FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA PROFESSORES Anadir Aparecida Pedroso Batista1 Ana Tiyomi Obara2 Resumo O presente trabalho relata a implementação do curso de formação continuada em educação ambiental com professores de uma escola estadual localizada na região noroeste do Paraná. A abordagem metodológica utilizada foi a pesquisa-ação colaborativa em que a partir da identificação dos problemas e dificuldades dos professores do colégio, com relação à inserção da dimensão ambiental na prática pedagógica cotidiana, estabeleceu-se uma análise e reflexão conjunta no sentido de ampliar a visão teórica e metodológica do grupo e, suscitar estratégias para superar os obstáculos levantados. Inicialmente foi aplicado um questionário, para verificar quais eram as dificuldades dos professores em trabalhar a educação ambiental e analisar o nível de conhecimento sobre os conceitos e processos relativos ao meio ambiente e à problemática ambiental no âmbito local. A análise das repostas foi feita por meio da análise de conteúdo. O curso envolveu reuniões, grupos de estudo e oficinas sobre os fundamentos teóricos e metodológicos para o desenvolvimento de projetos de educação ambiental, tendo a bacia hidrográfica como tema gerador principal. A avaliação do projeto evidenciou que alguns professores têm dificuldades para inserir a dimensão ambiental na sua prática cotidiana, devido a formação deficiente, mas que já iniciaram um processo de refletir sobre suas concepções e práticas pedagógicas, na perspectiva de superar as dificuldades. Palavras-chaves: Educação ambiental, formação continuada de professores, bacia hidrográfica. Abstract This paper describes the implementation of continuing education course on environmental education with teachers from a state school located in the northwest of Paraná. The methodological approach was the collaborative action research in that by identifying the problems and difficulties of teachers in the school, regarding the inclusion of environmental concerns into daily practice, established a joint analysis and reflection in order to expand theoretical and methodological overview of the group and raising strategies to overcome the obstacles. Initially a questionnaire was administered to see what were the difficulties of teachers working in environmental education and analyze the level of knowledge about the concepts and processes relating to the environment and environmental issues at the local level. The analysis 1 Professora de ciências da rede pública Estadual do Estado do Paraná e integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE 2 Professora do departamento de Biologia da Universidade Estadual de Maringá, Doutora em Ecologia e Recursos Naturais. Orientadora 2 of the responses was done through content analysis. The course involved meetings, study groups and workshops on the theoretical and methodological development of environmental education projects, and the basin as the main theme generator. The evaluation of the project showed that some teachers find it difficult to incorporate the environmental dimension in their daily practice, due to poor training, but who have commenced a process to reflect on their conceptions and teaching practices, in order to overcome any difficulties. Key words: Environmental education, continuing education for teachers, watershed. 3 INTRODUÇÃO Para muitos cientistas, o meio ambiente é um determinado lugar, onde os elementos naturais e sociais estão em interações dinâmicas. Segundo Reigota (1997), o conceito de ambiente evolui no tempo e depende do grupo social que o utiliza. As inter-relações que existem entre os elementos do ambiente compõem o meio de vida de cada pessoa e de sua comunidade. Contudo, os seres humanos utilizam o meio de vida apenas como residentes passageiros e não como habitantes: não existe um sentimento de pertencimento ao local em que vivemos (COAN; ZAKRZEVSKI, 2003). Frente a crescente crise ambiental que se instaurou em diversos países logo após a revolução industrial, inúmeras estratégias vêm sendo debatidas por diferentes segmentos sociais, no sentido de reverter a relação desarmônica entre o ser humano e seu meio ambiente. Neste cenário, surgiu a educação ambiental, como possibilidade de trabalhar com os alunos e, também, com a sociedade em geral, novos valores e posturas em relação ao ambiente em que vivem. Para Santos e Ruffino (2003), a educação ambiental pode ser entendida como: Um processo no qual são trabalhados compromissos e conhecimentos capazes de levar o indivíduo a repensar sua relação com o meio, de forma a garantir mudanças de atitudes em prol da melhoria da qualidade de vida da sociedade na qual está inserido, bem como reverter situações que possam comprometer a sobrevivência das espécies animais e vegetais, e consequentemente, a manutenção da vida no planeta. (SANTOS; RUFFINO, 2003, p.9). Na interpretação de Guimarães (1995), a educação ambiental apresenta uma nova dimensão a ser incorporada no processo educacional, trazendo discussão sobre as questões ambientais e as consequentes transformações de conhecimento, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Brasileira, Lei nº 9.394/96 garante liberdade para que as instituições educacionais organizem sua proposta pedagógica quando diz que: Os estabelecimentos de ensino terão a incumbência de elaborar sua proposta pedagógica, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino (Art. 12, I) e também que os currículos do ensino fundamental do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, 4 por uma parte diversificada exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (Art. 26). No entanto, é necessário que essa proposta pedagógica tenha origem em discussões da comunidade escolar e que considere as questões ambientais do local, sem perder de vista o regional e o global. Segundo Santos e Ruffino (2003) para reestruturar o projeto de acordo com a realidade local, tem que haver participação da comunidade como um todo; tanto a escola quanto a sociedade precisam estar preparadas para essas mudanças. Carvalho (2000) enfatiza que as discussões sobre a temática ambiental, quando levadas ao campo da educação, devem trazer mudanças das práticas pedagógicas tradicionais, pois se referem a um processo que além de lidar com conceitos e reflexões, não deve ficar restrita a simples oferta dessas informações, mas trabalhar de modo amplo com conhecimentos, valores e ações. Essa afirmação foi constatada na investigação realizada por Valeiras (2003). Segundo a autora, um dos fatores importantes para melhorar a qualidade do ensino em educação ambiental é o aperfeiçoamento dos docentes. Ao lado da formação de recursos humanos e da geração de novos conhecimentos, se estende também o desenvolvimento da tecnologia ambiental no sentido de incentivar o estudo, a pesquisa e o aperfeiçoamento de métodos e técnicas para recuperar a qualidade ambiental (PHILIPPI, 2000). Nos processos educativos é fundamental que considerem as representações ambientais, para que o ambiente seja percebido de uma forma global, compreendendo as inter-relações existentes entre pessoa, sociedade e natureza, de um modo complexo. Através do estudo da teoria e da prática em Educação Ambiental, Sauvé et al. (2000) identificam sete representações paradigmáticas sobre o ambiente: ambiente como sistema, ambiente como meio de vida, ambiente como biosfera, ambiente como projeto comunitário, ambiente como natureza, ambiente como recurso e ambiente como problema (QUADRO 1). 5 QUADRO 1. Representações sobre o ambiente na Educação Ambiental. AMBIENTE Como natureza RELAÇÃO Para ser apreciada, admirada e preservada PROBLEMA O ser humano está dissociado da natureza da qual faz parte CARACTERÍSTICAS A natureza percebida como matriz da vida, aquela que a energia Como recurso Para ser gerenciado Os recursos são limitados e se degradam e o ser humano os utiliza de forma abusiva. Herança biofísica coletiva, que sustenta a qualidade de nossas vidas Como problema Para ser resolvido Ênfase na poluição, deterioração e ameaças Como meio de vida EA para, sobre e no para cuidar do ambiente A saúde e a sobrevivência estão ameaçadas pelos impactos negativos ocasionados pela atividade humana Não há sentimento de pertencimento ao meio de vida Como sistema Para ser compreendido a fim de tomar decisões A realidade é percebida de maneira fragmentada Ênfase nas relações ecológicas, no equilíbrio ecológico Como biosfera Como local para ser dividido Desenvolvimento de uma consciência planetária, de um pensamento cósmico. Como projeto comunitário No qual precisamos nos comprometer Não há solidariedade entre os seres humanos na utilização dos recursos planetários Falta de compromisso comunitário, de solidariedade coletiva A natureza com os seus componentes sociais, histológicos e tecnológicos A natureza com foco na análise crítica, na participação política da comunidade. ESTRATÉGIAS - imersão no meio natural (saídas de interpretação, de contato, etc.) - campanhas de economia de energia, dos 3Rs, de recuperação; - auditorias ambientais do meio de vida. - resolução de problemas; - estudos de caso. - projetos de jardinagem; - lugares ou lendas sobre a natureza. - análise de situações ambientais com enfoque sistêmico. - estudos de caso em problemas globais; - estórias com diferentes cosmologias. - pesquisa-ação participativa para a transformação comunitária; - fórum de discussão. Fonte: Sauvé (1996) Reigota (1991) fez o estudo das representações sociais de professores e concluiu que elas originam do senso comum que se tem sobre um determinado tema e, portanto, são constituídas por ideologias, preconceitos e características 6 específicas das atividades cotidianas, sociais e profissionais. Neste sentido, identificou três representações: aa Naturalista: destaca somente os aspectos naturais do ambiente. aa Antropocêntrica: são importantes para a sobrevivência do ser humano. O homem é excluído do meio natural, sendo um ser dotado de inteligência, capaz de modificar e melhorar o meio ambiente. aa Globalizante: evidencia as relações de reciprocidade entre natureza e sociedade, em que o ambiente é compreendido enquanto interação das dinâmicas sociais, biofísicas, políticas, filosóficas e culturais. Na interpretação de Zakrzevski e Coan (2003), a interdisciplinaridade tem sido apresentada como um requisito fundamental para o ensino relativo ao meio ambiente, partindo de que o ambiente não pode ser considerado objeto de cada disciplina, isolado de outros fatores. A interdisciplinaridade é definida por Carvalho (1998, p. 275) como “uma maneira de organizar e produzir conhecimentos, buscando integrar as diferentes dimensões dos fenômenos estudados”. É um processo de encontro entre disciplinas representadas por pessoas concretas, de modo que, o êxito ou o fracasso de um projeto interdisciplinar depende, em grande medida, da empatia e capacidade para o trabalho grupal de tais pessoas: não podemos pensar em projetos interdisciplinares se não contamos com equipes dispostas a construir coletivamente o conhecimento. (ZAKRZEVSK; COAN, 2003, p.67) Na prática educativa, a adoção de uma proposta interdisciplinar implica uma profunda mudança nos modos de ensinar e aprender. Uma postura interdisciplinar em educação vai exigir muita abertura para mudanças que podem passar pela construção de novas metodologias, re-estruturação dos temas e dos conteúdos curriculares. Mas também é fundamental que a escola experimente novas formas de organização escolar (CARVALHO, 1998). A relação entre a bacia hidrográfica e a qualidade/quantidade de água superficial, nas atuais circunstâncias mundiais, apresenta falta iminente em várias localidades e regiões. Essa situação, inadequada, também tem proporcionado o aumento das pesquisas científicas, contribuindo na elaboração e execução de 7 políticas menos permissivas de apropriação e descarte de recursos hídricos (SANTOS; RUFFINO, 2003). A partir do estudo da bacia hidrográfica, tem-se a oportunidade de formação holística dos educadores diante das questões de dinâmica, capacidades e adequados usos de diferentes recursos ambientais contidos nessa área delimitada fisicamente. (RUFFINO; SANTOS, 2002 apud SANTOS; RUFFINO, 2003) As atividades humanas causam impactos nos recursos hídricos, alterando o ciclo hidrológico e a qualidade da água (TUNDISI, 2003). Nos últimos anos, a concepção de que a bacia hidrográfica é a unidade mais apropriada para o gerenciamento, à otimização de usos múltiplos e o desenvolvimento sustentável consolidou-se de forma a ser adotada em muitos países e regiões. Não há duvida de que a introdução dos conceitos de desenvolvimento sustentável a partir da agenda 21 teve ampla repercussão mundial (TUNDISI, 2003). As discussões relativas à temática ambiental, quando levadas ao campo educacional, implicam em mudanças das práticas pedagógicas tradicionais, pois se referem a um processo que além de lidar com concepções e reflexões específicas e relevantes, não deve se restringir à simples oferta dessas informações, mas trabalhar de modo amplo com conhecimentos, valores e ações (CARVALHO, 2000). A interdisciplinaridade tem sido apresentada como um requisito fundamental para o ensino relativo ao meio ambiente, partindo-se do fato que o ambiente não pode ser considerado objeto de cada disciplina, isolado de outros fatores (ZAKRZEVSKI; COAN, 2003). A interdisciplinaridade é definida por Carvalho (1998) como “uma maneira de organizar e produzir conhecimentos, buscando integrar as diferentes dimensões dos fenômenos estudados”. Para proporcionar uma estratégia criativa na formação de professores em educação ambiental, o emprego do conceito de bacia hidrográfica, por ser uma unidade física do meio que apresenta clara delimitação a natural interdependência de processos climatológicos, geológicos, ecológicos, culturais e sociais existentes na bacia hidrográfica, possibilitando uma visão sistêmica e integrada da problemática ambiental da região, tem-se mostrado bastante eficaz, no trabalho interdisciplinar (SCHIEL et. al., 2002; TUNDISI, 2003). 8 METODOLOGIA DA PESQUISA O Colégio onde foi desenvolvido o projeto de intervenção está situado na região central do Paraná, oferta Ensino Fundamental e Médio no período vespertino e noturno num total de doze turmas e aproximadamente quatrocentos e cinquenta alunos. O corpo docente é composto por vinte professores com formação de licenciatura nas disciplinas da grade curricular, sendo que a maioria deles possui especialização. A comunidade onde está inserida a escola é formada principalmente por pessoas de baixa renda, as crianças começam a trabalhar muito cedo, ajudando na lavoura. A atividade predominante na região é a criação de gado leiteiro e a agricultura familiar, existindo também pessoas que se dedicam à fruticultura e ao comércio. Com a atividade da agricultura e da pecuária na região, foi desmatando as margens dos rios para aumentar a área de plantio, ficando a qualidade da água na bacia hidrográfica comprometida. No curso de Educação Ambiental, procuramos trabalhar compromissos e conhecimentos para que as pessoas pudessem repensar suas atitudes em relação ao meio e consequentemente ter mudanças de atitudes para melhoria da qualidade de vida da comunidade. Participaram do curso de formação continuada em Educação Ambiental 10 professores de diversas áreas de conhecimento e com experiência de docência na rede pública estadual, principalmente nas séries finais do ensino fundamental (Ciências, Português,inglês, biologia, geografia e história e artes) como mostra o quadro 2. Desses professores, 80% (oitenta por cento) além de trabalhar na escola pesquisada também trabalham em outros colégios públicos do município. 9 QUADRO 2 - Perfil dos professores entrevistados Entrevistado sexo Experiência no Experiência magistério profissional no ensino de Ciências Grau de instrução: E-1 F 12 anos 12 anos Licenciatura curta em Ciências com habilitação em biologia e especialização em ciências. E-2 F 26 anos 15 anos Licenciatura Plena em Ciências e especialização em biologia. E-3 M 30 anos 20 anos Licenciatura Plena em Ciências e biologia com especialização em ciências. E-4 F 24 anos 01 ano Licenciatura plena em língua portuguesa e inglesa. E-5 F 26 anos 00 anos Licenciatura Plena com habilitação em língua portuguesa e inglesa. E-6 M 06 anos 00 ano Licenciatura geografia Plena em E-7 F 36 anos 00 anos Licenciatura história. Plena em E-8 F 16 anos 00 ano Licenciatura plena em artes. E-9 F 17 anos 02 anos Licenciatura plena ciências biológicas. em E-10 F 04 anos 01 ano Licenciatura geografia. em Plena Como abordagem metodológica para se trabalhar a educação ambiental com os professores foi utilizado a pesquisa-ação, configurando como uma proposta de trabalho colaborativo, em que a partir da identificação dos problemas e dificuldades pelos professores do colégio, fizemos a inserção da dimensão ambiental na prática pedagógica cotidiana. Inicialmente foi aplicado um questionário, para verificar quais eram as dificuldades dos professores em trabalhar a educação ambiental e analisar o nível de conhecimento sobre o meio ambiente e a problemática ambiental no âmbito local. 1 Após análise dos resultados, foram realizadas com os educadores envolvidos: reuniões, grupos de estudo e oficinas sobre os fundamentos teóricos e metodológicos para o desenvolvimento de projetos de educação ambiental, tendo a bacia hidrográfica como tema gerador principal. O planejamento das atividades do projeto foi realizado dentro de uma perspectiva interdisciplinar. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com Reigota (1988), ambiente é um determinado lugar, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e interação. Segundo o autor, essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica, processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído. As inter-relações que existem entre os elementos do ambiente compõem o meio de vida de cada pessoa e de sua comunidade. As representações ambientais são, na verdade, leituras do ambiente, feitas de diferentes formas, de acordo com o grupo que cada indivíduo vive, segundo sua bagagem cultural, social, intelectual ou econômica. No presente estudo, tendo como base as categorias de representações ambientais apresentadas por Sauvé (1996), a análise dos questionários, permitiu identificar que os professores apresentaram diferentes concepções de meio ambiente, como ilustram o Quadro 3 e Gráfico 1. QUADRO 3. fundamental. Representações ambientais dos professores AMBIENTE PORCENTAGEM Como natureza 25% Como recurso 5% Como problema 20% Como meio de vida 0% Como sistema 0% Como biosfera 15% Como projeto comunitário 35% do ensino 1 Para a maioria dos professores (35%), o ambiente esteve associado a um projeto comunitário, no qual precisamos nos comprometer e 25% consideram o ambiente como natureza a ser apreciada, admirada e preservada (Gráfico 1). Nenhum dos professores participantes do projeto considerou o ambiente como meio de vida e como sistema. Como natureza 35% Como recurso 30% 25% Como problema 20% Como meio de vida 15% Como sistema 10% 5% Como biosfera 0% Como projeto comunitário Gráfico 1. Representações ambientais dos professores entrevistados. Perguntamos aos professores se já tinham trabalhado a educação ambiental em forma de projeto interdisciplinar e todos responderam que sim, pelo menos uma vez. Segundo os entrevistados as Diretrizes Curriculares Estaduais, afirmam que é preciso trabalhar os conteúdos de forma interdisciplinar, exigindo do professor além da utilização de métodos diferenciados, um domínio grande de conteúdos. “A Educação Ambiental é uma estratégia nessa ampla formação de consciência crítica das relações sociais e de produção que tornam o homem Humano” (professora A). Ao perguntar sobre a frequência com que trabalhavam a educação ambiental, os professores responderam que trabalhavam o tema pelo menos uma vez por ano devido o compromisso com a agenda 21, mas que muitas vezes trabalhavam de forma isolada por não conseguirem se reunir, pois a maioria trabalha em mais de uma escola e não tem tempo para se encontrarem. Durante a realização do curso de formação em educação ambiental, as reuniões, grupos de estudos e oficinas, em que foram discutidos e debatidos os aspectos teóricos e metodológicos da educação ambiental e do desenvolvimento de projeto, enfatizando a bacia hidrográfica com unidade de estudo, possibilitaram que 1 os professores refletissem sobre suas concepções e práticas pedagógicas relativas às questões ambientais. Na reflexão feita pelo grupo de professores sobre a educação ambiental, todos acharam importante o trabalho interdisciplinar. Na opinião da professora “A” o trabalho fica prejudicado se não houver a participação de todos na escola. “Enquanto trabalho pedagógico, as discussões e práticas pedagógicas relacionadas à temática ambiental, tem se voltado para uma abordagem no campo de conhecimentos, valores e ações, o aperfeiçoamento dos docentes, está acontecendo gradativamente. Porém a falta de interdisciplinaridade é que tem prejudicado muito o trabalho” (Professora A). A opinião da professora A é reforçada pelo professor B quando coloca: “Concordo com a colocação da colega, gostaria de reforçar que essa interdisciplinaridade citada deve ser entendida como um encontro entre disciplinas representadas por pessoas com capacidade para o trabalho grupal. Da forma que a gente tem visto interdisciplinaridade na escola, onde o professor aborda o conteúdo sob diversos enfoques e disciplinas pertinentes, a temática ambiental acaba ficando somente como que responsabilidade dos professores de Ciências”. (professor B). Segundo a reflexão feita pelo grupo de professores o problema é a falta de interdisciplinaridade. A temática ambiental acaba sendo trabalhada isoladamente pelos professores de Ciências. Com relação ao trabalho com projetos, a professora “C” enfatiza que o trabalho é difícil, pois as Diretrizes Curriculares Estadual visam superar a pedagogia de projetos: “Acredito que teremos algumas dificuldades em trabalharmos Educação Ambiental com projetos interdisciplinares, visto que até a hora atividade dos professores está organizada por disciplinas. Minha esperança em incluir essa educação no currículo ainda é através da formação continuada dos docentes, enquanto não estiver claro que precisamos superar o sistema consumista em que vivemos, Educação Ambiental continuará ser sempre um conteúdo específico da disciplina de Ciências”. 1 O trabalho com projeto de educação ambiental de forma interdisciplinar não é fácil, exigindo empenho de todos mas é possível como afirma a professora “D”: “Achei maravilhosa a ideia da interdisciplinaridade e gostaria de dizer que trabalhar dessa forma não é tão difícil quanto parece. Falo pela experiência que tenho adquirido nos últimos anos trabalhando numa escola rural. Tudo bem que somos poucos professores e temos ajuda dos pais, mas acho que na escola se tivermos o envolvimento de alguns professores, podemos tentar contagiar os outros através dos resultados obtidos”. (professora D) Projeto é um conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas, com a finalidade de alcançar objetivos específicos dentro dos limites de orçamento e de um período de tempo determinado. Um projeto surge em resposta a um problema concreto, portanto, elaborar um projeto é contribuir para a solução de um problema, transformando ideias em ações. A organização de um projeto em um documento nos auxilia sistematizar o trabalho em etapas a serem cumpridas (MOURA,1998). Trabalhar com projetos significa uma mudança de postura, uma forma de repensar a prática pedagógica e as teorias que lhe dão sustentação, possibilitando o envolvimento dos professores, a cooperação e a solidariedade entre alunos e comunidade com o objetivo de transformar a realidade por meio de ações. Esse trabalho requer uma capacidade gerencial por parte dos professores, estabelecimento de critérios e prioridades nas ações, o manuseio das informações para gerar um produto concreto e ainda a disseminação de informações sobre temas de relevância para a escola e comunidade. Na interpretação de Zakrzevski e Coan (2003), a interdisciplinaridade tem sido apresentada como um requisito fundamental para o ensino relativo ao meio ambiente, partindo de que o ambiente não pode ser considerado objeto de cada disciplina, isolado de outros fatores. A interdisciplinaridade é definida por Carvalho (1998) como uma maneira de organizar e produzir conhecimentos, buscando integrar as diferentes dimensões dos fenômenos estudados. É um processo de encontro entre disciplinas representadas por pessoas concretas, de modo que, o êxito ou o fracasso de um projeto interdisciplinar depende, em grande medida, da empatia e capacidade para o trabalho grupal de tais pessoas: não podemos pensar em projetos interdisciplinares se não contamos com equipes dispostas a construir coletivamente o conhecimento”. (ZAKRZEVSKI; COAN, 2003, p.67) 1 Na prática educativa, a adoção de uma proposta interdisciplinar implica em uma profunda mudança nos modos de ensinar e aprender. Uma postura interdisciplinar em educação vai exigir uma abertura para mudanças que podem passar pela construção de novas metodologias, re-estruturação dos temas e dos conteúdos curriculares. Mas também é fundamental que a escola experimente novas formas de organização escolar (CARVALHO, 1998). Trabalhar a educação ambiental com projetos interdisciplinares é uma forma de incluir esse tema transversal na organização do currículo, incentivar a pesquisa e atualização constante de professores e alunos. A avaliação desse trabalho deve envolver todos aqueles que participaram de sua elaboração Os principais itens que compõem a apresentação de um projeto relacionamse de modo que o desenvolvimento de uma etapa necessariamente leva à outra. A interdisciplinaridade e transversalidade estão intimamente relacionadas com a visão de um meio ambiente conceitualmente amplo. A integração dos conteúdos curriculares, deve buscar a participação dos alunos, estimulando-os a atuar na busca de soluções, que envolvam a família e toda comunidade. Problemas como poluição e enchentes podem, por exemplo, na medida em que afetam as pessoas, servir de ponto de partida para a educação ambiental. Educação ambiental não se faz individualmente, portanto a elaboração de um projeto deve ser feito coletivamente, e sempre requer a fase do diagnóstico que, é por meio dele que podemos fazer um levantamento dos problemas ambientais que mais afligem a comunidade. Conversando com os membros da comunidade escolar, podemos identificar os temas que têm um significado maior ou são motivos de preocupação para a maioria. Para elaborar o projeto, foram convidadas pessoas representativas dos alunos, funcionários, professores e equipe pedagógica e distribuído tarefas para que cada uma, junto ao seu segmento, recolhesse sugestões para o projeto. Estas sugestões serviram de ponto de partida para o diagnóstico, a partir daí, começaram a elaborar o projeto tendo como referência o estudo do principal rio que banha a comunidade onde está inserida a escola da implementação. A relação entre a bacia hidrográfica e a qualidade/quantidade de água superficial, nas atuais circunstâncias mundiais, apresenta escassa em várias localidades e regiões. Essa situação, inadequada, também tem proporcionado o 1 aumento das pesquisas científicas, contribuindo na elaboração e execução de políticas menos permissivas de apropriação e descarte de recursos hídricos (SANTOS; RUFFINO, 2003). Ruffino e Santos (2002) apud Santos e Ruffino (2003) enfatizam que “a partir do estudo da bacia hidrográfica, tem-se a oportunidade de formação holística dos educadores diante das questões de dinâmica, capacidades e adequados usos de diferentes recursos ambientais contidos nessa área delimitada fisicamente”. Nos últimos anos, a concepção de que a bacia hidrográfica é a unidade mais apropriada para o gerenciamento, a otimização dos usos múltiplos e o desenvolvimento sustentável consolidou-se de uma forma a ser adotada em muitos países e regiões. Não há duvida de que a introdução dos conceitos de desenvolvimento sustentável a partir da Agenda 21 teve ampla repercussão mundial (TUNDISI, 2003). Portanto, um projeto que tenha a bacia hidrográfica como unidade de estudo e pesquisa possibilita que professores e alunos tenham uma visão interdisciplinar, de um sistema natural submetido a impactos e a múltiplos usos. Dos problemas ambientais levantados pelo grupo, o que consideraram mais relevantes, foi a proteção do Rio Formoso que é o principal rio da bacia hidrográfica da região de implementação. Neste sentido, o tema gerador do projeto foi “Rio Formoso: Belezas Naturais e Problemas Ambientais. O projeto foi elaborado para trabalhar de forma interdisciplinar, com ajuda da comunidade e órgãos públicos. 1 EDUCAÇÃO ARTÍSTICA CIÊNCIAS - Confecção de arte com Biodiversidade no Rio Formoso - Preparação de folhetos Sucata; GEOGRAFIA - Montagem de modelos de ecossistemas; informativos sobre os - Estudo da paisagem local; peixes do Rio Formoso; Tema gerador: - Debate sobre os problemas HISTÓRIA -Visita a mata ciliar; Rio Formoso: Belezas naturais Problema - Construção de maquetes Do Rio Formoso: passado, MATEMÁTICA - Confecção de gráficos sobre o desmatamento; presente e no futuro; Confecção de gráficos sobre Produção de textos sobre EDUCAÇÃO FÍSICA LÍNGUA PORTUGUESA - Exercícios físicos Confecção de paródias e - Importância lazer do poesias sobre as belezas naturais do Rio Formoso; O projeto foi desenvolvido com os professores participantes do curso de formação continuada em educação ambiental e alunos do ensino fundamental do colégio de implementação mas, com envolvimento da comunidade. Os trabalhos realizados foram apresentados em uma feira de trabalhos científicos e culturais. Entretanto o resultado esperado não é imediato, precisamos ter persistência para cada vez mais aumentar a adesão de pessoas e começar a ter resultados positivos. Todavia formamos alunos para atuarem em uma sociedade e neste contexto muitas vezes precisa se submeter a situações que contrariam seus próprios valores em função dos interesses de grandes multinacionais e todo o planeta sofre com as consequências desses atos. No entanto, cabe ressaltar que este trabalho não é fácil, uma vez que, a cultura escolar e social está pautada ainda em um modelo de racionalidade técnica e instrumental que dificultam o trabalho em uma perspectiva diferenciada. A pesquisadora constatou, a dificuldade que os professores tem em relação ao tempo e espaço de preparação de aulas, estudos coletivos e compartilhados e, muitas vezes, as carências materiais. 1 CONCLUSÃO Após a implementação do projeto, pode-se concluir que alguns professores têm dificuldades para inserir a dimensão ambiental na sua prática cotidiana devido a formação deficiente que tiveram. Nas oficinas foi feito um trabalho voltado à formação docente em educação ambiental, proporcionando aos mesmos vivenciar os fundamentos e as práticas para se trabalhar a educação ambiental, tendo a oportunidade de refletir, construir e reconstruir sua prática pedagógica sobre a temática, na perspectiva de uma formação mais ativa e reflexiva. Mesmo após a intervenção realizada com os professores e professoras, em que foi proporcionada, de maneira sistemática, a formação continuada em educação ambiental, eles tiveram dificuldades de trabalhar de forma interdisciplinar porque alguns ainda não aceitam essa forma de trabalho. Contudo, de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais, a construção de significados pelos alunos é resultado de uma complexa rede de interações, em que fazem parte o aluno, os conteúdos científicos escolares e o professor. Com a atenção para a necessidade de relacionar conteúdos potencialmente significativos para cada momento histórico, sendo que para isso o professor precisa adquirir novos conhecimentos que contemplem, entre outros, as questões sociais e ambientais. Dessa forma, a proposta de formação continuada em Educação Ambiental aos docentes veio de encontro com as Diretrizes Curriculares Estaduais, uma vez que propiciou conhecimentos e fundamentos metodológicos para que estes possam desenvolver com os alunos a formação de atitudes de participações responsáveis frente aos diversos problemas enfrentados para a convivência e sobrevivência no planeta. 1 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9,394/96. CARVALHO, I. C. de M. Em Direção ao Mundo da Vida: Interdisciplinaridade e Educação Ambiental. Brasília: IPÊ- Instituto de Pesquisas Ecológicas, 1998. CARVALHO, L.M. Educação Ambiental e Formação de Professores. Brasília: COEA – MEC, 2000. GUIMARÃES, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campinas: Papirus, 1995. LISOVSKI, L. ZAKRZEVSKI, S.B. O que é Meio Ambiente? In: A Educação Ambiental na Escola: Abordagens Conceituais. Erechim/RS: Edifapes, 2003. Ministério da Educação. 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