O MUNDO ROMANO COMO TUDO COMEÇOU........ PROF. FLÁVIO CARLOS PAGLIUCA A história de Roma Antiga é fascinante em função da cultura desenvolvida e dos avanços conseguidos por esta civilização. De uma pequena cidade, tornou-se um dos maiores impérios da antiguidade. Dos romanos, herdamos uma série de características culturais. O direito romano, até os dias de hoje está presente na cultura ocidental, assim como o latim, que deu origem à língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola. A Itália é uma península européia que penetra profundamente na parte central do Mar Mediterrâneo. No século IV a.C. encontravam-se os primitivos habitantes da Itália distribuídos em: ao norte, os gauleses; ao centro, etruscos e latinos; ao sul, os gregos (Magna Grécia). Sobre a fundação de Roma, tem-se conservado uma lenda, segundo a qual Enéias, príncipe troiano fugido de sua cidade destruída pelos gregos, teria chegado ao Lácio (antigo nome de Roma) e casado com a filha de um rei latino. Origem de Roma : explicação mitológica Os romanos explicavam a origem de sua cidade através do mito de Rômulo e Remo. Segundo a mitologia romana, os gêmeos foram jogados no rio Tibre, na Itália. Resgatados por uma loba, que os amamentou, foram criados posteriormente por um casal de pastores. Adultos, retornam a cidade natal de Alba Longa e ganham terras para fundar uma nova cidade que seria Roma. O latim foi primeiramente o idioma falado numa pequena zona da Itália Central, à margem esquerda do Rio Tibre. A cidade principal dessa minúscula região, chamada Lácio, foi e é Roma, fundada, segundo consta, por Rômulo em 21 de abril de 753 a.C.. Essa língua do Lácio, seguindo as conquistas dos exércitos de Roma, implantou-se primeiramente na Itália Central, depois em toda a Itália, na Espanha, em Portugal, no Norte da África, nas Gálias (França, Suíça, Bélgica, regiões alemãs ao longo do Reno), na Récia e no Nórico (Áustria), na Dácia (Romênia e Hungria) e, menos profundamente, na Grã-Bretanha, na Frísia (Holanda), na Dalmácia e na Ilíria (exIugoslávia), e na Panônia (Hungria). O mais antigo documento da língua latina é uma inscrição do 6° século a.C., mas os mais antigos textos literários que chegaram até nós, pertencem ao 3° século antes de nossa Era. Mas que é o latim? Desde o primeiro texto em latim, a Fíbula de Preneste, do século VII a.C. o latim desenvolveu-se como qualquer língua, deixando seus traços em autores antigos, os quais conhecemos apenas por fragmentos de suas obras: Lívio Andronico, Névio e Ênio. Origens de Roma : explicação histórica e Monarquia Romana (753 a.C a 509 a.C). De acordo com os historiadores, a fundação de Roma resulta da mistura de três povos que foram habitar a região da península itálica : gregos, etruscos e italiotas. Desenvolveram na região uma economia baseada na agricultura e nas atividades pastoris. A sociedade, nesta época, era formada por patrícios ( nobres proprietários de terras ) e plebeus ( comerciantes, artesãos e pequenos proprietários ). ETRUSCOS Quando os antigos gregos, em sua aventura de expansão comercial e colonizadora, aportaram, no início do século VIII a.C., nas costas do Mediterrâneo, onde hoje é a Itália, esta era considerada uma região bárbara. Os gregos chamaram esse povo de tirreno e com esse nome ficaram conhecidos os etruscos na Antigüidade. Naquela época, eles ainda viviam em aldeias, não conheciam a escrita, e possuíam uma arte rudimentar. Muito rapidamente foram se desenvolvendo e expandindo seus territórios até conquistar Roma. Quem eram os Etruscos? No século I a.C., o grego, Dionísio de Halicarnasso, escreveu Antiguidades romanas, no qual expunha as diferentes hipóteses que conhecia sobre a origem dos etruscos: umas apontavam para suas raízes orientais e outras, como a do historiador grego Heródoto, afirmavam que eles teriam vindo da Lídia, na Ásia Menor, e se misturado aos autóctones. Etrúria não significa necessariamente uma nação, mas uma cultura comum, uma língua, uma religião. No entanto, vez ou outra tropeça-se numa questão importante: o idioma. O número de textos é pequeno e nada se sabe sobre a origem da língua, pois ela não é aparentada a nenhuma outra. Mesmo sendo um povo de origens incertas, sua história é contada pelas necrópoles que deixaram. A Etrúria desenvolveu-se na Itália central, a oeste da Cordilheira dos Apeninos, basicamente onde hoje é a Toscana. Seu território se limitava ao norte pelo Rio Arno, a leste e sul pelo Rio Tibre e a oeste pelo Mar Tirreno, assim chamado porque era com esse nome que se denominava os etruscos. A partir de 850ª.C. difundiram seus domínios submetendo os povos locais, ocupando vastas áreas da planície do rio e fundaram cidades que existem até hoje. Em direção ao sul, tomaram Roma - então uma aglomerado de aldeias - e transformaram-na em uma cidade cercada de muros. Acreditase que os Tarquínios - uma dinastia de reis etruscos - governaram Roma por volta de 616 a.C. a 509 a.C. Durante o processo de expansão, os etruscos atingiram até a região da Campânia, onde fundaram Cápua que, desde o início do século VI a.C., representou um centro comercial capaz de rivalizar com as colônias vizinhas gregas: Cuma e Neápolis (Nápoles). Por volta de 540 a.C., aliados aos cartagineses, derrotam os Fócios da Córsega. Essa vitória assegurou-lhes o controle da ilha e marcou o apogeu da expansão territorial. É claro que o fenômeno da urbanização não se produziu de uma só vez. Segundo alguns registros históricos, Roma teria surgido em 753 a.C. essa é a data mais aceita, embora com ressalvas e, nessa mesma época, os etruscos fundaram Veio, Cere, Tarquínia e Vulci e, depois, Populonia, Vetulonia e, talvez, Orvieto. Por volta de 600 a.C., foi exatamente essa a época de maior esplendor e máxima expansão da civilização etrusca, quando também Roma se tornou etrusca. A essa altura, os tirrenos eram os senhores de boa parte da península, na área que se estendia da Campania, no sul, até o Vale do Pó, ao norte. Assim, depois de rápido florescimento no século VII a.C. e um breve e brilhante período de expansão imperialista durante o século VI a.C., seguiu-se uma série de insucessos iniciados com sua expulsão de Roma em 509 a.C. Com isso caíram as rotas de comunicação por terra entre a Etrúria e a Campania. O poderio naval etrusco também sofreu um duríssimo golpe algum tempo depois, quando, em 474 a.C., seus navios, aliados com a frota cartaginesa, enfrentaram os gregos conduzidos por Hieron de Siracusa, e foram destroçados na batalha de Cumas. Mais adiante, foram expulsos de Cápua e de outras cidades do sul. Até que finalmente, em 400 a.C., também perderam as cidades do norte para os gauleses. Ao mesmo tempo, os romanos marchavam sobre o centro da península, conquistando as cidades etruscas. No século V a.C., Veio foi destruída e, no decorrer do século IV a.C., toda a Etrúria capitulou. Em 270 a.C., já era parte da federação romana. Sem dúvida, surgia um novo mundo no qual a Etrúria tinha de se integrar, ainda que sacudida por rebeliões contra a nova ordem estabelecida. Se durante o século III a.C. Roma fundou colônias em pleno território etrusco, como Cosa ou Castro Novum, e lenta mas, implacavelmente, foi introduzindo a língua e os costumes romanos, o processo de romanização da Etrúria recebeu o golpe definitivo em 90 a.C., quando a Lei Júlia converteu em cidadãos romanos todos os itálicos. A partir de então se tornaria muito difícil e complicado separar o etrusco da história romana. Era o fim de um povo alegre e amante dos prazeres, que procurava a felicidade na vida cotidiana. Ao menos é a impressão que se tem ao examinar as pinturas das tumbas etruscas, especialmente as datadas dos séculos VIII a V a.C., que retratavam banquetes, jogos atléticos e homens pescando e mergulhando no mar. Mas o que distinguiu a cultura etrusca das outras foi um conjunto de crenças e rituais que recebeu o nome de disciplina etrusca. Tratavase de uma concepção religiosa da natureza e do mundo na qual todos os entes naturais contêm a manifestação da vontade divina. Para eles, os desígnios divinos se manifestavam por meio da natureza, bastando observá-la atentamente e interpretá-la para conhecer o futuro e as formas de modificá-lo. O que restou dos etruscos além de esculturas, pinturas, inscrições e tumbas? Quem sabe, descendentes. Eles podem ser os 2 000 habitantes da pequena Murlo, na província de Siena. Ao menos é a hipótese levantada pela equipe do professor Alberto Piazza, diretor do departamento de Genética da Universidade de Turim, Itália. Examinando amostras de 150 murlenses, acabou determinando o patrimônio genético parecido com os dos antigos habitantes da Toscana. A ARTE ETRUSCA A arte etrusca refere-se à arte da antiga civilização da Etrúria localizada na Itália central (atual Toscana) e que teve o seu apogeu artístico entre os século VIII e II a.C.. As origens deste povo e, consequentemente do estilo, remontam aos povos que habitavam a região (ou a partir dela se deslocaram) da Ásia menor durante a Idade do bronze e Idade do ferro, mas também outras culturas influenciaram a sua arte (por proximidade ou contato comercial), como a grega, fenícia, egípcia, assíria e a oriental. Mas o seu aparente caráter helenístico simples (visto o seu florescimento coincidir com o período arcaico grego) esconde um estilo único e inovador de características muito próprias que viria a influenciar profundamente a arte romana e pela qual estaria já totalmente absorvido no século I a.C.. De um modo geral pode-se afirmar que os artistas etruscos eram artesãos de grande habilidade. Executavam peças (estatuária, vasos, espelhos, caixas etc) de grande qualidade e maestria em terracota, barro, bronze e metal, e desenvolviam também peças de joalharia (em ouro, prata e marfim) e uma cerâmica negra (designada Bucchero). Arquitetura e Urbanismo Além de uma grande variedade de artes decorativas os etruscos desenvolveram também a construção arquitetônica da qual muito pouco sobreviveu. Modelos à escala permitem ter uma ideia do templo religioso (com base de pedra, estrutura de madeira e revestimento em barro na arquitrave e beirais) que, em grande parte, se assemelharia ao grego simples, mas sem a sua elegância: pelo lado sul e subindo os degraus do podium ganhava-se acesso a um pórtico com duas filas de quatro colunas cada e, consequentemente, à cella no seu interior. Construíram também palácios, edifícios públicos, aquedutos, pontes, esgotos, muralhas defensivas e desenvolveram projetos de urbanismo onde a cidade se articulava a partir de um centro, resultado da intersecção das duas vias principais (cardo, sentido norte-sul e decumanos, sentido este-oeste). Também importante de referir é a utilização do arco de volta-perfeita (semi-círculo) a novas tipologias que não sejam as de caráter puramente utilitário, como já tinha acontecido anteriormente na Mesopotâmia, Egito e naturalmente na Grécia, como em túmulos, outras estruturas subterrâneas ou portas de cidades. Agora, pela primeira vez, o arco surge inserido no vocabulário das ordens arquitetóicas(palavra grega) gregas. Quando se fala a respeito de latim, uma das mais difundidas noções é a de que "latim é língua morta". De fato, esse pré-conceito evidencia idéias muito primárias a respeito do que sejam língua, latim, língua morta. O que chamam de língua morta não se pode considerar como sendo todo o latim. É, na verdade, uma pequena, mas significativa parte dele. O que está morto, ou seja, não mais em uso, é o latim dos textos literários, o latim dos tratados filosóficos, o latim dos documentos oficiais, o latim falado pelas pessoas escolarizadas. Está morto aquele estilo de bem falar e escrever corretamente em latim. Observe-se que o português, o francês, o italiano, o espanhol, o romeno etc. são a sobrevivência de uma variante de latim, o latim das camadas populares. Isso mostra que, em todos os sentidos, o latim está vivo. Falamos, com certeza, uma versão atualizada de latim. Foi no primeiro século da Era Cristã e no século precedente que a língua latina teve seu maior esplendor. Pertencem a este período, chamado "idade de ouro", os maiores escritores latinos (os clássicos). Um dos historiadores mais representativos desse período foi: Tito Lívio. Dois filósofos importantíssimos contribuíram de maneira determinante para os rumos da Igreja na Idade Média: Santo Agostinho e São Jerônimo. O sistema político era a monarquia, já que a cidade era governada por um rei de origem patrícia. A religião neste período era politeísta, adotando deuses semelhantes aos dos gregos, porém com nomes diferentes. Nas artes destacava-se a pintura de afrescos, murais decorativos e esculturas com influências gregas. República Romana (509 a.C. a 27 a.C). Durante o período republicano, o senado Romano ganhou grande poder político. Os senadores, de origem patrícia, cuidavam das finanças públicas, da administração e da política externa. As atividades executivas eram exercidas pelos cônsules e pelos tribunos da plebe. A criação dos tribunos da plebe está ligada às lutas dos plebeus por uma maior participação política e melhores condições de vida. Em 367 a.C, foi aprovada a Lei Licínia, que garantia a participação dos plebeus no Consulado (dois cônsules eram eleitos: um patrício e um plebeu). Esta lei também acabou com a escravidão por dívidas (válida somente para cidadãos romanos). Formação e Expansão do Império Romano Após dominar toda a península itálica, os romanos partiram para as conquistas de outros territórios. Com um exército bem preparado e muitos recursos, venceram os cartagineses nas Guerras Púnicas (século III a.C). Esta vitória foi muito importante, pois garantiu a supremacia romana no Mar Mediterrâneo. Os romanos passaram a chamar o Mediterrâneo de Mare Nostrum. Após dominar Cartago, Roma ampliou suas conquistas, dominando a Grécia, o Egito, a Macedônia, a Gália, a Germânia, a Trácia, a Síria e a Palestina. Com as conquistas, a vida e a estrutura de Roma passaram por significativas mudanças. O império romano passou a ser muito mais comercial do que agrário. Povos conquistados foram escravizados ou passaram a pagar impostos para o império. As províncias (regiões controladas por Roma) renderam grandes recursos para Roma. A capital do Império Romano enriqueceu e a vida dos romanos mudou. Pão e Circo ( “Panis et circensis”). Com o crescimento urbano vieram também os problemas sociais para Roma. A escravidão gerou muito desemprego na zona rural, pois muitos camponeses perderam seus empregos. Esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condições de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a política do “Pão e Circo” (“Panis et Circensis”). Esta consistia em oferecer alimentação e diversão. aos romanos Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios ( o mais famoso foi o Coliseu de Roma ), onde eram distribuídos alimentos. Desta forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta. Cultura Romana A cultura romana foi muito influenciada pela cultura grega. Os romanos "copiaram" muitos aspectos da arte, pintura e arquitetura grega. Os balneários romanos espalharam-se pelas grandes cidades. Eram locais onde os senadores e membros da aristocracia romana iam para discutirem política e ampliar seus relacionamentos pessoais. A língua romana era o latim, que depois de um tempo espalhou-se pelos quatro cantos do império, dando origem na Idade Média, ao português, francês, italiano, espanhol e romeno. A mitologia romana representava formas de explicação da realidade que os romanos não conseguiam explicar de forma científica. Trata também da origem de seu povo e da cidade que deu origem ao império. Entre os principais mitos romanos, podemos destacar: Rômulo e Remo e O rapto de Proserpina. LITERATURA :VIRGÍLIO E A ENEIDA Um dos maiores nomes da literatura latina é VIRGÍLIO. PUBLIUS VERGILIUS MARO, nascido em 70 a.C. e morreu em 19 a.C. O poeta já era renomado pelas “Bucólicas”, conjunto de poemas pastoris, e pelas “Geórgicas”, um poema didático, quando dedicou-se a escrever a grande epopéia “Eneida”, por solicitação do Imperador Augusto. A “ENEIDA” é uma obra grandiosa, comparável à ILÍADA e à ODISSÉIA, ambas do poeta Grego Homero, que visa a celebrar a origem, o desenvolvimento e o poder do Império Romano. Trata-se da lenda, segundo a qual Enéas, príncipe troiano, após ter conseguido escapar da destruição de Tróia, erra durante vários anos até fundar uma colônia troiana no Lácio. A seguir, os primeiros versos da obra: “Arma virumque cano, Troiae qui primus ab oris Italiam, fato profugus, Laviniaque venit Litora, multum ille et terris iactatus et alto Vi superum saevae memorem lunonis ob iram; Multa quoque et bello passus, dum conderet urbem...” “EU CANTO AS ARMAS E O BARÃO PRIMEIRO, QUE, PRÓFUGO DE TRÓIA POR DESTINO, À ITÁLIA E DE LAVÍNIO ÀS PRAIAS VEIO. MUITO POR MAR E TERRA CONTRASTADO......” CATULO E SUA AMADA LÉSBIA Catulo (84-54 a.C.) é um dos maiores poetas líricos da literatura latina. Em sua coletânea de 116 poemas, há uma grande variedade de assuntos, mas Catulo é conhecido principalmente por seus poemas em que demonstra a relação de amor e ódio com sua amante Lésbia, pseudônimo baseado na poetisa grega Safo, natural da ilha de Lesbos Em alguns poemas Catulo demonstra verdadeira adoração por Lésbia, em outros, uma grande desilusão e profunda tristeza. Talvez o poema que melhor ilustre essa conturbada relação seja o poema 85: “Odi et amo. Quare id faciam fortasse requiris Nescio sed fieri sentio et excrucior”. (“Odeio e amo. Talvez você pergunte por que faço isso. Não sei. Mas sinto que acontece e me crucifico”). ( Trad. Beatris R. Gratti). HORÁCIO E A TEMÁTICA DO “CARPE DIEM”. Você já ouviu a expressão Carpe Diem com toda a certeza. Conhecida muitas vezes pelo filme “Sociedade dos poetas mortos”(1989), a máxima é traduzida por “colha o dia” ou “aproveite o dia”. Trata-se de um posicionamento diante da vida de forma a aproveitá-la ao máximo, livre de preocupações sobre o futuro, de inlfuência da filosofia grega epicurista (Epicuro). A expressão aparece no poema 11 das ODES do poeta Horácio : “...spem longam reseces dum loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem, quam minimum credula postero”. “....foge, enquanto falamos, a invejosa idade. O dia de hoje colhe, e a mínima no dia de amanhã confiança escores”. (Trad. Filinto Elísio). CULTIVARAM OS ROMANOS, SOB A INSPIRAÇÃO HELÊNICA, O DRAMA TRÁGICO, A COMÉDIA, A POESIA ÉPICA (VIRGÍLIO) E A POESIA LÍRICA (CATULO, HORÁCIO, OVÍDIO). NA SÁTIRA, OS ROMANOS FORAM ORIGINAIS. SURGEM FIGURAS COMO PLAUTO E TERÊNCIO. POESIA ÉPICA E LÍRICA . OS PRIMEIROS ESCRITORES ROMANOS RECOLHERAM AS LENDAS E AS TRADIÇÕES ANTIGAS E NARRARAM OS FEITOS DOS SEUS CONTEMPORÂNEOS. DESTACARAM-SE NA POESIA ÉPICA E LÍRICA : LÍVIO ANDRÔNICO (SEC.III a.C.). Grego de origem, tinha sido escravo e representava ele próprio em suas obras. Traduziu a “ ODISSÉIA” DE HOMERO para o latim. Foi um dos primeiros poetas épicos de Roma. VIRGÍLIO virá depois com a “ENEIDA”. LUCRÉCIO (96 a 53 a.C.). Autor de um poema intitulado “DA NATUREZA DAS COISAS” (“ DE RERUM NATURA”), no qual expôs a doutrina de EPICURO, filósofo grego de sua admiração. Os heróis do seu poema foram os ÁTOMOS. VIRGÍLIO (71 a 19 a.C.). Sem dúvida, o mais notável e conhecido dos poetas latinos. Autor de “ENEÍDA”, “BUCÓLICAS” E “GEÓRGIAS”, que estudaremos mais adiante. CATULO (87 a 54 a.C.). Nascido em Verona – Itália – autor de poesias elegantes e sinceras. Escreveu “AS BODAS DE TÉTIS E DE PELEU”. HORÁCIO (65 a 8 a.C.). Amigo de Virgílio, autor de “ODES”, “SÁTIRAS” e “EPÍSTOLAS”. Reconhecidamente, um dos grandes poetas latinos. OVÍDIO (43 a 16 a.C.). Grande poeta latino da trilogia com Horácio e Virgílio, é autor de “A ARTE DE AMAR” e “METAMORFOSES”. POESIA SATÍRICA : Gênero em que os romanos foram originais, teve como representantes : JUVENAL (50 a 13 a.C.). Romano, partidário das antigas virtudes, autor de “SÁTIRAS”. HORÁCIO, já mencionado anteriormente, atacou, com suavidade e moderação, a corrupção dos seus contemporâneos. TEATRO : os primeiros que escreveram comédias em língua latina foram : PLAUTO (250 a 184 a.C.). Poeta cômico, pintor inimitável dos costumes populares. Escreveu “O ANFITRIÃO”, “OS CATIVOS”, “O SOLDADO FANFARÃO”, “AULULARIA”. TERÊNCIO ( 194 a 159 a.C.). Poeta cômico latino, nascido em Cartago, escravo liberto. Escreveu “ADRIANA”, “O EUNUCO’, “OS ADELFOS” (“OS IRMÃOS”). HISTÓRIA. Os primeiros historiadores romanos surgiram no século I a.C. Os mais notáveis foram : JÚLIO CÉSAR (102 a 44.a.C.). Grande general romano, escreveu “DE BELLO GALLICO” (“COMENTÁRIOS DAS GUERRAS DAS GÁLIAS”), que ele mesmo vivenciou muito bem. SALÚSTIO (86 a 34 a.C.). Autor de “VIDA DE JUGURTA”, “CONJURAÇÃO DE CATILINA”. Seu modelo era o grego TUCÍDIDES. TITO LÍVIO (59 a l7 a.C.). Muito conhecido por ser o autor de “HISTÓRIA DE ROMA”, uma verdadeira obra prima. Obrigatória para qualquer aluno interessado na área. TÁCITO (55 a 12 a.C.). Notável historiador latino, autor de “VIDA DE AGRÍCOLA”, “GERMÂNIA” e “ANAIS”. SUETÔNIO (69 a 14 a.C.). Secretário particular do imperador Adriano, é o autor do conhecido “VIDA DOS DOZE CÉSARES”. PLÍNIO, O JOVEM (62 a 13 a.C.). Autor de “‘AS CARTAS”. PLUTARCO (45 a 12 a.C.). Nascido na Grécia, autor do também conhecido e famoso “VIDAS PARALELAS”. MARCO AURÉLIO, imperador romano de 121 a 181 d.C., autor de “PENSAMENTOS”. ORATÓRIA. Representantes : Tibério e Caio Graco (os Irmãos Gracos), Marcus Licínius Crassus, Marco Antônio, Catão, o Censor e Cícero, o mais proeminente e “afiado” de todos eles. FÁBULA: FEDRO (30 a.C. a 44 d.C.) foi o grande representante latino. Retomemos, então, pela ordem, o grande poeta Virgílio. Públio Virgílio Marão , às vezes chamado de Vergílio, foi um poeta romano. Sua obra mais conhecida é a ENEIDA. Foi considerado, ainda em vida, como o grande poeta romano e expoente da literatura latina. Seu trabalho foi uma vigorosa expressão das tradições de uma nação que urgia pela afirmação histórica, saída de um período turbulento de cerca de dez anos, durante os quais as revoluções prevaleceram. Considerado o maior poeta latino. Era natural da região de Mântua(70 a 19 a.C..) e filho de uma família de camponeses A obra de Virgílio compreende, além de poemas menores, compostos na juventude, as Bucólicas ou Éclogas, em número de dez, em que reflete a influência do gênero pastoril criado pelo grego Teócrito. As Geórgicas dedicadas ao seu protetor Mecenas, constam de quatro livros, tratando da agricultura. Trata-se de uma obra de implicações políticas indiretas, embora bem definidas: ao fazer a apologia da vida do campo, o poeta serve o ideal político-social da dignificação da classe rural. Sua obra reflete a influência dos gregos Hesíodo e Lucrécio. Literariamente, as Geórgicas é considerada a sua obra mais perfeita. E finalmente, a Eneida, que o poeta considerou inacabada, a ponto de pedir, no leito de morte, que fosse queimada, constitui a epopéia nacional. Esta refere-se à lenda do guerreiro Enéias, que, após a célebre guerra, teria fugido de Tróia , saqueada e incendiada, e chegado à Itália, onde se tornou o antepassado do povo romano. Epopéia erudita, a Eneida tem como objetivo dar aos romanos uma ascendência não-grega, formulando a cultura latina como original e não tributária da cultura helênica. O poema consta de doze livros e a sua construção serviu de modelo definitivo às grandes epopéias do renascimento, nomeadamente para Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões, o que se percebe claramente comparando o primeiro verso das duas epopéias: Eneida: “Arma uirumque cano”... que significa: "As armas e o varão(herói) eu canto"; com Lusíadas: “As armas e os barões assinalados...” Virgílio realizou uma viagem a Brindísio e, mais tarde, tendo viajado para Mégara, foi vítima de insolação por causa do calor abrasante. Resolveu, então, regressar a Atenas, mas por insistência do Imperador Augusto, volta à Itália. Mas, falece no dia 22 de setembro do ano 19 a.C., no consulado de Gneu Sêncio e Quinto Lucrécio. O seu corpo foi transportado para Nápoles e, antes de morrer, o poeta deixou redigido o seu próprio epitáfio: Mântua me genuit, Calabri rapuere, tenet nunc Parthenope; cecini pascua, rura, duces. Mântua me gerou, a Calábria me arrebatou, Partênope hoje me possui; cantei as pastagens, os campos, os chefes. Em sua primeira Bucólica, o poeta alude aos acontecimentos políticos e sociais desencadeados após a vitória de Filipos, em 41, onde foram repartidas aos veteranos de terras na Gália Cisalpina, Cremona e Mântua; dentre essas terras, estava a propriedade de Virgílio. Mas Asínio Polião, amigo e protetor do poeta, conseguiu obter a revogação da sua expropriação, junto ao Imperador Augusto. Assim, o poeta, em seus versos, aponta para a triste situação de seus conterrâneos, a dor e a miséria dos deserdados e a sua feliz sorte de ter tido as suas terras poupadas. En unquam patrios longo post tempore finis, pauperis et tuguri congestum caespite culmen, post aliquot, mea regna uidens, mirabor aristas? Impius haec tam culta noualia miles habebit? Barbarus has segetes? En quo discordia ciuis produxit miseros! His nos conseuimus agros! Buc. I, 67-72 Será que um dia, após longo tempo, reverei os territórios pátrios, o teto da minha pobre choupana coberto de colmo e, mais tarde revendo os meus domínios, encontrarei, surpreso, algumas espigas? Um soldado ímpio possuirá estas terras tão cultivadas? Um bárbaro, estas searas? Eis até onde a discórdia levou os cidadãos infelizes! Para esses nós semeamos os campos! Fortunate senex, ergo tua rura manebunt! Buc. I, 46 Velho afortunado, então os teus campos permanecerão teus! Na IV Bucólica, o poeta fala-nos da Idade de Ouro ligada ao nascimento de um menino. O poeta dirige-se ao cônsul Polião, anunciando o nascimento de uma criança, que governará e trará a Idade de Ouro a Roma. magnus ab integro saeclorum nascitur ordo. Iam redit et Virgo, redeunt Saturnia regna; iam noua progenies caelo demittitur alto. Tu modo nascenti puero, quo ferrea primum desinet ac toto surget gens aurea mundo, casta, faue, Lucina: tuus iam regnat Apollo. Teque adeo decus hoc aeui ,te consule, inibit, Pollio, et incipient magni procedere menses te duce. (Buc. IV, 5-12) “a grande série de séculos recomeça. Já também retorna a Virgem, voltam os reinos de Saturno; do alto céu já é enviada uma nova geração. Tu somente, casta Lucina, favorece ao menino que nasce, sob o qual primeiramente desaparecerá a raça de ferro e surgirá no mundo inteiro a raça de ouro, já reina o teu Apolo. E esta honra do tempo começará e os grandes meses começarão a suceder-se primeiramente sob o teu consulado, ó Polião, sob o teu comando.” Écloga é um pequeno poema pastoral que apresenta, na maioria das vezes, a forma de um diálogo entre pastores ou de um solilóquio . A écloga também foi cultivada em língua vernácula, no século XVI. O bucolismo português do século XVI está profundamente marcado pelo tom elegíaco, no rasto da elegia pastoral, e pela expressão da vivência do sofrimento e desengano amoroso das éclogas de Bernardim à Crisfal (6), tornando-se a sua expressão extensiva a sentimentos relacionados com o discernimento e a consciência crítica sobre a acontecimentos sociais, as doenças como a inveja e a cobiça, nas éclogas de Sá de Miranda (7); à possibilidade de refúgio no amor divino, nas éclogas de Frei Agostinho da Cruz. As éclogas de António Ferreira (8) visam sobretudo objetos estéticos. A importância de Virgílio mostra-se crucial e simultaneamente complexa. As Bucólicas chegam ao Renascimento filtradas por séculos de interpretações e glosas que a tendência para o racionalismo, no período, não consegue, de todo, extinguir. A tradição medieval acrescenta aos textos sentidos impossíveis de ignorar, estabelecendo, deste modo, regras não escritas mas que estariam na mente dos seus utilizadores e leitores. Como exemplo – e a partir das "Bucólicas I" e IV, as mais conhecidas – encontra-se o encorajar do uso contínuo da écloga como panegírico político, o fato de esta poder ser lida como manifestação auto-biográfica, e ainda o poder retratar problemas de caráter político social. O potencial bucólico para apresentar uma Idade de Ouro é usado como processo irônico de descrição dos mais variados sofrimentos humanos, individuais ou colectivos. Oh Cristais derretidos Que estas Veigas ditosas Como cintas de prata ides cercando! [...] Aqui hum pouco descansar quisera; Aqui entre estas flores, Doce campo direi vossos louvores. (vv.11-13) E seus campos fiéis Antepoem aos doceis Laurados de ouro fino, & rica prata, E seu arado duro A purpura real, ao cetro puro. (vv.35-39) Os temas de Virgílio, tanto panegíricos como religiosos – a "Écloga IV"‚ aceite como uma profecia do nascimento de Cristo pelos Padres da Igreja – associam-se a um cenário mitológico tornado familiar pelas Metamorfoses de Ovídio (também ele vivo através da IdadeMédia), está presente na tradição bucólica portuguesa, e em Tagarro (pequena aldeia portuguesa, próxima à Lisboa, essencialmente rural). A dimensão e quantidade destas influências generalizadas são fáceis de provar. A partir da interpretação cristianizada da "Écloga IV" de Virgílio que se desencadeia a voga de éclogas tendo por tema a Natividade, especialmente a anunciação aos pastores, estabelecendo-se, por aqui, uma fusão entre as tradições clássica e medieval. Recordemos que Gil Vicente inicia a sua atividade com o Monólogo do Vaqueiro que obedece àquela temática. A ENEIDA LIVRO I Proêmio da “Eneida”. O poeta dirige a invocação às Musas: “As armas canto e o varão que, fugindo das plagas de Tróia por injunções do Destino , instalou-se na Itália primeiro e de Lavínio nas praias. A impulso dos deuses por muito tempo nos mares e em terras vagou sob as iras de Juno, guerras sem fim sustentou para as bases lançar da Cidade e ao Lácio os deuses trazer _ o começo da gente latina, dos pais albanos primevos e os muros de Roma Altanados. Assim tem início o canto sobre a saga do herói Enéias na “Eneida”. Primeiro o poeta Virgílio canta as glórias do pio Enéias, em seguida faz a invocação às Musas. A divindade inimiga do herói é a deusa Juno (esposa de Júpiter e mãe de Marte), dona das terras da Itália, além de protetora da cidade de Cartago, ao norte da África. Com efeito, para a deusa, Enéias é um invasor que deve ser combatido; apesar de Juno conhecer, desde o início da épica, as tramas que as Parcas já haviam tecido contra os inimigos do herói troiano: “Juno potente, a sangrar-lhe no peito a ferida, conversa consigo mesma: _ Aceitar o fracasso no início da empresa, sem conseguir afastar dessa Itália o caudilho troiano?...” Enquanto isso, no Olimpo, a deusa Vênus, angustiada, roga ao pai dos deuses - Júpiter - que ponha fim aos trabalhos infindáveis e aos sofrimentos do povo troiano. Júpiter, tranqüilizando a filha Vênus, promete: “Acalma-te, Citeréia: imutáveis encontram-se os Fados. Ainda verás a cidade e as muralhas da forte Lavínio, como te disse, e até aos astros o nome elevar-se de Enéias de alma sublime. Mudança não houve no meu pensamento. Mas, uma vez que tais cuidos te agitam, tomando de longe vou revolver o futuro e os arcanos do Fado mostrar-te. Guerras terríveis ele há de enfrentar...” (p.15) LIVRO II Então, todos se calaram na corte de Dido, e Enéias deu início à sua narrativa. Contou a história do cavalo de Tróia e como os adivinhos troianos procuravam encontrar a razão para o surgimento repentino do gigantesco cavalo no reino de Tróia. Teria sido trabalho de quem? E com qual intuito teria sido enviado à Tróia? Dentre os adivinhos, apenas Laocoonte desvendou o segredo. Dirigiu-se aos troianos, dizendo o seguinte: “Cidadãos infelizes, que insânia vos cega? Imaginais porventura que os gregos já foram de volta, ou que seus dons sejam limpos? A Ulisses, então, a tal ponto desconheceis? Ou esconde esta máquina muitos guerreiros, ou fabricada ela foi para dano de nossas muralhas, e devassar nossas casas ou do alto cair na cidade. Qualquer insídia contém. Não confieis no cavalo , troianos!” (p.30) O pai, Anquises, num primeiro momento, recusa-se a fugir com o filho. Enéias tenta convencer o pai que Tróia não tem mais salvação. Então Anquises foi surpreendido por um augúrio feliz: repentinamente da cabeça do neto Ascânio alçava uma chama, lambendo-lhe os cabelos. Anquises, convencido do aviso dos deuses, põe-se em fuga junto à nora, ao neto e ao filho: “Pronto! partamos! agora! depressa! para onde quiserdes! Ó pátrios deuses, guardai esta casa, salvai meu netinho. O agoiro é vosso; sob vossa potência está Tróia segura. Não mais resisto, meu filho, nem faço objeção em seguir-te.” Quinto Horácio Flaco ( Quintus Horatius Flaccus) foi um poeta lírico e satírico romano, além de filósofo. É conhecido por ser um dos maiores poetas da Roma Antiga. Epicurista Dentre suas características literárias, destaca-se a importância em se aproveitar o presente sem demonstrar muita preocupação com o futuro. Pelo reconhecimento da brevidade da vida, essa era a forma de Horácio pensar, que é uma idéia semelhante aos pensamentos do filósofo grego Epicuro. Outro ponto a destacar são as necessidades surgidas a partir da idéia de aproveitar cada momento antes da morte, como o amor e outras questões sociais. (“Carpe diem”). “CARPE DIEM” “Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati. seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam, quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare Tyrrhenum: sapias, uina liques et spatio breui spem longam reseces. dum loquimur, fugerit inuida aetas: carpe diem quam minimum credula postero.” “COLHA O DIA” Não queiras, Leuconoê - é ímpio - conhecer o fim que a mim, a ti, deram os deuses, e nem tentes os cálculos dos babilônios. Quão melhor suportar o que quer que virá! Sejam vários invernos, ou seja o último que Júpiter nos concede, e que agora enfraquece o mar Tirreno contra as pedras; sejas sábia, filtres os vinhos, e corte todas as longas esperanças, sendo nosso tempo breve. Enquanto nos falamos fogem os nossos instantes, invejosos: colha os dias, confiando o mínimo no futuro. Graças à amizade entre Horácio e Mecenas, o poeta pôde conseguir sua ascensão, visitando frequentemente o palácio imperial, se tornando também amigo do imperador. Horácio se tornou o primeiro literato profissional de Roma. Mecenas ainda concedeu a Horácio uma casa de campo, próxima a Tibur, hoje Tívoli. Daí em diante Horácio dedicou-se totalmente à poesia, chegando a recusar o pedido de Augusto para ser seu secretário particular. Dessa forma passou o resto de sua vida, se dedicando às suas obras e gozando de visitas de amigos e intelectuais que iam até sua casa. Morreu em 27 de novembro do ano de 8 a.C., pouco tempo após a morte de seu amigo Mecenas. Horácio ficou conhecido como o Deus da Poesia Bibliografia. Sua obra pode ser dividida em quatro gêneros: Sátiras ou sermones — Retrata ironia de seu tempo dividida em dois livros escritos em hexâmetros (poesia), baseado em assuntos literários ou morais, discute questões éticas. Odes ou Carminas — Divididos em quatro livros de longos poemas líricos sobre assuntos diversos, geralmente sobre mitologia. Também em hexâmetros. A sátira se caracteriza também por intensa dramaticidade; observa-se a movimentação, pode-se dizer cênica dos personagens. Como exemplo, nota-se a utilização de um recurso da comédia, o chamado cômico de gestos, no momento em que o poeta encontra um amigo que talvez o livrasse da embaraçosa situação: vejamos a seguir : .............................................Vellere coepi et prensare manu lentissima bracchia, nutans, distorquens oculos, ut me eriperet. Male salsus ridens dissimulare; meum iecur urere bilis. (“Comecei a cutucar e agarrar com a mão os seus braços insensíveis, fazendo sinal com a cabeça e piscando os olhos, para que me livrasse dele. Sem graça, rindo, ele disfarçava e a bílis queimava meu fígado.” v. 63-66) É fácil se imaginar a expressão fisionômica do poeta! O “poeta-herói” é finalmente libertado. Surge um adversário do importuno. Apolo o salva: ........................Casu uenit obuius illi aduersarius et: “Quo tu, turpissime?” magna inclamat uoce, et: “Licet antestari?” Ego uero oppono auriculam; rapit in ius; clamor utrimque, undique concursus. Sic me seruauit Apollo. (“Por sorte, o adversário daquele vem ao meu encontro: ‘Para onde vais, ó grande patife?’ Eu, na verdade, apresentei a orelha. Ele o levou ao tribunal; clamor e ajuntamento de todos os lados. Assim Apolo me salvou”. v. 74-78) Epístolas ou cartas — Dois livros feitos de coleções de cartas sobre vários assuntos. Dentre elas destaca-se a maior, a Epístola aos Pisões, conhecida como Arte Poética. Epodos ou iambos — Um livro somente, com 17 pequenos poemas líricos escritos na mocidade sobre assuntos de Roma e imitava, tanto na métrica quanto no estilo satírico, o poeta Arquíloco. A epístola Ad Pisones, na plenitude da estética moderna, é uma resenha modesta de opiniões literárias. Mas os princípios dela estão nos alicerces da preceptiva de todos os tempos. Horácio argamassou-os na massa eterna do natural e do humano. Esta epístola deve ter sido uma das últimas obras do poeta. Foi uma espécie de testamento. Se valeu, como um código, até o movimento romântico, hoje anda quase esquecida, com o mais clássico do nosso moribundo humanismo. Levantei um monumento mais duradouro do que o bronze; mais alto do que as pirâmides, obra suntuosa de reis; monumento que a chuva não corroerá, que não será derrubado pelo aquilão (vento norte)furioso, que resistirá, através do tempo, a sucessão dos séculos sem fim. Eu já não morro completamente... "Exegi monumentum aere perennius. Regalique situ pyramidum altius. Quod non imber edax, non A'quilo impotens, Possit diruere aut innumerabilis, Annorum series et fuga temporum. Non omnis moriar... (Ode XXX, liv. III) FLORILÉGIO A Epístola aos Pisões ou Arte poética tem 476 versos. François Richard, tradutor e anotador de Horácio, discrimina o assunto em três grandes desenvolvimentos: 1) preceitos gerais, do começo até o verso 72; 2) estudo dos diferentes gêneros, em particular da poesia dramática, versos 73-294; 3) conselhos aos poetas, no seu procedimento literário, versos 295-476. 1. Risum teneatis, amici? O riso conteríeis, meus amigos? 2. Pictoribus atque poetis, quidlibet audendi semprer fui aequa potestas. Aos pintores e aos poetas sempre coube o direito de tudo ousar. 3. Amphora coepit institui: currente rota, cur urceus exit? Se começou a modelar uma ânfora, porque, andando a roda, sai uma bilha? 4. Maxima pars vatum decipimur specie recti. A maior parte dos poetas, enganamo-nos com a aparência do bem. Publius Ovidius Naso, poeta latino, é mais conhecido nos países de língua portuguesa por Ovídio. Nasceu em 20 de março de 43a.C. em Sulmo, atual Sulmona, em Abruzos, Itália. Vivia uma vida boêmia, sendo admirado como um grande poeta. No ano 8, foi banido de Roma pelo imperador Augusto por causa de seu livro A arte de amar (Ars Amatoria), considerada imoral por Otávio Augusto, o que lhe causou um profundo desgosto até o final de sua vida. Foi nessa época que Ovídio escreveu a sua obra mais famosa: Metamorfoses (Metamorphoses), escrita em hexâmetro dactílico, métrica comum aos poemas épicos de Homero e Virgílio. Faleceu no ano l7 em Tomis, atual Constanta, na Romênia. Ovídio influenciou com seus versos, cheios de suavidade e harmonia, autores tão diversos como Dante, Milton e Shakespeare. Ovídio é um clássico que exerceu grande influência na revitalização da poesia bucólica e mitológica do Renascimento. Apreciado como um dos maiores poetas da latinidade, Ovídio permanece ao lado de Virgílio até os dias atuais. Se outros escritores latinos continuam citados, como Cícero, estes dois têm edições de suas obras principais sempre publicadas e com novas traduções em diferentes países do Planeta. O poeta Virgílio, de Eneida, mais com suas “Bucólicas”; o poeta de Tristia, Ovídio, mais com seu “Ars Amatória”. O livro, escrito nos primeiros anos desta era, se compõe de três partes. Os poemas tratam de técnicas de conquista por parte das mulheres, e nisso o Poeta trata da apresentação social, pintura, postura no andar, no falar e até em escrever cartas. Vale, portanto, ser lido e apreciado em vários de seus aspectos literários e mesmo históricos. O segundo livro é dirigido ao sexo masculino, que assim termina:”A todos aqueles que felizes venceram, / com a ajuda do gládio que de mim receberam, / uma bela amazona, nos seus troféus inscrevam: Ovídio foi meu mestre.” No mesmo “Arte de Amar”, entre tantas “tiradas” sobre o amor e o amar, esta é brilhante: “Abomino a mulher que se entregou / apenas porque tem de se entregar e que nenhum prazer experimentando / frigidamente faz amor pensando / no novelo de lá.” (op. cit.) Seus poemas podem ser líricos, libertinos, irônicos. A ARTE DE AMAR Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não. 1 "Tudo serve de pretexto para mostrar tua solicitude. (...) Será mais fácil que os pássaros emudeçam na primavera ou as cigarras no verão (...) do que uma mulher resistir à carinhosa solicitude de um homem." 2 "Tens de agir como apaixonado e tuas palavras devem dar a sensação de que estás perdido de amor. (...) Como toda mulher se julga digna de ser amada, ser-te-á fácil ser acreditado." 3 "Quando tiveres razão para julgar conveniente que vá sentir saudades tuas, e que a tua ausência lhe cause inquietação, dá-lhe um descanso. (...) Cuida, todavia, que a tua ausência seja breve; com o tempo a saudade diminui, apaga-se a lembrança do ausente e um novo amor se insinua." 4 "Não ostentes em vão teus recursos, nem faças alarde da eloqüência. Elimina do teu falar todo o acento de pedantismo. Poderá alguém que esteja no seu juízo declamar seu amor com palavras complicadas à sua amada? (...) Escreve de modo natural, com palavras comuns mas ternas, escreve como se estivesses falando." 5 "Nada tens a perder se a deixares convencida de que tem grande poder sobre ti." 6 "Promete sem timidez, pois as promessas prendem as mulheres!" 7 "Aos homens só convém uma beleza sem enfeites. (...) Devem agradar apenas pela elegância discreta. (...) Não cries o hábito de frisar o cabelo a ferro, nem alises com pedras-pomes as pernas." Por motivos ainda não bem definidos, o Poeta de “Tristia” e de “Metamorfose” foi exilado de seu país. Freqüentava o palácio do Imperador Augusto onde, como até hoje, imperam fofocas, intrigas, amores. Tristia, Os Tristes/As Coisas Tristes, ele relata a noite trágica do exílio num de seus mais bonitos momentos poéticos: “Quum subit illius tristissima noctis imago / quae mihi supremum tempus in Urbe fuit: / quum repeto noctem, qua tot mihi cara reliqui, / labitur ex oculis nunc quoque gutta meis.” (Quando recordo a tristíssima imagem daquela noite, para mim o derradeiro instante na Cidade (Roma), quando recordo a noite em que deixei tantas pessoas queridas, corre ainda neste instante uma lágrima de meus olhos.” METAMORFOSE Est tamen humani generis iactura dolori omnibus, et, quae sit terrae mortabilibus orbae forma futura, rogant, quis sit laturus in aras tura, ferisne paret populandas tradere terras. Talia quaerentes (sibi enim fore cetera curae) rex superum trepidadre uetat sobolemque priori dissimulem populo promittit origine mira. (Da triste humanidade o fim lhes custa: perguntam qual será da terra, a face, qual forma a sua, dos mortais vazia? Quem irá às aras ministrar incenso? Será talvez o mundo entregue às feras? O que foi dos homens será entregue aos brutos?) Ovídio - Metamorfose, verso 245-250. E as censuras e comentários sobre suas criações tidas como licenciosas acabaram por levar o Imperador a decidir pelo banimento de Ovídio para o Ponto Euxino, costa do Mar Negro, região distante de Roma. De lá de onde ele jamais voltou, escrevendo sempre a sua esposa, amigos e ao mesmo Imperador. OVÍDIO E O TRÁGICO MÁRCIA REGINA DE FARIA DA SILVA (FFP-UERJ E UERJ) Ovídio, poeta latino do século I a.C., compôs muitas obras das quais a grande maioria era em versos elegíacos. Apesar de escrever elegias, consideradas entre as composições poéticas do gênero lírico, ele deu uma conotação trágica muito acentuada a pelo menos uma de suas obras: as “Heroides”, cartas de heroínas do mito ou da história a seus amados ausentes. Como as cartas tratam da perda amorosa, podemos delinear, por trás dos versos elegíacos, a trajetória trágica das personagens. A poesia lírica, inicialmente, designava todo poema que não era para ser recitado, mas cantado ao som da lira. Na Grécia, era considerado lírico todo poema cantado acompanhado de um instrumento musical de corda ou sopro. A lírica alexandrina é caracterizada pelo culto à forma, pela busca da expressão rara e pelo distanciamento da linguagem coloquial, proporcionados pelos anseios de erudição. O período alexandrino inspirou os poetas romanos do século I a.C., descontentes com os modelos de Homero e dos trágicos, imitados por Névio e Ênio, Era o momento do lirismo em Roma. A elegia, em sua origem, era uma poesia composta dos chamados dísticos elegíacos, ou seja, um hexâmetro e um pentâmetro. No período de Augusto, especialmente, com Tibulo, Propércio e Ovídio, a elegia ganha caráter de um gênero elevado que quer a imortalidade. Esses poetas escrevem livros inteiros de elegias, normalmente dedicados a uma mulher, como Délia, em Tibulo e Cíntia, em Propércio, sendo que esses pseudônimos não deixam transparecer a identidade de suas amadas. Ovídio inicia a composição do primeiro período de sua obra intitulado, por Ettore Paratore, de ciclo erótico, todo escrito em dísticos elegíacos. Primeiramente, escreveu os “Amores” que são poemas nos quais o poeta canta sua paixão por Corina, personagem representativa de todas as mulheres que ele amou. Essa obra possuía, inicialmente, cinco livros, sendo resumida a três pelo poeta. Sua obra seguinte foi as “Heroides”, cartas imaginárias enviadas por heroínas gregas e romanas a seus amantes, procedente de diversas fontes; teve influência da retórica e logrou bastante sucesso na época. A “Ars Amandi” ou “Ars Amatoria”, em três livros, explica a arte de amar, poema licencioso e, por isso, acredita-se que tenha contribuído para o exílio do poeta, devido à moral imposta por Augusto. Depois começou a escrever os “Fastos”, que deveriam ter 12 livros, porém só 6 ficaram prontos, pois foi desterrado; essa obra é uma explicação em versos elegíacos do calendário romano. Iniciam-se aqui as composições do desterro, onde escreveu “Ibis”, durante a viagem, poema imitado de Calímaco; “Tristia”, em 5 livros, elegias lastimando o desterro e pedindo perdão; “Epistulae ex Ponto”, em 4 livros, tendo a mesma temática anterior, porém possuindo o nome do destinatário. Escreveu ainda, após observar os costumes em Tomos, a “Halieutica”, obra didática sobre os peixes do Mar Negro. Pode-se, portanto, notar que Ovídio ampliou os temas elegíacos romanos. Iniciou com as elegias amorosas para uma determinada mulher, em Amores; depois abordou o amor de personagens míticas, nas “Heroides”; transferiu o eixo do amor para a conquista amorosa, em “Ars Amandi”; e, finalmente, inaugurou uma elegia intimista sem ligação com a temática amorosa, em “Tristia e Pontica”. Exatamente por isso Ovídio é testemunha de sua época. Seus predecessores haviam sido em larga medida testemunhas de si mesmos. Ovídio, ao contrário, representa fielmente a opinião de seus contemporâneos sobre o amor, a idéia que faziam de seu papel na vida das criaturas, da parte que convinha lhe atribuir, dos objetivos que ele perseguia. OS FASTOS (AS FESTAS) Eram os Fastos de Ovídio uma obra em doze Livros, de que só ficaram os primeiros seis. Tinham por objeto descrever e explicar as principais festas religiosas pagãs de cada um dos doze meses; a origem arqueológica de cada uma delas; e a sua coincidência com as revoluções astronômicas. Eis aqui o como ele propõe a totalidade do seu plano: Festas do Lácio ano, origens, suas quais astros vão, quais vêm, dirão meus versos. Há nos Fastos muitas e mui belas provas do que eu há pouco vos dizia: do amor que o bom do Ovídio tinha à vida campestre. Final do seu mês de Janeiro. FESTA DAS SEMENTEIRAS: Nos Anais, onde as festas vêm marcadas, festas em vão busquei das sementeiras. Vendo-me a folhear, cuidoso, assíduo, e entendendo-me o empenho, – "Em balde as buscas rindo a Musa me diz; – "festas mudáveis "das fixas no registro achar querias? “Têm marcada estação, e o dia incerto; "celebram-se no prazo em que estão prenhes "de sementes os chãos. Gozai do ócio "à farta manjedoura, ó bois coroados; "lá virá logo a ativa Primavera, "à cerviz repousada impondo jugo, "com a renascente lida afadigar-vos. "No abrigo do casal durma por ora "a cansada charrua (arado); a terra fria "não deseja, não sofre, o ser rasgada." Agora, que jaz finda a sementeira, lavradores, dai folga ao solo, aos braços; lustrem colonos sua aldeia em festa, dêem a seus fogos a anual fogaça. Télus e Ceres, madres das searas já com seus mesmos grãos se propiciem, já com as entranhas da suína fêmea. “De entre ambas nasce o grão que nos sustenta: “Ceres no-lo produz; mantém-no a Terra. ........................................................................ “Lavradores, por vós tais são meus rogos. “Com os rogos meus os vossos se misturem, “por que uma e outra deusa os ratifiquem. Ouvi-lhe agora a narração da festa, que em seu tempo se fazia no mês de Fevereiro, em honra do deus Término, ou Termo. Este deus não era mais nem menos que um marco, de pedra ou pau, que extremava os prédios. Com razão lhe davam aquele culto; nada mais respeitável, que a propriedade; nada mais judicioso, que santificá-la. FESTA DO DEUS TÉRMINO “Finda a noite, alvoreça a costumada festa do deus que nos comparte os campos. “Quer tosca pedra, ó Término, te embleme, quer tronco informe pela mão de antigos enterrado no chão, sempre és deidade. “Para ti donos dois, de opostas partes, coroa e coroa te cingem; bolo e bolo te vem de cá, de lá; como à porfia, aí se te engenhou ara campestre. ........................................................................................................... Salve, ó Término sacro, ó tu, que extremas bairros, cidades, reinos! cada campo fora sem ti um campo de batalha. “Manténs, desambicioso, insubornável, as herdades em paz das Leis à sombra. “Se a terra Thireátide te houvera, não ceifaria a morte heróis seiscentos de Argos e Esparta no fatal duelo; não se lera de Othriades o nome num vão troféu de mentirosas armas, que inda à Pátria infeliz custou mais sangue. “ “Mantêm pois sempre, ó sacra sentinela, mantém pois sempre, ó Término, teu posto. “Despreza os rogos do vizinho avaro; não lhe concedas do terreno um ponto. “Ceder a humanos quem resiste a Jove?! “Vem bater-te enxadão, pulsar-te arado? proclama a vozes: "Meus confins são estes; "de além, tu; de aquém, ele; ambos coíbo. "e em coibir aos dois aos dois protejo." Uma estrada une Roma aos Laurentinos, reino que o Teucro prófugo buscara; lá, dos marcos o sexto em honra tua vê que lanosa vítima se imola. “Término, já que aceitas cultos nossos, ampara-nos; sustenta o nosso Império. “De cada povo o espaço é circunscrito; são de Roma os confins confins do globo.” “ Lúcio Aneu Sêneca (em latim: Lucius Annaeus Seneca; Corduba, 4 a.C. — Roma, 65 d.C.) foi um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também como Sêneca, o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estóico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia européia renascentista. Ainda criança, foi enviado a Roma para estudar oratória e filosofia. Com a saúde abalada pelo rigor dos estudos, passou uma temporada no Egito para se recuperar e regressou a Roma por volta do ano 31 da era cristã. Nessa ocasião, iniciou carreira como orador e advogado e logo chegou ao Senado. Por influência de Agripina, a jovem, sobrinha do imperador e uma das mulheres com quem este se casou, Sêneca retornou a Roma em 49. Agripina tornou-o preceptor de seu filho, o jovem Nero, e elevou-o a pretor em 50. Seneca contraiu matrimônio com Pompéia Paulina e organizou um poderoso grupo de amigos. Logo após a morte de Cláudio, ocorrida em 54, o escritor vingou-se com um escrito que foi considerado obra-prima das sátiras romanas, Apocolocyntosis divi Claudii ("Transformação em abóbora do divino Cláudio"). Nessa obra, Sêneca critica o autoritarismo do imperador e narra como ele é recusado pelos deuses. Sêneca retirou-se da vida pública em 62. Entre seus últimos textos estão a compilação científica Naturales quaestiones ("Problemas naturais"), os tratados De tranquillitate animi (Sobre a tranquilidade da alma), De vita beata (Sobre a vida beata) e, talvez sua obra mais profunda, as Epistolae morales dirigidas a Lucílio, em que reúne conselhos estóicos e elementos epicuristas na pregação de uma fraternidade universal mais tarde considerada próxima ao cristianismo. Contemporâneo de Cristo Apesar de ter sido contemporâneo de Cristo, Sêneca não fez quaisquer relatos significativos de fenômenos milagrosos que, aparentemente, anunciavam o despertar de uma poderosa nova religião. Entretanto, há indícios de uma possível troca de correspondências com Paulo de Tarso (apóstolo, com cidadania romana, também conhecido por Saulo). Constata-se que os cristãos, por intermédio de Lúcio Aneu Sêneca, assimilaram os princípios estóicos, utilizando inclusive as mesmas metáforas estóicas na Bíblia. Um fato tanto mais curioso quanto a Sêneca, como filósofo, foi o interesse por todos os fenômenos da natureza, resultando nas cartas intituladas posteriormente Questões da natureza, como observou Edward Gibbon, historiador representativo do iluminismo do século XVIII, perito na história do Império Romano e autor do aclamado livro História do Declínio e Queda do Império Romano, uma referência ainda hoje. A filosofia de Sêneca Sêneca ocupava-se da forma correta de viver a vida, ou seja, da ética, fisica e da lógica. Via o sereno estoicismo como a maior virtude, o que lhe permitiu praticar a imperturbabilidade da alma, denominada ataraxia (termo utilizado a primeira vez por Demócrito em 400 a.C.). Juntamente com Marco Aurélio e Cícero, conta-se entre os mais importantes representantes da intelectualidade romana. Sêneca via no cumprimento do dever um serviço à humanidade. Procurava aplicar a sua filosofia à prática. Deste modo, apesar de ser rico, vivia modestamente: bebia apenas água, comia pouco, dormia sobre um colchão duro. Sêneca não viu nenhuma contradição entre a sua filosofia, estóica, e a sua riqueza material: dizia que o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido ganho de forma honesta. No entanto, devia ser capaz de abdicar dele. Para Sêneca, o destino é uma realidade. O homem pode apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo. Se o aceitar de livre vontade, goza de liberdade. A morte é um dado natural. O suicídio não é categoricamente excluído por Sêneca. Sêneca influenciaria profundamente o pensamento de João Calvino. O primeiro livro de Calvino foi um comentário ao De Clementia, de Sêneca. A FUNÇÃO DIDÁTICA DAS TRAGÉDIAS DE SÊNECA Zelia de Almeida Cardoso (USP) Embora inspiradas nas tragédias gregas, principalmente nas de Eurípides, as obras trágicas de Sêneca apresentam traços bastante originais: os mitos, trabalhados de forma especial, perdem em parte seu caráter sagrado; a progressão da ação é regulada sobretudo pelos dramas psicológicos, vividos pelas personagens; as figuras são construídas com tal vigor que, frequentemente, se assemelham a caricaturas trágicas, desenhadas com traços nítidos e seguros. A linguagem é rica, elaborada e ornamentada, por vezes rebuscada e afetada, própria de uma época de acentuado gosto pela retórica e pela opulência em recursos estilísticos. Ao lado dessas características, verificamos nas tragédias senequianas a presença insistente de elementos filosóficos, o que lhes confere um caráter didático dificilmente contestável. Entre os que discutiram esse caráter, lembramos Florence Dupont (Dupont, 1995, p. 9), que, em seu livro, intitulado Les monstres de Sénèque, ao propor uma “dramaturgia das tragédias de Sêneca” refuta a idéia de que o teatrólogo tivesse composto textos trágicos apenas para a leitura e neles não vê nenhuma função didática (idem, p. 20). Se na obra de Eurípides já podemos encontrar elementos filosóficos, nos textos trágicos de Sêneca eles se apresentam com mais força e freqüência. Não se pode dizer a rigor que Sêneca tenha sido propriamente um filósofo. As questões referentes à “filosofia de Sêneca”, assim como à de outras figuras do mundo latino, a exemplo de Lucrécio ou Cícero, foram exaustivamente estudadas em todos os tempos. Os romanos – e Sêneca entre eles – se interessaram principalmente pela ética estóica. Sêneca, como vimos, se considerava discípulo dos estóicos e, embora procurasse manter sua liberdade de julgar e, por vezes, se aproveitasse de idéias filosóficas não estóicas que lhe parecessem boas, sua obra é marcada pela presença de elementos estóicos. Esses elementos, sem dúvida, foram elaborados à sua maneira. Conhecendo ampla e profundamente a doutrina estóica, Sêneca não somente a divulgou em seus tratados e cartas como também aproveitou todas as oportunidades para apresentá-la, de alguma forma, em suas tragédias. Em Fedra, mais que em algumas outras, as ocasiões favoráveis à exploração do estoicismo se multiplicam pois que o próprio mito contribui para isso. A história de Fedra é essencialmente exemplar. Por seu intermédio podemos verificar como a paixão não dominada, sobrepondo-se à razão, determina o desencadeamento de catástrofes e compromete a ordem universal. O amor da rainha por seu enteado jovem e belo é uma transgressão que violenta o equilíbrio. Uma vez rompido esse equilíbrio, as desgraças se sobrepõem umas às outras e não se pode mais interromper a avalanche provocada. Nas três ações básicas que se imbricam, compõem a urdidura da tragédia e determinam a eclosão do evento trágico (o amor de Fedra por Hipólito, a calúnia, a maldição de Teseu), a paixão domina a razão, a ordem natural é transgredida e o mal se instaura de forma irreversível. A ama de Fedra, em suas primeiras intervenções, faz grandes esforços para reconduzir o espírito enlouquecido da rainha ao caminho do dever e da razão e evitar que a desgraça se consume. Exerce, portanto, a mesma função que tantas vezes as nutrizes exerceram nas tragédias clássicas: encarna o bom senso, que se opõe ao desenfreamento dos sentimentos, e representa o alter ego da personagem principal, possibilitando a exibição do conflito que se estabelece na mente conturbada, determinado por um dualismo natural. Nas primeiras palavras que dirige a Fedra, procurando reconduzir a rainha enamorada ao caminho da virtude, a ama emprega uma argumentação de caráter estóico: “Esposa de Teseu, descendência ilustre de Júpiter, arranca o mais depressa possível de teu casto peito esse amor nefasto, extingue as chamas e não te deixes dominar por uma esperança funesta. Quem contraria e combate o amor, desde o início, tem a segurança da vitória; quem nutre o mal, acarinhando-o docemente, muito tarde se recusa a suportar o jugo que sofre” (Phae. 129-135). ). Não faltam na linguagem da ama nem as máximas morais, nem as reflexões filosóficas, nem as ponderações que encerram um conteúdo estóico: “O primeiro grau do pudor é desejar coisas honestas: o segundo é conhecer a extensão do erro” (140- 141); “O crime é maior que a monstruosidade; a monstruosidade é imputada ao destino, o crime à imoralidade”(143-144); “Há mulheres que cometem crimes impunemente; nenhuma os comete com espírito tranqüilo” (164). Também apresenta sabor estóico a contra-argumentação que utiliza quando se opõe ao arrazoado de Fedra que procura atenuar sua culpa, atribuindo aos deuses a maior responsabilidade por seu desvario. A rainha se desculpa com palavras eloquentes, construindo uma imagem de seu mundo interior, onde se estabelece o conflito entre a paixão e a razão: “Sei que o que lembras é verdade, minha nutriz, mas a loucura me faz seguir o caminho pior. Mesmo consciente minha alma se dirige ao abismo e volta, buscando inutilmente uma inspiração saudável”. Para as paixões desvairadas e inconsequentes a ama tem uma explicação racional, não as atribuindo à ação divina. Não é o deus-menino quem atinge as almas e as faz mergulhar na loucura e na cegueira, sem permitir-lhes que meçam a extensão e a gravidade de seus crimes. Se alguém ou algo deve assumir a responsabilidade, que a assuma a vida fácil e fútil que se leva nos palácios, onde o corpo se acostuma aos vícios decorrentes dos prazeres materiais que debilitam os sentidos e ofuscam a razão: “Quem vive exultante no meio de coisas excessivamente favoráveis e se entrega ao luxo, acaba desejando aquilo que é insólito. Surgem então os desejos ilícitos, companheiros da grande riqueza. Já não são suficientes os alimentos costumeiros, as saudáveis moradias usuais e as taças comuns. Por que razão raramente sobrevém, nos lares modestos, a desgraça que escolhe as casas elegantes? Por que o amor casto habita as moradas humildes e a camada popular tem inclinações sadias, sabendo conter-se com moderação? Por que, inversamente, aqueles que são ricos e dominam o reino não podem desejar as coisas lícitas? Quem pode muito quer poder também o que não pode” (204215). Em Fedra são numerosos os passos em que há referências ao ciclo natural das coisas e às forças cósmicas que comandam a vida. O que por vezes poderia ser considerado como imagem poética – como ocorre no Prólogo (12-13), quando Hipólito se refere ao zéfiro que acaricia os prados orvalhados, fazendo brotar as ervas primaveris – pode ser também uma alusão à idéia de ciclo temporal: todas as coisas têm seu tempo. Algo se inicia e algo termina constantemente, continuamente. A paixão de Fedra, como todas as paixões desenfreadas, prossegue em sua ação demolidora. Havia vencido inicialmente a rainha, destruindo sua virtude e seu senso de dever. Vence agora as convicções da ama, incapaz de suportar a idéia de vir a presenciar um final desastrado para o amor proibido e a morte da mulher enamorada. Como último recurso, a anciã se aproxima de Hipólito, tentando persuadi-lo da necessidade de amar: “Lembra-te de tua idade e arranca as preocupações de teu espírito. Ergue tua tocha para participares de festins noturnos. Baco dissipa os cuidados. Aproveita a tua juventude, pois que ela costuma fugir em carreira veloz. Teu coração é jovem: é agora que os prazeres de Vênus te serão agradáveis. Que teu espírito possa alegrar-se com isso. Por que repousas sozinho em teu leito?” “Põe um fim a essa vida austera, toma teu caminho, solta tuas rédeas, não permitas que se percam os melhores tempos de tua existência. Um deus estabeleceu o que é próprio de cada época, construindo os diferentes degraus: a alegria se adapta bem ao moço; o rosto severo ao velho. Por que te coíbes e matas teus instintos legítimos?” (443-454). Depois de recriminá-lo por malbaratar sua juventude, vivendo com austeridade e desdenhando o amor, a anciã constrói a imagem de um mundo sem Vênus, desolado e devastado, com o mar sem peixes, o ar sem pássaros, os bosques sem feras e o vento, somente o vento, soprando no éter sem fim (455-480). A nutriz conclui sua exposição: “Por todas estas razões, segue a natureza que é guia da vida; frequenta a cidade; procura a companhia de teus concidadãos” (481-482) . [. Se na tragédia grega o fatum (destino) é freqüentemente responsável pelo final trágico, nas peças de Sêneca a grande responsabilidade cabe aos homens. A vitória das paixões sobre a razão determina a desgraça. Das opções humanas depende o que virá. Inserindo esses elementos no corpo de seus dramas, Sêneca nos faz pensar em uma das metas que talvez tivesse querido alcançar ao compô-los. Ao lado de conferir-lhes um caráter rigorosamente literário, de construir personagens bem trabalhadas em suas qualidades psicológicas e de abordar os mitos de forma original, é possível que haja também procurado escrever tragédias didáticas, capazes de induzir espectadores e leitores a encontrar nos textos a ilustração dos princípios básicos da doutrina estóica. A POESIA ELEGÍACA : Sextus Propertius (43 a. C. - 17 d. C.) Propércio é um nome que ficou ligado para sempre à elegia latina. Como Ovídio e Tíbulo, dois outros expoentes do gênero, soube com muita arte imprimir ao verso elegíaco a marca do seu talento, cantando, sobretudo, o amor por Cíntia, sua grande musa inspiradora. Além do amor, que aliou muitas vezes à mitologia, exaltou também a grandeza de Roma, consolidada, depois de Júlio César, com as novas conquistas e vitórias do imperador Augusto Otaviano. A ELEGIA: A elegia, na Grécia, estava associada a uma forma métrica, o dístico elegíaco, composto de um hexâmetro e de um pentâmetro. Servia este metro para expressar os mais diversos estados d’alma e era usado nos cantos fúnebres, exaltação da pátria, epigramas, epitáfios, sátiras e em outras formas de expressão poética. Em Roma, a elegia adquiriu estatuto de gênero literário, com Tíbulo, Propércio e Ovídio, que empregaram o metro grego para cantar, sobretudo, o amor. VIDA E OBRA: Propércio (Sextus Propertius), poeta elegíaco que viveu no século de Augusto, nasceu na Úmbria, talvez na cidade de Assis, por volta de 47 ou 46 a. C., e morreu em torno de 14 a. C. Pertencia a uma família de proprietários arruinados, cujas terras foram confiscadas e repartidas entre os veteranos da guerra de Filipos, ocorrida em 41 a. C. Foi também vítima de outro infortúnio: a guerra de Perúsia, que destruiu completamente sua pátria, semeando em sua família o luto e a tristeza. As amarguras deixadas por esse funesto episódio se refletirão também em sua poesia. Após esse acontecimento, ainda jovem, já órfão de pai, iniciou-se na carreira da advocacia e, por consequência, nos exercícios da oratória. Todavia, a pobreza a que ficou reduzido e, certamente, sua veia poética, não lhe permitiram continuar com os estudos forenses, tendo, por isso, enveredado pelo caminho da poesia. Na Roma dos Césares, conheceu seu primeiro amor, uma escrava de nome Licínia. Mas seu romance com ela foi passageiro, durando apenas alguns meses. Licínia não foi totalmente esquecida, sendo lembrada pelo poeta em uma de suas elegias. Entretanto, só dois anos mais tarde, é que Propércio viria a conhecer a mulher que seria a verdadeira paixão de sua vida, Cíntia. Pertencia à alta aristocracia. Era uma mulher casada, de vida livre, mas não uma cortesã. Encantadora bailarina, também conhecia música e poesia. Dona de uma rara beleza, Cíntia teve muitos amantes, dentre os quais Propércio. Após haver conhecido Cíntia, com quem viveu durante cinco anos um grande amor, Propércio publicará, por volta de 28 ou 29 a. C., seu primeiro livro de elegias, o Monobiblos ou Livro de Cíntia, dedicado inteiramente à sua musa. Nele, o poeta canta o amor como um sentimento puro e sincero. Com sua publicação, tornou-se célebre, sendo imediatamente reconhecido e acolhido por Mecenas e Augusto. Após a consagração de seu nome, escreveu mais três livros de elegias. No segundo, tal como no primeiro, também predomina a temática amorosa, e Cíntia continua sendo a figura central de seus versos. Em ambos, são freqüentes as referências mitológicas. Não constituem elas apenas um traço da erudição de Propércio, mas servem, sobretudo, de exemplo para respaldar o sentimento amoroso. No terceiro livro, de temática mais variada, diminui, consideravelmente, o percentual de elegias dedicadas a Cíntia. Nele, Propércio, que antes tornara Cíntia a musa inspiradora de seus primeiros versos, começa a ceder lugar também para as elegias fúnebres, bem como para as de temática nacionalista, reservando outro tanto delas para as reflexões sobre a poesia e sua arte. Na era de Augusto, o contexto histórico vivenciado por Propércio,o estoicismo é o sistema mais difundido. Essa teoria filosófica cujo ideal é a ataraxia, o equilíbrio perfeito da alma é amplamente difundida, especialmente entre as classes superiores da sociedade romana. Não satisfaz, no entanto, àqueles que buscam consolação na filosofia. O gosto pelo ócio entra definitiva e triunfalmente nos costumes romanos. Os poetas cantam a vida citadina, a grandeza de Roma, suas antigas virtudes, os novos costumes e as leis. Esses temas aparecem na poesia de Vergílio, Horácio e Propércio, que pertencem ao círculo de Mecenas. Mecenas é um ministro de Augusto, rico, generoso e requintado, que forma em torno dele um círculo literário, do qual fazem parte poetas das mais diversas convicções políticas. Propércio, em um trecho da elegia VIII do livro I, declara indiretamente seu amor a Roma, que parece ser tão grande quanto o amor que tem por sua amada, Cíntia, vejamos: “Vicimus: assiduas non tulit illa preces. Falsa licet cupidus deponat gaudia liuor: Destitit ire nouas Cynthia nostra uias. Illi carus ego et per carissima Roma Dicitur et sine me dulcia regna negat11;” (PROPERCE, 1929, p. 16) “Vencemos: ela não suportou meus pedidos constantes. Que a inveja ansiosa abandone as falsas alegrias: nossa Cíntia desistiu de ir por novos caminhos. Eu sou caro a ela e, por mim, Roma lhe é caríssima e sem mim, diz-se, nega que haja doces reinos;” Na poesia elegíaca, podemos observar uma submissão por parte do eu-lírico, que se entrega à amada e espera ser atendido em seus pedidos e, por isso, se entrega ao jogo amoroso descaradamente. Observemos, a seguir, no próximo slide, um trecho da elegia I do Livro I de Propércio: “At uos, deductae quibus est fallacia lunae Et labor in magicis sacra piare focis, En agedum dominae mentem conuertite nostrae Et facite illa meo palleat ore magis.” (PROPERCE, 1939, p.11) “Vós, porém, que tendes o encantamento para controlar a lua e, cujo trabalho é fazer sacrifício em altares mágicos, ei, coragem, atrai a atenção da nossa dona (minha senhora) e fazei com que seu rosto empalideça mais do que o meu.” A elegia Grega Arcaica :“ao buscarmos a essência da elegia a partir dos cânones da Poética Antiga, toda a elegia grega arcaica é baseada em relação a uma forma préestabelecida, herdeira da épica de Homero e Hesíodo, já que o metro e o dialeto se aproximam da criação poética precedente”. Assim, a poesia elegíaca se distingue de outras formas de poesia por ser composta por dísticos elegíacos, ou seja, um hexâmetro e um pentâmetro. Além dessa característica, é interessante notarmos que, durante certo tempo, o dístico elegíaco foi usado em inscrições e em poemas cantados ao som da flauta; no entanto, com o decorrer dos séculos, ele desliga-se da música e torna-se apenas um poema destinado à recitação e à leitura. (PESSANHA, 1988, p.91). Em Roma, é Catulo o primeiro a compor elegias. Inspirando-se em Calímaco, escreve três poemas, o 65, 66 e 68, que já revelam a essência da elegia latina. O poeta latino soube imprimir um intenso subjetivismo aos ditames da nova escola, fazendo anunciar o que seria a elegia amorosa romana posterior. Observemos, a seguir, um trecho da elegia 68 de Catulo: “Nec tamem illa mihi dextra deducta paterna Fragrantem Assyrio uenit odore domum Sed furtiua dedit mira munuscula nocte, Ipsius ex ipso dempta uiri gremio... “ (Tradução) “Ela não veio, trazida pelo braço paterno, para minha casa, perfumada com essências assírias, mas deu-me furtivos prazeres, roubados dos braços do próprio marido, numa noite admirável.” No I século a.C, após a vitória de Augusto, temse em Roma um período de paz. Portanto, como já dissemos, é, nesse período, que floresce, no Império, a Elegia Latina, uma poesia que fala, principalmente, de amor, e que é a expressão de jovens poetas, como Tíbulo, Propércio e Ovídio. Esses poetas buscam, no fazer poético, a imortalidade; cantam o amor em primeira pessoa e escrevem livros inteiros dedicados a uma mulher. Por ser cantada em primeira pessoa, a elegia romana suscita várias discussões e opiniões a respeito de sua subjetividade. A interpretação romântica deu às relações entre os poetas e as amadas ares de verdade, que de certo modo não condizem com a mentalidade amorosa da época; por outro lado Paul Veyne, em sua obra A elegia erótica romana, acusa os elegíacos latinos, principalmente Propércio, de não imprimirem sentimento a sua poesia, diz ele: “Os elegíacos não são sérios; comportam-se como se fossem cenaristas de sentimentos que fingem viver em seu próprio nome”. (VEYNE, 1983, p.61). Se não se pode afirmar que a elegia nasceu romana, fato é que a elegia em Roma ganhará novo fôlego, trará parte da tradição em seu bojo, assim como algumas perspectivas novas, fazendo uma releitura da poesia grega. Com poetas como Tíbulo, Ovídio e Propércio, ela alcançará extraordinária perfeição de forma e de conteúdo. Na poesia properciana, observa-se a alta perfeição formal: na escolha vocabular, na construção em períodos que se alongam de forma tortuosa e na natureza mitológica que expõe, demonstrando grande nível de erudição. Segundo Zélia de Almeida Cardoso, “das noventa e duas elegias que Propércio compôs, setenta e três se ocupam do amor e, na maioria delas, a figura de Cíntia domina o texto”. Pode-se, então, dizer que o tema principal da poesia properciana é o amor e que sua musa inspiradora é Cíntia, muito embora o poeta também tenha composto elegias com a temática patriótica. Vejamos um trecho da Elegia I do Livro I de Propércio: “Cynthia prima suis miserum me cepit ocellis, Contactum nullis ante cupidinibus. Tum mihi constantis deiecit lumina fastus Et caput impositis pressit Amor pedibus, Donec me docuit castas odisse puellas Improbus et nullo uiuere consilio.” (PROPERCE, 1929, p. 6) Vejamos a tradução a seguir no próximo slide : Tradução: “primeiro, com seus olhinhos, Cíntia cativou-me, infeliz de mim, nunca antes tocado pelo desejo amoroso. Então, o Amor abaixou os olhos constantemente altivos e oprimiu-me a cabeça tão logo tocou me com os pés, enquanto ensinoume a odiar as meninas castas e, ímprobo, viver sem nenhuma prudência.” Junto aos dois outros elegíacos, Tíbulo e Ovídio, Propércio forma a tríade que encerrará o longo caminho literário que o gênero elegíaco percorre tanto na Grécia quanto em Roma, onde o gênero obtém popularidade e dá fama àqueles que o adotam como forma de expressão. Aulus Albius Tibulus, o Tíbulo Poeta latino nascido provavelmente em Roma, em 55ª.C.e faleceu em 19 a.C. ou nos arredores da cidade eterna, tido como o segundo na clássica sequência dos grandes escritores de elegias que se estende até Ovídio. Juntamente com Propércio e Catulo, figuram como os maiores cultores do gênero introduzido na literatura latina- a Elegia - que recebeu influências da escola alexandrina. De origem nobre, teria perdido parte da fortuna nas guerras civis naquele momento da vida política de Roma (41 a. C.), em conseqüência do confisco de suas propriedades por Marco Antônio e Otávio. Protegido por Messala Corvino, estadista e incentivador das artes, o poeta frequentou o círculo desse ilustre patrício, donde faziam parte muitos talentos jovens. Tornou-se proeminente membro do seu círculo literário e, mesmo detestando as guerras, pois era um amante da paz, acompanhou seu amigo ao Oriente por dever de solidariedade, nas suas expedições à Gália e à Grécia. Esteve com Messala numa expedição à Aquitânia (27), porém a doença impediu-o de prosseguir viagem, ficando em Corcira (29 a. C.). Então retirou-se para sua casa de campo, onde se dedicou integralmente à poesia. Parte de sua obra foi reunida no Corpus Tibullianum, produção do círculo de Messala. Foi considerado por Quintiliano como o maior dos líricos, e influenciou, no Renascimento, Ronsard e seus discípulos. O Seu dileto amigo Messala mereceu lugar de relevo nas elegias do poeta. Nas elegias tibulianas, duas mulheres, Délia e Nêmesis, merecem destaque. A primeira, identificada como Plânia, foi exemplo de amor espiritual e puro; a segunda representou o amor sensual e epidérmico, uma reles cortesã, dilapidadora de bens alheios, ávida de interesses materiais. A sua devoção rural se combinou com seu amor da natureza. Ele não mais tinha alguma crença. Ele não explorou os detalhes da mitologia da religião para valorizar suas composições com a erudição, como faziam os poetas de Alexandria e seus imitadores. As superstições de Tíbulo eram uma parte da própria natureza que ele associava com o mesmo sentimento de ternura e de arte. Ele morreu ainda jovem, aos 36 anos de idade. Mereceu a homenagem fúnebre de Ovídio em Amores, III, 9. Com essa posição, ele fortificou a tendência da literatura da época com uma guinada no modo de pensar, fazendo admitir o declínio da religião do politeísmo ao submetê-la a um tratamento poético. Ele honrava seu protetor Messala com uma estima mais real do que tiveram Mecenas e os últimos protetores da cultura. Mas ele foi sobretudo um amante da poesia. Em resumo, pode-se dizer que ele foi o poeta da cultura e do lazer. Além de sua alta posição na história da poesia elegíaca latina, ele foi particularmente apreciado pela literatura posterior por causa do fim prematuro de sua vida e de seu original talento. Ele é celebrado numa das mais suaves elegias de Ovídio. A HERANÇA POÉTICA DE TÍBULO A estrutura do livro I de Tíbulo: as elegias dedicadas a Délia e a Márato, e as presenças de Messala e da Paz; a organização do livro II: as elegias dedicadas a Némese e a outros temas; a temática e as características gerais da obra de Tíbulo: a poesia elegíaca como opção de vida contrária aos valores predominantes na sociedade; a construção de um sonho; a presença de Messala na poesia de Tibulo. A relação do poeta com a ideologia augustana; o campo e a religiosidade campestre; a urbanitas tibuliana; o carinho e a argúcia no cotejamento; a dimensão eroticamente didascálica (preceitos) de certos passos; a ausência de mitologia; o desinteresse por questões de poética; a evasão da realidade e os “mitos” tibulianos. Tíbulo, igualmente, repudia os temas bélicos, preferindo tanger sua lira naqueles de amor, como confessa na seguinte passagem da elegia I, 1, v. 53-55: “Te bellare decet terra, Messalla, marique, ut domus hostiles praeferat exuuias: me retinent uinctum formosae uincla puellae.” “A ti, ó Messala, convém guerrear, na terra e no mar, para que a tua casa ostente os despojos inimigos: a mim retêm, cativo, os vínculos de uma formosa mulher.” As elegias de Tíbulo constituíram peça valiosa a enriquecer a literatura latina, conferindo a esta um posicionamento privilegiado no gênero elegíaco, que chegou a suplantar, por vezes, a própria elegia grega, a despeito das influências da escola alexandrina se terem mostrado evidentes. A linguagem cristalina e o rigor da perfeição métrica conferiram ao poeta os méritos de ser um dos maiores nomes da elegia em Roma. A POESIA DIDÁTICA:LUCRÉCIO Titus Lucretius Carus (ou Tito Lucrécio Caro, na forma portuguesa), poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C. As datas exatas de seu nascimento e morte não são conhecidas, mas geralmente são situadas entre 99 e 55 a.C. Pouco se sabe de sua vida. É provável, contudo, que tenha nascido em Roma, onde foi educado. Sua fama decorre do poema De rerum natura (Sobre a natureza das coisas), onde expõe a filosofia de Epicuro de Samos. Para Lucrécio, o epicurismo era a chave que poderia desvendar os segredos do universo e garantir a felicidade humana. Tão entusiasmado ficou que se propôs a tarefa de libertar os romanos do domínio religioso através do conhecimento da filosofia epicurista. Em De rerum natura Lucrécio apresenta a teoria de que a luz visível seria composta de pequenas partículas. Teoria incompleta, apesar de bastante consistente, é uma espécie de visão antiga da atual teoria dos fótons. Também neste poema, Lucrécio sustenta a idéia da existência de criaturas vivas que, apesar de invisíveis, teriam a capacidade de causar doenças. Esta idéia representa na realidade a base da microbiologia. Lucrécio matou-se em 55 a.C. e seu poema foi escrito em intervalos de ataques de loucura. A bem da verdade, as "circunstâncias da vida e da morte de Lucrécio são desconhecidas. A habitual informação de que ele se suicidou em razão de crises de loucura, acrescidas de perturbações amorosas, não é plenamente confiável. Só há um registro nesse sentido, transmitido por São Jerônimo, que, em seu tempo, foi um grande opositor de Epicuro e do epicurismo” (SPINELLI, Miguel. "O devotamento de Lucrécio a Epicuro e ao epicurismo". In Os Caminhos de Epicuro. São Paulo: Loyola, 2009, p.215ss). Além de Epicuro, Empédocles é seu grande orientador espiritual, e a este deve Lucrécio muito de suas concepções. Quanto à linguagem o seu grande mestre foi Ênio. O Poema De Rerum Natura é composto em seis cânticos. O primeiro é a Invocação de Vênus; princípio de toda a vida: Mimosa Vênus, mãe de Eneide Roma, Prazer dos homens e numes! Tu alentas Os astros, que dos céus no âmbito giram, as férteis terras, o naval oceano. Por ti, todo o animal recebe a vida! Logo ao nascer, na luz do sol atenta... Em seguida, expõe as leis de Demócrito e de Epicuro a respeito do Universo e termina mostrando, segundo seu conceito, quais as etapas que o homem e a civilização devem percorrer antes de alcançar a sabedoria, fim supremo da existência. Lucrécio descreve todos os fenômenos da natureza explicando-os por causas naturais. Além de fonte preciosa para o conhecimento do epicurismo – comenta-se que, modernamente, é muito mais estudado do que o próprio Epicuro - o poema de Lucrécio tem grande importância literária. Seus versos consagram o autor como um dos maiores poetas latino e sua obra como o maior poema filosófico de todos os tempos. Alguns Pensamentos de Lucrécio "A ninguém foi dada a posse da vida, a todos foi dado o usufruto." "Na verdade, aqueles suplícios que dizem existir No profundo Inferno, estão todos aqui, nas nossas vidas." "Assim como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo, Nós, na claridade, às vezes temos receio de certas coisas. Que não são mais terríveis do que aquelas que as crianças temem No escuro e pensam que acontecerão a elas." "É preciso afugentar com ímpeto esse medo do Inferno Que perturba profundamente a vida do homem, Estendendo sobre tudo a lúgubre sombra de morte E não deixando existir nenhuma alegria serena e inteira." "Para quem vive segundo os verdadeiros princípios, A grande riqueza seria viver com pouco, Serenamente: o que é pouco nunca é escasso." "Nada pode nascer Do nada." I, 127-131, 136-148 Temos de perscrutar com sério estudo das eternas regiões as leis constantes, os eclipses do sol, da lua as fases, e as causas dos fenômenos terrestres; mas antes vamos com sagaz finura entrar na construção do ânimo e da alma (...) Eu não ignoro quão difícil seja dignamente ilustrar em canto ausônio as invenções recônditas dos gregos; e agora muito mais que me constrangem matérias novas, e escassez de língua a criar palavras, que ninguém conhece. Porém as tuas ínclitas (nobres) virtudes, e o gosto que acho em infundir verdades num amigo, qual tu, que me és tão doce, me animam arrostar com árdua empresa. De noite apraz-me na mudez tranqüila as frases escolher, dar alma aos versos, que te iluminem de fulgor brilhante, e o seio oculto do universo te abram: com o raio solar, com a luz diurna tais trevas, tal terror não se dissipa; mas com o estudo tenaz da natureza. (Trad. Antonio José de Lima leitão (1851-1853 Caio Valério Catulo (84 a.C. - 54 a.C.) foi um sofisticado e controverso poeta veronense que viveu em Roma, durante o final do período republicano. Catulo se liga a um círculo de poetas de ideais estéticos comuns, os quais, Cícero chama de poetas novos (modernos), termo este, carregado de sentido pejorativo. Esse grupo de poetas rompia com o passado literário romano (mitológico), passando, entre outras características, a utilizar uma temática considerada “menor” pelos seus críticos. Sua obra se perpetuou através dos séculos que se seguiram, foi exemplo para grandes nomes que vieram depois como Propércio e Tibulo. Também foi muito lido por poetas como T. S. Eliot e Charles Baudelaire. Para Catulo, a verdadeira cidade devia assentar-se na sodalitas(companhia-convivência) dos amigos, com suas leis, amizades e inimizades. O poeta, no entanto, coloca diante de si uma mulher pública, envolvida com a política da época, chamada por ele de Lésbia, conforme os cânones da poesia alexandrina. Lésbia será o centro do universo poético preconizado pelo poeta, o qual também pertenciam os seus amigos. A paixão imedida de Catulo levou-o a uma vida agitada, dissoluta, envolvida por tantas paixões e contrastes, terminando por arruinar-lhe a saúde e lhe trazendo a morte quando contava com apenas 30 anos. QUEM FOI LÉSBIA? Lésbia (Clódia) foi mulher de Quintus Metellus Celer, filha de Appius Claudius Pulcher. Lésbia era um falsum nomen, segundo Ovídio. Sic sua lasciuo cantata est saepe Catullo Femina cui falsum Lesbia nomen erat. (Tristes II, 427-428) “Assim foi freqüentemente celebrada em versos pelo lascivo Catulo A mulher cujo pseudônimo era Lésbia.” Não foi difícil tirar tal conclusão, tendo em vista a admiração do poeta pela poetisa de Lesbos Safo. Além disso, Apuleio (séc. I d.C.) diz que Lésbia é Clódia, pois os poetas elegíacos escolhiam um pseudônimo que tivesse o número de letras igual ao do nome verdadeiro, conforme os cânones da poesia alexandrina (Lesbia/Clodia). Eodem igitur opera accusent C.Catullum Quod Lesbiam pro Clodia nominarit. (Apologia 10) A Lésbia dos poemas catulianos, pesava-lhe a suspeita de ter causado a morte de seu marido e que, após se tornar viúva, se amantizara com Caelus Rufus (cf. c. 77), pondo de lado Catulo, amante que tivera durante a vida com o marido. Rufe, mihi frustra ac nequiquam credite amice, (v.1) “Rufo!, que à toa e em vão pensei ser meu amigo”. O romance estabelecido entre o poeta e Clódia é a fonte de inspiração de toda a arte catuliana. Segundo estudos críticos, talvez a relação amorosa do poeta tenha começado por volta de 61-60, em Verona, época em que o marido de Clódia era governador da Gália Cisalpina. O primeiro encontro do poeta com essa patrícia, muito mais velha do que ele, deu-se no banquete de Lucullus, personagem do poema 4, no ano 63. O poema 68 fala-nos de alguns encontros furtivos proporcionados na casa de um amigo comum, situação freqüente nas classes superiores. ...isque domum nobis isque dedit dominam, atque ubi communes exerceremus amores. (v.68-69) “...me deu morada e deu-me à sua dona, e lá comuns nós praticávamos amores.” Como todos os poetas líricos, Catulo identifica-se perfeitamente com a tríade amor, mulher e poesia. A formosura de sua amada foi a todo momento celebrada, a ponto de comparar Cibele e Quíntia com Lésbia, pois o encanto físico foi determinante no seu amor (cf. c.51). ...et enum uenuste magno Caecilio incohata mater. (c.35, 17-18) ...bela está Cibele em versos de Cecílio, grande Quintia formosa est multis, mihi candida, longa, recta est. Haec ego sic singula confiteor (c.86, 1-2) “Para muitos Quíntia é bela, para mim é clara, esguia, bem feita; isto eu aceito.” No entanto, a beleza de tais mulheres não são comparáveis à beleza de sua Lésbia. Lesbia formosa est, quae cum pulcerrima tota est, tum omnibus una omnis subripuit ueneres. (c.86, 5-6) “Lésbia sim é linda: toda belíssima, só ela a todas roubou toda a graça.” O AMOR EM ROMA Em Roma, os antigos romanos consideravam o amor como uma loucura ou um delírio passageiro. A paixão amorosa era uma doença. Isto porque a paixão alienava a vontade própria e tornava o ser apaixonado dependente de outra pessoa. Sob o domínio da paixão, o homem perde seu poder, escraviza-se e aliena-se. Confiava-se à mulher (matrona) a responsabilidade da fecundidade, pois a mesma encarnava os ideais de segurança, estabilidade, permanência e perpetuação da raça, além de gozar na domus uma veneração tal qual à dedicada publicamente a Vênus. As Matronalia, celebração das mulheres casadas, e a Bona Dea remetem-nos aos ritos de fecundidade da Roma antiga. Estamos diante de uma sociedade viril, em que o caráter religioso da fecundidade está baseado na união mulher e homem. O amor conjugal é visto essencialmente numa perspectiva do "amor fecundo", ou seja, o homem ao desposar uma mulher vai naturalmente torná-la mãe. Daí haver uma preocupação, por parte do homem romano, de proteger as suas esposas das paixões ou outras forças maléficas que pudessem comprometer a estabilidade amorosa. O amor, como sentimento fundado no desejo carnal, foi uma situação social menosprezada pelos costumes romanos. A relação conjugal estava baseada na fides do matrimonium, ou seja, na lealdade da mulher ao marido, já que este podia lançar mão das cortesãs, instrumentos do prazer, cuja feminilidade, em princípio, fora profanada. Catulo foi um dos poetas latinos que mais cultivou a amizade, ao lado do amor, sendo estes temas de inspiração artística, desenvolvidos conforme a tradição grega: amizades vivas, porém acidentadas por rivalidades e traições. Dos 116 poemas do Liber, 68 referem-se a amizades e inimizades de personagens do relacionamento do poeta. Um dos seus confidentes foi Cornifício, ao qual Catulo lhe expressa a dor que perpassa a sua alma devido às infidelidades de sua amada Lésbia e chega a lhe pedir uma palavra de consolo. Já Alfeno Varo é um dos seus falsos amigos, pois lhe rouba a amada. Malest, Cornifici, tuo Catullo, malest, me hercule, est laboriose, et magis magis in dies et horas, quem tu, quod minimum facillimumque est, qua solatus est allocutione? Irascor tibi. Sic meos amores? Paulum quid lubet allocutionis, maestius lacrimis Somonideis. “Vai mal, Cornifício, o teu Catulo, vai mal e - por Hércules -, padece demais, muito mais, a cada dia, a cada hora. E tu - se era nuga, se era nada que consolo deste, que palavras? Sinto ódio. Assim, és meus amores? Só poucas palavras, certas, mais tristes que o lamento de Simônides.” Lésbia prometeu a Catulo um amorem iucundum perpetuumque - amor delicioso e perpétuo. No entanto, o poeta não se contenta e suplica aos deuses para que as palavras de Lésbia sejam sinceras ao ponto de elevar este amor a um aeternum foedus amicitiae - um pacto recíproco de afeição. Viuamos, mea Lesbia, atque amemus, rumoresque senum seueriorum omnes unius aestimamus assis. Vamos viver, minha Lésbia, e amar, e aos rumores dos velhos mais severos, a todos, voz nem vez vamos dar. Iocundum, mea uita, mihi proponis amorem hunc nostrum inter nos perpetuumque fore. Dei magni, facite ut uere promittere possit, atque id sincere dicat et ex animo, ut liceat nobis tota perducere uita aeternum hoc sanctae foedus amicitiae. “Minha vida!, me dizes que este nosso amor será feliz aos dois, será eterno. Deuses grandes, fazei que prometa a verdade, que sincera e de coração o diga e que nos seja dado, a vida inteira, sempre este pacto viver de amor sagrado.” No poema 87, o poeta mostra que o seu amor é verdadeiro, permanente e leal, afirmando que nenhuma mulher foi tão sinceramente amada como a sua Lésbia. Nulla potest mulier tantum se dicere amatam uere, quantum a me Lesbia amata mea es. Nulla fides nullo fuit umquam foedere tanta, quanta in amore tuo ex parte reperta mea est. (v.1-4) “Mulher alguma pode se dizer bastante amada quanto amada é por mim Lésbia. Em pacto algum jamais houve tanta confiança quanto a que em mim se viu em teu amor.” Já no poema 85, o amor é expresso no paradoxo odi e amo. E, no segundo verso, com a palavra excrucior ( palavra que significa "submeter ao castigo da cruz", pena reservada apenas para os escravos e, por isso, considerada infame), o poeta apresenta um desespero, um tormento acompanhado de sentimentos de culpa por ter alimentado ao longo dos anos um amor vão. Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris. Nescio, sed fieri sentio et excrucior. (v.1-2) “Odeio e amo. Talvez queiras saber "como?" Não sei. Só sei que sinto e crucifico-me.” Para Catulo, a felicidade do amor se realiza quando os seres "amam e são amados com igual ardor". Mutuis animis amant, amantur. (c.45, 20) “...com mútuas almas amam-se um ao outro.” Segundo Catulo, através do matrimonium, o homem e a mulher devem ser o exemplo de fraternidade universal. E, em seu poema 62, exorta a que se valorize o casamento, pois o casamento feliz, fundado no amor, é exigente. Et tu nei pugna cum tali coniuge, uirgo. Non aequom est pugnare, pater cui tradidit ipse, (c.62, 59-60) “E com marido assim não lutes, noiva, é injusto lutares contra aquele a quem te deu teu pai...” Lésbia nega-se ao casamento porque renuncia ao verdadeiro amor conjugal. E isto leva Catulo a uma situação de tortura em relação ao comportamento da amada que foge do aperfeiçoamento amoroso. Miser Catulle, desinas ineptire, et quod uides perisse perditum ducas. ............................................................ Nunc iam illa non uolt; tu quoque, inpotens, noli, nec quae fugit sectare, nec miser uiue, sed obstinata mente perfer, obdura. Vale, puella. Iam Catullus obdurat, ........................................................... Scelesta, uae te; quae tibi manet uita! ........................................................... At tu, Catulle, destinatus obdura. Infeliz Catulo, deixa de loucura, e o que pereceu considera perdido. ....................................................... Agora ela não quer: tu, louco, não queiras nem busques quem foge nem vivas aflito, porém duramente suporta, resiste. Vai, menina, adeus, Catulo já resiste, .......................................................... Ai de ti, maldita, que vida te resta? .......................................................... Mas tu, Catulo, resoluto, resiste.” “ A Lésbia da poesia catuliana é a personificação da Clódia Metelo, protótipo as mulheres dos fins da República, desejosa de prazer, sendo mais importante a busca do amor carnal que conduz à depravação dos costumes do que o dever prescrito pela moral institucional do casamento. Frontem tabernae sopionibus scribam. Puella nam mei, quae meo sinu fugit, amata tantum quantum amabitur nulla, pro qua mihi sunt magna bella pugnata, consedit istic. Hanc boni beatique omnes amatis, et quidem, quod indignum est, “...nessa taberna vou grafar grafitos pois a menina, que a meu peito foge, amada quanto ninguém mais será por quem tão grandes guerras já pugnei, senta-se aí. E ela, ledos, lestos, todos amais, é certo, e o que é indigno,” Finalmente, perdido tudo, resta-lhe esperar apenas pela morte enquanto Lésbia se diverte com os seus amantes (cf. c.11). Cum suis uiuat ualeatque moechis, quos simul complexa tenet trecentos nullum amans uere, sed identidem omnium ilia rumpens; nec meum respectet, ut ante, amorem, qui illius culpa cecidit uelut prati ultimi flos, praetereunte postquam tactus aratro est. “Vá viver e gozar com seus amantes, que, juntos, uns trezentos ela agarra nenhum de fato amando mas os membros rompendo em todos e não se volte mais ao meu amor que caiu por sua culpa como a flor do último prado, em que, passando, o arado então tocou.” CONCLUSÃO Esta análise nos faz concluir que o Liber de Catulo se organiza em torno da temática central do amor. Nos poemas amorosos de Catulo, podemos distinguir dois ciclos: um ciclo em que o poeta fala dos felizes momentos amorosos, e um outro relativo à cisão, reflexões do poeta e rompimento final, após o seu desencanto pela mulher amada. Catulo foi o poeta latino que, com mais sinceridade e verdade, expressou o sentimento amoroso, através de uma linguagem extremamente metafórica. Suas composições receberam grande influência de Arquíloco e Safo. Lésbia foi a inspiração dos poemas catulianos. Famosa por seus deleites amorosos, Lésbia, pseudônimo de Clódia, mulher do cônsul Metelus Celer, do ano 60, despertou no poeta uma paixão ardente que o fez sofrer muito, levando-o até mesmo a travar uma guerra sentimental. E, o próprio poeta, em seus poemas afirma que Difficile est longum subito deponere amore (c.76,13) - é difícil abandonar subitamente um longo amor e ...quam Catullus uanm/ plus quam se atque suos amauit omnes (c.58, 2-3) - aquela, única que Catulo amou mais que a si e todos os seus. Além de declarar a sua paixão pela musa sedutora, o poeta também ataca os amantes da amada e a vida dissoluta que caíra. Catulo quis praticamente assentar a sua relação com Lésbia, no entanto, a pietas, a fides, o hospitis officium, o sanctum foedus e o bene uelle foram todos traídos. Da leitura do Liber catuliano, podemos inferir que o poeta aspirava o amor do matrimonium, um amor que considera o outro um complemento positivo do seu próprio ser. No entanto, tanto Catulo quanto Lésbia não se descobrem verdadeiramente: amam e são amados de maneira diferente. O TEATRO LATINO: Plauto e Terêncio Tito Mácio Plauto (em latim Titus Maccius Plautus; Sarsina, cerca de 230 a.C. - 180 a.C.) foi um dramaturgo romano, que viveu durante o período republicano. As 21 peças suas que se preservaram até os dias atuais datam do período entre os anos de 205 a.C. e 184 a.C.. Suas comédias estão entre as obras mais antigas em latim preservadas integralmente até os dias de hoje, são quase todas adaptações de modelos gregos para o público romano, tal como ocorria na mitologia e na arquitetura romanas. Seus trabalhos foram também fonte de inspiração para muitos renomados escritores, tais como Shakespeare, Molière e outros. Personagens Os personagens de Plauto - muitos dos quais aparecem repetidamente em diversas de suas peças - também parecem ter vindo dos textos gregos, embora também tenham recebido algumas inovações. A própria adaptação destas peças impossibilitaria a utilização de tipos diferentes de personagens, pela onipresença de tipos como escravos, concubinas, soldados e velhos. Aulularia, ou A Comédia da Marmita, é uma comédia latina da autoria de Plauto, escrita no período de maturidade deste autor (entre 194 e 191 a.C.) Pensa-se que o original grego é da autoria de Menandro; o título do modelo, contudo, continua a ser muito discutido. Tendo como protagonista um velho avarento que faz tudo por tudo para guardar uma marmita cheia de ouro que encontrara em sua casa, esta peça é uma das mais divulgadas de Plauto. É uma comédia de intriga. AULULARIA: ATO IV Cena IX EVC: Estou perdido, liquidado, morto! Para onde correrei? Para onde não correrei? Pega, Pega! (Pega) quem? Quem (pegará)? Não sei, nada vejo, ando cego e, sem dúvida, não posso saber com exatidão com a cabeça (perturbada), para onde vou, ou onde estou, ou quem sou. Eu vos peço, rogo, suplico que venhais me socorrer e (me) mostreis o homem que a roubou. Que dizes tu? É certo que acredito em ti; na verdade, vejo que (tu), pela aparência, pareces bom. O que há? Por que estais rindo? Conheço todos: sei que existem vários ladrões aqui, que se escondem sob uma roupa branca e ficam sentados, como se fossem santinhos. Ah! Nenhum de vós está com (ela)? Mataste-me. Dize, então, quem está com (ela)? Não sabes? Ai, pobre de mim! Estou inteiramente perdido, terrivelmente perdido! Pessimamente assistido ando, tanto pranto, (tanto) mal e (tanta) aflição, fome e pobreza este dia me trouxe! Eu sou o mais arruinado de todos (os homens) na terra. Na verdade, de que vale a vida para mim? (Para mim), [que] perdi tanto ouro, o qual guardei com tanto cuidado, com (tanto) zelo! Eu mesmo me lesei, (acabei com) minha vida e meu prazer de viver; agora, conclusão, os outros se divertem com a minha desgraça, com a (minha) ruína. Não posso agüentar. LYC: Quem (é) este homem aflito, lamentando-se e se queixando diante de nossa casa? Mas, como suponho, certamente este é Euclião. Eu estou completamente perdido; o caso torna-se notório. (Ele) já sabe, como eu suponho, que sua filha teve um filho meu. Agora estou em dúvida. O que fazer? Ir embora ou ficar...? Ir lá falar com ele ou fugir? Por Pólux, não sei o que fazer. RECURSOS EXPRESSIVOS DA LINGUAGEM AFETIVA NA AULULARIA - Seleção vocabular A escolha das palavras constitui uma rica fonte de expressão da linguagem afetiva, pois se o falante prefere uma palavra a outra é porque aquela selecionada exprime melhor sua disposição afetiva ou contém algum traço a mais, ausente ou menos acentuado no termo substituído. Repetição de vocábulos Representa também outro recurso bastante expressivo da linguagem afetiva. São variados seus efeitos estilísticos. Desvio da ordem habitual O latim, língua casual, podia prescindir da posição como marcador sintático. Isto não quer dizer, entretanto, que não houvesse algum tipo de ordem dos termos na frase latina. Ela existia, mas não se tratava de uma ordem sintática, e sim usual, consuetudinária. Como diz Rubio (1989:193), “los hablantes latinos nos parecen dar por supuesto un orden natural de las palabras en sus frases”. A alteração dessa ordem constitui, portanto, um recurso da linguagem afetiva, usado pelo falante quase sempre com a intenção de fazer recair sobre o termo deslocado maior expressividade. Ocorre freqüentemente na Aulularia, com exemplos, que vão desde a transposição de um substantivo até o deslocamento de um verbo. TERÊNCIO Terêncio, Publius Terentius Afer, (ca. 170 a.C. — 160 a.C. ou 185 a.C. — 159 a.C.) foi um dramaturgo e poeta romano, autor de várias comédias como Andria, Phormio e Adelphoe. É atribuída a Terêncio a autoria da famosa frase: "Nada do que é humano me é estranho". Toda a obra de Terêncio, composta por seis comédias, resistiu a ação do tempo chegando é aos nossos dias. São elas: "Andria", "Hécira (sogra em grego)", "Heautontimoroumenos (o que se pune a si próprio - em grego)", "O Eunuco", "Formião", "Os Adelfos (os irmãos)".Pouco apreciado pelo público romano, que preferia as farsas mais vivas e coloridas de Plauto, foi mais apreciado na Idade Média e na Renascença, sendo muito imitado até os tempos de Molière. Foi tão grande a preferência por Terêncio na Idade Média que suas peças eram representadas nos colégios e na Renascença foram traduzidas em várias línguas. O EUNUCO O comediógrafo Menandro também se ocupou deste tipo de caráter na sua obra Cólax, que para além de adulador, como indica o termo, é um parasita. Este personagem e o militar Fanfarrão, que também figurava na obra de Menandro, foram incorporados por Terêncio nas figuras de Gnatão e Trasão, aceitando o latino que eram tipos inteiramente habituais na comédia grega e não na comédia latina como afirmava o comediógrafo Lúscio Lanúvio; 0 próprio Terêncio nega no Prólogo da sua obra Eunuco que existissem esses personagens numa suposta obra intitulada “O adulador”, escrita conjuntamente por Nécio e Plauto, como dizia Lúscio Lanúvio para desprestigiar o nosso autor. Na Cena II do Ato II do Eunuco, o personagem Gnatão define-se a si próprio como um adulador inteligente e conta que um conhecido seu, arruinado como ele, quer representar o personagem do simpático para conseguir as dádivas dos poderosos, ao que o próprio Gnatão contesta: “Já lá vai o tempo em que se ganhava a vida com esse tipo de coisas, isso era na geração anterior; hoje há uma nova maneira de armar aos pássaros; e fui eu precisamente que inventei o processo. Há uma classe de homens que querem ser os primeiros em tudo, e não o são; eu ando sempre atrás deles. Não me ligo a eles para que eles se riam de mim, mas sou eu que me rio espontaneamente para eles, e ao mesmo tempo admiro os seus talentos....” “Tudo o que eles dizem, eu aplaudo; se de seguida dizem o contrário, também o aplaudo; se alguém diz não, eu digo não; se alguém diz sim, eu digo sim. Enfim, impusme a mim próprio aprovar sempre tudo. Agora, esta profissão é, de longe, a mais produtiva.” ORATÓRIA : CÍCERO Marco Túlio Cícero (106 a.C – 43 a.C) foi filósofo, orador, advogado e político romano. São famosos os seus discurso, foi autor de diversos tratados filosóficos sobre o estado. Escreveu dez tratados filosóficos, quase 1000 cartas, dezenas de orações, tratados de retórica. Desenvolveu a prosa latina e suas obras são analisadas e estudadas até a atualidade. A vida literária de Cícero confunde-se com a oratória e por isso chamada de “época de Cícero”. As Catilinárias e as Filípicas - são talvez sejam os mais importantes discursos políticos de Cícero. As Catilinárias foram um conjunto de quatro discurso. Pronunciados em 63 a. C., nos quais o orador faz uma visível agressão violenta contra Catilina, seu rival político, acusado de pretender matálo e de ter desejado incendiar Roma. “Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor nos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará (de nós)? “(Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?). “Ó tempos! Ó costumes! O Senado tem conhecimento destes fatos, o cônsul temnos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais ainda, até no Senado ele aparece, toma parte no conselho de Estado, aponta-nos e marcanos, com o olhar, um a um, para a chacina.” E nós, homens valorosos, cuidamos cumprir o nosso dever para com o Estado, se evitamos os dardos da sua loucura. à morte, Catilina, é que tu deverias, há muito, ter sido arrastado por ordem do cônsul; contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós.” “ “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite com suas trevas pode manter ocultos os teus criminosos conluios, nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração, se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público? É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia, e importa que os recordes comigo nesta hora.” Cícero, o grande orador, discursa no senado contra o conspirador Catilina. AS FILÍPICAS Filípicas são um conjunto de discursos proferidos por Demóstenes contra Felipe II da Macedônia, conclamando os atenienses a lutar contra ele, já que representava uma ameaça à Grécia. Chamava-o de bárbaro. Cícero, na Roma antiga escreveu também uma oração que, inspirada neste modelo, designou de Filípica, quando Marco António ocupou o lugar de Júlio César. Marco Antônio era mal visto no senado, ao passo que Otaviano era uma possível massa de amoldar. Cícero, já velho, que se acostumara um pouco ao servilismo dos últimos tempos, reviveu os bons dias das palavras livres e fortes, com a série admirável de suas Filípicas. Iam longe vários anos desde as suas Catilinárias! Amadurecido e ponderado, não gasta mais aquele estilo frondoso, ampliativo, asiático, dos pomposos discursos de outrora. Suas 15 orações contra Antônio foram chamadas Filípicas. Jamais foi Cícero tão demosteniano, jamais deixou tão deliberadamente a caixa de perfumes de Isócrates, para ser direto, nervoso, simplesmente e unicamente orador. Elas constituíram, de certo, um glorioso fim de carreira. E ele prestou um enorme serviço a Otaviano, que pôde fazer com o Senado uma aliança contra Marco Antônio. Cícero foi incluído na listas dos proscritos, o orador fugiu porém foi alcançado pelos soldados de Antônio e foi morto em 7 de dezembro de 43 a.C., estava ele com 63 anos de idade. Cícero é uma das figuras da história cujo caráter está bem vivo, através de sua obra ele influenciou seu tempo, as gerações posteriores a sua e mesmo a atualidade, ele presenciou um importante momento da história romana, a transição da República para o Império. A PROSA LITERÁRIA. HISTORIOGRAFIA: JÚLIO CÉSAR, SALÚSTIO, TITO-LÍVIO, TÁCITO E SUETÔNIO. JÚLIO CÉSAR : Júlio César, que desempenhara o cargo religioso de «pontifex maximus» (cargo puramente honorífico, mas de grande valor simbólico, de custódio e garante da religião oficial) foi divinizado depois de morto com o título «Divus lulios», por decreto do Senado. Descreveu as suas campanhas da Gália no seu livro: «Comentários da guerra gaulesa»; no outro seu livro «Comentários da guerra civil» narra as suas lutas com Pompeu. “DE BELLO GALLICO” “Comentários sobre a guerra da Gália”compõe-se de sete livros, publicados em 51ª.C.aos quais, mais tarde, acrescentou-se um oitavo. A obra trata da descrição da região da Gália (França) e das várias campanhas dos soldados romanos na região. Ao registrar os fatos, Júlio César baseou-se na sua experiência nas batalhas e em documentos. “DE BELLO CIUILLI” Já a obra “Comentários sobre a guerra civil” compõe-se de três livros e trata das batalhas travadas entre as forças de César e Pompeu. Apresenta um caráter nitidamente político, em que César intenciona justificar a usurpação do poder, procurando despertar simpatias em relação a si próprio. Nas duas obras, a linguagem é simples e sóbria, sem ornamentos, evitando-se figuras de linguagem e vocabulário poético. Seu livro tornou-se leitura obrigatória para os estudantes de latim. Qual a extensão da região conquistada pelos romanos e quem eram as tribos e qual a cultura dos que lá habitavam e como fez César para dominá-la? É o que o se segue: César abre a primeira página do seu livro com uma das suas mais conhecidas frases: Gallia est divisa in partes tres, "a Gália está toda dividida em três partes". E, de fato, assim era. Bem ao norte, a Terra dos Celtas era habitada pelos belgas, no centro pelos gauleses propriamente dito, e, ao sul dela, pelos aquitânios. Politicamente, a parte meridional encontrava-se nas mão dos romanos desde 222-121 a.C., que a denominavam de Gália Narbonense, tendo como principal centro era o porto de Marselha. A posse dessa região costeira do Mediterrâneo, permitia-lhes trafegar seguros pela Via Domitia, a estrada que ligava a fronteira da Itália ao Leste, com a da Ibéria, ao Oeste. Geograficamente, ela se estendia de Milão, no Vale do Rio Pó, até o sopé das montanhas dos Pirineus. Foi para lá que enviaram Caio Júlio César, de distinguida e aristocrática família latina, como pró-cônsul da Gália Narbonense, no ano de 59 a.C. O povo que lá vivia, no que os romanos denominavam de Gália Comata, eram os celtas, separados entre si pelas mais diversas razões. Dividiam-se eles,de um modo geral, em galos Heudos, Arvernos, Belgas, e nos que compunham as tribos marítimas que habitavam nas margens do Atlântico (onde hoje se situam a Bretanha e a Normandia, departamentos da França). A organização política dos gauleses, ou a ausência dela, foi sua perdição. A Terra dos Celtas era uma barafunda de tribos que ora eram governadas por um pequeno número de nobres guerreiros, outra por reis ou chefes clânicos, e até por um curioso tipo de magistrado, o Vergobret, escolhido, tal como o cônsul romano, por um período de um ano. Sabendo explorar as desavenças e as eternas desconfianças reinantes entre os gauleses cabeludos, particularmente entre as duas grandes tribos que habitavam a parte central da Gália, os heudos e os arvernos, César se pôs em marcha. O pretexto para intervir na Gália transalpina foi a provável invasão dela pelos germanos, que faziam ameaças do outro lado do Rio Reno. Com apenas quatro legiões (a 7ª, a ª, a 9ª, e a 10ª), uns 24 mil homens, fora as tropas auxiliares, Júlio César deslocou-se pelos seis anos seguintes, entre 58 a 52 a.C., por quase todo o território da Gália, impondolhe a obediência ao gládio e à lei de Roma. Sob seu comando, à sua disposição, ele tinha a maior invenção de Roma em todos os tempos: a Legião. Impressionante parte da máquina de guerra romana, cada legião tinha um efetivo de 5000 a 5500 soldados engajados por contrato. Disciplinados e bem treinados, divididos em coortes, em centúrias e decúrias, os legionários, auxiliados por uma cavalaria audaz, realizavam maravilhas nos campos de batalha. Eles não tinham descanso. No acampamento era o momento em que o pilus (a lança) era substituída pela pá. O próprio César revelou-se um comandante notável. Vestindo o paludamentum, uma cota militar vermelha para poder ser visto de qualquer canto da batalha pelos seus soldados, foram inúmeras as vezes em que ele empunhou um escudo e foi para as linhas de frente dar ânimo aos seus soldados; bateu os helvécios, os germanos, os belgas, os vênetos e armóricos, os bretões e finalmente sufocou a resistência dos gauleses arvernos. O levante de Vercingetórix, o chefe dos galos arvernos, foi um dos mais impressionantes e emocionantes acontecimentos da história antiga. O grande caudilho, decepcionado pelo conformismo da nobreza gaulesa com a ocupação romana, "faz nos campos", narrou César, "um alistamento de pobretões e homens perdidos. Com esta tropa chama a seu partido todos os da cidade, que vai encontrando; exorta-os a tomarem armas pela liberdade comum". A essa altura a Gália inteira ferveu. O gaulês insurgente consegue impor uma derrota parcial às legiões de César que tentaram capturá-lo em Gergóvia (perto de ClermontFerrant), conclamando então o povo a uma guerra total contra os romanos: que eles queimassem tudo, as choças e as colheitas, nada deixando ao invasor. César, porém, se recupera e aplica sucessivas derrotas à cavalaria gaulesa. Vercingetórix, retirando-se com 80 mil homens e 9 mil cavalos para Alésia, no alto do Monte Auxois, pensa em repetir Gergóvia, onde resistira com êxito ao sitio do romano. Só que desta vez foi diferente. César tomou-se de precauções. Os seus engenheiros traçaram rapidamente um plano de circunvalação do oppidum, a fortificação dos gauleses. De novo, os 55 mil legionários empunharam a pá. Em seis semanas eles abriram mais de vinte quilômetros de trincheiras, montando um complexo sistema de valos, fossas, armadilhas as mais diversas, e uma paliçada completa, com torres erguidas a cada 120 metros. César decidira-se matar os gauleses pela fome. Vercingetórix, liberando sua cavalaria, ordenou que eles trouxessem reforços de todas as partes da Gália. Novamente César se precaveu. Uma outra circunvalação foi escavada, desta vez voltada para fora, para poder resistir ao inevitável ataque que viria dentro de uns tempos. De fato, uma massa de 250 mil gauleses de quase todas as tribos, partira em socorro do capitão gaulês preso pelo garrote romano em Alésia. Enquanto isso no interior da cidade cercada, a fome fazia seus estragos. Casos de antropofagia começara a ocorrer. As esperanças de Vercingetórix de ser salvo se esvaíram quando ele viu lá dos altos da sua paliçada, os romanos de César aplicarem uma derrota acachapante nos reforços que viriam tirá-lo do sufoco. Eles conseguiram por a correr aquela multidão formidável. A batalha pela liberdade estava perdida. A Gália cativa. Vercingetórix, vestido de uma armadura luzente, montado em seu corcel (cavalo) se desfez de tudo e foi sentar-se aos pés de César. Os demais gauleses sobreviventes foram entregues aos legionários como butim (despojos) de guerra. O bravo Vercingetórix foi posteriormente conduzido à Roma onde terminou decapitado, talvez uns cinco anos depois de Alésia. JÚLIO CÉSAR DITADOR JÚLIO CÉSAR tornou-se ditador em 46 a.C. e morreu assassinado nos idos de março de 44 a.C. numa conspiração de senadores, entre os quais, Bruto que, uns anos antes, estava com ele, ajudando-o a derrotar Vencingetórix. O poder depois da morte de César foi disputado entre seu sobrinho-neto Otávio, e um antigo auxiliar de César, Marco Antônio (também um veterano das Guerras da Gália). Para a Gália, a derrota em Alésia significou a derrocada da cultura celta e sua substituição pela romana. César, ao ordenar que o latim se tornasse a língua oficial das tribos gaulesas submetidas, foi, de certa forma, um dos forjadores da língua francesa atual, uma das mais belas heranças da Roma Antiga. Deste então, surgiu na Gália uma nova civilização: a Galoromana. SALÚSTIO : 86-34 a.C.), foi um dos grandes escritores e poetas da literatura latina. Nasceu em Amiterno, na Sabina, em 86 a.C. em uma família interiorana, mas de posses, teve uma formação requintada. Foi cedo para Roma, e recebeu apoio de pessoas de influência da sua família. Com o apoio de César, Salústio foi eleito questor(finanças) cargo que lhe assegurou uma cadeira no Senado Romano. Investiu contra adversários de César, e estes passaram a ser seus adversários, como Milão e Cícero. A inimizade que Salústio tinha para com Cícero se encontra refletida em sua obra; por exemplo, nos episódios relativos à conjuração de Catilina, o autor se mostra hostil a Cícero. Não entra em muitos detalhes quanto à importante participação de Cícero durante o ocorrido. Não reproduz nem mesmo os discursos de Cícero no Senado Romano, discursos estes que até hoje são lembrados pela historiografia política. Em compensação, Salústio descreve, com riqueza de detalhes, o discurso de César, com quem colaborava. Embora favorável a Júlio César e hostil a Cícero, Salústio expõe os planos de Catilina para tomar o poder. Trata do fracassado plano de ser cônsul e da frustrada tentativa de assassinar seu concorrente, Júlio César. A obra, no entanto, apresenta certas imprecisões históricas. O estilo é sóbrio, elegante e conciso, com várias descrições e inserções de cartas e retratos. No final de sua carreira política, ele passou a se dedicar à literatura. Já desiludido com a corrupção em Roma, escreveu sobre a decadência do povo romano e foi útil ao descrever dois grandes momentos do fim da república romana: a Conjuração de Catilina e a Guerra de Jugurta, episódios sobre os quais escreveu no período que vai da morte de Cícero. Período de 43 a.C à guerra Purúgia, em 40 a.C., quando os grandes personagens da conjuração, Crasso, Pompeu, Catão, César, Cícero e o próprio protagonista, Catilina, já haviam desaparecido do cenário político. As obras que nos chegaram de Salústio são: as duas monografias históricas (A conjuração de Catilina e A guerra de Jugurta), um tratado (incompleto) de cinco livros intitulado Histórias, sobre os acontecimentos de 78 a 67 a.C., quatro discursos e quatro cartas, duas das quais dirigidas a César. Salústio usa de suas narrativas como um pretexto para criticar os erros políticos cometidos pelos que detiveram o poder em Roma, principalmente aqueles de Cícero, seu inimigo político e pessoal. Como é o caso da obra a seguir “De coniuratione Catillinae É com base em sua De coniuratione Catilinae e, principalmente, nas descrições que Salústio faz de Catilina, seu caráter, sua moral e seu perfil psicológico, que se realiza o retrato de Catilina, elencando uma série de questões que surgem quando se pretende analisar um retrato de personagem, sobretudo o de uma figura ilustre, separada de nós por mais de dois mil anos. Como historiador, ao longo dos séculos, Salústio tem sido alvo de todo tipo de crítica: há os que não vêem nele tal função, mas sim a de literato; a Idade Média o admirou ao tomar seus prólogos, indevidamente, como tratados de moral; o Renascimento o acusou de tendencioso por não ter dado maior destaque à figura de Cícero; o século XIX o viu como um homem que participou ativamente da vida política do seu tempo ao lado de César. Em Roma não havia, até então, a concepção de história como um gênero literário. Os analistas registravam os fatos ano a ano, de maneira global e, às vezes, fragmentária; as biografias encomendadas constituíam uma “literatura de conteúdo encomiástico (elogio) e objetivo político”; finalmente, os comentarii eram diários, anotações autobiográficas e memorialísticas. A monografia histórica é inaugurada em Roma por Salústio. Não se pode afirmar até que ponto os relatos de Cícero foram utilizados por Salústio na composição do De coniuratione Catilinae, não apenas porque o historiador já havia se retirado do meio político, mas também pela suspeita de uma inimizade entre os dois, defendida pelos críticos que vêem na obra de Salústio um panfleto político contra Cícero, ou, mais especificamente, uma resposta ao De consiliis suis de Cícero, obra que faz revelações que contêm evidências contra César e Crasso. QUEM FOI CATILINA? Lúcio Sérgio Catilina (em latim Lucius Sergius Catilina), foi um político romano (?, 109 a.C. - Pistoia, 62 a.C.). De família patrícia, mas pobre, Catilina teria iniciado desde cedo uma vida de crimes e vícios. Apoiou Lúcio Cornélio Sula, tornando-se seu agente. Durante as proscrições deu demonstrações de ambição e crueldade. Em 77 a.C., foi questor, em 68 a.C. pretor e em 67 a.C./66 a.C., governador da África. Tentou ser nomeado cônsul, sem sucesso. Irritado e pressionado por dívidas, não viu outra saída a não ser através de uma conspiração, na qual reuniu jovens nobres e arruinados. No entanto, a tentativa de assassinato dos dois cônsules designados falhou (65 a.C.), juntamente com sua candidatura para cônsul (63 a.C.). Quando amigos de Catilina começaram a se sublevar, Cícero - o cônsul escolhido conseguiu plenos poderes e interpelou Catilina em pleno Senado: Qvosque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra? (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?) Catilina, forçado a se desmascarar, optou pela luta aberta. Preparações foram feitas através da Itália, especialmente na Etrúria, onde a revolta foi iniciada por Mânlio, um dos veteranos de Sula. Frustrou-se um plano para matar Cícero e, no dia seguinte, este pronunciou um discurso violento contra Catilina, que fugiu para chefiar seu exército na Etrúria. Depois de mais um dia, Cícero fez novo discurso contra Catilina, desta vez no fórum romano. Condenação à morte Enquanto isso, os conspiradores em Roma tentaram induzir alguns enviados gauleses que se encontravam na cidade a unirem-se a eles. Cícero, porém, conseguiu reunir provas documentais e os conspiradores foram presos e condenados à morte. Essa condenação foi posteriormente criticada como violação da Lei, pois o Senado romano não tinha o poder de vida e morte sobre o cidadão romano. No início de 62 a.C., Catilina viu-se cercado pelas legiões de Marcelo Celer e Antônio, morrendo na luta e inspirando uma frase de Floro: Bela morte, assim tivesse tombado pela Pátria. Tito Lívio (Titus Liuius- 59 a.C.17d.C.) Conhecido em português por Tito Lívio ou simplesmente Lívio, é o autor da obra histórica intitulada "Ab urbe condita" ("Desde a fundação da cidade"), onde tenta relatar a história de Roma desde o momento tradicional da sua fundação 753 a.C. até ao início do século I da era comum, mencionando desde os reis de Roma, tanto os primeiros como os Tarquínios. O título da sua obra conhecida (embora com lacunas), Ab Urbe Condita, que pode ser traduzido como "Desde a fundação da cidade", deixa claro que o autor pretendia narrar a história de Roma desde a sua mítica, lendária fundação. Tito Lívio foi um dos principais representantes do gênero histórico em Roma. Sua obra é composta de cento e quarenta e dois livros (142) livros, dos quais temos conhecimento de apenas trinta e cinco (35). Neste texto, aborda desde a fundação de Roma até os fatos contemporâneos a ele. Em sua obra, Tito Lívio preocupa-se com a restauração dos antigos costumes (a valorização da simplicidade, da austeridade, da moderação, da coragem, da lealdade, do civismo e da piedade). Ao escrever, utiliza a primeira pessoa do discurso, interpretando os fatos, porém mostra sua admiração pelos defensores da república, sem bajulação. Ele considerava a história como uma forma de ensinar, no presente, a partir da valorização do passado. Estilo sóbrio e conciso e conhecedor de técnicas de oratória. A obra está concebida como uma narrativa analítica (ou seja, em "anais"), modelo característico da historiografia romana, sobre seções cronológicas marcadas pelos eventos mais importantes de cada ano, tais como a eleição de cônsules, que são usados como pontos de referência e datação. Tito Lívio reconhece a falta de documentação anterior a 390 a.C., ano do saque de Roma pelos gauleses, dificultando, portanto, algumas informações históricas até então. É logo no começo do livro I que Tito Lívio narra a ocupação do Capitólio (pelos gauleses), embora tenha sido não esta mas o Palatino a primeira colina ocupada. No parágrafo 10, entre as hostilidades surgidas por conta do rapto das sabinas, Tito Lívio relata que Rômulo resolve depositar no Capitólio, como dádiva, os despojos de guerra de um dos chefes inimigos, dedicando no local um templo a Júpiter Ferétrio. É altamente significativo notar que essa vitória de Rômulo é exatamente o primeiro triunfo militar de toda a história de Roma: após fundar a cidade e convocar homens para habitá-la, Rômulo promove o rapto das sabinas e só daí surgirão os primeiros inimigos. Na verdade, estes não serão sequer os sabinos, mas sim os seus aliados ceninenses, que Tito Lívio caracteriza como fracos. Tácito também parece confirmar a versão de Dionísio de Halicarnasso. Ver Anais XII, 24, onde ele afirma que o Capitólio, juntamente com o Fórum, foi integrado a Roma por Tito e não por Rômulo. A importância do Capitólio em Tito Lívio está associada à importância dos sentimentos de fides e pietas e da observância correta dos rituais religiosos. Assim como em Tito Lívio, a observância do ritual e a obediência à religião, como fator de dedicação ao Estado, aparecem em Tácito, só que de uma forma invertida. A ausência total de fides e pietas em Nero ou durante a guerra civil descaracteriza e enfraquece terrivelmente a grandeza romana, através da corrupção da moral individual e pelo desrespeito com o Estado e seu componente religioso representados pelo Capitólio. Tito Lívio escreveu a maioria da sua obra durante o reinado de César Augusto, embora alguns autores atuais afirmem que era partidário da República e que desejava a sua restauração. Porém, como os livros contendo a descrição do fim da República Romana e a ascensão de Augusto não chegaram aos nossos dias, não existe confirmação dessa asserção. Os principais méritos de Tito Lívio foi o enfocar a história do ponto de vista moral e elevar a prosa latina ao mais alto grau de expressividade, correção e vigor. Devido a sua grande admiração por Cícero, Tito Lívio gostava da frase ampla e abundante. Ab Urbe condita libri Ab Urbe condita (literalmente, "desde a fundação da Cidade") é uma obra monumental escrita por Tito Lívio que narra a história de Roma desde a sua fundação, datada em 753 a.C. por Marco Terêncio Varrão e alguns investigadores modernos. Esta obra foi escrita por Tito Lívio (59 a.C. - 17) e é frequentemente referida como História de Roma ou História de Roma desde a sua Fundação. Os primeiros cinco livros foram publicados entre 27 a.C. e 25 a.C. A coleção é vital para muitas descrições, retratos, histórias e outros projetos referentes ao Reino e à República de Roma. Contém muitas referências a fontes, e apresenta uma história geral de Roma num estilo literário que facilita a sua compreensão e leitura. Contudo, a fiabilidade (fides) da obra foi questionada com frequência, pois Tito Lívio era um romano e os seus relatos, muitas vezes, parecem tendentes a glorificar o seu próprio povo. Apesar disso, os livros são de um incalculável valor, pois que refletem as reações dos próprios habitantes da antiga Roma ante os acontecimentos históricos, os seus interesses e os seus diversos costumes e tradições. Outras fontes, como Vidas dos Doze Césares de Suetônio, costumam coincidir com Tito Lívio quando tratam períodos de tempo que estivessem cobertos pela História de Roma. Tácito ( Publius Cornelius Tacitus) Historiador romano)-nasceu em 55 d.C.e morreu, provavelmente no sul da França em 120 dC. Publius, ou Caius, Cornelius Tacitus, Públio Cornélio Tácito ou simplemente Tácito, historiador latino, foi questor(finanças), pretor (88), cônsul (97), procônsul da Ásia (aprox. 110-113) e orador. É considerado um dos maiores historiadores da antiguidade. Sua principal obra pode ser considerada “Histórias” (“Historiarum libri”), que, originalmente, se compunha de doze ou catorze livros. Chegaram aos nossos dias os quatro primeiros livros e fragmentos do quinto. “Todas as coisas que hoje consideramos antiqüíssimas foram novas um dia." Essa advertência de Tácito ilustra bem nossas dificuldades com o passado. Graças a Tácito, muitas vidas ilustres se tornaram conhecidas. De sua própria vida, no entanto, pouco se conhece. Seus dotes oratórios como jurista já eram reconhecidos, mas foi como historiador que Tácito alcançou a fama. Entre os anos 100 e 117, escreveu os "Anais". Neles, Tácito relatou a história dos imperadores romanos desde Tibério até a morte de Nero. Nas "Histórias", redigidas entre 100 e 110, recriou o período seguinte, que vai até o reinado de Domiciano. Além dessas duas obras monumentais, Tácito escreveu a "Germânia" (em que trata da vida e da cultura dos povos germânicos) e alguns outros textos. Como prosador, seu estilo combinava clareza, eloqüência e concisão. Em sua obra, Tácito afirma sua intenção de rejeitar as adulações e os ódios pessoais ao expor os fatos históricos. Compõe um detalhado retrato de Roma, descrevendo o assassinato do imperador Galba, e narrando a entrada triunfal de Vitélio em Roma e também a batalha de Cremona. Vale registrar:...Tácito escreveu: "A Justiça não é bela quando apenas manuseia o Código e o aplica; é bela, chega a ser grandiosa, quando mergulha na profundeza do caso que julga".... ALGUNS PENSAMENTOS DE TÁCITO: “Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer." "Os chefes são líderes mais através do exemplo do que através do poder." "Muitos dos que parecem estar lutando contra a adversidade são felizes; muitos, em meio a grande afluência, são totalmente infelizes." "Até no melhor dos homens, o desejo da glória permanece mais tempo do que qualquer outra paixão." "Se você estimular que eles [os inimigos] bebam em excesso e der a eles quanta bebida quiserem, será mais fácil derrotá-los." OBRAS : GERMÂNIA A grande obra tacitiana acerca dos usos e costumes dos antigos germânicos, foi elaborada ao tempo de Trajano, em plena guerra, insuspeitando o autor a preciosidade monumental, qual insinua Burnouf, que legava à posteridade, a respeito daqueles povos. “Curta a obra”, aprecia Montesquieu, “porque é obra de Tácito, que tudo abrange e tudo vê.” A SEGUIR UM EXCERTO DE “GERMÂNIA” “O divino Júlio (César) o mais eminente autor refere que o poder dos Galos fora maior nos tempos antigos; e assim parece verossímil, que eles (gauleses) tenham passado também para a Germânia. Porque muito pequeno era o obstáculo de um simples rio para que a nação, segundo ia prevalecendo (fortalecendo), não deixasse suas terras por outras, que eram comuns a todos e ainda indivisas? De maneira que os Helvétios tiveram todas as compreendidas entre a floresta Hercínia e os rios Reno e Meno; posteriormente os Boios, passaram mais adiante entre ambos povos da Gália. Resta ainda o nome de um lugar chamado Boiano (Boêmia), e significa recordação daquele povo (habitantes). Os Úbios ainda que mereceram ser colônia dos romanos preferem que os chamem Agripinenses, de nome de seu fundador, coram (envergonham) de sua origem, porque tendo se apossado desta parte foram conservados para experiência de sua fidelidade sobre a mesma margem para que a defendessem e não para serem vigiados (prisioneiros).” Concomitantemente, não há nenhuma tradução que consiga verter para vernáculo o estilo complexo do historiador (no entanto, aprofundar essa questão será entrar pela teoria da tradução, que não é o que pretendo — até porque a conclusão será, invariavelmente, afirmar que o tradutor é um traidor). Mais preocupante ainda é a inexistência, em absoluto, de qualquer tradução portuguesa dos Anais ou das Histórias, por muito má que fosse. De Tácito, em português, há apenas uma tradução de Adolfo Casais Monteiro da Germânia (publicada pela Editorial Inquérito — e atualmente esgotada); e uma tradução das obras menores (Agrícola, Diálogo dos Oradores e a mesma Germânia) feita por Agostinho da Silva. Outras obras de Tácito: Agrícola (A Vida de Júlio Agrícola) (98dC). Biografia de seu falecido sogro, com um que de louvação fúnebre e um certo caráter de monografia histórica (como Catilina ou Jugurta de Salústio), por suas digressões históricas e geográficas. Tácito estava preocupado em demonstrar que se podia viver no reinado de um mau imperador como Domiciano: não se dedicando a uma fútil oposição (como a de Helvídio Prisco), mas servindo ao Estado (como era, implicitamente, o seu caso e o de Agrícola). Anais (escritos entre 116 e 118 dC). Composto por 16 volumes, que abrangiam os anos de 14 a 68 dC. Sobreviveram os volumes 1 a 6 (com exceção de grande parte do volume 5), e 11 a 16 (com exceção da abertura do volume 11 e encerramento do 16). Tácito escreve com brilho assombroso. Ficamos maravilhados com seu estilo, sua dramaticidade e seus epigramas; somos inevitavelmente influenciados por seus subentendidos, e podemos rejeitar seu pessimismo, mas nossa visão do início do império é freqüentemente condicionada por aquilo que Tácito julga conveniente citar ou emitir. Nenhum outro autor romano continua a influenciar, de modo tão efetivo, a visão dos acontecimentos por ele narrados, embora as pesquisas estejam conseguindo desvendar pouco a pouco as técnicas complexas e sutis utilizadas por ele. Suetônio (Caius Suetonius Tranquillus – 69?- 141 d.C.) Caio Suetónio Tranquilo, em latim Gaius Suetonius Tranquillus, ou simplesmente Suetônio, foi um grande escritor latino que nasceu em 69 da era cristã, em Roma e faleceu por volta de 141. Foi secretário do imperador Adriano. É considerado mais biógrafo do que propriamente historiador. Sua principal obra é “Vidas dos doze Césares” (120 d.C.). Nessa obra, ele apresenta a biografia dos doze primeiros imperadores de Roma, seguindo sempre o mesmo esquema : origem, nascimento, nome, carreira, reinado e morte. Suetônio se situa num vasto escalão intermediário da literatura latina. Não teve a grandeza dos autores do apogeu, como Virgílio, Horácio, Cícero, Ovídio, Tito Lívio, aos quais foi posterior. Nem de um Juvenal, que lhe foi posterior. Foi amigo de Plínio. Apesar de Suetônio não conseguir isentar-se totalmente de fazer certo julgamento dos imperadores que ele retrata, a obra de Suetônio tem sido muito utilizada como fonte de pesquisa para diversos livros e filmes relacionados à história romana. Suetônio foi um grande estudioso dos costumes de sua gente e de seu tempo e escreveu um grande volume de obras eruditas, nas quais descrevia os principais personagens da época. Foi, sobretudo, um indiscreto devassador das intimidades da corte romana, dando-nos uma visão íntima dos vícios dos imperadores e das picuinhas que dividiam a nobreza. Suas obras principais foram: De Ludis Grecorum; De Spectaculis et Certaminibus Romanorum; De Anno Romano; De Nominibus Propiis et de Generibus Vestium; De Roma et ejus Institutis; Stemma Ilustrium Romanorum; De Claris Rhetoribus; e A vida dos doze Césares, a mais conhecida, que chegou até nossos dias. Morreu em Roma e sua celebridade deve-se principalmente às obras como De viris illustribus, sobre as vidas dos mais importantes autores romanos, como as biografias de Horácio e Virgílio, e De vita caesarum, a mais importante de suas obras conservadas, coleção de biografias de Júlio César e dos 11 imperadores até a morte de Domiciano, organizadas por tópicos. Dado o caráter de avaliações críticas, humorísticas e ridicularizantes, as obras de Suetônio tiveram grande popularidade na Idade Média e no Renascimento, principalmente as anedotas, muitas delas baseadas em rumores ou simples boatos. Suetônio é uma espécie de colunista social do Império Romano. “O antigo dono do exemplar que estou lendo alertou-me sobre isso, e disse ter parado de ler por este motivo. Imaginem o tamanho do meu sorriso.” O colunismo social é um aspecto muito útil na elucidação de um povo, de uma época, e não deve nada a formas de documentação consideradas mais sérias. Além das entrelinhas onde brotam diversas interpretações interessantes, existe ainda o texto direto, que pode ser hilário, engraçado. O texto de Suetônio pode ser visto como um complemento ao Satyricon de Petrônio, dando ângulos novos à época. Suetônio tem um certo padrão na descrição de cada um dos Césares. Primeiro, ele define a origem familiar do indivíduo, e depois parte para um apanhado geral da carreira política e administrativa. O passo seguinte é falar das realizações, para fechar com a parte realmente divertida: os podres. A obra de Suetônio deve ser considerada como o amadurecimento político do autor, que, ao fazer a histórica avaliação política do império, representado pelas duas casas mais significativas (Júlio-Claudiana e Flávia) pendeu muito mais para a democracia e pela liberdade do que pela monarquia ou pela aristocracia, talvez ainda em razão de seu espírito de “eques romanus” oposto a esta última. Na obra “As Vidas dos Doze Césares”, percebe-se não uma biografia isolada ou a história de um cidadão-imperador, mas um universo de acontecimentos relativos a doze governantes, que transformaram a vida dos povos envolvidos, no período que circunscreve a ascensão de César ao poder até a queda de Domiciano. EXCERTOS DA OBRA DE SUETÔNIO: “No retiro de Capri imaginou uma sala com cadeiras, como lugar adequado para encontros secretos libidinosos, no qual grupos de moças e jovens licenciosos e inventores de complexos, chamados “sphintrias”, chamados de todas as partes, unidos em grupos de três, se prostituíam entre si, na presença dele, afim de que, com esse espetáculo pudesse reativar seus desejos e carências. ( SUETONIO, 1983, p. 136,).” entretanto, como tivesse lido no atos do senado, que alguns acusados, a respeito dos quais se limitara a escrever sucintamente que haviam sido apontados por delatores “estavam sendo absolvidos mesmo sem interrogatório, tremeu pensado que estava sendo desprezado, e resolveu, a todo custo, recolher-se a Capri, não ousando mais agir a não ser em lugar bem seguro”. (idem, p. 188, ). “ Vê-se, ainda, em Capri, o lugar das execuções, de onde ele mandava precipitar os condenados, na sua presença, depois de tê-los feito sofrer os mais longos e refinados martírios; um grupo de marinheiros recebia as vitimas e espancava os cadáveres, a golpes de varas e de remos, temerosos de que ainda lhes restasse algum sopro de vida”. “ Na biografia de César, Suetônio narra uma passagem em que se verifica uma profunda admiração do imperador Alexandre Magno, expressa com estas palavras: “no templo de Hércules encontrou uma estátua de Alexandre, o Grande. Diante dele lamentou-se e confessou-se, como se tivesse fraquejado, que nada havia feito ainda de memorável, numa idade em que Alexandre já havia dominado o mundo.” A VIDA DOS DOZE CÉSARES Neste clássico da literatura universal, Suetônio nos apresenta biografias de 12 imperadores romanos da história do mundo ocidental: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Galba, Óton, Vitélio, Vespasiano, Tito e Domiciano. Faz também uma referência a Júlio César. Ao mesmo tempo que examinamos este período histórico, que vai da ascensão à queda do Império Romano, conhecemos também, neste relato, um pouco da intimidade da vida de cada um dos doze césares: seus ancestrais, suas campanhas militares, os sinais tidos como prenúncios de seus nascimentos e os eventos que os levaram à morte, além de um pouco do caráter e da personalidade de cada um deles. A intenção de Suetônio foi retratar o caráter humano dos 12 césares, ressaltando o quadro de violência e luxúria que havia na antiga Roma. Esta obra é extremamente valiosa para conhecimento da Antigüidade Clássica, graças ao volume de informações históricas que registra. A narrativa ocorre exatamente no período que dividiu a história do mundo em duas partes: antes e depois do Império Romano. O grande autor romano nos deixou em sua obra as histórias de: Júlio César ( que por um período segurou o mundo nas mãos e tem uma história de vida incrível ); Otávio Augusto ( que retirou Alexandre, o grande do santuário onde repousava, tornou o Egito província de Roma e fez voltar os gladiadores ao circo máximo dizendo que o povo precisava de pão e circo); Tibério ( um imperador agarrado ao dinheiro que não erigia monumentos suntuosos e era violento em seus desejos ); Calígula (este muito conhecido por suas atrocidades e um imperador que não se importava de sujar as próprias mãos, tanto que mereceu um livro só seu escrito por Alan Massie); e ainda Druso, Cláudio, Suplício Galba, Sálvio Óton, Vitélio, Vespasiano, Vespasiano Augusto e Domiciano. Todos eles em detalhes de suas vidas desde a infância até a derrocada. Curtas biografias de homens que marcaram o mundo. Agradáveis de ler, interessantes de desvendar. Creio que nos importa conhecer, não apenas por curiosidade mas pelo legado que deixaram na cultura latina, estes homens e seus feitos. A forma que deram ao mundo de então. As conquistas, o teatro, literatura, ciências e descobertas que financiaram. Mesmo em meio a loucuras, orgias sexuais, intrigas, guerras, disputas por poder e seus gênios de soberba e descontrole, os grandes homens de Roma nos deixaram uma herança histórica digna de ser conhecida. Um super clássico. Literatura rápida por ser segmentada. Fonte de pesquisa para estudantes. Fonte de conhecimento para os interessados. Abandone um pouco os livros da moda e dê uma oportunidade ao velho Suetônio para levar você pelas ruas e palácios de Roma. Religião Romana Os romanos eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. A grande parte dos deuses romanos foram retirados do panteão grego, porém os nomes originais foram mudados. Muitos deuses de regiões conquistadas também foram incorporados aos cultos romanos. Os deuses eram antropomórficos, ou seja, possuíam características ( qualidades e defeitos ) de seres humanos, além de serem representados em forma humana. Além dos deuses principais, os romanos cultuavam também os deuses lares e penates. Estes deuses eram cultuados dentro das casas e protegiam a família. Principais deuses romanos : Júpiter, Juno, Apolo, Marte, Diana, Vênus, Ceres e Baco, que veremos depois.. MITOLOGIA ROMANA A mitologia romana pode ser dividida em duas partes: a primeira, tardia e mais literária, consiste na quase total apropriação da grega; a segunda, antiga e ritualística, funcionava diferentemente da correlata grega. O romano, que impregnava a sua vida pelo “numen”, uma força divina indefinida presente em todas as coisas, estabeleceu com os deuses romanos um respeito escrupuloso pelo rito religioso – o Pax deorum – que consistia muitas vezes em danças, inovações ou sacrifícios. Ao lado dos deuses domésticos, os romanos possuíam diversas tríades divinas, adaptadas várias vezes ao longo das várias fases da história. Assim, à tríade primitiva constituída por Júpiter (senhor do Universo), Marte (deus da guerra) e Quirino (fundador de Roma, ou Rômulo), os etruscos inseriram o culto das deusas Minerva (deusa da inteligência e sabedoria) e Juno(rainha do céu e esposa de Júpiter). Com a República surge Ceres(deusa da terra e dos cereais), Liber e Libera. Mais tarde, a influência grega inseria uma adaptação para o panteão romano do seu deus do comércio e da eloquência (Mercúrio) sob as feições de Hermes, e o deus do vinho (Baco), como Dionísio. Antiga mitologia sobre os deuses O modelo romano consistia de uma maneira bem diversa de definir e pensar os deuses. No entanto , a maioria dos deuses romanos eram inspirados nos deuses gregos. CUPIDO : DEUS DO AMOR Cupido encarnava a paixão e o amor em todas as suas manifestações. Logo que nasceu, Júpiter (pai dos deuses), sabedor das perturbações que iria provocar, tentou obrigar Vênus a se desfazer dele. Para protegê-lo, a mãe o escondeu num bosque, onde ele se alimentou com leite de animais selvagens. O mito de Cupido e Psique Um certo dia, Vênus estava admirando a terra quando avistou uma bela moça chamada Psique, uma moça muito bela. Vênus era uma deusa muito vaidosa e não gostava de perder em matéria de aparência, muito menos para uma mortal. Vênus chamou Mercúrio e disse-lhe: "- Mande esta carta para Psique." Quando Psique recebeu a carta ficou admirada, recebendo uma carta de uma deusa. Mas ficou muito decepcionada quando a leu. Na carta havia uma profecia clamada pela própria Vênus. A profecia dizia que Psique ia se casar com a mais horrenda criatura. Psique ficou desesperada, foi contar para suas irmãs. Psique era muito inocente e nunca percebeu que suas irmãs morriam de inveja dela. DIANA : DEUSA DA CAÇA Em Roma, Diana (a Artemis grega) era a deusa da lua e da caça, filha de Júpiter e de Latona, e irmã gêmea de Apolo. Era muito ciosa de sua virgindade. Indiferente ao amor e caçadora infatigável, Diana era cultuada em templos rústicos nas florestas, onde os caçadores lhe ofereciam sacrifícios. Na mitologia romana, Diana era deusa dos animais selvagens e da caça, bem como dos animais domésticos. Filha de Júpiter e Latona, irmã gêmea de Apolo, obteve do pai permissão para não se casar e se manter sempre casta. Diana foi cedo identificada com a deusa grega Ártemis e depois absorveu a identificação de Artemis com Selene (Lua) e Hécate (ou Trívia), de que derivou a caracterização triformis dea ("deusa de três formas"), usada às vezes na literatura latina. O mais famoso de seus santuários ficava no bosque junto ao lago Nemi, perto de Arícia. Fortuna era a deusa romana da sorte (boa ou má), da esperança. Corresponde a divindade grega Tyche. Era representada com portando uma cornucópia e um timão, que simbolizavam a distribuição de bens e a coordenação da vida dos homens, e geralmente estava cega ou com a vista tapada (como a moderna imagem da justiça), pois distribuía seus desígnios aleatoriamente. FORTUNA : DEUSA DA SORTE E DA ESPERANÇA Fortuna era considerada filha de Júpiter. Roma dedicava a ela o dia 11 de Junho, e no dia 24 do mesmo mês realiza um festival em sua homenagem, o Fors Fortuna. Seu culto foi introduzido por Sérvio Túlio, e Fortuna possuía um templo nos tempos de Roma republicana próximo ao Capitólio chamado de templo de Fortuna Virilis. Hera era a deusa grega equivalente a Juno, no panteão romano. Deusa do casamento, irmã e esposa de Zeus. Retratada como ciumenta e agressiva, odiava e perseguia as amantes de Zeus e os filhos de tais relacionamentos, tanto que tentou matar Hércules quando este era apenas um bebê. O único filho de Zeus que ela não odiava, antes gostava, era Hermes e sua mãe Maia, porque ficou surpresa com a sua inteligência. Possuía sete templos na Grécia. HERA : DEUSA DO CASAMENTO Mostrava apenas seus olhos aos mortais e usava uma pena do seu pássaro para marcar os locais que protegia. Hércules destruiu seus sete templos e, antes de terminar sua vida mortal, aprisionoua em um jarro de barro que entregou a Zeus. Depois disso, ele foi aceito como deus do Olimpo. Hera deusa muito vaidosa e sempre quis ser mais bonita que Afrodite sua maior inimiga. Júpiter (em latim, Iuppiter) era o deus romano do dia, comumente identificado com o deus grego Zeus. Também era chamado de Jove (Jovis). Filho de Saturno e Cíbele, foi dado por sua mãe às ninfas da floresta em que o havia parido. Quando Júpiter nasceu, a mãe, cansada de ver assim desaparecer todos os filhos, entregou a Saturno uma pedra, que o deus engoliu sem se dar conta do logro. Criado longe, na ilha de Creta, para não ter o mesmo destino cruel dos irmãos, ali cresceu alimentado pela cabra Amalteia. Quando esta cabra morreu, Júpiter usou a sua pela para fazer uma armadura que ficou conhecida por Égide. JÚPITER : O PAI DOS DEUSES Júpiter teve muitos filhos, tanto de deusas como de mulheres. Marte, Minerva e Vénus são seus filhos divinos, entre outros. Quando se apaixonava por mortais, Júpiter assumia diversas formas para se poder aproximar delas. Baco era seu filho e da mortal Sémele. A jovem durante a gravidez insistiu que queria ver o pai do seu filho, em toda a glória. Júpiter tentou dissuadila, mas sem êxito. Quando o rei dos deuses se apresentou abertamente à sua amante, esta caiu fulminada. Júpiter tomou então o feto e colocou-o na sua barriga da perna, onde terminou a gestação. MARTE : DEUS DA GUERRA Marte era o deus romano da guerra, equivalente ao grego Ares. Filho de Juno e de Júpiter, era considerado o deus da guerra sangrenta, ao contrário de sua irmã Minerva, que representa a guerra justa e diplomática. Os dois irmãos tinham uma rixa, que acabou culminando no frente-a-frente de ambos, junto das muralhas de Tróia, cada um dos quais defendendo um dos exércitos. Marte, protetor dos troianos, acabou derrotado. Marte, apesar de bárbaro e cruel, tinha o amor da deusa Vênus, e com ela teve um filho, Cupido e uma filha mortal, Harmonia. Na verdade tratava-se de uma relação adúltera, uma vez que a deusa era esposa de Vulcano, que arranjou um estratagema para os descobrir e prender numa rede enquanto estavam juntos na cama. Mercúrio era o deus romano encarregado de levar as mensagens de Júpiter. Era filho de Júpiter e de Bona Dea e nasceu em Cilene, monte de Arcádia. Os seus atributos incluem uma bolsa, umas sandálias e um capacete com asas, uma varinha de condão e o caduceu. Quando Proserpina foi raptada, tentou resgatá-la dos infernos sem muito sucesso. MERCÚRIO: O MENSAGEIRO DOS DEUSES MERCÚRIO também era o deus da eloqüência, do comércio, dos viajantes e dos ladrões, a personificação da inteligência. Correspondia ao Hermes grego, protetor dos rebanhos, dos viajantes e comerciantes: muito rápido, era o mensageiro. Minerva era filha de Júpiter, após este engolir a deusa Métis (Prudência). Com uma forte dor de cabeça, pediu a Vulcano que abrisse sua cabeça com o seu melhor machado, após o qual saiu Minerva, já adulta, portando escudo, lança e armadura. Era considerada uma das duas deusas virgens, ao lado de Diana. MINERVA : DEUSA DA SABEDORIA, DAS ARTES E DA GUERRA Deusa da sabedoria, das artes e da guerra, era filha de Júpiter. Minerva e Netuno disputaram entre si qual dos dois daria o nome à cidade que Cécropes, rei dos atenienses, havia mandado construir na Ática. Essa honra caberia àquele que fizesse coisa de maior beleza e significado. Minerva, com um golpe de lança, fez nascer da terra uma oliveira em flor, e Netuno, com um golpe do seu tridente, fez nascer um cavalo alado e fogoso Os deuses, que presidiram a este duelo, decidiram em favor de Minerva, já que a oliveira florida, além de muito bela, era o símbolo da paz. Assim, a cidade nova da Ática foi chamada Atenas, de Atena, nome que os gregos davam a esta deusa. Minerva representa-se com um capacete na cabeça, escudo no braço e lança na mão, porque era deusa da guerra, tendo junto de si um mocho e vários instrumentos matemáticos, por ser também deusa da sabedoria. A Minerva é o símbolo oficial dos engenheiros. Voto de Minerva é o voto de desempate proferido por Atena quando do julgamento de Orestes. Este, vingando a morte do pai, Agamemnon, resolve matar a sua mãe, Clitemnestra, e o seu amante, Egisto. Todavia, aquele que cometesse um crime contra o próprio guénos era punido (com a morte) pelas Erínias. Sabendo de seu futuro nada promissor, Orestes apela para o deus Apolo, e este decide advogar em favor daquele, levando o julgamento para o Areópago. As Erínias são as acusadoras e Palas Atená presidente do julgamento. Como era formada por 12 (doze) cidadãos, a votação terminou empatada. Atena, então, que presidia o julgamento proferiu sua sentença, declarando-o inocente. NETUNO: DEUS DO MAR Neptuno ou Netuno era um deus romano do mar, inspirado na figura grega Poseídon. Filho do deus Saturno e irmão de Júpiter e de Plutão. Originariamente era o deus das fontes e das correntes de água. O planeta Neptuno provavelmente recebeu esse nome devido a sua cor "azul-marinho". VÊNUS : A DEUSA DA BELEZA E DO AMOR. Vênus é a deusa do panteão (ou panteón) romano, equivalente a Afrodite no panteão grego. É a deusa do Amor e da Beleza. O seu nome vem acompanhado, por vezes, por epítetos como "Citereia" já que, quando do seu nascimento, teria passado por Cítera, onde era adorada sob este nome. Era considerada esposa de Vulcano, o deus manco, mas mantinha uma relação adúltera com Marte. Vênus possui muitas formas de representação artística, desde a clássica (greco-romana) até às modernas, passando pela renascentista. É de uma anatomia divinal, daí considerada pelos antigos gregos e romanos como a deusa do erotismo, da beleza e do amor. Os romanos consideravam-se descendentes da deusa pelo lado de Eneias, o fundador mítico da raça romana, que era filho de Vênus com o mortal Anquises. SATURNO : O DEUS DO TEMPO E DA AGRICULTURA. Saturno era um deus romano, equivalente ao grego Cronos. Era um dos titãs, filho do Céu e da Terra. Com uma foice dada por sua mãe mutilou o pai, Urano, tomando o poder entre os deuses. Expulso do céu por seu filho Júpiter (Zeus), refugiou-se no -Lácio. Lá exerceu a soberania e fez reinar a idade do ouro, cheia de paz e abundância, tendo ensinado aos homens a agricultura. No Lácio, criou uma família e uma conduta novas, vindo a ser pai de Pico (Carece de informação). Os Romanos que, segundo outras tradições, atribuem a origem de Roma a Saturno, construíram-lhe um templo e um altar à entrada do Fórum, no Capitólio. Atribui-se ainda a Saturno a criação de divindades como Juno ou Hércules e de heróis como Rómulo. Os Romanos, com receio que o deus abandonasse o seu lugar , prenderam a sua estátua com faixas de lã e não a libertavam senão quando se realizavam as Saturnais. Com efeito, estas festas populares, celebradas anualmente por volta do solstício (1) de Inverno, pretendiam ressuscitar por um certo tempo a época maravilhosa em que os homens tinham vivido sem contrariedades, sem distinções sociais, numa paz inviolada. (1) solstício Época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual cessa de afastar-se do equador. [Os solstícios situam-se, respectivamente, nos dias 22 ou 23 de junho para a maior declinação boreal, e nos dias 22 ou 23 de dezembro para a maior declinação austral do Sol. No hemisfério sul, a primeira data se denomina solstício de inverno e a segunda, solstício de verão; e, como as estações são opostas nos dois hemisférios, essas denominações invertem-se no hemisfério norte.] CONCEITO SOBRE AS DIVINDADES NO MUNDO ANTIGO Como todos os mitos e lendas antigas, a mitologia romana reúne crenças, rituais e outras práticas relacionadas com o sobrenatural, a partir de uma base cultural própria, nesse caso, desde o período lendário. No princípio da Idade Média, entretanto, a religião cristã absorveu as religiões do Império Romano. OS SACERDOTES Se distingue essa religião por seus ritos e por um numeroso grupo de sacerdotes encarregados deles (influência etrusca). Esses sacerdotes formavam parte de associações chamadas colégios: 1. Os Pontífices: encarregados dos ritos. 2. As Vestais: encarregadas de manter acesa o fogo sagrado da Deusa Vesta, com voto de virgindade. 3. Os Augures: observando o vôo das aves, adivinhavam a vontade dos Deuses. Janu e Vesta, guardavam as portas e o lar, enquanto que o Deus Lares protegia o campo e a casa; Pales, era responsável pelo gado; Saturno, pela semente; Ceres era a Deusa encarregada do crescimento dos cereias; Pomona, pelos frutos e Consus e Ops, das colheitas. Júpiter, o majestoso e rei dos Deuses, era venerado por contribuir com suas chuvas para que a terra desse bons frutos. Se considerava que tinha o poder sobre o raio e estava encarregado de reger a atividade humana e, com seu poder total, protegia os romanos em suas atividades militares nas fronteiras de sua própria comunidade, que cada vez mais foi se ampliando. Identificados entre si, nos primeiros tempos se sobressaíam os Deuses Marte e Quirino (fundador de Roma ou Rômulo, representando as pessoas comuns). Marte, por exemplo, protegia os jovens em suas atividades diárias, sobretudo quando essas eram realizadas durante a guerra. Era honrado em março e outubro. Já em tempos de paz, Quirino era o protetor da comunidade, de acordo com novos estudos. A cabeça do panteão mais antigo estava a tríada formada por Júpiter, Marte e Quirino, com as consortes Juno e Vesta. Os sacerdotes ou "flamines", responsáveis por seus cultos, pertenciam a hierarquia mais alta. Nos primeiros tempos, esses Deuses tinham uma individualidade pouco definida, e suas estórias pessoais careciam de bodas e genealogias e, o que a diferencia da mitologia grega, é que os Deuses não atuavam como os mortais. Essa é a razão para não existirem muitos relatos sobre suas atividades. O culto mais antigo se associava com Numa Pompilio, o segundo rei Lendário de Roma, cuja consorte e conselheira, Egéria, segundo se acreditava, era a Deusa romana das fontes e dos partos. Relacionada com ela, se adicionaram novos elementos em uma época relativamente posterior. Houve outras incorporações importantes como o culto à Diana no monte Aventino e a introdução dos Livros Sibilinos. Essas são profecias sobre a história do mundo que, segundo o mito, obteve Tarquino no final do século VI a.C de Sibila de Cumas. O Panteão (local dos deuses) foi construído entre 117 a 138 d.C. graças ao imperador Adriano. Consagrou-se a todos os deuses. Esse edifício foi substituído por um templo menor construído por Marco Agripa. Efetivamente, o seu nome está inscrito sobre o pórtico do edifício. Lê-se aí: M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIUM.FECIT, o que significa: "Construído por Marco Agripa, filho de Lúcio, pela terceira vez, cônsul". Atualmente o Panteão é o monumento nacional mais importante da Itália. Esse templo se converteu em Igreja cristã em 607. VEJA, A SEGUIR, UMA FOTO EXTERIOR DO PANTEÃO ROMANO, CONSTRUÍDO POR M.AGRIPPA. UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA Os romanos ultrapassaram todos os outros povos na sabedoria singular de compreender que tudo está subordinado ao governo e direção dos deuses. Sua religião, porém, não se baseou na graça divina e sim na confiança mútua entre Deuses e Homens; e seu objetivo era garantir a cooperação e a benevolência dos deuses para com os homens e manter a paz entre eles e a comunidade. Entende-se por religião romana o conjunto de crenças, práticas e instituições religiosas dos romanos no período situado entre o século VIII a.C. e o começo do século IV da era cristã. Caracterizou-se pela estrita observância de ritos e cultos aos deuses, de cujo favor dependiam a saúde e a prosperidade, colheitas fartas e sucesso na guerra. A piedade, portanto, não era compreendida em termos de experiência religiosa individual e sim da fiel realização dos deveres rituais aos deuses, concebidos como poderes abstratos e não como Divindades Antropomórficas. Um traço característico dos romanos foi seu sentido prático e a falta de preocupações filosóficas acerca da natureza ou da divindade. Seus preceitos religiosos não incorporaram elementos morais, mas consistiram apenas de diretrizes para a execução correta dos rituais. Também não desenvolveram uma mitologia imaginativa própria sobre a origem do universo e dos deuses. Seu caráter legalista e conservador contentou-se em cumprir com toda exatidão os ritos tradicionalmente prescritos, organizados como atividades sociais e cívicas. O ceticismo religioso chegou a ser uma atitude predominante na sociedade romana em face das guerras e calamidades, que os deuses, apesar de todas as cerimônias e oferendas, não conseguiam afastar. O historiador Tacitus comentou amargamente que a tarefa dos deuses era castigar e não salvar o povo romano. A índole prática dos romanos manifestou-se também na política de conquistas, ao incorporar ao próprio panteão os deuses dos povos vencidos. Sem teologia elaborada, a religião romana não entrava em contradição com essas deidades, nem os romanos tentaram impor aos conquistados uma doutrina própria. Durante a República, no entanto, foi proibido o ensino da Filosofia Grega, porque os filósofos eram considerados inimigos da ordem estabelecida. Os valores dominantes da cultura romana não foram o pensamento ou a religião, mas a retórica e o direito. Com as crises econômicas e sociais que atingiram o mundo romano, a antiga religião não respondeu mais às inquietações espirituais de muitos. A partir do século III a.C., começaram a se difundir religiões orientais de rico conteúdo mitológico e forte envolvimento pessoal, mediante ritos de iniciação, doutrinas secretas e sacrifícios cruentos. Nesse ambiente verificou-se mais tarde a chegada dos primeiros cristãos, entre eles os apóstolos Pedro e Paulo, com uma mensagem ética de amor e salvação. O cristianismo conquistou o povo, mas seu irrenunciável monoteísmo chocou-se com as cerimônias religiosas públicas, nas quais se baseava a coesão do estado, e em especial com o culto ao imperador. Depois de sofrer numerosas perseguições, o cristianismo foi reconhecido pelo imperador Constantino I no ano 313 d.C. CIDADE DO VATICANO: CENTRO DO CATOLICISMO. Ao mesmo tempo em que se difundia, a nova religião consolidava sua doutrina. Simultaneamente, estruturava-se como Igreja, palavra derivada do grego eclésia, o mesmo que assembléia. Denominou-se também Católica, que quer dizer universal. No princípio, havia muitas divergências sobre os dogmas que norteariam a crença dos fiéis. O próprio imperador Constantino tomou a iniciativa de convocar uma reunião (concílio) com os representantes da Igreja para definir seus preceitos. Um passo decisivo foi dado pelo Concílio de Nicéia, reunido em 325. A partir desse momento, as opiniões divergentes foram consideradas heresias, passando a ser duramente combatidas. Crise e decadência do Império Romano Por volta do século III, o império romano passava por uma enorme crise econômica e política. A corrupção dentro do governo e os gastos com luxo retiraram recursos para o investimento no exército romano. Com o fim das conquistas territoriais, diminuiu o número de escravos, provocando uma queda na produção agrícola. Na mesma proporção, caia o pagamento de tributos originados das províncias.