INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IVOTI
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - ESPECIALIZAÇÃO EM
COORDENAÇÃO PEDAGOGICA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
NOELI SCHERER
A IDENTIDADE DOCENTE E SUA RELAÇÃO
COM A FORMAÇÃO CONTINUADA
Ivoti- RS
2009
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IVOTI
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - ESPECIALIZAÇÃO EM
COORDENAÇÃO PEDAGOGICA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
NOELI SCHERER
A IDENTIDADE DOCENTE E SUA RELAÇÃO
COM A FORMAÇÃO CONTINUADA
Monografia apresentada ao Instituto Superior de
Educação Ivoti – ISEI, como requisito parcial
para a obtenção de título de especialista em
Coordenação
Pedagógica
e
Orientação
Educacional.
Orientador: Manfredo Carlos Wachs
Ivoti-RS
2009
Folha de aprovação
Dedico este trabalho, com muito amor, às minhas filhas Daiane
e Cristine pelo apoio, carinho e paciência que tiveram durante a
sua realização bem como durante todo o curso no Instituto.
Minhas filhas, muito obrigada.
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por ter me dado a vida, a sabedoria e as forças necessárias para chegar até
aqui.
Aos meus pais, que sempre me apoiaram nos meus estudos.
Às minhas filhas, o apoio e o auxílio que me deram no manuseio do computador.
Ao meu orientador, professor Manfredo Carlos Wachs, pela atenção, carinho, paciência e
dedicação com que me atendeu durante a realização deste trabalho.
A todos os meus demais professores, meu muito obrigada, pelas lições de vida e pela
profissional que me tornaram.
A todos os meus familiares pela compreensão, apoio e incentivo.
Aos meus colegas, pela força que me deram para continuar lutando e vencer mais esta etapa.
Ao Instituto de Educação Ivoti, pela qualificação e conhecimentos adquiridos.
A todos, a minha eterna gratidão.
Ensinar é um exercício de imortalidade, de alguma forma
continuamos a viver naqueles, cujos olhos aprenderam a ver o
mundo pela magia da nossa palavra e, o professor assim, não
morre jamais.
Rubem Alves, 2000, p. 45
RESUMO
A presente monografia analisa a questão da formação continuada e sua importância na
construção, reconstrução e ressignificação da identidade profissional docente. Para
compreendermos a identidade profissional docente é preciso que analisemos qual o valor e a
importância que o professor dá para o seu ser docente. Na reflexão crítica sobre a sua prática,
o professor pode e deve avaliar a sua atuação dentro do espaço escolar. Um trabalho docente
competente se concretiza na construção e na reflexão permanente sobre a identidade com a
sua profissão, no dominar saberes e nas competências que o ajudarão a atingir com êxito a sua
profissão e se sentir feliz e realizado. Nessa construção, deve ser levada em consideração a
trajetória pessoal e profissional, a formação e as experiências que os docentes adquirirem
durante todo o seu período de atuação docente. O professor precisa ser capaz de motivar seus
alunos, despertar neles a curiosidade de aprender e criar laços afetivos e recíprocos com os
mesmos. Essa atitude será fundamental para o bom desempenho dos educandos. No espaço
educativo da escola, a coordenação pedagógica tem a responsabilidade de organizar e oferecer
aos professores momentos de formação continuada, pois os docentes precisam estar
constantemente em busca de conhecimentos para se manterem atualizados e capazes de
atender as expectativas e mudanças que surgem dentro da atual sociedade que passa por
constantes transformações. Nem todos os professores constroem uma identidade profissional
docente, pois têm aqueles que não se identificam com a docência. Eles apenas estão
professores num certo período da sua vida, realizam as tarefas, mas não se consideram, não se
vêem como professores, pois não construíram uma identidade profissional docente.
Palavras- chave: Formação continuada. Identidade docente. Saberes. Competências.
ABSTRACT
The present monograph analyses the question of continued education and its importance in the
construction, reconstruction and resignification of the teaching professional’s identity. To
understand the teaching professional’s identity one needs to analyze what value and
importance the professional gives to his teaching self. In the critical reflection about their
practice, teachers can and must evaluate their performances inside the educational
environment. A competent teaching work is accomplished through the permanent construction
and reflection of the professional identity, of the ability to dominate the knowledge and of the
competences that will help successfully achieve his profession and the feeling of happiness
and accomplishment. In this construction, the personal and professional trajectory, the
educational development and the experiences teachers acquire during their teaching life must
be taken into consideration. The teacher needs to be capable of motivating the students, bring
out their curiosity to learn and grow affection and reciprocal bonds among themselves. This
attitude will be primordial for the good performance of the students. In the educational
environment of the school, the pedagogic coordination has the responsibility to organize and
offer moments of continued development to teachers, because they need to be constantly in
search of knowledge to keep themselves updated and capable of fulfilling the expectations
and changes that appear in modern society, which goes through constant transformation. Not
every teacher builds a professional teaching identity, for the reason that there are some who
don’t identify themselves with teaching. They are just being teachers for a certain period in
their lives, complete their functions but don’t consider themselves teachers, because they
haven’t built a professional teaching identity.
Keywords: Continued education. Teaching identity. Knowledge. Competences.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
2 IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................. 11
2.1 O QUE SIGNIFICA SER DOCENTE?.............................................................................. 11
2.2 O DOCENTE E SUA RELAÇÃO COM O EDUCANDO................................................ 17
2.3 O DOCENTE E AS NOVAS TECNOLOGIAS ................................................................ 25
3 OS SABERES E AS COMPETÊNCIAS DO DOCENTE ............................................... 31
3.1 SABERES DA DOCÊNCIA .............................................................................................. 31
3.2 COMPETÊNCIAS DA DOCÊNCIA ................................................................................. 36
4 IDENTIDADE DOCENTE................................................................................................. 40
4.1 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE ............................ 40
4.2 A PERDA DA IDENTIDADE DOCENTE ....................................................................... 45
5 FORMAÇÃO CONTINUADA........................................................................................... 51
5.1 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE......................................................................... 51
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 59
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO
Esta monografia tem como objetivo refletir sobre a identidade dos professores e a
importância da formação continuada para a construção e reconstrução do processo identitário,
procurando compreender a sua trajetória pessoal e profissional. Este trabalho surgiu a partir
dos questionamentos e das curiosidades que sempre tivemos em relação às diferentes
identidades profissionais docentes que se refletiam dentro do ambiente escolar. Nosso
interesse refletir porque os professores tinham reações diferentes em relação às formações
continuadas. Porque alguns professores ficavam felizes e satisfeitos com esses momentos de
formação, outros, desmotivados e insatisfeitos e outros nem demonstravam interesse em
participar dos mesmos.
Refletir e questionar sobre a identidade profissional do docente é fundamental para
podermos compreender atitudes, reações e comportamentos que professores assumem frente
às diferentes situações em que se encontram diariamente no exercício de sua profissão
docente. Para podermos compreender a identidade profissional dos docentes é necessário
refletir sobre o sentido e o significado de ser docente, sobre as responsabilidades e o
comprometimento que são de sua competência para desempenhar com êxito e satisfação a sua
profissão. A metodologia a ser utilizada será baseada em pesquisa bibliográfica e na internet.
No primeiro capítulo refletiremos sobre o que é ser docente, o que é preciso para que
o docente se realize com a sua profissão. Para isso, façamos uso das déias de educadores
como: Freire e Gadotti. Procuraremos também analisar a relação que se estabelece entre o
docente e o educando e qual a influência desta relação na aprendizagem. Que tipo de relação
se deve constituir entre ambos para que ocorra uma aprendizagem significativa. Analisaremos
também a relação do docente com as novas tecnologias e como o professor pode se utilizar
desses recursos dentro da sua sala de aula em benefício de uma educação com mais qualidade
e de um melhor desempenho por parte dos alunos.
No segundo capítulo procuremos refletir e compreender quais os saberes e as
competências necessárias que o docente precisa ter para desempenhar com responsabilidade e
competência a sua profissão docente. A nossa reflexão fundamenta-se em autores como
Libâneo, Pimenta, Perrenoud, Tardif e Nóvoa. É importante discutir como se constroem esses
saberes e essas competências, levando em consideração as experiências e histórias de vida de
cada professor e as experiências adquiridas ao longo da carreira profissional docente no seu
local de trabalho. Refletir e compreender a organização desse espaço escolar é fundamental
10
para entendermos a aquisição desses saberes e competências por parte dos professores, pois é
lá o lugar onde o professor vai refletir sobre a sua prática.
No terceiro capítulo descreveremos como se dá a construção e a perda da identidade
profissional docente. Refletir sobre como o docente constrói ou não essa identidade com a sua
profissão é de extrema importância para compreendermos a sua atuação e o seu
comprometimento dentro do ambiente escolar. Para compreender esse processo de
ressignificação é necessário levar em consideração a trajetória social e profissional, a
formação e as práticas profissionais dos docentes. Cabe também pensar no que acontece
quando o professor perde a sua identidade profissional docente e que fatores colaboram para
que isso aconteça.
No último capítulo apresentaremos sobre a importância da formação continuada na
construção da identidade profissional docente. Nessa etapa refletiremos a partir das
afirmações de Candau e Wachs. Procuraremos descrever como acontece, no contexto escolar,
a formação continuada e qual o papel da coordenação pedagógica neste processo de formação.
E, para finalizarmos o presente trabalho, analisaremos a influência dessa formação continuada
no processo da construção da identidade profissional docente.
2 IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE
Percebendo o grande comprometimento e responsabilidade que recai sobre o
profissional da educação, é necessário pensarmos sobre o verdadeiro sentido do ser docente,
as tarefas que cabem à docência, os saberes e as competências necessárias para que ocorra a
aprendizagem dos alunos e a plena realização e satisfação dos professores. Também o
interesse em refletirmos sobre o valor e a importância dada a essa profissão tão especial e as
atribuições que cabem a esse profissional no contexto social em que está inserido, ou seja,
neste mundo globalizado que passa por constantes mudanças. No desenvolver do trabalho,
será feita também uma reflexão sobre a identidade profissional docente, como ela se constrói
a partir das experiências vividas por cada professor.
2.1 O QUE SIGNIFICA SER DOCENTE?
As pessoas já conviveram um dia com um professor e sabem da importância e do valor
desse profissional na vida de cada um. Entretanto, devemos considerar que as pessoas
somente reconhecem o seu valor algum tempo após. Geralmente quando vão em busca de um
emprego e percebem que, na maioria das vezes, quem ganha a melhor oportunidade, com um
salário maior, é aquele que tem uma melhor qualificação. Os professores são um referencial
para todo ser humano e são fundamentais na educação de cada indivíduo.
Além do ofício de ensinar, proporcionam sentido para a vida de muitas pessoas, sendo
uma das suas referências mais importantes. O professor é o alicerce, é a base das profissões,
pois ele incentiva o ser humano a ir em busca de uma boa educação. As pessoas passam pelas
mãos dos educadores e a partir dos seus ensinamentos e exemplos, em conjunto com outros
fatores sociais, políticos, econômicos e culturais com os quais se confrontam na sociedade em
que vivem, constroem sua identidade e adquirem valores que nortearão a sua vida.
Atualmente, podemos acompanhar uma importante preocupação dos órgãos
governamentais, tanto a nível nacional quanto municipal, com a melhoria do desempenho da
aprendizagem do aluno. Nos meios de comunicação podemos ouvir e ler diversas
manifestações com a intenção de melhorar os índices, na maioria das vezes em comparação
com os índices internacionais. Consideramos esta ênfase bastante importante. Entretanto,
analisando o cotidiano escolar da sala de aula e da sala dos professores, acreditamos que
12
deveríamos pensar primeiro nos professores, porque não há reforma educacional sem eles,
pois geralmente são esses os profissionais de maior envolvimento com os processos e os
resultados da aprendizagem escolar e com a busca da qualidade na educação. Os professores
desempenham um papel de liderança na reforma do ensino. Hoje em dia, uma parcela
significativa desses profissionais está preocupada em aprender, se atualizar com
conhecimentos e práticas para melhorarem o seu desempenho. Desejam adaptar-se às novas
exigências educacionais, nessa sociedade em constante transformação, oferecendo um ensino
de qualidade, adequado às necessidades sociais e profissionais dos educandos.
Para o educador Paulo Freire (2000, p. 25) “quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender”. O professor, ao ensinar a seus alunos, também adquire
conhecimento, pois existe nessa relação entre professor e aluno uma troca de experiências e
aprendizagens. Essa troca acontece durante os diálogos e reflexões que fazem sobre os
conteúdos. Moacir Gadotti (2003a, p. 49) também dá a sua contribuição dizendo que “só
aprendemos quando colocamos emoção no que aprendemos. Por isso é necessário ensinar
com alegria”. Os docentes deveriam ensinar com vontade, com prazer, realmente vivenciar e
se envolver com o que estão ensinando, pois isso se reflete na aprendizagem do educando.
Os seres humanos, como seres inacabados, estão sempre em busca do novo, do
desconhecido, do diferente. Sempre curiosos procurando novos saberes para se atualizarem
como profissionais e como pessoas. Paulo Freire (2000, p. 55) deixa claro sua idéia a respeito
do inacabamento do ser humano quando diz que “na verdade, o inacabamento do ser ou sua
inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre
mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente.” O inacabamento faz parte das
características próprias do ser humano e como tal, a maioria das pessoas se encontra num
processo permanente de busca social de aperfeiçoamento. Os seres humanos não só são
inacabados e incompletos, mas eles têm consciência disso e por isso precisam dos outros e
aprendem com os outros.
Julio Groppa Aquino (2002, p. 12) confirma essa idéia dizendo que “[...] a capacitação
do educador nunca é adquirida por completo, uma vez que ela jamais se esgota”. Tanto Paulo
Freire como Julio Aquino destacam essa necessidade constante dos educadores e das demais
pessoas de realizarem um processo contínuo de aprendizagem. O ser humano deveria estar
sempre buscando aprender mais. Quanto mais sabem, mais querem ainda aprender.
Deveríamos reconhecer a importância do papel do educador de ensinar o aluno a pensar
criticamente, pois aprender criticamente é possível quando há educadores e educandos
curiosos, criadores, inquietos e persistentes.
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O professor, como agente de memória educativa, deveria se preocupar em levar às
gerações mais novas a recuperar e valorizar o passado, conhecer suas origens e sua história
para assim conseguir viver intensamente o presente e projetar o futuro. Como agente de
valores e de inovações, cabe a ele a responsabilidade de formar cidadãos, conscientes de suas
responsabilidades dentro do meio em que vivem. Como agente de inovações, é um
profissional que deveria orientar, estimular a reflexão crítica, promover debates e auxiliar na
compreensão e utilização das inovações técnicas e culturais que surgem dentro da sociedade
atual. Muitos professores procuram atingir esses objetivos, mas isso só é possível se o aluno
realmente quer aprender.
O educador Paulo Freire (2000, p. 96) aponta que “o bom professor é o que consegue,
enquanto fala, trazer o aluno para a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é
assim um desafio e não uma ‘cantiga de ninar’. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam
porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas
dúvidas, suas incertezas”. Quando o aluno demonstra interesse em aprender, ele acompanha a
aula tranqüilamente, não se cansa e, presta atenção no que o professor fala e assim ocorre a
aprendizagem. Para o professor desempenhar todas as suas funções, necessita de uma
qualificação acadêmica que lhe dê condições para promover a aprendizagem dos seus alunos e
uma qualificação pedagógica que lhe proporcione metodologias e técnicas adequadas para o
uso diário no exercício da sua atividade profissional. Para ensinar é preciso saber improvisar,
pois os acontecimentos que ocorrem na prática nunca são os mesmos, e por isso não há
receitas prontas que solucionem dificuldades emergentes. José Carlos Libâneo (1998, p. 28)
afirma que:
Todavia, novas exigências educacionais pedem às universidades um novo professor
capaz de ajustar sua didática às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do
aluno, dos meios de comunicação. O novo professor precisaria, no mínimo, de
adquirir sólida cultura geral, capacidade de aprender a aprender, competência para
saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem
informacional e dos meios de informação, habilidade de articular as aulas com as
mídias e multimídias.
Nem sempre, as universidades preparam os futuros professores para enfrentarem as
situações que encontram na prática. Atualmente, em boa parte dos cursos de licenciatura, o
futuro professor só entra em contato com a realidade escolar após ter passado pela formação
“teórica” nas disciplinas específicas e pedagógicas, quando deveria acontecer o contrário.
Desde o ingresso dos alunos no curso, é necessário integrar os conteúdos das disciplinas com
a prática. Nela o aluno se depara com situações problemáticas em que é desafiado a encontrar
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soluções e alternativas. Essa vivência daria ao futuro professor a oportunidade de ter a prática
presente, ao longo do curso, para poder comparar as situações vivenciadas com as teorias e
formar seus próprios conhecimentos. Algumas vezes a teoria não condiz com a prática, ou
seja, o que é apresentado ao aluno na universidade não corresponde ao que ele encontra
verdadeiramente na sala de aula, ou como diz José Esteves (1999, p. 109):
O professor novato sente-se desarmado e desajustado ao constatar que a prática real
do ensino não corresponde aos esquemas ideais em que obteve a sua formação;
sobretudo, tendo em conta que os professores mais experientes, valendo-se da sua
antiguidade, os irão obsequiar com os piores grupos, os piores horários, os piores
alunos e as piores condições de trabalho.
Outro aspecto a ser destacado é a falta de conhecimento teórico dos professores,
principalmente os que trabalham por área. Às vezes, na escola, falta um professor de certa
disciplina, então outro professor, que nem é dessa área, assume as aulas por ter horas
sobrando, não sendo da sua competência e habilitação e não dominando o conteúdo que
precisa ensinar. Nessas circunstâncias, geralmente ele acaba reproduzindo as aulas e os
exercícios dos livros didáticos, adotam os procedimentos de outros professores, o que
desqualifica todo esforço e tempo gasto em anos de formação. Essa situação acaba
prejudicando a aprendizagem do aluno e em algumas situações leva o educando a perder a
motivação pelos estudos, podendo gerar indisciplina dentro da sala de aula.
Para Moacir Gadotti (2003a, p. 71) “ser professor, na acepção mais genuína, é ser
capaz de fazer o outro aprender, desenvolver-se criticamente”. A aprendizagem, sendo um
processo ativo, precisa da existência do aluno e do professor. O professor precisa ver e dar
sentido ao que está fazendo e ensinando. Só assim poderá motivar o seu aluno e desenvolver
nele o desejo de aprender. A heterogeneidade do corpo discente, as condições salariais, a luta
pela valorização profissional, a falta de recursos econômicos da escola, a falta de
oportunidades de aperfeiçoamento e todo o contexto do mundo pós-moderno trazem
problemas e desafios aos professores e à escola. Diante deste contexto e desta realidade, cabe
ao professor ter disposição para aprender e buscar novas alternativas para superar seus
desafios e atingir seus objetivos como profissional competente, preocupado com a formação
qualitativa dos alunos.
O constante aperfeiçoamento faz parte da vida do ser docente. Ele precisa se atualizar
para atender aos interesses de um corpo discente tão diversificado, porque atualmente, nas
escolas, encontramos alunos das diferentes classes sociais, raças e etnias, uma verdadeira
multicultura da qual o professor precisa dar conta. No passado, a escola ocupava uma
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determinada posição de status, só atingia a classe privilegiada e um grupo social e cultural
específico. Muitas vezes, no passado, a escola era constituída de grupos étnicos específicos.
Hoje a tarefa de ser professor se torna mais difícil quando se precisa lidar com grupos
bem diversificados de pais e de famílias que fazem parte da escola, com culturas e modos tão
diferentes de conviver em sociedade. Se os professores têm a ajuda e colaboração dos pais, se
existe uma relação de apoio mútuo entre eles, na educação dos filhos, a tarefa de ser professor
se torna mais fácil. É necessário construir uma parceria entre pais, professores e escola que
beneficie a aprendizagem do aluno, valorizando a individualidade da criança. A escola é um
lugar de diversidade, que recebe alunos de diferentes hábitos, costumes e culturas. É
fundamental ressaltar que a tarefa e a responsabilidade dos professores e da escola, frente a
essa realidade, são muito sérias e comprometedoras. Apresenta-se como um enorme desafio
cotidiano e permanente. José Carlos Libâneo (1998, p. 77) aponta que:
[...] Os professores precisam ter uma boa informação cultural e serem capazes de
lidar com diferenças, atendendo às expectativas da comunidade escolar e da
sociedade como um todo. Devem se empenhar ao máximo para terem um bom
relacionamento com os alunos para que a aprendizagem seja significativa e
produtiva. Necessitam estar em constante busca de novas opções e troca de idéias
com outros educadores para se manterem capacitados para enfrentar as novas
perspectivas que encontram a cada dia.
Nessa conjuntura é emergente a formação integral dos educadores para compreender a
complexidade do espaço escolar que acolhe e valoriza a diversidade cultural. Formação esta,
que valoriza o humano e os diferentes conhecimentos apresentados por cada cultura. Para
acompanhar as mudanças dessa sociedade complexa é exigido do professor muita
criatividade, persistência e amor pela profissão. Celso Antunes (2002, p. 8) destaca que “para
ser um educador de verdade, um verdadeiro mestre, todo professor deve, antes, ser uma
grande pessoa”. Ou seja, o professor precisa ter bom caráter, valores, bons sentimentos e
muito amor para lidar com as crianças. Precisa respeitar os alunos como seres humanos e
promover uma educação comprometida e de qualidade. O profissional da educação precisa ter
ética e deve se preocupar com a formação moral do educando. Essa idéia também é defendida
por Paulo Freire (2000, p. 37) quando menciona que:
Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora
dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma
transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro
treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no
exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano,
o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando.
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Sabemos que, às vezes, a realidade que os docentes encontram nas salas de aula e na
escola é bastante difícil. Atualmente existem, nas escolas, sérios problemas de drogas,
indisciplina, desrespeito, ameaça a integridade física e psicológica do professor, assassinados
e é diante deste contexto que sua tarefa se torna cada vez mais difícil. Cada vez se exige mais
do docente e realmente ele precisa realizar novas atividades e novos desafios para incentivar e
motivar os seus alunos. Isto é difícil e o docente precisa de muita coragem, motivação e força
de um ser superior, Deus, para superar suas dificuldades. Além disso, deveria ter a seu alcance
a ajuda e o apoio dos seus colegas de trabalho, da coordenação pedagógica e da direção da
escola para se levantar quando sofre uma derrota.
Leda Portal (2001, p. 115) afirma que:
Ser professor está hoje a exigir um novo perfil, uma nova postura, caracterizada por
uma atitude: pró-ativa, crítica, empreendedora, com habilidades de socialização,
facilidades em trabalhar em e com equipe, num imperativo trazido pela
planetarização, globalização, pelo conectar-se em um processo de interdependência,
de colaboração, de cooperação, de interatividade que desafie a hiperespecialização,
que limita, restringe, separa e fragmenta, impedindo de ver o global e onde o
essencial se dilui, fechando-se em si mesmo.
Essa autora chama atenção sobre a importância de trabalhar em equipe e de
desenvolver a habilidade de conviver em grupo, trocar idéias, pois é partilhando
conhecimentos que cada ser humano desenvolve suas capacidades e adquire mais habilidades
para desempenhar suas funções. José Carlos Libâneo (2002, p. 77) reforça essa reflexão
quando afirma que:
[..] Nesse sentido, para além de uma reflexividade cognitiva, é preciso a
reflexividade comunitária, a reflexividade compartilhada, num esforço de instaurar
nas escolas uma prática de gestão e convivência lastreada na construção de
significados e entendimentos compartilhados a partir das diferenças e da busca de
valores universais comuns.
Philippe Perrenoud (2000, p.81) também ressalta a importância de trabalhar em equipe
quando diz que “Trabalhar em equipe é, portanto, uma questão de competências igualmente a
convicção de que a cooperação é um valor profissional”. Nesse contexto um precisa ajudar e
cooperar com o outro. Os docentes precisam trabalhar em conjunto, em equipe, para o
benefício da educação e da aprendizagem dos educandos. Aumenta cada vez mais o número
de professores que optam em trabalhar em equipe, porque acreditam na cooperação, na
partilha de recursos, idéias, problemas, dificuldades e responsabilidades.
Nessa estrutura social, ser professor é um desafio, é uma tarefa complexa, que exige
grande esforço, dedicação, mas é prazerosa para aqueles que optaram em ser professor, que
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gostam do que fazem, que assumiram a profissão que escolheram. Ser professor é acreditar
numa educação melhor e lutar por melhores condições de ensino. É confiando no trabalho em
equipe que se tem mais força para vencer os obstáculos e os desafios. É preciso o trabalho em
equipe e a integração dos educandos, pois todos são capazes de aprender, se lhes são
oferecidas as condições apropriadas, respeitando as diferenças. Se cada professor oferecer a
sua ajuda em favor do próximo, com certeza teremos melhores índices de aprendizagem e
avanços na educação brasileira. Moacir Gadotti (2003b, p. 21), por sua vez, destaca:
Ser professor hoje não é mais difícil nem mais fácil do que era há algumas décadas
atrás. É diferente. Diante da velocidade com que a informação se desloca, envelhece
e morre, diante de um mundo em constante mudança, seu papel vem se
transformando - senão na essencial tarefa de educar, pelo menos no ofício de
ensinar, de conduzir a aprendizagem e na sua própria formação que se tornou
permanente. Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, com consciência e
sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem professores.
Eles não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica,
mas também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber, porque constroem sentido
para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, numa visão emancipadora,
um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são
imprescindíveis.
A tarefa de ser professor é fundamental, independente do lugar e da época. Em todos
os tempos ela foi necessária e significativa. Com o decorrer do tempo e as mudanças que
ocorreram, o papel do docente também sofreu alterações, mas o professor deveria se adaptar
às situações que o cotidiano lhe propõe e procurar meios e alternativas para que o aluno
aprenda. Cada professor deveria aproveitar e se esforçar ao máximo para atender os desafios
que a função docente lhe atribui visando o progresso da educação.
Refletindo sobre a idéia de Moacir Gadotti percebemos a importância dada ao
professor nos dias atuais, suas responsabilidades e compromissos com os alunos nessa
sociedade em constante transformação. Cabe ao professor a tarefa de se preocupar com a sua
permanente formação para se manter atualizado e preparado para resolver os desafios que a
profissão lhe impõe.
2.2 O DOCENTE E SUA RELAÇÃO COM O EDUCANDO
Paulo Freire (2000, p. 25) menciona a importância da relação professor e aluno
quando diz que “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar
das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro”. Para que
o professor possa ensinar, precisa ter alunos que queiram aprender. Há uma reciprocidade
18
entre professor e aluno. O profissional da educação procura manter uma relação humana,
construtiva, de confiança, de afeto e de respeito mútuo com seus alunos. A opinião de
Marlene Grillo (2001, p. 87) complementa essa idéia quando coloca que:
Em relação ao clima de sala de aula, é apontado o reconhecimento da afetividade
como um fator positivo na aprendizagem, destacando-se a relevância do equilíbrio
entre a seriedade e o bom humor, os quais aproximam aluno e professor, sem
comprometer o rigor exigido pela docência.
Reconhecemos a influência da afetividade no bom desempenho da docência, mas não
podemos deixar de mencionar que alguns professores, às vezes, têm grandes dificuldades em
manter uma boa relação de afetividade com alguns alunos, principalmente com os
adolescentes. Isso acontece porque nesse período da vida, os adolescentes passam por crises e
modificações físicas, psicológicas e sociais que geram grande insegurança, conflitos e
agressividade e isso se reflete no seu relacionamento com as outras pessoas. Os docentes
críticos, criativos, desafiadores, competentes, dinâmicos, mediadores, procuram facilitar o
processo ensino-aprendizagem dos alunos e colaboram na construção da consciência, do
caráter e da cidadania plena dos seus educandos.
Seguidamente, os docentes são desafiados pelos alunos, surgem situações novas dentro
da sala de aula que precisam de alternativas e soluções, por isso a profissão de professor é
complexa e exige um saber especializado. O professor desempenha várias funções relevantes
dentro do processo ensino-aprendizagem e da escola, entre elas, a de ser professor, planejar,
dominar o conteúdo, promover diálogos, debates, transmitir conhecimentos, valores, exigir
trabalhos e avaliar seus alunos. Precisa ser amigo dos alunos, escutá-los, dialogar com eles,
incentivá-los a serem curiosos e críticos, dar sugestões e oportunidades para que os educandos
solucionem suas dificuldades, ampliam seus conhecimentos e se auto-realizem como pessoas.
O professor deveria ser um pouco psicólogo, agente social, pai e mãe.
O educador Paulo Freire (2000, p. 96) também considera fundamental o diálogo entre
professor e aluno. Ele diz que “o fundamental é que professor e alunos saibam que a postura
deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada,
enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam
epistemologicamente curiosos.” Ressaltamos aqui a importância do diálogo aberto entre o
docente e o discente para que ocorra a aprendizagem. O professor precisa provocar seus
alunos para que se tornem curiosos e motivados para aprenderem.
Para os autores Maurice Tardif e Claude Lessard (2005, p. 232-233) o trabalho
docente dentro da sala de aula acontece de forma interativa, rápida, imprevisível e visível
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dentro de uma historicidade diária, semanal e o professor precisa lidar e se adaptar a essas
situações. A intervenção do professor durante a aula é muito significativa para manter os
alunos motivados e concentrados em suas atividades. Exige do professor uma atenção especial
sobre as tarefas em andamento. Esses dois autores ressaltam bastante a idéia da interatividade,
pois ensinar é um trabalho interativo. Tudo acontece muito rápido e imprevisivelmente, e o
professor nem sempre está preparado para solucionar os problemas que surgem dentro da sala
de aula. A interação facilita o trabalho docente. Tardif e Lessard (2005, p. 246) dizem:
[...] a professora está continuamente no centro da ação em andamento, ela dialoga
continuamente com os grupos e os alunos individualmente, garante tanto o controle
dos comportamentos disciplinares quanto a realização da tarefa coletiva da
aprendizagem. Em suma, ela age de várias maneiras ao mesmo tempo, instaurando
diversos tipos de interação com os alunos e/ou o grupo: instruções para a tarefa,
chamada à ordem, avaliação de uma aprendizagem, reforço, motivação, etc.
Para o professor conseguir manter esse trabalho interativo dentro da sala de aula os
alunos devem demonstrar interesse e participação nas atividades. O professor não consegue
realizar esse trabalho interativo quando encontramos na sala de aula alunos perturbadores, que
não realizam as tarefas propostas e atrapalham o andamento da aula. Essas situações deixam o
professor desanimado e muitas vezes faz com que saia da sala de aula frustrado e se sente
incompetente. Freire (1994, p. 63) nos fala das qualidades indispensáveis aos educadores
progressistas:
É vivendo, não importa se com deslizes, com incoerências, mas disposta a superálos, a humildade, a amorosidade, a coragem, a tolerância, a competência, a
capacidade de decidir, a segurança, a eticidade, a justiça, a tensão entre paciência e
impaciência, a parcimônia verbal, que contribuo para criar, para forjar a escola feliz,
a escola alegre. A escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco,
por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se atua, em que
se cria, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que apaixonadamente
diz sim à vida. E não a escola que emudece e me emudece.
Analisando, podemos compreender as qualidades positivas do professor e sua
influência na construção de uma escola onde os alunos se sentem bem e felizes. Onde são
vistos, ouvidos e amados. Onde são tratados com dignidade e respeito. Notamos a importância
de termos professores competentes e toda uma conjuntura social, política, econômica
adequada que favoreça a implantação desse tipo de escola, pois nos dias atuais é difícil
encontrarmos escolas onde todos os alunos são tratados da mesma maneira, sem
discriminação. O professor devendo ter um olhar atento e constante sobre o aluno, precisaria
ser responsável, comprometido e competente e deveria ser capaz de encontrar vários
caminhos e alternativas para proporcionar condições adequadas para que ocorra a
20
aprendizagem. Deveria ser um agente de mudanças no contexto em que está inserido.
Precisaria ter um relacionamento intra e interpessoal equilibrado e saudável para que tenha
capacidade de construir e reconstruir a sua identidade docente e oferecer um processo de
aprendizagem significativo.
Os professores podem utilizar várias estratégias para promover a educação, entre elas,
a posição de intermediário entre o aluno e a cultura dando atenção à diversidade de alunos.
Além disso, precisa acompanhar e interferir diferenciadamente no processo ensinoaprendizagem de seus alunos. Intervenções nos grupos ou individualmente quando o aluno
necessita de um acompanhamento mais específico. O aluno, para compreender o que faz e
progredir na sua aprendizagem, depende do grau de contribuição do professor, com sínteses,
recapitulações e referências, o que contribui para que os alunos possam avaliar a própria
competência e aproveitar a ajuda que lhes é oferecida.
Para facilitar a aprendizagem do educando, o professor precisa fazer um planejamento
flexível e aberto a modificações que se adaptam às diferentes situações que surgem dentro da
sala de aula. Como por exemplo: Levar em consideração as experiências e os conhecimentos
dos educandos, ajudá-los a encontrar sentido no que estão fazendo, estabelecer metas ao
alcance deles e oferecer ajuda para os obstáculos que enfrentam. Essa opinião vem ao
encontro do pensamento de Marlene Grillo (2001, p. 79) quando esta coloca que “todo aluno
traz para a sala de aula uma história pessoal, com experiências particulares vividas na família,
na sociedade, com disposições e condições diversas para realizar seu percurso de estudante e
expectativas diferenciadas com relação a um projeto de vida”.
Devemos respeitar e aproveitar as experiências que os alunos trazem e dar-lhes a
oportunidade de expressarem suas próprias idéias, ampliar suas experiências com outras
novas, perceber suas limitações e ir em busca de alternativas. Para que isso aconteça, o
professor necessita criar um ambiente propício para debates, diálogos e participação, onde os
alunos possam fazer perguntas, questionar e refletir. Sabemos que na prática, às vezes, não
ocorre esse momento, pois os professores mais autoritários não deixam abertura para que os
alunos possam se expressar e terem um momento de diálogo, de troca de idéias e reflexões. O
professor prefere que os alunos fiquem calados fazendo outras atividades individualmente.
É preciso planejar propostas de atividade que favoreçam diferentes formas de
interação e de relacionamento, além de prever atividades que colocam os alunos frente à
necessidade de resolver situações de convivência diferentes das que encontra no seu dia-a-dia.
Assim o professor poderá realizar observações e avaliar o desempenho e o esforço dos
educandos. Além disso, deve oportunizar aos seus educandos, momentos de ajuda
21
individualizada, já que nem todos aprendam no mesmo ritmo, mesmo modo e com as mesmas
atividades.
A interferência do professor no ambiente escolar, é de extrema importância, pois os
educandos, para responderem às propostas educacionais com maior ou menor interesse e
dedicação nas tarefas, precisam ter bem claro o que o professor espera deles. Os alunos que
percebem que se espera deles um bom rendimento, que recebem ajuda, orientação e atenção
por parte do professor vão confirmar as expectativas com resultados satisfatórios. Dos alunos
que pouco se espera, que recebem pouca ajuda, não demonstrarão maior interesse e seus
resultados não serão satisfatórios. A professora Marta Kohl de Oliveira (1997, p. 62),
baseando-se na teoria de Vygotsky, também faz referência à intervenção do professor na
aprendizagem dos alunos e salienta que:
[...] a intervenção é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel
explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando
avanços que não ocorreriam espontaneamente. [...] A intervenção de outras pessoas que, no caso específico da escola, são o professor e as demais crianças - é
fundamental para a promoção do desenvolvimento do indivíduo.
Não apenas o professor deverá auxiliar os alunos na realização das tarefas, mas é muito
interessante que os próprios alunos se ajudem mutuamente. Às vezes, os alunos entendem
melhor o conteúdo quando um colega explica, do que se o próprio professor explica, pois os
alunos utilizam a mesma linguagem para se comunicar. Mesmo assim o apoio do professor é
fundamental. Essa idéia se confirma quando a autora Marta Kohl de Oliveira (1997, p. 64) diz
que:
Com relação à atividade escolar, é interessante destacar que a interação entre os
alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das crianças. Os grupos
de crianças são sempre heterogêneos quanto ao conhecimento já adquirido nas
diversas áreas e uma criança mais avançada num determinado assunto pode
contribuir para o desenvolvimento das outras. Assim como o adulto, uma criança
também pode funcionar como mediadora entre uma outra criança e às ações e
significados estabelecidos como relevantes no interior da cultura.
São de fundamental importância o bom relacionamento do professor com seus alunos
e dos alunos entre si, pois quando o aluno sente segurança, apoio e é valorizado dentro do
ambiente escolar, pelo seu professor e por seus colegas, ele demonstra essa satisfação nos
resultados da sua aprendizagem. Os alunos bem aceitos na escola são mais comprometidos
com a educação, se esforçam, realizam as tarefas propostas com maior interesse e dedicação.
São críticos, participativos e estudam para terem uma formação de qualidade. Por outro lado,
encontramos alunos que não se sentem bem acolhidos dentro do ambiente escolar, não
22
conseguem manter uma boa relação com os professores, não se sentem motivados para
participar ativamente das aulas. Essa situação se reflete na sua aprendizagem, que não é
satisfatória, faltam nas aulas, não trazem material escolar, não realizam as atividades
propostas. Com esse distanciamento, o professor acaba exigindo menos do aluno, não lhe dá a
devida atenção, o que desmotiva ainda mais o aluno que começa a incomodar nas aulas e
prejudica também os demais colegas. Antoni Zabala (1998, p. 96) confirma essa idéia quando
diz:
A maneira de ver o aluno e de avaliá-lo é essencial na manifestação do interesse por
aprender. O aluno encontrará o campo seguro num clima propício para aprender
significativamente, num clima em que se valorize o trabalho que se faz, com
explicações que o estimulem a continuar trabalhando, num marco de relações em
que predomine a aceitação e a confiança, num clima que potencializa o interesse por
empreender e continuar o processo pessoal de construção do conhecimento.
Cabe à escola e mais especificamente ao professor oferecer aos educandos um
ambiente adequado para que possam avançar nos seus conhecimentos. Para que isso aconteça,
é necessário que os docentes e os alunos mantenham um relacionamento de confiança,
aceitação, respeito mútuo e sinceridade. Devem haver condições que estimulem o esforço, a
motivação e o interesse em aprender. É preciso criar um ambiente seguro, que ofereça, a todos
os alunos, oportunidades de participar, dando suas opiniões, num clima de interação,
companheirismo e esforço para enfrentar os desafios e promover a aprendizagem.
Nem sempre a escola tem condições de oferecer esse ambiente seguro, pois ela
também não está preparada para atender a todos os tipos de situações, uma vez que a
diversidade de educandos, de dificuldades e de problemas é muito grande. Devemos ser
sinceros e suficientemente autocríticos para refletirmos sobre as reais condições de lidarmos e
convivermos tranqüilamente com todas as situações conflitantes e oponentes. Será que nós
estamos desejando da escola e dos professores algo impossível e sobre-humano? Às vezes,
almejamos e criamos um protótipo de professor muito próximo do ideal e muito longe do real,
do humano, do concreto. Devemos trabalhar com aspirações e com utopias que nos fazem
caminhar, mas não projetos irrealizáveis. Às vezes, encontramos alunos que vem com medo
para a escola, principalmente os menores, ficam assustados e não querem ficar sem os pais.
Outra situação, quando existem problemas de relacionamento, de abusos dentro do ambiente
familiar e o aluno carrega isso junto para dentro da escola. Ele sente dificuldades de se
relacionar bem com o professor porque tem nele a imagem do pai, por exemplo, que abusa
sexualmente dele ou agride-o fisicamente.
23
Essas situações se refletem na aprendizagem, dificultando a motivação e o
desempenho significativo dos alunos. Os professores terão dificuldade de despertar a
curiosidade e o interesse nos alunos, pois eles não terão condições psicológicas de se
concentrarem nos estudos e de realizarem as atividades propostas. Jocelyne Bocchese (2001,
p. 32) salienta que:
[...] ser professor é, [...] conhecer as competências que os alunos já dominam a fim
de problematizá-las e confrontá-las com situações em que essas se mostrem
insuficientes ou inoperantes. É também fazer com que essas situações sejam
significativas, surpreendentes e estimulantes para os alunos, a ponto de motivá-los a
despender o esforço que a construção de uma competência mais elaborada exige.
O professor também é responsável por avaliar os resultados dos alunos. Essa avaliação
deve ser transmitida aos alunos de uma maneira que os incentive a se esforçar e a continuar
progredindo e nela devem ser levadas em consideração suas capacidades e o esforço
demonstrado. Essa tarefa exige do professor muita responsabilidade e justiça, pois dela
depende promover, nos alunos, a auto-estima e a motivação para continuarem aprendendo.
Assim, o professor deve demonstrar confiança no esforço dos alunos, levando em conta a
situação pessoal de partida, os obstáculos que enfrentaram, as ajudas que tiveram e o ponto a
que chegaram, ou seja, o progresso que tiveram na sua aprendizagem.
Laurinda Ramalho de Almeida (2006, p. 78) destaca a importância de valorizar tanto a
pessoa quanto a participação do educando, quando diz “[...] as habilidades de relacionamento
interpessoal, o olhar atento, o ouvir ativo, o falar autêntico, podem ser desenvolvidas, e que
nesse exercício o profissional vai fazendo uma revisão de suas concepções de escola, de
professor e de aluno”. O professor precisa estar atento às contribuições e aos progressos de
seus educandos. Muitas vezes o professor precisa ter um olhar diferente para compreender seu
aluno e fazer uma autocrítica sobre a sua atuação em sala de aula. Às vezes o próprio
professor precisa mudar seus conceitos e suas atitudes e aceitar as contribuições de seus
alunos.
Diante dessa realidade, algumas vezes, o professor acaba influenciando nos
comportamentos e atitudes dos alunos, se tornando um agente de valores além de ser um
profissional capaz de estimular a identidade individual e grupal e a sociabilidade com e entre
os educandos. É também um agente capaz de promover inovações, pois deve auxiliar na
compreensão, aplicação e avaliação crítica das inovações que surgem e são incorporadas à
cultura escolar. Nesse contexto, Vani Kinski (2001, p. 101) afirma:
24
Estes valores pessoais resultam de um conjunto de fatores que envolvem, entre
outros, a competência do docente para ensinar determinada disciplina, sua maneira
de se relacionar com os alunos nas situações de sala de aula e sua postura como
pessoa e como profissional, aberto (ou não) ao diálogo e à descoberta de novos
caminhos para o ensino e aprendizagem (sua e de seus alunos). [...] Estes valores se
reproduzem e marcam os alunos, em muitos casos, com aprendizagens mais
significativas do que as próprias informações apresentadas na disciplina. Nas
rememorações, os alunos esquecem os conteúdos de muitas matérias, mas as atitudes
e valores adquiridos no convívio e no exemplo de seus professores permanecem
incorporados aos seus comportamentos, às suas lembranças.
Em relação aos valores Paulo Freire (2000, p. 106) faz menção a ética dizendo:
Ensinar e, enquanto ensino, testemunhar aos alunos o quanto me é fundamental
respeitá-los e respeitar-me são tarefas que jamais dicotomizei. Nunca me foi
possível separar em dois momentos o ensino dos conteúdos da formação ética dos
educandos. A prática docente que não há sem a discente é uma prática inteira. O
ensino dos conteúdos implica o testemunho ético do professor. A boniteza da prática
docente se compõe do anseio vivo de competência do docente e dos discentes e de
seu sonho ético.
Percebemos a importância da relação afetiva entre o professor e os alunos, o respeito
mútuo entre ambos, o exemplo e a ética do professor, na aprendizagem e na formação moral
dos alunos, pois geralmente o aluno se espelha no seu professor. Nesse contexto, a
responsabilidade e o comprometimento dos professores são essenciais, mas nem sempre os
docentes cumprem sua tarefa dentro da sala de aula por falta de preparo didático e
pedagógico. Paulo Freire (2000, p. 107) ressalta que:
Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que
ela exige de nós, tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que
ela seja realmente respeitada. O respeito que devemos como professores aos
educandos dificilmente se cumpre, se não somos tratados com dignidade e decência
pela administração privada ou pública da educação.
O professor desempenha um papel fundamental na educação dos alunos, na construção
de conhecimentos, valores e na relação afetiva com os educandos. Certos professores possuem
sensibilidade e por isso devem dar atenção a cada aluno conforme suas necessidades e suas
dificuldades, pois eles são de fundamental importância na construção dos seres humanos. Os
alunos, muitas vezes, constroem seus valores a partir das sugestões e exemplos de conduta do
próprio professor, pois o vêem como referência.
25
2.3 O DOCENTE E AS NOVAS TECNOLOGIAS
Hoje em dia, há desafios e necessidades diferentes e os professores precisam lidar com
muitos saberes e tecnologias avançadas que não existiam. A era da informática, a diversidade de
fontes de informações, as navegações pela Internet estão muito presente no dia-a-dia dos
alunos, por isso os docentes precisam se apropriar dessa tecnologia para se lançar a novos
desafios e reflexões sobre sua prática para que possam utilizá-la devidamente em suas aulas.
Para a professora Maristela Lobão de Moraes Sarmento (2007, p. 66) “é indispensável que os
educadores sejam incentivados a desenvolver projetos pessoais de formação profissional. Para
ocuparem a posição de sujeitos do processo de inovação tecnológica nas escolas será preciso
muita auto-estima, dedicação [...].” Percebemos a grande responsabilidade do profissional da
educação com a tarefa de introduzir e encaminhar os educandos nesse mundo digital. O
professor precisaria se preparar e se comprometer em orientar e educar os alunos para
compreenderem a linguagem do nosso tempo, agindo de forma crítica e com criatividade para
que sejam capazes de perceber e compreender a diversidade cultural, num mundo permeado
pelas novas tecnologias.
Os procedimentos didáticos, neste contexto de inovações tecnológicas devem
privilegiar a construção coletiva dos conhecimentos, mediada pela tecnologia e sob a
orientação do professor. Nessa construção, a função do educador será a de orientar e mediar
as situações de aprendizagem. É preciso inovar para conquistar uma melhor qualidade de
vida, de realizações humanas e para formar cidadãos críticos e participativos. A autora Elaine
Turk Faria (2001, p. 70) coloca que:
Numa sociedade digital e em permanente transformação, o professor deve estar
preparado para capacitar seus alunos a desenvolverem competências para resolver
situações complexas e inesperadas e necessita, também, encarar a si mesmo e a seus
alunos como uma equipe de trabalho com desafios novos e diferenciados a vencer e
com responsabilidades individuais e coletivas a cumprir.
Nessas circunstâncias, o papel essencial do professor é transformar-se em um
selecionador de informações. Ou melhor, deve ajudar o aluno a estabelecer critérios claros e
confiáveis para selecionar os melhores veículos de informação. O professor precisa
acompanhar seus alunos em suas tarefas. Celso Antunes (2002, p. 67-68) confirma essa idéia
quando diz que o professor “necessita estar junto, para a navegação em alguns momentos,
sugerir procedimentos, estimular desafios, orientar a crítica [...]”, pois ele é responsável em
mostrar os caminhos, destacando prioridades, selecionando o essencial e ajudando a indicar o
26
que é imprestável, para que o aluno tenha êxito nas suas atividades no computador e utilize as
informações que são úteis na sua educação.
Quanto a essa questão, Celso Antunes (2002, p. 35) destaca que:
Se as informações colhidas não servem para com as mesmas resolver os problemas
que o cotidiano nos impõe, para com essas informações estabelecer-se a ponte
contextualizadora entre a notícia e o fato, a verdade e a opinião, se o que se aprende
não revela utilidade concreta para efetivamente desenvolver a personalidade e se
coloca à altura de agir com autonomia e discernimento não há porque colher essas
informações. Se por equívoco foram colhidas, com sabedoria devem ser
desprezadas.
Diante dessa realidade, os docentes precisariam constantemente participar de cursos de
aperfeiçoamento, de formações continuadas que devem ser proporcionadas pela escola e
também buscar se atualizar por iniciativa própria. Nesses cursos o professor deveria se
apropriar de programas de computação que poderia utilizar nas suas aulas e também aprender
como manusear essas novas tecnologias. Essa idéia se confirma com as palavras de Elaine
Turk Faria (2001, p. 57) quando destaca que:
Na aurora do século XXI, necessitam os professores estar preparados para interagir
com uma geração mais atualizada e mais informada, porque os modernos meios de
comunicação, liderados pela Internet, permitem o acesso instantâneo à informação e
os alunos têm mais facilidade para buscar conhecimento por meio da tecnologia
colocada à sua disposição.
O docente, ao buscar novos conhecimentos terá mais facilidade e segurança para
acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas que ocorrem na sociedade atual e atender aos
interesses e dificuldades dos alunos. Buscar novos desafios, novas metodologias para
constantemente poder inovar nas suas aulas e assim despertar maior interesse e motivação em
seus alunos para que ocorra a aprendizagem. Nesse contexto, cabe ao docente a competência
de mediar a interação, utilizando corretamente os recursos tecnológicos de maneira criativa
para buscar a construção coletiva do conhecimento.
Elaine Turk Faria (2001, p. 60) faz menção à importância do uso correto dessa nova
tecnologia na sala de aula quando destaca que “em suma, a tecnologia facilita a transmissão,
mas o papel do professor continua sendo fundamental na escolha e correta utilização dessa
tecnologia, dos softwares e seus aplicativos para auxiliar o aluno a resolver problemas e
realizar tarefas que exijam raciocínio e reflexão”. Nós, contudo, somos da opinião de que a
tarefa do professor não se restringe a este papel. Ele deve proporcionar ao estudante um
processo de construção do conhecimento, uma habilidade e uma competência de
discernimento e de reflexão crítica sobre aquilo que se apresenta diante dele. O estudante deve
27
desenvolver uma capacidade de autonomia e de emancipação diante do “bombardeio” de
informações não confiáveis que lhe são derramadas cotidianamente.
O aumento da responsabilidade dos professores em relação às novas tecnologias não
acompanha a melhoria dos recursos materiais e das condições de trabalho, pois em muitas
escolas se têm dificuldades em realizar certas atividades por falta de condições de infraestrutura e possibilidades para adquirir materiais didáticos e recursos tecnológicos necessários
para o trabalho diário. Percebemos a importância da tecnologia na área da educação, suas
contribuições e benefícios, mas reconhecemos também que em muitas escolas ainda existe
muita defasagem nesta área, pois ainda encontramos muitas escolas sem computadores, data
show e outras tecnologias avançadas. Além disto, há escolas que não possuem as infraestruturas básicas e que atualmente já seriam consideradas como antiquadas.
Outras escolas possuem alguns computadores e os alunos têm a oportunidade de
durante meia hora ou uma hora semanal fazer uso deles. Isso já ajuda bastante, pois os alunos
já entram em contato com novas tecnologias, mas isso também ainda não é o ideal. O ideal
seria termos uma sala digital onde os alunos pudessem, durante as aulas, acessar a Internet e
fazer pesquisas e trabalhos, mas isso, hoje em dia, é apenas um grande sonho para as nossas
realidades educacionais. A Internet é uma ferramenta essencial para a construção do
conhecimento e Maristela Sarmento (2007, p. 68-69) confirma a importância da mesma
quando diz:
A internet amplia a possibilidade de comunicação, de troca e, portanto, se faz
mediadora no processo de ensino-aprendizagem. Ao ajudar nossos professores a
entrar nesse mundo novo, navegando pelos saberes da humanidade, percebemos as
constantes transformações do conhecimento e seu caráter efêmero. Em última
instância, a incorporação por parte dos professores de uma atitude investigativa
desenvolverá em nossos alunos o prazer pela pesquisa, que pensamos ser a única e
verdadeira forma de viabilizar uma educação contemporânea.
Devemos ficar atentos à expressão utilizada pela autora: “amplia a possibilidade”. E
nós acrescentamos: “mas não garante maior qualidade”. Em parágrafos anteriores já
destacamos a importância do papel do professor na construção do conhecimento por parte do
aluno e o valor do processo inter-relacional entre professor e aluno. Os meios de comunicação
que comentam e avaliam os resultados dos sistemas externos de avaliação do desempenho
estudantil, destacam o bom desempenho de aprendizagem de alunos que estudam em que o
desempenho qualificado do docente é a peça-chave da aprendizagem significativa por parte
do aluno.
28
Existem também dificuldades em relação aos profissionais da educação, pois nem
todos os docentes se aperfeiçoaram e se atualizaram para lidarem, por exemplo, com um
computador, na frente de uma turma de alunos. Infelizmente essa realidade ainda existe, se
reflete na educação brasileira e na imagem dos professores na atual conjuntura social em que
está inserida. O computador e o data show surgiram para auxiliar e facilitar o trabalho do
professor no seu dia-a-dia. O docente deve estar preparado para usar corretamente essas
tecnologias, tornando as aulas interessantes e motivadores e assim auxiliar no
desenvolvimento crítico e na construção de habilidades e competências dos alunos. Celso
Antunes (2002, p. 66) manifesta a sua idéia, dizendo que:
Essas tecnologias não podem ser vistas apenas como mais um recurso pedagógico,
da forma como o é um gravador de som, o computador veio para ficar e
necessitamos utilizá-lo em aulas para desenvolver o senso crítico do aluno, ensiná-lo
a pensar melhor, aguçar suas faculdades de observação e pesquisa, sua imaginação,
suas memórias e os novos horizontes de sua comunicação.
O computador é uma tecnologia que o professor pode oferecer a seus alunos para
ampliar seus horizontes de comunicação, para fazerem pesquisas, observações, além de
utilizarem diferentes programas, como editores de texto, explorar as potencialidades didáticas
dos CD ROMS, navegar na Internet, promover a troca de correspondência eletrônica, tudo
para que o aluno possa desenvolver suas potencialidades e sua criatividade. Os recursos
eletrônicos chegaram para ficar e cabe ao docente desenvolver as competências para seu uso
racional, criativo e desafiador. Em sua análise, Celso Antunes (2002, p. 36) destaca que:
Cabe ao professor, com paciência e persistência “quebrar a noz dentro da qual o
aluno se enclausura” para mostrar-lhe o mundo não apenas para que o descortine,
mas para que sobre o mesmo atue, inventando meios e processos para se trabalhar e
respeitar os valores do pluralismo e da paz, da democracia e da compreensão mútua
e solidária.
As novas tecnologias e a informática têm provocado grandes e rápidas mudanças no
meio escolar e isso nos faz perceber que é necessário repensar os cursos de formação docente,
adaptando-os à nova realidade. A tarefa do docente, nesse mundo globalizado, é utilizar-se
dos recursos tecnológicos oferecidos e, como mostra Celso Antunes (2002, p. 35), “[...] atuar
como facilitador do entorno social do aluno, da sua condição de cidadão do mundo, de sua
novíssima perspectiva em uma sociedade que se mundializou”. O professor deveria ser capaz
de preparar o aluno para enfrentar os desafios que o mundo lhe impõe e torná-lo capaz de
fazer uso dessa tecnologia que encontramos nesse mundo em transformação. O educador
29
Paulo Freire (1995, p. 98) também dá a sua contribuição sobre o uso da tecnologia na sala de
aula, dizendo:
Penso que a educação não é redutível à técnica, mas não se faz educação sem ela.
[...] Acho que o uso de computadores no processo ensino-aprendizagem, em lugar
de reduzir, pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e
meninas. Depende de quem usa a favor de quê e de quem e para quê.
Mesmo com o enorme e rápido avanço tecnológico, o mestre não perdeu a sua posição
e a sua relevância dentro da sala de aula e da escola. Magaly Robalino Campos (2006/2007
Encarte) confirma essa idéia quando diz “atualmente, ninguém pensa em melhorar a educação
sem docentes. Sem dúvida, os professores, sem ser o único, são um dos fatores de maior
importância na qualificação da educação”. Sendo o papel docente de tão grande relevância,
porque então o questionamento sobre o seu desempenho? No que os professores estão falhando
para não garantir uma aprendizagem satisfatória de certos educandos? O que acontece para que
muitos professores se sintam descontentes, desmotivados e insatisfeitos com os resultados da
aprendizagem apresentada pelos alunos?
Essa é uma questão que nos faz refletir muito, nos faz pensar nas condições de
trabalho que são oferecidas aos professores, na diversidade de alunos que recebem, no
relacionamento com os alunos e com suas famílias, na multiculturalidade de conhecimentos que
se misturam dentro do ambiente escolar e no salário dos docentes. Apesar da enorme
importância da profissão docente, ela é pouco valorizada na nossa sociedade, comparada com a
enorme responsabilidade e comprometimento que essa profissão exige e do que dela é exigido
pela comunidade escolar e por todos os demais segmentos da sociedade. A imagem de ser
professor se perdeu ao longo do tempo como ressalta o jornalista Trevisan, citado por Moacir
Gadotti (2003, p. 13) quando diz:
Todos dizem que gostam muito dos professores, mas não chegam a incomodar-se
muito com o fato de que há tempos eles recebem um salário de fome. O salário é a
parte mais visível de uma condição da qual decorre um papel social que se
descaracterizou por completo... Só quem não quer ver não percebe o sentimento de
cansaço, de esgotamento de expectativas de quem encarava com dignidade o seu
desempenho profissional.
A imagem de um professor valorizado, que se perdeu ao longo dos anos, precisa ser
ressignificada, porque os docentes têm um valor incomparável na vida de todos os seres
humanos. Os professores precisam se unir e lutar por seus direitos para serem socialmente
reconhecidos. Divulgar nos meios de comunicação, principalmente na imprensa escrita seus
trabalhos, seus projetos e realizações, para que a sociedade veja seus feitos, suas lutas e assim
30
voltar a conquistar o seu devido valor que por direito lhe cabe e reconquistar a imagem perdida.
Devem deixar aflorar o orgulho de serem professores e deixar resplandecer a auto-imagem
reconstituída.
O ministro da educação Fernando Haddad (2007, p. 22) aponta que “a melhor
remuneração e a boa formação ajudam no resgate da imagem, mas nossos professores precisam
ser valorizados de verdade pela sociedade”, Assim, é necessário repensar os cursos de
formação, tanto inicial como continuada e os salários dos professores. Para que os professores
recebam um salário digno e justo para poderem trabalhar menos horas e, conseqüentemente,
terem mais tempo disponível para se dedicar a seus planejamentos, cursos de aperfeiçoamentos,
é fundamental que se empenhem no resgate da valorização da sua profissão.
E como diz Ruben Alves (2000, p. 45): “ensinar é um exercício de imortalidade. De
alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia
da nossa palavra. O professor assim, não morre jamais.” O professor é aquele que jamais
esquecemos. Todo ser humano que teve um professor na vida sempre se lembrará dele, pois
querendo ou não, o professor deixa a sua marca, sua semente na vida de cada aluno que depois
de algum tempo germinará, crescerá e dará bons frutos ou não, dependendo do valor que cada
aluno dá a seu professor. Assim, muitas pessoas agradecem pelo que são aos seus pais e a seus
professores que assumiram a sua identidade profissional docente.
3 OS SABERES E AS COMPETÊNCIAS DO DOCENTE
3.1 SABERES DA DOCÊNCIA
Para mediarmos o processo de construção da identidade profissional docente é necessário
refletirmos sobre os saberes e as competências da docência. O pesquisador José Carlos
Libâneo (2004, p. 82) afirma que “saberes são conhecimentos teóricos e práticos requeridos
para o exercício profissional, [...]”. O professor para ser um bom profissional deveria ter
adquirido, durante a sua formação, tanto os conhecimentos teóricos como os práticos, mas na
realidade nem sempre é isso que acontece. Às vezes, encontramos na escola professores com
alto grau de conhecimentos teóricos, mas lhes falta a didática para dar boas aulas. Outras
vezes, encontramos professores com metodologias muito boas, mas que não possuem os
conhecimentos teóricos necessários para serem competentes. Para o pesquisador Maurice
Tardif (2002, p. 36) “pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado pelo
amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de
saberes disciplinares, curriculares e experienciais”. Os dois autores destacam que os saberes
são conhecimentos adquiridos pelos professores através de várias fontes e esses saberes são
necessários para o desempenho de suas funções e colaboram na aprendizagem dos alunos.
Maurice Tardif (2002, p. 217-218) afirma que “[...] os saberes do professor dependem
intimamente das condições sociais e históricas nas quais ele exerce seu ofício, e mais
concretamente das condições que estruturam seu próprio trabalho num lugar social
determinado.” A questão dos saberes está ligada ao trabalho docente no ambiente escolar, à
sua organização e a todo o contexto no qual a profissão docente está inserida. A escola é um
dos lugares fundamentais nesse processo, pois é lá o espaço onde o professor reflete sobre sua
prática, troca idéias em conjunto com os demais colegas e, dessa forma, constrói os saberes
que nortearão a sua prática pedagógica docente.
A professora Selma Garrida Pimenta (2002, p. 20-28) destaca que os saberes da
docência são: a experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos. Os alunos trazem, para
os cursos de formação inicial de professores, experiências próprias que adquiriram ao longo
de sua trajetória como alunos. Eles sabem identificar quais eram seus bons professores em
conteúdos e não em didática, os que não sabiam ensinar, quais os mestres que foram
significativos e contribuíram para a sua formação humana. Reconhecem a desvalorização
social e financeira dessa profissão e a dificuldade de estar na frente de uma turma
indisciplinada, em escolas precárias. Essa experiência acumulada em sua vida, refletida,
32
analisada, confrontada com as teorias e práticas e avaliada vai fazer o professor construir o
seu jeito de ser professor. A educação escolar está fundamentada na atuação dos professores e
dos alunos para que num trabalho coletivo e interdisciplinar possam contribuir com o
processo de humanização. A experiência concreta da vida escolar dos alunos se reflete no ser
e no sentir-se docente do futuro professor. Cada experiência, tanto positiva como negativa, vai
influenciar na construção da identidade profissional docente. Também nós, atuais professores,
nossa maneira de ser e nosso relacionamento influenciarão na identidade profissional dos
nossos alunos que um dia se tornarão professores. Os professores deixam suas marcas na vida
dos seus alunos, por isso precisamos estar cientes da nossa missão como educadores.
Os saberes pedagógicos dos professores se baseiam em sua experiência na profissão,
em suas próprias competências e habilidades individuais. O educador Maurice Tardif (2002,
p. 103) afirma que:
[...] os saberes que servem de base para o ensino, isto é, os fundamentos do saberensinar, não se reduzem a um “sistema cognitivo” que, como um computador,
processa as informações a partir de um programa anteriormente definido e
independente tanto do contexto da ação no qual ele se insere quanto da sua história
anterior. Na realidade, os fundamentos do ensino são, a um só tempo, existenciais,
sociais e pragmáticos.
Existenciais, porque o professor reflete a partir de suas experiências e de sua história
de vida pessoal, familiar, social e escolar e, partindo dessas, ele interpreta as novas situações
com as quais se confronta. Tardif (2002, p. 104) coloca que “[...] fazer perguntas aos
professores sobre seus saberes equivale, de certa maneira, a levá-los a contar a história de seu
saber-ensinar, através das experiências pessoais e profissionais que foram significativas para
eles do ponto de vista da identidade pessoal”. O professor, ao refletir sobre sua prática, vai
ressignificando e reconstruindo a sua própria identidade profissional docente.
Sociais, porque como afirma Tardif (2002, p. 104) “[...] os saberes profissionais são
plurais, provém de fontes sociais diversas (família, escola, universidade, etc.) e são adquiridos
em tempos sociais diferentes: tempo de infância, da escola, da formação profissional, do
ingresso na profissão, da carreira [...]”. Podem ser considerados sociais também porque, às
vezes, são produzidos por grupos sociais e nessa situação ocorre uma relação social do
professor com seus saberes e com as pessoas que os produzem.
Pragmáticos, porque estão ligados tanto ao trabalho como à pessoa do trabalhador.
Tardif (2002, p. 105) afirma que “trata-se de saberes ligados ao labor, de saberes sobre o
trabalho, ligados às funções dos professores”. São saberes práticos e sua utilização depende de
sua adequação aos problemas e às situações do trabalho. Esses três fundamentos do ensino
33
expressam a dimensão temporal dos saberes dos professores. São adquiridos no e com o
tempo e incorporam, ao longo do processo de socialização, experiências e conhecimentos
adquiridos nesse período.
O educador Maurice Tardif (2002, p. 102) afirma que os saberes profissionais dos
professores são plurais, mas também temporais (TARDIF, 2002, p. 260) adquiridos através de
processos de aprendizagem e de socialização. Grande parte do que os professores sabem sobre
as tarefas e os papéis dos professores eles sabem da sua própria vida escolar. Seus saberes
estão fundamentados na sua história de vida e na sua experiência de professor. Ele organiza a
sua prática a partir de suas vivências, sua afetividade e seus valores. Assim, seus primeiros
anos de prática profissional são fundamentais na aquisição do sentimento de competência e na
estruturação da prática profissional.
Os professores possuem saberes próprios do seu oficio e são sujeitos do conhecimento.
Além disso, no seu trabalho diário, aplicam saberes produzidos por outros e constrói seus
próprios saberes. Estes também são variados e heterogêneos (TARDIF, 2002, p. 263) não
formam um repertório de conhecimentos unificados, pois raramente um professor tem uma
teoria única de sua prática, ao contrário, ele usa muitas teorias e técnicas conforme suas
necessidades. Sua relação com os saberes é uma busca de utilização integrada no trabalho em
função de vários objetivos que procura atingir. São variados e heterogêneos porque os
professores procuram atingir diferentes objetivos, cuja realização não exige os mesmos
conhecimentos, competências e aptidões. Quanto a essa questão, Tardif (2002, p. 263) nos dá
vários exemplos concretos dessa situação:
Por exemplo, quando observamos professores trabalhando em sala de aula, na
presença dos alunos, percebemos que eles procuram atingir, muitas vezes de forma
simultânea, diferentes tipos de objetivos: procuram controlar o grupo, motivá-lo,
levá-lo a se concentrar numa tarefa, ao mesmo tempo em que dão uma atenção
particular a certos alunos da turma, procuram organizar atividades de aprendizagem,
acompanhar a evolução da atividade, dar explicações, fazer com que os alunos
compreendam e aprendam, etc.
Percebe-se que dentro da sala de aula, com os alunos, o professor necessita demonstrar
muitos saberes e habilidades. Precisa estabelecer regras e manter uma relação de interação
para que possa atingir seus objetivos. Ainda, quanto aos saberes, eles podem ser
personalizados (TARDIF, p. 265) e situados (TARDIF, p. 266). Personalizados porque são
saberes difíceis de separar das pessoas, de suas experiências e do seu trabalho diário. A
personalidade do profissional é absorvida no seu trabalho e é praticamente a principal
mediação da interação entre professor e aluno. O professor tem uma história de vida, é um
34
ator social, têm emoções, personalidade, cultura e seus pensamentos e ações carregam as
marcas do ambiente nos quais se insere. Esses saberes são incorporados, subjetivados e são
difíceis de separar das pessoas, de sua experiência e de seu trabalho. São situados porque são
construídos em função de uma situação de trabalho particular, onde ganham sentido.
Os saberes também são históricos, pois o ser professor e os seus saberes são distintos
de outras épocas. Isto não significa que são melhores ou piores, mas que são diferentes. Essa
historicidade se baseia nos saberes profissionais dos docentes, mais especificamente nos
saberes experienciais adquiridos ao longo da carreira e que modificaram os saberes adquiridos
no meio familiar, escolar e universitário.
Os saberes docentes carregam consigo as marcas do objeto de trabalho dos
professores, que são os seres humanos. O professor, na sua tarefa de ensinar, deveria procurar
atingir a individualidade de cada ser humano. O docente deveria tentar conhecer e considerar
as particularidades de cada educando e acompanhar, na medida do possível, a evolução dele
no contexto da sala de aula. Deveria ter a sensibilidade de atender às diferenças entre os
alunos, pois essa se constitui uma das principais características do trabalho docente. Essa
sensibilidade exige do professor um investimento contínuo, além de estar revisando
seguidamente seus saberes adquiridos por meio da experiência.
Sabemos que na prática não é tão viável, pois o professor não tem condições de lidar e
atender a essas particularidades de cada educando. Geralmente o professor tem turmas com
um número muito grande de alunos e como atende várias turmas e, às vezes, tem apenas uma
ou duas aulas semanais em cada turma, ele não tem condições de trabalhar as individualidades
conforme as necessidades de cada um. Outra responsabilidade que recai sobre o professor é
que ele deveria ter a capacidade de motivar seus alunos para que se envolvam nas tarefas
propostas. Motivar é uma tarefa emocional e social que exige mediações complexas da
interação humana e causa problemas éticos, principalmente de abuso, negligência e
indiferença em relação a certos alunos que estão na escola por obrigação, porque a lei obriga e
não estão interessados em aprender.
Em relação à motivação, Celso Antunes (2002, p. 55) menciona que “[...] faz parte da
dignidade de seu ofício de mestre motivar os alunos, fazê-los gostar de aprender, quer
queiram ou não. Nasce assim a responsabilidade de algumas das mais complexas e difíceis
competências do professor e constitui seu ofício tentar implantá-las.” Para que o professor
consiga motivar seus alunos, ele mesmo precisa se empolgar, se mostrar interessado pelos
saberes que ensina, apresentar seus conteúdos em situações de desafios. O professor precisa
realmente gostar e amar o que faz, precisa assumir sua profissão e se sentir feliz e satisfeito,
35
pois quem não é feliz na sua profissão não consegue motivar o seu semelhante. O professor,
para conseguir motivar o seu aluno, precisa fazer com que ele se sinta bem e aceito, deve
existir um bom relacionamento afetivo entre ambos. Às vezes é muito difícil conseguir criar
laços afetivos com certos alunos, pois existe um distanciamento muito grande entre o
professor e o aluno que não consegue se integrar na escola.
O professor, que a si próprio não consegue motivar, dificilmente vai conseguir motivar
seus alunos. O professor não consegue se motivar porque não construiu uma identidade com a
sua profissão. Ele apenas está professor e não é professor. Para motivar seus alunos, o
professor deve apresentar diferentes estratégias, metodologias, pois como menciona Celso
Antunes (2002, p. 56) “se não é plausível acordar no professor a alegria de ensinar, que se
busque outro professor. O preço é seguramente o mesmo, mas o resultado infinitamente mais
compensador.” Percebemos a extrema importância do professor estar motivado e da
responsabilidade de conseguir motivar seus alunos, mas sabemos que na prática não é tão fácil
substituir um professor concursado por outro, principalmente em escolas municipais e
estaduais. Se o professor é efetivo, ele tem assegurado, pelas leis trabalhistas, garantias que o
protegem e para demiti-lo é necessário entrar com processo jurídico, o que demora muito
tempo para ser resolvido, pois a justiça no nosso país é lenta. Essa situação gera conflitos na
escola e dificulta o trabalho docente, prejudicando a aprendizagem dos alunos.
Nas escolas particulares é mais fácil, pois se o professor não corresponder às
expectativas da escola ele é demitido com mais facilidade. Por outro lado, realmente
encontramos professores que se esforçam em motivar seus alunos, mas não conseguem êxito,
porque o aluno não está disposto a aprender, está na escola apenas por obrigação e não
demonstra interesse pelos estudos. O setor administrativo da escola precisa estudar e avaliar
muito bem a questão da demissão, pois às vezes o professor cumpre suas obrigações, mas os
alunos fazem complô para prejudicar o professor.
Esses saberes podem ser criticados, melhorados e revisados para se tornarem mais
eficazes. Eles dependem das condições sociais e históricas nas quais se exerce a profissão e
das condições do local de trabalho, mas também do grande desejo do professor de realizar
algo com qualidade, pois se identifica com o trabalho da docência. Assim a questão dos
saberes está ligada à questão do trabalho docente no ambiente escolar e influencia na
reconstrução e ressignificação da identidade profissional do professor.
36
3.2 COMPETÊNCIAS DA DOCÊNCIA
O conceito de competências é analisado por vários autores. Pedro Demo (1998, p. 13)
apresenta seu conceito de competência quando diz:
[...] Entendemos por competência a condição de não apenas fazer, mas de saber
fazer e, sobretudo, de refazer permanentemente nossa relação com a sociedade e a
natureza, usando como instrumentação crucial o conhecimento inovador. Mais que
fazer oportunidade trata-se de fazer-se oportunidade.
Pedro Demo entende a competência como constante atualização do conhecimento,
procurando manter uma boa relação ética com a sociedade e o ambiente escolar visando à
construção da cidadania. Assim, os professores, com suas experiências práticas, que servem
como ponto de partida para análise, reflexão e crítica, facilitam a construção de uma nova
competência inovadora: a disponibilidade para a aprendizagem, o questionamento da sua
prática e a aquisição de novos conhecimentos.
O pesquisador José Carlos Libâneo (2004, p. 82) conceitua competências como “[...]
as qualidades, capacidades, habilidades e atitudes relacionadas a esses conhecimentos teóricos
e práticos e que permitem a um profissional exercer adequadamente sua profissão”. Esse autor
faz referência às qualidades, às habilidades e às aptidões que o profissional da educação
deveria ter para desempenhar com responsabilidade e comprometimento a sua prática
docente.
O sociólogo e educador suíço Philippe Perrenoud (1999, p. 7) conceitua competência
“[...] como sendo uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação,
apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”. Para enfrentar uma situação da melhor
maneira possível é necessário fazermos uso de recursos cognitivos, como o conhecimento, o
qual é construído pelas nossas experiências e pela nossa formação.
O pensador Moacir Gadotti (2003, p. 27) afirma que “a competência do professor não
se mede pela sua capacidade de ensinar – muito menos “lecionar” - mas pelas possibilidades
que constrói para que as pessoas possam aprender, conviver e viverem melhor”. O professor
competente deve ser capaz de oferecer possibilidades, alternativas, que auxiliem as pessoas a
aprender, se sentirem bem e terem um bom relacionamento com as demais pessoas. Isabel
Alarcão (2006-2007, p. 17-18) define a competência como:
[...] uma capacidade potencial global da pessoa que é o profissional, capacidade que
é susceptível de ser mobilizada e concretizada em cada situação específica e que se
evidencia na ação. A competência é, hoje em dia, entendida como um conjunto de
saberes, intenções, motivações, capacidades e atitudes que se manifestam em
37
desempenhos adequados e que se alteram à medida que variam os contextos
situacionais. Assim, a competência não se manifesta apenas em um aspecto
específico, parcelar, isoladamente observável. Ao contrário, ela é reconhecida pela
presença de um conjunto de relações que estão na base de uma atuação competente.
Em suma, a competência revela aquilo que o profissional-pessoa é. Isso permite
afirmar que o ser é a essência da competência profissional do professor, porque é
esse ser que mobiliza e reorganiza o conjunto de conhecimentos e técnicas que,
articulados com os valores que o orientam na vida, determinam a sua ação em cada
momento.
Competência para Isabel Alarcão envolve vários fatores do ser docente, que são
necessários para desempenhar suas funções e se modificam conforme o contexto em que se
encontram. Através das competências se conhece o profissional da educação. O professor
Elydio dos Santos Neto (2002, p. 43) afirma que “competência é a capacidade de apreciar e
resolver determinado assunto ou problema. No nosso caso, competência é a capacidade de
responder satisfatoriamente aos problemas da educação escolar”. Tanto Libâneo, Perrenoud,
Alarcão como Neto, ao falarem de competência, referem-se às capacidades que o docente
precisa ter para resolver problemas e situações que encontram no seu trabalho diário para
desempenharem sua profissão com eficiência.
Antônio Nóvoa (2001)1valoriza duas competências muito interessantes para o
exercício docente: a primeira é a competência de organização, porque o professor é um
organizador de aprendizagens. Organizador do ponto de vista da organização da escola, uma
organização mais ampla, da turma ou da sala de aula e não apenas um mero transmissor de
conhecimentos. Ele organiza o trabalho escolar e essa organização vai além do trabalho
pedagógico e do trabalho do ensino, portanto é de extrema importância a competência de
organização do professor; a segunda competência consiste na compreensão do conhecimento,
ser capaz de reorganizar, reelaborar e de transmitir o conhecimento didaticamente aos alunos
para que ocorra a aprendizagem.
O professor Philippe Perrenoud (2000, p. 15) apresenta outro conceito de competência
afirmando que “a noção de competência designará aqui uma capacidade de mobilizar diversos
recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situações”. Ele apresenta dez competências
fundamentais para o exercício da docência. Encontramos a descrição dessas competências na
obra: Dez novas competências para ensinar. Podemos sintetizar sua obra da seguinte maneira:
1º competência: Organizar e dirigir situações de aprendizagem (PERRENOUD, 2000,
p. 23-29) Escolher os conteúdos conforme o interesse dos educandos, sempre valorizando os
1
NÓVOA, Antônio. O professor pesquisador e reflexivo. Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/
SALTO/entrevistas/antonio_novoa.htm>. Acesso em: 26 dez. 2008.
38
conhecimentos que os alunos trazem junto com as suas vivências abrindo espaços para o
diálogo.
2º competência: Administrar a progressão das aprendizagens (PERRENOUD, 2000, p.
41-54) O professor precisa propor situações que ofereçam desafios que estejam ao alcance dos
alunos e que os levem a progredir. O educador precisaria ter a capacidade de acompanhar o
progresso dos alunos e encontrar possibilidades diferentes de promover a aprendizagem.
3º competência: Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação
(PERRENOUD, 2000, p. 55-65) O docente precisa saber administrar a heterogeneidade da
turma fazendo aulas, atividades e avaliações diferentes para alunos com dificuldades
diferentes. Inclusive oferecer momentos individuais para quem tem mais dificuldades de
aprendizagem.
4º competência: Envolver os alunos na aprendizagem e em seu trabalho.
(PERRENOUD, 2000, p. 67-77) O professor precisa entusiasmar-se, motivar os alunos para
que demonstrem interesse pelas aulas, apresentando o desejo de aprender e de se sentir
agentes do processo de ensino, além de oferecer diferentes estratégias e atividades.
5º competência: Aprender e ensinar a trabalhar em equipes. (PERRENOUD, 2000, p.
79-93) Visando o trabalho em conjunto, no coletivo para assim superar as dificuldades e
solucionar os desafios. Elaborar projetos pedagógicos em grupos, dirigir reuniões, analisar
situações complexas e confiar na equipe para administrar crises de relacionamentos
interpessoais.
6º competência: Participar da administração da escola. (PERRENOUD, 2000, p. 95108) Administrar a escola ajuda indiretamente a ordenar espaços e experiências de formação.
Administrar os recursos de uma escola é tomar decisões coletivamente, procurando sempre
atingir o maior número de pessoas, pois isso fortalece o trabalho da instituição escolar.
7º competência: Informar e envolver os pais (PERRENOUD, 2000, p. 109-124).
Informar e envolver os pais é uma competência e os professores devem reunir os pais para
lhes comunicar a maneira de trabalhar e avaliar, explicar as regras da escola, tratar de assuntos
gerais. Criar laços de amizade e companheirismo com os pais auxilia na aprendizagem dos
educandos.
8º competência: Dominar e fazer uso de novas tecnologias. (PERRENOUD, 2000, p.
125-139) O computador está presente no nosso dia-a-dia e precisa ser usado na sala de aula
para desenvolver o senso crítico dos alunos, ampliar a pesquisa, os horizontes de sua
39
comunicação, sua imaginação e facilitar a vida dos educandos. Os professores precisam
sugerir procedimentos, estimular desafios e auxiliar a navegar na internet e a pesquisar.
9º competência: Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. (PERRENOUD,
2000, p. 141-154) O docente deve fazer prevalecer a justiça, a verdade e a moral, evitando a
violência, o preconceito e a discriminação sexual, étnica e social, criando regras de conduta
para evitar a indisciplina dentro do ambiente escolar. A competência do professor é assumir
suas responsabilidades, viver com serenidade, dominando sua angústia. O professor precisa se
preocupar em promover a igualdade e a ordem dentro da instituição escolar, para que se tenha
um ambiente adequado para a ocorrência da aprendizagem.
10º competência: Administrar sua própria formação e enriquecimento contínuo.
(PERRENOUD, 2000, p. 155-169) O docente precisa ter coragem de buscar novos desafios,
ver a sala de aula como espaço de aprendizagem a partir de sua reflexão. Cabe ao professor a
responsabilidade de se atualizar e refletir sobre sua prática, para modificar e melhorar suas
competências e exercer com profissionalismo a sua profissão.
4 IDENTIDADE DOCENTE
Cada indivíduo tem a sua própria identidade, assim também os profissionais
docentes constroem a sua identidade profissional. Esta construção é um processo permanente
e vai produzindo uma significação e ressignificação durante todo o período ativo da sua
docência. Cabe aqui refletir sobre a construção dessa identidade docente e dos saberes
necessários para a sua prática, suas competências e habilidades que servem de referência para
o trabalho diário dos professores no ambiente escolar.
4.1 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE
Para compreendermos a questão da identidade dos professores, é necessário inseri-la
na história dos próprios atores, em suas ações, seus projetos e seu desenvolvimento
profissional. É necessário levar em conta sua trajetória social e profissional, sua formação e
práticas profissionais. Contando sua própria história, o professor vai se conhecendo melhor,
reinterpreta a sua prática, sua trajetória de vida e constrói a sua identidade profissional e
pessoal. Para José Carlos Libâneo (2004, p. 81) a “[...] identidade profissional é o conjunto de
conhecimentos, habilidades, atitudes, valores que definem e orientam a especificidade do
trabalho do professor”. O professor vai construindo características próprias que definem o seu
ser docente e sua ação pedagógica, no seu trabalho diário. Ao refletir sobre sua ação, sobre o
seu trabalho, vai se conhecendo melhor e vai construindo a sua identidade profissional
docente.
A experiência da prática do trabalho docente é de extrema importância na aquisição de
competências e na estruturação dos saberes experiências. A identidade profissional vai se
construindo a partir dessa experiência profissional, do domínio cognitivo, da socialização e da
vivência. Conhecer a realidade escolar, ir às escolas e realizar observações, entrevistas,
projetos, pesquisas, coletar dados sobre determinados temas trabalhados em cursos, ver a
escola com um olhar de futuros professores, ajuda na construção da identidade profissional.
A pesquisadora Selma Pimenta (2002, p. 18) argumenta que “a identidade não é um
dado imutável. Nem externo que possa ser adquirido. Mas é um processo de construção do
sujeito historicamente situado.” As características da identidade podem mudar conforme as
variações que surgem em nossa vida, pois é resultado de um longo processo de construção
próprio do modo de cada um se ver e se sentir como professor e, ao mesmo tempo, do sentido
41
que dá para exercício da docência. É o resultado momentâneo de um processo que integra
diferentes experiências das pessoas ao longo da suas vidas. Cada ser humano, ao contar sua
própria história, suas vivências, experiências, realizações, conquistas e derrotas, vai
construindo, a partir dessas situações concretas, a sua identidade profissional e pessoal. A
identidade do profissional se constrói a partir do valor que ele atribui a sua profissão no
trabalho cotidiano, a partir de sua história de vida, de seus saberes, de suas angústias, de suas
preocupações, de sua relação com outros docentes e do real significado que tem o ser
professor para si como pessoa, pois ao olhar para si mesmo o docente vai se compreender
melhor.
Existe uma estreita ligação entre os aspectos pessoais e profissionais, ambos se
influenciam. O pesquisador português António Nóvoa (1997, p. 31) justifica essa
inseparabilidade da pessoa e do profissional quando diz que “ser professor obriga a opções
constantes que cruzam nossa maneira de ser com nossa maneira de ensinar, e que desvendam
na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser”. As características de cada pessoa, seus
sentimentos, seus medos, suas angústias influenciam o trabalho do ser docente e a vida
profissional influencia a vida pessoal do professor. Grande parcela dos professores entra na
sala de aula carregando consigo seus problemas, suas alegrias, seus sentimentos e, ao saírem
da sala, levam para sua vida pessoal as satisfações e preocupações do seu trabalho. Não
conseguimos separar o pessoal do profissional, pois somos uma só pessoa.
Juan Mosquera e Claus Stobäus (2001, p. 93) destacam que:
[...] sabemos que sempre se alerta para não misturar o lado pessoal com o lado
profissional e nos perguntamos como seria possível deixar de lado a dimensão
pessoal e tentar agir unicamente com o lado profissional. É evidente que não somos
pessoas divididas e é extremamente difícil entrar em ambientes realizando este tipo
de separação, já que a pessoa é una, única, apesar de que possa ter diferentes facetas
e dimensões.
A interação entre a vida pessoal e a profissional, e a reflexão que o profissional faz
sobre a sua prática o ajudam a valorizar a sua profissão, construir e reconstruir a sua
identidade profissional docente. Os autores Juan Mosquera e Claus Stobäus (2001, p. 91)
lembram que um “professor com mais condições de ser bem sucedido seria aquele que
poderia e deveria desenvolver uma personalidade saudável e melhores relações interpessoais,
tentando encaminhar-se para uma educação afetiva”.
A professora Marlene Grillo (2001, p. 79) afirma que:
A identidade do professor, conseqüentemente, define-se num equilíbrio entre as
características pessoais e profissionais, do que se conclui que suas ações traduzem a
42
plenitude de sua pessoa, da mesma forma que a compreensão da humanidade do
docente ajuda a compreender a prática profissional.
Em certos momentos, acreditamos que um professor que chega ao final de sua carreira
profissional estaria desmotivado, o que comprometeria a ação docente, mas têm professores
que, após a sua aposentadoria, continuam estudando, fazendo novos concursos e trabalhando
normalmente. Esses profissionais possuem uma riqueza experiencial muito grande,
comprometimento, paixão pela profissão e pela educação, e isso se destaca nas demais
vivências da vida pessoal. São profissionais que souberam criar laços de amizade e valorizam
a liberdade de expressão e de pensamento. São críticos, reflexivos e transformativos da
própria prática e das teorias que sustentam.
As características positivas desses professores são frutos de uma consistente
construção da identidade pessoal e profissional, que vêem a docência como uma atividade que
dá prazer, baseada em valores muito significativos como: amizade e respeito pelos alunos,
afetividade, sinceridade, amor pela profissão, responsabilidade, dedicação, busca de maior
competência no fazer pedagógico e valores morais muito fortes. Esses professores chegam ao
final da carreira com um sentimento de realizados e satisfeitos, enquanto outros professores
chegam ao final da carreira frustrados e infelizes, porque não se identificaram com a
profissão, não se realizaram com o que estavam fazendo. Exerceram a função docente, mas
não se identificaram com a docência. Mesmo assim atuam por mais de 25 anos, porque não
têm como se manter com o salário da aposentadoria. Acreditamos que essas pessoas, já há
muito tempo, deveriam ter abandonado a docência e terem procurado outra profissão com a
qual se identificassem e que os deixaria mais felizes e satisfeitos. Não estão mais motivados e
nem demonstram interesse em dar aula. Não se preocupam com a aprendizagem dos alunos,
não fazem planejamentos, não participam de cursos de formação continuada, enfim, não
querem participar das atividades propostas pela escola. Eles não vêem a hora de chegar a sua
aposentadoria, para se verem livres dos alunos, da escola e de todas as funções que cabem à
docência. Apresentam problemas de incompetência, desequilíbrio nas relações interpessoais e
influenciam na aprendizagem dos educandos que também não demonstram interesse pelos
estudos, já que têm um professor desmotivado na sua frente.
Esses professores terminam a sua carreira frustrados por não terem conseguido
construir laços de amizade e de afeto com os alunos e demais colegas nem construído uma
identidade profissional. São professores que não têm mais objetivos a serem alcançados e
deixaram de sonhar. Não conseguiram se compreender e se aceitar como educadores nem
criaram um elo de ligação com o seu trabalho. Não incorporaram a tarefa que exerceram.
43
A identidade profissional se reflete no trabalho diário do professor, na maneira como
prepara e organiza suas tarefas, nas suas motivações, satisfações e competências. Ela se
constrói coletivamente, nas teias das relações sociais, num processo de sucessivas
socializações e relacionamentos com os outros profissionais da sua área no seu mundo de
trabalho, tanto através da aquisição de competências profissionais como pela aceitação de
normas e valores que regulam a atividade e o desempenho do papel do professor.
Atualmente, nessa sociedade em mudança, nada mais justo do que repensar e definir
uma nova identidade profissional do professor, pois a sociedade exige professores bem
qualificados, que estejam em constante atualização, competentes e responsáveis no
desempenho da sua profissão. Assim, a identidade profissional para Selma Pimenta (2002, p.
19):
[...] constrói-se, também pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor,
confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de
situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes,
de suas angustias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor.
Nessa sociedade atual, encontramos uma acentuada preocupação com a melhoria no
desempenho da aprendizagem dos alunos. Além disso, a população exige uma maior e melhor
qualificação dos docentes, garantindo assim uma boa educação para seus filhos. Isto leva a
refletir sobre o tipo de profissionais que devem ser apresentados para nossas escolas e que
atendam aos interesses dos pais, dos alunos e dos governos. Elaine Turk Faria (2001, p. 67)
analisa essa questão e comenta que:
As mudanças por que passa a sociedade exigem um sistema educacional renovado.
O mercado de trabalho precisa de pessoas mais qualificadas, com mais
conhecimento (e não só informação), mas também muito mais criativas, que
pensem, tenham iniciativa, autonomia, domínio de novas tecnologias e competência
para resolver as questões que se apresentam no cotidiano da vida.
Hoje em dia é necessário encontrarmos um número cada vez maior de professores que se
comprometem com a educação das crianças na nova sociedade; professores que façam parte
de um conjunto educacional que os valorize e ofereça recursos e apoio à sua formação. O
professor precisa se sentir comprometido com a profissão, gostar de ser docente, se envolver
por inteiro, assumir um compromisso sério consigo, com o aluno e com a sociedade em
transformação.
Para Selma Pimenta (2002, p. 19):
44
Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da
profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das
tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que
permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de
saberes válidos às necessidades da realidade.
Cada geração de professores vai construindo sua própria identidade dentro do
contexto em que vive. Conseqüentemente, a atual geração vai se adaptar e se constituir num
mundo globalizado. Neste mundo atual, as mudanças ocorrem num processo muito rápido. As
novas tecnologias se modificam e se aperfeiçoam constantemente. Não é tão simples para o
professor se preparar para assumir e compartilhar com seus alunos essas mudanças sociais,
culturais, tecnológicas, mudanças nos conhecimentos e nas formas de ensinar e aprender. Ele
precisa ter tempo, disposição e vontade de aprender. Todas essas modificações nos fazem
refletir e pensar em novas formas de ver a aprendizagem dos alunos, pois apesar dessas
tecnologias serem interessantes, elas não proporcionam uma interação com os alunos. Para se
adaptar a essas mudanças e desempenhar um bom trabalho, o docente pode ter como base a
formação de grupos de estudos, equipes. Equipes de pesquisas, grupos de intercâmbio de
idéias, sugestões e experiências, grupos de projetos, que possam beneficiar o trabalho docente
e o desenvolvimento dos alunos, colaborando na formação docente e na construção da sua
identidade profissional, pois o profissional precisa se ver como professor e assumir a sua
tarefa de docente.
Como profissional da educação, considerando a trajetória pessoal da profissão
percebemos que parte dos professores se interessam em participar dessas atividades de grupo,
pois compreendem a importância da permanente atualização, a necessidade de melhor se
prepararem para desempenharem suas funções com responsabilidade e também para reverem
a reconstrução e a ressignificação de sua identidade profissional.
Existem realidades onde essas práticas não são possíveis, pois alguns professores não
estão dispostos a se reunirem, às vezes fora do horário de trabalho, para fazerem reflexões e
estudos. Uns, porque realmente não querem, não querem fazer nada além das suas obrigações.
Não assumem a escola e as tarefas na sua íntegra. Há uma falta de motivação e
comprometimento de certos profissionais para o exercício da sua profissão. Outros por não
terem tempo disponível, por ainda estarem estudando para concluírem seu curso de
licenciatura ou atuarem em mais de uma instituição.
O professor, para ser um bom profissional, precisa ser competente, capaz de criar
conhecimento, ter autonomia e exercer muita liderança. Todas essas experiências, vivências e
reflexões sobre as ações do trabalho escolar irão influenciar na construção da sua identidade
45
profissional. Ele precisa se sentir e se aceitar como professor, assumir seu papel de docente e
desempenhar suas funções.
O pensador José Carlos Libâneo (2004, p. 40) destaca que:
[...] Nas escolas, portanto, a construção da identidade profissional de professor
depende em boa parte das formas de organização do trabalho escolar. Em especial,
depende de uma boa estrutura de coordenação pedagógica que faça funcionar uma
escola de qualidade, propondo e gerindo o projeto pedagógico, articulando o
trabalho de vários profissionais, liderando a inovação e favorecendo a constante
reflexão na prática e sobre a prática.
A concepção do saber profissional repercute na identidade docente. Maurice Tardif
(2002, p. 301) afirma que as reformas da formação e da profissão apresentam três modelos de
identidade dos professores: o modelo do “tecnólogo” do ensino, do prático “reflexivo” e do
ator social.
O tecnólogo do ensino se caracteriza por possuir competências de perito no
planejamento de ensino, sua atividade se baseia nos conhecimentos da pesquisa científica. O
professor se utiliza dos recursos da pesquisa e institui um “ensino estratégico”, influenciado
num conhecimento elevado da cognição dos alunos. Ele busca o desempenho
e a eficácia no alcance dos objetivos escolares. O prático reflexivo associa a sua imagem a um
professor experiente. Possui um sólido repertório de conhecimentos e reflete sobre sua
prática. Constrói sua atividade profissional no contexto da sua prática e caracteriza-se por sua
capacidade de adaptar-se a situações novas e encontrar soluções originais. É um modelo de
profissional de alto nível, capaz de lidar com situações problemáticas. Enquanto ator social, o
professor é visto como agente de mudança e portador de valores em relação às diversas
lógicas de poder que estruturam o espaço social e escolar.
4.2 A PERDA DA IDENTIDADE DOCENTE
Se o docente não consegue se identificar com a sua profissão, se ele não vê valor e
sentido no que estiver fazendo ele desamina e entra em crise consigo mesmo. As crises e os
conflitos fazem parte da vida, ajudam as pessoas a amadurecer e a repensar sua identidade
profissional, mas precisamos ter consciência que elas não podem ser permanentes. Com diz
Philippe Perrenoud (2000, p. 90) “o conflito faz parte da vida, é a expressão de uma
capacidade de recusar e de divergir que está no princípio de nossa autonomia e da
individualização de nossa relação com o mundo.” No ambiente escolar sempre encontraremos
46
professores que manifestam o seu desânimo, seu desconforto em relação às novas propostas
teóricas e práticas. A falta de uma identidade profissional definida provoca um mal-estar e
um desequilíbrio nas relações interpessoais. Um mal-estar que pode gerar conflito e
resistência, e Philippe Perrenoud (2000, p. 90) nos dá mais uma contribuição dizendo que
“cada pessoa aborda um conflito com sua própria identidade, que depende de seu
desenvolvimento pessoal, ou seja, de sua história pessoal e de sua formação”. Esses
sentimentos geram uma auto-desconfiança, pois certos professores não se consideram capazes
de realizar sua atividade docente e conseqüentemente sentem dificuldade no processo de
ressignificação da sua prática educativa e da construção de sua identidade profissional.
Muitos professores se sentem incapazes, inseguros e com medo de refletir sobre sua
prática. Esse medo acontece porque se sentem desmotivados e inferiores em relação aos seus
colegas. Por isso preferem não refletir muito sobre sua prática, pois isso implica num olhar
crítico sobre ela sobre sua formação e num retorno à sua trajetória profissional pessoal.
Grande parte dos professores alguma fez já se sentiu desmotivado, isso é normal, faz parte da
profissão e do ser humano, mas precisamos nos preocupar com aqueles que sempre estão
insatisfeitos, reclamam de todas as atividades e situações e não acreditam em novas
possibilidades.
Essa situação de mal-estar dos professores provoca desinteresse em dar aulas, em
fazer cursos de atualização, gera conflitos com os colegas, cria um sentimento de
desconfiança em relação às competências e à qualidade do trabalho dos professores. Assim, a
expressão mal-estar docente descreve os efeitos negativos que influenciam a personalidade do
professor, que resultam das condições sociais e psicológicas em que exerce a docência,
decorrente das mudanças sociais aceleradas. Entre as principais conseqüências desse mal-estar
encontramos insatisfação frente aos problemas reais da prática, desejo de abandonar a
docência, esgotamento, stress, ansiedade e depressão. Essa idéia também é defendida por José
Carlos Libâneo (2004, p. 77) quando afirma:
As condições de trabalho e a desvalorização social da profissão de professor, de fato,
prejudicam a construção da identidade dos futuros professores com a profissão e de
um quadro de referência teórico-prático que defina os conteúdos e as competências
que caracterizam o ser professor. Isso acontece porque a identidade com a profissão
diz respeito ao significado pessoal e social que a profissão tem para a pessoa. Se o
professor perde o significado do trabalho tanto para si próprio como para a
sociedade, ele perde a identidade com a sua profissão. O mal-estar, a frustração a
baixa auto-estima são algumas conseqüências que podem resultar dessa perda de
identidade profissional. Paradoxalmente, no entanto, a ressignificação de sua
identidade- que passa pela luta por melhores salários e pela elevação da qualidade da
formação- pode ser a garantia da recuperação do significado social da profissão.
47
Por outro lado, devemos também analisar de que toda e qualquer mudança pode nos
provocar instabilidade momentânea, insegurança e até medo. Contudo, a insegurança
momentânea é natural, mas ela pode se converter em instabilidade permanente. Muitos
professores resistem a inovações, não querem participar de projetos ou outras atividades
inovadoras que são propostas na escola. Para enfrentar a mudança, o professor sente-se
inseguro, pois as inovações assustam, geram conflitos, exigem um posicionamento seguro por
parte do professor. Certos educadores preferem ficar fazendo as mesmas tarefas de anos
seguidos e não se motivam para apresentar atividades novas, motivadoras e interessantes para
seus alunos. Essas atitudes influenciam as outras pessoas e criam instabilidade nas relações
interpessoais na equipe de trabalho.
Para diminuir o mal-estar docente é preciso ajudar os professores a eliminar o
desajuste e fazê-los repensar o seu papel como educadores. O estudo sobre a influência da
mudança social na função docente pode ajudar a chamar atenção da sociedade para que esta
compreenda as novas dificuldades que os professores encontram. Esse mal-estar docente
acontece, às vezes, pela falta de apoio e pelas críticas que os professores receberam da
sociedade em relação às tarefas educativas fazendo-os os únicos responsáveis pelos problemas
da educação, quando esses, são problemas sociais. Só a partir de um estudo sobre o modo
como a mudança social gera o mal-estar docente é possível melhorar as condições do trabalho
diário dos professores. Para que isso ocorra é preciso repensar a formação inicial e
continuada, horários de trabalho, salários, responsabilidades e atitudes dos professores.
As mudanças sociais que agem sobre a ação docente são influenciadas por fatores que
incidem diretamente sobre as ações do professor na sala de aula, modificando o desempenho,
provocando sentimentos e emoções negativas. Também por fatores que atingem o contexto
em que a docência acontece gerando um sentimento de desajustamento e de impotência,
provocando desmotivação do professor. Para José Esteve (1999, p. 99) “trata-se de fenômenos
sociais que influenciam a imagem que o professor tem de si próprio e do seu trabalho
profissional, provocando a emergência de uma crise de identidade que pode levar à
autodepreciação pessoal e profissional”.
Essa crise e constante desvalorização social e econômica da profissão de professor e
as condições de trabalho, interferem na imagem da profissão e prejudica a construção da
identidade dos docentes. Isso ocorre porque a identidade com a profissão condiz com o
significado pessoal e social que a profissão tem para a pessoa. Se a pessoa perde o significado
do trabalho para si e para a sociedade, ela perde a identidade com a sua profissão. Essa perda
de identidade profissional pode causar mal-estar, frustrações e baixa auto-estima. Contudo, há
48
professores que, mesmo diante deste fenômeno social e econômico, não se deixam abalar e
encontram sentido e valor na docência e mantém a auto-estima elevada. Isso se explica pelo
fato de terem construído uma identidade profissional docente e estarem cientes da tarefa e da
responsabilidade que essa profissão exige deles. Eles conseguiram construir vínculos afetivos
com seus educandos e assumiram sua profissão com dignidade.
Nem sempre o professor é valorizado como deveria ser, pois se, por exemplo, um
professor gasta várias horas do seu tempo, fora do seu horário normal de trabalho, para
preparar e se dedicar a uma atividade diferente, geralmente esse tempo não é reconhecido pela
sociedade e nem mesmo pelos professores e pela própria instituição escolar. Mas se o ensino
fracassa, por excesso de trabalho, falta de tempo e material didático, falta de apoio
pedagógico, esse fracasso é personalizado automaticamente no professor, como se ele fosse o
único responsável. Se a educação vai mal é porque os professores são maus profissionais e
todos os outros fatores sociais, políticos, econômicos e culturais que afetam a educação no
país são esquecidos. Isso influi na personalidade do profissional e na sua identidade com a
profissão.
Celso Vasconcellos (2001, p. 123) ao refletir sobre essa questão menciona que “não se
pode ficar acusando o professor como se fosse o grande responsável por todas as mazelas da
educação, mas também não é correto eximi-lo de responsabilidades, ficar paparicando-o,
infantilizando-o, quase que imbecilizando-o. É preciso ver a parte que lhe cabe”. É preciso
que cada um, tanto o professor,quanto a escola e a sociedade, assumam a sua responsabilidade
e sua parcela de culpa quando a educação fracassa.
Às vezes, a imagem do professor se reflete negativamente no contexto social, porque
alguns professores desempenham mal sua profissão, não tanto por incompetência, mas por
incapacidade de cumprirem todas as tarefas que lhe são exigidas. Para além das aulas, devem
fazer tarefas de administração, reservar tempo para planejar, avaliar, atualizar-se, orientar
alunos e pais, participar de reuniões pedagógicas e de pais, participar de cursos, seminários,
encontros. Isso leva ao esgotamento físico e mental do professor e se reflete na sua atuação
com os alunos. Nesse sentido, José Esteve (1999, p. 108) aponta que:
[...] o professor está sobrecarregado de trabalho, sendo obrigado a realizar uma
atividade fragmentária lutando em frentes distintas, atendendo simultaneamente uma
tal quantidade de elementos diferentes que se torna impossível dominar todos os
papéis. A fragmentação do trabalho do professor é um dos elementos do problema
da qualidade no sistema de ensino, paradoxalmente numa época dominada pela
especialização.
49
Encontramos também nas escolas professores que realmente são incompetentes, pois
não estão comprometidos com uma educação de qualidade. Eles, apesar de exercerem a
função docente, não se identificam com a docência. Não construíram uma identidade
profissional. Eles não cumprem as atribuições que lhes cabem. Não desempenham as suas
tarefas com responsabilidade e comprometimento. Geralmente esses professores não são
assíduos e pontuais, deixam de participar de projetos e outras atividades que envolvam os
alunos, não planejam suas aulas e não se preocupam com a aprendizagem dos educandos.
O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 280) reforça essa idéia quando afirma
que:
Essas pessoas realizam as suas obrigações profissionais, burocráticas ou não, de
professores, mas não exercem efetivamente a docência. Elas se encontram num
espaço de transição entre o desvestir-se de uma vestimenta e o vestir-se com uma
nova roupagem. Elas colocam-se constantemente no lugar de estudante, não com a
intenção de compreendê-lo e de ajudá-lo, de permanecer sendo um docenteaprendiz, mas porque se identificam mais com a ação, a função e o espaço estudantil
do que com a atuação docente. Podemos dizer, inclusive, que essas pessoas vivem
um impasse, e às vezes, uma crise existencial, que se evidencia na prática educativa.
A crise deve ser entendida como um processo salutar da própria constituição da
identidade docente. Nesses casos, assumir a identidade docente ou, melhor dito,
começar a distanciar-se de uma função estudantil, mantendo uma identidade
estudantil como permanente aprendiz, significa assumir gradativamente a
consciência de uma mudança e permitir-se entrar num processo de ressimbolização.
Outro fator que influência na crise de identidade dos docentes é a questão salarial.
Como diz Celso Vasconcelos (2001, p. 182-183) “sabemos que ninguém ficou rico pelo fato
de ser professor; no entanto, com a remuneração que recebia até a algumas décadas, o
professor tinha condições de ter um bom padrão de vida”. Hoje em dia, a remuneração do
professor não acompanhou a taxa da inflação do país, como também acontece com as outras
profissões que têm os seus salários defasados.
O professor Celso Vasconcelos (2001, p. 183) afirma que:
[...] com a remuneração dada hoje aos professores, está se colocando em risco o
próprio futuro da profissão, uma vez que os jovens mais talentosos, como
apontamos, mesmo que tenham uma inclinação para o magistério, sentem-se
totalmente desmotivados, ao constatar a situação dos professores, e para isto não
precisam ir muito longe: basta ver seus próprios mestres.
Hoje em dia, é comum acontecer, principalmente com professores que trabalham à
noite, terem alunos que ganham salário maior que o próprio professor. Há também professores
que exercem outra profissão paralela ao do magistério para assim terem melhores condições
de sobrevivência. Alguns abandonam a docência e procuram uma promoção social em outras
50
profissões fora da sala de aula. Nesse contexto, a ressignificação da identidade profissional
ocorre pela luta por melhores condições de trabalho, melhor qualidade da formação e um
aumento de salário. Esses fatores podem contribuir em uma melhor valorização social da
profissão. Para diminuirmos o desajustamento e o mal-estar dos professores é necessário um
maior reconhecimento e apoio por parte da sociedade e do próprio professor.
Celso Vasconcelos (2001, p. 184) nos confirma que:
É lamentável, mas temos relatos de professores que passam a dar aula de acordo
com o que ganham. Além da falta de ética profissional, o que acaba acontecendo é
que a pior aula será dada onde mais se precisa dele, via-de –regra na escola pública...
O professor não pode se igualar ao salário que ganha; precisa ter consciência de que
aquilo que está recebendo faz parte de uma perversa lógica social, mas que o que
tem para propor é algo muito importante para o aluno e para a sociedade.
Na realidade em que nos encontramos essa situação realmente acontece, pois certos
professores dão aula conforme a escola em que se encontram. Em certa escola participam
mais de atividades extras e se dedicam mais tempo. Em outra escola não se desempenham
tanto, faltam mais em dias de aula e em reuniões e não se comprometem com a aprendizagem
dos educandos.
Kenneth Zeichner (2003, p. 52) afirma que:
[...] na formação de professores e na educação em geral, devemos continuar lutando
para nos aproximarmos mais de um mundo em que aquilo que queremos para os
nossos próprios filhos esteja ao alcance dos filhos de todos. Esse é o único tipo de
mundo com o qual podemos ficar satisfeitos, e nada, merece o nosso apoio, a não ser
que ajude a nos acercar mais desse tipo de mundo.
Considerando todos esses aspectos, ainda é possível dizer que os professores são os
principais responsáveis pela formação dos educandos e pela qualidade dos resultados da
aprendizagem que está diretamente ligada com a qualificação e com as competências
profissionais dos docentes.
A formação inicial é de extrema importância na construção de conhecimentos, atitudes
e habilidades e ajuda os futuros professores a se identificarem com a profissão, mas é na
formação continuada que se constitui a identidade profissional, uma vez que ela pode se
desenvolver na prática. Desta forma, a construção e o fortalecimento da identidade
profissional precisam estar presentes nos currículos e nas práticas da formação docente, tanto
inicial, como continuada.
5 FORMAÇÃO CONTINUADA
A formação continuada é de fundamental importância numa profissão como a de
professor, que lida com a transmissão de saberes e com a formação humana, num contexto de
constantes mudanças, de introdução de novas tecnologias, e reorganização de currículos e de
acentuados problemas sociais, econômicos e políticos, onde o modo de viver e de aprender se
modificam constantemente e onde encontramos uma diversidade social e cultural de alunos. A
atualização precisa acompanhar o professor durante toda a trajetória da sua vida docente,
através da prática da formação continuada. Em decorrência dessa necessidade, neste capítulo,
será feita uma abordagem sobre a importância da formação continuada e do papel da escola
neste processo. Como a escola e, mais especificamente, a coordenação pedagógica se
organizam para atender a esse requisito e qual a relação da formação continuada com a
construção da identidade docente.
5.1 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE
Por muitos anos, ao falarmos da formação docente, nos referíamos essencialmente à
formação inicial do professor. Na atualidade, reconhecemos que a formação inicial não é
suficiente, sendo necessário um forte investimento na contínua e permanente. Ou seja, o
professor precisa estar em constante atualização para compreender o seu papel no cotidiano
educacional em movimento permanente, poder construir, reconstruir e ressignificar a sua
identidade profissional docente e acompanhar as mudanças aceleradas que ocorrem na
sociedade. O docente deve se atualizar constantemente para estar preparado para desenvolver
um trabalho consciente, responsável e atender às crescentes demandas das exigências sociais.
O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 44) afirma que:
A formação do docente não está concluída com o término do curso de graduação e
nem com a conclusão de um curso de especialização. Ela é contínua e permanente. E
isto implica que o docente precisa realizar permanentemente a avaliação crítica da
sua práxis educativa. Esse processo reflexivo reverte também na reflexão sobre a sua
própria identidade docente, sobre o seu sentido e significado de ser professor.
Refletir e avaliar a prática docente são tarefas fundamentais de todo educador. O
professor deveria estar em permanente reflexão sobre sua atividade docente e em contínuos
52
momentos de formação para poder exercer sua profissão com competência e responsabilidade.
A formação continuada é da responsabilidade da instituição e do próprio professor que tem o
compromisso com a profissão e a responsabilidade com sua formação. O desenvolvimento
pessoal corresponde aos investimentos que o próprio professor faz no seu processo de
formação, mediante um trabalho crítico-reflexivo sobre seu trabalho diário e da reconstrução
de sua identidade profissional, resultando nos saberes da experiência. Vera Maria Candau
(1999, p. 56) confirma essa idéia quando diz que “todo processo de formação continuada tem
que ter como referência fundamental o saber docente, o reconhecimento e valorização do
saber docente”. Na formação continuada o professor tem a oportunidade de rever sua prática,
seus saberes e reformular com mais segurança a sua atuação docente.
Paulo Freire (2000, p. 42-43) afirma que “[...] na formação permanente dos
professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando
criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.” Essa
reflexão e formação são necessárias para atingir melhores condições de trabalho, desenvolver
uma profissão com responsabilidade, repensar o valor e o significado que tem para si a sua
profissão e ressignificar sua identidade profissional docente. Na prática nem sempre ocorre
essa reflexão, pois parte do corpo docente prefere não comentar e analisar sua atuação
pedagógica para não precisarem modificá-la. Preferem continuar usando a mesma didática, o
que dá menos trabalho do que se adaptar a novas metodologias.
O educador Paulo Freire (2006, p. 28) aponta que “as pessoas, por serem capazes de
auto-refletirem, descobrem que são seres inacabados, estão em busca constante de serem mais
e, portanto se educam. São sujeitos de sua própria educação e estão em busca permanente de
“si mesma”. Essa busca deve ser feita em comunhão, em conjunto com outros seres que
também procuram ser mais.” A educação é um processo permanente que visa união, amor e
esperança, pois sem amor e esperança não há educação. Os seres humanos precisam refletir
sobre a própria realidade para poderem levantar hipóteses, encontrar soluções e ser críticos
para transformarem essa realidade.
Paulo Freire (2000, p. 64) afirma que:
É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como
processo permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis, na medida em que
se reconheceram inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens
educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade.
Os docentes reconhecendo-se como seres inacabados, conscientes desta situação e
assumindo a sua inacabilidade estão em constante busca de aprendizagem, desafiam e
53
exercitam a capacidade de ensinar e aprender. Quanto mais consciente o professor estiver da
sua realidade, da sua inacabilidade e quanto mais ele for sujeito do seu processo de ensinoaprendizagem tanto mais ele terá capacidade de reconstruir e ressignificar a sua identidade
profissional docente. No contexto atual não basta a formação inicial que, sem dúvida, é de
suma importância, mas o que realmente tem caráter “formador” é a reflexão que se faz da
prática do profissional da educação. Moacir Gadotti (2003, p. 31) destaca que:
[...] a formação continuada do professor deve ser concebida como reflexão,
pesquisa, ação, descoberta, organização, fundamentação, revisão e construção
teórica e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atualização em novas
receitas pedagógicas ou aprendizagem das últimas inovações tecnológicas.
Moacir Gadotti, como discípulo de Paulo Freire, desenvolve uma reflexão bastante
próxima ao pensamento freireano. A sua proximidade se mostra evidente quando destacam a
importância da reflexão sobre a prática na formação inicial e contínua dos professores e vêem
a formação continuada como uma oportunidade que os professores têm de organizar-se e
revisar sua prática. Este processo deve ocorrer não somente no momento em que os
professores vão em busca de novas técnicas e receitas pedagógicas, mas principalmente nos
momentos de voltar-se e refletir sobre si mesmo. É necessário ter esse processo de reflexão
para buscar sentido no ser professor e ajudar na construção e reconstrução da sua identidade
profissional. O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 69-70) reforça essa reflexão
quando afirma:
A questão da formação continuada de docentes não se restringe, hoje em dia, à
questão empírica ou pragmática da cotidianidade da práxis educativa e nem à
atualização das técnicas e da nova tecnologia de ensino. O constante envolvimento
com a formação continuada de docentes permite-nos constatar o conflito de
identidade presente na vida de educadores e educadoras, tanto em relação à sua
opção profissional quanto em relação à sua personalidade, ao seu contexto relacional
e vivencial, e à valorização social da profissão.
Muitas vezes, a escola oferece oportunidades de cursos de aperfeiçoamento, palestras,
encontros para seus professores, mas nem todos aproveitam as ofertas da melhor maneira,
pois não se motivam a participar plenamente. Estas pessoas preferem ficar estagnadas e não se
preocupam em promover mudanças no seu ambiente de trabalho e melhorar o desempenho
dos alunos. Alguns professores participam de cursos, seminários e não se preocupam com a
qualidade que os mesmos oferecem. Estão apenas interessados com a titulação e a soma de
pontos que esses certificados fornecem para o avanço no plano de carreira. Além disso,
encaram a participação nestes cursos como um grande benefício, por não precisarem dar aula
54
no período em que o curso ocorre, nem planejar a aula, além de serem substituídos por outros
professores. Nesse caso cabe à coordenação pedagógica dialogar com esses professores e
juntos refletirem sobre essa atitude antiética e antiprofissional.
Todo professor, na hora de escolher o curso que quer fazer, deve ter o cuidado de ver
as condições de garantias oferecidas pelo mesmo, o número de horas, o corpo docente, as
metodologias, os conteúdos a serem trabalhados, pois nem todos os cursos oferecem uma boa
qualidade, nem acrescentam muito à sua formação pessoal e à aprendizagem dos educandos,
nem auxiliam na proposição de mudanças efetivas na educação. Sobre esse aspecto Imbernón
(2006, p. 15) nos diz que “os que participam na formação devem poder se beneficiar de uma
formação de qualidade, adequada a suas necessidades profissionais, nos contextos sociais e
profissionais em evolução e que repercute na qualidade do ensino”. Os professores
competentes e conscientes de sua responsabilidade, que optarem em participar de formações
continuadas, têm o direito de receber uma formação de qualidade que corresponda às suas
expectativas, para que realmente possam levar mudanças para o seu local de trabalho e fazer a
diferença. O educador Paulo Freire (2000, p. 103) analisa a questão da formação dos
professores e escreve:
O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce
para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de
sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a prática democrática do
professor ou da professora sejam determinadas por sua competência científica. Há
professores e professoras cientificamente preparados, mas autoritários a toda prova.
O que quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do
professor.
Outros professores buscam seus direitos e não dão as contrapartidas, participam dessas
oportunidades de treinamentos e atualizações, mas faltam muito, não se esforçam em fazer
bons trabalhos e depois não aplicam na sala de aula os novos conhecimentos, metodologia e
atividades interessantes e diferenciadas que aprenderam. Continuam dando aulas da mesma
maneira como antes, sem introduzir novas atividades que estimulem o interesse dos alunos e
que despertem curiosidade pelos conteúdos em estudo. Também não desenvolvem projetos
específicos que possam atender às expectativas dos alunos. Devemos também mencionar que
têm professores muito comprometidos com a educação e a aprendizagem dos alunos, que
buscam, além da formação continuada oferecida pela escola, outros cursos de
aperfeiçoamento dentro da área em que atuam, mantendo-se atualizados, mais aptos e
qualificados para exercer com responsabilidade a profissão que escolheram, atendendo às
expectativas da atual sociedade.
55
O local adequado para ocorrer a formação continuada é a própria escola. Essa idéia é
confirmada pela professora Laurinda Ramalho de Almeida (2006, p. 86) quando afirma “[...]
que a formação continuada deve estar centrada na escola, prioritariamente. [...].” É o lugar
onde os saberes e as experiências são trocadas, validadas, apropriadas e rejeitadas”. Vera
Maria Candau (1997, p. 55) também concorda afirmando que “o locus da formação a ser
privilegiado é a própria escola; isto é, é preciso deslocar o locus da formação continuada de
professores da universidade para a própria escola de primeiro e segundo graus”. Da mesma
maneira Maurice Tardif (2002, p. 280) vem ao encontro dessa idéia quando diz que “as
escolas tornam-se, assim, lugares de formação, de inovação, de experimentação e de
desenvolvimento profissional, mas também, idealmente, lugares de pesquisa e de reflexão
crítica”. Todos esses autores reconhecem a escola como local ideal para a reflexão e a
formação.
A mudança de uma realidade não está fundada apenas na prática, mas na reflexão
sobre ela. A prática deve ser o ponto de partida e de chegada da reflexão. Nesse sentido, a
formação do professor pode ser entendida também como autoformação, pois os docentes
reelaboram os saberes iniciais em conformidade com suas experiências práticas vivenciadas
no contexto escolar. Ao refletir sobre sua atuação em sala de aula, o professor desenvolve sua
própria compreensão da realidade e do seu trabalho didático-pedagógico, influenciando na
reconstrução da sua identidade profissional. É de fundamental importância que seu trabalho
crítico-reflexivo sobre sua prática e suas experiências compartilhadas façam parte como
conteúdos de sua formação, pois são nessas trocas de experiências e de vivências que os
docentes vão construindo seus saberes e modificando sua identidade docente. Para Selma
Pimenta (2002, p. 31):
A formação de professores na tendência reflexiva se configura como uma política de
valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores e das
instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da
formação como contínua dos professores, no local de trabalho, em redes de
autoformação, e em parceria com outras instituições de formação. Isso porque
trabalhar o conhecimento na dinâmica da sociedade multimídia, da globalização, da
multiculturalidade, das transformações nos mercados produtivos, na formação dos
alunos, crianças e jovens, também eles em constante processo de transformação
cultural, de valores, de interesses e necessidades, requer permanentemente formação,
entendida como ressignificação identitária dos professores.
Dentro da escola cabe à coordenação pedagógica a responsabilidade de oferecer aos
professores um espaço adequado de aprendizagem, para que possam examinar e reconstruir
suas opiniões e seus valores, tendo como referência as necessidades dos educandos e da
sociedade. O desenvolvimento profissional e a conquista da identidade são fortemente
56
favorecidos por um trabalho de equipe entre professores e coordenadores que assumem em
conjunto o processo de ensino e aprendizagem, se preocupam com o bom funcionamento da
instituição escolar, com a formação continuada dos professores e garantem um exercício
profissional de qualidade.
Essa qualidade consiste na formação inicial e continuada, em que o professor adquire
competências, habilidades, remuneração compatível com as exigências da profissão,
condições de trabalho adequadas com recursos materiais e ambiente propício para
desenvolver uma aprendizagem significativa. A educação continuada deve se preocupar com
as competências dos professores e torná-los sujeitos ativos das propostas coletivas da escola.
Para isso é necessário oferecer uma prática reflexiva, explorar a criatividade e as habilidades
de trabalho em equipe. A nova formação inicia-se a partir da reflexão crítica sobre a prática,
mas não se limita apenas às suas atividades docentes da sala de aula do dia-a-dia. Como diz
Imbernón (2000, p. 40) a sua reflexão “atravessa as paredes da instituição para analisar todo
tipo de interesses subjacentes à educação, à realidade social, com o objetivo concreto de obter
a emancipação das pessoas”. Fazendo uma análise do pensamento de Imbernón percebemos a
importância da reflexão do trabalho diário do professor, a troca de experiências e de sugestões
entre os professores de diferentes contextos escolares.
A sala de aula e a escola podem auxiliar no aperfeiçoamento profissional do
professor, na medida em que utilizam as práticas que ali ocorrem como objeto de análise e
procuram oportunidades que qualificam o ensino e melhoram a aprendizagem, pois sabemos
que a qualidade do ensino está relacionada à qualidade da formação do professor, tanto inicial
como continuada. Essa formação auxilia na reflexão e na mudança nas práticas docentes,
levando o corpo docente a compreender e buscar formas e soluções, principalmente mediante
ações coletivas, para enfrentar os desafios que encontram dentro da sala de aula.
O professor Antônio Nóvoa (2001)2 afirma que:
São as escolas e os professores, organizados nas suas escolas, que podem decidir
quais são os melhores meios, os melhores métodos e as melhores formas de
assegurar esta formação continuada. Com isto, eu não quero dizer que seja muito
importante o trabalho de especialistas, o trabalho de universitários nessa
colaboração. Mas a lógica da formação continuada deve ser centrada nas escolas e
deve estar centrada numa organização dos próprios professores.
Analisar os momentos mais enriquecedores e os mais difíceis que ocorrem dentro da
sala de aula, socializar experiências, compartilhar dificuldades e propostas ajuda a propor
2
NÓVOA,
Antônio.
O
professor
pesquisador
e
reflexivo.
Disponível
<http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/entrevistas/antonio_novoa.htm>. Acesso em: 26 dez. 2008.
em:
57
novas e melhores formas de ensino. A reflexão sobre a prática e a partilha de idéias e
sugestões beneficia o trabalho docente, a aprendizagem dos educandos, viabiliza projetos
comuns, introduz práticas novas na escola, diminui os riscos e a resistência aos processos de
mudança, transforma a vida escolar e influi em como o professor se vê e se sente como
professor. Ajuda a redefinir e a ressignificar a sua identidade profissional docente. Vera Maria
Candau (1999, p. 57) menciona que:
[...] é importante que essa prática seja uma prática reflexiva, uma prática capaz de
identificar os problemas, de resolvê-los, e cada vez as pesquisas são mais
confluentes, que seja uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente
por grupos de professores ou por todo o corpo docente de uma determinada
instituição escolar.
Sendo responsáveis pela formação continuada, os coordenadores pedagógicos são os
mediadores e orientadores desse processo e têm a missão de criar estratégicas para a formação
do professor na perspectiva de promover um ensino de qualidade, pois a escola deve ser um
espaço de convivência, um lugar de socialização dos saberes e de troca de experiências. José
Carlos Libâneo (2004, p. 78) afirma que:
A formação continuada é uma maneira diferente de ver a capacitação profissional de
professores. Ela visa ao desenvolvimento pessoal e profissional mediante práticas de
envolvimento dos professores na organização da escola, na organização e articulação
do currículo, nas atividades de assistência pedagógico-didática junto com a
coordenação pedagógica, nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classe etc. O
professor deixa de estar apenas cumprindo a rotina e executando tarefas, sem tempo
de refletir e avaliar o que faz.
Cabendo à coordenação pedagógica a tarefa de orientar e mediar todo o processo
ensino-aprendizagem na escola, ela também é co-responsável pela formação continuada do
professor. Possuir um corpo docente qualificado é condição imprescindível para que a escola
atinja seu objetivo maior que é a aprendizagem do aluno. A escola comprometida com a
qualidade de ensino deve oportunizar encontros para reflexões e troca de experiências entre a
equipe docente. A coordenação pedagógica tem então, entre suas tarefas, a de proporcionar ao
professor momentos de estudos, planejamentos e reflexões sobre suas práticas. Precisa
mostrar caminhos e alternativas, oportunizando um ambiente de formação que favoreça o
contato com novas idéias que irão auxiliá-lo na significação e ressignificação da sua prática
docente e na ressignificação da sua identidade profissional docente.
O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 280-281) afirma que:
A reconfiguração dessa identidade não se dá automaticamente com a conclusão de
um curso, com a titulação, nem com a assinatura do contrato de trabalho profissional
58
e nem com o fato de “receber” uma turma de estudantes ou tornar-se responsável por
uma disciplina. Ela se dá no movimento dinâmico de vestir-se, desvestir-se e
revestir-se de uma identidade; se faz no processo de aceitação, de acolhimento de
condições estruturais e pedagógicas, de significação da sua práxis pedagógica, da
ressignificação e da ressimbolização. Ele se dá no processo de identificar-se com o
ser docente. Não é, contudo, um passe de mágica, mas uma trajetória de vida. A
construção da identidade se dá no entrecruzamento do desejo pessoal, da trajetória
pessoal e profissional, das inter-relações pessoais e profissionais no espaço
educativo, da auto-aceitação dos limites pessoais e profissionais, do reconhecimento
das capacidades pessoais, da capacidade de reconciliação e de saber lidar com as
frustrações e o sentimento de impotência.
A identidade profissional docente se constrói ao longo da vida profissional de todo
professor. Ela se define através da reflexão crítica sobre a sua prática durante o processo da
formação continuada dos professores. Se constrói a partir do modo como cada professor se vê,
se aceita e se sente como professor. Do valor e significado que cada ser docente dá para a sua
prática pedagógica, levando em consideração a sua vida pessoal e profissional em comunhão
com os outros profissionais da educação.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos estudos e das reflexões feitas podemos considerar que é de fundamental
importância a formação continuada dos professores para a construção, reconstrução e
ressignificação da identidade profissional docente. A formação continuada é o espaço ideal
para o professor refletir sobre sua atuação e prática docente. O local apropriado para ocorrer
essa reflexão é a própria escola em conjunto com os demais colegas professores, pois é
refletindo sobre os conceitos teóricos da educação, debatendo situações práticas do dia -a- dia,
trocando idéias, experiências, sugestões, resolvendo dúvidas e questionamentos que os
professores vão se identificando com a sua profissão, reconstruindo e ressignificando a sua
identidade docente.
É da responsabilidade da coordenação pedagógica organizar e coordenar os momentos
de formação continuada no âmbito interno da escola. O trabalho crítico reflexivo sobre sua
prática e suas experiências deve ser o conteúdo desses momentos de formação continuada.
Continuadamente a coordenação pedagógica da escola deve organizar e oferecer momentos de
estudo e de reflexão sobre a prática docente para que o professor possa se auto-avaliar e
procurar melhorar o que ainda não está bom. Dentro do contexto escolar, os professores
devem fazer a diferença, oportunizando um ensino de qualidade a seus educandos,
envolvendo novas tecnologias para que o aluno se sinta motivado e interessado em aprender,
para que tenhamos uma educação melhor, onde os índices de desempenho sejam mais
elevados, visando uma sociedade melhor, mais justa e mais igualitária.
O professor se reconhece, se sente e se aceita como professor quando: Consegue criar
laços afetivos com a sua profissão e sentir prazer no que estiver fazendo; assume, com
responsabilidade e comprometimento, sua profissão, demonstrando paixão pela educação;
desenvolve a capacidade de criar laços afetivos e recíprocos com os educandos; preocupa-se
com o ensino e com a qualidade da aprendizagem dos seus educandos, procurando adaptar-se
aos novos recursos tecnológicos e transformações por que passa a sociedade atual. O
professor assume uma identidade profissional docente quando ele se preocupa com a sua
formação continuada para se manter atualizado e capacitado para exercer com competência a
profissão que ele escolheu.
A identidade profissional docente sofre ameaça quando encontramos professores que
estão quase permanentemente desmotivados, desanimados, em constantes conflitos e crises
que atingem e prejudicam as suas relações com os demais membros do corpo docente e
discente. São esses os professores que apenas estão professores durante algum período de sua
60
vida, porque precisam de uma profissão, única e exclusivamente para se sustentarem, para
terem condições de sobrevivência, mas não são professores, pois não se identificaram e não
construíram laços afetivos com a profissão que estão exercendo, ou seja, não construíram uma
identidade profissional docente.
Para os professores conseguirem se identificar com a profissão docente, é preciso que
ocorra uma formação continuada voltada para a reflexão sobre a prática docente de cada
professor, sobre a sua trajetória pessoal e profissional, sobre o sentido da docência para a sua
vida e sobre a docência como uma opção de vida. Cada ser docente precisa avaliar seus
saberes, suas competências, suas relações com os educandos e fazer uma análise da sua
atuação pedagógica dentro da sala de aula, avaliando o seu grau de comprometimento e de
responsabilidade que assume em relação ao desempenho dos alunos e aos progressos e
avanços da educação como um todo.
Participando das formações continuadas, o docente deverá ser capaz de auto- avaliarse para, a partir dessas reflexões, ter a capacidade de reconstruir e ressignificar a sua
identidade profissional docente. Assumir o que representam a escola na sua íntegra e os
alunos na vida de cada professor. O sentido e o significado que tem para si, o ser professor.
Pensar e refletir sobre a reconstrução e ressignificação da identidade profissional docente é
refletir sobre a individualidade, sobre a essência de cada sujeito e sua relação com as
experiências educacionais que viveu, valorizando sua trajetória pessoal, seus saberes, suas
competências, seu sentir e o seu aceitar-se como professor e o processo de constante busca de
construção e reconstrução dessa identidade profissional docente.
A formação continuada se torna cada vez mais necessária devido às novas exigências
da sociedade e os constantes conflitos de identidade por que passam os professores. Conflitos
em relação à sua escolha profissional, sua personalidade e todo o contexto educacional no
qual o professor se encontra envolvido. Construir uma identidade profissional docente
envolve a relação ou inter-relação que se estabelece entre a formação inicial e a continuada e
a trajetória de vida pessoal e profissional de cada ser docente. Portanto, o projeto de uma
formação continuada não pode se restringir a uma instrumentalização técnica e burocrática do
professor, mas integrar a capacitação teórica e a pessoalidade do professor.
61
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especialização em coordenação pedagogica e orientação