texto de João Pedro Mésseder
ilustração de Helena Veloso
Porto Porto
1
Porto Porto
Dizem que os pintos não voam
este voou sobre as casas
os que não voam não querem
ou lhes cortaram as asas
2
Porto Porto
Porto Porto
Sérgio Godinho
3
Canção
O Porto com seu granito
enegrecido pelo tempo,
o Porto com o seu mar
entrando pelo Douro dentro.
O Porto com suas varandas
de flores em ferro forjado,
de onde se vêem jardins
à espera de namorados.
O Porto com suas palavras
que sobem do coração,
o Porto com sua pronúncia
de quatro pedras na mão.
Idade
4
O Porto não tem idade?
Ou tem a idade que eu tenho?
5
Ribeira
Mãe do olhar sem retorno
e da pedra levantada.
Mãe do embalo das águas
limando as arestas do cais.
Mãe dos barcos encalhados
nos baixios da memória.
Mãe dos muros, das colmeias,
do arco de ferro sombrio.
Mãe da luz e da neblina
e das águas sublevadas.
Mãe das refregas perdidas
e da dor dos afogados.
Mãe das vozes estridentes
e dos amantes sem horas.
Mãe dos velhos que beberam
a última gota de céu.
Mãe dos homens que partiram
e daqueles que voltaram.
Mãe das mulheres que acendem
o lume primeiro do dia.
Mãe dos meninos nascidos
da verde placenta do rio.
10
Fala do pintor no cais de Gaia
Ribeira da pedra, dos barcos,
floresta de casario,
com teus espelhinhos de luz,
janelas voltadas p’rò rio,
o meu olhar pousa em ti
mas os teus olhos fecharam-se
– rendida aos afagos da água,
rendida aos afagos do sol.
11
Era uma vez uma cidade. Como todas,
também esta tem uma longa história. E tem
a luz, as sombras, as cores, os brilhos que
lhe são próprios. Mais as casas, as torres, as
ruas, as pontes, os monumentos, os jardins. E
tem um rio que vem de longe e lhe atravessa
o corpo. Um rio correndo para o mar que é o
seu destino. Como todas, esta cidade só o é
porque tem pessoas. Com a luz, as sombras,
as cores, os brilhos e as palavras que são
próprios das pessoas. Neste livro para menos
crescidos – e para os mais crescidos que o
queiram ler –, a cidade chama-se Porto.
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