produção que tornam o homem
Humano” (professora A).
Ao perguntar sobre a frequência com que trabalhavam a educação
ambiental, os professores responderam que trabalhavam o tema pelo menos uma
vez por ano devido o compromisso com a agenda 21, mas que muitas vezes
trabalhavam de forma isolada por não conseguirem se reunir, pois a maioria trabalha
em mais de uma escola e não tem tempo para se encontrarem.
Durante a realização do curso de formação em educação ambiental, as
reuniões, grupos de estudos e oficinas, em que foram discutidos e debatidos os
aspectos teóricos e metodológicos da educação ambiental e do desenvolvimento de
projeto, enfatizando a bacia hidrográfica com unidade de estudo, possibilitaram que
1
os professores refletissem sobre suas concepções e práticas pedagógicas relativas
às questões ambientais.
Na reflexão feita pelo grupo de professores sobre a educação ambiental,
todos acharam importante o trabalho interdisciplinar.
Na opinião da professora “A” o trabalho fica prejudicado se não houver a
participação de todos na escola.
“Enquanto trabalho pedagógico, as discussões e práticas
pedagógicas relacionadas à temática ambiental, tem se
voltado para uma abordagem no campo de conhecimentos,
valores e ações, o aperfeiçoamento dos docentes, está
acontecendo
gradativamente.
Porém
a
falta
de
interdisciplinaridade é que tem prejudicado muito o trabalho”
(Professora A).
A opinião da professora A é reforçada pelo professor B quando coloca:
“Concordo com a colocação da colega, gostaria de reforçar
que essa interdisciplinaridade citada deve ser entendida como
um encontro entre disciplinas representadas por pessoas com
capacidade para o trabalho grupal. Da forma que a gente tem
visto interdisciplinaridade na escola, onde o professor aborda o
conteúdo sob diversos enfoques e disciplinas pertinentes, a
temática ambiental acaba ficando somente como que
responsabilidade dos professores de Ciências”. (professor B).
Segundo a reflexão feita pelo grupo de professores o problema é a falta de
interdisciplinaridade. A temática ambiental acaba sendo trabalhada isoladamente
pelos professores de Ciências.
Com relação ao trabalho com projetos, a professora “C” enfatiza que o
trabalho é difícil, pois as Diretrizes Curriculares Estadual visam superar a pedagogia
de projetos:
“Acredito que teremos algumas dificuldades em trabalharmos
Educação Ambiental com projetos interdisciplinares, visto que
até a hora atividade dos professores está organizada por
disciplinas. Minha esperança em incluir essa educação no
currículo ainda é através da formação continuada dos
docentes, enquanto não estiver claro que precisamos superar o
sistema consumista em que vivemos, Educação Ambiental
continuará ser sempre um conteúdo específico da disciplina de
Ciências”.
1
O trabalho com projeto de educação ambiental de forma interdisciplinar não
é fácil, exigindo empenho de todos mas é possível como afirma a professora “D”:
“Achei maravilhosa a ideia da interdisciplinaridade e gostaria
de dizer que trabalhar dessa forma não é tão difícil quanto
parece. Falo pela experiência que tenho adquirido nos últimos
anos trabalhando numa escola rural. Tudo bem que somos
poucos professores e temos ajuda dos pais, mas acho que na
escola se tivermos o envolvimento de alguns professores,
podemos tentar contagiar os outros através dos resultados
obtidos”. (professora D)
Projeto é um conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas, com
a finalidade de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de orçamento e de
um período de tempo determinado. Um projeto surge em resposta a um problema
concreto, portanto, elaborar um projeto é contribuir para a solução de um problema,
transformando ideias em ações. A organização de um projeto em um documento nos
auxilia sistematizar o trabalho em etapas a serem cumpridas (MOURA,1998).
Trabalhar com projetos significa uma mudança de postura, uma forma de
repensar a prática pedagógica e as teorias que lhe dão sustentação, possibilitando o
envolvimento dos professores, a cooperação e a solidariedade entre alunos e
comunidade com o objetivo de transformar a realidade por meio de ações. Esse
trabalho
requer
uma
capacidade
gerencial
por
parte
dos
professores,
estabelecimento de critérios e prioridades nas ações, o manuseio das informações
para gerar um produto concreto e ainda a disseminação de informações sobre temas
de relevância para a escola e comunidade.
Na interpretação de Zakrzevski e Coan (2003), a interdisciplinaridade tem
sido apresentada como um requisito fundamental para o ensino relativo ao meio
ambiente, partindo de que o ambiente não pode ser considerado objeto de cada
disciplina, isolado de outros fatores. A interdisciplinaridade é definida por Carvalho
(1998) como uma maneira de organizar e produzir conhecimentos, buscando
integrar as diferentes dimensões dos fenômenos estudados.
É um processo de encontro entre disciplinas representadas por pessoas
concretas, de modo que, o êxito ou o fracasso de um projeto
interdisciplinar depende, em grande medida, da empatia e capacidade para
o trabalho grupal de tais pessoas: não podemos pensar em projetos
interdisciplinares se não contamos com equipes dispostas a construir
coletivamente o conhecimento”. (ZAKRZEVSKI; COAN, 2003, p.67)
1
Na prática educativa, a adoção de uma proposta interdisciplinar implica em
uma profunda mudança nos modos de ensinar e aprender. Uma postura
interdisciplinar em educação vai exigir uma abertura para mudanças que podem
passar pela construção de novas metodologias, re-estruturação dos temas e dos
conteúdos curriculares. Mas também é fundamental que a escola experimente novas
formas de organização escolar (CARVALHO, 1998).
Trabalhar a educação ambiental com projetos interdisciplinares é uma forma
de incluir esse tema transversal na organização do currículo, incentivar a pesquisa e
atualização constante de professores e alunos. A avaliação desse trabalho deve
envolver todos aqueles que participaram de sua elaboração
Os principais itens que compõem a apresentação de um projeto relacionamse de modo que o desenvolvimento de uma etapa necessariamente leva à outra.
A interdisciplinaridade e transversalidade estão intimamente relacionadas
com a visão de um meio ambiente conceitualmente amplo. A integração dos
conteúdos curriculares, deve buscar a participação dos alunos, estimulando-os a
atuar na busca de soluções, que envolvam a família e toda comunidade. Problemas
como poluição e enchentes podem, por exemplo, na medida em que afetam as
pessoas, servir de ponto de partida para a educação ambiental.
Educação ambiental não se faz individualmente, portanto a elaboração de
um projeto deve ser feito coletivamente, e sempre requer a fase do diagnóstico que,
é por meio dele que podemos fazer um levantamento dos problemas ambientais que
mais afligem a comunidade.
Conversando com os membros da comunidade escolar, podemos identificar
os temas que têm um significado maior ou são motivos de preocupação para a
maioria.
Para elaborar o projeto, foram convidadas pessoas representativas dos
alunos, funcionários, professores e equipe pedagógica e distribuído tarefas para que
cada uma, junto ao seu segmento, recolhesse sugestões para o projeto. Estas
sugestões serviram de ponto de partida para o diagnóstico, a partir daí, começaram
a elaborar o projeto tendo como referência o estudo do principal rio que banha a
comunidade onde está inserida a escola da implementação.
A relação entre a bacia hidrográfica e a qualidade/quantidade de água
superficial, nas atuais circunstâncias mundiais, apresenta escassa em várias
localidades e regiões. Essa situação, inadequada, também tem proporcionado o
1
aumento das pesquisas científicas, contribuindo na elaboração e execução de
políticas menos permissivas de apropriação e descarte de recursos hídricos
(SANTOS; RUFFINO, 2003).
Ruffino e Santos (2002) apud Santos e Ruffino (2003) enfatizam que “a partir
do estudo da bacia hidrográfica, tem-se a oportunidade de formação holística dos
educadores diante das questões de dinâmica, capacidades e adequados usos de
diferentes recursos ambientais contidos nessa área delimitada fisicamente”.
Nos últimos anos, a concepção de que a bacia hidrográfica é a unidade mais
apropriada para o gerenciamento, a otimização dos usos múltiplos e o
desenvolvimento sustentável consolidou-se de uma forma a ser adotada em muitos
países e regiões. Não há duvida de que a introdução dos conceitos de
desenvolvimento sustentável a partir da Agenda 21 teve ampla repercussão mundial
(TUNDISI, 2003). Portanto, um projeto que tenha a bacia hidrográfica como unidade
de estudo e pesquisa possibilita que professores e alunos tenham uma visão
interdisciplinar, de um sistema natural submetido a impactos e a múltiplos usos.
Dos problemas ambientais levantados pelo grupo, o que consideraram mais
relevantes, foi a proteção do Rio Formoso que é o principal rio da bacia hidrográfica
da região de implementação. Neste sentido, o tema gerador do projeto foi “Rio
Formoso: Belezas Naturais e Problemas Ambientais. O projeto foi elaborado para
trabalhar de forma interdisciplinar, com ajuda da comunidade e órgãos públicos.
1
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
CIÊNCIAS
- Confecção de arte com
Biodiversidade no Rio Formoso
- Preparação de folhetos
Sucata;
GEOGRAFIA
- Montagem de modelos de
ecossistemas;
informativos sobre os
- Estudo da paisagem local;
peixes do Rio Formoso;
Tema
gerador:
- Debate sobre os problemas
HISTÓRIA
-Visita a mata ciliar;
Rio
Formoso:
Belezas
naturais
Problema
- Construção de maquetes
Do Rio Formoso: passado,
MATEMÁTICA
- Confecção de gráficos
sobre o desmatamento;
presente e no futuro;
Confecção de gráficos sobre
Produção de textos sobre
EDUCAÇÃO FÍSICA
LÍNGUA PORTUGUESA
- Exercícios físicos
Confecção de paródias e
- Importância
lazer
do
poesias sobre as belezas
naturais do Rio Formoso;
O projeto foi desenvolvido com os professores participantes do curso de
formação continuada em educação ambiental e alunos do ensino fundamental do
colégio de implementação mas, com envolvimento da comunidade. Os trabalhos
realizados foram apresentados em uma feira de trabalhos científicos e culturais.
Entretanto o resultado esperado não é imediato, precisamos ter persistência para
cada vez mais aumentar a adesão de pessoas e começar a ter resultados positivos.
Todavia formamos alunos para atuarem em uma sociedade e neste contexto muitas
vezes precisa se submeter a situações que contrariam seus próprios valores em
função dos interesses de grandes multinacionais e todo o planeta sofre com as
consequências desses atos.
No entanto, cabe ressaltar que este trabalho não é fácil, uma vez que, a
cultura escolar e social está pautada ainda em um modelo de racionalidade técnica e
instrumental que dificultam o trabalho em uma perspectiva diferenciada. A
pesquisadora constatou, a dificuldade que os professores tem em relação ao tempo
e espaço de preparação de aulas, estudos coletivos e compartilhados e, muitas
vezes, as carências materiais.
1
CONCLUSÃO
Após a implementação do projeto, pode-se concluir que alguns professores
têm dificuldades para inserir a dimensão ambiental na sua prática cotidiana devido a
formação deficiente que tiveram. Nas oficinas foi feito um trabalho voltado à
formação docente em educação ambiental, proporcionando aos mesmos vivenciar
os fundamentos e as práticas para se trabalhar a educação ambiental, tendo a
oportunidade de refletir, construir e reconstruir sua prática pedagógica sobre a
temática, na perspectiva de uma formação mais ativa e reflexiva.
Mesmo após a intervenção realizada com
os professores e
professoras, em que foi proporcionada, de maneira sistemática, a formação
continuada em educação ambiental, eles tiveram dificuldades de trabalhar de forma
interdisciplinar porque alguns ainda não aceitam essa forma de trabalho.
Contudo, de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais, a construção de
significados pelos alunos é resultado de uma complexa rede de interações, em que
fazem parte o aluno, os conteúdos científicos escolares e o professor. Com a
atenção para a necessidade de relacionar conteúdos potencialmente significativos
para cada momento histórico, sendo que para isso o professor precisa adquirir
novos conhecimentos que contemplem, entre outros, as questões sociais e
ambientais.
Dessa forma, a proposta de formação continuada em Educação Ambiental
aos docentes veio de encontro com as Diretrizes Curriculares Estaduais, uma vez
que propiciou conhecimentos e fundamentos metodológicos para que estes possam
desenvolver com os alunos a formação de atitudes de participações responsáveis
frente aos diversos problemas enfrentados para a convivência e sobrevivência no
planeta.
1
REFERÊNCIAS
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Formação Continuada em Educação Ambiental para Professores