INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IVOTI CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGOGICA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NOELI SCHERER A IDENTIDADE DOCENTE E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO CONTINUADA Ivoti- RS 2009 INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IVOTI CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGOGICA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NOELI SCHERER A IDENTIDADE DOCENTE E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO CONTINUADA Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação Ivoti – ISEI, como requisito parcial para a obtenção de título de especialista em Coordenação Pedagógica e Orientação Educacional. Orientador: Manfredo Carlos Wachs Ivoti-RS 2009 Folha de aprovação Dedico este trabalho, com muito amor, às minhas filhas Daiane e Cristine pelo apoio, carinho e paciência que tiveram durante a sua realização bem como durante todo o curso no Instituto. Minhas filhas, muito obrigada. AGRADECIMENTO Agradeço a Deus por ter me dado a vida, a sabedoria e as forças necessárias para chegar até aqui. Aos meus pais, que sempre me apoiaram nos meus estudos. Às minhas filhas, o apoio e o auxílio que me deram no manuseio do computador. Ao meu orientador, professor Manfredo Carlos Wachs, pela atenção, carinho, paciência e dedicação com que me atendeu durante a realização deste trabalho. A todos os meus demais professores, meu muito obrigada, pelas lições de vida e pela profissional que me tornaram. A todos os meus familiares pela compreensão, apoio e incentivo. Aos meus colegas, pela força que me deram para continuar lutando e vencer mais esta etapa. Ao Instituto de Educação Ivoti, pela qualificação e conhecimentos adquiridos. A todos, a minha eterna gratidão. Ensinar é um exercício de imortalidade, de alguma forma continuamos a viver naqueles, cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra e, o professor assim, não morre jamais. Rubem Alves, 2000, p. 45 RESUMO A presente monografia analisa a questão da formação continuada e sua importância na construção, reconstrução e ressignificação da identidade profissional docente. Para compreendermos a identidade profissional docente é preciso que analisemos qual o valor e a importância que o professor dá para o seu ser docente. Na reflexão crítica sobre a sua prática, o professor pode e deve avaliar a sua atuação dentro do espaço escolar. Um trabalho docente competente se concretiza na construção e na reflexão permanente sobre a identidade com a sua profissão, no dominar saberes e nas competências que o ajudarão a atingir com êxito a sua profissão e se sentir feliz e realizado. Nessa construção, deve ser levada em consideração a trajetória pessoal e profissional, a formação e as experiências que os docentes adquirirem durante todo o seu período de atuação docente. O professor precisa ser capaz de motivar seus alunos, despertar neles a curiosidade de aprender e criar laços afetivos e recíprocos com os mesmos. Essa atitude será fundamental para o bom desempenho dos educandos. No espaço educativo da escola, a coordenação pedagógica tem a responsabilidade de organizar e oferecer aos professores momentos de formação continuada, pois os docentes precisam estar constantemente em busca de conhecimentos para se manterem atualizados e capazes de atender as expectativas e mudanças que surgem dentro da atual sociedade que passa por constantes transformações. Nem todos os professores constroem uma identidade profissional docente, pois têm aqueles que não se identificam com a docência. Eles apenas estão professores num certo período da sua vida, realizam as tarefas, mas não se consideram, não se vêem como professores, pois não construíram uma identidade profissional docente. Palavras- chave: Formação continuada. Identidade docente. Saberes. Competências. ABSTRACT The present monograph analyses the question of continued education and its importance in the construction, reconstruction and resignification of the teaching professional’s identity. To understand the teaching professional’s identity one needs to analyze what value and importance the professional gives to his teaching self. In the critical reflection about their practice, teachers can and must evaluate their performances inside the educational environment. A competent teaching work is accomplished through the permanent construction and reflection of the professional identity, of the ability to dominate the knowledge and of the competences that will help successfully achieve his profession and the feeling of happiness and accomplishment. In this construction, the personal and professional trajectory, the educational development and the experiences teachers acquire during their teaching life must be taken into consideration. The teacher needs to be capable of motivating the students, bring out their curiosity to learn and grow affection and reciprocal bonds among themselves. This attitude will be primordial for the good performance of the students. In the educational environment of the school, the pedagogic coordination has the responsibility to organize and offer moments of continued development to teachers, because they need to be constantly in search of knowledge to keep themselves updated and capable of fulfilling the expectations and changes that appear in modern society, which goes through constant transformation. Not every teacher builds a professional teaching identity, for the reason that there are some who don’t identify themselves with teaching. They are just being teachers for a certain period in their lives, complete their functions but don’t consider themselves teachers, because they haven’t built a professional teaching identity. Keywords: Continued education. Teaching identity. Knowledge. Competences. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 2 IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................. 11 2.1 O QUE SIGNIFICA SER DOCENTE?.............................................................................. 11 2.2 O DOCENTE E SUA RELAÇÃO COM O EDUCANDO................................................ 17 2.3 O DOCENTE E AS NOVAS TECNOLOGIAS ................................................................ 25 3 OS SABERES E AS COMPETÊNCIAS DO DOCENTE ............................................... 31 3.1 SABERES DA DOCÊNCIA .............................................................................................. 31 3.2 COMPETÊNCIAS DA DOCÊNCIA ................................................................................. 36 4 IDENTIDADE DOCENTE................................................................................................. 40 4.1 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE ............................ 40 4.2 A PERDA DA IDENTIDADE DOCENTE ....................................................................... 45 5 FORMAÇÃO CONTINUADA........................................................................................... 51 5.1 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE......................................................................... 51 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 59 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO Esta monografia tem como objetivo refletir sobre a identidade dos professores e a importância da formação continuada para a construção e reconstrução do processo identitário, procurando compreender a sua trajetória pessoal e profissional. Este trabalho surgiu a partir dos questionamentos e das curiosidades que sempre tivemos em relação às diferentes identidades profissionais docentes que se refletiam dentro do ambiente escolar. Nosso interesse refletir porque os professores tinham reações diferentes em relação às formações continuadas. Porque alguns professores ficavam felizes e satisfeitos com esses momentos de formação, outros, desmotivados e insatisfeitos e outros nem demonstravam interesse em participar dos mesmos. Refletir e questionar sobre a identidade profissional do docente é fundamental para podermos compreender atitudes, reações e comportamentos que professores assumem frente às diferentes situações em que se encontram diariamente no exercício de sua profissão docente. Para podermos compreender a identidade profissional dos docentes é necessário refletir sobre o sentido e o significado de ser docente, sobre as responsabilidades e o comprometimento que são de sua competência para desempenhar com êxito e satisfação a sua profissão. A metodologia a ser utilizada será baseada em pesquisa bibliográfica e na internet. No primeiro capítulo refletiremos sobre o que é ser docente, o que é preciso para que o docente se realize com a sua profissão. Para isso, façamos uso das déias de educadores como: Freire e Gadotti. Procuraremos também analisar a relação que se estabelece entre o docente e o educando e qual a influência desta relação na aprendizagem. Que tipo de relação se deve constituir entre ambos para que ocorra uma aprendizagem significativa. Analisaremos também a relação do docente com as novas tecnologias e como o professor pode se utilizar desses recursos dentro da sua sala de aula em benefício de uma educação com mais qualidade e de um melhor desempenho por parte dos alunos. No segundo capítulo procuremos refletir e compreender quais os saberes e as competências necessárias que o docente precisa ter para desempenhar com responsabilidade e competência a sua profissão docente. A nossa reflexão fundamenta-se em autores como Libâneo, Pimenta, Perrenoud, Tardif e Nóvoa. É importante discutir como se constroem esses saberes e essas competências, levando em consideração as experiências e histórias de vida de cada professor e as experiências adquiridas ao longo da carreira profissional docente no seu local de trabalho. Refletir e compreender a organização desse espaço escolar é fundamental 10 para entendermos a aquisição desses saberes e competências por parte dos professores, pois é lá o lugar onde o professor vai refletir sobre a sua prática. No terceiro capítulo descreveremos como se dá a construção e a perda da identidade profissional docente. Refletir sobre como o docente constrói ou não essa identidade com a sua profissão é de extrema importância para compreendermos a sua atuação e o seu comprometimento dentro do ambiente escolar. Para compreender esse processo de ressignificação é necessário levar em consideração a trajetória social e profissional, a formação e as práticas profissionais dos docentes. Cabe também pensar no que acontece quando o professor perde a sua identidade profissional docente e que fatores colaboram para que isso aconteça. No último capítulo apresentaremos sobre a importância da formação continuada na construção da identidade profissional docente. Nessa etapa refletiremos a partir das afirmações de Candau e Wachs. Procuraremos descrever como acontece, no contexto escolar, a formação continuada e qual o papel da coordenação pedagógica neste processo de formação. E, para finalizarmos o presente trabalho, analisaremos a influência dessa formação continuada no processo da construção da identidade profissional docente. 2 IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE Percebendo o grande comprometimento e responsabilidade que recai sobre o profissional da educação, é necessário pensarmos sobre o verdadeiro sentido do ser docente, as tarefas que cabem à docência, os saberes e as competências necessárias para que ocorra a aprendizagem dos alunos e a plena realização e satisfação dos professores. Também o interesse em refletirmos sobre o valor e a importância dada a essa profissão tão especial e as atribuições que cabem a esse profissional no contexto social em que está inserido, ou seja, neste mundo globalizado que passa por constantes mudanças. No desenvolver do trabalho, será feita também uma reflexão sobre a identidade profissional docente, como ela se constrói a partir das experiências vividas por cada professor. 2.1 O QUE SIGNIFICA SER DOCENTE? As pessoas já conviveram um dia com um professor e sabem da importância e do valor desse profissional na vida de cada um. Entretanto, devemos considerar que as pessoas somente reconhecem o seu valor algum tempo após. Geralmente quando vão em busca de um emprego e percebem que, na maioria das vezes, quem ganha a melhor oportunidade, com um salário maior, é aquele que tem uma melhor qualificação. Os professores são um referencial para todo ser humano e são fundamentais na educação de cada indivíduo. Além do ofício de ensinar, proporcionam sentido para a vida de muitas pessoas, sendo uma das suas referências mais importantes. O professor é o alicerce, é a base das profissões, pois ele incentiva o ser humano a ir em busca de uma boa educação. As pessoas passam pelas mãos dos educadores e a partir dos seus ensinamentos e exemplos, em conjunto com outros fatores sociais, políticos, econômicos e culturais com os quais se confrontam na sociedade em que vivem, constroem sua identidade e adquirem valores que nortearão a sua vida. Atualmente, podemos acompanhar uma importante preocupação dos órgãos governamentais, tanto a nível nacional quanto municipal, com a melhoria do desempenho da aprendizagem do aluno. Nos meios de comunicação podemos ouvir e ler diversas manifestações com a intenção de melhorar os índices, na maioria das vezes em comparação com os índices internacionais. Consideramos esta ênfase bastante importante. Entretanto, analisando o cotidiano escolar da sala de aula e da sala dos professores, acreditamos que 12 deveríamos pensar primeiro nos professores, porque não há reforma educacional sem eles, pois geralmente são esses os profissionais de maior envolvimento com os processos e os resultados da aprendizagem escolar e com a busca da qualidade na educação. Os professores desempenham um papel de liderança na reforma do ensino. Hoje em dia, uma parcela significativa desses profissionais está preocupada em aprender, se atualizar com conhecimentos e práticas para melhorarem o seu desempenho. Desejam adaptar-se às novas exigências educacionais, nessa sociedade em constante transformação, oferecendo um ensino de qualidade, adequado às necessidades sociais e profissionais dos educandos. Para o educador Paulo Freire (2000, p. 25) “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. O professor, ao ensinar a seus alunos, também adquire conhecimento, pois existe nessa relação entre professor e aluno uma troca de experiências e aprendizagens. Essa troca acontece durante os diálogos e reflexões que fazem sobre os conteúdos. Moacir Gadotti (2003a, p. 49) também dá a sua contribuição dizendo que “só aprendemos quando colocamos emoção no que aprendemos. Por isso é necessário ensinar com alegria”. Os docentes deveriam ensinar com vontade, com prazer, realmente vivenciar e se envolver com o que estão ensinando, pois isso se reflete na aprendizagem do educando. Os seres humanos, como seres inacabados, estão sempre em busca do novo, do desconhecido, do diferente. Sempre curiosos procurando novos saberes para se atualizarem como profissionais e como pessoas. Paulo Freire (2000, p. 55) deixa claro sua idéia a respeito do inacabamento do ser humano quando diz que “na verdade, o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente.” O inacabamento faz parte das características próprias do ser humano e como tal, a maioria das pessoas se encontra num processo permanente de busca social de aperfeiçoamento. Os seres humanos não só são inacabados e incompletos, mas eles têm consciência disso e por isso precisam dos outros e aprendem com os outros. Julio Groppa Aquino (2002, p. 12) confirma essa idéia dizendo que “[...] a capacitação do educador nunca é adquirida por completo, uma vez que ela jamais se esgota”. Tanto Paulo Freire como Julio Aquino destacam essa necessidade constante dos educadores e das demais pessoas de realizarem um processo contínuo de aprendizagem. O ser humano deveria estar sempre buscando aprender mais. Quanto mais sabem, mais querem ainda aprender. Deveríamos reconhecer a importância do papel do educador de ensinar o aluno a pensar criticamente, pois aprender criticamente é possível quando há educadores e educandos curiosos, criadores, inquietos e persistentes. 13 O professor, como agente de memória educativa, deveria se preocupar em levar às gerações mais novas a recuperar e valorizar o passado, conhecer suas origens e sua história para assim conseguir viver intensamente o presente e projetar o futuro. Como agente de valores e de inovações, cabe a ele a responsabilidade de formar cidadãos, conscientes de suas responsabilidades dentro do meio em que vivem. Como agente de inovações, é um profissional que deveria orientar, estimular a reflexão crítica, promover debates e auxiliar na compreensão e utilização das inovações técnicas e culturais que surgem dentro da sociedade atual. Muitos professores procuram atingir esses objetivos, mas isso só é possível se o aluno realmente quer aprender. O educador Paulo Freire (2000, p. 96) aponta que “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno para a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma ‘cantiga de ninar’. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”. Quando o aluno demonstra interesse em aprender, ele acompanha a aula tranqüilamente, não se cansa e, presta atenção no que o professor fala e assim ocorre a aprendizagem. Para o professor desempenhar todas as suas funções, necessita de uma qualificação acadêmica que lhe dê condições para promover a aprendizagem dos seus alunos e uma qualificação pedagógica que lhe proporcione metodologias e técnicas adequadas para o uso diário no exercício da sua atividade profissional. Para ensinar é preciso saber improvisar, pois os acontecimentos que ocorrem na prática nunca são os mesmos, e por isso não há receitas prontas que solucionem dificuldades emergentes. José Carlos Libâneo (1998, p. 28) afirma que: Todavia, novas exigências educacionais pedem às universidades um novo professor capaz de ajustar sua didática às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos meios de comunicação. O novo professor precisaria, no mínimo, de adquirir sólida cultura geral, capacidade de aprender a aprender, competência para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional e dos meios de informação, habilidade de articular as aulas com as mídias e multimídias. Nem sempre, as universidades preparam os futuros professores para enfrentarem as situações que encontram na prática. Atualmente, em boa parte dos cursos de licenciatura, o futuro professor só entra em contato com a realidade escolar após ter passado pela formação “teórica” nas disciplinas específicas e pedagógicas, quando deveria acontecer o contrário. Desde o ingresso dos alunos no curso, é necessário integrar os conteúdos das disciplinas com a prática. Nela o aluno se depara com situações problemáticas em que é desafiado a encontrar 14 soluções e alternativas. Essa vivência daria ao futuro professor a oportunidade de ter a prática presente, ao longo do curso, para poder comparar as situações vivenciadas com as teorias e formar seus próprios conhecimentos. Algumas vezes a teoria não condiz com a prática, ou seja, o que é apresentado ao aluno na universidade não corresponde ao que ele encontra verdadeiramente na sala de aula, ou como diz José Esteves (1999, p. 109): O professor novato sente-se desarmado e desajustado ao constatar que a prática real do ensino não corresponde aos esquemas ideais em que obteve a sua formação; sobretudo, tendo em conta que os professores mais experientes, valendo-se da sua antiguidade, os irão obsequiar com os piores grupos, os piores horários, os piores alunos e as piores condições de trabalho. Outro aspecto a ser destacado é a falta de conhecimento teórico dos professores, principalmente os que trabalham por área. Às vezes, na escola, falta um professor de certa disciplina, então outro professor, que nem é dessa área, assume as aulas por ter horas sobrando, não sendo da sua competência e habilitação e não dominando o conteúdo que precisa ensinar. Nessas circunstâncias, geralmente ele acaba reproduzindo as aulas e os exercícios dos livros didáticos, adotam os procedimentos de outros professores, o que desqualifica todo esforço e tempo gasto em anos de formação. Essa situação acaba prejudicando a aprendizagem do aluno e em algumas situações leva o educando a perder a motivação pelos estudos, podendo gerar indisciplina dentro da sala de aula. Para Moacir Gadotti (2003a, p. 71) “ser professor, na acepção mais genuína, é ser capaz de fazer o outro aprender, desenvolver-se criticamente”. A aprendizagem, sendo um processo ativo, precisa da existência do aluno e do professor. O professor precisa ver e dar sentido ao que está fazendo e ensinando. Só assim poderá motivar o seu aluno e desenvolver nele o desejo de aprender. A heterogeneidade do corpo discente, as condições salariais, a luta pela valorização profissional, a falta de recursos econômicos da escola, a falta de oportunidades de aperfeiçoamento e todo o contexto do mundo pós-moderno trazem problemas e desafios aos professores e à escola. Diante deste contexto e desta realidade, cabe ao professor ter disposição para aprender e buscar novas alternativas para superar seus desafios e atingir seus objetivos como profissional competente, preocupado com a formação qualitativa dos alunos. O constante aperfeiçoamento faz parte da vida do ser docente. Ele precisa se atualizar para atender aos interesses de um corpo discente tão diversificado, porque atualmente, nas escolas, encontramos alunos das diferentes classes sociais, raças e etnias, uma verdadeira multicultura da qual o professor precisa dar conta. No passado, a escola ocupava uma 15 determinada posição de status, só atingia a classe privilegiada e um grupo social e cultural específico. Muitas vezes, no passado, a escola era constituída de grupos étnicos específicos. Hoje a tarefa de ser professor se torna mais difícil quando se precisa lidar com grupos bem diversificados de pais e de famílias que fazem parte da escola, com culturas e modos tão diferentes de conviver em sociedade. Se os professores têm a ajuda e colaboração dos pais, se existe uma relação de apoio mútuo entre eles, na educação dos filhos, a tarefa de ser professor se torna mais fácil. É necessário construir uma parceria entre pais, professores e escola que beneficie a aprendizagem do aluno, valorizando a individualidade da criança. A escola é um lugar de diversidade, que recebe alunos de diferentes hábitos, costumes e culturas. É fundamental ressaltar que a tarefa e a responsabilidade dos professores e da escola, frente a essa realidade, são muito sérias e comprometedoras. Apresenta-se como um enorme desafio cotidiano e permanente. José Carlos Libâneo (1998, p. 77) aponta que: [...] Os professores precisam ter uma boa informação cultural e serem capazes de lidar com diferenças, atendendo às expectativas da comunidade escolar e da sociedade como um todo. Devem se empenhar ao máximo para terem um bom relacionamento com os alunos para que a aprendizagem seja significativa e produtiva. Necessitam estar em constante busca de novas opções e troca de idéias com outros educadores para se manterem capacitados para enfrentar as novas perspectivas que encontram a cada dia. Nessa conjuntura é emergente a formação integral dos educadores para compreender a complexidade do espaço escolar que acolhe e valoriza a diversidade cultural. Formação esta, que valoriza o humano e os diferentes conhecimentos apresentados por cada cultura. Para acompanhar as mudanças dessa sociedade complexa é exigido do professor muita criatividade, persistência e amor pela profissão. Celso Antunes (2002, p. 8) destaca que “para ser um educador de verdade, um verdadeiro mestre, todo professor deve, antes, ser uma grande pessoa”. Ou seja, o professor precisa ter bom caráter, valores, bons sentimentos e muito amor para lidar com as crianças. Precisa respeitar os alunos como seres humanos e promover uma educação comprometida e de qualidade. O profissional da educação precisa ter ética e deve se preocupar com a formação moral do educando. Essa idéia também é defendida por Paulo Freire (2000, p. 37) quando menciona que: Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. 16 Sabemos que, às vezes, a realidade que os docentes encontram nas salas de aula e na escola é bastante difícil. Atualmente existem, nas escolas, sérios problemas de drogas, indisciplina, desrespeito, ameaça a integridade física e psicológica do professor, assassinados e é diante deste contexto que sua tarefa se torna cada vez mais difícil. Cada vez se exige mais do docente e realmente ele precisa realizar novas atividades e novos desafios para incentivar e motivar os seus alunos. Isto é difícil e o docente precisa de muita coragem, motivação e força de um ser superior, Deus, para superar suas dificuldades. Além disso, deveria ter a seu alcance a ajuda e o apoio dos seus colegas de trabalho, da coordenação pedagógica e da direção da escola para se levantar quando sofre uma derrota. Leda Portal (2001, p. 115) afirma que: Ser professor está hoje a exigir um novo perfil, uma nova postura, caracterizada por uma atitude: pró-ativa, crítica, empreendedora, com habilidades de socialização, facilidades em trabalhar em e com equipe, num imperativo trazido pela planetarização, globalização, pelo conectar-se em um processo de interdependência, de colaboração, de cooperação, de interatividade que desafie a hiperespecialização, que limita, restringe, separa e fragmenta, impedindo de ver o global e onde o essencial se dilui, fechando-se em si mesmo. Essa autora chama atenção sobre a importância de trabalhar em equipe e de desenvolver a habilidade de conviver em grupo, trocar idéias, pois é partilhando conhecimentos que cada ser humano desenvolve suas capacidades e adquire mais habilidades para desempenhar suas funções. José Carlos Libâneo (2002, p. 77) reforça essa reflexão quando afirma que: [..] Nesse sentido, para além de uma reflexividade cognitiva, é preciso a reflexividade comunitária, a reflexividade compartilhada, num esforço de instaurar nas escolas uma prática de gestão e convivência lastreada na construção de significados e entendimentos compartilhados a partir das diferenças e da busca de valores universais comuns. Philippe Perrenoud (2000, p.81) também ressalta a importância de trabalhar em equipe quando diz que “Trabalhar em equipe é, portanto, uma questão de competências igualmente a convicção de que a cooperação é um valor profissional”. Nesse contexto um precisa ajudar e cooperar com o outro. Os docentes precisam trabalhar em conjunto, em equipe, para o benefício da educação e da aprendizagem dos educandos. Aumenta cada vez mais o número de professores que optam em trabalhar em equipe, porque acreditam na cooperação, na partilha de recursos, idéias, problemas, dificuldades e responsabilidades. Nessa estrutura social, ser professor é um desafio, é uma tarefa complexa, que exige grande esforço, dedicação, mas é prazerosa para aqueles que optaram em ser professor, que 17 gostam do que fazem, que assumiram a profissão que escolheram. Ser professor é acreditar numa educação melhor e lutar por melhores condições de ensino. É confiando no trabalho em equipe que se tem mais força para vencer os obstáculos e os desafios. É preciso o trabalho em equipe e a integração dos educandos, pois todos são capazes de aprender, se lhes são oferecidas as condições apropriadas, respeitando as diferenças. Se cada professor oferecer a sua ajuda em favor do próximo, com certeza teremos melhores índices de aprendizagem e avanços na educação brasileira. Moacir Gadotti (2003b, p. 21), por sua vez, destaca: Ser professor hoje não é mais difícil nem mais fácil do que era há algumas décadas atrás. É diferente. Diante da velocidade com que a informação se desloca, envelhece e morre, diante de um mundo em constante mudança, seu papel vem se transformando - senão na essencial tarefa de educar, pelo menos no ofício de ensinar, de conduzir a aprendizagem e na sua própria formação que se tornou permanente. Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem professores. Eles não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber, porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, numa visão emancipadora, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis. A tarefa de ser professor é fundamental, independente do lugar e da época. Em todos os tempos ela foi necessária e significativa. Com o decorrer do tempo e as mudanças que ocorreram, o papel do docente também sofreu alterações, mas o professor deveria se adaptar às situações que o cotidiano lhe propõe e procurar meios e alternativas para que o aluno aprenda. Cada professor deveria aproveitar e se esforçar ao máximo para atender os desafios que a função docente lhe atribui visando o progresso da educação. Refletindo sobre a idéia de Moacir Gadotti percebemos a importância dada ao professor nos dias atuais, suas responsabilidades e compromissos com os alunos nessa sociedade em constante transformação. Cabe ao professor a tarefa de se preocupar com a sua permanente formação para se manter atualizado e preparado para resolver os desafios que a profissão lhe impõe. 2.2 O DOCENTE E SUA RELAÇÃO COM O EDUCANDO Paulo Freire (2000, p. 25) menciona a importância da relação professor e aluno quando diz que “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro”. Para que o professor possa ensinar, precisa ter alunos que queiram aprender. Há uma reciprocidade 18 entre professor e aluno. O profissional da educação procura manter uma relação humana, construtiva, de confiança, de afeto e de respeito mútuo com seus alunos. A opinião de Marlene Grillo (2001, p. 87) complementa essa idéia quando coloca que: Em relação ao clima de sala de aula, é apontado o reconhecimento da afetividade como um fator positivo na aprendizagem, destacando-se a relevância do equilíbrio entre a seriedade e o bom humor, os quais aproximam aluno e professor, sem comprometer o rigor exigido pela docência. Reconhecemos a influência da afetividade no bom desempenho da docência, mas não podemos deixar de mencionar que alguns professores, às vezes, têm grandes dificuldades em manter uma boa relação de afetividade com alguns alunos, principalmente com os adolescentes. Isso acontece porque nesse período da vida, os adolescentes passam por crises e modificações físicas, psicológicas e sociais que geram grande insegurança, conflitos e agressividade e isso se reflete no seu relacionamento com as outras pessoas. Os docentes críticos, criativos, desafiadores, competentes, dinâmicos, mediadores, procuram facilitar o processo ensino-aprendizagem dos alunos e colaboram na construção da consciência, do caráter e da cidadania plena dos seus educandos. Seguidamente, os docentes são desafiados pelos alunos, surgem situações novas dentro da sala de aula que precisam de alternativas e soluções, por isso a profissão de professor é complexa e exige um saber especializado. O professor desempenha várias funções relevantes dentro do processo ensino-aprendizagem e da escola, entre elas, a de ser professor, planejar, dominar o conteúdo, promover diálogos, debates, transmitir conhecimentos, valores, exigir trabalhos e avaliar seus alunos. Precisa ser amigo dos alunos, escutá-los, dialogar com eles, incentivá-los a serem curiosos e críticos, dar sugestões e oportunidades para que os educandos solucionem suas dificuldades, ampliam seus conhecimentos e se auto-realizem como pessoas. O professor deveria ser um pouco psicólogo, agente social, pai e mãe. O educador Paulo Freire (2000, p. 96) também considera fundamental o diálogo entre professor e aluno. Ele diz que “o fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos.” Ressaltamos aqui a importância do diálogo aberto entre o docente e o discente para que ocorra a aprendizagem. O professor precisa provocar seus alunos para que se tornem curiosos e motivados para aprenderem. Para os autores Maurice Tardif e Claude Lessard (2005, p. 232-233) o trabalho docente dentro da sala de aula acontece de forma interativa, rápida, imprevisível e visível 19 dentro de uma historicidade diária, semanal e o professor precisa lidar e se adaptar a essas situações. A intervenção do professor durante a aula é muito significativa para manter os alunos motivados e concentrados em suas atividades. Exige do professor uma atenção especial sobre as tarefas em andamento. Esses dois autores ressaltam bastante a idéia da interatividade, pois ensinar é um trabalho interativo. Tudo acontece muito rápido e imprevisivelmente, e o professor nem sempre está preparado para solucionar os problemas que surgem dentro da sala de aula. A interação facilita o trabalho docente. Tardif e Lessard (2005, p. 246) dizem: [...] a professora está continuamente no centro da ação em andamento, ela dialoga continuamente com os grupos e os alunos individualmente, garante tanto o controle dos comportamentos disciplinares quanto a realização da tarefa coletiva da aprendizagem. Em suma, ela age de várias maneiras ao mesmo tempo, instaurando diversos tipos de interação com os alunos e/ou o grupo: instruções para a tarefa, chamada à ordem, avaliação de uma aprendizagem, reforço, motivação, etc. Para o professor conseguir manter esse trabalho interativo dentro da sala de aula os alunos devem demonstrar interesse e participação nas atividades. O professor não consegue realizar esse trabalho interativo quando encontramos na sala de aula alunos perturbadores, que não realizam as tarefas propostas e atrapalham o andamento da aula. Essas situações deixam o professor desanimado e muitas vezes faz com que saia da sala de aula frustrado e se sente incompetente. Freire (1994, p. 63) nos fala das qualidades indispensáveis aos educadores progressistas: É vivendo, não importa se com deslizes, com incoerências, mas disposta a superálos, a humildade, a amorosidade, a coragem, a tolerância, a competência, a capacidade de decidir, a segurança, a eticidade, a justiça, a tensão entre paciência e impaciência, a parcimônia verbal, que contribuo para criar, para forjar a escola feliz, a escola alegre. A escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco, por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se atua, em que se cria, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim à vida. E não a escola que emudece e me emudece. Analisando, podemos compreender as qualidades positivas do professor e sua influência na construção de uma escola onde os alunos se sentem bem e felizes. Onde são vistos, ouvidos e amados. Onde são tratados com dignidade e respeito. Notamos a importância de termos professores competentes e toda uma conjuntura social, política, econômica adequada que favoreça a implantação desse tipo de escola, pois nos dias atuais é difícil encontrarmos escolas onde todos os alunos são tratados da mesma maneira, sem discriminação. O professor devendo ter um olhar atento e constante sobre o aluno, precisaria ser responsável, comprometido e competente e deveria ser capaz de encontrar vários caminhos e alternativas para proporcionar condições adequadas para que ocorra a 20 aprendizagem. Deveria ser um agente de mudanças no contexto em que está inserido. Precisaria ter um relacionamento intra e interpessoal equilibrado e saudável para que tenha capacidade de construir e reconstruir a sua identidade docente e oferecer um processo de aprendizagem significativo. Os professores podem utilizar várias estratégias para promover a educação, entre elas, a posição de intermediário entre o aluno e a cultura dando atenção à diversidade de alunos. Além disso, precisa acompanhar e interferir diferenciadamente no processo ensinoaprendizagem de seus alunos. Intervenções nos grupos ou individualmente quando o aluno necessita de um acompanhamento mais específico. O aluno, para compreender o que faz e progredir na sua aprendizagem, depende do grau de contribuição do professor, com sínteses, recapitulações e referências, o que contribui para que os alunos possam avaliar a própria competência e aproveitar a ajuda que lhes é oferecida. Para facilitar a aprendizagem do educando, o professor precisa fazer um planejamento flexível e aberto a modificações que se adaptam às diferentes situações que surgem dentro da sala de aula. Como por exemplo: Levar em consideração as experiências e os conhecimentos dos educandos, ajudá-los a encontrar sentido no que estão fazendo, estabelecer metas ao alcance deles e oferecer ajuda para os obstáculos que enfrentam. Essa opinião vem ao encontro do pensamento de Marlene Grillo (2001, p. 79) quando esta coloca que “todo aluno traz para a sala de aula uma história pessoal, com experiências particulares vividas na família, na sociedade, com disposições e condições diversas para realizar seu percurso de estudante e expectativas diferenciadas com relação a um projeto de vida”. Devemos respeitar e aproveitar as experiências que os alunos trazem e dar-lhes a oportunidade de expressarem suas próprias idéias, ampliar suas experiências com outras novas, perceber suas limitações e ir em busca de alternativas. Para que isso aconteça, o professor necessita criar um ambiente propício para debates, diálogos e participação, onde os alunos possam fazer perguntas, questionar e refletir. Sabemos que na prática, às vezes, não ocorre esse momento, pois os professores mais autoritários não deixam abertura para que os alunos possam se expressar e terem um momento de diálogo, de troca de idéias e reflexões. O professor prefere que os alunos fiquem calados fazendo outras atividades individualmente. É preciso planejar propostas de atividade que favoreçam diferentes formas de interação e de relacionamento, além de prever atividades que colocam os alunos frente à necessidade de resolver situações de convivência diferentes das que encontra no seu dia-a-dia. Assim o professor poderá realizar observações e avaliar o desempenho e o esforço dos educandos. Além disso, deve oportunizar aos seus educandos, momentos de ajuda 21 individualizada, já que nem todos aprendam no mesmo ritmo, mesmo modo e com as mesmas atividades. A interferência do professor no ambiente escolar, é de extrema importância, pois os educandos, para responderem às propostas educacionais com maior ou menor interesse e dedicação nas tarefas, precisam ter bem claro o que o professor espera deles. Os alunos que percebem que se espera deles um bom rendimento, que recebem ajuda, orientação e atenção por parte do professor vão confirmar as expectativas com resultados satisfatórios. Dos alunos que pouco se espera, que recebem pouca ajuda, não demonstrarão maior interesse e seus resultados não serão satisfatórios. A professora Marta Kohl de Oliveira (1997, p. 62), baseando-se na teoria de Vygotsky, também faz referência à intervenção do professor na aprendizagem dos alunos e salienta que: [...] a intervenção é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. [...] A intervenção de outras pessoas que, no caso específico da escola, são o professor e as demais crianças - é fundamental para a promoção do desenvolvimento do indivíduo. Não apenas o professor deverá auxiliar os alunos na realização das tarefas, mas é muito interessante que os próprios alunos se ajudem mutuamente. Às vezes, os alunos entendem melhor o conteúdo quando um colega explica, do que se o próprio professor explica, pois os alunos utilizam a mesma linguagem para se comunicar. Mesmo assim o apoio do professor é fundamental. Essa idéia se confirma quando a autora Marta Kohl de Oliveira (1997, p. 64) diz que: Com relação à atividade escolar, é interessante destacar que a interação entre os alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das crianças. Os grupos de crianças são sempre heterogêneos quanto ao conhecimento já adquirido nas diversas áreas e uma criança mais avançada num determinado assunto pode contribuir para o desenvolvimento das outras. Assim como o adulto, uma criança também pode funcionar como mediadora entre uma outra criança e às ações e significados estabelecidos como relevantes no interior da cultura. São de fundamental importância o bom relacionamento do professor com seus alunos e dos alunos entre si, pois quando o aluno sente segurança, apoio e é valorizado dentro do ambiente escolar, pelo seu professor e por seus colegas, ele demonstra essa satisfação nos resultados da sua aprendizagem. Os alunos bem aceitos na escola são mais comprometidos com a educação, se esforçam, realizam as tarefas propostas com maior interesse e dedicação. São críticos, participativos e estudam para terem uma formação de qualidade. Por outro lado, encontramos alunos que não se sentem bem acolhidos dentro do ambiente escolar, não 22 conseguem manter uma boa relação com os professores, não se sentem motivados para participar ativamente das aulas. Essa situação se reflete na sua aprendizagem, que não é satisfatória, faltam nas aulas, não trazem material escolar, não realizam as atividades propostas. Com esse distanciamento, o professor acaba exigindo menos do aluno, não lhe dá a devida atenção, o que desmotiva ainda mais o aluno que começa a incomodar nas aulas e prejudica também os demais colegas. Antoni Zabala (1998, p. 96) confirma essa idéia quando diz: A maneira de ver o aluno e de avaliá-lo é essencial na manifestação do interesse por aprender. O aluno encontrará o campo seguro num clima propício para aprender significativamente, num clima em que se valorize o trabalho que se faz, com explicações que o estimulem a continuar trabalhando, num marco de relações em que predomine a aceitação e a confiança, num clima que potencializa o interesse por empreender e continuar o processo pessoal de construção do conhecimento. Cabe à escola e mais especificamente ao professor oferecer aos educandos um ambiente adequado para que possam avançar nos seus conhecimentos. Para que isso aconteça, é necessário que os docentes e os alunos mantenham um relacionamento de confiança, aceitação, respeito mútuo e sinceridade. Devem haver condições que estimulem o esforço, a motivação e o interesse em aprender. É preciso criar um ambiente seguro, que ofereça, a todos os alunos, oportunidades de participar, dando suas opiniões, num clima de interação, companheirismo e esforço para enfrentar os desafios e promover a aprendizagem. Nem sempre a escola tem condições de oferecer esse ambiente seguro, pois ela também não está preparada para atender a todos os tipos de situações, uma vez que a diversidade de educandos, de dificuldades e de problemas é muito grande. Devemos ser sinceros e suficientemente autocríticos para refletirmos sobre as reais condições de lidarmos e convivermos tranqüilamente com todas as situações conflitantes e oponentes. Será que nós estamos desejando da escola e dos professores algo impossível e sobre-humano? Às vezes, almejamos e criamos um protótipo de professor muito próximo do ideal e muito longe do real, do humano, do concreto. Devemos trabalhar com aspirações e com utopias que nos fazem caminhar, mas não projetos irrealizáveis. Às vezes, encontramos alunos que vem com medo para a escola, principalmente os menores, ficam assustados e não querem ficar sem os pais. Outra situação, quando existem problemas de relacionamento, de abusos dentro do ambiente familiar e o aluno carrega isso junto para dentro da escola. Ele sente dificuldades de se relacionar bem com o professor porque tem nele a imagem do pai, por exemplo, que abusa sexualmente dele ou agride-o fisicamente. 23 Essas situações se refletem na aprendizagem, dificultando a motivação e o desempenho significativo dos alunos. Os professores terão dificuldade de despertar a curiosidade e o interesse nos alunos, pois eles não terão condições psicológicas de se concentrarem nos estudos e de realizarem as atividades propostas. Jocelyne Bocchese (2001, p. 32) salienta que: [...] ser professor é, [...] conhecer as competências que os alunos já dominam a fim de problematizá-las e confrontá-las com situações em que essas se mostrem insuficientes ou inoperantes. É também fazer com que essas situações sejam significativas, surpreendentes e estimulantes para os alunos, a ponto de motivá-los a despender o esforço que a construção de uma competência mais elaborada exige. O professor também é responsável por avaliar os resultados dos alunos. Essa avaliação deve ser transmitida aos alunos de uma maneira que os incentive a se esforçar e a continuar progredindo e nela devem ser levadas em consideração suas capacidades e o esforço demonstrado. Essa tarefa exige do professor muita responsabilidade e justiça, pois dela depende promover, nos alunos, a auto-estima e a motivação para continuarem aprendendo. Assim, o professor deve demonstrar confiança no esforço dos alunos, levando em conta a situação pessoal de partida, os obstáculos que enfrentaram, as ajudas que tiveram e o ponto a que chegaram, ou seja, o progresso que tiveram na sua aprendizagem. Laurinda Ramalho de Almeida (2006, p. 78) destaca a importância de valorizar tanto a pessoa quanto a participação do educando, quando diz “[...] as habilidades de relacionamento interpessoal, o olhar atento, o ouvir ativo, o falar autêntico, podem ser desenvolvidas, e que nesse exercício o profissional vai fazendo uma revisão de suas concepções de escola, de professor e de aluno”. O professor precisa estar atento às contribuições e aos progressos de seus educandos. Muitas vezes o professor precisa ter um olhar diferente para compreender seu aluno e fazer uma autocrítica sobre a sua atuação em sala de aula. Às vezes o próprio professor precisa mudar seus conceitos e suas atitudes e aceitar as contribuições de seus alunos. Diante dessa realidade, algumas vezes, o professor acaba influenciando nos comportamentos e atitudes dos alunos, se tornando um agente de valores além de ser um profissional capaz de estimular a identidade individual e grupal e a sociabilidade com e entre os educandos. É também um agente capaz de promover inovações, pois deve auxiliar na compreensão, aplicação e avaliação crítica das inovações que surgem e são incorporadas à cultura escolar. Nesse contexto, Vani Kinski (2001, p. 101) afirma: 24 Estes valores pessoais resultam de um conjunto de fatores que envolvem, entre outros, a competência do docente para ensinar determinada disciplina, sua maneira de se relacionar com os alunos nas situações de sala de aula e sua postura como pessoa e como profissional, aberto (ou não) ao diálogo e à descoberta de novos caminhos para o ensino e aprendizagem (sua e de seus alunos). [...] Estes valores se reproduzem e marcam os alunos, em muitos casos, com aprendizagens mais significativas do que as próprias informações apresentadas na disciplina. Nas rememorações, os alunos esquecem os conteúdos de muitas matérias, mas as atitudes e valores adquiridos no convívio e no exemplo de seus professores permanecem incorporados aos seus comportamentos, às suas lembranças. Em relação aos valores Paulo Freire (2000, p. 106) faz menção a ética dizendo: Ensinar e, enquanto ensino, testemunhar aos alunos o quanto me é fundamental respeitá-los e respeitar-me são tarefas que jamais dicotomizei. Nunca me foi possível separar em dois momentos o ensino dos conteúdos da formação ética dos educandos. A prática docente que não há sem a discente é uma prática inteira. O ensino dos conteúdos implica o testemunho ético do professor. A boniteza da prática docente se compõe do anseio vivo de competência do docente e dos discentes e de seu sonho ético. Percebemos a importância da relação afetiva entre o professor e os alunos, o respeito mútuo entre ambos, o exemplo e a ética do professor, na aprendizagem e na formação moral dos alunos, pois geralmente o aluno se espelha no seu professor. Nesse contexto, a responsabilidade e o comprometimento dos professores são essenciais, mas nem sempre os docentes cumprem sua tarefa dentro da sala de aula por falta de preparo didático e pedagógico. Paulo Freire (2000, p. 107) ressalta que: Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que ela seja realmente respeitada. O respeito que devemos como professores aos educandos dificilmente se cumpre, se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou pública da educação. O professor desempenha um papel fundamental na educação dos alunos, na construção de conhecimentos, valores e na relação afetiva com os educandos. Certos professores possuem sensibilidade e por isso devem dar atenção a cada aluno conforme suas necessidades e suas dificuldades, pois eles são de fundamental importância na construção dos seres humanos. Os alunos, muitas vezes, constroem seus valores a partir das sugestões e exemplos de conduta do próprio professor, pois o vêem como referência. 25 2.3 O DOCENTE E AS NOVAS TECNOLOGIAS Hoje em dia, há desafios e necessidades diferentes e os professores precisam lidar com muitos saberes e tecnologias avançadas que não existiam. A era da informática, a diversidade de fontes de informações, as navegações pela Internet estão muito presente no dia-a-dia dos alunos, por isso os docentes precisam se apropriar dessa tecnologia para se lançar a novos desafios e reflexões sobre sua prática para que possam utilizá-la devidamente em suas aulas. Para a professora Maristela Lobão de Moraes Sarmento (2007, p. 66) “é indispensável que os educadores sejam incentivados a desenvolver projetos pessoais de formação profissional. Para ocuparem a posição de sujeitos do processo de inovação tecnológica nas escolas será preciso muita auto-estima, dedicação [...].” Percebemos a grande responsabilidade do profissional da educação com a tarefa de introduzir e encaminhar os educandos nesse mundo digital. O professor precisaria se preparar e se comprometer em orientar e educar os alunos para compreenderem a linguagem do nosso tempo, agindo de forma crítica e com criatividade para que sejam capazes de perceber e compreender a diversidade cultural, num mundo permeado pelas novas tecnologias. Os procedimentos didáticos, neste contexto de inovações tecnológicas devem privilegiar a construção coletiva dos conhecimentos, mediada pela tecnologia e sob a orientação do professor. Nessa construção, a função do educador será a de orientar e mediar as situações de aprendizagem. É preciso inovar para conquistar uma melhor qualidade de vida, de realizações humanas e para formar cidadãos críticos e participativos. A autora Elaine Turk Faria (2001, p. 70) coloca que: Numa sociedade digital e em permanente transformação, o professor deve estar preparado para capacitar seus alunos a desenvolverem competências para resolver situações complexas e inesperadas e necessita, também, encarar a si mesmo e a seus alunos como uma equipe de trabalho com desafios novos e diferenciados a vencer e com responsabilidades individuais e coletivas a cumprir. Nessas circunstâncias, o papel essencial do professor é transformar-se em um selecionador de informações. Ou melhor, deve ajudar o aluno a estabelecer critérios claros e confiáveis para selecionar os melhores veículos de informação. O professor precisa acompanhar seus alunos em suas tarefas. Celso Antunes (2002, p. 67-68) confirma essa idéia quando diz que o professor “necessita estar junto, para a navegação em alguns momentos, sugerir procedimentos, estimular desafios, orientar a crítica [...]”, pois ele é responsável em mostrar os caminhos, destacando prioridades, selecionando o essencial e ajudando a indicar o 26 que é imprestável, para que o aluno tenha êxito nas suas atividades no computador e utilize as informações que são úteis na sua educação. Quanto a essa questão, Celso Antunes (2002, p. 35) destaca que: Se as informações colhidas não servem para com as mesmas resolver os problemas que o cotidiano nos impõe, para com essas informações estabelecer-se a ponte contextualizadora entre a notícia e o fato, a verdade e a opinião, se o que se aprende não revela utilidade concreta para efetivamente desenvolver a personalidade e se coloca à altura de agir com autonomia e discernimento não há porque colher essas informações. Se por equívoco foram colhidas, com sabedoria devem ser desprezadas. Diante dessa realidade, os docentes precisariam constantemente participar de cursos de aperfeiçoamento, de formações continuadas que devem ser proporcionadas pela escola e também buscar se atualizar por iniciativa própria. Nesses cursos o professor deveria se apropriar de programas de computação que poderia utilizar nas suas aulas e também aprender como manusear essas novas tecnologias. Essa idéia se confirma com as palavras de Elaine Turk Faria (2001, p. 57) quando destaca que: Na aurora do século XXI, necessitam os professores estar preparados para interagir com uma geração mais atualizada e mais informada, porque os modernos meios de comunicação, liderados pela Internet, permitem o acesso instantâneo à informação e os alunos têm mais facilidade para buscar conhecimento por meio da tecnologia colocada à sua disposição. O docente, ao buscar novos conhecimentos terá mais facilidade e segurança para acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas que ocorrem na sociedade atual e atender aos interesses e dificuldades dos alunos. Buscar novos desafios, novas metodologias para constantemente poder inovar nas suas aulas e assim despertar maior interesse e motivação em seus alunos para que ocorra a aprendizagem. Nesse contexto, cabe ao docente a competência de mediar a interação, utilizando corretamente os recursos tecnológicos de maneira criativa para buscar a construção coletiva do conhecimento. Elaine Turk Faria (2001, p. 60) faz menção à importância do uso correto dessa nova tecnologia na sala de aula quando destaca que “em suma, a tecnologia facilita a transmissão, mas o papel do professor continua sendo fundamental na escolha e correta utilização dessa tecnologia, dos softwares e seus aplicativos para auxiliar o aluno a resolver problemas e realizar tarefas que exijam raciocínio e reflexão”. Nós, contudo, somos da opinião de que a tarefa do professor não se restringe a este papel. Ele deve proporcionar ao estudante um processo de construção do conhecimento, uma habilidade e uma competência de discernimento e de reflexão crítica sobre aquilo que se apresenta diante dele. O estudante deve 27 desenvolver uma capacidade de autonomia e de emancipação diante do “bombardeio” de informações não confiáveis que lhe são derramadas cotidianamente. O aumento da responsabilidade dos professores em relação às novas tecnologias não acompanha a melhoria dos recursos materiais e das condições de trabalho, pois em muitas escolas se têm dificuldades em realizar certas atividades por falta de condições de infraestrutura e possibilidades para adquirir materiais didáticos e recursos tecnológicos necessários para o trabalho diário. Percebemos a importância da tecnologia na área da educação, suas contribuições e benefícios, mas reconhecemos também que em muitas escolas ainda existe muita defasagem nesta área, pois ainda encontramos muitas escolas sem computadores, data show e outras tecnologias avançadas. Além disto, há escolas que não possuem as infraestruturas básicas e que atualmente já seriam consideradas como antiquadas. Outras escolas possuem alguns computadores e os alunos têm a oportunidade de durante meia hora ou uma hora semanal fazer uso deles. Isso já ajuda bastante, pois os alunos já entram em contato com novas tecnologias, mas isso também ainda não é o ideal. O ideal seria termos uma sala digital onde os alunos pudessem, durante as aulas, acessar a Internet e fazer pesquisas e trabalhos, mas isso, hoje em dia, é apenas um grande sonho para as nossas realidades educacionais. A Internet é uma ferramenta essencial para a construção do conhecimento e Maristela Sarmento (2007, p. 68-69) confirma a importância da mesma quando diz: A internet amplia a possibilidade de comunicação, de troca e, portanto, se faz mediadora no processo de ensino-aprendizagem. Ao ajudar nossos professores a entrar nesse mundo novo, navegando pelos saberes da humanidade, percebemos as constantes transformações do conhecimento e seu caráter efêmero. Em última instância, a incorporação por parte dos professores de uma atitude investigativa desenvolverá em nossos alunos o prazer pela pesquisa, que pensamos ser a única e verdadeira forma de viabilizar uma educação contemporânea. Devemos ficar atentos à expressão utilizada pela autora: “amplia a possibilidade”. E nós acrescentamos: “mas não garante maior qualidade”. Em parágrafos anteriores já destacamos a importância do papel do professor na construção do conhecimento por parte do aluno e o valor do processo inter-relacional entre professor e aluno. Os meios de comunicação que comentam e avaliam os resultados dos sistemas externos de avaliação do desempenho estudantil, destacam o bom desempenho de aprendizagem de alunos que estudam em que o desempenho qualificado do docente é a peça-chave da aprendizagem significativa por parte do aluno. 28 Existem também dificuldades em relação aos profissionais da educação, pois nem todos os docentes se aperfeiçoaram e se atualizaram para lidarem, por exemplo, com um computador, na frente de uma turma de alunos. Infelizmente essa realidade ainda existe, se reflete na educação brasileira e na imagem dos professores na atual conjuntura social em que está inserida. O computador e o data show surgiram para auxiliar e facilitar o trabalho do professor no seu dia-a-dia. O docente deve estar preparado para usar corretamente essas tecnologias, tornando as aulas interessantes e motivadores e assim auxiliar no desenvolvimento crítico e na construção de habilidades e competências dos alunos. Celso Antunes (2002, p. 66) manifesta a sua idéia, dizendo que: Essas tecnologias não podem ser vistas apenas como mais um recurso pedagógico, da forma como o é um gravador de som, o computador veio para ficar e necessitamos utilizá-lo em aulas para desenvolver o senso crítico do aluno, ensiná-lo a pensar melhor, aguçar suas faculdades de observação e pesquisa, sua imaginação, suas memórias e os novos horizontes de sua comunicação. O computador é uma tecnologia que o professor pode oferecer a seus alunos para ampliar seus horizontes de comunicação, para fazerem pesquisas, observações, além de utilizarem diferentes programas, como editores de texto, explorar as potencialidades didáticas dos CD ROMS, navegar na Internet, promover a troca de correspondência eletrônica, tudo para que o aluno possa desenvolver suas potencialidades e sua criatividade. Os recursos eletrônicos chegaram para ficar e cabe ao docente desenvolver as competências para seu uso racional, criativo e desafiador. Em sua análise, Celso Antunes (2002, p. 36) destaca que: Cabe ao professor, com paciência e persistência “quebrar a noz dentro da qual o aluno se enclausura” para mostrar-lhe o mundo não apenas para que o descortine, mas para que sobre o mesmo atue, inventando meios e processos para se trabalhar e respeitar os valores do pluralismo e da paz, da democracia e da compreensão mútua e solidária. As novas tecnologias e a informática têm provocado grandes e rápidas mudanças no meio escolar e isso nos faz perceber que é necessário repensar os cursos de formação docente, adaptando-os à nova realidade. A tarefa do docente, nesse mundo globalizado, é utilizar-se dos recursos tecnológicos oferecidos e, como mostra Celso Antunes (2002, p. 35), “[...] atuar como facilitador do entorno social do aluno, da sua condição de cidadão do mundo, de sua novíssima perspectiva em uma sociedade que se mundializou”. O professor deveria ser capaz de preparar o aluno para enfrentar os desafios que o mundo lhe impõe e torná-lo capaz de fazer uso dessa tecnologia que encontramos nesse mundo em transformação. O educador 29 Paulo Freire (1995, p. 98) também dá a sua contribuição sobre o uso da tecnologia na sala de aula, dizendo: Penso que a educação não é redutível à técnica, mas não se faz educação sem ela. [...] Acho que o uso de computadores no processo ensino-aprendizagem, em lugar de reduzir, pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas. Depende de quem usa a favor de quê e de quem e para quê. Mesmo com o enorme e rápido avanço tecnológico, o mestre não perdeu a sua posição e a sua relevância dentro da sala de aula e da escola. Magaly Robalino Campos (2006/2007 Encarte) confirma essa idéia quando diz “atualmente, ninguém pensa em melhorar a educação sem docentes. Sem dúvida, os professores, sem ser o único, são um dos fatores de maior importância na qualificação da educação”. Sendo o papel docente de tão grande relevância, porque então o questionamento sobre o seu desempenho? No que os professores estão falhando para não garantir uma aprendizagem satisfatória de certos educandos? O que acontece para que muitos professores se sintam descontentes, desmotivados e insatisfeitos com os resultados da aprendizagem apresentada pelos alunos? Essa é uma questão que nos faz refletir muito, nos faz pensar nas condições de trabalho que são oferecidas aos professores, na diversidade de alunos que recebem, no relacionamento com os alunos e com suas famílias, na multiculturalidade de conhecimentos que se misturam dentro do ambiente escolar e no salário dos docentes. Apesar da enorme importância da profissão docente, ela é pouco valorizada na nossa sociedade, comparada com a enorme responsabilidade e comprometimento que essa profissão exige e do que dela é exigido pela comunidade escolar e por todos os demais segmentos da sociedade. A imagem de ser professor se perdeu ao longo do tempo como ressalta o jornalista Trevisan, citado por Moacir Gadotti (2003, p. 13) quando diz: Todos dizem que gostam muito dos professores, mas não chegam a incomodar-se muito com o fato de que há tempos eles recebem um salário de fome. O salário é a parte mais visível de uma condição da qual decorre um papel social que se descaracterizou por completo... Só quem não quer ver não percebe o sentimento de cansaço, de esgotamento de expectativas de quem encarava com dignidade o seu desempenho profissional. A imagem de um professor valorizado, que se perdeu ao longo dos anos, precisa ser ressignificada, porque os docentes têm um valor incomparável na vida de todos os seres humanos. Os professores precisam se unir e lutar por seus direitos para serem socialmente reconhecidos. Divulgar nos meios de comunicação, principalmente na imprensa escrita seus trabalhos, seus projetos e realizações, para que a sociedade veja seus feitos, suas lutas e assim 30 voltar a conquistar o seu devido valor que por direito lhe cabe e reconquistar a imagem perdida. Devem deixar aflorar o orgulho de serem professores e deixar resplandecer a auto-imagem reconstituída. O ministro da educação Fernando Haddad (2007, p. 22) aponta que “a melhor remuneração e a boa formação ajudam no resgate da imagem, mas nossos professores precisam ser valorizados de verdade pela sociedade”, Assim, é necessário repensar os cursos de formação, tanto inicial como continuada e os salários dos professores. Para que os professores recebam um salário digno e justo para poderem trabalhar menos horas e, conseqüentemente, terem mais tempo disponível para se dedicar a seus planejamentos, cursos de aperfeiçoamentos, é fundamental que se empenhem no resgate da valorização da sua profissão. E como diz Ruben Alves (2000, p. 45): “ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor assim, não morre jamais.” O professor é aquele que jamais esquecemos. Todo ser humano que teve um professor na vida sempre se lembrará dele, pois querendo ou não, o professor deixa a sua marca, sua semente na vida de cada aluno que depois de algum tempo germinará, crescerá e dará bons frutos ou não, dependendo do valor que cada aluno dá a seu professor. Assim, muitas pessoas agradecem pelo que são aos seus pais e a seus professores que assumiram a sua identidade profissional docente. 3 OS SABERES E AS COMPETÊNCIAS DO DOCENTE 3.1 SABERES DA DOCÊNCIA Para mediarmos o processo de construção da identidade profissional docente é necessário refletirmos sobre os saberes e as competências da docência. O pesquisador José Carlos Libâneo (2004, p. 82) afirma que “saberes são conhecimentos teóricos e práticos requeridos para o exercício profissional, [...]”. O professor para ser um bom profissional deveria ter adquirido, durante a sua formação, tanto os conhecimentos teóricos como os práticos, mas na realidade nem sempre é isso que acontece. Às vezes, encontramos na escola professores com alto grau de conhecimentos teóricos, mas lhes falta a didática para dar boas aulas. Outras vezes, encontramos professores com metodologias muito boas, mas que não possuem os conhecimentos teóricos necessários para serem competentes. Para o pesquisador Maurice Tardif (2002, p. 36) “pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais”. Os dois autores destacam que os saberes são conhecimentos adquiridos pelos professores através de várias fontes e esses saberes são necessários para o desempenho de suas funções e colaboram na aprendizagem dos alunos. Maurice Tardif (2002, p. 217-218) afirma que “[...] os saberes do professor dependem intimamente das condições sociais e históricas nas quais ele exerce seu ofício, e mais concretamente das condições que estruturam seu próprio trabalho num lugar social determinado.” A questão dos saberes está ligada ao trabalho docente no ambiente escolar, à sua organização e a todo o contexto no qual a profissão docente está inserida. A escola é um dos lugares fundamentais nesse processo, pois é lá o espaço onde o professor reflete sobre sua prática, troca idéias em conjunto com os demais colegas e, dessa forma, constrói os saberes que nortearão a sua prática pedagógica docente. A professora Selma Garrida Pimenta (2002, p. 20-28) destaca que os saberes da docência são: a experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos. Os alunos trazem, para os cursos de formação inicial de professores, experiências próprias que adquiriram ao longo de sua trajetória como alunos. Eles sabem identificar quais eram seus bons professores em conteúdos e não em didática, os que não sabiam ensinar, quais os mestres que foram significativos e contribuíram para a sua formação humana. Reconhecem a desvalorização social e financeira dessa profissão e a dificuldade de estar na frente de uma turma indisciplinada, em escolas precárias. Essa experiência acumulada em sua vida, refletida, 32 analisada, confrontada com as teorias e práticas e avaliada vai fazer o professor construir o seu jeito de ser professor. A educação escolar está fundamentada na atuação dos professores e dos alunos para que num trabalho coletivo e interdisciplinar possam contribuir com o processo de humanização. A experiência concreta da vida escolar dos alunos se reflete no ser e no sentir-se docente do futuro professor. Cada experiência, tanto positiva como negativa, vai influenciar na construção da identidade profissional docente. Também nós, atuais professores, nossa maneira de ser e nosso relacionamento influenciarão na identidade profissional dos nossos alunos que um dia se tornarão professores. Os professores deixam suas marcas na vida dos seus alunos, por isso precisamos estar cientes da nossa missão como educadores. Os saberes pedagógicos dos professores se baseiam em sua experiência na profissão, em suas próprias competências e habilidades individuais. O educador Maurice Tardif (2002, p. 103) afirma que: [...] os saberes que servem de base para o ensino, isto é, os fundamentos do saberensinar, não se reduzem a um “sistema cognitivo” que, como um computador, processa as informações a partir de um programa anteriormente definido e independente tanto do contexto da ação no qual ele se insere quanto da sua história anterior. Na realidade, os fundamentos do ensino são, a um só tempo, existenciais, sociais e pragmáticos. Existenciais, porque o professor reflete a partir de suas experiências e de sua história de vida pessoal, familiar, social e escolar e, partindo dessas, ele interpreta as novas situações com as quais se confronta. Tardif (2002, p. 104) coloca que “[...] fazer perguntas aos professores sobre seus saberes equivale, de certa maneira, a levá-los a contar a história de seu saber-ensinar, através das experiências pessoais e profissionais que foram significativas para eles do ponto de vista da identidade pessoal”. O professor, ao refletir sobre sua prática, vai ressignificando e reconstruindo a sua própria identidade profissional docente. Sociais, porque como afirma Tardif (2002, p. 104) “[...] os saberes profissionais são plurais, provém de fontes sociais diversas (família, escola, universidade, etc.) e são adquiridos em tempos sociais diferentes: tempo de infância, da escola, da formação profissional, do ingresso na profissão, da carreira [...]”. Podem ser considerados sociais também porque, às vezes, são produzidos por grupos sociais e nessa situação ocorre uma relação social do professor com seus saberes e com as pessoas que os produzem. Pragmáticos, porque estão ligados tanto ao trabalho como à pessoa do trabalhador. Tardif (2002, p. 105) afirma que “trata-se de saberes ligados ao labor, de saberes sobre o trabalho, ligados às funções dos professores”. São saberes práticos e sua utilização depende de sua adequação aos problemas e às situações do trabalho. Esses três fundamentos do ensino 33 expressam a dimensão temporal dos saberes dos professores. São adquiridos no e com o tempo e incorporam, ao longo do processo de socialização, experiências e conhecimentos adquiridos nesse período. O educador Maurice Tardif (2002, p. 102) afirma que os saberes profissionais dos professores são plurais, mas também temporais (TARDIF, 2002, p. 260) adquiridos através de processos de aprendizagem e de socialização. Grande parte do que os professores sabem sobre as tarefas e os papéis dos professores eles sabem da sua própria vida escolar. Seus saberes estão fundamentados na sua história de vida e na sua experiência de professor. Ele organiza a sua prática a partir de suas vivências, sua afetividade e seus valores. Assim, seus primeiros anos de prática profissional são fundamentais na aquisição do sentimento de competência e na estruturação da prática profissional. Os professores possuem saberes próprios do seu oficio e são sujeitos do conhecimento. Além disso, no seu trabalho diário, aplicam saberes produzidos por outros e constrói seus próprios saberes. Estes também são variados e heterogêneos (TARDIF, 2002, p. 263) não formam um repertório de conhecimentos unificados, pois raramente um professor tem uma teoria única de sua prática, ao contrário, ele usa muitas teorias e técnicas conforme suas necessidades. Sua relação com os saberes é uma busca de utilização integrada no trabalho em função de vários objetivos que procura atingir. São variados e heterogêneos porque os professores procuram atingir diferentes objetivos, cuja realização não exige os mesmos conhecimentos, competências e aptidões. Quanto a essa questão, Tardif (2002, p. 263) nos dá vários exemplos concretos dessa situação: Por exemplo, quando observamos professores trabalhando em sala de aula, na presença dos alunos, percebemos que eles procuram atingir, muitas vezes de forma simultânea, diferentes tipos de objetivos: procuram controlar o grupo, motivá-lo, levá-lo a se concentrar numa tarefa, ao mesmo tempo em que dão uma atenção particular a certos alunos da turma, procuram organizar atividades de aprendizagem, acompanhar a evolução da atividade, dar explicações, fazer com que os alunos compreendam e aprendam, etc. Percebe-se que dentro da sala de aula, com os alunos, o professor necessita demonstrar muitos saberes e habilidades. Precisa estabelecer regras e manter uma relação de interação para que possa atingir seus objetivos. Ainda, quanto aos saberes, eles podem ser personalizados (TARDIF, p. 265) e situados (TARDIF, p. 266). Personalizados porque são saberes difíceis de separar das pessoas, de suas experiências e do seu trabalho diário. A personalidade do profissional é absorvida no seu trabalho e é praticamente a principal mediação da interação entre professor e aluno. O professor tem uma história de vida, é um 34 ator social, têm emoções, personalidade, cultura e seus pensamentos e ações carregam as marcas do ambiente nos quais se insere. Esses saberes são incorporados, subjetivados e são difíceis de separar das pessoas, de sua experiência e de seu trabalho. São situados porque são construídos em função de uma situação de trabalho particular, onde ganham sentido. Os saberes também são históricos, pois o ser professor e os seus saberes são distintos de outras épocas. Isto não significa que são melhores ou piores, mas que são diferentes. Essa historicidade se baseia nos saberes profissionais dos docentes, mais especificamente nos saberes experienciais adquiridos ao longo da carreira e que modificaram os saberes adquiridos no meio familiar, escolar e universitário. Os saberes docentes carregam consigo as marcas do objeto de trabalho dos professores, que são os seres humanos. O professor, na sua tarefa de ensinar, deveria procurar atingir a individualidade de cada ser humano. O docente deveria tentar conhecer e considerar as particularidades de cada educando e acompanhar, na medida do possível, a evolução dele no contexto da sala de aula. Deveria ter a sensibilidade de atender às diferenças entre os alunos, pois essa se constitui uma das principais características do trabalho docente. Essa sensibilidade exige do professor um investimento contínuo, além de estar revisando seguidamente seus saberes adquiridos por meio da experiência. Sabemos que na prática não é tão viável, pois o professor não tem condições de lidar e atender a essas particularidades de cada educando. Geralmente o professor tem turmas com um número muito grande de alunos e como atende várias turmas e, às vezes, tem apenas uma ou duas aulas semanais em cada turma, ele não tem condições de trabalhar as individualidades conforme as necessidades de cada um. Outra responsabilidade que recai sobre o professor é que ele deveria ter a capacidade de motivar seus alunos para que se envolvam nas tarefas propostas. Motivar é uma tarefa emocional e social que exige mediações complexas da interação humana e causa problemas éticos, principalmente de abuso, negligência e indiferença em relação a certos alunos que estão na escola por obrigação, porque a lei obriga e não estão interessados em aprender. Em relação à motivação, Celso Antunes (2002, p. 55) menciona que “[...] faz parte da dignidade de seu ofício de mestre motivar os alunos, fazê-los gostar de aprender, quer queiram ou não. Nasce assim a responsabilidade de algumas das mais complexas e difíceis competências do professor e constitui seu ofício tentar implantá-las.” Para que o professor consiga motivar seus alunos, ele mesmo precisa se empolgar, se mostrar interessado pelos saberes que ensina, apresentar seus conteúdos em situações de desafios. O professor precisa realmente gostar e amar o que faz, precisa assumir sua profissão e se sentir feliz e satisfeito, 35 pois quem não é feliz na sua profissão não consegue motivar o seu semelhante. O professor, para conseguir motivar o seu aluno, precisa fazer com que ele se sinta bem e aceito, deve existir um bom relacionamento afetivo entre ambos. Às vezes é muito difícil conseguir criar laços afetivos com certos alunos, pois existe um distanciamento muito grande entre o professor e o aluno que não consegue se integrar na escola. O professor, que a si próprio não consegue motivar, dificilmente vai conseguir motivar seus alunos. O professor não consegue se motivar porque não construiu uma identidade com a sua profissão. Ele apenas está professor e não é professor. Para motivar seus alunos, o professor deve apresentar diferentes estratégias, metodologias, pois como menciona Celso Antunes (2002, p. 56) “se não é plausível acordar no professor a alegria de ensinar, que se busque outro professor. O preço é seguramente o mesmo, mas o resultado infinitamente mais compensador.” Percebemos a extrema importância do professor estar motivado e da responsabilidade de conseguir motivar seus alunos, mas sabemos que na prática não é tão fácil substituir um professor concursado por outro, principalmente em escolas municipais e estaduais. Se o professor é efetivo, ele tem assegurado, pelas leis trabalhistas, garantias que o protegem e para demiti-lo é necessário entrar com processo jurídico, o que demora muito tempo para ser resolvido, pois a justiça no nosso país é lenta. Essa situação gera conflitos na escola e dificulta o trabalho docente, prejudicando a aprendizagem dos alunos. Nas escolas particulares é mais fácil, pois se o professor não corresponder às expectativas da escola ele é demitido com mais facilidade. Por outro lado, realmente encontramos professores que se esforçam em motivar seus alunos, mas não conseguem êxito, porque o aluno não está disposto a aprender, está na escola apenas por obrigação e não demonstra interesse pelos estudos. O setor administrativo da escola precisa estudar e avaliar muito bem a questão da demissão, pois às vezes o professor cumpre suas obrigações, mas os alunos fazem complô para prejudicar o professor. Esses saberes podem ser criticados, melhorados e revisados para se tornarem mais eficazes. Eles dependem das condições sociais e históricas nas quais se exerce a profissão e das condições do local de trabalho, mas também do grande desejo do professor de realizar algo com qualidade, pois se identifica com o trabalho da docência. Assim a questão dos saberes está ligada à questão do trabalho docente no ambiente escolar e influencia na reconstrução e ressignificação da identidade profissional do professor. 36 3.2 COMPETÊNCIAS DA DOCÊNCIA O conceito de competências é analisado por vários autores. Pedro Demo (1998, p. 13) apresenta seu conceito de competência quando diz: [...] Entendemos por competência a condição de não apenas fazer, mas de saber fazer e, sobretudo, de refazer permanentemente nossa relação com a sociedade e a natureza, usando como instrumentação crucial o conhecimento inovador. Mais que fazer oportunidade trata-se de fazer-se oportunidade. Pedro Demo entende a competência como constante atualização do conhecimento, procurando manter uma boa relação ética com a sociedade e o ambiente escolar visando à construção da cidadania. Assim, os professores, com suas experiências práticas, que servem como ponto de partida para análise, reflexão e crítica, facilitam a construção de uma nova competência inovadora: a disponibilidade para a aprendizagem, o questionamento da sua prática e a aquisição de novos conhecimentos. O pesquisador José Carlos Libâneo (2004, p. 82) conceitua competências como “[...] as qualidades, capacidades, habilidades e atitudes relacionadas a esses conhecimentos teóricos e práticos e que permitem a um profissional exercer adequadamente sua profissão”. Esse autor faz referência às qualidades, às habilidades e às aptidões que o profissional da educação deveria ter para desempenhar com responsabilidade e comprometimento a sua prática docente. O sociólogo e educador suíço Philippe Perrenoud (1999, p. 7) conceitua competência “[...] como sendo uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”. Para enfrentar uma situação da melhor maneira possível é necessário fazermos uso de recursos cognitivos, como o conhecimento, o qual é construído pelas nossas experiências e pela nossa formação. O pensador Moacir Gadotti (2003, p. 27) afirma que “a competência do professor não se mede pela sua capacidade de ensinar – muito menos “lecionar” - mas pelas possibilidades que constrói para que as pessoas possam aprender, conviver e viverem melhor”. O professor competente deve ser capaz de oferecer possibilidades, alternativas, que auxiliem as pessoas a aprender, se sentirem bem e terem um bom relacionamento com as demais pessoas. Isabel Alarcão (2006-2007, p. 17-18) define a competência como: [...] uma capacidade potencial global da pessoa que é o profissional, capacidade que é susceptível de ser mobilizada e concretizada em cada situação específica e que se evidencia na ação. A competência é, hoje em dia, entendida como um conjunto de saberes, intenções, motivações, capacidades e atitudes que se manifestam em 37 desempenhos adequados e que se alteram à medida que variam os contextos situacionais. Assim, a competência não se manifesta apenas em um aspecto específico, parcelar, isoladamente observável. Ao contrário, ela é reconhecida pela presença de um conjunto de relações que estão na base de uma atuação competente. Em suma, a competência revela aquilo que o profissional-pessoa é. Isso permite afirmar que o ser é a essência da competência profissional do professor, porque é esse ser que mobiliza e reorganiza o conjunto de conhecimentos e técnicas que, articulados com os valores que o orientam na vida, determinam a sua ação em cada momento. Competência para Isabel Alarcão envolve vários fatores do ser docente, que são necessários para desempenhar suas funções e se modificam conforme o contexto em que se encontram. Através das competências se conhece o profissional da educação. O professor Elydio dos Santos Neto (2002, p. 43) afirma que “competência é a capacidade de apreciar e resolver determinado assunto ou problema. No nosso caso, competência é a capacidade de responder satisfatoriamente aos problemas da educação escolar”. Tanto Libâneo, Perrenoud, Alarcão como Neto, ao falarem de competência, referem-se às capacidades que o docente precisa ter para resolver problemas e situações que encontram no seu trabalho diário para desempenharem sua profissão com eficiência. Antônio Nóvoa (2001)1valoriza duas competências muito interessantes para o exercício docente: a primeira é a competência de organização, porque o professor é um organizador de aprendizagens. Organizador do ponto de vista da organização da escola, uma organização mais ampla, da turma ou da sala de aula e não apenas um mero transmissor de conhecimentos. Ele organiza o trabalho escolar e essa organização vai além do trabalho pedagógico e do trabalho do ensino, portanto é de extrema importância a competência de organização do professor; a segunda competência consiste na compreensão do conhecimento, ser capaz de reorganizar, reelaborar e de transmitir o conhecimento didaticamente aos alunos para que ocorra a aprendizagem. O professor Philippe Perrenoud (2000, p. 15) apresenta outro conceito de competência afirmando que “a noção de competência designará aqui uma capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situações”. Ele apresenta dez competências fundamentais para o exercício da docência. Encontramos a descrição dessas competências na obra: Dez novas competências para ensinar. Podemos sintetizar sua obra da seguinte maneira: 1º competência: Organizar e dirigir situações de aprendizagem (PERRENOUD, 2000, p. 23-29) Escolher os conteúdos conforme o interesse dos educandos, sempre valorizando os 1 NÓVOA, Antônio. O professor pesquisador e reflexivo. Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/ SALTO/entrevistas/antonio_novoa.htm>. Acesso em: 26 dez. 2008. 38 conhecimentos que os alunos trazem junto com as suas vivências abrindo espaços para o diálogo. 2º competência: Administrar a progressão das aprendizagens (PERRENOUD, 2000, p. 41-54) O professor precisa propor situações que ofereçam desafios que estejam ao alcance dos alunos e que os levem a progredir. O educador precisaria ter a capacidade de acompanhar o progresso dos alunos e encontrar possibilidades diferentes de promover a aprendizagem. 3º competência: Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação (PERRENOUD, 2000, p. 55-65) O docente precisa saber administrar a heterogeneidade da turma fazendo aulas, atividades e avaliações diferentes para alunos com dificuldades diferentes. Inclusive oferecer momentos individuais para quem tem mais dificuldades de aprendizagem. 4º competência: Envolver os alunos na aprendizagem e em seu trabalho. (PERRENOUD, 2000, p. 67-77) O professor precisa entusiasmar-se, motivar os alunos para que demonstrem interesse pelas aulas, apresentando o desejo de aprender e de se sentir agentes do processo de ensino, além de oferecer diferentes estratégias e atividades. 5º competência: Aprender e ensinar a trabalhar em equipes. (PERRENOUD, 2000, p. 79-93) Visando o trabalho em conjunto, no coletivo para assim superar as dificuldades e solucionar os desafios. Elaborar projetos pedagógicos em grupos, dirigir reuniões, analisar situações complexas e confiar na equipe para administrar crises de relacionamentos interpessoais. 6º competência: Participar da administração da escola. (PERRENOUD, 2000, p. 95108) Administrar a escola ajuda indiretamente a ordenar espaços e experiências de formação. Administrar os recursos de uma escola é tomar decisões coletivamente, procurando sempre atingir o maior número de pessoas, pois isso fortalece o trabalho da instituição escolar. 7º competência: Informar e envolver os pais (PERRENOUD, 2000, p. 109-124). Informar e envolver os pais é uma competência e os professores devem reunir os pais para lhes comunicar a maneira de trabalhar e avaliar, explicar as regras da escola, tratar de assuntos gerais. Criar laços de amizade e companheirismo com os pais auxilia na aprendizagem dos educandos. 8º competência: Dominar e fazer uso de novas tecnologias. (PERRENOUD, 2000, p. 125-139) O computador está presente no nosso dia-a-dia e precisa ser usado na sala de aula para desenvolver o senso crítico dos alunos, ampliar a pesquisa, os horizontes de sua 39 comunicação, sua imaginação e facilitar a vida dos educandos. Os professores precisam sugerir procedimentos, estimular desafios e auxiliar a navegar na internet e a pesquisar. 9º competência: Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. (PERRENOUD, 2000, p. 141-154) O docente deve fazer prevalecer a justiça, a verdade e a moral, evitando a violência, o preconceito e a discriminação sexual, étnica e social, criando regras de conduta para evitar a indisciplina dentro do ambiente escolar. A competência do professor é assumir suas responsabilidades, viver com serenidade, dominando sua angústia. O professor precisa se preocupar em promover a igualdade e a ordem dentro da instituição escolar, para que se tenha um ambiente adequado para a ocorrência da aprendizagem. 10º competência: Administrar sua própria formação e enriquecimento contínuo. (PERRENOUD, 2000, p. 155-169) O docente precisa ter coragem de buscar novos desafios, ver a sala de aula como espaço de aprendizagem a partir de sua reflexão. Cabe ao professor a responsabilidade de se atualizar e refletir sobre sua prática, para modificar e melhorar suas competências e exercer com profissionalismo a sua profissão. 4 IDENTIDADE DOCENTE Cada indivíduo tem a sua própria identidade, assim também os profissionais docentes constroem a sua identidade profissional. Esta construção é um processo permanente e vai produzindo uma significação e ressignificação durante todo o período ativo da sua docência. Cabe aqui refletir sobre a construção dessa identidade docente e dos saberes necessários para a sua prática, suas competências e habilidades que servem de referência para o trabalho diário dos professores no ambiente escolar. 4.1 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE Para compreendermos a questão da identidade dos professores, é necessário inseri-la na história dos próprios atores, em suas ações, seus projetos e seu desenvolvimento profissional. É necessário levar em conta sua trajetória social e profissional, sua formação e práticas profissionais. Contando sua própria história, o professor vai se conhecendo melhor, reinterpreta a sua prática, sua trajetória de vida e constrói a sua identidade profissional e pessoal. Para José Carlos Libâneo (2004, p. 81) a “[...] identidade profissional é o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores que definem e orientam a especificidade do trabalho do professor”. O professor vai construindo características próprias que definem o seu ser docente e sua ação pedagógica, no seu trabalho diário. Ao refletir sobre sua ação, sobre o seu trabalho, vai se conhecendo melhor e vai construindo a sua identidade profissional docente. A experiência da prática do trabalho docente é de extrema importância na aquisição de competências e na estruturação dos saberes experiências. A identidade profissional vai se construindo a partir dessa experiência profissional, do domínio cognitivo, da socialização e da vivência. Conhecer a realidade escolar, ir às escolas e realizar observações, entrevistas, projetos, pesquisas, coletar dados sobre determinados temas trabalhados em cursos, ver a escola com um olhar de futuros professores, ajuda na construção da identidade profissional. A pesquisadora Selma Pimenta (2002, p. 18) argumenta que “a identidade não é um dado imutável. Nem externo que possa ser adquirido. Mas é um processo de construção do sujeito historicamente situado.” As características da identidade podem mudar conforme as variações que surgem em nossa vida, pois é resultado de um longo processo de construção próprio do modo de cada um se ver e se sentir como professor e, ao mesmo tempo, do sentido 41 que dá para exercício da docência. É o resultado momentâneo de um processo que integra diferentes experiências das pessoas ao longo da suas vidas. Cada ser humano, ao contar sua própria história, suas vivências, experiências, realizações, conquistas e derrotas, vai construindo, a partir dessas situações concretas, a sua identidade profissional e pessoal. A identidade do profissional se constrói a partir do valor que ele atribui a sua profissão no trabalho cotidiano, a partir de sua história de vida, de seus saberes, de suas angústias, de suas preocupações, de sua relação com outros docentes e do real significado que tem o ser professor para si como pessoa, pois ao olhar para si mesmo o docente vai se compreender melhor. Existe uma estreita ligação entre os aspectos pessoais e profissionais, ambos se influenciam. O pesquisador português António Nóvoa (1997, p. 31) justifica essa inseparabilidade da pessoa e do profissional quando diz que “ser professor obriga a opções constantes que cruzam nossa maneira de ser com nossa maneira de ensinar, e que desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser”. As características de cada pessoa, seus sentimentos, seus medos, suas angústias influenciam o trabalho do ser docente e a vida profissional influencia a vida pessoal do professor. Grande parcela dos professores entra na sala de aula carregando consigo seus problemas, suas alegrias, seus sentimentos e, ao saírem da sala, levam para sua vida pessoal as satisfações e preocupações do seu trabalho. Não conseguimos separar o pessoal do profissional, pois somos uma só pessoa. Juan Mosquera e Claus Stobäus (2001, p. 93) destacam que: [...] sabemos que sempre se alerta para não misturar o lado pessoal com o lado profissional e nos perguntamos como seria possível deixar de lado a dimensão pessoal e tentar agir unicamente com o lado profissional. É evidente que não somos pessoas divididas e é extremamente difícil entrar em ambientes realizando este tipo de separação, já que a pessoa é una, única, apesar de que possa ter diferentes facetas e dimensões. A interação entre a vida pessoal e a profissional, e a reflexão que o profissional faz sobre a sua prática o ajudam a valorizar a sua profissão, construir e reconstruir a sua identidade profissional docente. Os autores Juan Mosquera e Claus Stobäus (2001, p. 91) lembram que um “professor com mais condições de ser bem sucedido seria aquele que poderia e deveria desenvolver uma personalidade saudável e melhores relações interpessoais, tentando encaminhar-se para uma educação afetiva”. A professora Marlene Grillo (2001, p. 79) afirma que: A identidade do professor, conseqüentemente, define-se num equilíbrio entre as características pessoais e profissionais, do que se conclui que suas ações traduzem a 42 plenitude de sua pessoa, da mesma forma que a compreensão da humanidade do docente ajuda a compreender a prática profissional. Em certos momentos, acreditamos que um professor que chega ao final de sua carreira profissional estaria desmotivado, o que comprometeria a ação docente, mas têm professores que, após a sua aposentadoria, continuam estudando, fazendo novos concursos e trabalhando normalmente. Esses profissionais possuem uma riqueza experiencial muito grande, comprometimento, paixão pela profissão e pela educação, e isso se destaca nas demais vivências da vida pessoal. São profissionais que souberam criar laços de amizade e valorizam a liberdade de expressão e de pensamento. São críticos, reflexivos e transformativos da própria prática e das teorias que sustentam. As características positivas desses professores são frutos de uma consistente construção da identidade pessoal e profissional, que vêem a docência como uma atividade que dá prazer, baseada em valores muito significativos como: amizade e respeito pelos alunos, afetividade, sinceridade, amor pela profissão, responsabilidade, dedicação, busca de maior competência no fazer pedagógico e valores morais muito fortes. Esses professores chegam ao final da carreira com um sentimento de realizados e satisfeitos, enquanto outros professores chegam ao final da carreira frustrados e infelizes, porque não se identificaram com a profissão, não se realizaram com o que estavam fazendo. Exerceram a função docente, mas não se identificaram com a docência. Mesmo assim atuam por mais de 25 anos, porque não têm como se manter com o salário da aposentadoria. Acreditamos que essas pessoas, já há muito tempo, deveriam ter abandonado a docência e terem procurado outra profissão com a qual se identificassem e que os deixaria mais felizes e satisfeitos. Não estão mais motivados e nem demonstram interesse em dar aula. Não se preocupam com a aprendizagem dos alunos, não fazem planejamentos, não participam de cursos de formação continuada, enfim, não querem participar das atividades propostas pela escola. Eles não vêem a hora de chegar a sua aposentadoria, para se verem livres dos alunos, da escola e de todas as funções que cabem à docência. Apresentam problemas de incompetência, desequilíbrio nas relações interpessoais e influenciam na aprendizagem dos educandos que também não demonstram interesse pelos estudos, já que têm um professor desmotivado na sua frente. Esses professores terminam a sua carreira frustrados por não terem conseguido construir laços de amizade e de afeto com os alunos e demais colegas nem construído uma identidade profissional. São professores que não têm mais objetivos a serem alcançados e deixaram de sonhar. Não conseguiram se compreender e se aceitar como educadores nem criaram um elo de ligação com o seu trabalho. Não incorporaram a tarefa que exerceram. 43 A identidade profissional se reflete no trabalho diário do professor, na maneira como prepara e organiza suas tarefas, nas suas motivações, satisfações e competências. Ela se constrói coletivamente, nas teias das relações sociais, num processo de sucessivas socializações e relacionamentos com os outros profissionais da sua área no seu mundo de trabalho, tanto através da aquisição de competências profissionais como pela aceitação de normas e valores que regulam a atividade e o desempenho do papel do professor. Atualmente, nessa sociedade em mudança, nada mais justo do que repensar e definir uma nova identidade profissional do professor, pois a sociedade exige professores bem qualificados, que estejam em constante atualização, competentes e responsáveis no desempenho da sua profissão. Assim, a identidade profissional para Selma Pimenta (2002, p. 19): [...] constrói-se, também pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angustias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor. Nessa sociedade atual, encontramos uma acentuada preocupação com a melhoria no desempenho da aprendizagem dos alunos. Além disso, a população exige uma maior e melhor qualificação dos docentes, garantindo assim uma boa educação para seus filhos. Isto leva a refletir sobre o tipo de profissionais que devem ser apresentados para nossas escolas e que atendam aos interesses dos pais, dos alunos e dos governos. Elaine Turk Faria (2001, p. 67) analisa essa questão e comenta que: As mudanças por que passa a sociedade exigem um sistema educacional renovado. O mercado de trabalho precisa de pessoas mais qualificadas, com mais conhecimento (e não só informação), mas também muito mais criativas, que pensem, tenham iniciativa, autonomia, domínio de novas tecnologias e competência para resolver as questões que se apresentam no cotidiano da vida. Hoje em dia é necessário encontrarmos um número cada vez maior de professores que se comprometem com a educação das crianças na nova sociedade; professores que façam parte de um conjunto educacional que os valorize e ofereça recursos e apoio à sua formação. O professor precisa se sentir comprometido com a profissão, gostar de ser docente, se envolver por inteiro, assumir um compromisso sério consigo, com o aluno e com a sociedade em transformação. Para Selma Pimenta (2002, p. 19): 44 Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Cada geração de professores vai construindo sua própria identidade dentro do contexto em que vive. Conseqüentemente, a atual geração vai se adaptar e se constituir num mundo globalizado. Neste mundo atual, as mudanças ocorrem num processo muito rápido. As novas tecnologias se modificam e se aperfeiçoam constantemente. Não é tão simples para o professor se preparar para assumir e compartilhar com seus alunos essas mudanças sociais, culturais, tecnológicas, mudanças nos conhecimentos e nas formas de ensinar e aprender. Ele precisa ter tempo, disposição e vontade de aprender. Todas essas modificações nos fazem refletir e pensar em novas formas de ver a aprendizagem dos alunos, pois apesar dessas tecnologias serem interessantes, elas não proporcionam uma interação com os alunos. Para se adaptar a essas mudanças e desempenhar um bom trabalho, o docente pode ter como base a formação de grupos de estudos, equipes. Equipes de pesquisas, grupos de intercâmbio de idéias, sugestões e experiências, grupos de projetos, que possam beneficiar o trabalho docente e o desenvolvimento dos alunos, colaborando na formação docente e na construção da sua identidade profissional, pois o profissional precisa se ver como professor e assumir a sua tarefa de docente. Como profissional da educação, considerando a trajetória pessoal da profissão percebemos que parte dos professores se interessam em participar dessas atividades de grupo, pois compreendem a importância da permanente atualização, a necessidade de melhor se prepararem para desempenharem suas funções com responsabilidade e também para reverem a reconstrução e a ressignificação de sua identidade profissional. Existem realidades onde essas práticas não são possíveis, pois alguns professores não estão dispostos a se reunirem, às vezes fora do horário de trabalho, para fazerem reflexões e estudos. Uns, porque realmente não querem, não querem fazer nada além das suas obrigações. Não assumem a escola e as tarefas na sua íntegra. Há uma falta de motivação e comprometimento de certos profissionais para o exercício da sua profissão. Outros por não terem tempo disponível, por ainda estarem estudando para concluírem seu curso de licenciatura ou atuarem em mais de uma instituição. O professor, para ser um bom profissional, precisa ser competente, capaz de criar conhecimento, ter autonomia e exercer muita liderança. Todas essas experiências, vivências e reflexões sobre as ações do trabalho escolar irão influenciar na construção da sua identidade 45 profissional. Ele precisa se sentir e se aceitar como professor, assumir seu papel de docente e desempenhar suas funções. O pensador José Carlos Libâneo (2004, p. 40) destaca que: [...] Nas escolas, portanto, a construção da identidade profissional de professor depende em boa parte das formas de organização do trabalho escolar. Em especial, depende de uma boa estrutura de coordenação pedagógica que faça funcionar uma escola de qualidade, propondo e gerindo o projeto pedagógico, articulando o trabalho de vários profissionais, liderando a inovação e favorecendo a constante reflexão na prática e sobre a prática. A concepção do saber profissional repercute na identidade docente. Maurice Tardif (2002, p. 301) afirma que as reformas da formação e da profissão apresentam três modelos de identidade dos professores: o modelo do “tecnólogo” do ensino, do prático “reflexivo” e do ator social. O tecnólogo do ensino se caracteriza por possuir competências de perito no planejamento de ensino, sua atividade se baseia nos conhecimentos da pesquisa científica. O professor se utiliza dos recursos da pesquisa e institui um “ensino estratégico”, influenciado num conhecimento elevado da cognição dos alunos. Ele busca o desempenho e a eficácia no alcance dos objetivos escolares. O prático reflexivo associa a sua imagem a um professor experiente. Possui um sólido repertório de conhecimentos e reflete sobre sua prática. Constrói sua atividade profissional no contexto da sua prática e caracteriza-se por sua capacidade de adaptar-se a situações novas e encontrar soluções originais. É um modelo de profissional de alto nível, capaz de lidar com situações problemáticas. Enquanto ator social, o professor é visto como agente de mudança e portador de valores em relação às diversas lógicas de poder que estruturam o espaço social e escolar. 4.2 A PERDA DA IDENTIDADE DOCENTE Se o docente não consegue se identificar com a sua profissão, se ele não vê valor e sentido no que estiver fazendo ele desamina e entra em crise consigo mesmo. As crises e os conflitos fazem parte da vida, ajudam as pessoas a amadurecer e a repensar sua identidade profissional, mas precisamos ter consciência que elas não podem ser permanentes. Com diz Philippe Perrenoud (2000, p. 90) “o conflito faz parte da vida, é a expressão de uma capacidade de recusar e de divergir que está no princípio de nossa autonomia e da individualização de nossa relação com o mundo.” No ambiente escolar sempre encontraremos 46 professores que manifestam o seu desânimo, seu desconforto em relação às novas propostas teóricas e práticas. A falta de uma identidade profissional definida provoca um mal-estar e um desequilíbrio nas relações interpessoais. Um mal-estar que pode gerar conflito e resistência, e Philippe Perrenoud (2000, p. 90) nos dá mais uma contribuição dizendo que “cada pessoa aborda um conflito com sua própria identidade, que depende de seu desenvolvimento pessoal, ou seja, de sua história pessoal e de sua formação”. Esses sentimentos geram uma auto-desconfiança, pois certos professores não se consideram capazes de realizar sua atividade docente e conseqüentemente sentem dificuldade no processo de ressignificação da sua prática educativa e da construção de sua identidade profissional. Muitos professores se sentem incapazes, inseguros e com medo de refletir sobre sua prática. Esse medo acontece porque se sentem desmotivados e inferiores em relação aos seus colegas. Por isso preferem não refletir muito sobre sua prática, pois isso implica num olhar crítico sobre ela sobre sua formação e num retorno à sua trajetória profissional pessoal. Grande parte dos professores alguma fez já se sentiu desmotivado, isso é normal, faz parte da profissão e do ser humano, mas precisamos nos preocupar com aqueles que sempre estão insatisfeitos, reclamam de todas as atividades e situações e não acreditam em novas possibilidades. Essa situação de mal-estar dos professores provoca desinteresse em dar aulas, em fazer cursos de atualização, gera conflitos com os colegas, cria um sentimento de desconfiança em relação às competências e à qualidade do trabalho dos professores. Assim, a expressão mal-estar docente descreve os efeitos negativos que influenciam a personalidade do professor, que resultam das condições sociais e psicológicas em que exerce a docência, decorrente das mudanças sociais aceleradas. Entre as principais conseqüências desse mal-estar encontramos insatisfação frente aos problemas reais da prática, desejo de abandonar a docência, esgotamento, stress, ansiedade e depressão. Essa idéia também é defendida por José Carlos Libâneo (2004, p. 77) quando afirma: As condições de trabalho e a desvalorização social da profissão de professor, de fato, prejudicam a construção da identidade dos futuros professores com a profissão e de um quadro de referência teórico-prático que defina os conteúdos e as competências que caracterizam o ser professor. Isso acontece porque a identidade com a profissão diz respeito ao significado pessoal e social que a profissão tem para a pessoa. Se o professor perde o significado do trabalho tanto para si próprio como para a sociedade, ele perde a identidade com a sua profissão. O mal-estar, a frustração a baixa auto-estima são algumas conseqüências que podem resultar dessa perda de identidade profissional. Paradoxalmente, no entanto, a ressignificação de sua identidade- que passa pela luta por melhores salários e pela elevação da qualidade da formação- pode ser a garantia da recuperação do significado social da profissão. 47 Por outro lado, devemos também analisar de que toda e qualquer mudança pode nos provocar instabilidade momentânea, insegurança e até medo. Contudo, a insegurança momentânea é natural, mas ela pode se converter em instabilidade permanente. Muitos professores resistem a inovações, não querem participar de projetos ou outras atividades inovadoras que são propostas na escola. Para enfrentar a mudança, o professor sente-se inseguro, pois as inovações assustam, geram conflitos, exigem um posicionamento seguro por parte do professor. Certos educadores preferem ficar fazendo as mesmas tarefas de anos seguidos e não se motivam para apresentar atividades novas, motivadoras e interessantes para seus alunos. Essas atitudes influenciam as outras pessoas e criam instabilidade nas relações interpessoais na equipe de trabalho. Para diminuir o mal-estar docente é preciso ajudar os professores a eliminar o desajuste e fazê-los repensar o seu papel como educadores. O estudo sobre a influência da mudança social na função docente pode ajudar a chamar atenção da sociedade para que esta compreenda as novas dificuldades que os professores encontram. Esse mal-estar docente acontece, às vezes, pela falta de apoio e pelas críticas que os professores receberam da sociedade em relação às tarefas educativas fazendo-os os únicos responsáveis pelos problemas da educação, quando esses, são problemas sociais. Só a partir de um estudo sobre o modo como a mudança social gera o mal-estar docente é possível melhorar as condições do trabalho diário dos professores. Para que isso ocorra é preciso repensar a formação inicial e continuada, horários de trabalho, salários, responsabilidades e atitudes dos professores. As mudanças sociais que agem sobre a ação docente são influenciadas por fatores que incidem diretamente sobre as ações do professor na sala de aula, modificando o desempenho, provocando sentimentos e emoções negativas. Também por fatores que atingem o contexto em que a docência acontece gerando um sentimento de desajustamento e de impotência, provocando desmotivação do professor. Para José Esteve (1999, p. 99) “trata-se de fenômenos sociais que influenciam a imagem que o professor tem de si próprio e do seu trabalho profissional, provocando a emergência de uma crise de identidade que pode levar à autodepreciação pessoal e profissional”. Essa crise e constante desvalorização social e econômica da profissão de professor e as condições de trabalho, interferem na imagem da profissão e prejudica a construção da identidade dos docentes. Isso ocorre porque a identidade com a profissão condiz com o significado pessoal e social que a profissão tem para a pessoa. Se a pessoa perde o significado do trabalho para si e para a sociedade, ela perde a identidade com a sua profissão. Essa perda de identidade profissional pode causar mal-estar, frustrações e baixa auto-estima. Contudo, há 48 professores que, mesmo diante deste fenômeno social e econômico, não se deixam abalar e encontram sentido e valor na docência e mantém a auto-estima elevada. Isso se explica pelo fato de terem construído uma identidade profissional docente e estarem cientes da tarefa e da responsabilidade que essa profissão exige deles. Eles conseguiram construir vínculos afetivos com seus educandos e assumiram sua profissão com dignidade. Nem sempre o professor é valorizado como deveria ser, pois se, por exemplo, um professor gasta várias horas do seu tempo, fora do seu horário normal de trabalho, para preparar e se dedicar a uma atividade diferente, geralmente esse tempo não é reconhecido pela sociedade e nem mesmo pelos professores e pela própria instituição escolar. Mas se o ensino fracassa, por excesso de trabalho, falta de tempo e material didático, falta de apoio pedagógico, esse fracasso é personalizado automaticamente no professor, como se ele fosse o único responsável. Se a educação vai mal é porque os professores são maus profissionais e todos os outros fatores sociais, políticos, econômicos e culturais que afetam a educação no país são esquecidos. Isso influi na personalidade do profissional e na sua identidade com a profissão. Celso Vasconcellos (2001, p. 123) ao refletir sobre essa questão menciona que “não se pode ficar acusando o professor como se fosse o grande responsável por todas as mazelas da educação, mas também não é correto eximi-lo de responsabilidades, ficar paparicando-o, infantilizando-o, quase que imbecilizando-o. É preciso ver a parte que lhe cabe”. É preciso que cada um, tanto o professor,quanto a escola e a sociedade, assumam a sua responsabilidade e sua parcela de culpa quando a educação fracassa. Às vezes, a imagem do professor se reflete negativamente no contexto social, porque alguns professores desempenham mal sua profissão, não tanto por incompetência, mas por incapacidade de cumprirem todas as tarefas que lhe são exigidas. Para além das aulas, devem fazer tarefas de administração, reservar tempo para planejar, avaliar, atualizar-se, orientar alunos e pais, participar de reuniões pedagógicas e de pais, participar de cursos, seminários, encontros. Isso leva ao esgotamento físico e mental do professor e se reflete na sua atuação com os alunos. Nesse sentido, José Esteve (1999, p. 108) aponta que: [...] o professor está sobrecarregado de trabalho, sendo obrigado a realizar uma atividade fragmentária lutando em frentes distintas, atendendo simultaneamente uma tal quantidade de elementos diferentes que se torna impossível dominar todos os papéis. A fragmentação do trabalho do professor é um dos elementos do problema da qualidade no sistema de ensino, paradoxalmente numa época dominada pela especialização. 49 Encontramos também nas escolas professores que realmente são incompetentes, pois não estão comprometidos com uma educação de qualidade. Eles, apesar de exercerem a função docente, não se identificam com a docência. Não construíram uma identidade profissional. Eles não cumprem as atribuições que lhes cabem. Não desempenham as suas tarefas com responsabilidade e comprometimento. Geralmente esses professores não são assíduos e pontuais, deixam de participar de projetos e outras atividades que envolvam os alunos, não planejam suas aulas e não se preocupam com a aprendizagem dos educandos. O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 280) reforça essa idéia quando afirma que: Essas pessoas realizam as suas obrigações profissionais, burocráticas ou não, de professores, mas não exercem efetivamente a docência. Elas se encontram num espaço de transição entre o desvestir-se de uma vestimenta e o vestir-se com uma nova roupagem. Elas colocam-se constantemente no lugar de estudante, não com a intenção de compreendê-lo e de ajudá-lo, de permanecer sendo um docenteaprendiz, mas porque se identificam mais com a ação, a função e o espaço estudantil do que com a atuação docente. Podemos dizer, inclusive, que essas pessoas vivem um impasse, e às vezes, uma crise existencial, que se evidencia na prática educativa. A crise deve ser entendida como um processo salutar da própria constituição da identidade docente. Nesses casos, assumir a identidade docente ou, melhor dito, começar a distanciar-se de uma função estudantil, mantendo uma identidade estudantil como permanente aprendiz, significa assumir gradativamente a consciência de uma mudança e permitir-se entrar num processo de ressimbolização. Outro fator que influência na crise de identidade dos docentes é a questão salarial. Como diz Celso Vasconcelos (2001, p. 182-183) “sabemos que ninguém ficou rico pelo fato de ser professor; no entanto, com a remuneração que recebia até a algumas décadas, o professor tinha condições de ter um bom padrão de vida”. Hoje em dia, a remuneração do professor não acompanhou a taxa da inflação do país, como também acontece com as outras profissões que têm os seus salários defasados. O professor Celso Vasconcelos (2001, p. 183) afirma que: [...] com a remuneração dada hoje aos professores, está se colocando em risco o próprio futuro da profissão, uma vez que os jovens mais talentosos, como apontamos, mesmo que tenham uma inclinação para o magistério, sentem-se totalmente desmotivados, ao constatar a situação dos professores, e para isto não precisam ir muito longe: basta ver seus próprios mestres. Hoje em dia, é comum acontecer, principalmente com professores que trabalham à noite, terem alunos que ganham salário maior que o próprio professor. Há também professores que exercem outra profissão paralela ao do magistério para assim terem melhores condições de sobrevivência. Alguns abandonam a docência e procuram uma promoção social em outras 50 profissões fora da sala de aula. Nesse contexto, a ressignificação da identidade profissional ocorre pela luta por melhores condições de trabalho, melhor qualidade da formação e um aumento de salário. Esses fatores podem contribuir em uma melhor valorização social da profissão. Para diminuirmos o desajustamento e o mal-estar dos professores é necessário um maior reconhecimento e apoio por parte da sociedade e do próprio professor. Celso Vasconcelos (2001, p. 184) nos confirma que: É lamentável, mas temos relatos de professores que passam a dar aula de acordo com o que ganham. Além da falta de ética profissional, o que acaba acontecendo é que a pior aula será dada onde mais se precisa dele, via-de –regra na escola pública... O professor não pode se igualar ao salário que ganha; precisa ter consciência de que aquilo que está recebendo faz parte de uma perversa lógica social, mas que o que tem para propor é algo muito importante para o aluno e para a sociedade. Na realidade em que nos encontramos essa situação realmente acontece, pois certos professores dão aula conforme a escola em que se encontram. Em certa escola participam mais de atividades extras e se dedicam mais tempo. Em outra escola não se desempenham tanto, faltam mais em dias de aula e em reuniões e não se comprometem com a aprendizagem dos educandos. Kenneth Zeichner (2003, p. 52) afirma que: [...] na formação de professores e na educação em geral, devemos continuar lutando para nos aproximarmos mais de um mundo em que aquilo que queremos para os nossos próprios filhos esteja ao alcance dos filhos de todos. Esse é o único tipo de mundo com o qual podemos ficar satisfeitos, e nada, merece o nosso apoio, a não ser que ajude a nos acercar mais desse tipo de mundo. Considerando todos esses aspectos, ainda é possível dizer que os professores são os principais responsáveis pela formação dos educandos e pela qualidade dos resultados da aprendizagem que está diretamente ligada com a qualificação e com as competências profissionais dos docentes. A formação inicial é de extrema importância na construção de conhecimentos, atitudes e habilidades e ajuda os futuros professores a se identificarem com a profissão, mas é na formação continuada que se constitui a identidade profissional, uma vez que ela pode se desenvolver na prática. Desta forma, a construção e o fortalecimento da identidade profissional precisam estar presentes nos currículos e nas práticas da formação docente, tanto inicial, como continuada. 5 FORMAÇÃO CONTINUADA A formação continuada é de fundamental importância numa profissão como a de professor, que lida com a transmissão de saberes e com a formação humana, num contexto de constantes mudanças, de introdução de novas tecnologias, e reorganização de currículos e de acentuados problemas sociais, econômicos e políticos, onde o modo de viver e de aprender se modificam constantemente e onde encontramos uma diversidade social e cultural de alunos. A atualização precisa acompanhar o professor durante toda a trajetória da sua vida docente, através da prática da formação continuada. Em decorrência dessa necessidade, neste capítulo, será feita uma abordagem sobre a importância da formação continuada e do papel da escola neste processo. Como a escola e, mais especificamente, a coordenação pedagógica se organizam para atender a esse requisito e qual a relação da formação continuada com a construção da identidade docente. 5.1 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE Por muitos anos, ao falarmos da formação docente, nos referíamos essencialmente à formação inicial do professor. Na atualidade, reconhecemos que a formação inicial não é suficiente, sendo necessário um forte investimento na contínua e permanente. Ou seja, o professor precisa estar em constante atualização para compreender o seu papel no cotidiano educacional em movimento permanente, poder construir, reconstruir e ressignificar a sua identidade profissional docente e acompanhar as mudanças aceleradas que ocorrem na sociedade. O docente deve se atualizar constantemente para estar preparado para desenvolver um trabalho consciente, responsável e atender às crescentes demandas das exigências sociais. O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 44) afirma que: A formação do docente não está concluída com o término do curso de graduação e nem com a conclusão de um curso de especialização. Ela é contínua e permanente. E isto implica que o docente precisa realizar permanentemente a avaliação crítica da sua práxis educativa. Esse processo reflexivo reverte também na reflexão sobre a sua própria identidade docente, sobre o seu sentido e significado de ser professor. Refletir e avaliar a prática docente são tarefas fundamentais de todo educador. O professor deveria estar em permanente reflexão sobre sua atividade docente e em contínuos 52 momentos de formação para poder exercer sua profissão com competência e responsabilidade. A formação continuada é da responsabilidade da instituição e do próprio professor que tem o compromisso com a profissão e a responsabilidade com sua formação. O desenvolvimento pessoal corresponde aos investimentos que o próprio professor faz no seu processo de formação, mediante um trabalho crítico-reflexivo sobre seu trabalho diário e da reconstrução de sua identidade profissional, resultando nos saberes da experiência. Vera Maria Candau (1999, p. 56) confirma essa idéia quando diz que “todo processo de formação continuada tem que ter como referência fundamental o saber docente, o reconhecimento e valorização do saber docente”. Na formação continuada o professor tem a oportunidade de rever sua prática, seus saberes e reformular com mais segurança a sua atuação docente. Paulo Freire (2000, p. 42-43) afirma que “[...] na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.” Essa reflexão e formação são necessárias para atingir melhores condições de trabalho, desenvolver uma profissão com responsabilidade, repensar o valor e o significado que tem para si a sua profissão e ressignificar sua identidade profissional docente. Na prática nem sempre ocorre essa reflexão, pois parte do corpo docente prefere não comentar e analisar sua atuação pedagógica para não precisarem modificá-la. Preferem continuar usando a mesma didática, o que dá menos trabalho do que se adaptar a novas metodologias. O educador Paulo Freire (2006, p. 28) aponta que “as pessoas, por serem capazes de auto-refletirem, descobrem que são seres inacabados, estão em busca constante de serem mais e, portanto se educam. São sujeitos de sua própria educação e estão em busca permanente de “si mesma”. Essa busca deve ser feita em comunhão, em conjunto com outros seres que também procuram ser mais.” A educação é um processo permanente que visa união, amor e esperança, pois sem amor e esperança não há educação. Os seres humanos precisam refletir sobre a própria realidade para poderem levantar hipóteses, encontrar soluções e ser críticos para transformarem essa realidade. Paulo Freire (2000, p. 64) afirma que: É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis, na medida em que se reconheceram inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade. Os docentes reconhecendo-se como seres inacabados, conscientes desta situação e assumindo a sua inacabilidade estão em constante busca de aprendizagem, desafiam e 53 exercitam a capacidade de ensinar e aprender. Quanto mais consciente o professor estiver da sua realidade, da sua inacabilidade e quanto mais ele for sujeito do seu processo de ensinoaprendizagem tanto mais ele terá capacidade de reconstruir e ressignificar a sua identidade profissional docente. No contexto atual não basta a formação inicial que, sem dúvida, é de suma importância, mas o que realmente tem caráter “formador” é a reflexão que se faz da prática do profissional da educação. Moacir Gadotti (2003, p. 31) destaca que: [...] a formação continuada do professor deve ser concebida como reflexão, pesquisa, ação, descoberta, organização, fundamentação, revisão e construção teórica e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atualização em novas receitas pedagógicas ou aprendizagem das últimas inovações tecnológicas. Moacir Gadotti, como discípulo de Paulo Freire, desenvolve uma reflexão bastante próxima ao pensamento freireano. A sua proximidade se mostra evidente quando destacam a importância da reflexão sobre a prática na formação inicial e contínua dos professores e vêem a formação continuada como uma oportunidade que os professores têm de organizar-se e revisar sua prática. Este processo deve ocorrer não somente no momento em que os professores vão em busca de novas técnicas e receitas pedagógicas, mas principalmente nos momentos de voltar-se e refletir sobre si mesmo. É necessário ter esse processo de reflexão para buscar sentido no ser professor e ajudar na construção e reconstrução da sua identidade profissional. O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 69-70) reforça essa reflexão quando afirma: A questão da formação continuada de docentes não se restringe, hoje em dia, à questão empírica ou pragmática da cotidianidade da práxis educativa e nem à atualização das técnicas e da nova tecnologia de ensino. O constante envolvimento com a formação continuada de docentes permite-nos constatar o conflito de identidade presente na vida de educadores e educadoras, tanto em relação à sua opção profissional quanto em relação à sua personalidade, ao seu contexto relacional e vivencial, e à valorização social da profissão. Muitas vezes, a escola oferece oportunidades de cursos de aperfeiçoamento, palestras, encontros para seus professores, mas nem todos aproveitam as ofertas da melhor maneira, pois não se motivam a participar plenamente. Estas pessoas preferem ficar estagnadas e não se preocupam em promover mudanças no seu ambiente de trabalho e melhorar o desempenho dos alunos. Alguns professores participam de cursos, seminários e não se preocupam com a qualidade que os mesmos oferecem. Estão apenas interessados com a titulação e a soma de pontos que esses certificados fornecem para o avanço no plano de carreira. Além disso, encaram a participação nestes cursos como um grande benefício, por não precisarem dar aula 54 no período em que o curso ocorre, nem planejar a aula, além de serem substituídos por outros professores. Nesse caso cabe à coordenação pedagógica dialogar com esses professores e juntos refletirem sobre essa atitude antiética e antiprofissional. Todo professor, na hora de escolher o curso que quer fazer, deve ter o cuidado de ver as condições de garantias oferecidas pelo mesmo, o número de horas, o corpo docente, as metodologias, os conteúdos a serem trabalhados, pois nem todos os cursos oferecem uma boa qualidade, nem acrescentam muito à sua formação pessoal e à aprendizagem dos educandos, nem auxiliam na proposição de mudanças efetivas na educação. Sobre esse aspecto Imbernón (2006, p. 15) nos diz que “os que participam na formação devem poder se beneficiar de uma formação de qualidade, adequada a suas necessidades profissionais, nos contextos sociais e profissionais em evolução e que repercute na qualidade do ensino”. Os professores competentes e conscientes de sua responsabilidade, que optarem em participar de formações continuadas, têm o direito de receber uma formação de qualidade que corresponda às suas expectativas, para que realmente possam levar mudanças para o seu local de trabalho e fazer a diferença. O educador Paulo Freire (2000, p. 103) analisa a questão da formação dos professores e escreve: O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a prática democrática do professor ou da professora sejam determinadas por sua competência científica. Há professores e professoras cientificamente preparados, mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. Outros professores buscam seus direitos e não dão as contrapartidas, participam dessas oportunidades de treinamentos e atualizações, mas faltam muito, não se esforçam em fazer bons trabalhos e depois não aplicam na sala de aula os novos conhecimentos, metodologia e atividades interessantes e diferenciadas que aprenderam. Continuam dando aulas da mesma maneira como antes, sem introduzir novas atividades que estimulem o interesse dos alunos e que despertem curiosidade pelos conteúdos em estudo. Também não desenvolvem projetos específicos que possam atender às expectativas dos alunos. Devemos também mencionar que têm professores muito comprometidos com a educação e a aprendizagem dos alunos, que buscam, além da formação continuada oferecida pela escola, outros cursos de aperfeiçoamento dentro da área em que atuam, mantendo-se atualizados, mais aptos e qualificados para exercer com responsabilidade a profissão que escolheram, atendendo às expectativas da atual sociedade. 55 O local adequado para ocorrer a formação continuada é a própria escola. Essa idéia é confirmada pela professora Laurinda Ramalho de Almeida (2006, p. 86) quando afirma “[...] que a formação continuada deve estar centrada na escola, prioritariamente. [...].” É o lugar onde os saberes e as experiências são trocadas, validadas, apropriadas e rejeitadas”. Vera Maria Candau (1997, p. 55) também concorda afirmando que “o locus da formação a ser privilegiado é a própria escola; isto é, é preciso deslocar o locus da formação continuada de professores da universidade para a própria escola de primeiro e segundo graus”. Da mesma maneira Maurice Tardif (2002, p. 280) vem ao encontro dessa idéia quando diz que “as escolas tornam-se, assim, lugares de formação, de inovação, de experimentação e de desenvolvimento profissional, mas também, idealmente, lugares de pesquisa e de reflexão crítica”. Todos esses autores reconhecem a escola como local ideal para a reflexão e a formação. A mudança de uma realidade não está fundada apenas na prática, mas na reflexão sobre ela. A prática deve ser o ponto de partida e de chegada da reflexão. Nesse sentido, a formação do professor pode ser entendida também como autoformação, pois os docentes reelaboram os saberes iniciais em conformidade com suas experiências práticas vivenciadas no contexto escolar. Ao refletir sobre sua atuação em sala de aula, o professor desenvolve sua própria compreensão da realidade e do seu trabalho didático-pedagógico, influenciando na reconstrução da sua identidade profissional. É de fundamental importância que seu trabalho crítico-reflexivo sobre sua prática e suas experiências compartilhadas façam parte como conteúdos de sua formação, pois são nessas trocas de experiências e de vivências que os docentes vão construindo seus saberes e modificando sua identidade docente. Para Selma Pimenta (2002, p. 31): A formação de professores na tendência reflexiva se configura como uma política de valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores e das instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da formação como contínua dos professores, no local de trabalho, em redes de autoformação, e em parceria com outras instituições de formação. Isso porque trabalhar o conhecimento na dinâmica da sociedade multimídia, da globalização, da multiculturalidade, das transformações nos mercados produtivos, na formação dos alunos, crianças e jovens, também eles em constante processo de transformação cultural, de valores, de interesses e necessidades, requer permanentemente formação, entendida como ressignificação identitária dos professores. Dentro da escola cabe à coordenação pedagógica a responsabilidade de oferecer aos professores um espaço adequado de aprendizagem, para que possam examinar e reconstruir suas opiniões e seus valores, tendo como referência as necessidades dos educandos e da sociedade. O desenvolvimento profissional e a conquista da identidade são fortemente 56 favorecidos por um trabalho de equipe entre professores e coordenadores que assumem em conjunto o processo de ensino e aprendizagem, se preocupam com o bom funcionamento da instituição escolar, com a formação continuada dos professores e garantem um exercício profissional de qualidade. Essa qualidade consiste na formação inicial e continuada, em que o professor adquire competências, habilidades, remuneração compatível com as exigências da profissão, condições de trabalho adequadas com recursos materiais e ambiente propício para desenvolver uma aprendizagem significativa. A educação continuada deve se preocupar com as competências dos professores e torná-los sujeitos ativos das propostas coletivas da escola. Para isso é necessário oferecer uma prática reflexiva, explorar a criatividade e as habilidades de trabalho em equipe. A nova formação inicia-se a partir da reflexão crítica sobre a prática, mas não se limita apenas às suas atividades docentes da sala de aula do dia-a-dia. Como diz Imbernón (2000, p. 40) a sua reflexão “atravessa as paredes da instituição para analisar todo tipo de interesses subjacentes à educação, à realidade social, com o objetivo concreto de obter a emancipação das pessoas”. Fazendo uma análise do pensamento de Imbernón percebemos a importância da reflexão do trabalho diário do professor, a troca de experiências e de sugestões entre os professores de diferentes contextos escolares. A sala de aula e a escola podem auxiliar no aperfeiçoamento profissional do professor, na medida em que utilizam as práticas que ali ocorrem como objeto de análise e procuram oportunidades que qualificam o ensino e melhoram a aprendizagem, pois sabemos que a qualidade do ensino está relacionada à qualidade da formação do professor, tanto inicial como continuada. Essa formação auxilia na reflexão e na mudança nas práticas docentes, levando o corpo docente a compreender e buscar formas e soluções, principalmente mediante ações coletivas, para enfrentar os desafios que encontram dentro da sala de aula. O professor Antônio Nóvoa (2001)2 afirma que: São as escolas e os professores, organizados nas suas escolas, que podem decidir quais são os melhores meios, os melhores métodos e as melhores formas de assegurar esta formação continuada. Com isto, eu não quero dizer que seja muito importante o trabalho de especialistas, o trabalho de universitários nessa colaboração. Mas a lógica da formação continuada deve ser centrada nas escolas e deve estar centrada numa organização dos próprios professores. Analisar os momentos mais enriquecedores e os mais difíceis que ocorrem dentro da sala de aula, socializar experiências, compartilhar dificuldades e propostas ajuda a propor 2 NÓVOA, Antônio. O professor pesquisador e reflexivo. Disponível <http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/entrevistas/antonio_novoa.htm>. Acesso em: 26 dez. 2008. em: 57 novas e melhores formas de ensino. A reflexão sobre a prática e a partilha de idéias e sugestões beneficia o trabalho docente, a aprendizagem dos educandos, viabiliza projetos comuns, introduz práticas novas na escola, diminui os riscos e a resistência aos processos de mudança, transforma a vida escolar e influi em como o professor se vê e se sente como professor. Ajuda a redefinir e a ressignificar a sua identidade profissional docente. Vera Maria Candau (1999, p. 57) menciona que: [...] é importante que essa prática seja uma prática reflexiva, uma prática capaz de identificar os problemas, de resolvê-los, e cada vez as pesquisas são mais confluentes, que seja uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente por grupos de professores ou por todo o corpo docente de uma determinada instituição escolar. Sendo responsáveis pela formação continuada, os coordenadores pedagógicos são os mediadores e orientadores desse processo e têm a missão de criar estratégicas para a formação do professor na perspectiva de promover um ensino de qualidade, pois a escola deve ser um espaço de convivência, um lugar de socialização dos saberes e de troca de experiências. José Carlos Libâneo (2004, p. 78) afirma que: A formação continuada é uma maneira diferente de ver a capacitação profissional de professores. Ela visa ao desenvolvimento pessoal e profissional mediante práticas de envolvimento dos professores na organização da escola, na organização e articulação do currículo, nas atividades de assistência pedagógico-didática junto com a coordenação pedagógica, nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classe etc. O professor deixa de estar apenas cumprindo a rotina e executando tarefas, sem tempo de refletir e avaliar o que faz. Cabendo à coordenação pedagógica a tarefa de orientar e mediar todo o processo ensino-aprendizagem na escola, ela também é co-responsável pela formação continuada do professor. Possuir um corpo docente qualificado é condição imprescindível para que a escola atinja seu objetivo maior que é a aprendizagem do aluno. A escola comprometida com a qualidade de ensino deve oportunizar encontros para reflexões e troca de experiências entre a equipe docente. A coordenação pedagógica tem então, entre suas tarefas, a de proporcionar ao professor momentos de estudos, planejamentos e reflexões sobre suas práticas. Precisa mostrar caminhos e alternativas, oportunizando um ambiente de formação que favoreça o contato com novas idéias que irão auxiliá-lo na significação e ressignificação da sua prática docente e na ressignificação da sua identidade profissional docente. O professor Manfredo Carlos Wachs (2004, p. 280-281) afirma que: A reconfiguração dessa identidade não se dá automaticamente com a conclusão de um curso, com a titulação, nem com a assinatura do contrato de trabalho profissional 58 e nem com o fato de “receber” uma turma de estudantes ou tornar-se responsável por uma disciplina. Ela se dá no movimento dinâmico de vestir-se, desvestir-se e revestir-se de uma identidade; se faz no processo de aceitação, de acolhimento de condições estruturais e pedagógicas, de significação da sua práxis pedagógica, da ressignificação e da ressimbolização. Ele se dá no processo de identificar-se com o ser docente. Não é, contudo, um passe de mágica, mas uma trajetória de vida. A construção da identidade se dá no entrecruzamento do desejo pessoal, da trajetória pessoal e profissional, das inter-relações pessoais e profissionais no espaço educativo, da auto-aceitação dos limites pessoais e profissionais, do reconhecimento das capacidades pessoais, da capacidade de reconciliação e de saber lidar com as frustrações e o sentimento de impotência. A identidade profissional docente se constrói ao longo da vida profissional de todo professor. Ela se define através da reflexão crítica sobre a sua prática durante o processo da formação continuada dos professores. Se constrói a partir do modo como cada professor se vê, se aceita e se sente como professor. Do valor e significado que cada ser docente dá para a sua prática pedagógica, levando em consideração a sua vida pessoal e profissional em comunhão com os outros profissionais da educação. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos estudos e das reflexões feitas podemos considerar que é de fundamental importância a formação continuada dos professores para a construção, reconstrução e ressignificação da identidade profissional docente. A formação continuada é o espaço ideal para o professor refletir sobre sua atuação e prática docente. O local apropriado para ocorrer essa reflexão é a própria escola em conjunto com os demais colegas professores, pois é refletindo sobre os conceitos teóricos da educação, debatendo situações práticas do dia -a- dia, trocando idéias, experiências, sugestões, resolvendo dúvidas e questionamentos que os professores vão se identificando com a sua profissão, reconstruindo e ressignificando a sua identidade docente. É da responsabilidade da coordenação pedagógica organizar e coordenar os momentos de formação continuada no âmbito interno da escola. O trabalho crítico reflexivo sobre sua prática e suas experiências deve ser o conteúdo desses momentos de formação continuada. Continuadamente a coordenação pedagógica da escola deve organizar e oferecer momentos de estudo e de reflexão sobre a prática docente para que o professor possa se auto-avaliar e procurar melhorar o que ainda não está bom. Dentro do contexto escolar, os professores devem fazer a diferença, oportunizando um ensino de qualidade a seus educandos, envolvendo novas tecnologias para que o aluno se sinta motivado e interessado em aprender, para que tenhamos uma educação melhor, onde os índices de desempenho sejam mais elevados, visando uma sociedade melhor, mais justa e mais igualitária. O professor se reconhece, se sente e se aceita como professor quando: Consegue criar laços afetivos com a sua profissão e sentir prazer no que estiver fazendo; assume, com responsabilidade e comprometimento, sua profissão, demonstrando paixão pela educação; desenvolve a capacidade de criar laços afetivos e recíprocos com os educandos; preocupa-se com o ensino e com a qualidade da aprendizagem dos seus educandos, procurando adaptar-se aos novos recursos tecnológicos e transformações por que passa a sociedade atual. O professor assume uma identidade profissional docente quando ele se preocupa com a sua formação continuada para se manter atualizado e capacitado para exercer com competência a profissão que ele escolheu. A identidade profissional docente sofre ameaça quando encontramos professores que estão quase permanentemente desmotivados, desanimados, em constantes conflitos e crises que atingem e prejudicam as suas relações com os demais membros do corpo docente e discente. São esses os professores que apenas estão professores durante algum período de sua 60 vida, porque precisam de uma profissão, única e exclusivamente para se sustentarem, para terem condições de sobrevivência, mas não são professores, pois não se identificaram e não construíram laços afetivos com a profissão que estão exercendo, ou seja, não construíram uma identidade profissional docente. Para os professores conseguirem se identificar com a profissão docente, é preciso que ocorra uma formação continuada voltada para a reflexão sobre a prática docente de cada professor, sobre a sua trajetória pessoal e profissional, sobre o sentido da docência para a sua vida e sobre a docência como uma opção de vida. Cada ser docente precisa avaliar seus saberes, suas competências, suas relações com os educandos e fazer uma análise da sua atuação pedagógica dentro da sala de aula, avaliando o seu grau de comprometimento e de responsabilidade que assume em relação ao desempenho dos alunos e aos progressos e avanços da educação como um todo. Participando das formações continuadas, o docente deverá ser capaz de auto- avaliarse para, a partir dessas reflexões, ter a capacidade de reconstruir e ressignificar a sua identidade profissional docente. Assumir o que representam a escola na sua íntegra e os alunos na vida de cada professor. O sentido e o significado que tem para si, o ser professor. Pensar e refletir sobre a reconstrução e ressignificação da identidade profissional docente é refletir sobre a individualidade, sobre a essência de cada sujeito e sua relação com as experiências educacionais que viveu, valorizando sua trajetória pessoal, seus saberes, suas competências, seu sentir e o seu aceitar-se como professor e o processo de constante busca de construção e reconstrução dessa identidade profissional docente. A formação continuada se torna cada vez mais necessária devido às novas exigências da sociedade e os constantes conflitos de identidade por que passam os professores. Conflitos em relação à sua escolha profissional, sua personalidade e todo o contexto educacional no qual o professor se encontra envolvido. Construir uma identidade profissional docente envolve a relação ou inter-relação que se estabelece entre a formação inicial e a continuada e a trajetória de vida pessoal e profissional de cada ser docente. Portanto, o projeto de uma formação continuada não pode se restringir a uma instrumentalização técnica e burocrática do professor, mas integrar a capacitação teórica e a pessoalidade do professor. 61 REFERÊNCIAS ALARCÃO, Isabel. Os questionamentos do cotidiano docente. Revista Pátio, Porto Alegre, v. 10, n. 40, p.16-19, nov. 2006/jan. 2007. ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. A dimensão relacional no processo de formação docente:Uma abordagem possível. In: BRUNO, Eliane Bambini Gorgueira; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; CHRISTOV, Luisa Helena da Silva. (Org.). O coordenador pedagógico e a formação docente. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2006. p.77-87. __________. O relacionamento interpessoal na coordenação pedagógica. In: PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. (Org.). O Coordenador pedagógico e o espaço da mudança. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2006. P.67-79. ANTUNES, Celso. Como desenvolver as competências em sala de aula. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. AQUINO, Julio Groppa. 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