UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JOSÉ LUCAS SOBRAL MARQUES RODOLFO ROSENDO DE CARVALHO CRITÉRIOS DE PROJETO DE BARRAGENS DE CONCRETO À GRAVIDADE: UMA VISÃO DE SUSTENTABILIDADE CURITIBA 2013 JOSÉ LUCAS SOBRAL MARQUES RODOLFO ROSENDO DE CARVALHO CRITÉRIOS DE PROJETO DE BARRAGENS DE CONCRETO À GRAVIDADE: UMA VISÃO DE SUSTENTABILIDADE Trabalho de conclusão de curso apresentado à disciplina Trabalho Final de Curso como requisito parcial para à conclusão do curso de Engenharia Civil, Setor de tecnologia, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. José Marques Filho CURITIBA 2013 TERMO DE APROVAÇÃO JOSÉ LUCAS SOBRAL MARQUES RODOLFO ROSENDO DE CARVALHO CRITÉRIOS DE PROJETO DE BARRAGENS DE CONCRETO Â GRAVIDADE: UMA VISÃO DE SUSTENTABILIDADE Trabalho de conclusão de curso aprovado como requisito parcial para a conclusão do curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: ____________________________________ Prof. Dr. José Marques Filho Orientador – Departamento de Construção Civil, UFPR _______________________________ Prof. MSc. José de Almendra Freitas Júnior Departamento de Construção Civil, UFPR. ___________________________________ Prof. Phd. Marcos Antônio Marino Departamento de Construção Civil, UFPR. Curitiba, 18 de março de 2013. AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus pela dádiva da vida. Aos nossos pais, pelo apoio e amor incondicional. Aos nossos irmãos pela amizade e companheirismo. Ao nosso professor orientador José Marques Filho pelo tempo dedicado, paciência e pela amizade. À turma de Engenharia Civil de 2008 da UFPR pela contribuição na nossa formação como profissionais e, acima de tudo, como indivíduos. A Camila e Heloísa pela paciência e carinho dedicados. Aos mestres por acreditarem no nosso potencial em meio a tantos desafios. Às empresas Intertechne S. A. e VLB Engenharia e Consultoria Ltda. pela disponibilização de material para consulta no desenvolvimento do presente trabalho. RESUMO No ano de 2012, a humanidade passou a ser composta por mais de sete bilhões de indivíduos, cujas necessidades de moradia, saúde, água e energia devem ser satisfeitas, para que todos desfrutem de uma qualidade de vida digna. Este crescimento levou ao mundo uma política socioambiental mais ativa, gerando esforços na direção da sustentabilidade. A construção civil possui papel relevante nas mudanças, não só nos números econômicos e geração de empregos, mas na utilização intensa de recursos naturais e na geração de resíduos e poluição, principalmente na emissão de Gases do Efeito Estufa - GEE. Em termos mundiais a produção de energia também é grande geradora de GEE, gerando a necessidade de investimentos em fontes de energia renováveis. Além de seu papel na contribuição para a segurança do fornecimento de energia e reduzir a dependência do país de combustíveis fósseis, a energia hídrica oferece oportunidades para o alívio da pobreza e desenvolvimento sustentável. O Brasil têm um dos maiores potênciais para exploração da energia hidráulica, mas passa hoje por um processo de desconfiança socioambeintal nesse tipo de solução. A geração do sistema elétrico brasileiro é fortemente pautada em fontes renováveis, pois é muito dependente da hidroeletricidade, o sistema elétrico é fortemente dependente da disponibilidade hídrica. As barragens são estruturas que apresentam um risco potencial elevado, motivo pelo qual os regulamentos de segurança prescrevem atividades de acompanhamento e observação, por instrumentação, inspeção visual ou ensaios específicos. A escolha do tipo de barragem dependerá, principalmente, da existência de material qualificado para sua construção, dos aspectos geológicos e geotécnicos, e da conformação topográfica do local da obra. O presente trabalho apresenta os critérios de verificação de estabilidade global para barragens de concreto à gravidades da ELETROBRÁS e dos órgãos internacionais U. S. Army Corps of Enginners e U. S. Bureau of Reclamation, criando um manual para verificação dos critérios de estabilidade e apresenta os fenômenos físicos relacionados. Após a apresentação dos conceitos, apresenta-se uma análise de sensibilidade de estabilidade global para seções típicas de barragens de concreto compactado com rolo, variando a altura, a inclinação do paramento de jusante, os parâmetros da interface concreto fundação e a inclinação do leito do rio. Mostra-se claramente a importância fundamental da avaliação adequado dos parâmetros de fundação, e a influência significativa da altura em relação à geometria da barragem e da inclinação da fundação. Palavras Chave: barragens, concreto, estabilidade, barragem de concreto à gravidade ABSTRACT In 2012, the Earth’s population has more than 7 billion inhabitants. Their energy, water, health and housing needs must be furnished by Civil Engineering, in order to provide dignity and decent standard of living for them. The accelerated growth in the last centuries generated the necessity of a new social and environmental approach. Building have been recognized as one of the most intensive user of natural resources and this activity produces a significant amount of waste and Green House Gas (GHG) emition. Power and energy industries are relevant producers of GHG emitions too, and renewable energy development is a worldwide necessity. In particular, hydropower energy is a great option to minimize GHG emitions, and Brazil has a big hydropower potential and the nation has an integrated transmition grid that permits to optimize the energy availability. Most of the eletricity power used in Brazil is obtained from Hydropower plants and the country has a enormous potential to be used to energy supply. In spite of the benefits of hydropower plants, their development has a significant society distrust and rejection. This paper aims to furnish arguments to discuss about dams, their effects and safety. In order to enlight the several physical concepts analized, this document presents the main wordwide Stability Analysis Criteria, and performed a sensitivity analysis on Rolled Compacted Concrete Gravity Dams typical cross section. The studied parameters are dam heigth, rock-concrete interface strength parameters, downstream slope and foundation slope. The results show the relevance of geological parameters investigations and the relationship dam shape X heigth. Keywords: dams, concrete, stability analysis, concrete gravity dam LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA OFERTA GLOBAL DE ENERGIA PRIMÁRIA A PARTIR DE FONTE RENOVÁVEL 1971-2008 .......................................................................................... 21 FIGURA 2 – POTENCIAL DE MITIGAÇÃO............................................................ 29 FIGURA 3 – SUPRIMENTO MUNDIAL DE ENERGIA ........................................... 31 FIGURA 4 – HIDRELÉTRICAS POR REGIÕES NO MUNDO: POTÊNCIA INSTALADA E GERAÇÃO ................................................................. 32 FIGURA 5 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO PLANETA ............................................ 34 FIGURA 6 – ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO DE APROVEITAMENTOS HIDROELÉTRICOS ........................................................................... 36 FIGURA 7 – POTENCIAL HIDRELÉTRICO BRASILEIRO ....................................... 38 FIGURA 8 – FLUXOGRAMA DA ETAPA DE PLANEJAMENTO DOS ESTUDOS .......................................................................................... 42 FIGURA 9 – FLUXOGRAMA DA ETAPA DE ESTUDOS PRELIMINARES .............. 43 FIGURA 10 – FLUXOGRAMA DA ETAPA DE ESTUDOS FINAIS ........................... 44 FIGURA 11 – FLUXOGRAMA DA AAI DA ALTERNATIVA SELECIONADA ............ 45 FIGURA 12 – HITÓRICO DA MATRIZ ELÉTRICA .................................................... 55 FIGURA 13 – PERSPECTIVA PARA MAIOR DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA E AUMENTO DA PARTICIÁÇÃO DA CANA-DEAÇUCAR E DO GÁS NATURAL ........................................................ 57 FIGURA 14 – CORTE TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM EM ATERRO.......... 59 FIGURA 15 – CORTE TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM DE GRAVIDADE .... 59 FIGURA 16 – CORTE TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM EM ARCO .............. 60 FIGURA 17 – SEÇÃO TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM DE CONCRETO A GRAVIDADE................................................................................... 66 FIGURA 18 – VISTA DE JUSANTE DE UMA BARRAGEM DE CONCRETO A GRAVIDADE ...................................................................................... 67 FIGURA 19 – USINA DE ITAIPU .............................................................................. 70 FIGURA 20 – MODELO DE DIMENSIONAMENTO EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA E ANÁLISE GRÁFICA DAS VARIAÇÕES VOLUMÉTRICAS ............................................................................... 72 FIGURA 21 – UHE SALTO CAXIAS ......................................................................... 74 FIGURA 22 – BARRAGEM da UHE MAUÁ NA FASE FINAL CONSTRUÇÃO ........ 75 FIGURA 23 – PRAÇA TIPA DA BARRAGEM DE SALTO CAXIAS .......................... 76 FIGURA 24 – SEÇÃO TÍPICA DE BARRAGEM DE CONCRETO A GRAVIDADE ...................................................................................... 80 FIGURA 25 – DIAGRAMAS DE TENSÕES EM BARRAGENS DE CONCRETO À GRAVIDADE................................................................................... 83 FIGURA 26 – ESQUEMA COM OS PRINCIPAIS CARREGAMENTOS ................... 85 FIGURA 27 – SUBPRESSÃO SEM LINHA DE DRENOS OU DRENOS INOPERANTES E PRESSÕES HIDROSTÁTICAS ........................... 87 FIGURA 28 – SUBPRESSÃO COM ABERTURA DE FISSURA DEVIDO AO SURGIMENTO DE TENSÕES DE TRAÇÃO E PRESSÕES HIDROSTÁTICAS .............................................................................. 88 FIGURA 29 – SUBPRESSÃO COM UMA LINHA DE DRENOS OPERANTE .......... 89 FIGURA 30 – SUBPRESSÃO COM DUAS LINHAS DE DRENOS OPERANTES .... 90 FIGURA 31 – SUBPRESSÃO SEM LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ....................................................... 91 FIGURA 32 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM COM X > 0,05 H1 – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ......................... 92 FIGURA 33 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM COM X ≤ 0,05 H1 – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ......................... 93 FIGURA 34 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM E ABERTURA DE FISSURA ENTRE FACE MONTANTE E LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ......................... 95 FIGURA 35 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM E ABERTURA DE FISSURA ALÉM DA LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ....................................................... 96 FIGURA 36 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. BUREAU OF RECLAMATION ........................................................... 97 FIGURA 37 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM E ABERTURA DE FISSURA – CRITÉRIO U. S. BUREAU OF RECLAMATION ............. 98 FIGURA 38 – FORÇA DE EMPUXO DEVIDO A SEDIMENTOS NO PÉ DE MONTANTE DA BARRAGEM............................................................ 99 FIGURA 39 – FORÇAS SÍSMICAS NA BARRAGEM ............................................. 100 FIGURA 40 – PRESSÕES HIDRODINÂMICAS DEVIDO A AÇÕES SÍSMICAS .... 100 FIGURA 41 – CASO DE CARREGAMENTO Nº 4 – CONDIÇÃO LIMITE - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ..................................................... 103 FIGURA 42 – CASO DE CARREGAMENTO Nº 5 – CONDIÇÃO EXCEPCIONAL - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ............... 103 FIGURA 43 – CASO DE CARREGAMENTO Nº 6 – CONDIÇÃO LIMITE - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995).......................................... 104 FIGURA 44 – DESLIZAMENTO NA ESTRUTURA ................................................. 109 FIGURA 45 – DESLIZAMENTO NO CONTATO ESTRUTURA-FUNDAÇÃO ......... 110 FIGURA 46 – DESLIZAMENTO NA FUNDAÇÃO ................................................... 110 FIGURA 47 – ENVOLTÓRIA LINEARIZADA DOS CÍRCULOS DE MOHR ............ 112 FIGURA 48 – ENVOLTÓRIA DE RESISTÊNCIA .................................................... 113 FIGURA 49 – 100% DA BASE COMPRIMIDA - RESULTANTE DENTRO DO NÚCLEO CENTRAL DE INÉRCIA ................................................... 120 FIGURA 50 – 100% DA BASE COMPRIMIDA - RESULTANTE NA POSIÇÃO MAIS AFASTADA DO NÚCLEO CENTRAL DE INÉRCIA ............... 120 FIGURA 51 – BASE NÃO TOTALMENTE COMPRIMIDA - RESULTANTE FORA DO NÚCLEO CENTRAL DE INÉRCIA .................................. 120 FIGURA 52 – SEÇÃO TÍPICA PARA O ESTUDO DE SENSIBILIDADE DE ALGUNS PARÂMETROS ................................................................ 122 FIGURA 53 – SEÇÃO TÍPICA PARA O ESTUDO DA VARIAÇÃO DO ÂNGULO ENTRE A BARRAGEM E A FUNDAÇÃO ........................................ 123 LISTA DE TABELAS QUADRO 1 – EMISSÕES DE CO2 POR PRODUTO ............................................... 28 QUADRO 2 – APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS POR FAIXA DE POTÊNCIA....................................................................................... 38 QUADRO 3 – ENERGIA HIDRÁULICA NO BRASIL ................................................. 40 QUADRO 4 – PRAZO DE VALIDADE DAS LICENÇAS AMBIENTAIS ..................... 49 QUADRO 5 – OFERTA INTERNA DE ENERGIA ELÉTRICA ................................... 54 QUADRO 6 – CONFIGURAÇÃO DA OFERTA DE ELETRICIDADE POR FONTE ............................................................................................. 54 QUADRO 7 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE À FLUTUAÇÃO ................................................... 107 QUADRO 8 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO TOMBAMENTO - ELETROBRÁS ................. 109 QUADRO 9 – LOCALIZAÇÃO DA FORÇA RESULTANTE NA BASE – U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS ................................................... 109 QUADRO 10 – FATORES DE REDUÇÃO PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO ESCORREGAMENTO - ELETROBRÁS ....... 115 QUADRO 11 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO ESCORREGAMENTO - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS .............................................................. 116 QUADRO 12 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO ESCORREGAMENTO - U. S. BUREAU OF RECLAMATION ....................................................................... 117 QUADRO 13 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE TENSÕES - U. S. BUREAU OF RECLAMATION .......................... 118 QUADRO 14 – SIMULAÇÕES PARA VERIFICAÇÃO DE ESTABILIDADE GLOBAL......................................................................................... 124 QUADRO 15 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO - CCN ............. 126 QUADRO 16 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO - CCE .............. 127 QUADRO 17 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO - CCL .............. 127 QUADRO 18 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,65 ................................................................................................ 130 QUADRO 19 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,65 ................................................................................................ 131 QUADRO 20 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,65 ................................................................................................ 132 QUADRO 21 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,70 ................................................................................................ 133 QUADRO 22 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,70 ................................................................................................ 135 QUADRO 23 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,70 ................................................................................................ 135 QUADRO 24 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,75 ................................................................................................ 136 QUADRO 25 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,75 ................................................................................................ 138 QUADRO 26 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,75 ................................................................................................ 138 QUADRO 27 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,80 ................................................................................................ 140 QUADRO 28 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,80 ................................................................................................ 141 QUADRO 29 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,80 ................................................................................................ 142 QUADRO 30 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,65 ................................................... 145 QUADRO 31 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,65.................................................... 145 QUADRO 32 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,65 .................................................... 145 QUADRO 33 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,70 ................................................... 146 QUADRO 34 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,70.................................................... 146 QUADRO 35 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,70 .................................................... 146 QUADRO 36 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,75 ................................................... 146 QUADRO 37 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,75.................................................... 147 QUADRO 38 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,75 .................................................... 147 QUADRO 39 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,80 ................................................... 147 QUADRO 40 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,80.................................................... 147 QUADRO 41 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,80 .................................................... 148 QUADRO 42 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO – BASE INCLINADA .................................................................................... 148 QUADRO 43 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO – BASE INCLINADA .................................................................................... 149 QUADRO 44 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA – BASE INCLINADA .............................................. 149 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABMS Associação brasileira de mecânica dos solos e engenharia geotécnica ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica ACI American Concrete Institute ANA Agência Nacional de Águas B Largura c Coesão CAR Concreto de Alta Resistência CBDB Comitê Brasileiro de Barragens CBGB Comitê Brasileiro de Grandes Barragens CCC Condição de Carregamento de Construção CCE Condição de Carregamento Excepcional CCEE Câmara de Comercialização de Energia CCL Condição de Carregamento Limite CCN Condição de Carregamento Normal CCN Condição de Carregamento Normal CCR Concreto Compactado com Rolo CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável CIGB Commission Internationale des Grands Barrages CMSE Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CO2 Dióxido de Carbono E Empuxo EPE Empresa de Pesquisa Energética ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S.A. fck Resistência característica à compressão do concreto FSD Fator de Segurança ao Deslizamento FSD Fator de minoração da resistência devida ao atrito FSDc Fator de minoração da resistência devida à coesão FSF Fator de Segurança à Flutuação FEPAM Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro FUNAI Fundação Nacional do Índio GEE Gases do Efeito Estufa g Gravidade GW Gigawatt Hm Altura da coluna de água de montante i Gradiente Hidráulico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBRACON Instituto Brasileiro do Concreto ICOLD International Commission on Large Dams IHA International Hydropower Association IPCC International Panel on Climate Change IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional k Coeficiente de permeabilidade kg Quilo km.a.a. Quilômetro por ano kN Quilonewton LI Licença Prévia LP Licença Instalação LO Licença de Operação m Metro mm Milímetro MME Ministério de Minas e Energia MP Ministério Público MPU Ministério Público da União MW Megawatt m³ Metro cúbico m/s Metro por segundo N.A. Nível de água NBR Norma Brasileira ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico ONU Organização das Nações Unidas P Peso próprio ppm Partículas por milhão PCH Pequena Central Hidrelétrica PIB Produto Interno Bruto SIN Sistema Interligado Nacional SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente TWh Terawatt/hora UFPR Universidade Federal do Paraná UHE Usina hidrelétrica USBR United States Department of the Interior Bureau of Reclamation V Volume WWF World Wildlife Fund WCD World Commissions on Dams µm Micrômetro γ Peso específico do concreto μ Subpressão σ Tensão Normal no Concreto σe Tensão normal efetiva σt Tensão normal total τ Tensão Tangencial Ângulo de atrito Peso específico da água ∑Me Somatório de todos os momentos estabilizantes em relação ao ponto considerado ∑Mt Somatório de todos os momentos de tombamento ∑U Somatório de todos os esforços verticais gerados pela subpressão em uma seção estudada ∑V Somatório de todas as forças gravitacionais geradas pelo peso próprio e as cargas permanentes mínimas da estrutura SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 18 1.1. IMPORTÂNCIA DO TRABALHO ...................................................................... 20 1.2. OBJETIVOS DO TRABALHO ........................................................................... 24 1.3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ..................................................................... 24 2. SUSTENTABILIDE ........................................................................................... 26 3. EMPREENDIMENTOS HIDRÁULICOS ............................................................ 34 3.1. LICENÇAS AMBIENTAIS ................................................................................. 45 3.2. SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO .................................................................... 50 3.3. TIPOS DE BARRAGEM .................................................................................... 57 3.4. ANÁLISE DE RISCO E SEGURANÇA DE BARRAGENS ................................ 61 4. BARRAGENS DE CONCRETO À GRAVIDADE ............................................. 65 4.1. VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA .................................................................... 68 4.1.1. Tipos de concreto utilizados ......................................................................... 69 4.1.1.1. Concreto Massa ........................................................................................ 69 4.1.1.2. Concreto Compactado com rolo (CCR) .................................................... 73 4.1.2. Exploração do Subsolo ................................................................................ 77 4.1.3. Conceito de Subpressão .............................................................................. 79 5. ANÁLISE DE ESTABILIDADE GLOBAL DA ESTRUTURA ............................ 84 5.1. AÇÕES ATUANTES ......................................................................................... 85 5.1.1. Peso Próprio ................................................................................................ 85 5.1.2. Pressões Hidrostática .................................................................................. 86 5.1.3. Subpressão – Pressão Intersticiais no Concreto .......................................... 86 5.1.3.1. Eletrobrás (2003) ...................................................................................... 87 5.1.3.2. U. S. Army Corps of Engineers (1995) ...................................................... 91 5.1.3.3. U. S. Bureau of Reclamation (1976) ......................................................... 96 5.1.4. Empuxo Devido a Presença de Material Assoreado .................................... 98 5.1.5. Ações Sísmicas ............................................................................................ 99 5.2. CONDIÇÕES DE CARREGAMENTO ............................................................. 101 5.3. VERIFICAÇÕES DE ESTABILIDADE GLOBAL ............................................. 105 5.3.1. Segurança à Flutuação .............................................................................. 106 5.3.2. Segurança ao Tombamento ....................................................................... 107 5.3.3. Segurança ao Deslizamento ...................................................................... 109 5.3.4. Avaliação das tensões ............................................................................... 117 6. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE ...................................................................... 122 6.1. CARACTERÍSTICA DOS MATERIAIS ............................................................ 125 6.2. CRITÉRIOS DE VERIFICAÇÃO DE ESTABILIDADE GLOBAL ..................... 125 6.3. RESULTADOS ................................................................................................ 125 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 152 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 156 18 1. INTRODUÇÃO No ano de 2012, a humanidade passou a ser composta por mais de sete bilhões de indivíduos, cujas necessidades de moradia, saúde, água e energia devem ser satisfeitas, para que todos desfrutem de uma qualidade de vida digna. O crescimento da humanidade continua expressivo. Segundo a ONU (2013) em 1950 a população mundial era de 2,6 bilhões de pessoas, segundo suas estimativas em 11 de julho de 1987 a população chegou a 5 bilhões e atingiu a marca de 6 bilhões em 12 de outubro de 1999, e em 2011 chegou a 7 bilhões. Há no planeta, 1,4 bilhões de pessoas sem acesso de energia de fonte confiável (WWF, 2011). Analisando todos esses dados, cabe à Engenharia Civil a responsabilidade por toda infraestrutura necessária à manutenção da vida, sendo responsável diretamente pela integridade do tecido social necessário aos conglomerados humanos. As necessidades de infraestrutura são supridas pela Engenharia Civil através de empreendimentos que utilizam intensivamente recursos naturais e mãode-obra para sua execução, sendo muitos destes insumos não renováveis. Esta característica indica a necessidade de utilização responsável, com otimização da solução empregando tecnologias cada vez mais avançadas e soluções com a maior durabilidade possível. Os produtos a base de cimento e metais são emissores de grande quantidade de gases do efeito estufa, a partir de agora denominados GEE, pela necessidade de energia para sua obtenção e pelas reações químicas que os geram, em particular a calcinação do calcário (JOHN e ISAIA, 2010). Dentre as desafios de suprimento de infraestrutura destacam-se a necessidade de fornecimento de água e energia. De acordo com M arques Filho (2012), a humanidade depende totalmente dos recursos hídricos para sua sobrevivência, e devido à sua sazonalidade intrínseca é necessário armazenamento para otimização de seu uso, incluindo para consumo humano, agropecuária e indústria. A criação de reservatórios artificiais gerou a concepção de vários tipos de barragens, que produzem naturalmente desníveis consideráveis de água nos aproveitamentos hidráulicos, que podem ser utilizados para a produção de energia. Respeitadas as questões socioambientais, a energia proveniente dos aproveitamentos hidráulicos representa uma alternativa para geração de energia renovável e relativamente limpa. 19 Nos últimos anos, o Brasil passa por mudança significativa do seu perfil econômico apresentando aumento de crescimento e de acesso de camadas da sociedade mais desfavorecidas aos bens de consumo, segundo o IBGE (2011) a taxa de atividade de pessoas economicamente ativas na população de 15 ou mais anos de idade atingiu 63,7% no Brasil. Evidenciando ainda mais essa mudança do perfil brasileiro, de 2000 a 2010, o rendimento médio mensal do trabalho principal dos trabalhadores por conta própria e a de todas as categorias dos empregados cresceu e o ganho real no rendimento médio mensal do total dos empregados foi de 15,8% (IBGE, 2011). Nas crises econômicas dos anos 80 e 90, o país passou por dificuldades significativas que diminuíram os investimentos em infraestrutura de grande porte, sendo desmanteladas as equipes de projeto e construção, bem como houve um redirecionamento dos cursos de engenharia civil para edificações convencionais, diminuindo a quantidade de profissionais especializados e bibliografia e normalização incipientes referentes ao assunto (MARQUES FILHO, 2012). Apesar dos vastos recursos hídricos disponíveis no país, a sociedade organizada apresenta resistência crescente à implantação de empreendimentos hidráulicos, principalmente na área de energia, pressionando a matriz energética pela necessidade de geração térmica, em geral mais cara, e pela grande quantidade de obras a fio d’água. As obras chamadas a fio d’água geram energia com o fluxo do rio, com mínimo ou nenhum acúmulo do recurso hídrico diminuindo as áreas de alagamento e reduzindo o tamanho do reservatório, com isso não há reserva de energia para os períodos de seca (ANEEL, 2002). As dificuldades atuais no desenvolvimento dos empreendimentos hidrelétricos são totalmente diferentes das enfrentadas décadas atrás, onde os conhecidos riscos técnicos e econômicofinanceiros são colocados em igualdade com as questões socioambientais, incluindo o relacionamento com a comunidade, questões culturais e do patrimônio histórico arqueológico (IHA, 2011). Com a diminuição dos investimentos já citado, os cursos de engenharia civil focaram seus currículos na área de edificações, diminuindo significativamente os conteúdos referentes aos aproveitamentos hidráulicos, assim como as publicações didáticas no assunto. Também, a comunidade técnica não criou normalização adequada, sendo mais conhecidos alguns regulamentos internacionais. 20 Pela importância do tema, este relatório procura estudar os critérios de dimensionamento de barragens, conectando-os aos principais conceitos físicos existentes e mostrando sua interface com os conceitos modernos de desenvolvimento sustentável. 1.1. IMPORTÂNCIA DO TRABALHO A Engenharia Civil mantém o tecido social coeso, procurando dar condições de conforto e saúde aos cidadãos. É impensável a interrupção no fornecimento de água ou energia pela necessidade inerente de melhoria das suas condições de vida. A demanda por energia e outros serviços vem aumentando continuamente para suprir o desenvolvimento econômico e melhorar as condições de vida das pessoas. Toda a sociedade precisa energia para sanar necessidades básicas e para participar dos processos produtivos. Segundo o IPCC (2012), hoje 1,4 bilhões de pessoas não tem acesso a fontes de energia elétrica confiável e 2,7 bilhões ainda dependem da energia tradicional, principalmente a base de madeira, resíduos da agricultura e dejetos de animais. Outro dado chocante é o fato de 2,5 milhões de mulheres e crianças morrerem por inalação de fumaça proveniente de fornos convencionais e em contra partida estudos mostram que o aumento do consumo de energia a níveis de Singapura e EUA levaria ao esgotamento prematuro das reservas de combustíveis fosseis disponíveis (WWF, 2011). Desde 1750, o uso de combustíveis fóssil vem aumentando e dominando o fornecimento de energia, aumentando cada vez mais as emissões de CO 2 na atmosfera que já atingiram 339ppm no final de 2010 (IPCC, 2012). Sendo assim, é necessário que se busquem alternativas para que seja possível suprir a necessidade de energia garantindo acesso a toda a população, mudando essa matriz para tentar sanar essa dependência dos combustíveis fósseis que continuam a degradar acentuadamente o planeta. Muitos estudos e empreendimentos estão sendo realizados com as chamadas energias renováveis. Essas possuem grande capacidade de mitigar as mudanças climáticas, podendo estimular uma mudança drástica em todo sistema de energia, possibilitando tanto sua modernização quanto dos serviços relacionados. Seu desenvolvimento vem crescendo recentemente e para que essas mudanças 21 continuem são necessários grandes investimentos em tecnologias e infraestruturas. As energias renováveis podem reduzir o custo da energia assim como acelerar o acesso a esse bem por toda a humanidade (IPCC, 2012). Estima-se que as energias renováveis representam 12,9% do total de 492 EJ da oferta de energia primária em 2008 (IEA,2010 apud IPCC,2012). Na (FIGURA 1), será apresentado um gráfico onde se pode observar a participação reçativamente pequena das energias renováveis no fornecimento mundial, considerando sempre que a energia hidráulica é renovável. Biomassa para geração de calor e eletricidade Energia hidrelétrica Fornecimento Global de Energia (EJ/a) Biocombustível Energia Eólica Energia Geotérmica Energia Solar Resíduos sólidos urbanos FIGURA 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA OFERTA GLOBAL DE ENERGIA PRIMÁRIA A PARTIR DE FONTE RENOVÁVEL 1971-2008 FONTE: IPCC (2012) Além do investimento necessário em tecnologias e infraestrutura para aumentar a parcela de energias renováveis, é preciso trabalhar com a sustentabilidade social, buscando um maior equilíbrio do consumo e distribuição de nossos recursos e riquezas. No Brasil, assim como no resto do mundo, esta demanda por energia é crescente devido a mudança no perfil econômico do brasileiro cujo poder aquisitivo aumentou, conforme já mencionado. Através de leilões para a contratação de energia pelas distribuidoras, com o critério de menor tarifa, o Governo tenta 22 minimizar o custo de energia para os consumidores, com isso as empresas geradoras devem estar atentas aos seus custos e aos riscos envolvidos em cada projeto (BARREIRO JUNIOR, 2008). No Brasil água e energia têm uma forte interdependência, já que a energia hidráulica possui uma contribuição expressiva para o desenvolvimento do país. A participação na matriz energética nacional é da ordem de 42% enquanto ela gera cerca de 90% de toda eletricidade produzida no Brasil (ANEEL, 2002). A energia hidráulica além de ser renovável garante a existência de outras fontes de energia alternativas, pois possui capacidade de armazenagem (IHA, 2012), que fornece energia quando as usinas com energia alternativas estão sem produção, quer seja por falta de ventos, sazonalidade da biomassa, período com baixa incidência solar, dentre outros. Quando novos empreendimentos hidrenergéticos não são realizados é preciso procurar outros empreendimentos que complementem o fornecimento para suprir essa maior demanda, complemento esse que vem principalmente através da energia térmica, no Brasil. Segundo Barreiro Junior (2008), os impactos ambientais causados pela operação de usinas térmicas derivam da dispersão de poluentes atmosféricos. A poluição causada por elas é definida como a degradação da qualidade ambiental resultante de sua atividade, sendo assim emissão de gases e materiais particulados além de terem efeitos diretos na saúde dos seres vivos causam efeitos nocivos a diversas áreas do ecossistema (BARREIRO, 2008). Além dos impactos ambientais durante todo período de vida útil das termoelétricas serem muito maiores que as das hidrelétricas o custo da energia também é maior. Segundo a ANEEL (2013) os últimos leilões de energia apresentaram preços mais baixos para a comercialização de energia, dando assim subsídios para que se possa entender o fato de haver pouco investimento no setor, juntamente com a dificuldade de se conseguir as licenças. O preço da energia de origem hídrica estava em R$ 93,46 MWh enquanto a de origem eólica custava em torno de R$ 87,00, já as de origem térmica apresentam bastante bem mais elevado, apesar de não terem ocorridos leilões desse tipo de energia o seu preço é estimado em R$ 150,00 (ANEEL, 2013). Outro dado interessando é que o uso das usinas térmicas para poupar os reservatórios das hidrelétricas já custou R$ 1 bilhão ao sistema e a conta pode superar R$ 1,6 bilhão em janeiro, segundo o ONS (2012, apud Luna e Vettorazzo, 2013). Esse custo será dividido por todos os consumidores 23 e será sentido pelos residenciais ao longo de 2013, conforme forem sendo feitos os reajustes anuais de tarifa, reajuste começa em 3 de fevereiro e o percentual depende do aval da Aneel (LUNA e VETTORAZZO, 2013). Constatada a necessidade de expansão da infraestrutura cabe a Engenharia Civil garantir todas essas melhorias para a população, e deve-se constatar que construção civil tem uma relação muito intensa tanto com a economia quanto com a sociedade. Ao mesmo tempo em que esta atividade é responsável por 16% do PIB mundial, é a maior consumidora de recursos naturais do planeta, de 60 a 75% (MARQUES FILHO, 2012). Sabendo desta responsabilidade que a construção tem com a sociedade e com as questões ambientais, fica evidente a necessidade da evolução de materiais utilizados, técnicas de construção e é claro a utilização de energia renovável. Segundo o IPCC (2012), a construção civil é a atividade humana com o maior potencial de mitigação das emissões de GEE. Sendo assim se torna importante especificar bem todos os critérios de projeto em busca da sustentabilidade e, portanto da viabilidade socioambiental e econômica, além da necessidade do reconhecimento do potencial dos danos de cada projeto específico (IPCC, 2012). O apelo da sociedade organizada por maiores preocupações ambientais trouxe grande dificuldade para desenvolvimento de novos aproveitamentos hídricos. O licenciamento ambiental muitas vezes leva um grande período para que sua maturação seja completada, gerado pela forte pressão que o sociedade faz, focando apenas nas características negativas desses empreendimentos, reais ou as vezes gerada pelo desconhecimento. Admite-se que grande parte das críticas provém da falta de conhecimento da comunidade técnica na defesa desses empreendimentos. Como já mencionado, o assunto empreendimentos hidráulicos é muito pouco abordado nos cursos de graduação. Com as crises financeiras que se instalaram no país ao longo das ultimas décadas viveu-se um período de pouco desenvolvimento e investimento em novas tecnologias, assim como novos profissionais capacitados não foram maturados. Houve uma setorização do ensino, onde a maioria dos cursos de Engenharia Civil acabou dando ênfase para as construções convencionais. Juntamente com essa conjuntura vem um falta de pesquisas e trabalhos científicos, minimizando a quantidade de matéria didático referente ao assunto assim como a inexistência de uma norma vigente e consistente. A inexistência de material didático adequado se torna um empecilho na 24 formação de novos profissionais, e principalmente, diminui a potencialidade do espírito crítico, por falta de discussão conceitual dos vários fatores que interferem nestas obras. A falta de normalização potencializada culmina na adoção de soluções inapropriadas, com investigações preliminares, ás vezes insuficiente. Como o assunto é extenso, um começo interessante de discussão são os critérios de estabilidade, focados nos parâmetros importantes para o dimensionamento de uma barragem. Também pela amplitude de soluções possíveis, um foco na solução mais usual de barragens de concreto se mostra útil para um debate inicial. Seria útil para a comunidade técnica uma visita técnica as barragens de concreto a gravidade. 1.2. OBJETIVOS DO TRABALHO O trabalho fará uma apresentação dos Critérios de Projetos de Estabilidade de Barragens de Concreto à Gravidade, avaliando os efeitos dos parâmetros da interface entre concreto e rocha, evidenciando a necessidade de investigações adequadas da fundação e do concreto, analisando os resultados sobre a ótica da sustentabilidade. Sabendo das demandas energéticas futuras, o trabalho pretende incentivar o uso de energias renováveis dando ênfase para as energias de origem hídricas, e assim fomentar a necessidade de investimento em empreendimentos hidrelétricos apresentando a situação do setor elétrico brasileiro. Um objetivo secundário seria criar um manual para os cursos de graduação e para os engenheiros que estão se iniciando nos processos de desenvolvimento de empreendimentos hidráulicos, no que se refere á barragens de concreto. Todos os objetivos serão cumpridos através de uma revisão bibliográfica. 1.3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Este trabalho está dividido em oito capítulos. O presente capítulo apresenta uma pequena introdução ao assunto, bem como os objetivos e a justificativa da realização do trabalho. 25 O segundo capítulo mostra a revisão bibliográfica de sustentabilidade, focada na construção civil e no desenvolvimento de fontes renováveis de energia. Os terceiro capítulo as principais características de um empreendimento hidráulico, mostrando qual é o melhor na visão socioambiental. Também apresenta um resumo no licenciamento ambiental necessário para a instalação, assim como os riscos envolvidos nesse tipo de edificação. Além disso o capítulo faz um síntese do setor elétrico brasileiro e apresenta os tipos de barragens que podem ser adotados. O quarto capítulo aborda as barragens de concreto a gravidade, mostrando quais são os matérias e técnicas mais usados, assim como apresenta alguns fenômenos físicos que interferem na verificação da estabilidade de uma barragem. O capítulo cinco apresenta os principais critérios de verificação da estabilidade global de uma estrutura de usina hidrelétrica. No capítulo seis é feita uma análise de sensibilidade de alguns parâmetros utilizados na verificação da estabilidade global de uma estrutura. As conclusões e considerações finais estão no capítulo sete. 26 2. SUSTENTABILIDE Nas ultimas décadas, o conceito de desenvolvimento sustentável vem permeando pela sociedade, criando elos entre desenvolvimento econômico, o tratamento adequado do meio ambiente e o desenvolvimento social. Estes conceitos são hoje debatidos fortemente na indústria da construção civil, que trabalha com muitos materiais não renováveis e uso intenso de energia. Embasando essa afirmação, na cadeia produtiva do concreto, vem ocorrendo desde 2009 seminários anuais de sustentabilidade nos Congressos Brasileiro do Concreto (IBRACON, 2009, 2010, 2011 e 2012). O Relatório da Comissão Brundtland, “Nosso Futuro Comum” (1991), indica que o conceito de sustentabilidade se baseia no ato de atender as necessidades presentes, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável apud Marques Filho (2012) define: “O desenvolvimento sustentável será alcançado pela oferta de produtos e serviços a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas, melhorem a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzam progressivamente os impactos ambientais e a intensidade do uso de recursos, através do ciclo de vida, para um nível compatível com a capacidade de suporte da Terra”. Andrade, Tachizawa e Carvalho, em 2004, (apud Yemal et al., 2011) corroboram com os conceitos, colocando que “O desenvolvimento sustentável é como a fonte da capacidade de gestão e dos recursos técnicos e financeiros indispensáveis à resolução dos desafios ambientais que necessitam partilhar do entendimento de que deve haver um objetivo comum, e não um conflito, entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, tanto para o momento presente como para as gerações futuras”. O crescimento da população mundial é incontestável, a previsão segundo Marques Filho (2012) é que em 2050 a população mundial ultrapasse nove bilhões de habitantes. Juntamente com o crescimento populacional vem uma demanda por mais energia e infraestrutura, para que toda a sociedade tenha uma condição de vida satisfatória. Porém, da mesma maneira, os problemas sociais, políticos, 27 econômicos e ambientais também crescem na mesma medida que a necessidade de infraestrutura física. Há algumas décadas atrás, a maioria das nações via o meio ambiente como um reservatório de matéria-prima onde se podia facilmente retirá-la ou depositar rejeitos, da mesma maneira a visão de crescimento econômico a qualquer custo não via obstáculos visando um crescimento imediato (STACHERA JUNIOR, 2008). No Brasil, assim como em outros países, durante muito tempo, o crescimento econômico com sua consequente poluição era um indicativo de progresso. Essa percepção permaneceu até que os problemas ambientais (contaminação do ar, da água e do solo) com efeitos diretos sobre os seres humanos fossem intensificados e houve conscientização da sociedade (BRAGA, et al., 2005 apud YEMAL et al., 2011). Esse crescimento desenfreado diminuiu, pois foi instalada no mundo uma política socioambiental mais ativa, gerando esforços na direção da sustentabilidade. É evidente a necessidade da melhoria da infraestrutura, mas torna-se cada vez mais importante avalia-la perante a preservação dos recursos ambientais existentes, e cabe à Indústria da Construção Civil fornecer novos produtos para a sociedade, visando diminuir seu impacto. Sendo assim é grande a necessidade que a evolução técnica e tecnológica se dê na direção de processos sustentáveis (BIANCHINI, 2010). Segundo Stachera Junior (2008), a construção civil possui uma enorme parcela de contribuição não só nos números econômicos e geração de empregos, mas na utilização intensa de recursos naturais e na geração de resíduos e poluição, o que torna o setor muito importante para a economia. Segundo Machado et al. (2006), com relação aos impactos ambientais, a Indústria da Construção Civil é certamente a maior gerador de resíduos de toda a sociedade, pois além da utilização de recursos não renováveis ao longo de toda sua cadeia produtiva ela apresenta um alto desperdício de materiais gerando toneladas de resíduos. O volume de resíduos de construção e demolição gerados é até duas vezes maiores que o volume de lixo sólido urbano (MACHADO et al., 2006). A construção civil é responsável por entre 15 e 50 % do consumo dos recursos naturais extraídos, e consome cerca de 66% de toda madeira natural extraída, inferior ao total com manejo florestal correto. Em países como o Reino 28 Unido o consumo de materiais de construção civil é de aproximadamente 6 toneladas/ano.habitante (JOHN apud ALVES, 2005). Além do enorme consumo de recursos naturais, a construção civil também gera poeira e altas emissões de GEE, pois em toda sua cadeia produtiva apresenta emissões significativas. Os principais geradores de GEE podem ser indicados a seguir: cimento; cal; aço; areia; brita; queima de combustíveis fósseis e transporte. Em algumas cidades européias, as emissões de CO2 da indústria da construção correspondem aproximadamente a 30% do total das emissões. Somente a indústria do cimento é responsável por 7% das emissões mundiais de CO2 (STACHERA JUNIOR, 2008). No (QUADRO 1) são apresentadas as emissões de CO2 comparativas aos principais materiais geradores de GEE. Produto Emissão de CO2 Saco de Cimento (50kg) 48,44kg Saco de cal (20kg) 15,71kg Aço (1kg) 1,45kg Tijolo (unidade) 0,95kg Areia (m³) 22,62kg QUADRO 1 – EMISSÕES DE CO2 POR PRODUTO FONTE: STACHERA JUNIOR (2008) Devido à parcela que a construção civil tem na degradação do meio ambiente, é necessário procurar formas de minimizar suas emissões de GEE’s. Segundo o IPCC (2012), a construção civil é a principal atividade humana com potencial de mitigação dos GEE, sendo assim é preciso estudar e desenvolver novos métodos para diminuir essas emissões (FIGURA 2). 29 FIGURA 2 – POTENCIAL DE MITIGAÇÃO FONTE: IPCC (2007, apud MARQUES FILHO, 2010) A captura e a remoção de CO2 na própria fonte, antes de ele ser lançado na atmosfera, é uma opção técnica a ser considerada em termos de preocupação com o efeito estufa (STACHERA JUNIOR, 2008). Segundo John et al. (2001), a durabilidade desempenha uma função importante para a obtenção de uma construção sustentável, assim como mudanças nos detalhes de projeto que proporcionem maior proteção ao componente contra os fatores de degradação podem aumentar a sua vida útil sem alterar significativamente a carga ambiental total. Outro fator positivo que pôde ser comprovado pelo trabalho de YEMAL et al. (2011), é o fato de que as técnicas ambientais são contribuídas consideravelmente com o reaproveitamento de materiais, apesar desse reaproveitamento não alcançar sua totalidade. Marques Filho (2010) defende que o investimento em sistemas de qualidade dando benefícios sociais aos empregados pode ajudar a tornar a construção civil mais sustentável, assim como usar CAR, realizar dosagens com abordagem em sustentabilidade e criar uma normalização aceleraria e tornaria o processo mais completo. Os parágrafos anteriores mostram algumas das principais preocupações da construção civil: emissões de GEE, minimização do consumo de matérias primas e 30 da geração de resíduos e a minimização de defeitos com treinamento qualificado da mão-de-obra. Após a discussão dos impactos da construção, vale salientar que muitos países estão se organizando para achar meios de mitigar esse problema de emissões de GEE, e observa-se que também são necessárias ações de conscientização de toda população, pois o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (AR4) concluiu que "maior parte do aumento observado nas temperaturas médias globais desde meados do século 20 muito provavelmente se deve ao aumento observado nas concentrações antropogênicas de gases de efeito estufa." As concentrações de CO2 continuam a crescer e por no final de 2010 tinha alcançado 390 ppm de CO2, ou 39% acima dos níveis pré-industriais (IPCC, 2012). Um panorama nacional sobre o problema, está instalado no Brasil um forte movimento pela sustentabilidade empresarial cujos primórdios podem ser vinculados à realização da Rio 92 (CEBDS, 2004). “O Brasil posiciona-se como um dos países com menor intensidade de emissões de GEE na geração e no uso de energia. As ações do setor produtivo contribuem para o Brasil superar as metas progressivas de redução de emissões de GEE estabelecidas em planos de ação climática nacional e subnacionais” (CEBDS, 2004). Considerando os altos consumos de matéria prima, a quantidade significativa de mão-de-obra, a utilização de muitos equipamentos pode-se imaginar que a Indústria da Construção Civil consuma muita energia. John et al. (2001) fala que a construção civil consome uma quantidade significativa de energia e que segundo (WRI, 2000 apud John et al., 2001), estima-se que os setores residencial e comercial são responsáveis por 34,5% do consumo de energia total da economia mundial. Em termos mundiais a produção de energia também é grande geradora de GEE, gerando a necessidade de investimentos em fontes de energia renováveis e hoje há no mundo uma corrente forte para o investimento nessas fontes, a WWF defende que, em 2050, 100% do fornecimento de energia no planeta podem ser de energia renováveis (WWF, 2011). Conceitua-se energia renovável como aquela gerada a partir de fontes solares, geofísicas ou biológicas, que são reabastecidas por processos naturais a uma taxa igual ou superior a sua taxa de utilização. São consideradas energias renovaveis a gerada por biomassa, energia solar, calor geotérmico, potencial 31 hidrelétrico, marés e ondas do oceano e eólica. Essas fontes de energia renováveis têm um papel na prestação de serviços de energia de forma sustentável e, em particular, na mitigação das mudanças climáticas (IPCC, 2012). Embora haja esse incentivo à utilização de energia renovavél, 85% da energia primária utilizada economia global vem da queima de combustíveis fósseis, que representa 56,6% de todas as emissões antrópicas de GEE (IPCC, 2012). Na (FIGURA 3) é apresentado um gráfico comparativo com o fornecimento de energia no mundo e sua previsão. Energia total (EJ/a) Fornecimento por combustível fóssil Fornecimento por fontes renováveis FIGURA 3 – SUPRIMENTO MUNDIAL DE ENERGIA FONTE: WWF (2011) Concluindo sobre a necessidade da implantação de empreendimentos de energia renovável, observa-se que o número desses vêm aumentando rapidamente nos últimos anos. Esse aumento pode ser explicado pelo fato de que política governamental de muitos países mudou, assim como o custo de tecnologias está em declínio e os preços dos combustíveis fósseis crescendo. Pode-se dizer que esse aumento exigirá políticas para estimular mudanças no sistema de energia. O presente trabalho visa mostrar as vantagens e beneficios decorrentes da utilização de energias de fontes hídricas, visto que no cenário mundial a térmica é a 32 mais utilizada. No Brasil a maior fonte de energia elétrica é hidráulica sendo a complementação no fornecimento de energia é feito basicamente através de energia térmica. Na implantação de empreendimentos hidráulicos há uma emissão importante de GEE e muito baixa em sua operação, pois sua fonte de energia é renovável. Enquanto isso um empreendimento térmico além das emissões em sua implantação, durante toda sua vida útil produz um grande volume de emissões pela queima de combustível. Na (FIGURA 4) está apresentado um comparativo entre a potência instalada e capacidade de geração em todo mundo, de fontes hidráulicas. Potência Instalada Geração FIGURA 4 – HIDRELÉTRICAS POR REGIÕES NO MUNDO: POTÊNCIA INSTALADA E GERAÇÃO FONTE: IHA (2012) Vale enfatizar que o potencial teórico de energias renováveis é muito maior do que a totalidade da energia que é utilizada por todas as economias na Terra. Em 2008, a energia renovável contibuiu com aproximadamente 19% da oferta global de eletricidade (energia hidrelétrica 16%, 3% outros fontes renovaveis), sendo que a produção total foi de 20.181 TWh (ou 72,65 EJ) (IEA, 2010 apud IPCC, 2012). Confirmando esses dados, segundo WWF (2011), a energia hidrelétrica é atualmente a fonte maior do mundo de energia renovável, fornecendo quase um quinto de toda a eletricidade em todo o mundo. Observa-se que juntamente a essa conjuntura em que há uma forte corrente socioambiental somada à crescente demanda de infraestrutura, interferindo na construção civil. 33 A postura da população é fruto principalmente da desinformação, da falta de consciência ambiental e de um déficit de práticas comunitárias. Sendo assim a preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades, porém tendo a sustentabilidade como novo critério básico e integrador, estimulando permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extraeconômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a equidade, a justiça social e a própria ética dos seres vivos (JACOBI, 2003). 34 3. EMPREENDIMENTOS HIDRÁULICOS É impensável a interrupção no fornecimento de água ou energia em grandes conglomerados humanos mesmo por poucos dias. No Brasil, em particular estes dois insumos fundamentais estão correlacionados com empreendimentos hidráulicos, já que a nação possui recursos hídricos abundantes e que formam um diferencial competitivo. Com o crescimento populacional e, paralelamente, o aumento do nível de atividade econômica um aumento da demanda por água e serviços relacionados é previsível e esperado. O aumento do número de habitantes já evidencia claramente a necessidade de que novos empreendimentos sejam implantados, aumentando o fornecimento de água e energia. Sengundo o WCD (2000), o crescimento econômico tem duas implicações para a demanda de água, o primeiro é que o aumento da atividade econômica incrementa a procura por serviços hídricos, e a segunda é que tanto o desenvolvimento trazido pelo crescimento econômico e as mudanças tecnológicas que o acompanham vão levar a mudanças estruturais no padrão de bens e serviços que a sociedade produz e consome e também na forma como esses serviços são prestados. Na (FIGURA 5) está apresentada a distribuição de água no mundo. Brasil Outros EUA 6% FIGURA 5 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO PLANETA FONTE: WCD (2000) 35 A necessidade de água, tanto para consumo quanto para irrigação e outros fins nâo é uma necessidade apenas do homem moderno. Desde os primórdios, essa necessidade caminha junto com a humanidade, e registros históricos sugerem que o uso de barragens para abastecimento de água e irrigação foram mais difundidos a partir de 2000 a.C. Porém os primeiros indícios de engenharia fluvial são as ruínas de canais de irrigação com mais de oito mil anos, na Mesopotâmia e as primeiras barragens de armazenamento de água foram observadas na Jordânia, Egito e outras partes do Oriente Médio onde foram encontrados restos dessas barragens datadas de pelo menos 3000 a.C. (WCD, 2000). No século 20 houve uma grande evolução na implantação de grandes barragens as quais ultrapassaram o montande de 45.000 unidades em todo mundo (WCD, 2000). Atualmente, cerca de 44% de toda a produção mundial de alimentos provém de áreas irrigadas, indicando que a segurança alimentar depende dos empreendimentos hidráulicos (WWF, 2011). Assim como, segundo ANEEL (2002) geração hidrelétrica tem garantido, nos últimos anos, a produção de cerca de 90% da energia elétrica produzida no Brasil. Assim como a água a energia, nas suas mais diversas formas, é indispensável à sobrevivência da espécie humana. E mais do que sobreviver, o homem procurou sempre evoluir, descobrindo fontes e formas alternativas de adaptação ao ambiente em que vive e de atendimento às suas necessidades. O uso da energia hidráulica foi uma das primeiras formas de substituição do trabalho animal pelo mecânico, particularmente para bombeamento de água e moagem de grãos. Entre as características energéticas mais importantes, destacam-se as seguintes: disponibilidade de recursos, principalmente, seu caráter renovável. facilidade de aproveitamento e, A energia hidráulica é proveniente da irradiação solar e da energia potencial gravitacional, através da evaporação, condensação e precipitação da água sobre a superfície terrestre. (ANEEL, 2002). No caso de empreendimentos energéticos, a seleção de alternativas é feita tendo como critério básico a maximização da eficiência econômico-energética em conjunto com a minimização dos impactos socioambientais negativos (MME, 2007). Como, em geral, a maximização da eficiência econômico-energética conflita com a minimização dos impactos socioambientais, no processo de comparação e seleção de alternativas, estes aspectos deverão ser considerados dentro de uma abordagem 36 multiobjetivo (MME, 2007). A (FIGURA 6) apresenta as principais fases do desenvolvimento de empreendimentos hidrelétricos de energia no Brasil. FIGURA 6 – ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO DE APROVEITAMENTOS HIDROELÉTRICOS FONTE: MME (2007) O desenvolvimento de Hidrelétricas está intimamente ligada às políticas de desenvolvimento nacional, regional e global. Além de seu papel na contribuição para a segurança seguro de fornecimento de energia e reduzir a dependência do país de combustíveis fósseis, a energia hídrica oferece oportunidades para o alívio da pobreza e desenvolvimento sustentável (IPCC, 2012). Com exceção de pequenos aproveitamentos diretos da energia hidráulica para bombeamento de água, moagem de grãos e outras atividades similares, o aproveitamento da energia hidráulica é feito através do uso de turbinas hidráulicas, devidamente acopladas a um gerador de corrente elétrica. Com eficiência que pode chegar a 90%, as turbinas hidráulicas são atualmente as formas mais eficientes de conversão de energia primária em energia secundária (ANEEL, 2012). A força da água em movimento é conhecida como energia potencial, essa água passa por tubulações da usina com muita força e velocidade, realizando a movimentação das turbinas. Nesse processo, ocorre a transformação de energia potencial (energia da água) em energia mecânica (movimento das turbinas). As turbinas em movimento estão conectadas a um gerador, que é responsável pela transformação da energia mecânica em energia elétrica (LUVEZUTTI et al., 2011). Considerada como energia renovável, a energia hidráulica é muito interessante por diversos fatores. Além de sua energia ser limpa, segundo o IPCC 37 (2012), as usinas hidrelétricas não consomem a água que move as turbinas, com isso após a geração de energia, ela está disponível para várias outras utilizações essenciais. As usinas Hidrelétricas podem ser classificadas segundo a altura relativa da queda d’água, capacidade ou potência instalada, tipo de turbina, localização, tipo de barragem, etc. O sistema energético brasileiro é o maior da América do Sul, com energia hidrelétrica responsável pela geração de mais de 85% de toda a sua eletricidade. Outras fontes de energia utilizadas são as de origem térmica utilizando gás natural e carvão, nuclear, e a eólica que é responsável por 0,4% da eletricidade do sistema (WWF, 2011). Mesmo sendo o maior do continente, assim como no resto do mundo, no Brasil há um anseio muito grande pela implementação de novos empreendimentos, devido ao aumento da demanda de água e energia, tanto pelo aumento populacional quanto pelo aumento do poder aquisitivo dos brasileiros. Além da vasta hidrografia brasileira, o país ainda conta com grande parte de seu território dominado por terrenos de planalto, o que facilita a implantação de usinas hidrelétricas, pois são necessários desníveis para a implantação da mesma. Assim sendo, no Brasil, há um imenso potencial hidráulico, pois o país possui rios que têm todas as condições para aproveitamento de seu potencial energético e distribuidor (LUVEZUTTI et al., 2011). O potencial hidrelétrico brasileiro é estimado em cerca de inventariado é de 108.778 MW e o estimado de 28.096 (MME, 2012). Na (FIGURA 7) pode-se observar a evolução do potencial Brasileiro ao longo dos anos. 38 FIGURA 7 – POTENCIAL HIDRELÉTRICO BRASILEIRO FONTE: MME (2012) Após a colocação da evolução do potencial hidrelétrico brasileiro pode-se observar que tal evolução aconteceu com a diversificação do mercado de aproveitamentos hidrelétricos. Houve um investimento em projetos de diversas potências e características, e que para esse potencial pudesse ser explorado ao máximo, sem que o país ficasse refém da hidrologia e uma única região, foi criado o SIN – Sistema Interligado Nacional. A seguir é apresentada no (QUADRO 2) a distribuição de Usinas Hidrelétricas por faixa de potência. QUADRO 2 – APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS POR FAIXA DE POTÊNCIA FONTE: ANEEL (2012) Devido à grande necessidade da criação de novos empreendimentos assim como a manutenção dos já existentes, é muito importante analisar a perspectiva econômico financeira do negócio. Além de inúmeras licenças e permissões necessárias, um empreendimento hidráulico custa muito dinheiro para sua 39 implantação. Segundo Martins (2008), o Banco Mundial, além do seu papel na liberalização econômica, foi um grande estimulador e promotor da construção de barragens em grande escala durante várias décadas. Outro fator financeiro interessante de ser relacionado com aproveitamentos de energia é que segundo LUVEZUTTI et al. (2011), a localização das usinas faz com que o preço do transporte de materiais e insumos seja elevado. Segundo Marques Filho (2012), as seguintes características de obras hidráulicas são muito importantes: facilidades Industriais Complexas; utilização de grandes volumes de material; multidisciplinaridade envolvida no projeto; planejamento complexo; dificuldade para compartimentação de atividades; custo elevado; tempo de maturação expressivo; dificuldades de financiabilidade; grandes interferências com Meio Ambiente. Além de todas essas características há uma logística complexa em empreendimento desse porte, pois para que o processo funcione são necessários equipamentos com peso elevado, as obras geralmente ficam distantes de centros desenvolvidos e como já foi falado existe o consumo de grandes volumes de material, que é sanado pela fabricação na obra, sendo necessária infraestrutura de energia e combustíveis, centrais de britagem e de concreto, pug mills, sistemas de ar comprimido, água bruta e instalações sanitárias, pátios de montagem, oficinas de manutenção e centrais de forma e armadura, tudo isso com controle de qualidade extremamente severo (MARQUES FILHO, 2012). Como observado, trata-se de uma obra de engenharia complexa, com várias interfaces técnicas. O governo e os investidores têm intensificado os investimentos em energia proveniente de aproveitamentos hidráulicos, tal fato pode ser observado no (QUADRO 3), no qual tem a evolução da produção e do consumo de energia hidráulica no Brasil. 40 QUADRO 3 – ENERGIA HIDRÁULICA NO BRASIL FONTE: MME (2012) Após a colocação técnica da necessidade de empreendimentos hidráulicos, é importante acrescentar que a sociedade tem mostrado rejeição aos novos aproveitamentos, Martins (2006) cita que a história da construção de grandes obras hidráulicas em muitos aspectos é uma história triste quando se pensa na correlação entre o bem-estar, os direitos civis e políticos e mesmo com respeito aos objetivos oficiais de desenvolvimento econômico e da soberania ou autonomia nacional. Talvez, em parte por esses fatos a população não aceita muito bem a criação de novos empreendimentos. Questões ambientais e sociais continuarão a ser afetadas pela implantação de empreendimentos hidráulicos. Em particular, deve haver preocupação com a emissão de gases de efeito estufa (GEE) do reservatórios, devido ao apodrecimento da vegetação e fluxos de carbono a partir da captação (WCD, 2000). Os impactos sociais locais e ambientais de projetos variam de acordo com o tipo do projeto, o tamanho e as condições. Alguns dos impactos mais proeminentes incluem mudanças nos regimes de fluxo e da qualidade da água, barreiras à migração de peixes, perda de diversidade biológica, e de deslocamento da população (IPCC, 2012). Porém juntos, as novas tecnologias, os novos métodos construtivos e projetos mais eficazes, todos com uma visão sustentável, têm a capacidade de tornar essas consequências cadas vez menores e mais brandas (IPCC, 2012). Pelos motivos apresentados, a implantação de aproveitamentos hidráulicos é fundamental para garantia da infraestrutura humana, e tão importante quanto o projeto de novos empreendimentos é a manutenção da vida útil dos existentes. Segundo o IPCC (2012), a modernização, renovação e melhoramento dos empreendimentos antigos muitas vezes são menos caros do que o desenvolvimento de um novo, além de terem menores impactos socioambientais e requererem menos 41 tempo para a execução. As necessidades de água e energia obrigam o estudo contínuo de seu comportamento juntamente das suas principais manifestações patológicas e dos processos de reparo (MARQUES FILHO, 2012). Barragens são meios muito importantes para satisfazer as necessidades de água e energia a longo prazo, são investimentos estratégicos com a capacidade de oferecer benefícios múltiplos (ANEEL, 2002). Sendo assim, em um empreendimento hidráulico, qualquer que seja a solução de barragem adotada, são fundamentais a parametrização do material para efeito de projeto, a confiabilidade dos processos de dosagem do concreto e a indicação de valores para o controle da qualidade da obra e sua análise. Todos estes fatores devem estar subsidiados por correlações laboratório/obra sedimentadas e confiáveis, para minimização de custos e dos riscos envolvidos no desenvolvimento desses empreendimentos (MARQUES FILHO, 2005). As (FIGURAS 8 a 11) apresentam esquematicamente o fluxograma das tarefas necessárias à implantação dos aproveitamentos hidrelétricos. 42 FIGURA 8 – FLUXOGRAMA DA ETAPA DE PLANEJAMENTO DOS ESTUDOS FONTE: MME (2007) 43 FIGURA 9 – FLUXOGRAMA DA ETAPA DE ESTUDOS PRELIMINARES FONTE: MME (2007) 44 FIGURA 10 – FLUXOGRAMA DA ETAPA DE ESTUDOS FINAIS FONTE: MME (2007) 45 FIGURA 11 – FLUXOGRAMA DA AAI DA ALTERNATIVA SELECIONADA FONTE: MME (2007) 3.1. LICENÇAS AMBIENTAIS A chamada questão ambiental diz respeito aos diferentes modos pelos quais a sociedade, através dos tempos, se relaciona com o meio físico-natural. O ser 46 humano sempre dependeu dele para garantir sua sobrevivência, e seu uso, como base da existência humana, bem como as alterações por esse uso provocados na Terra são coexistentes desde os primórdios (QUINTAS, 2006). Como já foi mencionado, hoje, o cenário é de demanda crescente por água e energia tanto no mundo quando no Brasil. Segundo Souza (2009), paralelamente a este fato, é observado um fortalecimento e consolidação da legislação e do sistema de gestão ambiental, assim como a participação de novos interessados em prover a expansão do parque de geração de energia e, também, a maior participação dos movimentos sociais na esfera pública. Juntando isso aos graves problemas socioambientais já ocorridos em decorrência da construção de aproveitamentos hidráulicos, gera ambiente propício aos conflitos socioambientais que perpassam todo o processo de licenciamento (SOUZA, 2009). Desta maneira, é necessário que o Estado de alguma forma crie meios e métodos, assim como delegue as funções de execução e fiscalização à alguém ou algum órgão que o representa. Segundo o IPCC (2012), os órgãos jurídicos assim como suas atribuições variam de país para país, incluindo práticas de concessões, royalties, direitos de água, etc. Com o crescente envolvimento do setor privado, as disposições contratuais que cercam as hidrelétricas tornaram-se cada vez mais complexas. O Brasil possui legislação avançada e severa para as questões ambientais além de ser o único país que questões ambientais são apresentadas na constituição. Segundo Vainer (2007), juntamente com o processo de democratização houve a ascensão de movimentos ambientalistas, que se somando a uma maior preocupação ambiental, a pressão da sociedade civil e a resistência principalmente das populações atingidas culminou na necessidade do setor elétrico acrescentar questões sociais e ambientais em seu cotidiano. Do mesmo modo, ele coloca que a criação da Constituição Federal e das Constituições Estaduais, no final da década de 1980 e início da década de 1990, marcaram também o avanço das legislações estaduais e a consolidação das agências ambientais de vários estados. Segundo Quintas (2006), a Constituição Federal, ao consagrar o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, atribuiu a responsabilidade de sua preservação e defesa não apenas ao Poder Público, mas também à coletividade. Sendo assim cada cidadão tem o dever de protegê-lo, porém caberá aos órgãos e agências públicas o 47 dever de outorgar e fiscalizar a implantação e utilização de empreendimentos que causam algum dano à natureza. O licenciamento é um dos instrumentos de gestão ambiental estabelecido pela lei Federal n.º 6938, de 31/08/81, também conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. Em 1997, a Resolução nº 237 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente definiu as competências da União, Estados e Municípios e determinou que o licenciamento deverá ser sempre feito em um único nível de competência (FEPAM, 2013). É o procedimento no qual o poder público, representado por órgãos ambientais, autoriza e acompanha a implantação e a operação de atividades, que utilizam recursos naturais ou que sejam consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, sendo de obrigação do empreendedor a busca deste licenciamento junto ao órgão competente. Vale ressaltar que, segundo o IBAMA o licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia e que possui como uma de suas mais expressivas características a participação social na tomada de decisão, por meio da realização de Audiências Públicas como parte do processo (FIRJAN, 2004). Os principais órgãos responsáveis pela gestão ambiental no Brasil serão apresentados a seguir: O IBAMA, “tem como principais atribuições exercer o poder de polícia ambiental; executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle ambiental; e executar as ações supletivas de competência da União. Cabe ao IBAMA propor e editar normas e padrões de qualidade ambiental; o zoneamento e a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento ambiental, nas atribuições federais; a implementação do Cadastro Técnico Federal; a fiscalização ambiental e a aplicação de penalidades administrativas; a geração e disseminação de informações relativas ao meio ambiente; o monitoramento ambiental, principalmente no que diz respeito à prevenção e controle de desmatamentos, queimadas e incêndios florestais; o apoio às emergências ambientais; a execução de programas de educação ambiental; a elaboração do sistema de informação e o estabelecimento de critérios para a gestão do uso dos recursos faunísticos, pesqueiros e florestais; dentre outros”. (IBAMA, 2013). A FUNAI é uma entidade com patrimônio próprio e personalidade jurídica de direito privado, é o órgão federal responsável pelo estabelecimento e execução da política indigenista brasileira em cumprimento ao que determina a Constituição Federal Brasileira de 1988. Tem como objetivo principal promover políticas de desenvolvimento sustentável das populações indígenas, aliar a sustentabilidade econômica à sócio- ambiental, promover a conservação e a recuperação do meio ambiente, controlar e mitigar possíveis impactos ambientais decorrentes de interferências externas às terras indígenas, monitorar as terras indígenas regularizadas e aquelas ocupadas por populações indígenas, incluindo as isoladas e de recente 48 contato, coordenar e implementar as políticas de proteção aos grupos isolados e recém contatados e implementar medidas de vigilância, fiscalização e de prevenção de conflitos em terras indígenas. (FUNAI, 2013). O IPHAN é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, responsável por preservar a diversidade das contribuições dos diferentes elementos que compõem a sociedade brasileira e seus ecossistemas. Esta responsabilidade implica em preservar, divulgar e fiscalizar os bens culturais brasileiros, bem como assegurar a permanência e usufruto desses bens para a atual e as futuras gerações. (IPHAN, 2013). O Ministério Público da União “é uma Instituição independente que cuida da proteção das liberdades civis e democráticas, buscando com sua ação assegurar e efetivar os direitos individuais e sociais indisponíveis, como sua missão constitucional (v. art. 127, da Constituição Federal)”. Cabe ao MP a defesa da ordem jurídica, ou seja, deve zelar pela observância e pelo cumprimento da lei; defesa do patrimônio nacional, do patrimônio público e social, do patrimônio cultural, do meio ambiente, dos direitos e interesses da coletividade, especialmente das comunidades indígenas, da família, da criança, do adolescente e do idoso; defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis; controle externo da atividade policial. Trata-se da investigação de crimes, da requisição de instauração de inquéritos policiais, da promoção pela responsabilização dos culpados, do combate à tortura e aos meios ilícitos de provas, entre outras possibilidades de atuação. Os membros do MPU têm liberdade de ação tanto para pedir a absolvição do réu quanto para acusá-lo (MPU, 2013) A licença ambiental é o documento, com prazo de validade definido, em que o órgão ambiental estabelece regras, condições, restrições e medidas de controle ambiental a serem seguidas. Entre as principais características avaliadas no processo podemos ressaltar: o potencial de geração de líquidos poluentes (despejos e efluentes), resíduos sólidos, emissões atmosféricas, ruídos e o potencial de riscos de explosões e de incêndios (FIRJAN, 2004). Ao receber a Licença Ambiental, o empreendedor assume os compromissos para a manutenção da qualidade ambiental do local do empreendimento (FIRJAN, 2004). O Licenciamento Ambiental é constituído por três licenças, cada uma delas é requerida em etapas diferentes. Segundo o FEPAM (2013), elas são apresentadas a seguir: 49 Licença Prévia (LP) - Licença que deve ser solicitada na fase de planejamento da implantação, alteração ou ampliação do empreendimento. Aprova a viabilidade ambiental do empreendimento, não autorizando o início das obras. Licença Instalação (LI) - Licença que aprova os projetos. É a licença que autoriza o início da obra/empreendimento. É concedida depois de atendidas as condições da Licença Prévia. Licença de Operação (LO) - Licença que autoriza o início do funcionamento do empreendimento/obra. É concedida depois de atendidas as condições da Licença de Instalação. Vale ressaltar que a solicitação de qualquer uma das licenças deve estar de acordo com a fase em que se encontra a atividade/ empreendimento: concepção, obra, operação ou ampliação, mesmo que não tenha obtido anteriormente a Licença prevista em Lei (FEPAM, 2013). Após a emissão das licenças ambientais a empresa entra em fase de acompanhamento da operação em que os órgãos ambientais poderão fazer vistorias regulares para verificar o cumprimento das exigências pré-estabelecidas. Com isso, se for determinado que as atividades não estão de acordo com o especificado, a licença pode ser cancelada e o empreendimento interditado. Além do acompanhamento realizado existe um prazo de validade, estabelecido pelo órgão ambiental, que varia de atividade para atividade de acordo com a tipologia, a situação ambiental da área onde está instalada, e outros fatores (FIRJAN, 2004). O (QUADRO 4) apresenta os prazos de validade das diversas licenças. Prazo de validade das Licenças Ambientais Licença Prazo Mínimo Prazo Máximo O estabelecido pelo LP cronograma do projeto Não Superior a 5 anos apresentado De acordo com o LI cronograma de Não superior a 6 anos instalação da atividade LO 4 anos 10 anos QUADRO 4 – PRAZO DE VALIDADE DAS LICENÇAS AMBIENTAIS FONTE: FIRJAN (2004) 50 Mesmo tendo um procedimento padrão, esse processo de licenciamento ambiental vem causando forte turbulência entre, setor privados, órgãos ambientais e governo, criando dificuldades crescentes para obtenção da licença. Segundo Souza (2009) a falta de diálogo entre as partes interessadas no curso do processo de licenciamento cria uma série de ruídos, dúvidas, insatisfações e incompreensões sobre o projeto. Sendo assim, as audiências públicas, obrigatórias nos processos de licenciamento, podem ser transformadas em um espaço de embate e não de debate. Esse instrumento de gestão ambiental é sempre noticiado como um entrave ao desenvolvimento do país, com isso há um ambiente de crise formado. Sendo assim, há um grande enfrentamento entre setores da sociedade da sociedade organizada incluindo o Governo (SOUZA, 2009). 3.2. SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO Acompanhando o crescimento econômico e populacional, o consumo de energia elétrica deve aumentar nos próximos anos no Brasil. A indústria de energia elétrica compreende todas as etapas relacionadas com o fornecimento de eletricidade para consumidores finais, sendo assim, é possível segmentá-la conforme as diferentes atividades realizadas comumente definidas como geração, transmissão, distribuição e comercialização (CORREIA et al., 2006). A geração do sistema elétrico brasileiro é fortemente pautada em fontes renováveis, pois é muito dependente da hidroeletricidade, responsável, segundo a ANEEL (2002), e segundo a IRN (2012) , além da hidroeletricidade, a energia elétrica obtida através da biomassa (cogeração a partir do bagaço da cana-deaçúcar) e em menor medida do gás metano biológico obtido nos aterros, confere ao país uma singular participação das energias renováveis. Para garantir o crescimento e a necessidade de manutenção e expansão do parque energético brasileiro, existem alguns órgãos responsáveis pela regulamentação, fiscalização, distribuição e transmissão de energia elétrica no país, os quais serão apresentados a seguir: A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é uma autarquia em regime especial vinculada ao Ministério de Minas e Energia, foi criada para regular o setor elétrico brasileiro, por meio da Lei nº 9.427/1996 e do Decreto nº 2.335/1997. A ANEEL iniciou suas atividades em dezembro de 1997, tendo como principais atribuições: 51 Regular a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica; Fiscalizar, diretamente ou mediante convênios com órgãos estaduais, as concessões, as permissões e os serviços de energia elétrica; Implementar as políticas e diretrizes do governo federal relativas à exploração da energia elétrica e ao aproveitamento dos potenciais hidráulicos; Estabelecer tarifas; Mediar, na esfera administrativa, os conflitos entre os agentes e entre esses agentes e os consumidores; Por delegação do governo federal, promover as atividades relativas às outorgas de concessão, permissão e autorização de empreendimentos e serviços de energia elétrica (ANEEL, 2013). A ANA, é uma autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, além da função de reguladora do uso da água bruta nos corpos hídricos de domínio da União, tem a atribuição de coordenar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cuja principal característica é garantir a gestão democrática e descentralizada dos Recursos Hídricos (ANA, 2013). “O Ministério de Minas e Energia, órgão da administração federal direta, representa a União como Poder Concedente e formulador de políticas públicas, bem como indutor e supervisor da implementação dessas políticas nos seguintes segmentos: I - geologia, recursos minerais e energéticos; II - aproveitamento da energia hidráulica; III - mineração e metalurgia; e IV - petróleo, combustível e energia elétrica, inclusive nuclear. Cabe, ainda, ao Ministério de Minas e Energia: I - energização rural, agroenergia, inclusive eletrificação rural, quando custeada com recursos vinculados ao Sistema Elétrico Nacional; e II - zelar pelo equilíbrio conjuntural e estrutural entre a oferta e a demanda de recursos energéticos no País (MME, 2013). “O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é o órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)” (ONS, 2013). 52 O setor elétrico passou por duas grandes mudanças na metade da década de 90. Em 1995, no contexto das reformas que permitiram o investimento privado em setores até então restritos a investimentos e gestão estatal, ocorreu a primeira reformulação e em 1996 a lei 9.074/95 que tratou das concessões e permissões de serviços públicos e o decreto 2003/96 que regulamentou a produção de energia elétrica por produtor independente e autoprodutor promoveram uma série de transformações no setor de geração de energia elétrica (SOUZA, 2009). Tendo em vista essas mudanças ocorridas na regulamentação e as crises financeiras que atingiram o país, esse passou por um momento de recessão no setor elétrico. A crise de 2001 , onde houve um déficit de energia, sendo necessárias intervenções de emergência, foi um choque importante para o governo, para a economia nacional e para a sociedade (NEVES, 2009). Com esses problemas e visando o aumento na demanda energética nacional, entre 2003 e 2004 o governo federal lançou as bases de um novo modelo para o Setor Elétrico Brasileiro, sustentado pelas Leis nº 10.847 e 10.848, de 15 de março de 2004, e pelo Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004 (BARREIRO JUNIOR, 2008). O novo modelo definiu a criação de uma entidade responsável pelo planejamento do setor elétrico a longo prazo, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE); uma instituição com a função de avaliar permanentemente a segurança do suprimento de energia elétrica, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE); e uma instituição para dar continuidade às atividades do Mercado Atacadista de Energia (MAE), relativas à comercialização de energia elétrica no Sistema Interligado, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) (BARREIRO JUNIOR, 2008). Além da criação dessas instituições esse novo modelo busca garantir a segurança do suprimento de energia elétrica; promover a modicidade tarifária; promover a inserção social no Setor Elétrico Brasileiro, em particular pelos programas de universalização de atendimento. A comercialização da energia no Brasil é feito por meio de leilões de compra e venda que devem ser realizados pela CCEE, assim como esta instituição deve definir o preço mínimo de mercado para a energia elétrica para o efeito de leilão. É interessante notar que na maioria dos mercados e, particularmente no setor de energia elétrica, a competição é limitada e o desenho do leilão, embora não possa superar completamente isso, deve buscar reduzir as possibilidades de 53 manipulação artificial do preço que resultem em uma transferência de renda por poder de mercado (CORREIA et al., 2006). Os leilões de energia têm periodicidade anual e segundo Rego (2012) são apresentados em duas modalidades de contratação, em função do estágio de desenvolvimento dos projetos: leilões de energia elétrica proveniente de empreendimentos de geração existente — leilões de energia velha - e leilões de energia elétrica provenientes de novos empreendimentos – leilões de energia nova. O objetivo de tais leilões é propiciar a possibilidade, por parte das distribuidoras, de contratação antecipada de energia para o atendimento pleno de sua demanda estimada três a cinco anos à frente (MARTINS, 2008). Os leilões são promovidos sempre no intuito de assegurar o suprimento de energia em um ano determinado (denominado ano “A”). Assim, para a compra de energia nova, os leilões serão realizados nos anos A menos 5 anos (A-5) e A menos 3 anos (A-3) o objetivo desses leilões é complementar a energia existente para suprir a demando futura, enquanto que para a compra energia velha A menos 1 ano (A-1) cujo objetivo é suprir a demanda atual (REGO, 2012). Apesar de o leilão criar condições para benefício do bem público, várias alterações ocorrem com relação aos dados de leilão, encarecendo o processo em detrimento das condições especificadas e essas mudanças nas condições alteram a atratividade do empreendimento aumentando riscos do processo (MARQUES FILHO, 2012). Com essa maior organização e regulamentação foram observadas um crescimento tanto na geração de energia quanto das linhas de transmissões. Segundo a EPE, entre 1996 e 2002 havia um crescimento médio de 1.562 km a.a, já entre os anos de 2003 e 2009 esse crescimento médio foi de 3.646 km a.a (TOLMASQUIM, 2008). Juntamente com os dados já apresentados podemos observar nos (QUADROS 5 e 6) o predomínio da matriz hidráulica na produção de energia elétrica, assim como a importância do SIN para o Brasil. Observa-se grande parte da oferta de eletricidade está interligada, evitando que se configurem possíveis apagões por problemas sejam natureza hídrica de outra natureza em regiões isoladas do país. 54 QUADRO 5 – OFERTA INTERNA DE ENERGIA ELÉTRICA FONTE: MME (2012) QUADRO 6 – CONFIGURAÇÃO DA OFERTA DE ELETRICIDADE POR FONTE FONTE: MME (2012) Na (FIGURA 12) é apresentado o histórico da matriz elétrica do Brasil, onde pode-se observar o crescimento da energia de fontes renováveis (hidráulica e eólica). 55 FIGURA 12 – HITÓRICO DA MATRIZ ELÉTRICA FONTE: LUNA E VETTORAZZO (2013) O sistema elétrico brasileiro é fortemente dependente da disponibilidade hídrica de médios e longos prazos, para a produção de energia firme. O grande desenvolvimento da hidroeletricidade no Brasil se deu entre 1975, quando a capacidade instalada era de 18.500 Megawatts, e 1985, quando passou para 54.000 Megawatts, a partir de então, a construção de barragens tornou-se mais difícil devido à crise econômica e ao endividamento, assim como ao crescimento das críticas às barragens em face dos impactos sociais e ambientais causados (DA SILVA, 2002). O país ainda possui grande possibilidade de ampliação do sistema uma vez que segunda a ANEEL (2002) o potencial hidrelétrico brasileiro é estimado em cerca de 260 GW, sendo que apenas 63% desse potencial foi inventariado, conforme já mencionado. Visto esta grande dependência da hidroeletricidade para fornecimento de energia elétrica no país e sabendo que a geração está intrinsicamente ligada ao regime de chuvas foi necessário criar o Sistema Interligado Nacional – SIN. Segundo da Silva (2012) é um sistema de transmissão que permite otimizar e racionalizar a geração e o uso da energia elétrica no Brasil, uma vez que conecta regiões com regimes hidrológicos distintos, possibilitando a utilização da energia gerada em uma região com excedente hídrico em outra que está passando por uma situação de escassez. 56 A interligação cada vez mais efetiva do sistema de geração hidrelétrica reduz consideravelmente os riscos de não atendimento da demanda, porém a maioria das hidrelétricas está localizada na Bacia Hidrográfica do Paraná, e com isso mais de 55% da capacidade instalada está sujeita às mesmas variabilidades climáticas, com isso a integração com outras fontes de energia e empreendimentos em diversas escalas reduz essa forte dependência dos rios juntamente com a variabilidade do clima (FREITAS e SOITO, 2008). Teoricamente a geração termelétrica complementa a geração de energia hidrelétrica, reforçando a segurança do sistema, evitando déficit de energia durante as secas ou para atender os picos de demanda. No entanto, embora seja desejável ter esse tipo de complementaridade na matriz elétrica, esta deve ser implementada dentro do planejamento setorial e não em virtude da dificuldade de se fazer projetos hidrelétricos (NEVES, 2009). Segundo Freitas e Soito (2008) proliferam as pequenas usinas colocadas em córregos e quedas d’água, o aproveitamento de resíduos da biomassa, as fazendas de geração eólica nas regiões costeiras e as turbinas derivadas da aviação, abastecidas por gás natural, e que podem ser instaladas em prédios. O investimento em PCH’s é muito interessante, pois possibilita que a rede de hidroeletricidade se torne mais diversificada e espalhada, evitando a concentração de muitos aproveitamentos na mesma região. Sabendo das dificuldades que o setor energético brasileiro enfrentou, hoje, são realizados dois planos para o planejamento do setor, elaborados em conjunto pela EPE e pelo MME, são o Plano Nacional de Energia (PNE) – 2030 e o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE). O PNE possibilita uma estratégia de expansão da oferta de energia econômica e sustentável com vistas a atendimento do crescimento da demanda. Já PDE possibilita uma visão integrada da expansão da demanda e da oferta de diversas alternativas energéticas. Ambos servem de instrumento de planejamento para o setor energético nacional, contribuindo para o delineamento das estratégias de desenvolvimento do país a serem traçadas pelo Governo Federal. Segundo Tolmasquim (2008), visando o futuro do sistema elétrico brasileiro e sabendo do crescimento econômico e demográfico, é muito importante a manutenção da participação de energias renováveis na matriz, assim como uma maior diversificação desta matriz, aumentando a particiáção de cana-de-açucar e gás natural (FIGURA 13). 57 FIGURA 13 – PERSPECTIVA PARA MAIOR DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA E AUMENTO DA PARTICIÁÇÃO DA CANA-DE-AÇUCAR E DO GÁS NATURAL FONTE: TOLMASQUIM (2008) Resumindo, a produção de energia elétrica brasileira atual e futura depende fortemente da energia hidráulica e do projeto de barragens. A discussão dos conceitos de barragens de concreto se mostra oportuna, tanto para o desenvolvimento de novos projetos, quanto para a manutenção dos existentes. 3.3. TIPOS DE BARRAGEM Historicamente, as barragens têm permitido que as pessoas coletassem e armazenassem água em períodos chuvosos para que pudessem usá-la nos períodos de seca, sendo assim, elas têm sido essenciais para o estabelecimento e o sustento de cidades e fazendas, e para o abastecimento de alimentos por meio da irrigação de plantações (ICOLD – CIGB, 2008). A criação de reservatórios artificiais gerou a concepção de vários tipos de barragens, que geram naturalmente desníveis consideráveis de água nos aproveitamentos hidráulicos (MARQUES FILHO, no prelo). As barragens são definidas como barreiras ou estruturas que cortam córregos, rios ou canais para 58 controlar o fluxo da água, podendo variar desde pequenos maciços de terra até enormes estruturas de concreto (ICOLD – CIGB, 2008). Segundo Marques Filho (2005) é necessário que continuem os estudos dos materiais e novas técnicas de construção para empreendimentos hidráulicos, pois apesar da grande quantidade de reservatórios já existentes, o aumento populacional atrelado à busca da melhoraria de qualidade de vida por todos os indivíduos, assim como o aumento da procura por energia pressionam as reservas de água para consumo humano, agropecuário e industrial. A escolha do tipo de barragem dependerá, principalmente, da existência de material qualificado para sua construção, dos aspectos geológicos e geotécnicos, e da conformação topográfica do local da obra. Além desses fatores outros também são de extrema importância: a disponibilidade de solo ou rocha com qualidade e quantidades adequadas; a natureza das fundações; as condições climáticas que podem dificultar a construção de determinados tipos (MME, 2007). As barragens são classificadas conforme o material usado em sua construção. As principais soluções de barramentos a serem utilizadas nos arranjos hidráulicos podem ser divididas em barragens com corpo executado em materiais soltos ou em concreto, sendo que a solução final depende de avaliação técnico-econômico-ambiental considerando o empreendimento como um todo. A escolha de um tipo de barragem em um aproveitamento hidráulico depende, obviamente, de condicionantes de custo, prazo e qualidade técnica, sendo que esta última depende da tecnologia existente, através da evolução da teoria da segurança, dos modelos estruturais e dos processos construtivos (SHARMA, 1981; CREAGER et al., 1965; GRISHIN, 1981; VARLET, 1972; FUSCO, 1976 apud MARQUES FILHO, 2005). As principais alternativas de barragens são as de gravidade, as em arco e as de aterro. Cabe destacar que as barragens de aterro podem ser compostas por mais de um material e que geralmente recebem uma camada ou núcleo para evitar a percolação de água. As (FIGURAS 14, 15 e 16) mostram esses três principais tipos de barragens encontradas em todo mundo. 59 FIGURA 14 – CORTE TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM EM ATERRO FONTE: ICOLD-CIGB (2008) FIGURA 15 – CORTE TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM DE GRAVIDADE FONTE: ICOLD-CIGB (2008) 60 FIGURA 16 – CORTE TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM EM ARCO FONTE: ICOLD-CIGB (2008) Outros tipos de barragens que são utilizados: alvenaria; enrocamento com face de concreto; enrocamento com face de asfalto; enrocamento com núcleo de asfalto; arcos múltiplos; arcos de dupla curvatura; gravidade aliviada; contrafortes. Para um empreendimento hidráulico, além da escolha do tipo de barragem que é importantíssima, é necessário que o local onde a obra será implantada seja muito estudado, pois ele desempenha papel fundamental na capacidade do empreendimento, nos impactos gerados e também na definição do tipo de barragem (MME, 2007). Cada local escolhido para uma barragem é único, com condições topográficas, geológicas e hidrológicas particulares, sendo assim nenhum local é igual a qualquer outro, a concepção de um determinado arranjo é uma arte, normalmente resultado de um processo iterativo, onde varias opções são concebidas, dimensionadas e orçadas para chegar a melhor solução (MME, 2007). Por definição, o melhor arranjo para um determinado aproveitamento hidrelétrico é 61 aquele que consegue posicionar todos os elementos do empreendimento de maneira a combinar a segurança requerida pelo projeto e as facilidades de operação e manutenção com o custo global mais baixo (MME, 2007). Como as barragens são parte crítica e essencial de nossa infraestrutura, elas devem cumprir certos requisitos técnicos e administrativos para garantir sua operação segura, eficaz e econômica. Segundo o ICOLD – CIGB (2008), alguns desses requisitos são: as barragens, suas fundações e seus encontros devem ser estáveis sob todas as condições de carga (níveis dos reservatórios e terremotos); as barragens e suas fundações devem ser suficientemente vedadas e ter procedimentos adequados de controle de percolação e vazamentos para garantir a operação segura e para manter a capacidade de armazenamento; as barragens devem ter borda livre suficiente para evitar transbordamento de ondas e, no caso de barragens de terra devem incluir uma margem para recalque da fundação e do maciço; as barragens devem ter capacidade suficiente de vertimento da vazão para evitar transbordamento dos reservatórios em casos de enchentes manual de operação e manutenção; é necessária uma instrumentação adequada para monitoramento de desempenho; é preciso que haja um plano de monitoramento e observação das barragens e demais estruturas; é necessário um plano de ação emergencial; importante o apoio ao meio ambiente natural; cronograma de inspeções periódicas; revisões abrangentes, avaliações e modificações, conforme seja apropriado. 3.4. ANÁLISE DE RISCO E SEGURANÇA DE BARRAGENS Como já extensamente discutido neste trabalho, nesta primeira década do século XXI, questões como o aproveitamento dos recursos hídricos e a geração de energia afiguram-se como temas centrais do desenvolvimento das nações, evidenciando a importância das obras de engenharia civil a elas associadas, com destaque para as barragens. Assiste-se também a uma maior sensibilização das populações para o risco que as barragens representam e para o impacto ambiental associado, sendo assim um tema da sociedade em geral, para além de meramente técnico ou econômico. As barragens são estruturas que apresentam um risco potencial elevado, motivo pelo qual os regulamentos de segurança prescrevem 62 atividades de acompanhamento e observação, por instrumentação, inspeção visual ou ensaios específicos (BRETAS et al., 2010) Segundo Kochen (2009), as rupturas de barragens de concreto quase sempre estão relacionadas com problemas na fundação, Um exemplo de gestão inadequada de ricos geológicos/geotécnicos é o rompimento da barragem de Camará, onde segundo Kanji (2004) houve uma falha na ombreira esquerda, devido a elevada subpressão e baixo ângulo de atrito disponíveis, e também evidencia que a ruptura se deu pela fundação e não pelo corpo da barragem. Esse acidente vitimou 5 pessoas. Hoje algumas tendências do setor de barragem as quais muitas vezes são prejudiciais para a boa execução e operação do empreendimento podem ser analisadas. A tendência de contratos globais, condições de contrato unilaterais, cronogramas apertados, orçamentos financeiros baixos, e uma competição leonina instalada no país aumentam significativamente o potencial de risco, assim como gera necessidade de procedimentos pró-ativos de gerenciamento de riscos (MARQUES FILHO, 2012). Segundo Medeiros (2009) após a celebração do contrato é possível o uso de procedimentos técnicos e administrativos inadequados, já que a contratação e a subcontratação são realizadas somente pelo critério de menor preço. Tendo em vista os desastres e as tendências apresentadas acima fica evidente a necessidade de que haja um controle de riscos muito apurado para empreendimentos hidráulicos. A segurança de uma barragem é sua capacidade de satisfazer as exigências do comportamento relativas a aspectos estruturais, hidráulicos, operacionais e ambientais, de modo a evitar a ocorrência de acidentes ou incidentes ou minorar suas consequências ao longo da vida útil (RSB, 2007 apud PINTO, 2008). A análise de risco é importante tanto para novos empreendimentos como para as obras já existentes, pois ajudam a garantir o seu funcionamento adequado conforme preconizados pela Lei de Segurança de Barragem. Segundo Pinto (2008), a análise de riscos é um conjunto entre a identificação de acontecimentos indesejáveis, análise das causas desses acontecimentos e a determinação das respostas das estruturas e suas respectivas consequências. O risco de barragens pode ser medido pelo Método LCI (Localização, Causa e Indicadores de falha), primeiro é feito a avaliação das potenciais consequências e suas análises e depois a 63 identificação e avaliação dos modos de ruptura (PIMENTA, 2008 apud PINTO, 2008). Esse risco precisa ser mensurado de alguma maneira, segundo PINTO (2008) calcula-se o índice de impacto global que é uma combinação ponderada do potencial de perdas de vidas humanas e perdas econômicas, cuja utilidade é a comparação com outros possíveis acidentes. Kochen (2009) salienta a necessidade de que para uma analise de riscos de uma barragem sempre estejam presentes a classificação da barragem, que seja feita uma inspeção no local, que seja feita uma análise critica de todas as etapas do projeto até de sua manutenção. Devido à grande necessidade da análise de riscos e em conjunto o fato de que a maioria das barragens de concreto rompe por problemas na fundação, ou seja, problemas geológicos/geotécnicos cabe fazer um parênteses para os principais riscos relacionados à esse tópico. Medeiros (2009) evidencia os principais problemas geotécnicos como erros de estimativas, divergências entre plantas e a topografia real, erros de estimativas de volumes e também na escolha das jazidas, dificuldade de obtenção de agregados e ocorrência de solos moles assim como planos de fraquezas e/ou instabilidade na fundação das ombreiras. Sendo assim o acompanhamento dos serviços assim como a elaboração de um bom programa de investigações são fundamentais para que a barragem desenvolva seu propósito sem apresentar problemas. Sabendo da necessidade de abastecimento de energia para toda a população brasileira assim como todos os riscos envolvendo os empreendimentos hidráulicos, juntamente com a detalhada análise de riscos sempre foi necessária a criação de uma lei de segurança para que fossem garantidas a manutenção e possível necessidade de contingencia de crise ou acidente. Por diversas vezes o CBDB (Comitê Brasileiro de Barragens), o IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) e a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) fizeram recomendações de interesse público sobre a gestão de seguranças de barragens no Brasil (MARQUES FILHO, 2012). Esse documento emitido por essas duas entidades previam que o Governo estabeleça um Programa Nacional de Segurança de Barragens no qual os agentes técnicos e financeiros estejam envolvidos assim como os órgãos responsáveis pela outorga, concessão, controle e fiscalização aprimorem seus procedimentos. Além dessas sugestões também requeria que a Defesa Civil intensificasse a prevenção de incidentes e acidentes de barragens e uma outra proposta muito importante é a de 64 que as Universidades e escolas técnicas adequem seus programas à cultura de segurança de barragens (MEDEIROS, 2009) Assim sendo foi criada em 2010 a Lei 12.334/10 que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB). Segundo se Artigo quinto a fiscalização da segurança de barragens caberá, sem prejuízo das ações fiscalizatórias dos órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) (NUNES, 2011). A ANA (Agência Nacional de águas) passou a fiscalizar a segurança de barragens daquelas outorgáveis por ela sendo assim os regulamentos emitidos pela ANA só tem eficácia nas barragens cuja fiscalização cabe ao órgão (NUNES, 2011). Assim sendo, foi criado um Plano de Segurança de Barragens formado por cinco volumes: Informações gerais; Planos e Procedimentos; Registros e Controle; Plano de ações de emergência; Revisões periódicas de Segurança de Barragens que são ações para garantir a manutenção. Vale salientar que as inspeções de segurança regular e especial terão a sua periodicidade, a qualificação da equipe responsável, o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento definidos pelo órgão fiscalizador em função da categoria de risco e do dano potencial associado à barragem. 65 4. BARRAGENS DE CONCRETO À GRAVIDADE A utilização do concreto como material de construção de barragens de aproveitamentos hidráulicos ocorre a mais de 120 anos, permitindo a obtenção de um banco de dados confiável sobre o comportamento deste tipo de obra (MARQUES FILHO, 2005). Mais precisamente, em barragens sua utilização começou a se desenvolver na segunda metade do século XX, porém os projetos eram realizados utilizando métodos empíricos baseados em estruturas semelhantes de alvenaria e sem cuidados com o controle dos materiais utilizados. No Brasil a construção de barragens de concreto se desenvolveu a partir dos anos 60, e depois dos anos 80 perdeu força para outras alternativas (MARQUES FILHO, 2005) Devido à utilização do concreto em empreendimentos hidráulicos nos últimos 120 anos, os modelos de comportamento são bem conhecidos, balizados pela instrumentação e monitoramento de obras existentes (MARQUES FILHO e ISAIA, 2011). O projeto civil das barragens de concreto é multidisciplinar, envolvendo diversas áreas: a hidrologia, a hidráulica, a mecânica das rochas e a engenharia de estruturas (GUTSTEIN, 2011). As barragens de concreto adotam cinco tipos de soluções básicas: barragens de concreto a gravidade, a gravidade aliviada, arco-gravidade, em arco e em contrafortes. Nas barragens de concreto a gravidade, grosseiramente, as ações geradas pelo reservatório têm como fator estabilizante o peso próprio da estrutura, utilizando como critério de resistência as envoltórias de Mohr-Coulomb em modelos cujo comportamento predominante pode ser caracterizado grosseiramente pela seção transversal em balanço (MARQUES FILHO, no prelo). As barragens são estruturas assimétricas e tridimensionais, construídas a partir de materiais complexos com propriedades físicas não uniformes e anisotrópicas. Isto reflete na interacção da barragem com a sua base e na resposta aos esforços estruturais (NOVAK et al., 2004). Em todas estas soluções estão associados volumes expressivos de concreto, gerando preocupações quanto a fissuração gerada pelos fenômenos termogênicos da hidratação do cimento, cujos malefícios são potencializados na presença da água do reservatório. Na evolução do concreto para utilização em estruturas de grande porte surgiu o conceito de concreto massa, que exige medidas para controlar a geração de calor e a 66 variação de volume decorrente, a fim de minimizar a sua fissuração (CBGB et al., 1989;PACELLI DE ANDRADE et al., 1997, apud MARQUES FILHO, 2005, pg. 3). Estruturas onde há altas gerações de calor estão susceptíveis a criarem um panorama de tensões devido oscilações volumétricas, com isso fissurações podem ocorrer levando em risco a segurança da barragem assim como sua durabilidade (KEPERMAN E ISAIA, 2005). As barragens à gravidade têm sua estabilidade garantida principalmente pelos esforços de gravidade, ou seja, seu peso próprio (DE BARROS et al., 2011). Sendo assim o perfil de uma barragem à gravidade é essencialmente triangular, para assegurar a estabilidade e a fim de evitar a sobrecarga da barragem ou a sua fundação. Algumas barragens de gravidade são suavemente curvas no plano por razões estéticas ou por necissidades hidráulicas ou econômicas, e sem colocar qualquer desconfiança em sua estabilidade (NOVAK et al., 2004). Com isso, sabendo de sua complexibilidade e multidisciplinaridade, o perfil transversal deverá satisfazer a duas principais condições: as tensões atuantes devem estar dentro de limites pré-estabelecidos e proporcionar estabilidade para o corpo da barragem, suportando o deslizamento na fundação, paralelamente à essas observações devese buscar uma seção ótima para garantir a estabilidade e um menor gasto de concreto possível (GUTSTEIN, 2011). A (FIGURA 17) apresenta uma seção transversal típica de uma barragem à gravidade e (FIGURA 18) uma seção longitudinal. Galerias de drenagem Concreto Permeável Falhas e fraturas Empuxo FIGURA 17 – SEÇÃO TRANSVERSAL DE UMA BARRAGEM DE CONCRETO A GRAVIDADE FONTE: MARQUES FILHO (2012) 67 Juntas de contração Galerias de Drenagem FIGURA 18 – VISTA DE JUSANTE DE UMA BARRAGEM DE CONCRETO A GRAVIDADE FONTE: MARQUES FILHO (2012) Algumas características das obras civis de barragens são bem importantes de serem apresentadas. Há interação permanente entre projeto e métodos construtivos, devendo ser utilizado com muito cuidado os equipamentos e materiais, assim como o clima também interfere bastante na construção e planejamento. A estrutura de uma barragem é maciça, sendo assim o peso próprio e a termogênese do concreto são bastante importantes no projeto. Pelos grandes volumes existentes, há uma dificuldade de execução, bem como devem ser tomados cuidados com as reações deletérias. O controle de qualidade precisa ser muito rigoroso, pois, além de prazos apertados correlacionados com custo altíssimos, deve-se focar na segurança do processo. Tal controle também é fundamental, pois em barragens de concreto os modelos são complexos, as normas para edificações com difícil aplicação, as análises de segurança são bastante sofisticadas assim como a geologia do local interfere com as formas (MARQUES FILHO, 2012). Assim, uma extensa campanha de sondagens e investigações geotécnicas é fundamental na fase de projeto. Devem ser executados furos, trincheiras, galerias e investigações geofísicas, de modo a caracterizar o mais amplamente possível o subsolo e as ombreiras. As estruturas devem ser sempre assentadas em rochas com adequadas características mecânicas para suportar a carga vertical e conferir estabilidade contra esforços de cisalhamento e deslizamento (DE BARROS et al., 2011). 68 Segundo de Barros et al. (2011) as barragens de gravidade são classificadas, em termos estatísticos, levando em conta suas alturas estruturais. Define-se altura estrutural como a diferença, em elevação, entre a crista da barragem (a elevação da pista de rolamento ou do passeio, caso não exista pista) e o ponto mais baixo da fundação, excluindo-se eventuais zonas de falhas. Desse modo, considera-se o seguinte critério (U.S. Bureau of Reclamation): Barragens baixas — até 30 m de altura; Barragens médias — de 30 a 90 m de altura; Barragens aftas — acima de 90 m de altura. A escolha da solução de barramento não é nenhum pouco simples, implicando a interatividade de diversas áreas e análise muito criteriosa. Segundo Marques Filho (2012), a escolha envolve a mitigação dos riscos, capacidade executiva minimização da interferência ambiental, avaliação econômico-financeira holística, levando em conta o arranjo físico geral e o cronograma de obras com possíveis antecipações de receita. Todos esses aspectos precisam ser satisfeitos simultaneamente, por isso diversos arranjos são estudos para se chegar à solução ideal. A integridade estrutural de uma barragem deve ser mantida em toda a gama de circunstâncias ou acontecimentos que podem surgir em serviço (NOVAK et al., 2004). O arranjo é, portanto, determinado através da análise conjunta de todas as condições de carregamento, e portanto, a estabilidade da barragem e fundação deve ser assegurada em todas as circunstâncias (NOVAK et al., 2004). 4.1. VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA Até meados do séc. XIX, o projeto de barragens seguia modelos empíricos em que as secções transversais adotadas apresentavam grande volume, pois eram a seguiam a risca o principio da contenção do reservatório pela massa da barragem (BRETAS et al., 2010). 69 Durante a segunda metade do séc. XIX surgiram os primeiros trabalhos científicos nesta área. Os trabalhos produzidos por Sazilly, Delocre e Rankine devem ser referidos como os mais influentes, pois foram decisivos no desenvolvimento tecnológico, pois com base num melhor conhecimento da resistência dos materiais, das solicitações e dos mecanismos de ruptura, permitiam obter obras igualmente seguras, mas com considerável redução do volume de material (BRETAS et al., 2010). Com essa evolução, muitos estudos foram feitos, e juntamente com a evolução da tecnologia novas técnicas foram empregadas, sempre tentando manter a segurança da barragem, ou seja, garantindo sua estabilidade e durabilidade. Os estudos foram voltados tanto para a área dos materiais utilizados como também para os métodos construtivos e técnicas para aliviar tensões na base. 4.1.1. Tipos de concreto utilizados 4.1.1.1. Concreto Massa O primeiro registro de controle tecnológico de concreto foi nos Estados Unidos da América ocorreu em 1888, na Barragem de Crystal Springs, na Califórnia. A tecnologia inicialmente incipiente, foi desenvolvida com a evolução contínua dos materiais utilizados e o aperfeiçoamento da técnica de construção; e, também, foram sendo estudados os fenômenos de permeabilidade do concreto e da fissuração térmica (MARQUES FILHO e ISAIA, 2011). O concreto massa é definido como aquele que ao ser aplicado à uma estrutura requer cuidados com seu comportamento térmico, para evitar que fissuras surjam devido à esse comportamento (KUPERMAN E ISAIA, 2005). As primeiras utilizações de concreto massa no Brasil datam do inicio do século XX, quando várias barragens de concreto à gravidade foram construídas (KUPERMAN E ISAIA, 2005). A evolução da tecnologia de concreto aplicada aos aproveitamentos hidráulicos teve grande impulso a partir do final da década de 50, coincidindo com o esforço de industrialização do país. Um marco importante do desenvolvimento técnico do 70 concreto massa foi a construção da Usina Hidrelétrica Ilha Solteira (MARQUES FILHO e ISAIA, 2011). A evolução da tecnologia de concreto aplicada às barragens de concreto e estruturas complementares levou a diminuição contínua dos consumos de cimento, com o desenvolvimento de critérios de dosagem e de controle de qualidade efetivos. (MARQUES FILHO, 2005). A (FIGURA 19) apresenta uma vista geral da barragem de Itaipú, construída parte em concreto massa. FIGURA 19 – USINA DE ITAIPU FONTE: ITAIPU (2013) Projetistas e construtores de grandes barragens foram os primeiros a reconhecer a importância da elevação da temperatura no concreto devido ao calor de hidratação, gerando fissuras devido à retração proveniente de seu resfriamento. (MEHTA e MONTEIRO, 2008) O aumento da temperatura é uma consequência direta da evolução do calor de hidratação do cimento, e essa retração é causada pelo fato do concreto ter a tendência de equiparar a sua temperatura com a temperatura ambiente, resultando em um gradiente térmico (FUNAHASHI e KUPERMAN, 2010). Essas fissuras causadas pelas tensões de tração oriundas da queda de temperatura prejudicam tanto a capacidade estrutural quanto a 71 durabilidade da estrutura, além da possibilidade de ocorrer infiltrações por essas fissuras prejudicando o desempenho da estrutura (FUNAHASHI e KUPERMAN, 2010). O controle das variações volumétricas é feito através do controle da temperatura de lançamento, cura com pós-refrigeração, dosagens adequadas, limitação da altura das camadas e de seus intervalos de lançamento, e pelo dimensionamento de juntas de contração, que são complementadas por dispositivos de vedação e quando necessário chavetas ou almofadas (MARQUES FILHO, 2005). Os parâmetros básicos que influenciam no projeto e na análise de estruturas de concreto massa em geral são: tipo de cimento (calor de hidratação do cimento); consumo de cimento por m³ de concreto (elevação adiabática da temperatura do concreto); litologia do agregado (difusividade térmica); temperatura ambiente; temperatura de lançamento do concreto fresco; geometria da estrutura de concreto; altura das camadas de concretagem; intervalo de lançamento das camadas de concretagem e transmissão superficial de temperatura (tipo de cura e fôrmas) (FUNAHASHI; KUPERMAN, 2010, pg 2). Sabendo que a escolha do tipo de cimento para obras de grande porte será determinada, obviamente, pela disponibilidade cotejada contra os custos de transporte, pois este tipo de empreendimento geralmente está localizado em regiões afastadas dos grandes centros urbanos, cabe a tentativa da busca pelo cimento disponível com menor calor de hidratação de preferência cimentos com adição de materiais pozolânicos, pois esse, além de reduzir o calor de hidratação desse tipo de material, melhora a trabalhabilidade e ajuda a inibir reações deletérias (MARQUES FILHO e ISAIA, 2011). Sabendo da necessidade de um concreto que respeite todas as características já pré-estabelecidas, é muito importante que se tome muito cuidado com as escolhas dos constituintes desse concreto e sua dosagem. Segundo Mehta e Monteiro (2008) através de diversos métodos é possível atingir consumos baixos de cimento, até 100 kg/m³, com isso é essencial a utilização de aditivos e adições. Geralmente, para reduzir a quantidade de água necessária, são utilizados de 4 a 8% de ar incorporado à mistura de concreto, assim como aditivos redutores de água estão sendo cada vez mais utilizados, paralelamente são utilizadas pozolanas para substituir parcialmente o cimento e assim reduzir o calor de hidratação (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Assim como há essa preocupação com a quantidade de cimento e as adições e aditivos utilizados, também é necessário um cuidado com os 72 agregados utilizados, sendo assim busca-se a utilização da maior quantidade possível de agregados graúdos (MEHTA e MONTEIRO, 2008). O processo construtivo de barragens de concreto é complexo, tendo cronogramas de execução em geral superiores a um ano (MARQUES FILHO, no prelo). Cada lançamento efetuado inicia durante o processo de endurecimento o desencadeamento da geração de calor pela reação de hidratação, recebendo restrições das camadas anteriores, cada uma com sua característica de resistência, módulo de elasticidade, coeficientes de fluência que variam com o tempo; e também, gerando continuamente calor (MARQUES FILHO, 2005). Os estudos térmicos consistem em análises de temperaturas oriundas da liberação de calor gerada pela hidratação dos compostos do cimento e das tensões geradas pela retração térmica do concreto, basicamente dividem-se em duas etapas: cálculo das evoluções de temperaturas do concreto e análise das tensões e/ou deformações térmicas resultantes na estrutura quando de seu resfriamento (FUNAHASHI e KUPERMAN, 2010). Na prática, os principais desafios do projeto de estruturas de concreto massa são a maximização da espessura das camadas de concreto e a minimização do tempo de lançamento entre elas, sem resultar na ocorrência de um quadro fissuratório (FUNAHASHI e KUPERMAN, 2010). A (FIGURA 20) apresenta o campo de temperaturas simulado via Método dos Elementos Finitos em seção de barragem de concreto à gravidade. FIGURA 20 – MODELO DE DIMENSIONAMENTO EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA E ANÁLISE GRÁFICA DAS VARIAÇÕES VOLUMÉTRICAS FONTE: MARQUES FILHO (2012) 73 Além da utilização de menos cimento, aditivos e adições especiais para tentar controlar o calor de hidratação existem técnicas tanto de pré-resfriamento como de pós-resfriamento, para tentar conter esse calor gerado. Essas técnicas começaram e serem utilizadas nas décadas de 1930 e 1940. A principal técnica de pós-resfriamento é a circulação de água fria através de tubos de aço com paredes finas embutidos previamente no concreto, tipicamente os tubos tem 25 mm de diâmetro e 1,5 mm de espessura, o espaçamento entre os tubos e as espessuras das camadas variam para limitar a temperatura máxima à um nível projetado (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Como medidas para o pré-resfriamento são utilizadas as seguintes técnicas: utilização de gelo como parte da água de amassamento, para limitar a temperatura do concreto fresco; o resfriamento dos agregados seja com água fria ou com nitrogênio, para da mesma forma limitar a temperatura do concreto fresco. O controle da temperatura de lançamento é muito importante para evitar a fissuração do concreto massa (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Sendo assim podemos observar que são necessários vários cuidados na utilização de concreto massa, para que o mesmo apresente a trabalhabilidade adequada e a resistência requerida tentando abrandar a geração de calor de hidratação para evitar fissurações futuras. 4.1.1.2. Concreto Compactado com rolo (CCR) O conceito de concreto compactado com rolo causou uma grande mudança na prática de construção de barragens de concreto massa. O processo tradicional utilizado junto ao concreto massa é lento, e a aplicação de equipamentos de terraplanagem fez com que a construção de barragens se tornasse mais rápida (MEHTA e MONTEIRO, 2008). O CCR é uma técnica construtiva, com peculiaridade de uso intensivo de equipamentos tipicamente empregados em obras de terra/enrocamento, procurando obter um máximo desempenho no quesito velocidade de lançamento, aliado a custos baixos e teores de cimento relativamente pequenos para diminuição dos efeitos das variações volumétricas de origem termogênica do concreto (MARQUES FILHO e ISAIA, 2011). 74 A execução do concreto compactado com rolo aplica os processos executivos usualmente utilizados em obras de terra, durante as fases de colocação (com espalhamento) e compactação. O transporte geralmente é executado por caminhões basculantes ou correias transportadoras. O espalhamento é utilizando tratores de esteiras cujas lâminas colocam o concreto na posição final e acertam a espessura para compactação. E para compactação são utilizados rolos compactadores vibratórios (MARQUES FILHO, 2005). As barragens de CCR têm características gerais de projeto e comportamento estrutural muito similar aos modelos usualmente adotados para concreto convencional, que são largamente conhecidos e estudados, tendo como base vários protótipos em funcionamento (MARQUES FILHO, 2005). A (FIGURA 21) apresenta a UHE Ney Braga, antiga UHE Santo Caxias, cuja barragem utiliza CCR. FIGURA 21 – UHE SALTO CAXIAS FONTE: UHE MAUA (2005) A aplicação do CCR iniciou-se em pavimentos e em concretos de regularização, com uso contínuo desde a década de 20, principalmente como base de pavimentos e pistas aeroportuárias, sendo que a primeira obra de grande porte de CCR foi construída nos Estados Unidos da América, a barragem de Willow Creek, em 1982, com 52 m de altura e um volume colocado de CCR de 317.000 m3 (MARQUES FILHO e ISAIA, 2011). 75 O controle de qualidade do CCR envolve basicamente duas operações: inspeção e ensaios (KUPERMAN e ISAIA, 2005). Além da preocupação com as variáveis para que tenhamos um produto final de qualidade, o processo também depende de mão-de-obra qualificada (KUPERMAN e ISAIA, 2005). Enquanto as barragens utilizando concreto massa utilizam em geral camadas cuja espessura variam entre 2,0 m e 2,5 m, o método construtivo utilizando o CCR impõe valores entre 0,25 e 0,50 m, aumentando consideravelmente a quantidade de juntas horizontais ao longo de toda a barragem, com isso é necessário um maior cuidado com a possibilidade de percolação de água, assim como a garantia de ligação entre as camadas. Tal fato aliado à necessidade da consistência seca trouxe muita dúvida no começo da utilização de CCR (MARQUES FILHO, 2005). As figuras 22 e 23 apresentam a construção das barragens da UHE Mauá e UHE Salto Caxias, nelas podem-se observar o pátio de construção assim os equipamentos e processo de execução do CCR. FIGURA 22 – BARRAGEM da UHE MAUÁ NA FASE FINAL CONSTRUÇÃO FONTE: UHE MAUA (2013) Segundo Mehta e Monteiro (2008), o CCR não requer cimentos especiais, porém recomenda-se a utilização daqueles com baixo calor de hidratação. Há uma ampla utilização de adições minerais que visam diminuir a temperatura assim como melhorar a trabalhabilidade, geralmente são usados cinzas volantes, escórias e pozolanas naturais, além dessas também são utilizados aditivos incorporadores de 76 ar e redutores de água. Geralmente a dimensão máxima do agregado graúdo é limitada em 38mm sendo que aqueles com dimensões superiores à 76mm raramente são utilizados, pois podem causar problemas na compactação e espalhamento, a distribuição granulométrica é extremamente importante para o CCR, sendo a utilização de material mais fino que 75µm produz uma mistura mais coesa (MEHTA e MONTEIRO, 2008). FIGURA 23 – PRAÇA TIPA DA BARRAGEM DE SALTO CAXIAS FONTE: MARQUES FILHO (2012) É muito importante o conhecimento das propriedades do CCR antes do inicio das obras, para que sejam garantidos o grau de compactação necessário assim como a resistência esperada, sendo assim pela peculiaridade do processo os ensaios tradicionais de concreto tiveram que ser adaptados ao CCR (KUPERMAN e ISAIA, 2005). Segundo Marques Filho e Isaia (2011) os estudos em cima do CCR devem ser realizados nas seguintes categorias: Concreto fresco, para evitar a segregação, adaptar-se às condições climáticas e possuir trabalhabilidade compatível com os equipamentos utilizados; Concreto endurecido, garantir a durabilidade da obra solicitada às condições ambientais durante a vida útil e apresentar propriedades reológicas compatíveis com os modelos utilizados em projeto; 77 Custo e disponibilidade, pois as soluções e dosagens devem se adaptar aos materiais disponíveis na região do aproveitamento, seu custo de produção e transporte; Controle da qualidade, a solução deverá contemplar sistema de controle e garantia da qualidade compatíveis com a responsabilidade da estrutura. Monitoramento, possibilidade de verificar o comportamento durante a vida útil para que seja feita uma análise de segurança e assim a durabilidade durante a vida útil seja garantida. 4.1.2. Exploração do Subsolo Segundo um levantamento efetuado em 1983, para as barragens de concreto e alvenaria, 75% dos casos de deterioração que ocasionaram acidentes ocorreram na fundação. Estes casos surgem principalmente devido à característica cíclica da subida e diminuição do nível do reservatório, que acabam por alterar progressivamente o comportamento hidromecânico do maciço. Assim, são necessárias medidas para aumentar a capacidade resistente da fundação e da interface barragem-fundação, assim como diminuir a subpressão na fundação (BRETAS et al., 2010). O material ideal da fundação de uma barragem seria aquele pouco permeável, de elevada resistência e baixa deformabilidade. Entretanto, nem sempre essas recomendações são possíveis (LEVIS, 2006). Devido à dificuldade em se encontrar um terreno perfeito para a instalação de uma barragem, é necessário que seja feito um estudo bastante aprofundado do subsolo para que o dimensionamento da barragem seja feito de maneira mais precisa. O fato de as barragens estarem dispostas sobre meios heterogêneos e anisotrópicos faz com que a identificação destes cenários só seja possível a partir da observação contínua de cada obra específica (BRETAS et al., 2010). Segundo Das (2007) para projetos de fundação e obras de construção devese conhecer a estratificação real do solo no local, sendo assim para as grandes estruturas deve ser realizada uma exploração do subsolo. 78 Todos os cenários de ruptura que envolvam aspectos relacionados com a fundação devem ser analisados com cautela, pois dependem de aspectos específicos de cada obra e necessitam ser contextualizados com os dados disponíveis do local ou a serem recolhidos com este objetivo. Caso não se adote este procedimento a análise pode basear-se em pressupostos incorretos (BRETAS et al., 2010) Um programa de exploração do subsolo pode ser dividido em quatro fases: compilação das informações existentes relacionadas à estrutura, onde são pesquisados o tipo da estrutura à ser construída assim como seu uso, e previsões de cargas; Coleta de informações existentes para as condições de subsolo, como mapas geológicos, mapas de solos de condados, manuais de solo publicados pelos departamentos rodoviários estaduais e relatórios já existentes de estruturas próximas; Reconhecimento do locas da construção proposto; Investigação detalhada do local, nesta fase são realizadas várias sondagens no local assim como diversos ensaios de laboratório a partir das amostras (DAS, 2007) Para isso caracterizar a rocha da fundação é realizada a testemunhagem da rocha, onde testemunhos são retirados através de uma perfuração rotativa (DAS, 2007). No final da exploração e amostragem é realizado um relatório de exploração do solo que é preparado para se usado no projeto e assim ajudar na escolha da melhor solução de barramento possível, sempre respeitando os critérios de segurança. As seguintes informações devem estar presentes em tal relatório: 1. Escopo da investigação; 2. Descrição geral da estrutura proposta; 3. Condições geológicas do local; 4. Detalhes da perfuração; 5. Descrição das condições de subsolo, determinadas a partir das amostras; 6. Detalhes da perfuração; 7. Nível do lençol freático; 8. Detalhes das recomendações para fundações; 9. Problemas de construções previstos; 10. Limitações da investigação. 79 4.1.3. Conceito de Subpressão A descoberta de um local com as características ideais para a implementação de qualquer obra geotécnica em geral e de uma barragem em particular, é um dos passos mais importantes em todo o processo (GAMA, 2012). O entendimento da ação da subpressão, no final do século XIX revolucionou o futuro dos tratamentos de fundações de barragens. A execução de vedações com cortinas de injeção de cimento, associadas com drenagem, passou a ser, desde então, de suma importância para a segurança e viabilidade econômica das obras (LEVIS, 2006). A contribuição fundamental foi dada por Lévy, cuja análise da ruptura da barragem de Bouzey pôs em evidência a importância da subpressão na estabilidade global destas estruturas (BRETAS et al., 2010) De acordo com LEVIS (2006) “A supressão pode ser entendida como o esforço exercido em uma estrutura ou em sua fundação, no sentido ascendente, em função da pressão decorrente da percolação de água através dos maciços de concreto, rochoso ou de terra”. Segundo Serafim apud Marques Filho (2005) em meios porosos como a rocha e o concreto, a efetividade de aplicação do esforço chega a mais de 90%, ou seja, para a determinação numa seção qualquer da força aplicada pela pressão neutra deve ser considerada 90% de sua área de aplicação. A subpressão atua no alívio do peso da estrutura, de forma a reduzir sua resistência ao deslizamento e levar a estrutura a uma condição menos segura (OLIVEIRA, 2008). De acordo com apud Sherard et al. (1963) apud Oliveira (2008), a subpressão pode causar dois tipos de ameaça para a segurança da barragem, o primeiro seria o fato de que a pressão de água ao longo da fundação tende a aliviar o peso de concreto e o segundo seria a influência que a subpressão tem em relação as tensões na base, pois parte da tensão é atenuada por ela. Vários critérios de determinação da subpressão foram estudados, sendo estes, em sua maioria, métodos empíricos. Tentativas empíricas para desenho de diagramas de subpressão não estão erradas, mas podem ser penosas, dependendo da geologia, como em fundações com alta variabilidade; além de caras e conservadoras, em determinados casos métodos probabilísticos para análise deste problema são raros e pouco disponíveis. Portanto, há interesse em retro analisar 80 dados existentes e aferir se métodos probabilísticos conseguem fornecer estimativas dentro de limites de confiabilidade conhecidos (LEVIS, 2006). Segundo Guimarães (1988) apud Levis (2006) a experiência tem mostrado que a forma do diagrama de subpressão que se estabelece sob o maciço da barragem é função direta da geometria da obra e do esquema de tratamento adotado. Para enfrentar os problemas de construção de obras com reservatórios sobre espessas camadas de terra e rochas permeáveis vem sendo desenvolvidos diversos métodos que tem possibilitado que as edificações tenham uma maior segurança (JARDIM, 1989). A (FIGURA 24) mostra os principais cuidados tomados no projeto de barragem à gravidade com relação à subpressão, como face de permeabilidade controlada, cortina de injeções e cortinas de drenagem. Concreto – permeabilidade controlada Cortina de Drenagem Galeria de drenagens Cortina de Injeções FIGURA 24 – SEÇÃO TÍPICA DE BARRAGEM DE CONCRETO A GRAVIDADE FONTE: MARQUES FILHO (2012) Sabendo que a permeabilidade é fundamental para os processos físico e químico de deterioração do concreto é muito importante um estudo dos fatores que 81 controlam essa permeabilidade (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Assim, segundo Marques Filho (2012), tanto a permeabilidade quanto a possibilidade de geração de pressões neutras no maciço são fundamentais para a durabilidade da estrutura. Além dos cuidados com a permeabilidade e com a fissuração, são muito importantes as ações para a diminuição dos defeitos de concretagem em obras maciças, cujos casos mais comuns são caminhos preferenciais de percolação gerados por juntas de concretagem mal preparadas, e porosidades geradas por adensamento insuficiente (IBRACON 1989 apud MARQUES FILHO, 2005). Marques Filho (2005) salienta os ensaios que preconizam a passagem de água sob pressão em corpos-de-prova cilíndricos de concreto, medindo a água percolada e aplicando a Lei de Darcy para corpos porosos. Darcy publicou uma equação (EQUAÇÃO 01) para a velocidade de percolação de água através de solos saturados, cuja possui uma relação linear entre gradiente hidráulico i e um coeficiente de condutividade hidráulica k (DAS, 2007). (01) Para tentar limitar essa percolação de água pelo maciço rochoso a face de montante da barragem é composta por concreto menos permeável que o concreto do resto do maciço, sabendo que permeabilidade do é menor com a diminuição da relação água/cimento, o que aumentaria em tese o consumo de cimento, buscam-se concreto com utilização de aditivos, pozolanas como substituição de parte do cimento Portland, utilização de fíler na forma de agregado pulverizado ou pozolana para que evitar o calor de hidratação (MARQUES FILHO, 2005). As cortinas de impermeabilização são realizadas de modo a impedir a circulação de água sob barragens ou outras estruturas, ou apenas reduzi-la até um ponto que possa ser controlada, segura e economicamente, por métodos de drenagem, tal controle é atingido através da execução de uma ou mais fiadas de furos na fundação de uma barragem, usualmente paralelos ao alinhamento da barragem ou perpendiculares ao sentido de escoamento da água (GAMA, 2012). A cortina é então executada, preenchendo as fissuras do maciço com calda à base de cimento ou outro material. Teoricamente, a cortina necessita apenas de ser de uma determinada largura, sendo que em termos práticos aquela que é obtida será superior à necessária em algumas zonas e, possivelmente, não o suficiente em outras, devido à variação das condições geológicas subsuperficiais (GAMA, 2012). 82 Segundo Gama (2012) a maioria das injeções é realizada com caldas à base de cimento Portland misturado com água numa misturadora de velocidade elevada com razão A/C entre 5:1 a 0,5:1 (Fell et al., 2005) de modo a obter-se uma calda capaz de penetrar os defeitos do maciço da fundação. Outra maneira de tentar limitar essa percolação e diminuir a supressão é utilização concomitantemente à cortina de injeções de cortinas de drenagem. Segundo Porto (2002) apud Levis (2006), as cortinas de drenagem são constituídas de furos igualmente espaçados e dispostos logo a jusante da cortina de injeção profunda, cujo objetivo consiste em drenar as águas que fluem através do maciço e aliviar as subpressões impostas pela carga hidráulica do reservatório. Além dessa cortina, é indispensável a presença de drenos que interceptem as fraturas capazes de conduzir água dentro do maciço e que sua cota seja a menor possível, pois quanto mais perto do solo esses drenos forem instalados mais será o alívio da subpressão na base da barragem (GUIMARÃES 1988 apud LEVIS, 2006). A experiência e as análises de desastres evidenciaram a necessidade dessas técnicas para aliviar a subpressão e aumentar a segurança da barragem por garantir sua estabilidade. Stharly (1966) apud Levis (2006) reafirma que em um terreno homogêneo, para escoamento em regime permanente, a distribuição das subpressões depende somente das disposições geométricas: forma da obra, situação e espaçamento dos drenos, e independe do coeficiente permeabilidade, ou seja, o terreno poderá ser mais ou menos permeável, mas a pressão será a mesma, resultando daí que, uma rede de drenagem terá o mesmo efeito nas subpressões em qualquer terreno variando apenas a vazão nos drenos. Com isso fica evidenciando a necessidade de novos estudos e desenvolvimento de novas tecnologias para empreendimentos futuros para baratear o custo e evitar novos acidentes. A maioria das recomendações de projeto considera, a favor da segurança, que os esforços são aplicados na totalidade das seções analisadas (MASON, 1988 apud MARQUES FILHO, 2005). Segundo Marques Filho (2005), o campo independe dos esforços internos das estruturas, devendo ser considerado nas análises de equilíbrio interno e externo. Para efeito de análise mecânica surgem os conceitos conforme a (FIGURA 25): Tensão total, ou seja, aquela que decorrente do estudo do equilíbrio da seção em estudo; 83 Tensão neutra, que corresponde ao campo de tensões gerado pela percolação, que é função única do meio poroso e das condições dos níveis de água às quais o corpo está submetido; Tensão efetiva, como aquela realmente aplicada aos pontos materiais componentes da estrutura, sendo numericamente igual à diferença entre tensão total e a tensão ou pressão neutra ou subpressão. FIGURA 25 – DIAGRAMAS DE TENSÕES EM BARRAGENS DE CONCRETO À GRAVIDADE FONTE: MARQUES FILHO (2005) 84 5. ANÁLISE DE ESTABILIDADE GLOBAL DA ESTRUTURA Para entendimento dos fenômenos envolvidos em obras hidráulicas, é necessária uma análise da seção da barragem, estudando seus principais componentes assim como todos os carregamentos, juntamente dos componentes de subpressão. Além dessa análise, outras incógnitas são levadas em consideração no dimensionamento de uma barragem, são elas: o efeito da reação termogênica do cimento; os cuidados com a geometria da estrutura e da fundação para evitar concentração de tensões; o efeito da fluência (MARQUES FILHO e ISAIA, 2011). Segundo (Andriolo e Sarkaria, 1995 apud Marques Filho, 2005), em obras de barragens a gravidade, as resistências ao cisalhamento são determinantes do material ao invés da resistência à compressão ou tração, excetuando-se as situações onde existam terremotos. Para que a segurança possa ser garantida de maneira que respeite todos os critérios estabelecidos, como da mesma maneira, todas as parcelas relevantes para o dimensionamento possam ser levadas em consideração são necessários vários estudos assim como um controle bastante rígido de todo o processo. Segundo Marques Filho (2012) na análise de segurança global a barragem é considerada como corpo rígido e suas seções são consideradas planas. Apesar dos modelos serem complexos e de serem necessários cuidados especiais com a drenagem e a percolação, a partir de condições fictícias, mas de fácil conceituação, uma avaliação das condições gerais de estabilidades é possível de ser feita. Nessa análise será verificado se a estrutura está dentro da probabilidade de ruína aceita, para tal são consideradas configurações de carregamento com diferentes probabilidades de ocorrência e com isso a seção é analisada à flutuação, ao tombamento, ao deslizamento, assim como também são analisadas as tensões aplicadas na seção (MARQUES FILHO, 2012). 85 FIGURA 26 – ESQUEMA COM OS PRINCIPAIS CARREGAMENTOS FONTE: NOVAK et al. (2004) 5.1. AÇÕES ATUANTES Conforme Tamashiro (2008), as principais ações atuantes em barragens de gravidade para a análise de estabilidade global são: Peso Próprio e sobrecargas; Pressões Hidrostáticas; Subpressão e Pressões intersticiais nos poros de concreto; Pressões Hidrodinâmicas; Empuxos de materiais assoreados; Forcas sísmicas. 5.1.1. Peso Próprio O peso próprio de uma barragem de concreto é definido pelo produto do volume da barragem pelo peso específico do concreto utilizado. O peso específico do concreto massa – CCR e simples, segundo a Eletrobrás (2003), varia entre 21 e 26 kN/m³ em função do agregado aplicado. Usualmente são feitas análises de estabilidade bidimensionais, considerando a barragem representada por uma seção 86 com largura unitária. Assim, a (EQUAÇÃO 02) apresenta o peso de uma seção transversal por unidade de comprimento. (02) onde, P: Peso Próprio da Barragem; V: Volume da estrutura, usualmente considerado como a área da seção típica; γconc: peso específico do concreto. 5.1.2. Pressões Hidrostática Segundo a Eletrobrás (2003), as pressões hidrostáticas são funções lineares dos níveis de água a montante e jusante da estrutura de barramento. São representadas através de diagramas triangulares ou trapezoidais. Para a análise de estabilidade global das estruturas, as cargas hidrostáticas devem ser consideradas como atuando também nas áreas de aberturas, ou seja, nestas análises, as aberturas não devem ser consideradas. Devido ao seu diagrama linear, o empuxo hidrostático, força resultante das cargas hidrostáticas, é aplicado a 2/3 do nível d’água. Seu valor pode ser obtido através da (EQUAÇÃO 03). (03) onde, E: Empuxo Hidrostático; Hm,j: nível d’água de montante (m) ou nível da água de jusante (j); γágua: peso específico da água. B: largura da seção. 5.1.3. Subpressão – Pressão Intersticiais no Concreto A conceituação de subpressão e a importância do seu estudo numa barragem de concreto é assunto abordado no item 4.1.3 do presente trabalho. A determinação da subpressão nos projetos de barragens de gravidade é usualmente feita com base em critérios internacionalmente conhecidos, como o 87 critério do U. S. Army Corps of Engineers (1995) e o critério do U. S. Bureau of Reclamation (1976), bem como o critério da Eletrobrás (2003). A seguir são apresentados estes critérios. 5.1.3.1. Eletrobrás (2003) Segundo a Eletrobrás (2003), em fundações contínuas, a subpressão deverá ser admitida como atuando sobre toda a área da base, sendo na extremidade de montante a subpressão igual à altura hidrostática montante (Hm), a partir do nível d’água especificado para o reservatório e na extremidade de jusante igual à altura hidrostática de jusante (Hj) a partir do nível d’água especificado a jusante. Conforme a Eletrobrás (2003), em caso da não existência de drenos ou de drenos inoperantes a subpressão varia linearmente entre os valores de montante e jusante, mostrados na (FIGURA 27). FIGURA 27 – SUBPRESSÃO SEM LINHA DE DRENOS OU DRENOS INOPERANTES E PRESSÕES HIDROSTÁTICAS FONTE: ELETROBRÁS (2003) Na verificação de estabilidade global nas seções de contato concreto/rocha sempre que surgirem tensões de tração a montante deverá ser admitida abertura de fissura na seção. O critério da Eletrobrás (2003) orienta que no contato aberto (região onde há tensões de tração) o valor da subpressão Hm deverá ser empregado 88 integralmente, variando linearmente até o valor de Hj conforme mostra a (FIGURA 28). FIGURA 28 – SUBPRESSÃO COM ABERTURA DE FISSURA DEVIDO AO SURGIMENTO DE TENSÕES DE TRAÇÃO E PRESSÕES HIDROSTÁTICAS FONTE: ELETROBRÁS (2003) Para o caso em que houver uma linha de drenos operantes e que a cota inferior da galeria de drenagem estiver igual ou abaixo do nível d’água de jusante, a Eletrobrás (2003) estabelece que a subpressão na linha de drenos (Hdm) será igual à altura hidrostática correspondente ao nível d’água de jusante (Hj) adicionada de um terço da diferença entre as alturas hidrostáticas a montante (Hm) e a jusante (Hj). A subpressão deverá variar linearmente até a extremidade da base a partir deste ponto, conforme (EQUAÇÃO 04). (04) onde, Hdm: subpressão na linha de drenagem; Hm: altura hidrostática à montante; Hj: altura hidrostática à jusante. Para o caso em que houver uma linha de drenos operantes e que a cota inferior da galeria de drenagem estiver acima do nível d’água de jusante, a Eletrobrás (2003) estabelece que a subpressão na linha de drenos seja determinada 89 considerando-se hg ao invés de Hj, onde hg é a dimensão compreendida entre a cota da linha de interseção dos drenos com o plano de análise e a boca dos drenos, conforme (EQUAÇÃO 05). (05) onde, Hdm: subpressão na linha de drenagem; Hm: altura hidrostática à montante; hg: dimensão compreendida entre a cota da linha de interseção dos drenos com o plano de análise e a boca dos drenos. Ainda é feita uma observação de que a distância da extremidade de montante da estrutura até a linha de drenos para os dois casos acima não deverá ser considerada menor do que 8% da altura hidrostática máxima de montante (a ≥ 0,08 Hm, onde a é a distância da face de jusante a linha de drenagem, conforme (FIGURA 29). FIGURA 29 – SUBPRESSÃO COM UMA LINHA DE DRENOS OPERANTE FONTE: ELETROBRÁS (2003) Para o caso em que houver duas linhas de drenos operantes, a Eletrobrás define que as subpressões Hd m,j serão calculadas conforme (EQUAÇÕES 06 e 07). (06) 90 (07) onde, Hdm: subpressão na linha de drenagem mais á montante; Hdj: subpressão na linha de drenagem mais á jusante; Hm: altura hidrostática à montante; Hj: altura hidrostática à jusante; hg: dimensão compreendida entre a cota da linha de interseção dos drenos com o plano de análise e a boca dos drenos. A (FIGURA 29) apresenta o diagrama de subpressão com uma linha de drenos operante e a (FIGURA 30), com duas. FIGURA 30 – SUBPRESSÃO COM DUAS LINHAS DE DRENOS OPERANTES FONTE: ELETROBRÁS (2003) O critério da Eletrobrás (2003) ainda ressalta que para o cálculo de subpressões em seções de concreto as considerações deverão ser as mesmas que as estabelecidas no contato concreto-fundação, sendo admitidos valores de tensões de tração maiores para o caso de seções de concreto. 91 5.1.3.2. U. S. Army Corps of Engineers (1995) O U. S. Army Corps of Engineer, segundo Tamashiro (2008), estabelece diversos casos para a consideração da subpressão em função da presença de drenos e sua localização. Para o caso sem drenagem, a distribuição da subpressão é feita como mostrada a seguir, totalmente análogo ao preconizado pelo critério da Eletrobrás, conforme apresentado na (FIGURA 31) e (EQUAÇÃO 08). FIGURA 31 – SUBPRESSÃO SEM LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: TAMASHIRO (2008) (08) onde, HX: subpressão no ponto X; H1: nível de água a montante; H2: nível de água a jusante; L: comprimento da barragem; X: distância em relação à jusante onde se pretende determinar o valor da subpressão; γ: peso específico da água. 92 Para o caso com galeria de drenagem, onde a linha do dreno intercepta o contato a uma distância do ponto da extremidade de montante da base maior que 5% da altura hidrostática à montante (0,05 x H1), a subpressão na linha de drenagem será considerada como apresentado na (FIGURA 32) e (EQUAÇÕES 09 a 11). FIGURA 32 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM COM X > 0,05 H1 – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: TAMASHIRO (2008) Para X > 0,05 H1: (09) Para H4 > H2: (10) Para H4 < H2: (11) onde, 93 H1: nível de água a montante; H2: nível de água a jusante; H3: subpressão na linha da galeria de drenagem; H4: altura da galeria de drenagem em relação à base; L: comprimento da base da barragem; X: distância da galeria de drenagem em relação a montante; E: eficiência da galeria de drenagem expressada em porcentagem (de 25 a 50%). Para o caso com galeria de drenagem, onde a interseção da linha do dreno com o contato fundação-estrutura estiver a uma distância menor ou igual a 5% da altura hidrostática à montante (0,05 x H1) do ponto da extremidade de montante da base, a subpressão na linha de drenagem será considerada conforme apresenta a (FIGURA 33) e (EQUAÇÕES 12 a 14). FIGURA 33 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM COM X ≤ 0,05 H1 – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: TAMASHIRO (2008) Para X ≤ 0,05 H1: (12) 94 Para H4 > H2: (13) Para H4 < H2: (14) onde, H1: nível de água a montante; H2: nível de água a jusante; H3: subpressão na linha da galeria de drenagem; H4: altura da galeria de drenagem em relação à base; L: comprimento da base da barragem; X: distância da galeria de drenagem em relação a montante; E: eficiência da galeria de drenagem expressada em porcentagem (de 25 a 50%). Para o caso em que aparecem tensões de tração na região a montante da estrutura, admite-se a abertura de fissura na mesma. Quando a região tracionada não se estender além dos drenos, a subpressão na linha dos drenos é obtida conforme apresentado na (FIGURA 34) e (EQUAÇÕES 15 a 17). 95 FIGURA 34 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM E ABERTURA DE FISSURA ENTRE FACE MONTANTE E LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: TAMASHIRO (2008) Para T ≤ X: (15) Para H4 > H2: (16) Para H4 < H2: (17) onde, H1: nível de água a montante; H2: nível de água a jusante; H3: subpressão na linha da galeria de drenagem; H4: altura da galeria de drenagem em relação à base; L: comprimento da base da barragem; X: distância da galeria de drenagem em relação a montante; 96 E: eficiência da galeria de drenagem expressada em porcentagem (de 25 a 50%). T: comprimento da região descolada da base. Para o caso em que a região tracionada se estender além da linha de drenagem, a subpressão será considera plena em toda a região tracionada e variará linearmente até o mais à jusante, conforme (FIGURA 35) e (EQUAÇÃO 18). FIGURA 35 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM E ABERTURA DE FISSURA ALÉM DA LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: TAMASHIRO (2008) Para T > X: (18) 5.1.3.3. U. S. Bureau of Reclamation (1976) Segundo o U. S. Bureau of Reclamation (1976), estudado por Tamashiro (2008), o diagrama de subpressão é formado por trechos retilíneos que interligam pontos com valores de subpressão definidos a partir do pé de montante e jusante. 97 Com a existência de galeria de drenagem, a redução da subpressão na linha dos drenos corresponde a 2/3 (eficiência de 66,67%) da diferença dos níveis de água de montante e de jusante (FIGURA 36). Esta redução é baseada nos dados de obras construídas pelo órgão e apresentada na (EQUAÇÃO 19). FIGURA 36 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM – CRITÉRIO U. S. BUREAU OF RECLAMATION FONTE: TAMASHIRO (2008) (19) onde, H3: subpressão na linha da galeria de drenagem; Hm: altura hidrostática à montante; Hj: altura hidrostática à jusante. Quando do aparecimento de tensões de tração a montante da seção, a consideração feita por este critério é a mesma feita pelo critério do U. S. Army Corps of Engineers (1995), admitindo-se a abertura de fissura na região, conforme (FIGURA 37) e (EQUAÇÃO 20). 98 FIGURA 37 – SUBPRESSÃO COM LINHA DE DRENAGEM E ABERTURA DE FISSURA – CRITÉRIO U. S. BUREAU OF RECLAMATION FONTE: TAMASHIRO (2008) (20) onde, H3: subpressão na linha da galeria de drenagem; Hm: altura hidrostática à montante; Hj: altura hidrostática à jusante; X: distância da galeria de drenagem em relação a montante; T: comprimento da região descolada da base. 5.1.4. Empuxo Devido a Presença de Material Assoreado Segundo a Eletrobrás (2003), caso haja possibilidade de deposição de sedimentos junto ao pé da face de montante da barragem, deverá ser considerado um empuxo resultante, calculado através da formulação de Rankine, que despreza a coesão, como apresentado na (EQUAÇÃO 21) e (FIGURA 38). 99 (21) onde, Ps: força horizontal de assoreamento em kN/m; γ: peso específico do sedimento; γágua: peso específico da água; γsub: γ - γágua; hs: altura de cálculo; φ: Ângulo de atrito interno. FIGURA 38 – FORÇA DE EMPUXO DEVIDO A SEDIMENTOS NO PÉ DE MONTANTE DA BARRAGEM FONTE: ELETROBRÁS (2003) 5.1.5. Ações Sísmicas Segundo Gutstein (2011), para a análise a estabilidade global de estruturas submetidas ao sismo, é usual o emprego de métodos simplificados como a análise pseudo-estática. Nesse tipo de análise se estabelecem os esforços estáticos capazes de simular os efeitos causados pelos movimentos sísmicos, que são os esforços hidrodinâmicos, os empuxos de terra com os efeitos do sismo quando houver e esforços inerciais, determinados a partir do peso próprio da estrutura. Adota-se uma aceleração sísmica característica multiplicadora da aceleração da gravidade (g), incorporando à estrutura ações características devido ao terremoto. Segundo Gutstein, a análise quanto ao sismo, na prática, é feita da mesma forma que a adotada para a análise quanto ao sismo induzido pela ação do reservatório, considerando-se as acelerações definidas nos sismos de projeto. 100 Conforme Gutstein (2011), o efeito sísmico considerado no projeto de barragens brasileiras corresponde ao sismo induzido pela acomodação do reservatório. Segundo Eletrobrás (2003), para estruturas de concreto assente sobre fundações em rocha, deverão ser considerados nos cálculos de estabilidade, os esforços inerciais mínimos de 5% da aceleração da gravidade na direção horizontal e 3% da aceleração da gravidade na direção vertical, aplicados no centro de gravidade da respectiva estrutura, sendo “g” o valor da aceleração da gravidade em m/s² (FIGURA 39). FIGURA 39 – FORÇAS SÍSMICAS NA BARRAGEM FONTE: ELETROBRÁS (2003) FIGURA 40 – PRESSÕES HIDRODINÂMICAS DEVIDO A AÇÕES SÍSMICAS FONTE: ELETROBRÁS (2003) Segundo Gutstein (2011), o sentido das forças aplicadas ao centro de gravidade da estrutura pode variar conforme as ações atuantes e condições de 101 carregamento para estruturas de gravidade de concreto. Gutstein (2011) ainda ressalta que demais ações devidas a peso próprio sob o plano de análise, também devem ser consideradas, aplicando-se os respectivos esforços inerciais no seu centro de gravidade. É o caso de um eventual peso de água a jusante, que deve ser calculado e aplicado Fy e Fh no centro de gravidade da figura geométrica que representa a água na região, e assim por diante, considerando a aceleração do projeto em análise. Para a análise da pressão de água gerada pelo fluído, outros estudos também podem ser feitos baseados em critérios internacionais. Entre os critérios internacionais mais conhecidos estão as formulações de Zanger (1953) apud Davis e Sorensen (1969) e U. S. Bureau of Reclamation (1987) e a de Westergaard citada em U. S. Army Corps of Engineers (1995). 5.2. CONDIÇÕES DE CARREGAMENTO O manual para Projeto de Usinas Hidrelétricas da Eletrobrás (2003) indica quatro condições de carregamentos para a verificação da estabilidade global das estruturas de concreto e cálculos das tensões: Condição de Carregamento Normal (CCN): Corresponde a todas as combinações de ações que apresentem grande probabilidade de ocorrência ao longo da vida útil da estrutura, durante a operação normal ou manutenção de rotina da obra, em condições hidrológicas normais (ELETROBRÁS, 2003). Condição de Carregamento Excepcional (CCE): Corresponde a uma situação de combinação de ações com baixa probabilidade de ocorrência ao longo da vida útil da estrutura. Em geral, estas combinações consideram a ocorrência de somente uma ação excepcional, tais como, condições hidrológicas excepcionais, defeitos no sistema de drenagem, manobras de caráter excepcional, efeitos sísmicos, etc. com as demais ações correspondentes a condição de carregamento normal (ELETROBRÁS, 2003). Condição de Carregamento Limite (CCL): Corresponde a uma situação de combinação de ações com muito baixa probabilidade de ocorrência ao longo 102 da vida útil da estrutura. Em geral, estas combinações consideram a ocorrência de mais de uma ação excepcional, tais como, condições hidrológicas excepcionais, defeitos no sistema de drenagem, manobras de caráter excepcional, efeitos sísmicos, etc. com as demais ações correspondentes a condição de carregamento normal (ELETROBRÁS, 2003). Condição de Carregamento de Construção (CCC): Corresponde a todas as combinações de ações que apresentem probabilidade de ocorrência durante a execução da obra. Podem ser devidas a carregamentos de equipamentos de construção, a estruturas executadas apenas parcialmente, carregamentos anormais durante o transporte de equipamentos permanentes, e quaisquer outras condições semelhantes, e ocorrem durante períodos curtos em relação à sua vida útil (ELETROBRÁS, 2003). Segundo Gutstein (2011), para casos de carregamentos de barragens localizadas em regiões sísmicas são abordados critérios internacionais como os critérios de U. S. Army Corps of Engineers (1995) e de U. S. Bureau of Reclamation (1976). O critério de U. S. Army Corps of Engineers (1995) inclui nas condições básicas de carregamento aquelas que consideram os efeitos sísmicos que dependem da magnitude do terremoto e o momento no qual o mesmo é aplicado na estrutura (GUTSTEIN, 2011), apresentados nas (FIGURAS 41 a 43). As condições de carregamentos para verificação quanto aos sismos segundo o U. S. Army Corps of Engineers (USACE) são: Condição limite (Extreme loading condition – N° 4 do USACE) – caso de construção com a consideração do sismo básico de operação (operation basic earthquake - OBE); (GUTSTEIN, 2011). 103 FIGURA 41 – CASO DE CARREGAMENTO Nº 4 – CONDIÇÃO LIMITE - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995) Condição excepcional (Unusual loading condition – N° 5 do USACE) – níveis de água normal de operação com o sismo básico de operação (OBE); (GUTSTEIN, 2011). FIGURA 42 – CASO DE CARREGAMENTO Nº 5 – CONDIÇÃO EXCEPCIONAL - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995) Condição limite (Extreme loading condition – N° 6 do USACE) - níveis de água normal de operação com o sismo máximo possível (maximum credible earthquake - MCE). (GUTSTEIN, 2011). 104 FIGURA 43 – CASO DE CARREGAMENTO Nº 6 – CONDIÇÃO LIMITE - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995) FONTE: U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995) As demais condições de carregamentos apresentadas no critério de U. S. Army Corps of Engineers (1995) são condições que se equivalem com as apresentadas pela Eletrobrás (2003). Os casos de carregamentos adotados por U. S. Bureau of Reclamation (1976) são: Caso Normal (Usual): analisam-se as condições equivalentes ao Caso de Carregamento Normal (CCN) exposto anteriormente com os efeitos do sismo máximo possível (maximum credible earthquake – MCE); Caso Excepcional (Unusual): analisam-se os níveis d’água máximo maximorum de projeto e demais ações conjuntas com os efeitos do sismo máximo possível (maximum credible earthquake – MCE); Caso Limite (Extreme): analisam-se a combinação de uma cheia normal de projeto e demais ações correspondentes com os efeitos do sismo máximo possível (maximum credible earthquake – MCE). No manual de pequenas barragens – U. S. Bureau of Reclamation (1987) é feito um detalhamento maior para critérios de projeto quando a consideração de terremotos, onde três níveis de carregamentos devem ser considerados: sismo 105 básico de operação (OBE - operating basis earthquake), sismo básico de projeto (DBE – design basis earthquake) e sismo máximo possível (MCE – maximum credible earthquake). Segundo Gutstein (2011), no sismo básico de operação a estrutura suporta o evento e permanece operando; no sismo básico de projeto a estrutura suporta o terremoto com danos que sejam reparáveis, exceto para aquelas estruturas, sistemas e componentes que são importantes para a segurança, que devem permanecer operáveis. As estruturas que são vitais para garantir a retenção ou liberação do reservatório devem ser dimensionadas para o carregamento devido ao sismo máximo possível (MCE). Neste caso as estruturas devem funcionar sem permitir uma liberação repentina e descontrolada do reservatório ou prever um esvaziamento controlado do reservatório. Segundo Gutstein (2011), para os terremotos indicados no U. S. Bureau of Reclamation (1987), o sismo básico de operação tem uma expectativa de ocorrer uma vez a cada 25 anos durante a operação da usina, o sismo básico de projeto uma vez em 200 anos e para o sismo máximo possível não há uma preocupação com a probabilidade de ocorrência e somente com relação a sua possibilidade de ocorrer devido às análises geológicas e sismológicas. Gutstein (2011) sugere no seu estudo que também sejam avaliados casos de carregamentos considerando drenos inoperantes e outras combinações que se julguem necessárias para cada caso particular. 5.3. VERIFICAÇÕES DE ESTABILIDADE GLOBAL As verificações de estabilidade global das estruturas de concreto, bem como da barragem, são abordadas no capítulo 7 da publicação “Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas – Eletrobrás”, de Outubro de 2003. Conforme consta nesta publicação, para tais verificações admitimos a estrutura como um corpo rígido. As verificações são feitas no sentido de avaliar a movimentação deste corpo rígido. As hipóteses adotadas como diretrizes básicas segundo o manual da Eletrobrás (2003) são: Deve-se considerar as tensões naturais de confinamento pré-existente e as pressões de água do subsolo quando tratar-se de análise de estabilidade envolvendo massas de rocha (ELETROBRÁS, 2003); 106 Deve-se considerar os resultados de investigações geológicas e geomecânicas (ELETROBRÁS, 2003); Deve-se considerar as conformações topográficas do local, principalmente na região das ombreiras (ELETROBRÁS, 2003); Deve-se considerar os efeitos de subpressão, conforme critérios já estabelecidos anteriormente, sob e no corpo das estruturas e em massas de rocha (ELETROBRÁS, 2003); Deve-se considerar, caso represente a condição mais severa, o carregamento devido a pressão intersticial (ELETROBRÁS, 2003); As cargas acidentais de projeto (exceto cargas de equipamento permanentemente fixo) devem ser completamente desprezadas em análise de estabilidade, sempre que as forças verticais atuarem como fatores de estabilidade (ELETROBRÁS, 2003). Para tais verificações, são adotados tanto critérios dessa publicação como critérios internacionais. A seguir são apresentadas as diretrizes básicas para as verificações de estabilidade global da estrutura segundo critérios da Eletrobrás (2003), U. S. Army Corps of Engineers (1995) e U. S. Bureau of Reclamation (1976). 5.3.1. Segurança à Flutuação O manual da Eletrobrás de 2003 define um “Fator de Segurança a Flutuação”, que é a relação entre o somatório das forças gravitacionais e o somatório das forças de subpressão, dado pela (EQUAÇÃO 22). (22) onde, FSF: Fator de segurança à flutuação; ∑V: Somatório das forças gravitacionais; ∑U: Somatório das forças de subpressão. 107 O critério da Eletrobrás ainda estabelece que deverão serem desprezadas quaisquer contribuições favoráveis devidas à coesão e ao atrito entre blocos ou entre a estrutura e a fundação. As forças verticais deverão incluir as cargas permanentes mínimas das estruturas, o peso próprio de equipamentos permanentes, se instalados, e de lastros (água ou aterro) e sistemas de ancoragem, se utilizados durante determinados estágios da construção. Todas as cargas acidentais deverão ser ignoradas nas verificações de estabilidade. Os critérios do U. S. Army Corps of Engineers (1995) estabelece um fator de segurança à flutuação (calculado do mesmo modo que o estabelecido pelos critérios da Eletrobrás. Já na publicação do U. S. Bureau of Reclamation (1976), não é considerada nenhuma verificação quanto à flutuação. Os fatores de segurança mínimos para os casos de carregamentos apresentados nos critérios da Eletrobrás (2003) e do U. S. Army Corps of Engineers (1995) são mostrados na (QUADRO 7). Coeficiente de Segurança FSF Coeficiente de Segurança FSF Eletrobrás Casos de Carregamento Normal Excepcional Limite Construção 1,3 1,1 1,1 U. S. Army Corps of Engineers Casos de Carregamento Usual Não Usual 1,3 1,2 1,2 Extremo 1,1 QUADRO 7 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE À FLUTUAÇÃO FONTE: OS AUTORES 5.3.2. Segurança ao Tombamento A segurança ao tombamento é calculada segundo a Eletrobrás (2003) considerando o “Fator de Segurança ao Tombamento”. O “Fator de Segurança ao Tombamento” é a relação entre o momento estabilizante (devido ao peso próprio da estrutura, as cargas permanentes mínimas e o peso próprio dos equipamentos 108 permanentes, se instalados) e o momento de tombamento (devido a atuação de cargas desestabilizantes, tais como, pressão hidrostática, subpressão, empuxos de terra, etc.) em relação a um ponto ou uma linha efetiva de rotação, calculado pela (EQUAÇÃO 23). (23) onde, FST: Fator de segurança ao tombamento. ∑Me: Somatório dos momentos estabilizantes atuantes sobre a estrutura. (ELETROBRÁS, 2003); ∑Mt: Somatório dos momentos de tombamento. Deverão ser desprezados os efeitos estabilizantes de coesão e de atrito despertados nas superfícies em contato com a fundação. (ELETROBRÁS, 2003). Segundo Marques Filho (2005), em estruturas usuais de barragens, considera-se como ponto natural de rotação o seu pé de jusante. Marques Filho (2005) ainda ressalta que a situação é fictícia, pois antes de qualquer movimento as tensões induzidas levariam a ruptura do material. O U. S. Army Corps of Engineers (1995) propõe um critério de avaliação que pode ser utilizado complementarmente ao critério da Eletrobrás (2003). A estabilidade ao tombamento para este critério é assegurada conforme o posicionamento da força resultante na base (eb) no plano potencial de ruptura, para cada caso de carregamento, por meio da (EQUAÇÃO 24). (24) onde, eb: distância da força resultante na base até o ponto de tombamento T; ∑Mt: somatório de momentos fletores das forças normais atuantes em relação ao ponto de tombamento T; ∑Ni: somatório de forças normais efetivas ao plano X e Y. Os (QUADROS 8 E 9) mostram respectivamente os valores mínimos para o critério da Eletrobrás (2003) e a posição da resultante na base que assegura a estabilidades pelo critério do U. S. Army Corps of Engineers (1995). 109 Coeficiente de Segurança FST Eletrobrás Casos de Carregamento Normal Excepcional Limite Construção 1,5 1,2 1,1 1,3 QUADRO 8 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO TOMBAMENTO - ELETROBRÁS FONTE: OS AUTORES Casos de Carregamento Usual Não Usual Extremo Localização da força resultante na base 1/3 médio 1/2 médio Na base QUADRO 9 – LOCALIZAÇÃO DA FORÇA RESULTANTE NA BASE – U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: OS AUTORES 5.3.3. Segurança ao Deslizamento Conforme Proença (2004), para a verificação da estabilidade das estruturas ao deslizamento (escorregamento), selecionam-se superfícies de ruptura possíveis, incluindo os planos de menor resistência ou submetidos à tensões críticas na estrutura, na fundação e no contato estrutura-fundação, sobre as quais a estrutura possa sofrer movimento de deslizamento como corpo rígido, conforme (FIGURAS 44 a 46). deslizamento na estrutura: FIGURA 44 – DESLIZAMENTO NA ESTRUTURA FONTE: OS AUTORES 110 deslizamento no contato estrutura/fundação: FIGURA 45 – DESLIZAMENTO NO CONTATO ESTRUTURA-FUNDAÇÃO FONTE: OS AUTORES deslizamento na fundação: FIGURA 46 – DESLIZAMENTO NA FUNDAÇÃO FONTE: OS AUTORES A análise de segurança ao deslizamento adotada pelo Manual da Eletrobrás (2003) é uma verificação entre as tensões cisalhantes resistentes e tensões cisalhantes atuantes no plano potencial de ruptura. Segundo Gutstein (2011), as tensões cisalhantes atuantes são determinadas a partir das forças gravitacionais, subpressões e de empuxos atuantes e as tensões cisalhantes resistentes são determinadas a partir do critério de ruptura de Mohr-Coulomb que é um modelo matemático que descreve, de forma simplificada, a resposta às solicitações de 111 materiais de ruptura frágil como o concreto, solos e rochas, que possuem uma resistência à compressão muito superior à sua resistência à tração. Segundo Proença (2004), uma representação que serve para compreender melhor as combinações de solicitações que levam à ruptura local de certo material resulta da construção, num sistema de eixos (σ, τ), dos círculos de Mohr máximos de tensões principais. Os círculos correspondem a diversas situações de solicitações limites, realizadas em laboratório, variando desde a tração e a compressão simples até os estados duplos e triplos. Tomando-se uma linearização por partes da envoltória, nota-se que a resposta do material muda de acordo com o regime e a intensidade das tensões (FIGURA 47). Nessas mudanças, algumas características distintas típicas dos materiais dúcteis e frágeis podem ser identificadas, e a partir dessa análise resultam sugestões mais simples de resistência. (PROENÇA, 2004). Na envoltória linearizada, distinguem-se três trechos: no trecho I a ruptura é governada pela resistência à tração pura. Um critério baseado somente nesta condição poderia ser aplicado a materiais frágeis não resistentes à tração (PROENÇA, 2004); no trecho II a ruptura é governada pela combinação, linear, das tensões de cisalhamento e normal, o que se observa em materiais granulares como o concreto, por exemplo (PROENÇA, 2004); no trecho III observa-se que não há influência de estados hidrostáticos sobre a ruptura, sendo a mesma governada pelo cisalhamento máximo, ou a semidiferença entre as tensões principais. Um critério com essas características aplica-se aos materiais dúcteis (PROENÇA, 2004). 112 FIGURA 47 – ENVOLTÓRIA LINEARIZADA DOS CÍRCULOS DE MOHR FONTE: OS AUTORES Conforme Gustein (2011), a teoria de Mohr-Coulomb une a teoria de ruptura Coulomb com a do círculo de Mohr e permite determinar uma envoltória de resistências para um material. Essa envoltória é baseada nos parâmetros de atrito e de coesão para diferentes níveis de pares de tensão normal (σ) e cisalhante (τ) de ruptura (FIGURA 47). O critério de Mohr-Coulomb deriva da adoção do trecho II da envoltória de Mohr linearizada (FIGURA 47) como limitante de estados de tensão admissíveis. Portanto, a combinação das tensões normal e de cisalhamento é a responsável pela ruptura (PROENÇA, 2004). 113 FIGURA 48 – ENVOLTÓRIA DE RESISTÊNCIA FONTE: ROCHA (1981, CITADO POR GUTSTEIN, 2011) Na (FIGURA 48) é mostrado como se obtém os parâmetros de coesão e de atrito para um dado nível de tensões normais (de σ1 a σ2) que seja de interesse para o material em análise, considerando-se que a curva τ x σ corresponde a envoltória de resistências para um dado material. Essa envoltória é obtida a partir de ensaios de laboratório e/ou de campo, obtendo-se tensões cisalhantes de ruptura para diferentes níveis de tensões normais. A equação de Coulomb é obtida a partir da envoltória de ruptura de τ x σ, para a reta pontilhada da (FIGURA 44), em função do atrito (φ) e da coesão (c). (GUTSTEIN, 2011, p. 89). Deve-se notar que a (FIGURA 48) apresenta os esforços de compressão com valores positivos. A equação de Coulomb pode ser escrita conforme (EQUAÇÃO 25). (25) onde, τ: Tensão cisalhante; c: Coesão; σ: Tensão normal; φ: Ângulo de atrito interno. 114 Conforme a Eletrobrás (2003), as análises dos fatores de segurança contra o deslizamento deverão incluir a coesão na resistência ao cisalhamento dos materiais rochosos, ou no contato concreto-rocha, a menos que as investigações ou condições existentes no campo indiquem o contrário. Devem-se utilizar como valores básicos, os parâmetros geomecânicos extraídos dos resultados de investigações e ensaios preliminares podendo se adotar nas fases iniciais de projeto, como valores de coesão e do ângulo de atrito para o maciço de fundação e seus planos de descontinuidade, aqueles já adotados em outras obras com materiais similares. Em trechos interceptados por uma superfície de deslizamento onde os parâmetros geomecânicos (atrito e coesão) são diferentes, a segurança ao deslizamento da estrutura deve ser calculada para cada trecho, admitindo-se que há ruptura de cisalhamento nos trechos onde o coeficiente de segurança necessário não é alcançado. Segundo a Eletrobrás (2003), nesse caso deve-se recalcular o trecho admitindo-se que o mesmo não tenha resistência de coesão (c = 0), e que seu ângulo de atrito seja o correspondente à condição residual (pós-ruptura). O excesso de tensão de cisalhamento não absorvido pelo trecho deve ser transferido às partes remanescentes da superfície de deslizamento, recalculando-se a segurança ao deslizamento para cada trecho sucessivamente até que os critérios sejam satisfeitos ou se verifique a necessidade de se introduzir modificações no conjunto estrutura-fundação. O manual da Eletrobrás (2003) ainda indica que deverá ser sempre verificada a compatibilidade de deformações entre os diferentes materiais, conforme o nível de solicitação atingido. O manual da Eletrobrás (2003) considera para o cálculo do Fator de Segurança ao Deslizamento duas fórmulas. A primeira (EQUAÇÃO 26) deverá ser satisfeita em caso de fundação em material com coesão, e a segunda (EQUAÇÃO 27) deverá ser satisfeita em casos com fundação em material sem coesão. (26) (27) onde, FSD: Fator de segurança ao deslizamento; FSDφ: Fator de redução da resistência ao atrito; 115 FSDc: Fator de redução da resistência à coesão; ∑Ni: Somatório das forças normais à superfície de deslizamento, em análise; φ i: Ângulo de atrito característico da superfície de deslizamento, em análise; ci: Coesão característica ao longo da superfície de deslizamento; Ai: Área efetiva comprimida da estrutura no plano em análise; ∑Ti: Somatório das forças paralelas à superfície de deslizamento. Os valores característicos serão definidos para cada caso particular e de forma adequada para cada estrutura sob análise. O (QUADRO 10) apresenta os valores de FSDφ e FSDc. Nos casos em que o conhecimento dos parâmetros de resistência dos materiais é precário ou de parâmetros muito variáveis, o critério Eletrobrás (2003) recomenda adotar os valores entre parênteses. Coeficiente de Segurança Eletrobrás Casos de Carregamento Excepcional Normal Limite Construção FSDc 3,0 (4,0) 1,5 (2,0) 1,3 (2,0) 2,0 (2,5) FSDφ 1,5 (2,0) 1,1 (1,3) 1,1 (1,3) 1,3 (1,5) QUADRO 10 – FATORES DE REDUÇÃO PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO ESCORREGAMENTO - ELETROBRÁS FONTE: OS AUTORES Os critérios de U. S. Army Corps of Engineers (1995), assim como os da Eletrobrás (2003), são baseados no critério de Mohr-Coulomb, onde a metodologia de análise ao deslizamento é feita pelo método de equilíbrio limite. Segundo Chen (1975, citado por Gutstein, 2011) o sucesso do emprego do método de equilíbrio limite esta relacionado à escolha da superfície de ruptura como sendo a crítica. Se essa superfície não for a crítica, então o fator de segurança não é o mínimo possível para a estrutura em análise e não é a solução por equilíbrio limite. A solução por equilíbrio limite é encontrada quando a superfície potencial de ruptura crítica foi encontrada e assim o menor fator de segurança ao deslizamento foi obtido. Segundo Jansen (1988, citado por Gutstein, 2011), o método do equilíbrio limite passou a ser adotado pelo U. S. Army Corps of Engineers a partir de 1981. Em termos de tensões este método permite o cálculo do Coeficiente de Segurança ao Deslizamento (FS) pela (EQUAÇÃO 28). 116 (28) onde: τ, τr: Tensão de cisalhamento atuante e resistente, respectivamente, na superfície de escorregamento; (σz – U): Tensão normal (vertical para planos horizontais) efetiva atuante na superfície de escorregamento (de compressão apenas); φ: Ângulo de atrito da superfície de escorregamento em análise; c: Coesão ao longo da superfície de escorregamento. Jansen (1988, citado por Gutstein, 2011) apresenta também comparações entre os métodos de equilíbrio limite e o método de shear-friction (U. S. Bureau of Reclamation, 1976) para planos inclinados, bem como para planos múltiplos de ruptura. Segundo Gutstein (2011), para o caso de fundação rígida e superfície de escorregamento horizontal, o uso da (EQUAÇÃO 28) seria equivalente ao da (EQUAÇÃO 26), usando-se um coeficiente global FS. Neste caso a solução calculada pela (EQUAÇÃO 28) corresponde a uma solução de equilíbrio limite sempre que a superfície potencial de ruptura adotada for a crítica para o caso em análise. Entretanto, mesmo para superfície horizontal as (EQUAÇÕES 26 e 28) fornecem resultados diferentes para casos de maciços deformáveis, quando o cálculo das tensões considerar a deformabilidade da fundação. A deformabilidade da fundação pode ser considerada por meio de modelagem computacional pelo Método dos Elementos Finitos, assunto que não será abordado no presente trabalho. O (QUADRO 11) apresenta os valores mínimos para FS segundo o critério do U. S. Army Corps of Engineers (1995). Coeficiente de Segurança FS U. S. Army Corps of Engineers Casos de Carregamento Não Usual Usual 2,0 1,7 Extremo 1,3 QUADRO 11 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO ESCORREGAMENTO - U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS FONTE: OS AUTORES 117 O U. S. Bureau of Reclamation (1976) define um critério de verificação ao deslizamento um pouco diferente do abordado pelo U. S. Army Corps of Engineers (1995), mas que equivale a adotar a (EQUAÇÃO 26), que deve ser atendida, onde FSD passa a ser um coeficiente de segurança global, ou seja, sem a redução parcial da resistência ao atrito e coesão (FSDφ=FSDc=1). Assim o Fator de Segurança ao Deslizamento (shear friction safety factor - SFF) passa a ser igual a FSD na expressão, para estas condições. Este critério define os fatores de segurança globais (SFF) mínimos para superfícies de ruptura no contato concreto-rocha diferentes de superfícies de ruptura na fundação, conforme apresentados no (QUADRO 12). Coeficiente de Segurança U. S. Bureau of Reclamation Casos de Carregamento Excepcional Normal Limite SFF (contato concreto-rocha) 3,0 2,0 1,0 SFF (fundação) 4,0 2,7 1,3 QUADRO 12 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE ESTABILIDADE AO ESCORREGAMENTO - U. S. BUREAU OF RECLAMATION FONTE: OS AUTORES 5.3.4. Avaliação das tensões Em barragens baixas ou de média altura, sobre maciços rígidos, as tensões normais verticais podem ser calculadas pelo método de gravidade (JANSEN,1988 e GRISHIN,1982 citado por GUSTEIN 2011). Segundo Tamashiro (2008), o método de gravidade adota a teoria clássica de flexão composta da Resistência dos Materiais, admitindo uma distribuição linear de tensões normais na seção transversal da barragem considerando-a um corpo rígido monolítico. Deste modo, as tensões máximas na base ou ao longo de juntas de concretagem do concreto da barragem são obtidas junto às faces: (29) onde: 118 N: Soma das forças verticais normais à base da fundação; A: Área da seção na base da fundação, W: Módulo de rigidez; W=I/y, sendo I o momento de inércia e y a distância em relação ao ponto onde se deseja calcular as tensões. Para seção simétrica retangular, onde y = b/2 e I = bl3/12 → W=l b2/6; M: Momento fletor das forças atuantes em relação ao centróide da área; b: Dimensão da seção na base no sentido transversal; l: Dimensão da seção da base no sentido longitudinal, usualmente igual a 1m. Os valores máximos de tensões nas juntas da barragem devem ser comparados com as tensões admissíveis do concreto à tração e à compressão, assim como nos planos de contato concreto-rocha ou de descontinuidades na fundação, comparando-se às resistências dos respectivos materiais. Quando no projeto for encontrada tração no concreto, deve-se desprezar o trecho tracionado na verificação da estabilidade da barragem. Também deve ser verificada a tensão admissível à compressão no maciço de fundação, sendo admitida tração apenas para caso de carregamento excepcional, de maneira a se evitar a abertura de fraturas e aumento de percolação de água. (GUTSTEIN, 2011, p. 96). As tensões obtidas devem atender aos limites de tensões admissíveis. No contato concreto-rocha as tensões admissíveis do concreto podem ser consideradas como as pré-estabelecidas nos critérios Eletrobrás (2003). As tensões admissíveis na rocha de fundação devem ser avaliadas junto ao modelo geomecânico da fundação. (GUTSTEIN, 2011). O critério de U. S. Bureau of Reclamation (1976) apresenta os fatores de segurança (FSσ), definido como a relação entre as tensões admissíveis e atuantes a serem adotados para verificação das tensões. O (QUADRO 13) apresenta os fatores mínimos de segurança. Coeficiente de Segurança FSσ U. S. Bureau of Reclamation Casos de Carregamento Excepcional Normal 3,0 2,0 Limite 1,0 QUADRO 13 – FATORES DE SEGURANÇA MÍNIMOS PARA A ANÁLISE DE TENSÕES - U. S. BUREAU OF RECLAMATION FONTE: OS AUTORES Segundo o critério do U. S. Bureau of Reclamation (1976), para condições de carregamento normal não são admitidas tensões de tração, para casos de carregamento excepcional e limite, em que as tensões de tração obtidas são maiores do que as tensões mínimas admissíveis na face da barragem, deve se 119 admitir abertura de fissura. Se após a abertura da fissura as tensões na estrutura não excederem as resistências especificadas e a estabilidade for mantida, a estrutura é considerada estável. U. S. Bureau of Reclamation (1976, estudado por Gutstein, 2011) apresenta a formulação para a consideração da propagação da fratura de forma analítica, a partir do cálculo do comprimento da fratura e do trecho comprimido de aplicação da subpressão, obtendo-se diagramas de tensões normais lineares e de tensões cisalhantes com variação parabólica. As tensões no plano potencial de ruptura em análise podem também ser verificadas complementarmente pelo critério proposto por U. S. Army Corps of Engineers (1995), que leva em consideração a posição da resultante na base (e b) no plano potencial de ruptura, para cada caso de carregamento, por meio da expressão já apresentada no item “Segurança ao Tombamento”: (30) onde, eb: distância da força resultante na base até o ponto de tombamento T; ∑Mt: somatório de momentos fletores das forças normais atuantes em relação ao ponto de tombamento T; ∑Ni: somatório de forças normais efetivas ao plano. Conforme Gutstein (2011), o percentual de base comprimida pode ser calculado a partir do comprimento eb. Quando a base não se apresenta totalmente comprimida, mas atende aos critérios citados, recalcula-se a tensão máxima de compressão a jusante admitindo o diagrama de tensões como sendo triangular, de comprimento igual a 3 x eb. Em U. S. Army Corps of Engineers (1995) indica-se a determinação da base fraturada a partir da determinação de eb e a verificação do percentual de base comprimida calculada conforme indicado nas (FIGURAS 49 a 51). 120 FIGURA 49 – 100% DA BASE COMPRIMIDA - RESULTANTE DENTRO DO NÚCLEO CENTRAL DE INÉRCIA FONTE: U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995) FIGURA 50 – 100% DA BASE COMPRIMIDA - RESULTANTE NA POSIÇÃO MAIS AFASTADA DO NÚCLEO CENTRAL DE INÉRCIA FONTE: U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995) FIGURA 51 – BASE NÃO TOTALMENTE COMPRIMIDA - RESULTANTE FORA DO NÚCLEO CENTRAL DE INÉRCIA FONTE: U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS (1995) 121 onde, P': tensão na base da fundação; L: largura da base; e: excentricidade da resultante R na base; R: resultante de todas as forças atuantes acima do plano de analise. O U. S. Army Corps of Engineers (1995) especifica que as tensões admissíveis do concreto e da fundação não devem ser ultrapassadas. Estabelece que para condição de carregamento normal, a resultante das forças verticais deve estar no núcleo central de inércia da seção (100% da base comprimida), admitindo tração (resultante fora do núcleo central de inércia da base) para as condições excepcional e limite. Esta verificação substitui a verificação ao tombamento citada anteriormente, assim como as verificações de tensões definidas pelo U. S. Bureau of Reclamation. O U. S. Army Corps of Engineers acrescenta ainda que as tensões em barragens de gravidade são analisadas tanto por métodos aproximados quanto pelo Método dos Elementos Finitos, conforme o refinamento do projeto e a configuração da barragem. O Método dos Elementos Finitos, de acordo com U. S. Army Corps of Engineers (1995) é utilizado em modelos de análises estáticas lineares, em análises dinâmicas e em análises não-lineares considerando-se a interação entre a barragem e a fundação, ressaltando que a vantagem importante deste método consiste na possibilidade real de modelar fundações complicadas, envolvendo vários materiais, juntas e fraturas. O método de gravidade é questionável perto da base da barragem, onde concentrações de tensões aumentam nos cantos reentrantes formados pelas faces da barragem e a superfície da fundação. Em barragens altas, estas concentrações de tensões são significativas, mas são frequentemente reduzidas pelo escoamento plástico. Estas tensões nos cantos, ao redor de aberturas e em zonas de tração, podem ser aproximadas com um modelo pelo Método dos Elementos Finitos, segundo Jansen. Aborda também que para grandes barragens de gravidade e de contraforte, o projeto final deve ser estudado por uma análise de tensões mais abrangente pelo Método dos Elementos Finitos. JANSEN (1988, citado por GUTSTEIN, 2011, p.100). O Método dos Elementos Finitos não será tema de discussão do presente trabalho. 122 6. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE Os critérios e princípios conceituais apresentados foram disseminados nos projetos de barragem de concreto no Brasil. Nas últimas décadas, as barragens de concreto voltaram a ser competitivas pelo advento de técnica construtiva do Concreto Compactado com Rolo. Para efeito de sedimentação de conceitos, será realizada uma análise de sensibilidade de estabilidade de seções de CCR. Para efeito de análise de sensibilidade de alguns parâmetros no projeto de uma barragem de CCR, adotou-se uma seção típica padrão. Estudaram-se os parâmetros altura, declividade do talude de jusante e ângulo de atrito interno do material da fundação. Ainda realizou-se uma análise de uma seção tipo com estes parâmetros fixados e variando o ângulo entre a estrutura e fundação. A (FIGURA 52) apresenta a seção típica para o estudo dos parâmetros altura (H), inclinação do talude de jusante (x:1) e ângulo de atrito interno do material da fundação (φ). A (FIGURA 53) apresenta a seção típica para o estudo da variação do ângulo entre a barragem e a fundação. FIGURA 52 – SEÇÃO TÍPICA PARA O ESTUDO DE SENSIBILIDADE DE ALGUNS PARÂMETROS FONTE: OS AUTORES. 123 FIGURA 53 – SEÇÃO TÍPICA PARA O ESTUDO DA VARIAÇÃO DO ÂNGULO ENTRE A BARRAGEM E A FUNDAÇÃO FONTE: OS AUTORES Os parâmetros foram variados conforme (QUADRO 14). 124 Simulação Caso de H x Simulação Caso de H x Simulação Caso de H x φ (°) φ (°) φ (°) (nº) Carregamento (m) (x:1) (nº) Carregamento (m) (x:1) (nº) Carregamento (m) (x:1) 1 37,5 65 37,5 129 37,5 2 40 66 40 130 40 0,65 0,65 0,65 3 42,5 67 42,5 131 42,5 4 45 68 45 132 45 5 37,5 69 37,5 133 37,5 6 40 70 40 134 40 0,70 0,70 0,70 7 42,5 71 42,5 135 42,5 8 45 72 45 136 45 30 30 30 9 37,5 73 37,5 137 37,5 10 40 74 40 138 40 0,75 0,75 0,75 11 42,5 75 42,5 139 42,5 12 45 76 45 140 45 13 37,5 77 37,5 141 37,5 14 40 78 40 142 40 0,80 0,80 0,80 15 42,5 79 42,5 143 42,5 16 45 80 45 144 45 17 37,5 81 37,5 145 37,5 18 40 82 40 146 40 0,65 0,65 0,65 19 42,5 83 42,5 147 42,5 20 45 84 45 148 45 21 37,5 85 37,5 149 37,5 22 40 86 40 150 40 0,70 0,70 0,70 23 42,5 87 42,5 151 42,5 24 45 88 45 152 45 60 60 60 25 37,5 89 37,5 153 37,5 26 40 90 40 154 40 0,75 0,75 0,75 27 42,5 91 42,5 155 42,5 28 45 92 45 156 45 29 37,5 93 37,5 157 37,5 30 40 94 40 158 40 0,80 0,80 0,80 31 42,5 95 42,5 159 42,5 32 45 96 45 160 45 Normal Excepecional Limite 33 37,5 97 37,5 161 37,5 34 40 98 40 162 40 0,65 0,65 0,65 35 42,5 99 42,5 163 42,5 36 45 100 45 164 45 37 37,5 101 37,5 165 37,5 38 40 102 40 166 40 0,70 0,70 0,70 39 42,5 103 42,5 167 42,5 40 45 104 45 168 45 90 90 90 41 37,5 105 37,5 169 37,5 42 40 106 40 170 40 0,75 0,75 0,75 43 42,5 107 42,5 171 42,5 44 45 108 45 172 45 45 37,5 109 37,5 173 37,5 46 40 110 40 174 40 0,80 0,80 0,80 47 42,5 111 42,5 175 42,5 48 45 112 45 176 45 49 37,5 113 37,5 177 37,5 50 40 114 40 178 40 0,65 0,65 0,65 51 42,5 115 42,5 179 42,5 52 45 116 45 180 45 53 37,5 117 37,5 181 37,5 54 40 118 40 182 40 0,70 0,70 0,70 55 42,5 119 42,5 183 42,5 56 45 120 45 184 45 120 120 120 57 37,5 121 37,5 185 37,5 58 40 122 40 186 40 0,75 0,75 0,75 59 42,5 123 42,5 187 42,5 60 45 124 45 188 45 61 37,5 125 37,5 189 37,5 62 40 126 40 190 40 0,80 0,80 0,80 63 42,5 127 42,5 191 42,5 64 45 128 45 192 45 QUADRO 14 – SIMULAÇÕES PARA VERIFICAÇÃO DE ESTABILIDADE GLOBAL FONTE: OS AUTORES 125 6.1. CARACTERÍSTICA DOS MATERIAIS Para a análise de sensibilidade dos parâmetros, fixou-se o peso específico do Concreto Compactado a Rolo (CCR) em 25,5 kN/m³ e o da água em 10kN/m³. Para esta análise não foram considerados sedimentos no fundo do reservatório à montante. Nas verificações de segurança ao deslizamento, não se considerou coesão no contato concreto-fundação. Quando as condições de segurança não foram satisfeitas, se calculou a coesão necessária no contato concreto-fundação para a segurança ao deslizamento da estrutura. 6.2. CRITÉRIOS DE VERIFICAÇÃO DE ESTABILIDADE GLOBAL Foram feitas análises para três casos de carregamentos: CCN (Caso de Carregamento Normal), CCE (Caso de Carregamento Excepcional) CCL (Caso de Carregamento Limite) conforme Eletrobrás (2003). Para os três casos de carregamentos, se verificaram a segurança ao Tombamento e Deslizamento pelo critério da Eletrobrás (2003) através dos respectivos Fatores de Segurança, considerando para o CCN como nível d’água máximo normal de operação dois metros abaixo da cota da crista, e para o CCE e CCL o nível d’água máximo maximorum um metro abaixo da cota da crista. Ainda foram feitas análises de tensões na fundação. Para o caso de surgimento de tensões de tração na base, admitiu-se a abertura de fissuras conforme o critério do U. S. Bureau of Reclamation (1976). Ambos os critérios foram descritos no capítulo 5 do presente trabalho. 6.3. RESULTADOS Obtiveram-se Fatores de Segurança para cada simulação do (QUADRO 14). Nos (QUADROS 15 a 17) são apresentados os valores do Fator de Segurança ao Tombamento para cada altura e inclinação do talude de jusante da barragem no 126 Caso de Carregamento Normal e no Caso de Carregamento Excepcional respectivamente. Nos (GRÁFICOS 01 a 03) são plotados os valores do Fator de Segurança ao Tombamento versus inclinação para as diferentes alturas da barragem em cada Caso de Carregamento. Fator de Segurança ao Tombamento - Caso de Carregamento Normal x H (m) 0,65 0,7 0,75 0,8 1,96 2,15 2,35 2,55 30 1,68(*) 1,88 2,07 2,25 60 (**) 1,81 2,00 2,18 90 (**) 1,78 1,96 2,14 120 (*) Houve descolamento parcial da seção a montante (**) Não há equilíbrio possível QUADRO 15 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO - CCN FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Tombamento Fator de Segurança ao Tombamento (CCN) x Inclinação (x:1) 2,80 2,60 2,40 2,20 2,00 30 1,80 60 1,60 90 1,40 120 1,20 1,00 0,65 0,7 0,75 0,8 x GRÁFICO 1 – FATOR DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO (CCN) X INCLINAÇÃO FONTE: OS AUTORES 127 Fator de Segurança ao Tombamento - Caso de Carregamento Excepcional x H (m) 0,65 0,7 0,75 0,8 1,79 1,98 2,16 2,35 30 (*) 1,81 1,99 2,17 60 (*) 1,76 1,94 2,12 90 (*) 1,74 1,92 2,10 120 (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 16 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO - CCE FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Tombamento Fator de Segurança ao Tombamento (CCE) x Inclinação (x:1) 2,60 2,40 2,20 2,00 30 1,80 60 1,60 90 1,40 120 1,20 1,00 0,65 0,7 0,75 0,8 x GRÁFICO 2 – FATOR DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO (CCE) X INCLINAÇÃO FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Tombamento - Caso de Carregamento Limite x H (m) 0,65 0,7 0,75 0,8 1,15 1,31 1,40 1,47 30 (*) (*) 1,26 1,37 60 (*) (*) 1,20 1,34 90 (*) (*) 1,17 1,33 120 (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 17 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO - CCL FONTE: OS AUTORES 128 Fator de Segurança ao Tombamento Fator de Segurança ao Tombamento (CCL) x Inclinação (x:1) 1,50 1,45 1,40 1,35 1,30 30 1,25 60 1,20 90 1,15 120 1,10 1,05 1,00 0,65 0,7 0,75 0,8 x GRÁFICO 3 – FATOR DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO (CCL) X INCLINAÇÃO FONTE: OS AUTORES Primeiramente, para a análise dos Fatores de Segurança ao Deslizamento não foram consideradas a coesão do material da fundação. O critério da Eletrobrás (2003) estabelece que a condição de segurança ao deslizamento em fundação com material sem coesão está verificada se a (EQUAÇÃO 30) for satisfeita. (30) onde, FSD: Fator de segurança ao deslizamento; FSDφ: Fator de redução da resistência ao atrito; ∑Ni: Somatório das forças normais à superfície de deslizamento, em análise; φ i: Ângulo de atrito característico da superfície de deslizamento, em análise; ∑Ti: Somatório das forças paralelas à superfície de deslizamento. Caso os valores obtidos de FSD fossem menores que os mínimos estabelecidos, pela (EQUAÇÃO 31) se calculou a coesão necessária para que seja verificada a segurança pelo critério da Eletrobrás (2003). (31) 129 onde, FSD: Fator de segurança ao deslizamento; FSDφ: Fator de redução da resistência ao atrito; FSDc: Fator de redução da resistência à coesão; ∑Ni: Somatório das forças normais à superfície de deslizamento, em análise; φ i: Ângulo de atrito característico da superfície de deslizamento, em análise; ci: Coesão característica ao longo da superfície de deslizamento; Ai: Área efetiva comprimida da estrutura no plano em análise; ∑Ti: Somatório das forças paralelas à superfície de deslizamento. Nos (QUADROS 18 a 29) são apresentados os Fatores de Segurança ao Deslizamento. As células preenchidas vermelho indicam que para a simulação com os valores correspondentes não se pode encontrar situação de equilíbrio. Em caso de necessidade de coesão no material da fundação, os valores são mostrados à frente do Fator de Segurança ao Deslizamento e a respectiva célula é destacada em amarelo. As células destacadas em verde indicam que, com o surgimento de tensões de tensão ä jusante da base, considerou-se a abertura de fissuras e foram verificadas as condições de segurança. Nos (GRÁFICOS 4, 6, 8, 10, 12, 14, 15, 17, 19 e 20) são plotados os valores de Fator de Segurança ao Deslizamento versus φ (ângulo de atrito interno do material da fundação) para cada altura da estrutura, caso de carregamento e inclinação do talude de jusante. Nos (GRÁFICOS 5, 7, 9, 11, 13, 16 e 21) são plotados os valores da Coesão Necessária, quando os valores do FSD forem menores que os mínimos estabelecidos, no Contato Fundação-Concreto versus φ (ângulo de atrito interno do material da fundação) para cada altura da estrutura, caso de carregamento e inclinação do talude de jusante. 130 Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,65 Caso de Carregamento Normal φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,00 (74,38) 1,00 (24,87) 1,05 1,14 30 1,00 (312,91) 1,00 (219,06) 1,00 (118,07) 1,00 (8,67) 60 (*) (*) (*) (*) 90 (*) (*) (*) (*) 120 (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 18 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCN) x φ - x = 0,65 1,20 1,15 1,10 1,05 30 60 1,00 0,95 0,90 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 4 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN X Φ – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES 131 Coesão Necessária (kN/m²) (CCN) x φ x = 0,65 Coesão Necesária (kN/m²) 350,00 300,00 250,00 200,00 30 150,00 60 100,00 50,00 0,00 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 5 – COESÃO NECESSÁRIA - CCN X Φ – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,65 Caso de Carregamento Excepcional φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,11 1,21 1,32 1,44 30 (*) (*) (*) (*) 60 (*) (*) (*) (*) 90 (*) (*) (*) (*) 120 (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 19 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES 132 Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCE) x φ - x = 0,65 1,50 1,40 1,30 1,20 1,10 30 1,00 60 0,90 90 0,80 120 0,70 0,60 0,65 0,7 0,75 0,8 φ GRÁFICO 6 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE X Φ – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,65 Caso de Carregamento Limite φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,00 (196,63) 1,00 (172,12) 1,00 (145,75) 1,00 (117,18) 30 (*) (*) (*) (*) 60 (*) (*) (*) (*) 90 (*) (*) (*) (*) 120 (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 20 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES 133 Coesão Necessária (kN/m²) (CCL) x φ x = 0,65 Coesão Necesária (kN/m²) 250,00 200,00 150,00 100,00 30 50,00 0,00 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 7 – COESÃO NECESSÁRIA - CCL X Φ – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,70 Caso de Carregamento Normal φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,00 (34,81) 1,03 1,12 1,22 30 1,00 (209,5) 1,00 (116,6) 1,00 (16,64) 1,08 60 1,00 (374,06) 1,00 (236,41) 1,00 (88,3) 1,04 90 1,00 (536,14) 1,00 (353,49) 1,00 (156,94) 1,02 120 QUADRO 21 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES 134 Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCN) x φ - x = 0,70 1,25 1,20 1,15 1,10 30 1,05 60 90 1,00 120 0,95 0,90 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 8 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN X Φ – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES Coesão Necessária (kN/m²) (CCN) x φ x = 0,70 Coesão Necesária (kN/m²) 600,00 500,00 400,00 30 300,00 60 90 200,00 120 100,00 0,00 37,5 40 42,5 φ GRÁFICO 9 – COESÃO NECESSÁRIA - CCN X Φ – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES 45 135 Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,70 Caso de Carregamento Excepcional φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,18 1,29 1,41 1,54 30 1,08 1,19 1,30 1,41 60 1,06 1,16 1,27 1,38 90 1,05 1,15 1,25 1,37 120 QUADRO 22 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCE) x φ - x = 0,70 1,60 1,50 1,40 1,30 30 1,20 60 90 1,10 120 1,00 0,90 0,65 0,7 0,75 0,8 φ GRÁFICO 10 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE X Φ – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,70 Caso de Carregamento Limite φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,00 (78,05) 1,00 (59,63) 1,00 (39,81) 1,00 (18,34) 30 (*) (*) (*) (*) 60 (*) (*) (*) (*) 90 (*) (*) (*) (*) 120 (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 23 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES 136 Coesão Necessária (kN/m²) (CCL) x φ x = 0,70 Coesão Necesária (kN/m²) 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30 30,00 20,00 10,00 0,00 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 11 – COESÃO NECESSÁRIA - CCL X Φ – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,75 Caso de Carregamento Normal φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,00 1,09 1,19 1,30 30 1,00 (128,19) 1,00 (35,19) 1,06 1,16 60 1,00 (247,41) 1,00 (109,43) 1,02 1,12 90 1,00 (364,5) 1,00 (181,31) 1,01 1,10 120 QUADRO 24 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES 137 Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCN) x φ - x = 0,75 1,35 1,30 1,25 1,20 1,15 30 1,10 60 1,05 90 1,00 120 0,95 0,90 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 12 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN X Φ – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES Coesão Necessária (kN/m²) (CCN) x φ x = 0,75 Coesão Necesária (kN/m²) 400,00 350,00 300,00 250,00 30 200,00 60 150,00 90 100,00 120 50,00 0,00 37,5 40 42,5 φ GRÁFICO 13 – COESÃO NECESSÁRIA - CCN X Φ – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES 45 138 Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,75 Caso de Carregamento Excepcional φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,26 1,38 1,51 1,64 30 1,16 1,27 1,39 1,52 60 1,14 1,25 1,36 1,49 90 1,13 1,23 1,35 1,47 120 QUADRO 25 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCE) x φ - x = 0,75 1,70 1,60 1,50 1,40 30 1,30 60 1,20 90 1,10 120 1,00 0,90 0,65 0,7 0,75 0,8 φ GRÁFICO 14 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE X Φ – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,75 Caso de Carregamento Limite φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,00 (54,54) 1,00 (36,89) 1,00 (17,91) 1,01 30 1,00 (198,14) 1,00 (163,93) 1,00 (127,12) 1,00 (87,25) 60 1,00 (408,17) 1,00 (354,11) 1,00 (295,94) 1,00 (232,91) 90 1,00 (627,48) 1,00 (553,24) 1,00 (473,36) 1,00 (386,82) 120 QUADRO 26 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES 139 Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCL) x φ - x = 0,75 1,20 1,15 1,10 1,05 30 1,00 0,95 0,90 0,65 0,7 0,75 0,8 φ GRÁFICO 15 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL X Φ – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES Coesão Necessária (kN/m²) (CCL) x φ x = 0,75 Coesão Necesária (kN/m²) 700,00 600,00 500,00 400,00 30 300,00 60 90 200,00 120 100,00 0,00 37,5 40 42,5 φ GRÁFICO 16 – COESÃO NECESSÁRIA - CCL X Φ – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES 45 140 Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,80Caso de Carregamento Normal φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,06 1,16 1,27 1,39 30 1,00 (56,92) 1,04 1,13 1,23 60 1,00 (136,52) 1,00 1,09 1,19 90 1,00 (214,26) 1,00 (30,6) 1,08 1,18 120 QUADRO 27 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCN) x φ - x = 0,80 1,50 1,40 1,30 30 1,20 60 90 1,10 120 1,00 0,90 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 17 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCN X Φ – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES 141 Coesão Necessária (kN/m²) (CCN) x φ x = 0,80 Coesão Necesária (kN/m²) 250,00 200,00 150,00 30 60 100,00 90 120 50,00 0,00 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 18 – COESÃO NECESSÁRIA - CCN X Φ – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,80 Caso de Carregamento Excepcional φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,34 1,47 1,60 1,75 30 1,24 1,36 1,48 1,62 60 1,22 1,33 1,45 1,59 90 1,21 1,32 1,44 1,57 120 QUADRO 28 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES 142 Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCE) x φ - x = 0,80 1,80 1,70 1,60 1,50 1,40 30 1,30 60 1,20 90 1,10 120 1,00 0,90 0,65 0,7 0,75 0,8 φ GRÁFICO 19 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCE X Φ – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária - x = 0,80 Caso de Carregamento Limite φ H (m) 37,5° 40° 42,5° 45° 1,00 (41,4) 1,00 (23,95) 1,00 (5,17) 1,07 30 1,00 (127,3) 1,00 (95,07) 1,00 (60,39) 1,00 (22,82) 60 1,00 (208,26) 1,00 (160,79) 1,00 (109,7) 1,00 (54,36) 90 1,00 (287,99) 1,00 (225,15) 1,00 (157,54) 1,00 (84,29) 120 QUADRO 29 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES 143 Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento (CCL) x φ - x = 0,80 1,08 1,06 1,04 1,02 1,00 0,98 30 0,96 0,94 0,92 0,90 0,65 0,7 0,75 0,8 φ GRÁFICO 20 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO - CCL X Φ – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES Coesão Necessária (kN/m²) (CCL) x φ x = 0,80 Coesão Necesária (kN/m²) 350,00 300,00 250,00 200,00 30 150,00 60 90 100,00 120 50,00 0,00 37,5 40 42,5 45 φ GRÁFICO 21 – COESÃO NECESSÁRIA - CCL X Φ – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES Nos (QUADROS 27, 28 e 29), apresenta-se a importância da altura na análise de segurança, onde os fatores diminuem com a altura e quando necessário, a coesão necessária aumenta significativamente com a altura. 144 Como pode-se observar nos (QUADROS 27, 28 e 29), no caso de obras a fio d’água, com níveis máximo maximoruns e operacionais máximos semelhantes, o CCE é na maior parte dos casos menos relevante que o CCN e CCL. No caso de verificação de tensões normais na base, na maioria dos critérios de projeto, dois limites são importantes, a compressão no concreto e na rocha e o comprimento deslocado na base. As máximas admissíveis de compressão são, no caso normal, da ordem de um terço da resistência característica à compressão, ou seja: (32) Nos casos estudados foram observadas resistências características à compressão necessárias inferiores a 8 MPa. Em geral, a resistência da rocha à compressão é superior aquelas do concreto. Em relação à verificação ao deslizamento, em muitos dos casos analisados, se faz necessárias a existência de coesão do concreto. De acordo com fusco, 1976, a coesão do concreto, supondo a envoltória de Mohr-Coulomb é: (33) Ou seja, para fck = 8,5 MPa Supondo que a adesão concreto rocha tenha eficácia de metade dos parâmetros do concreto ou seja Com o valor acima apresentado, verifica-se que para alturas em torno de 120 metros e ângulo de atrito de 40º, os valores com barragens 0,7:1,0 já são críticos, e para 0,75:1,0, a situação é mais crítica para a mesma altura e ângulo de atrito em torno de 37,5º. Determinaram-se as máximas tensões de compressão e a porcentagem da base comprimidas. Os (QUADROS 30 a 41) mostram estes valores. Quando não se pode verificar a segurança das estruturas as células são destacadas em vermelho. 145 H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,65 - Caso de Carregamento Normal φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -570,29 -1307,59 (*) (*) 100% 98% (*) (*) -570,29 -1307,59 (*) (*) 100% 98% (*) (*) -570,29 -1307,59 (*) (*) 100% 98% (*) (*) -570,29 -1307,59 (*) (*) 100% 98% (*) (*) (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 30 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,65 - Caso de Carregamento Excepcional φ 37,5° 40° 42,5° 45° H (m) 30 60 90 120 TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -635,53 (*) (*) (*) 100% (*) (*) (*) -635,53 (*) (*) (*) 100% (*) (*) (*) -635,53 (*) (*) (*) 100% (*) (*) (*) -635,53 (*) (*) (*) 100% (*) (*) (*) (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 31 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,65 - Caso de Carregamento Limite φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -577,89 (*) (*) (*) 61% (*) (*) (*) -577,89 (*) (*) (*) 61% (*) (*) (*) -577,89 (*) (*) (*) 61% (*) (*) (*) -577,89 (*) (*) (*) 61% (*) (*) (*) (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 32 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,65 FONTE: OS AUTORES 146 H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,70 - Caso de Carregamento Normal φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -491,79 -1127,41 -1759,20 -2392,31 100% 100% 100% 100% -491,79 -1127,41 -1759,20 -2392,31 100% 100% 100% 100% -491,79 -1127,41 -1759,20 -2392,31 100% 100% 100% 100% -491,79 -1127,41 -1759,20 -2392,31 100% 100% 100% 100% QUADRO 33 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,70 - Caso de Carregamento Excepcional φ 37,5° 40° 42,5° 45° H (m) 30 60 90 120 TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -548,14 -1186,72 -1819,91 -2453,36 100% 100% 100% 100% -548,14 -1186,72 -1819,91 -2453,36 100% 100% 100% 100% -548,14 -1186,72 -1819,91 -2453,36 100% 100% 100% 100% -548,14 -1186,72 -1819,91 -2453,36 100% 100% 100% 100% QUADRO 34 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,70 - Caso de Carregamento Limite φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -434,28 (*) (*) (*) 95% (*) (*) (*) -434,28 (*) (*) (*) 95% (*) (*) (*) -434,28 (*) (*) (*) 95% (*) (*) (*) -434,28 (*) (*) (*) 95% (*) (*) (*) (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 35 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,70 FONTE: OS AUTORES H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,75 - Caso de Carregamento Normal φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -428,44 -981,49 -1536,41 -2089,39 100% 100% 100% 100% -428,44 -981,49 -1536,41 -2089,39 100% 100% 100% 100% -428,44 -981,49 -1536,41 -2089,39 100% 100% 100% 100% -428,44 -981,49 -1536,41 -2089,39 100% 100% 100% 100% QUADRO 36 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES 147 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,75 - Caso de Carregamento Excepcional φ 37,5° 40° 42,5° 45° H (m) 30 60 90 120 TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -477,62 -1033,25 -1589,38 -2142,82 100% 100% 100% 100% -477,62 -1033,25 -1589,38 -2142,82 100% 100% 100% 100% -477,62 -1033,25 -1589,38 -2142,82 100% 100% 100% 100% -477,62 -1033,25 -1589,38 -2142,82 100% 100% 100% 100% QUADRO 37 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,75 - Caso de Carregamento Limite φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -364,07 -806,55 -1274,73 -1750,34 100% 89% 77% 72% -364,07 -806,55 -1274,73 -1750,34 100% 89% 77% 72% -364,07 -806,55 -1274,73 -1750,34 100% 89% 77% 72% -364,07 -806,55 -1274,73 -1750,34 100% 89% 77% 72% QUADRO 38 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,75 FONTE: OS AUTORES H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,80 - Caso de Carregamento Normal φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -372,06 -865,65 -1353,99 -1841,16 100% 100% 100% 100% -372,06 -865,65 -1353,99 -1841,16 100% 100% 100% 100% -372,06 -865,65 -1353,99 -1841,16 100% 100% 100% 100% -372,06 -865,65 -1353,99 -1841,16 100% 100% 100% 100% QUADRO 39 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCN – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,80 - Caso de Carregamento Excepcional φ 37,5° 40° 42,5° 45° H (m) 30 60 90 120 TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -415,36 -911,23 -1400,48 -1888,19 100% 100% 100% 100% -415,36 -911,23 -1400,48 -1888,19 100% 100% 100% 100% -415,36 -911,23 -1400,48 -1888,19 100% 100% 100% 100% -415,36 -911,23 -1400,48 -1888,19 100% 100% 100% 100% QUADRO 40 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCE – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES 148 H (m) 30 60 90 120 Tensões na Base e % Comprimida - x = 0,80 - Caso de Carregamento Limite φ 37,5° 40° 42,5° 45° TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -302,71 -681,56 -1053,81 -1424,53 100% 100% 100% 100% -302,71 -681,56 -1053,81 -1424,53 100% 100% 100% 100% -302,71 -681,56 -1053,81 -1424,53 100% 100% 100% 100% -302,71 -681,56 -1053,81 -1424,53 100% 100% 100% 100% QUADRO 41 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA - CCL – X = 0,80 FONTE: OS AUTORES Para complementar o estudo, foi realizada uma análise da influência da inclinação da seção de montante para jusante. Para tanto foram fixados alguns parâmetros da seção de CCR apenas variando o ângulo da inclinação do leito do rio. A altura da barragem foi fixada em 90 metros, a seção da barragem é 0,75:1,0 e o ângulo de atrito foi fixado em 37,5º (pior caso verificados nas outras análises). Esse estudo busca mostrar a grande influencia que essas mudanças têm sobre a verificação da segurança à estabilidade. No (QUADRO 42 e 43) e (GRÁFICOS 22 a 24) são apresentados os valores de Fator de Segurança ao Tombamento e Fator de Segurança ao Deslizamento com a Coesão necessária caso necessite, respectivamente. O (QUADRO 44) apresenta os valores máximos de compressão na base e a porcentagem da base sujeita a tensões de compressão. Fator de Segurança ao Tombamento α (°) 0 2,5 5 7,5 CCN 2,00 1,93 1,83 1,73 CCE 1,94 1,88 1,78 1,69 CCL 1,20 1,18 1,09 (*) QUADRO 42 – FATORES DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO – BASE INCLINADA FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Deslizamento e Coesão Necessária CCN CCE CCL α (°) 0 1,00 (247,41) 1,14 1,00 (408,17) 1,00 (368,39) 1,06 1,00 (478,63) 2,5 1,00 (495,74) 1,00 (5,52) 1,00 (1051,03) 5 1,00 (629,12) 1,00 (69,04) (*) 7,5 149 QUADRO 43 – FATORES DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO – BASE INCLINADA FONTE: OS AUTORES Tensões na Base e % Comprimida CCN CCE α (°) 0 2,5 5 7,5 TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMID A -1525,43 -1671,01 -1861,08 100% 100% 100% -1573,63 -1718,05 -1909,80 100% 100% 100% CCL TENSÃO (kN/m²) % COMPRIMIDA -1604,43 -2026,70 (*) 66% 44% (*) (*) Não há equilíbrio possível QUADRO 44 – TENSÕES DE COMPRESSÃO NA BASE E % DA BASE COMPRIMIDA – BASE INCLINADA FONTE: OS AUTORES Fator de Segurança ao Tombamento Fator de Segurança ao Tombamento 2,20 2,00 1,80 CCN 1,60 CCE 1,40 CCL 1,20 1,00 0 2,5 5 7,5 α GRÁFICO 22 – FATOR DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO X α – BASE INCLINADA FONTE: OS AUTORES 150 Fator de Segurança ao Deslizamento Fator de Segurança ao Deslizamento 1,16 1,14 1,12 1,10 1,08 CCE 1,06 1,04 1,02 1,00 0 2,5 5 7,5 α GRÁFICO 23 – FATOR DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO X α – BASE INCLINADA FONTE: OS AUTORES Coesão Necessária (kN/m²) Coesão Necessária (kN/m²) 1201,00 1001,00 801,00 CCN 601,00 CCE 401,00 CCL 201,00 1,00 0 2,5 5 7,5 α GRÁFICO 24 – COESÃO NECESSÁRIA X α – BASE INCLINADA FONTE: OS AUTORES 151 Foram observadas algumas características interessantes e importantes com esse estudo. Primeiro foi verificada uma rápida degradação da segurança da barragem com o aumento do ângulo do leito o rio. Pode ser constado, que em quase todos os casos, os coeficientes de segurança ao deslizamento não atendem os mínimos estabelecidos, sendo necessário o cálculo da coesão requerida. É importante acrescentar que com a deterioração dos parâmetros de estabilidade, foram observadas tensões na base mais críticas. Quando se fez necessária a abertura de fissuras houve uma grande queda dos parâmetros de segurança, sendo que em um caso, não foi possível verificar a estabilidade e noutro foi possível, porém não foi respeitada a necessidade de ser ter 66,7% da base comprimida. 152 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho possui dois focos claros. O primeiro é demonstrar a necessidade da humanidade por recursos hídricos. A população mundial vem crescendo e com isso a demanda por água, energia e outros recursos básicos para a sobrevivência aumentam. O desenvolvimento econômico leva à procura de uma melhor qualidade de vida, e faz com que as empresas, indústrias e o próprio governo acabem consumindo mais insumos básicos. Paralelamente à esse fato vemos a necessidade de armazenamento desses recursos, pois há uma sazonalidade envolvendo todos os fatores dos processos de geração de energia e armazenamento de água. Hoje o progresso é mais pensado e pautado na sustentabilidade, pois ao longo dos anos o uso de combustíveis fósseis aumentou consideravelmente a concentração de CO2 na atmosfera, e como isso se deve fazer maior investimento nas fontes de energia renováveis. Sabendo dessa necessidade da sociedade, cabe à construção civil resolver essas questões e dar suporte à população. Porém estabelece-se um dilema, pois a responsável pelo desenvolvimento dos povos é também a indústria que mais gera resíduos e é a maior consumidora de recursos naturais. Apesar desse, fato a construção civil é a atividade com maior potencial de mitigação de dos gases do efeito estufa, e a implementação de fontes de energia renováveis é uma delas. A energia hidráulica é limpa e renovável. Mesmo sabendo que a implantação de empreendimentos hídricos gerem CO2 na construção, há uma baixa emissão durante sua manutenção, diferentemente de outras fontes com as termoelétricas e fontes que usam combustíveis fósseis. No Brasil a demanda por infraestrutura, principalmente energia é crescente. E sabendo do grande potencial brasileiro para geração de energia hidráulica, e que o país tem uma das maiores reservas de água do mundo, cabe ao governo criar políticas de desenvolvimento para que os projetos possam ser implementados. Com a existência do SIN, a solução de energia hidráulica é otimizada, pois pode-se explorar todo o potencial brasileiro, diversificando os tipos de empreendimentos, sem que o sistema fique refém de problemas regionais como secas. 153 Mesmo sabendo da necessidade de expansão da geração de energia há uma grande rejeição da sociedade para com a implantação de novos empreendimentos hidráulicos, devido à percepção dos impactos que podem ser causados. Essa percepção negativa se deve em parte pela falta de conhecimento da comunidade técnica para sua defesa. Por essa razão esse trabalho tenta criar argumentos para um debate melhor com a sociedade. O segundo foco do trabalho é apresentar os fenômenos físicos que devem ser considerados nos projetos de uma barragem, visando assim ser material de consulta para a graduação e também para engenheiros que pretendem seguir na área. Com as crises econômicas que se instalaram nas ultimas décadas no país houve uma diminuição considerável do número de equipes de engenharias especializadas na área. Além disso, o assunto é muito pouco abordado nos cursos de graduação de Engenharia Civil, levando a uma inexistência de material didático adequado para formação de novos profissionais. É também, muito importante colocar que não há no Brasil uma normalização na área, fazendo com que se busque referências estrangeiras, sem soluções consensadas. As barragens têm permitido que as pessoas coletassem e armazenassem água há muitos anos. Existem vários tipos de barragens e a escolha do arranjo adotado depende de vários fatores, como disponibilidade de solo e rocha, topografia, aspectos geológicos e geotécnicos. Da mesma maneira é necessária uma análise bastante criteriosa do local do empreendimento analisando a capacidade e impactos gerados. O trabalho é focado na análise de estabilidade de barragens de concreto à gravidade fazendo um resumo dos principais critérios e fenômenos envolvidos. Estudou-se os principais critérios nacionais e internacionais de verificação da estabilidade de estruturas de Usinas Hidrelétricas. Como objetivo principal do trabalho, direcionou-se o estudo para as Barragens de Concreto Compactado a Rolo. Os critérios apresentados são os critérios da “Centrais Elétricas Brasileiras S.A.” – Eletrobrás (2003), os critérios do U. S. Army Corps of Enginners (1995) e os critérios do U. S. Bureau of Reclamation (1976). Os critérios estabelecidos pela Eletrobrás (2003) se assemelham em grande parte aos critérios do U. S. Bureau of Reclamation (1976), inclusive na consideração 154 da subpressão para as verificações de estabilidade. O U. S. Army Corps of Enginners (1995) estabelece um critério diferente para a consideração da subpressão. As análises de estabilidade da estrutura à flutuação são definidas de iguais formas nos critérios da Eletrobrás (2003) e do U. S. Army Corps of Enginners (1995). Já para a análise de estabilidade da estrutura ao tombamento, a Eletrobrás define em seu critério o cálculo de um Fator de Segurança ao Tombamento, resultante da razão entre o Momento Estabilizante pelo Momento Tombador, enquanto o U. S. Army Corps of Enginners (1995) calcula a estabilidade ao tombamento através da excentricidade da horizontal da força resultante. O U. S. Bureau of Reclamation (1976) não estabelece verificação equivalente para o tombamento, focando a análise no estudo das tensões na base. Para a verificação da estabilidade da estrutura ao deslizamento, as 3 instituições definem o cálculo de um fator de segurança do deslizamento. O critério nacional da Eletrobrás (2003) apresenta fatores de segurança parciais mínimos para a coesão e para o atrito, enquanto alguns critérios internacionais apresentam fatores de segurança globais mínimos para esta verificação. Estes fatores de segurança parciais são inseridos para reduzir o risco devido à variação dos valores de coesão e atrito no local da construção. A análise de tensões nas estruturas pode ser feita, a um nível menos avançado de projeto, pela teoria clássica de flexão composta da resistência dos materiais. Os critérios do U. S. Army Corps of Enginners (1995) propõe uma verificação das tensões através da localização da força resultante (também utilizado na verificação da estabilidade ao tombamento). Com o desenvolvimento dos métodos numéricos e da capacidade de processamento de dados obteve-se uma ferramenta que possibilita a análise do problema em suas múltiplas formas. O estudo dos métodos numéricos para a análise de tensões não foi foco deste trabalho. No trabalho foi apresentada uma análise de sensibilidade à dependência dos parâmetros de resistência geotécnicos e dos materiais aplicados. A maioria das rupturas de barragens estão relacionadas com problemas de fundação, e há um grande risco de desastres quando as investigações e parametrizações não são realizadas adequadamente. 155 Sendo assim esse trabalho visa demonstrar a necessidade de sejam feitas investigações e parametrização dos materiais da maneira mais criteriosa possível, para que além de diminuir o risco, também diminui-se a quantidade de material necessário para a construção pois as certezas serão maiores. Assim pode-se construir mais seguro e sustentável. Sabemos que o CCR suporta tensões da ordem de 7 a 10 MPa, foi observado na análise de estabilidades que na pior situação encontrou-se uma tensão de 7,17 MPa, dentro o esperado para a utilização de CCR. No trabalho foi realizada uma interação entre diversas geometrias e parâmetros geotécnicos, representado pelo ângulo de atrito entre a estrutura e a rocha. Analisando os resultados concluímos que na análise de estabilidade ao tombamento, o principal fator, determinante para maior segurança da estrutura, é o fator de geometria. Pudemos observar que quanto menor a declividade da barragem mais estável ela é, com fatores muito parecidos para as alturas de 60, 90 e 120m. Outra conclusão bastante interessante é referente à análise ao deslizamento. Os principais fatores responsáveis pela segurança é o ângulo de atrito entre a rocha e a estrutura e a altura. A análise do efeito da inclinação do leito do rio, mostra como era esperado, uma grande influência nos parâmetros de estabilidade, deteriorando rapidamente as condições de segurança com o aumento da declividade. Também é importante mencionar que, nas barragens a fio d’água, onde a diferença entre o nível máximo normal e o máximo maximorum é relativamente pequena em relação à altura total, há predominância do CCN sobre o CCE e CCL. Como pode ser demonstrado, os modelos e sistemas construtivos de barragens de concreto à gravidade são conhecidos e confiáveis, bem como em uma análise simples de sensibilidade, percebe-se a importância relativa dos diversos parâmetros existente. A necessidade de investigações adequadas para a determinação dos parâmetros da interface concreto-rocha mostra-se evidente, bem como se apresenta fundamental a determinação da topografia local para verificação da geometria do leito do rio. O trabalho não visitou os efeitos das inclinações das ombreiras, tampouco das elevações dos níveis de jusante, que ficaram para um próximo estudo dentro na Universidade Federal do Paraná. 156 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, C. apud JOHN, V. M. 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