Start-Ups de Base Tecnológica: a Capacitação dos Empreendedores-Pesquisadores Autoria: Cleverton SantaRita, Flavia Maria Coelho Baêta-Lara, Adelaide Maria Coelho Baêta RESUMO As PMEs desempenham papel fundamental para o crescimento e o desenvolvimento de uma economia. Sua contribuição social pode ser avaliada, tanto na geração de oportunidades com o aproveitamento de uma grande parcela da força de trabalho local, como no estímulo do desenvolvimento empresarial, ajudando na criação de um mercado interno capaz de funcionar como base sólida para uma economia sustentável. Sem o constante surgimento de novas empresas de orientação inovadora, o sistema econômico vêse privado do dinamismo tecnológico necessário ao processo de desenvolvimento. Esta pesquisa realizada em 08 incubadoras brasileiras, de diferentes estados, busca compreender o papel das incubadoras de empresas de base tecnológica na capacitação dos empreendedores-pesquisadores durante o processo de incubação. Os resultados apontam para alguns desafios a serem enfrentados pelas incubadoras no desenvolvimento das novas competências exigidas pela economia da aprendizagem, a fim de que tais empresas se tornem competitivas no mercado internacional. 1 Start-Upsi de Base Tecnológica: a Capacitação dos Empreendedores-Pesquisadores Resumo As PMEs desempenham papel fundamental para o crescimento e o desenvolvimento de uma economia. Sua contribuição social pode ser avaliada, tanto na geração de oportunidades com o aproveitamento de uma grande parcela da força de trabalho local, como no estímulo do desenvolvimento empresarial, ajudando na criação de um mercado interno capaz de funcionar como base sólida para uma economia sustentável. Sem o constante surgimento de novas empresas de orientação inovadora, o sistema econômico vêse privado do dinamismo tecnológico necessário ao processo de desenvolvimento. Esta pesquisa realizada em 08 incubadoras brasileiras, de diferentes estados, busca compreender o papel das incubadoras de empresas de base tecnológica na capacitação dos empreendedores-pesquisadores durante o processo de incubação. Os resultados apontam para alguns desafios a serem enfrentados pelas incubadoras no desenvolvimento das novas competências exigidas pela economia da aprendizagem, a fim de que tais empresas se tornem competitivas no mercado internacional. Introdução O objetivo deste trabalho é compreender como as incubadoras de empresas atuam na capacitação dos empreendedores-pesquisadores de empresas nascentes ( startups) e sua relevância para o desenvolvimento local. A globalização, ao contrário do que se poderia supor, reforça a idéia do desenvolvimento local. Para atuar no mercado globalizado as empresas precisam tornar-se competitivas, e isto exige um ambiente inovador e sinergia com os agentes locais de inovação. Várias são as estratégias adotadas pelos governos e planejadores econômicos para estimular o desenvolvimento local e a criação de novos negócios competitivos. As incubadoras de empresas de base tecnológica têm desempenhado um papel de destaque na criação e desenvolvimento de empresas tecnológicas. Entende-se por incubadoras de empresas de base tecnológica organizações que abrigam empreendimentos nascentes, geralmente oriundos de pesquisa científica, cujo projeto implica o desenvolvimento e a comercialização de produtos ou serviços inovadores e de alto conteúdo científico e tecnológico. Tais organizações oferecem espaço e serviços subsidiados que favorecem o empresariamento e o desenvolvimento de novos negócios.(BAÊTA, BORGES; TREMBLAY, 2005) Segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Investimentos de Tecnologias Avançadas – ANPROTEC uma incubadora de empresas é um ambiente flexível e encorajador onde é oferecida uma série de facilidades para o surgimento e crescimento de novos empreendimentos. Além da assessoria na gestão técnica e empresarial da empresa, a incubadora oferece a infra-estrutura e serviços compartilhados necessários para o desenvolvimento do novo negócio, como espaço físico, salas de reunião, telefone, fax, acesso à Internet, suporte em informática, entre outros. Desta forma, as incubadoras de empresas geridas por órgãos governamentais, universidades, associações empresariais e fundações, são catalisadoras do processo de desenvolvimento e consolidação de empreendimentos inovadores no mercado competitivo. Em seu estudo sobre as incubadoras de base tecnológica Fonseca e Kruglianskas (2000, p. 3-4) assinalam que: 2 a idéia de incubadoras esteve associada ao propósito de estimular o surgimento de negócios resultantes de projetos tecnológicos desenvolvidos no interior dos centros de pesquisa universitários ou não. O conceito criado foi o de incubadoras tecnológicas, voltadas para apoiar o nascimento e o fortalecimento das chamadas empresas de base tecnológica. No Brasil, nos anos recentes, não são poucos os trabalhos reafirmando a importância das incubadoras na promoção de empresas nascentes originárias dos laboratórios acadêmicos,entre eles: Vedovello e Figueiredo, 2005; Lahorgue,2004; Dornelas, 2002; Zouain, 2001; Leal e Pires, 2001; Guedes; Filártiga; Lucas de Souza, 2003; Beuren e Raupp, 2003; Judice et al., 2003; Bermudez, 2001; Medeiros, 1999; Baêta, 1999; Furtado, 1998. Acredita-se que a empresa instalada em uma incubadora tende a apresentar maiores chances de sobrevivência, quando inserida no mercado, num comparativo com aquelas que não tiveram a mesma oportunidade. Pesquisas apontam que a taxa de sobrevivência das PMES inseridas nas incubadoras são em média 82 %. (LAGORNE, 2004). Isto explica o crescimento do número de incubadoras no Brasil nos últimos anos. Segundo o relatório da ANPROTEC, o número de incubadoras no país passou de 2 em 1988 para 283 em 2004, sendo que 55 % delas são tecnológicas e 18 % do tipo mista. As incubadoras de base tecnológica lidam predominantemente com o chamado empreendedorismo tecnológico cujo grande desafio é atuar no mercado internacional. Convém observar que um dos assuntos que está em pauta nas discussões de quase todas as instituições e pessoas que discutem o desenvolvimento econômico do país - a internacionalização destas empresas - não tem sido contemplado significativamente no processo de capacitação das incubadoras analisadas. Neste artigo, o foco de estudo é a criação de novas empresas de base tecnológica que tenham a ambição internacional. Nosso interesse é saber como favorecer a criação desse tipo de empresas e preparar os empreendedores para lidar no mercado internacional. As incubadoras desenvolvem ações que favorecem a criação de empresas exportadoras ou prontas para competir em um mercado global? Como a incubadora capacita o empreendedor para atuar no mercado globalizado? Esta é uma questão ainda sem resposta e o interesse deste artigo é ajudar a respondê-la. Até que ponto as incubadoras influenciam o desenvolvimento local capaz de assegurar a competitividade das empresas graduadas? A metodologia utilizada foi a seguinte: a partir dos trabalhos de Oviatt & McDougall (1995), McDougall, Oviatt et Shrader (2003) e de Johnson (2004) sobre o empreendedorismo internacional, foi elaborado um quadro de análise para avaliar as principais condições disponibilizadas pelas incubadoras às start-ups. A avaliação das incubadoras utilizou dados secundários obtidos na literatura sobre o tema e no site da ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Investimentos de Tecnologias Avançadas- além de entrevistas com gerentes de 8 (oito) incubadoras situadas em diferentes regiões brasileiras e 4 diretores de empresas graduadas naquelas incubadoras. O trabalho está estruturado em 3 seções. Na primeira seção, consta esta introdução que contextualiza o objeto de pesquisa e descreve o conceito das incubadoras à luz da literatura sobre o tema; na segunda seção apresenta-se o referencial teórico sobre empreendedorismo tecnológico, destacando os conceitos de internacionalização de empresas e de desenvolvimento local; a terceira seção descreve a metodologia adotada e analisa os resultados da pesquisa; a quarta seção faz algumas considerações finais. 3 2. Empresas de base tecnológica e empreendedorismo tecnológico O empreendedorismo tecnológico tem algumas particularidades em relação ao empreendedorismo tradicional que tornam tal processo de criação mais difícil (BORGES; BERNASCONI; FILION, 2003). As empresas de base tecnológica fazem, em geral, parte de uma nova indústria e propõem ao mercado algum tipo de inovação, por isso sofrem o que Stinchombe (1965) caracterizou de “liability of newness”. Ou seja, ainda não existe no mercado uma base de conhecimento sólida para o tipo de produto ou ação que a nova empresa está propondo. Em conseqüência, o processo de criação e de legitimação da nova empresa torna-se mais difícil. Mais do que criar uma empresa, muitas vezes os empreendedores tecnológicos precisam criar um mercado. Uma série de barreiras estruturais e fatores limitantes constrangem a ação das empresas no estágio industrial emergente: a ausência de infra-estrutura, de canais adequados de distribuição e suprimento de serviços complementares necessários, a qualidade irregular dos produtos, as dificuldades de obtenção de matérias primas e componentes, a ausência de padronização, escala e externalidades de produção, além de um estado de “confusão” (ou as vezes desconfiança) por parte dos clientes e consumidores. Em outra dimensão, há incertezas quanto à imagem e credibilidade das empresas iniciantes junto a comunidade financeira e finalmente há atrasos e transtornos na obtenção de aprovação às regulamentações que pouco a pouco se estabelecem . São características comuns à indústria emergente os processos de tentativa e erro e comportamentos erráticos, já que predominam a “incerteza tecnológica” e a “incerteza estratégica”. Os usuários e consumidores também são iniciantes e desconhecem os produtos/serviços, devendo, neste estágio, serem informados sobre os mesmos, até que possam ser capazes de prover feedback mais completo de suas necessidades e experimentos de consumo. (JUDICE;BAÊTA, 2003) O Empreendedorismo tecnológico caracteriza-se ainda por um empreendedor mais bem qualificado (em termos de formação, mas não necessariamente de experiência profissional), pela presença de equipes empreendedoras e pela necessidade de um volume maior de recursos para bancar o desenvolvimento e a constante atualização tecnológica dos produtos e serviços (BORGES, BERNASCONI; FILION, 2003). 2.1. Internacionalização de empresas Ainda que alguns estudos sobre internacionalização das pequenas e médias empresas enfatizem que a opção de internacionalizar dá-se normalmente em uma etapa posterior ao processo de criação, ou seja, a empresa não nasce com a ambição de exportar, autores como Oviatt e McDougall (1995) afirmam que algumas empresas desde o nascimento assumem características que destacam sua ambição de serem globais. A oportunidade de negócio visualizada transborda as fronteiras do país, sede da empresa. Muitas vezes, para viabilizar esse negócio, a empresa tem que necessariamente, desde muito cedo, estabelecer contatos com clientes, fornecedores e parceiros no exterior. Esse tipo de empresa apresenta alguns fatores de sucesso, segundo Oviatt e McDougall (1995): 1) visão global desde o inicio do projeto; 2) equipe de direção com experiência no mercado internacional; 3) rede de relação de negócios internacionais, 4) escolha de mercados ou tecnologias proeminentes; 5) controle sobre algum recurso intangível único; 6) estreita ligação entre produtos e serviços; e 7) coordenação global. Os autores definem uma empresa internacional emergente como sendo “a firm that achieved international sales while still in the new venture or start-up phase of the organization life cycle” (p. 69). 4 Neste artigo utilizamos alguns indicadores que constam do quadro 1, onde listamos os principais fatores que diferenciam as start-ups internacionais (SI) das start-ups domésticas (SD). Quadro 1 Fatores que diferenciam as empresas emergentes internacionais das domésticas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. A start-up internacional (SI) distingue-se da start-up doméstica (SD) principalmente pela experiência de equipe empreendedora. a)A equipe da SI tem mais experiência no mercado internacional. b)A equipe da SI tem mais experiência no segmento de atuação da empresa. A SI tem de estratégias mais agressivas que a SD. A SI enfatiza mais a inovação que a SD. A SI enfatiza mais a qualidade do que a SD. A SI enfatiza mais os serviços (que acompanham os produtos) que as SD. A SI enfatiza mais o marketing que as SD A SI utiliza mais canais de distribuição que as SD A SI opera em segmentos onde existem nichos de atuação global. Fonte: McDougall, Oviatt e Shrader, 2003. Para analisar a internacionalização de Start-ups1 no Reino Unido e Estados Unidos, Johnson (2004) elaborou um quadro de análise que contém fatores externos, internos e facilitadores da internacionalização das empresas (veja figura 1). Observe-se que as proposições de Johnson, em especial em relação aos “fatores internos” condizem com as propostas de Oviatt e McDougall (1995) e estão presentes nas hipóteses de McDougall, Oviatt e Shrader (2003). 5 Dentre os “fatores externos” pode-se destacar Nicho Internacional de Mercado, Fluxo Acelerado de Inovação Tecnológica Mundial e a Influência da Rede de Parceiros. (Figura 1) O quadro para a análise das incubadoras brasileiras foi construído a partir dos fatores listados por aqueles autores. Fatores Externos Fatores Internos Natureza da Indústria Internacional “Borderless World’ Visão global dos fundadores Experiência internacional fundadores Atenção internacional Economia de escala, demandada pela indústria empreendedore Necessidade de obter Financiamentos Oportunidades adicionais do mercado Exploração de propriedade tecnológica internacional Superação da inércia domestica na firma Altos gastos de Fatores Facilitadores Nicho Internacional de mercado Fluxo acelerado de inovação tecnológica mundial Start up Internacional Avanços nas comunicações internacionais Avanços nos transportes internacionais Avanços na tecnologia da informação Avanços nos processos tecnológicos Integração do mercado financeiros mundial Natureza competitiva da indústria internacional Necessidade de responder as iniciativas de competidores mundiais Intensa competição doméstica Pequeno mercado doméstico Padrão mundial Influência da rede de parceiros Influência externa de clientes domésticos e internacionais Fonte: adaptado de Johnson, 2004 Fig. 1 – Fatores que influenciam o início da internacionalização das Start-ups internacionais, adaptado de Johnson (2004). 3. Metodologia da pesquisa e análise dos resultados A construção teórica desenvolvida neste estudo busca reunir elementos, evidências e indicadores do papel desempenhado pelas incubadoras de empresas na formação de uma cultura empreendedora voltada para o mercado internacional. A partir dos trabalhos de Oviatt & McDougall (1995), McDougall, Oviatt e Shrader (2003) e de Johnson (2004), foi elaborado um quadro de análise para verificar a atuação das incubadoras tecnológicas (Veja Quadro 2). As características dos empreendimentos internacionais emergentes recomendadas por estes autores foram transformadas em itens de análise das condições oferecidas pelas incubadoras. O objetivo é avaliar se os propósitos e serviços oferecidos pelas mesmas favorecem o empreendedorismo internacional. Vale ressaltar que a análise é restrita às atividades das incubadoras. Não são consideradas, por exemplo, possíveis ações governamentais ou elementos do ambiente de atuação das empresas que poderiam favorecer a internacionalização das mesmas. Para avaliar a atuação das incubadoras no tocante ao empreendedorismo internacional usamos três fontes de dados: a) Os resultados de outros estudos sobre as incubadoras brasileiras. Vários estudos empíricos já foram realizados sobre as incubadoras brasileiras. 6 Alguns deles, que estão entre os mais citados na literatura nacional sobre o tema, foram escolhidos e neles avaliamos as atividades e ações das incubadoras que são compatíveis com os itens da quadro 2. Os estudos utilizados foram os seguintes: Morais, 1997 e 2001; Bignetti, 1999; Lemos e Maculan, 1998; Bermudez, 2000; Zouain, 2001; Rousso, 2001; Guedes et al., 2001; Dornellas, 2002; Souza, 2003; Beuren e Raupp, 2003; Bermudez, 2001; Baêta, 1999 e 2003. b) Sites internet de 20 incubadoras brasileiras. Visitamos os sites internet de 20 das principais incubadoras brasileiras. Nos sites, as seguintes informações foram, quando disponíveis, utilizadas: missão e objetivos da incubadora, critérios de seleção dos futuros incubados, características das empresas incubadas, serviços oferecidos pela incubadora, rede de parceiros da incubadora e jornais informativos da incubadora. c) As entrevistas realizadas com gestores de 8 incubadoras de base tecnológica brasileiras, 10 dirigentes de empresas incubadoras e 6 dirigentes de empresas graduadas em incubadoras tecnológicas. Nessas entrevistas obtivemos informações sobre as características do processo de incubação relativas à formação gerencial e oportunidades oferecidas aos empreendedores das empresas incubadas e a relação das empresas graduadas com as incubadoras. Incubadoras Nº de Empresas Nº de empresas incubadas graduadas BIOMINAS (Belo Horizonte –MG) 09 13 CESAR ( Recife – PE ) 08 08 CISE ( Aracaju – SE ) 03 03 INCAMPI ( Campinas – SP ) 10 08 ITCG ( Campina Grande – PB ) 08 60 ITEC ( Aracaju – SE ) 06 00 INATEL ( Santa Rita do Sapucaí – MG ) 10 24 PROINTEC ( Santa Rita do Sapucaí – MG ) 09 13 As informações colhidas nas três fontes ( literatura nacional sobre incubadoras de base tecnológica e site das incubadoras, entrevistas com gestores de incubadoras e dirigentes de empresas graduadas) foram confrontadas com o quadro de análise da atuação das incubadoras em prol do empreendedorismo internacional . Os resultados são apresentados no quadro 2. Quadro 2 Quadro de análise da atuação das incubadoras em prol do empreendedorismo internacional . Características das empresas internacionais emergentes ( star-ups) Justificativa Elementos a serem analisados nas incubadoras Visão global desde o inicio do projeto O mercado das empresas de base tecnológica é internacional. A incubadora seleciona empresas que almejam o mercado internacional e empreendedores que tem uma visão global do mercado ? 7 2. Equipe de direção com experiência no mercado internacional A experiência no mercado internacional favorece a identificação de oportunidades e a ação neste mercado. . Rede de relação de negócios internacionais Contato no exterior e com pessoas que lidam com comércio exterior, assim como a competência no estabelecimento de parcerias internacionais. Conhecer o mercado e propor inovação e tecnologias proeminentes favorece a competição no mercado internacional. O controle sobre recurso intangível único favorece a entrada da empresa nascente no mercado internacional. O capital de risco contribui para a competitividade da empresa. 4. Escolha de mercados tecnologias proeminentes ou . Controle sobre algum recurso intangível único 6. Acesso a financiamento de risco 7. Relacionamento com Centros de P&D. 8. Comercialização e distribuição dos produtos e serviços. 9. Estabelecimento de Jointventures com empresas internacionais. O relacionamento com centros de P&D favorece o desenvolvimento de tecnologias proeminentes e a inovação. A competência para comercializar e distribuir amplia as oportunidades no mercado O estabelecimento de Jointventure com empresas internacionais favorece a internacionalização das empresas incubadas. A incubadora seleciona empresas constituídas por empreendedores que tenham experiência internacional? Proporciona aos empreendedores incubados oportunidades de desenvolver esse tipo de experiência? A incubadora, no momento da seleção, avalia a rede de relações do empreendedor? Prepara os empreendedores para desenvolver esse tipo de rede? A incubadora prioriza a escolha e o suporte a empresas que visam desenvolver produtos e/ou serviços em mercados de tecnologias proeminentes? A proposta traz algum conhecimento pouco explorado no mercado? A incubadora favorece o acesso ao capital de risco? A incubadora prepara os empreendedores a trabalhar com os capitalista de risco (o que inclui mudanças na gestão da empresa emergente)? A incubadora relaciona-se com Centros de P&D e favorece a relação dos incubados com estes centros? A incubadora oferece capacitação para a comercialização e distribuição dos produtos e serviço das empresas? A incubadora está preparada para o estabelecimento de colaboração com empresas através da criação de Joint-ventures? Ela favorece o estabelecimento de joint-ventures entre os incubados e empresas internacionais? Quadro elaborado por Baeta, Borges e Tremblay, 2005. 3.1. Apresentação e análise dos resultados No quadro 3 apresenta a evolução das características identificadas em 2004 e 2006 sobre as condições necessárias à adequação do processo de incubação para o desenvolvimento de uma cultura empreendedora internacional e revela a trajetória das incubadoras de base tecnológica. A análise da freqüência das características para a capacitação para o empreendedorismo internacional nas incubadoras brasileiras, observadas na pesquisa, aponta para um grande desafio:as incubadoras, embora tenham aperfeiçoado sua performance com relação a algumas características, como se pode observar, ainda não apresentam orientação satisfatória para o mercado internacional . 8 Quadro 3 Características de sucesso para o empreendedorismo internacional das empresas emergentes proporcionadas pelas incubadoras tecnológicas Condições de capacitação dos empreendedores 2004 2006 1. Visão global desde o início do projeto ** ** 2. Equipe de direção com experiência no mercado internacional 3. Rede de relação de negócios internacionais ** ** ** ** 4. Escolha de mercados ou tecnologias proeminentes *** *** 5. Controle sobre algum recurso intangível único ** ** 6.Acesso a financiamento de risco (venture capital) * ** 7. Relação com Centros de P&D *** *** 8. Competência em comercialização e distribuição ** *** 9. Capacidade para a formação de joint-ventures * * *** Característica presente ** Característica poucas vezes presente * Característica ausente O que nos chama a atenção é que a experiência internacional dos empreendedores não tem sido de fato uma característica acentuada nas incubadoras. Não é exigido dos incubados na seleção dos candidatos à incubadora qualquer requisito nesse sentido. Não se constatou também a existência de estágio no exterior ou qualquer tipo de formação específica com o objetivo de desenvolver este aspecto. Outra condição não preenchida pelas incubadoras diz respeito à experiência dos empreendedores. A grande maioria dos empreendedores nas incubadoras de base tecnológica são alunos recém graduados e pesquisadores acadêmicos, aos quais falta a experiência gerencial e administrativa. Apesar de algumas incubadoras indicarem a importância de uma equipe empreendedora complementar (incluindo pessoas com experiência em gestão), a maior parte das equipes ainda é formada por pessoal ligado à tecnologia. A rede de relacionamento com os negócios internacionais é bastante tímida nas empresas incubadas e também nas incubadoras. Esse tema não é avaliado na seleção e nem enfocado nas atividades desenvolvidas, apesar de algumas incubadoras promoverem a participação dos empreendedores incubados em feiras, exposições e missões internacionais. Em conseqüência, as relações de parcerias entre as incubadas e outras empresas internacionais são pouco freqüentes. Considerando que o sucesso do negócio no mercado internacional relaciona-se à utilização de tecnologias proeminentes e domínio de algum recurso intangível único, as incubadoras tecnológicas procuram, em seu processo de seleção, empresas que utilizam tecnologias proeminentes e que se propõem a desenvolver produtos inovadores. Mas nem sempre os projetos existentes se enquadram nessa linha. Após o início da incubação, o suporte das incubadoras a este ponto também é limitado, pois o desenvolvimento de produtos e serviços tecnológicos inovadores requer recursos que muitas incubadoras não podem oferecer aos incubados. 9 Não obstante se constate que o registro de patentes ser uma das preocupações das incubadoras, nem sempre tal registro é efetivado. A maioria das tecnologias implementadas utilizam conhecimento público e inovações de caráter incremental, ou seja, é ainda precário o controle sobre algum recurso intangível único. Há ainda que considerar que é recorrente a idéia de que falta capital de risco para os empreendedores brasileiros. Para o desenvolvimento das PMEs de base tecnológica, é necessário, a priori, um ambiente tecnologicamente ativo que favoreça o seu surgimento e crescimento. Destaca-se que, nas empresas de base tecnológica, a característica mais importante é o seu compromisso com pesquisa e desenvolvimento. A propensão ao financiamento de risco como se observa nas pesquisas é baixa, tendo crescido muito pouco de 2004 para 2006. Poucas são as empresas que têm acesso a esse tipo de financiamento. Apesar do esforço de algumas incubadoras em fazer a ponte entre empresas e capitalistas de risco, esse trabalho é dificultado pela falta de uma cultura de parceria. O que se percebe é que boa parte do desenvolvimento das empresas é bancado por capital dos próprios empreendedores ou por agências oficiais de apoio a pesquisa tecnológica (como CNPQ e FINEP). O principal problema com o qual se defrontam tais empresas é justamente a dificuldade em obter capital, seja na forma de empréstimos ou na manutenção de capital próprio. Em sua procura por capital, as PMEs podem recorrer aos empréstimos bancários, mas estes, quando obtidos, não passam de financiamento de curto prazo. Em geral, os empréstimos disponibilizados variam em função da capacidade que elas demonstram em oferecer garantias reais, abandonando, assim, fatores importantes no seu processo de crescimento. A verdadeira necessidade das PMEs é a de capital permanente e, para obtê-lo, o caminho seria o de recorrer ao mercado de capital, mas este é adequado somente para as grandes empresas, capazes de assumir as responsabilidades e conseqüências dessa forma de comercialização. Esses fatores decorrem da falta de acesso às fontes de capital acionário que permitam dispensar às PMEs um tratamento adequado ao seu reduzido tamanho (BERMÜDEZ, 2000). Um dos pontos fortes das incubadoras brasileiras é a relação delas com os Centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Em sua grande maioria elas estão instaladas em Universidades ou, quando não é o caso, têm uma parceria com estas instituições. Essa relação próxima favorece a utilização de Centros de P&D. Junta-se a isso o fato de muitas incubadoras contarem entre seus incubados antigos ou atuais professores e alunos destas universidades que desenvolveram ou desenvolvem pesquisa nestes centros e, conseqüentemente, têm acesso facilitado a eles. Quando se fala em internacionalização das start-ups (empresas emergentes), um dos problemas encontrado nas incubadoras é a falta de suporte para a comercialização e formação de joint-ventures no mercado internacional. Poucas ações desse tipo foram encontradas. As incubadoras não têm muitas parcerias de caráter internacional e, desse modo, apresentam dificuldade em transferir essa cultura aos incubados. Pode-se concluir que a pouca ênfase no mercado internacional pode ser explicada pelo grande mercado doméstico potencial do Brasil, se considerarmos os índices populacionais e a vastidão territorial. Todavia, alguns aspectos constrangedores devem ser considerados. Primeiramente o fato de que a distribuição desigual da renda limita o número de pessoas com acesso a bens de alta tecnologia no país. Em segundo lugar, o mercado competitivo global já não permite que apenas empresas nacionais dominem os mercados domésticos. . 10 Considerações finais A capacitação que as start-ups recebem das incubadoras concorre sem dúvida para o seu bom desempenho no mercado e contribui para o desenvolvimento regional. O ambiente competitivo e as rápidas mudanças estruturais e tecnológicas exigem adequação contínua do modo de produção e desafiam as empresas à inovação e à criatividade. Devido a isto, as incubadoras de empresas passaram a constituir um reduto de idéias e oportunidades, especialmente para as micro e pequenas empresas. Assim, as incubadoras fornecem aos empreendedores suporte administrativo, financeiro e de estrutura relevantes para o seu desempenho. Convém observar, porém, que a velocidade das mudanças está a requerer dos empreendedores uma atitude mais agressiva no sentido de buscar o mercado internacional. Sobretudo quando falamos de empresas de base tecnológica e intensivas em conhecimento, não há razão para focar exclusivamente o mercado doméstico. Com a globalização da economia, produtos e serviços de alta tecnologia transpõem rapidamente as fronteiras nacionais e alcançam com relativa facilidade os rincões mais afastados. Nesse sentido, as incubadoras tecnológicas precisam acertar o passo com a realidade a fim de estimular o empreendedorismo internacional. Podem-se apontar alguns desafios que ainda deverão ser enfrentados no sentido de vislumbrar uma nova trajetória para as incubadoras de base tecnológica: a. O processo de seleção deve refletir a visão da incubadora e atrair empreendedores com visão global. b. O processo de incubação deve enfatizar a inovação como forma de diferenciação no mercado. c. Manter e ampliar a relação intensa com os centros de pesquisa de modo a favorecer e estimular a inovação continua. d. Enfatizar a qualidade do produto e do serviço, exigindo a adoção dos processos de certificação ISO. e. O monitoramento e acompanhamento de empresas no estágio de incubação embora essencial não é suficiente. Há que se prestar o acompanhamento e favorecer a manutenção e ampliação das redes de relacionamento das empresas graduadas. f. A aproximação e o conhecimento com investidores de risco, de modo a favorecer o acesso e a parceria com esses investidores que atualmente investem em empresas brasileiras deve ser promovida. Todavia, convém ter a clareza de que se associar a um capitalista de risco requer competência para a parceria e disposição de abrir mão de regalias e exigir comprometimento e lealdade. g. A oportunidade para que o empreendedor exercite a comercialização e a distribuição do produto ou processo no mercado deve ser proporcionada. Para tanto será necessária a promoção de parcerias competentes. Uma alternativa pode ser a formação de joint-ventures com empresas internacionais. Empreendedores devem estar aptos a demonstrar a relação entre a inovação tecnológica proposta e a visão do negócio, ou seja, deve estar apto a trazer para o mercado o novo serviço ou produto, deve ser preparado para realizar a transação comercial e demonstrar qual é o diferencial que ele realmente traz para o sistema do negócio. Como dissemos anteriormente, com esse trabalho pretendeu-se assinalar a relevância do processo de incubação na capacitação gerencial do empreendedor, apresentar alguns critérios para a seleção dos empreendimentos de base tecnológica de modo a favorecer a adequada avaliação e possibilitar aos gestores dessa categoria de incubadoras capacitar os empreendedores para o mercado global. 11 Referências: ANPROTEC, Associação Nacional de Entidades Promotoras de Investimentos de Tecnologias Avançadas. Disponível em: <http://www.anprotec.org.br>. BAÊTA, A. M.C.; BAÊTA, BORGES, C.V.; TREMBLAY, D.G. “Empreendedorismo internacional nas incubadoras: perspectivas e desafios”. Revista de Negócios, Blumenau,v. 10, n.2,p.72-87, 2005. BERMUDEZ, Luíz Afonso. Incubadoras de Empresas e Inovação tecnológica: o caso de Brasília. Revista Parcerias Estratégicas, n. 8, p. 31-44, maio 2000. BEUREN, Ilse Maria; RAUPP , Fabiano Maury. 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