UNIFAVIP | DeVry CENTRO UNIVERSITÁRIO DO VALE DO IPOJUCA COORDENAÇÃO DE ENGENHARIA CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Allyson Fernandes dos Santos O USO DO BIOGÁS COMO UMA FONTE ALTERNATIVA ENERGÉTICA SUSTENTÁVEL EM UMA UNIDADE DE TRATAMENTO DE ESGOTOS NA CIDADE DE CARUARU CARUARU 2015 Allyson Fernandes dos Santos O USO DO BIOGÁS COMO UMA FONTE ALTERNATIVA ENERGÉTICA SUSTENTÁVEL EM UMA UNIDADE DE TRATAMENTO DE ESGOTOS NA CIDADE DE CARUARU Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade do Vale do Ipojuca – FAVIP/DeVry, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientadora: Profa. Ma. Nyadja Menezes Rodrigues. CARUARU 2015 Catalogação na fonte Biblioteca do Centro Universitário do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE Santos, Allyson Fernandes dos. O uso do biogás como uma fonte alternativa energética sustentável em uma unidade de tratamento de esgotos na cidade de Caruaru / Allyson Fernandes dos Santos. – Caruaru: UNIFAVIP | DeVry, 2015. 74 f.: il. S237u Orientador (a): Nyadja Menezes Rodrigues. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Civil) – Centro Universitário do Vale do Ipojuca. 1. Biogás. 2. Energia. 3. Estação de tratamento de esgotos. I. Título. CDU 624[15.2] Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico Allyson Fernandes dos Santos O USO DO BIOGÁS COMO UMA FONTE ALTERNATIVA ENERGÉTICA SUSTENTÁVEL EM UMA UNIDADE DE TRATAMENTO DE ESGOTOS NA CIDADE DE CARUARU Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP/DeVry, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientadora: Profa. Ma. Nyadja Menezes Rodrigues. Aprovado em: 08 / 07 / 2015 BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Orientadora: Ma. Nyadja Rodrigues Menezes __________________________________________ Avaliadora: Ma. Iracleide de Araújo Silva Lopes __________________________________________ Avaliadora: Ma. Tuane Batista do Egito CARUARU 2015 Dedico este trabalho imensamente e especialmente à Deus por me conceder a força, sabedoria e entendimento para desenvolver o presente trabalho. À minha mãe Ivaneide Ulisses Fernandes por acreditar no meu comprometimento e por me dar a oportunidade de realizar este trabalho, batalhando sem medir esforços. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço à Deus, por me conceder a vida, conhecimento, condições, força e fé para que conseguisse superar todos os obstáculos e por conquistar mais esse sonho em minha vida. A minha mãe Ivaneide Ulisses Fernandes, por confiar no meu potencial e sempre batalhar para que conseguisse realizar os meus sonhos. A minha noiva Rafaela Oliveira, por confiar, me incentivar e permanecer nos momentos de dificuldades e por ter paciência comigo; além de sempre acreditar no meu potencial. A todos os professores, pela paciência e comprometimento, além da transmissão do conhecimento e por serem responsáveis pela nossa formação. A professora Ma. Nyadja Menezes, por me orientar e contribuir para a realização desse TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, por conseguir unir o vasto conhecimento, a paciência e comprometimento durante a realização desse trabalho e durante toda a graduação. Ao Eng. Químico Rildomiro Carmo e a equipe da COMPESA (Leonardo Lemos, Leonardo Melo e Glauber), por transmitirem um pouco do seu conhecimento e fornecerem alguns dados necessários para realização desse trabalho. A professora Ma. Iracleide Araújo, por sempre ter se dedicado a orientação acerca da metodologia do trabalho, além da paciência e generosidade passada através dos encontros. Aos futuros companheiros de profissão e de trabalho, Eng. Civil Edjair Melo “Dija”, Eng. Civil Deny Coelho, Eng. Civil Ivan Moreira, Téc. Edificações Walter Pontes, Aux. de Engenharia Renato Sabino, por inserirem na vida profissional com todo ensinamento básico da vida profissional, além de auxiliarem nas dúvidas obtidas. Aos profissionais da equipe de execução, que me auxiliaram através da prática o mecanismo de aplicação e uso. Aos meu amigos e companheiros de profissão, Alisson Bandeira, Cássio Padilha, Rodolfo Campos, Tácio Rafael e Thaís Nascimento, que sempre estiveram ao meu lado, estudando e aprendendo um com outro. Ao meu amigo Ezequiel Honorato (Kiel), que nos momentos difíceis, tanto no início como no fim da graduação esteve sempre me incentivando e auxiliando com o conhecimento obtido. Ao meu amigo Dr. Nilton Silva, por dispor do seu amplo conhecimento nos momentos em que precisei. Ao meu amigo Adm. André Alcântara, por sempre dispor do seu amplo conhecimento para que pudesse aprender através de conversas e diálogos. “Se o capitão não sabe a que porto se dirige, nenhum vento será favorável ao veleiro.” Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.). Filósofo latino. RESUMO Com os problemas associados à crise energética e ao aquecimento global, vários países têm investido montantes significativos em tecnologias e projetos para o aproveitamento do biogás produzido em estações de tratamento de esgotos. Como recurso renovável, o uso do biogás colabora com a não dependência de fonte de energia fóssil; aumenta a oferta e possibilita a geração descentralizada de energia próxima aos centros de carga; promove economia no processo de tratamento de esgoto, aumentando a viabilidade da implantação de serviços de saneamento básico. Entretanto, apesar de ser uma fonte energética sustentável, a produção de biogás é ainda bastante incipiente no cenário nacional e sobretudo no estado de Pernambuco, foco do presente estudo. Há vários desafios que são apontados como limitador ou empecilho para a implantação dos procedimentos técnicos e operacionais para a produção e geração do biogás em unidades de tratamento de esgotos. Diante dessa problemática, o presente estudo tem como objetivo analisar a possibilidade de utilização do biogás gerado a partir de uma ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) localizada em Caruaru no Agreste Pernambucano, para aproveitamento sustentável como fonte de energia, tendo-se como objetivos específicos identificar as condições técnicas existentes para viabilizar o uso do biogás, como também, avaliar de forma quantitativa a geração, suas implicações de aplicação e uso, e apresentar uma sugestão prática de utilização do biogás nesta unidade. A temática proposta neste trabalho traz um pioneirismo quando trata da possibilidade de implantação de tecnologias que gerem biogás no cenário Pernambucano, uma vez que o projeto trata-se de um piloto e justifica-se dessa forma a importância da pesquisa por discutir uma temática ainda pouco explorada, sob o ponto de vista prático. Foram utilizados uma revisão teórica dentro da temática de esgotamento sanitário, estações de tratamento de esgotos e geração de biogás, para subsidiar o trabalho em tela. Após a análise dos resultados obtidos, foi possível verificar a importância da implementação das tecnologias apresentadas em decorrência dos quantitativos a serem obtidos, no tocante a geração de energia mensal na ordem de R$ 49 mil/mensais. Por outro lado, também foram identificadas algumas limitações neste projeto decorrentes das vazões de afluentes na ETE, como também derivado das necessidades técnicas para adequação de reatores e subestação de energia por exemplo. De uma maneira geral, conclui-se que é relevante a implementação deste projeto onde o custo benefício é visivelmente comprovado, além dos ganhos ambientais. Palavras-chave: Biogás. Energia. Estação de Tratamento de Esgotos. ABSTRACT With the problems associated with the energy crisis and global warming, many countries have invested significant amounts in technologies and projects for the use of biogas produced in sewage treatment plants. As a renewable resource, the use of biogas collaborates with no dependence on fossil energy source; increases the supply and enables the decentralized generation of energy close to load centers; promotes economy in the sewage treatment process, increasing the feasibility of the implementation of basic sanitation services. However, despite being a sustainable energy source, biogas production is still incipient in the national scene and especially in the state of Pernambuco, focus of this study. There are several challenges that are seen as limiting or hindrance to the implementation of technical and operational procedures for the production and biogas generation in sewage treatment plants. Faced with this problem, this study aims to analyze the possibility of using biogas produced from a ETE located in Caruaru in Agreste Pernambucano, for sustainable use as an energy source, having as specific objectives to identify the technical conditions exist for enable the use of biogas, as well as to evaluate quantitatively the generation, its implications and application use, and present a practical suggestion of use of biogas in this unit. The proposed theme in this work brings a pioneering when comes to the possibility of developing technologies that generate biogas in Pernambucano scenario, since the project it is a pilot and justified thereby the importance of research to discuss a thematic little explored, from the practical point of view. A theoretical review were used within the sanitation theme, sewage treatment plants and biogas generation, to support work on screen. After analyzing the results, it was possible to verify the importance of implementing the technologies introduced as a result of quantitative to be obtained, with respect to monthly power generation in the order of R$ 49 thousand/month. On the other hand, we were also identified some limitations in this project resulting from tributaries flows in ETE, but also derived from technical needs for adaptation reactors and such power substation. In general, it is concluded that it is relevant to the implementation of this design where cost benefit is clearly demonstrated in addition to the environmental gains. Keywords: Biogas. Energy. Sewage Treatment Plant. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Variações do consumo no ano ........................................................................... 21 Figura 2: Variações de consumo diário. ............................................................................ 21 Figura 3: Rede Esgoto - Ilustração SABESP. ................................................................... 26 Figura 4: Principais produtos gasosos gerados em reatores anaeróbios.......................... 29 Figura 5: A sequência de processos na digestão anaeróbia de macro moléculas complexas. .......................................................................................................................... 32 Figura 6: Esquema de um biofiltro típico. ........................................................................ 33 Figura 7: Esquema de funcionamento de um motor ciclo Otto........................................ 36 Figura 8: Ilustração da microturbina à gás. ..................................................................... 37 Figura 9: Mapa de Pernambuco com destaque para Caruaru......................................... 44 Figura 10: Localização da ETE frente a cidade de Caruaru............................................ 46 Figura 11: Vista aérea da ETE. ......................................................................................... 47 Figura 12: Áreas saneadas e não saneadas, e seus respectivos percentuais de captação. 47 Figura 13: Tratamento de Esgoto da ETE – Caruaru ...................................................... 48 Figura 14: Caixa de Reunião de Esgotos. .......................................................................... 49 Figura 15: Caixa de Reunião dos Esgotos e Caixa de Areia. ............................................ 50 Figura 16: Vista Superior do UASB - Reator Anaeróbio. ................................................ 50 Figura 17: Queimador dos gases produzidos no UASB. ................................................... 51 Figura 18: Flare - queimador de gás. ................................................................................ 51 Figura 19: Rotas de conversão de matéria orgânica - a) sistema anaeróbio e b) sistema aeróbio. ............................................................................................................................... 67 Figura 20: Rotas de conversão da matéria orgânica no sistema UASB. .......................... 67 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características físico-químicas dos esgotos. ..................................................... 18 Tabela 2: Coeficiente do dia de maior consumo (K1). ...................................................... 19 Tabela 3: Coeficiente da hora de maior consumo (K2). .................................................... 20 Tabela 4: Concentrações de sólidos em esgotos. ............................................................... 22 Tabela 5: Concentrações de organismos em esgotos......................................................... 22 Tabela 6: Composição média do Biogás. ........................................................................... 27 Tabela 7: Faixa de poder calorífico. .................................................................................. 40 Tabela 8: Poder calorífico de combustíveis em MJ/kg. .................................................... 40 Tabela 9: Comparação entre propriedades do metano e da gasolina. ............................. 41 Tabela 10: Equivalência energética do biogás com outras fontes de energia. ................. 42 Tabela 11: Parte do orçamento para adequação da unidade de tratamento em Caruaru. ............................................................................................................................................ 54 Tabela 12: Investimento dos equipamentos previstos. ..................................................... 55 Tabela 13: Variações de DQO e DBO. .............................................................................. 57 Tabela 14: Variações do pH conforme medições efetuadas.............................................. 58 Tabela 15: Tarifação horo-sazonal verde no período de maio/2015. ............................... 59 Tabela 16: Fatura mensal de consumo. ............................................................................. 59 Tabela 17: Dados da DQO da ETE - Caruaru em 2014. .................................................. 62 Tabela 18: Fatores de conversão para energia.................................................................. 64 Tabela 19: Comparativo entre as vazões, potência gerada e potência em horário de ponta. .................................................................................................................................. 65 LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica CELPE Companhia Energética de Pernambuco CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio ou Demanda Biológica de Oxigênio DQO Demanda Química de Oxigênio ETE Estação de Tratamento de Esgoto IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo NBR Norma Brasileira NOx Óxidos de Azoto pH Potencial Hidrogeniônico PIB Produto Interno Bruto PPM Parte Por Milhão PSA Programa de Saneamento Ambiental RAFA Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente UASB Upflow Anaeróbic Sludge Blanket/Reator Anaeróbio de Manta de Lodo VHE Veículos Elétricos Híbridos SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 14 1.1 Contextualização do Problema da Pesquisa ................................................................ 14 1.2 Objetivos ....................................................................................................................... 15 1.2.1 Objetivo Geral............................................................................................................. 15 1.2.2 Objetivo Específico ..................................................................................................... 15 1.3 Justificativa .................................................................................................................. 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 17 2.1 Definição de Esgoto ...................................................................................................... 17 2.2 Características dos Esgotos.......................................................................................... 18 2.3 Demanda Bioquímica de Oxigênio ou Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) ........ 23 2.4 Demanda Química de Oxigênio (DQO) ....................................................................... 23 2.5 Resolução CONAMA 430/2011.................................................................................... 23 2.5.1 Efluentes de ETE – Resolução CONAMA 430/2011 ................................................... 24 2.6 Sistema de Esgotamento Sanitário .............................................................................. 24 2.7 Estação de Tratamento de Esgoto – ETE .................................................................... 26 2.8 Tipos de Tratamento .................................................................................................... 27 2.9 O Biogás........................................................................................................................ 27 2.10 Geração de Biogás Oriundo de ETE ......................................................................... 28 2.11 Processos da Geração do Biogás ................................................................................ 30 2.11.1 Hidrólise ................................................................................................................... 30 2.11.2 Acidogênese .............................................................................................................. 30 2.11.3 Acetogênese .............................................................................................................. 31 2.11.4 Metanogênese ........................................................................................................... 31 2.12 Destino e Utilização do Biogás ................................................................................... 32 2.13 Tratamento do Biogás ................................................................................................ 33 2.13.1 Biofiltração ............................................................................................................... 33 2.13.2 Adsorção em Carvão Ativado .................................................................................... 34 2.13.3 Absorção Química ..................................................................................................... 34 2.13.4 Oxidação Térmica ..................................................................................................... 34 2.14 Tecnologias de Conversão .......................................................................................... 35 2.14.1 Motores Ciclo Otto .................................................................................................... 35 2.14.2 Microturbinas a Gás .................................................................................................. 37 2.15 Cenário e Panorama Futuro do Uso do Biogás no Setor Energético........................ 38 2.16 Eficiência Energética a Partir de Biogás ................................................................... 39 2.16.1 Poder Calorífico ........................................................................................................ 40 2.16.2 Equivalência Energética ............................................................................................ 41 3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 43 3.1 Classificação da Pesquisa ............................................................................................. 43 3.2 Universo e Amostra ...................................................................................................... 43 3.3 Coleta e Análise de Dados ............................................................................................ 44 3.3.1 Contextualização da Cidade de Caruaru....................................................................... 44 3.3.2 Contextualização da Estação de Tratamento de Esgoto – Rendeiras............................. 46 3.3.3 Caracterização da ETE – Rendeiras ............................................................................. 48 3.3.3.1 Tratamento de Esgotos na ETE - Caruaru ................................................................. 48 4 ANÁLISE E RESULTADO DOS DADOS..................................................................... 52 4.1 Infraestrutura Necessária do Projeto .......................................................................... 52 4.2 Descrição dos Equipamentos Necessários ................................................................... 53 4.3 Orçamento Previsto Para Implantação ....................................................................... 54 4.4 Dados Atuais da ETE Caruaru.................................................................................... 57 4.5 Atendimento às Condições Atuais da ETE – Caruaru à Resolução CONAMA 430/2011 .............................................................................................................................. 58 4.6 Análise do Custo Benefício........................................................................................... 58 4.7 Análise Qualitativa dos Benefícios............................................................................... 60 4.8 Análise do Potencial de Geração de Energia ............................................................... 60 4.8.1 Método para Cálculo de Potencial de Geração de Biogás em Reatores UASB ............. 61 4.8.2 Produção Teórica de Metano nas CNTP ...................................................................... 63 4.8.3 Produção Teórica de Metano a 27 °C (média das temperaturas no UASB) ................... 63 4.8.4 Estimativa de Produção de Energia Elétrica a Partir do Biogás .................................... 63 4.9 Desafios e Limitações do Piloto.................................................................................... 68 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES .............................................................. 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 71 14 1 INTRODUÇÃO A disposição de esgotos brutos no solo ou em corpos receptores naturais, como lagoas, rios, oceanos, é uma alternativa que foi e ainda é empregada de forma muito intensa. Dependendo da carga orgânica lançada, os esgotos provocam a total degradação do ambiente, ou em outros casos, o meio demonstra ter condições de receber e de decompor os contaminantes até alcançar um nível que não cause problemas ou alterações acentuadas que prejudiquem o ecossistema local e circunvizinho. Dessa forma, a natureza poderá promover ou não o “tratamento” dos esgotos, desde que haja boas condições ambientais como por exemplo, quantidade hábil de organismos que decompõem a matéria orgânica. Em outras palavras, o tratamento biológico de esgotos é um fenômeno que pode ocorrer naturalmente no solo ou na água, desde que predominem condições apropriadas. Uma estação de tratamentos de esgoto, é um sistema que explora esses mesmos organismos que proliferam no solo ou na água. Em estações de tratamento procura-se, no entanto, “otimizar” os processos. As fontes renováveis e/ou inesgotáveis têm se demonstrado cada vez mais como forma alternativa de substituição do petróleo, já que minimiza os gases de efeito estufa, há aproveitamento de resíduos que poderiam estar sendo despejados em corpos aquáticos sem tratamento, ou mesmo, sendo expostos a céu aberto emitindo gases e sendo uma fonte de doenças para a população. Cada vez mais a energia é um limitante para o desenvolvimento gradativo das civilizações. As energias oriundas de fontes não renováveis, como petróleo, têm suas limitações; e dessa forma se torna urgente a busca de energias alternativas. O biogás derivado de lixo, esgoto ou esterco bovino, suíno etc., tem sido alvo de estudos e inúmeros trabalhos acerca dos mesmos que já foram publicados, o que ressalta mais ainda sua importância quanto a sua viabilidade econômica e ambiental. Diante do cenário exposto, o presente trabalho tem como objetivo estudar o uso do biogás como uma fonte alternativa de geração de energia sustentável, tendo como base para pesquisa uma unidade de tratamento de esgotos localizada na cidade de Caruaru, no agreste Pernambucano. 1.1 Contextualização do Problema da Pesquisa Nas diversas unidades de tratamento de esgotos existentes no país e sobretudo no estado de Pernambuco, possuem uma importante fonte energética porém ainda pouco explorada que é o biogás. Entretanto, há vários desafios a serem enfrentados sob o ponto de vista técnico e 15 operacional, no qual são apontados como empecilhos para sua implantação. No cenário foco deste estudo, como aumentar e disseminar a implantação de tecnologias em ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) que possibilitem a geração de energia oriunda do biogás como forma a contribuir com a geração de energia sustentável? 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Analisar a utilização do biogás gerado a partir da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) em Caruaru, para um aproveitamento sustentável como fonte de energia. 1.2.2 Objetivo Específico • Identificar as condições técnicas existentes para viabilizar o uso do biogás na ETE, localizada no bairro das Rendeiras, na cidade de Caruaru; • Avaliar de forma quantitativa a geração de biogás e suas implicações de aplicação e uso; • Apresentar uma sugestão prática de utilização do biogás nesta ETE. 1.3 Justificativa A cada dia o desenvolvimento das cidades implica na utilização de energia para possibilitar o funcionamento salutar do crescimento urbano e industrial. Percebe-se ainda mais a busca por fontes alternativas de energia oriundas de instrumentos sustentáveis que possibilitem o desenvolvimento sustentável. Neste contexto, um segmento que vem se expandindo no Brasil é a implantação de unidades de tratamento de efluentes; e por outro lado, há insumos importantes como o gás gerado dos processos de tratamento de esgotos, que no cenário atual e tendo como foco o estado Pernambucano ainda é considerado incipiente. O gás gerado na grande maioria das unidades de tratamento existentes no Brasil e sobretudo no estado Pernambucano, não utiliza o biogás como fonte alternativa. O biogás é uma fonte potencial de geração energia que ainda não é utilizada em larga escala no país. Dessa forma, o presente estudo apresenta sua importância por discutir uma temática ainda pouco explorada em Pernambuco e que traz um pioneirismo quando vem estudar e 16 apresentar uma possibilidade de implantação em uma ETE localizada na cidade de Caruaru, cidade do Agreste de Pernambuco que desponta como município promissor do ponto vista econômico regional. 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Definição de Esgoto Segundo a NBR 9648 (1986, p. 1), “esgoto sanitário é o despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária”. Compreende-se como esgoto doméstico o efluente ou despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidade fisiológicas humanas (NBR-9648, 1986). Dependendo do uso, há distintas denominações. Os resíduos provenientes das residências formam os esgotos domésticos, os formados no processo de fábricas recebem o nome de esgotos industriais, ou seja, os despejos líquidos resultantes dos processos industriais, respeitando os padrões de contribuição estabelecidos e firmados (NBR-9648, 1986). Já as águas das chuvas são denominadas de pluviais e não podem ser lançados na rede de esgoto. Para que sejam esgotadas com rapidez e segurança as águas residuárias indesejáveis, faz-se necessário a construção de um conjunto estrutural que compreende canalizações coletoras funcionando por gravidade, unidades de tratamento e de recalque quando imprescindíveis, obras de transporte e de lançamento final, além de uma série de órgãos acessórios indispensáveis para que o sistema funcione e seja operado com eficiência. Esse conjunto de obras para coletar, transportar, tratar e dar o destino final adequado às vazões de esgotos, compõem o que se denomina de Sistema de Esgotos. A expansão demográfica e o desenvolvimento tecnológico trazem como consequência imediata o aumento de consumo de água e a ampliação constante do volume de águas residuárias não reaproveitáveis que, quando não condicionadas de modo adequado, acabam poluindo as áreas receptoras causando desequilíbrios ecológicos e destruindo os recursos naturais da região atingida ou mesmo dificultando o aproveitamento desses recursos naturais pelo homem. Essas águas, conjuntamente com as de escoamento superficial e de possíveis drenagens subterrâneas, formarão as vazões de esgotamento ou simplesmente esgotos. Denomina-se de esgoto sanitário toda a vazão esgotável originada das atividades domésticas, tais como lavagem de piso e de roupas, consumo em pias de cozinha e esgotamento de peças sanitárias, como por exemplo, lavatórios, bacias sanitárias e ralos de chuveiro (FERNANDES, 1997). Fernandes (1997) caracteriza o esgoto industrial como sendo aquele gerado através das atividades industriais, onde seja consumida água no processamento de sua produção, gerando um tipo de esgoto com características inerentes ao tipo de atividade (esgoto industrial) e uma 18 vazão tipicamente de esgoto doméstico originada nas unidades sanitárias (pias, bacias, lavatórios, entre outros usos). O esgoto pluvial tem a sua vazão gerada a partir da coleta de águas de escoamento superficial originada das chuvas e, em alguns casos, lavagem das ruas e de drenos subterrâneos ou de outro tipo de precipitação atmosférica. Esta diferenciação de esgoto é de fundamental importância, pois para cada tipo ocorre formação de substâncias diferentes e necessidades de sistemas específicos para tratar os resíduos. 2.2 Características dos Esgotos Os esgotos sanitários variam no espaço, em função de diversas variáveis desde o clima até hábitos culturais. Por outro lado, variam também ao longo do tempo, o que torna complexa sua caracterização. Metcalf & Eddy (1991) classificam os esgotos em forte, médio e fraco, conforme as características apresentadas na Tabela 1: Tabela 1: Características físico-químicas dos esgotos. Característica DBO5,20 (mg/L) Forte Médio Fraco 400 220 110 1.000 500 250 Carbono Org. Total (mg/L) 290 160 80 Nitrogênio total – NTK (mg/L) 85 40 20 Nitrogênio Orgânico (mg/L) 35 15 08 Nitrogênio Amoniacal (mg/L) 50 25 12 Fósforo Total (mg/L) 15 08 04 Fósforo Orgânico (mg/L) 05 03 01 Fósforo Inorgânico (mg/L) 10 05 03 Cloreto (mg/L) 100 50 30 Sulfato (mg/L) 50 30 20 Óleos e Graxas (mg/L) 150 100 50 DQO (mg/L) Fonte: Metcalf & Eddy, 1991. No Brasil, mesmo que não se tenha informação segura com base local, costuma-se adotar contribuições “per capita” de 54 a 100 g/habitante.dia para a DBO de 5 (cinco) dias e para a DQO, respectivamente. 19 Em termos de vazão, pode-se afirmar que os esgotos estão sujeitos às mesmas variações relativas ao consumo de água, variando de região para região, dependendo principalmente do poder aquisitivo da população. Apenas a título de referência, pode-se considerar a contribuição típica de 160 L/habitante.dia, referente ao consumo “per capta” de água de 200 L/habitante.dia e um coeficiente de retorno água/esgoto igual a 0,8. Para a determinação das vazões máximas de esgotos, costuma-se introduzir os coeficientes K1 = 1,2 (relativo ao dia de maior produção) e K2 = 1,5 (relativo à hora de maior produção de esgotos). Consequentemente, a vazão de esgotos do dia e hora de maior produção é 1,8 vezes, ou praticamente o dobro da vazão média diária. Deve ser lembrado que as características dos esgotos são afetadas também pela infiltração de água subterrânea na rede coletora e pela possível presença de contribuições específicas, como indústrias com efluentes líquidos ligados à rede pública coletora de esgotos. Tabela 2: Coeficiente do dia de maior consumo (K1). Autor/Entidade Local Ano Coeficiente K1 DAE São Paulo - Capital 1960 1,50 FESB São Paulo - Capital 1971 1,25 Azevedo Netto Brasil 1973 1,1 - 1,5 Yassuda e Nogami Brasil 1976 1,2 - 2,0 CETESB Valinhos e Iracemápolis 1978 1,25 - 1,42 PNB-587-ABNT Brasil 1977 1,2 Orsini Brasil 1996 1,2 Azevedo Netto et al. Brasil 1998 1,1 - 1,4 Tsutiya RMSP - Setor Lapa 1989 1,08 - 3,8 Saporta et al. Barcelona - Espanha 1993 1,10 - 1,25 Walski et al. EUA (*) 2001 1,2 - 3,0 Hammer EUA (*) 1996 1,2 - 4,0 AEP Canada (*) 1996 1,5 - 2,5 (*) Nesses sistemas não há reservatórios domiciliares. Fonte: Tsutiya, 2013. Condições de obtenção do valor Recomendação para projeto Recomendação para projeto Recomendação para projeto Recomendação para projeto Medições em sistemas operando há vários anos Recomendação para projeto Recomendação para projeto Recomendação para projeto Medições em sistemas operando há vários anos Medições em sistemas operando há vários anos Recomendação para projeto Medições em sistemas norte-americanos Recomendação para projeto 20 Na tabela 2, anteriormente mostrada, diversos autores utilizam valores próximos um dos outros para o coeficiente do dia de maior consumo (K1). Na tabela 3, serão mostrados o coeficiente da hora de maior consumo, e, adotado por alguns autores: Tabela 3: Coeficiente da hora de maior consumo (K2). Autor/Entidade Local Ano Coeficiente K2 Azevedo Netto Brasil 1973 1,5 Yassuda e Nogami Brasil 1976 1,5 - 3,0 CETESB Valinhos e Iracemápolis 1978 2,08 - 2,35 PNB-587-ABNT Brasil 1977 1,5 Orsini Brasil 1996 1,5 Azevedo Netto et al. Brasil 1998 1,5 - 2,3 Tsutiya RMSP - Setor Lapa 1989 1,5 - 4,3 Saporta et al. Barcelona - Espanha 1993 1,3 - 1,4 Walski et al. EUA (*) 2001 3,0 - 6,0 Hammer EUA (*) 1996 1,5 - 10,0 AEP Canada (*) 1996 3,0 - 3,5 Condições de obtenção do valor Recomendação para projeto Recomendação para projeto Medições em sistemas operando há vários anos Recomendação para projeto Recomendação para projeto Recomendação para projeto Medições em sistemas operando há vários anos Medições em sistemas operando há vários anos Recomendação para projeto Medições em sistemas norte-americanos Recomendação para projeto (*) Nesses sistemas não há reservatórios domiciliares. Fonte: Tsutiya, 2013. Para a obtenção dessas variações diárias, é preciso relacionar o maior consumo diário verificado no período de um ano e o consumo médio diário neste mesmo período, considerandose sempre as mesmas ligações (TSUTIYA, 2013), ou seja, a relação é demonstrada através da equação 1: K₁ = á é á (1) 21 A figura 1 apresentada logo abaixo, caracteriza a variação do consumo de água em um ano: Figura 1: Variações do consumo no ano Fonte: Tsutiya, 2013. Já nas variações horárias, observa-se em um dia a maior vazão horária e vazão média horária do mesmo dia (TSUTIYA, 2013), definindo o coeficiente K2 através da equação 2: K₂ = á ã (2) é A seguir, na figura 2 apresenta a variação da vazão de água em um dia: Figura 2: Variações de consumo diário. Fonte: Tsutiya, 2013. 22 O esgoto apresenta uma concentração de sólidos que se caracteriza como sendo fraco, médio e forte, segundo Metcalf & Eddy (1991). Na tabela 4, são apresentadas concentrações típicas das diversas frações de sólidos em esgotos: Tabela 4: Concentrações de sólidos em esgotos. Característica Sólidos Totais (mg/L) Forte Médio Fraco 1.200 720 350 Sólidos Dissolvidos (mg/L) 850 500 250 Sólidos Dissolvidos Fixos (mg/L) 850 500 250 Sólidos Dissolvidos Voláteis (mg/L) 525 300 145 Sólidos em Suspensão Totais (mg/L) 350 220 100 Sólidos em Suspensão Fixos (mg/L) 75 55 20 Sólidos em Suspensão Voláteis (mg/L) 275 165 80 Sólidos Sedimentáveis (mL/L) 20 10 05 Fonte: Metcalf & Eddy, 1991. Na tabela 5, são apresentadas algumas características biológicas dos esgotos, importantes para referenciar as necessidades de desinfecção: Tabela 5: Concentrações de organismos em esgotos. Característica Valor Médio Bactérias Totais (/100 mL) 109 - 1010 Coliformes Totais (NMP/100 mL) 107 - 108 Coliformes Fecais (NMP/100 mL) 106 - 107 Estreptococus Fecais (NMP/100 mL) 105 - 106 Salmonella Typhosa (/100 mL) 101 - 104 Cistos de Protozoários (/100 mL) 102 - 105 Vírus (/100 mL) 103 - 104 Ovos de Helmintos (/100 mL) 101 - 103 Fonte: Metcalf & Eddy, 1991. 23 2.3 Demanda Bioquímica de Oxigênio ou Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) A DBO é um parâmetro que mede o oxigênio requerido para degradação da matéria orgânica (demanda carbonácea). Também pode medir o oxigênio utilizado para oxidar formas reduzidas de nitrogênio (demanda nitrogenada), a menos que sua oxidação seja impedida por um inibidor (REMÉDIO; TEIXEIRA; ZANIN, 1999). De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB (2009, p. 10), “a DBO é normalmente considerada como a quantidade de oxigênio consumido durante um determinado período de tempo, numa temperatura de incubação específica”. O método consiste na colocação de uma amostra num frasco hermeticamente fechado, e incubação sob condições específicas durante um determinado período de tempo. Geralmente utiliza-se um período de tempo de 5 dias numa temperatura de incubação de 20 ºC, e é referido como DBO5,20. A CETESB (2009) ressalta que, a presença de um alto teor de matéria orgânica pode provocar a ausência do oxigênio no afluente; além de poder obstruir os filtros de areia utilizados nas estações de tratamento de água. No campo do tratamento de esgotos, a DBO é um parâmetro importante no controle das eficiências das ETE, tanto de tratamentos biológicos aeróbios e anaeróbios, bem físicoquímicos. 2.4 Demanda Química de Oxigênio (DQO) Remédio, Teixeira e Zanin (1999) indicam que a utilização desse parâmetro é utilizada para medir a quantidade de matéria orgânica de esgotos e águas naturais, como também utilizase em esgotos industriais que contém compostos que são tóxicos; fornecendo dados para a determinação da DBO. Geralmente, a DQO de um esgoto é maior do que a DBO, pois mais compostos podem ser quimicamente oxidados do que biologicamente oxidados. A DQO é um parâmetro indispensável nos estudos de caracterização dos esgotos sanitários e de efluentes industriais, além de ser muito útil quando utilizada conjuntamente com a DBO para observar a biodegradabilidade de despejos. 2.5 Resolução CONAMA 430/2011 Neste capítulo estão sendo informados alguns itens constantes da Resolução CONAMA 430/2011, que se referem ao padrão da qualidade de lançamento de efluentes em rios, como é 24 o caso da ETE – Caruaru. A Resolução 430 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), de 13 de maio de 2011, dispõe sobre as condições e padrões de efluentes e complementa e altera a Resolução 357/2005. 2.5.1 Efluentes de ETE – Resolução CONAMA 430/2011 Nesta Resolução foram colocados alguns itens que afetam diretamente a operação de uma ETE (Seção III da Resolução 430/2011 – Das condições e padrões para efluentes de sistemas de tratamento de esgotos sanitários). São eles: Art. 21 – Para o lançamento direto de efluentes oriundos de sistemas de tratamento de esgotos sanitários deverão ser obedecidos as seguintes condições e padrões específicos: I – Condições de lançamento de efluentes: a) pH entre 5 e 9; b) temperatura: inferior a 40°C, sendo que a variação de temperatura do corpo receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura; c) materiais sedimentáveis: até 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff. Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar virtualmente ausentes; d) Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO 5 dias, 20°C: máximo de 120 mg/L, sendo que este limite somente poderá ser ultrapassado no caso de efluente de sistema de tratamento com eficiência de remoção mínima de 60% de DBO, ou mediante estudo de autodepuração do corpo hídrico que comprove atendimento às metas do enquadramento do corpo receptor. e) substâncias solúveis em hexano (óleos e graxas) até 100 mg/L; e f) ausência de materiais flutuantes. 2.6 Sistema de Esgotamento Sanitário Um sistema de esgotamento sanitário compreende um conjunto de obras e instalações construídos com a finalidade de propiciar a coleta, o afastamento, o condicionamento (tratamento, quando necessário) e uma disposição final sanitariamente adequada para as águas servidas de uma determinada comunidade, a fim de evitar a contaminação da população, do subsolo e dos lençóis subterrâneos (CARVALHO; OLIVEIRA, 2003). 25 De acordo com Coelho (2013), dentre os diversos benefícios de um sistema adequado de esgotamento sanitário, pode-se citar: 1) Aspecto sanitário: destaca-se pelo destino adequado dos dejetos humanos, visando fundamentalmente, o controle e à prevenção de doenças relacionadas, 2) Aspecto econômico: a falta de condições adequadas para o destino dos dejetos, acaba ocorrendo doenças relacionadas, podendo levar o homem a inatividade ou reduzir seu potencial para o trabalho. 3) Aspecto social: proporciona a melhoria da qualidade de vida da população. O fluxo natural dos esgotos é por gravidade, isto é, os esgotos fluem naturalmente dos pontos mais altos para os pontos mais baixos. As águas residuárias provenientes das habitações, estabelecimentos comerciais e industriais, instituições e edifícios públicos e hospitais, são conduzidas pelas redes coletoras aos coletores tronco e interceptores. As canalizações coletoras de esgotos sanitários recebem ao longo de seu traçado, os coletores prediais (domésticos, comerciais, industriais etc.). Cada coletor predial recebe e transporta os seus esgotos, à medida que no interior das habitações os aparelhos sanitários vão lançando os dejetos correspondentes às águas utilizadas para os diversos fins, o escoamento nas canalizações das extremidades iniciais é bastante irregular, não só quanto às vazões, como também quanto aos intervalos de tempo de funcionamento ao longo do dia. A medida que os esgotos atingem condutos de maiores dimensões, o fluxo vai se tornando contínuo e mais regular. Pelo fato do escoamento dos esgotos ser por gravidade, as tubulações necessitam de uma determinada declividade que possibilite o transporte das águas residuárias até o seu destino final. O escoamento dos esgotos deverá ocorrer sem problemas que impliquem em obstruções das tubulações ou demais danos que prejudiquem o perfeito funcionamento de todas as unidades que compõem o sistema de esgotos sanitários. O dimensionamento hidráulico das canalizações é feito de forma que o esgoto não chegue a ocupar todo o espaço interno da tubulação. O líquido atinge apenas um determinado nível, inferior ao diâmetro interno da tubulação, possibilitando então, seu escoamento por gravidade, sem exercer pressões sobre a parede interna do tubo. Pode-se observar como funciona o sistema de esgotamento sanitário da seguinte maneira, como representada na figura 3: 26 Figura 3: Rede Esgoto - Ilustração SABESP. Fonte: www.saaec.com.br/esgoto/o-que-e-esgoto, 2014. A contribuição é feita através da ligação domiciliar ou industrial (nesse caso abordaremos domiciliar) através da rede coletora que interliga a um coletor tronco, que encaminha até um interceptor, que pode ser a uma estação de tratamento de esgoto ou lagoa, rio, oceano, etc. 2.7 Estação de Tratamento de Esgoto – ETE É a unidade operacional do sistema de esgotamento sanitário que através de processos físicos, químicos ou biológicos removem as cargas poluentes do esgoto, devolvendo ao ambiente o produto final, efluente tratado, em conformidade com os padrões exigidos pela legislação ambiental. ETE são unidades onde o esgoto, após sair das nossas residências e passar pela rede coletora por meio de um longo sistema de tubos e dispositivos subterrâneos, é levado para ser tratado, podendo, assim, ser devolvido ao meio ambiente e lançado em algum meio aquático (Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA, 2015). Além disso, é responsável pelo tratamento das águas servidas, reduzindo em 95% seu potencial de poluição antes de serem lançadas nos rios, lagos e mares de modo a atender a legislação vigente. 27 2.8 Tipos de Tratamento No Brasil, são conhecidas várias técnicas de tratamento de esgotos, desde sofisticados sistemas até os processos mais simples. Dessa forma, podemos citar: reatores anaeróbios de fluxo ascendente por meio do lodo; decanto-digestores seguidos de filtros anaeróbios; lagoas de estabilização inovadoras; formas de disposição controlada no solo; entre outras. Dentre os processos de tratamento do esgoto podem ser físicos, químicos e biológicos. Entre os existentes, alguns são adotados pela concessionária do estado (COMPESA) em suas ETE. Como por exemplo: Decantador, UASB ou RAFA, Tanque Imhoff, Lagoa de Estabilização, Lodo Ativado com Aeração Prolongada, Vale de Oxidação e Biofiltro. 2.9 O Biogás Biogás é uma mistura resultante da fermentação anaeróbia de material orgânico encontrado em resíduos animais e vegetais, lodo de esgoto, lixo ou efluentes industriais, como vinhaça, restos de matadouro, curtumes e fábricas de alimentos (GIACAGLIA; SILVA DIAS, 1993). A composição típica do biogás é cerca de 60% de metano, 35% de dióxido de carbono e 5% de uma mistura de hidrogênio, nitrogênio, amônia, ácido sulfúrico, monóxido de carbono, aminas voláteis e oxigênio (WEREKO-BROBBY; HAGEN, 2000). Dependendo da eficiência do processo, influenciado por fatores como carga orgânica, pressão e temperatura durante a fermentação, o biogás pode conter entre 40% e 80% de metano. Segundo Nogueira (1992), o biogás foi identificado inicialmente por Robert Boyle em 1692 e em anos posteriores trabalhos de pesquisa sobre este tema foram desenvolvidos. Durante meados do século XIX, Ulysse Gayon, aluno de Pasteur realizou fermentação anaeróbia de uma mistura de estrume1 contendo água obtendo como resultado um gás que poderia ser utilizado como fonte de aquecimento e iluminação, segundo Pierobon (2007). O biogás é uma mistura gasosa incolor, insolúvel em água. A média dos componentes da mistura gasosa pode ser visualizada na tabela 6: Tabela 6: Composição média do Biogás. Substância Metano (CH4) Dióxido de Carbono (CO2) Nitrogênio (N2) 1 Percentual de volume molar (%) 55 a 75 25 a 45 0a3 Percentual de volume molar - Caso conservador (%) 55,00 42,20 1,50 Estrumo ou esterco: é o nome dado ao material orgânico em avançado estado de decomposição. 28 Oxigênio (O2) Sulfeto de Hidrogênio (H2S) Amoníaco (NH3) Monóxido de Carbono (CO2) 0a1 0a1 0 a 0,5 0 a 0,1 0,50 0,50 0,25 0,05 Fonte: Azevedo, 2000. De acordo com SANTOS (2009), a densidade do biogás é inferior ao do ar atmosférico. No entanto, o biogás oferece menor risco de explosão por não se acumular facilmente ao nível do solo, todavia a baixa densidade implica que o volume ocupado pelo gás é significativo lhe conferindo desvantagens para armazenagem, transporte e utilização. Por se tratar de uma mistura gasosa, o biogás contém uma série de impurezas com destaque para os compostos de enxofre e amoníaco apresentados na tabela 6. Segundo Andersson et al. e Bishop (2004 apud SANTOS, 2009, p. 6), as combinações de concentração de sulfeto de hidrogênio e amoníaco são corrosivas para diversos materiais como cobre, latão e aço, podendo até se tornar tóxico dependendo das condições de reação com os mesmos. 2.10 Geração de Biogás Oriundo de ETE Há grande interesse na utilização do biogás gerado nos processos anaeróbios como fonte de energia. A mistura desses gases é composta por 60 a 70% de metano, 25 a 30% de gás carbônico e pequenas percentagens de hidrogênio, nitrogênio e gás sulfídrico (NUVOLARI, 2003). O uso do biogás traz inúmeras vantagens, principalmente, no que se trata dos benefícios socioambientais, uma vez que a sua utilização evita o lançamento de metano na atmosfera, e, por ser um gás de origem renovável pode trazer retorno financeiro com a sua utilização e aproveitamento. Os gases provenientes de qualquer instalação que receba esgotos sanitários brutos para realização de seu tratamento apresentam potencialidade de exalação de maus odores ou de gases que podem ter efeitos danosos aos operadores e circunvizinhança. (CAMPOS; PAGLIUSO, 1999, p. 249). Diante da situação supracitada, os Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente - RAFA, onde ocorre a maior formação de gases, pois, há uma proliferação de microrganismos mais acentuada. Contudo, podem gerar diferentes gases, dependendo do substrato que é submetido o tratamento do esgoto. 29 Os principais gases gerados nesses reatores são: metano (CH4), gás carbônico (CO2), gás amoníaco (NH3), gás sulfídrico (H2S), hidrogênio (H2) e oxigênio (O2). De acordo com o fluxograma da figura 4, há a designação dos processos envolvidos e produtos formados: Figura 4: Principais produtos gasosos gerados em reatores anaeróbios. Fonte: Adaptado de Christensen, T.H. et al., (1992). Nas etapas de digestão anaeróbia, são reconhecidos quatro estágios: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese. Esses processos, pôde ser visualizado na figura 4, através de um fluxograma. A produção de biogás, por pessoa atendida em uma ETE, pode variar predominantemente, na faixa de 5 a 20 l/pessoa por dia, sendo que a participação de metano, em volume, pode variar na faixa de 50% a 70%. O restante é composto por CO2, NH3, N2, H2, mercaptanas2, outros gases e vapor de água. (CAMPOS; PAGLIUSO, 1999, p. 252). No entanto, a obtenção do biogás é feita a partir da decomposição da matéria orgânica, através de bactérias que não precisam de ar para sobreviver. Com isso, deve-se haver o cuidado para que o ambiente seja o mais vedado possível. 2 Mercaptanas: composto organossulfurado que contém um grupo –SH. 30 2.11 Processos da Geração do Biogás Como sabe-se, o biogás é uma mistura de gases provenientes da decomposição anaeróbia de matéria orgânica. Dessa forma, a decomposição consegue influenciar diretamente em uma maior produção de metano e menor produção de biomassa celular. Para a obtenção do biogás, são necessários alguns processos anteriores, que são: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese. 2.11.1 Hidrólise De acordo com Foresti et al., (1999), no processo de hidrólise, o material orgânico particulado é convertido em compostos dissolvidos de menor peso molecular. O processo requer a interferência das chamadas exo-enzimas que são excretadas pelas bactérias fermentativas. As proteínas são degradadas por meio de (poli) peptídeos para formar aminoácidos. Os carboidratos se transformam em açúcares solúveis (mono e dissacarídeos) e os lipídios são convertidos em ácidos graxos de longa cadeia de carbono e glicerina. Em muitos casos, na prática, a velocidade de hidrólise pode ser a etapa limitativa para todo o processo da digestão anaeróbia, isto é, a velocidade da conversão do material orgânico complexo para biogás é limitada pela velocidade da hidrólise. Na hidrólise as ligações moleculares complexas como carboidratos, proteínas, gorduras, são quebradas e dão origem aos aminoácidos, ácidos graxos e açúcares, por exemplo. 2.11.2 Acidogênese A acidogênese é efetuada por um grande e diversos grupo de bactérias fermentativas. Algumas espécies são facultativas e metabolizam o material orgânico por via oxidativa. Os compostos dissolvidos, gerados no processo de hidrólise ou liquefação, são absorvidos nas células nas células das bactérias fermentativas e, após a acidogênese, excretadas como substâncias orgânicas simples como ácidos graxos voláteis de cadeia curta, álcoois, ácido lático e compostos minerais como CO2, H2, NH3, H2S etc. A fermentação acidogênica é realizada por um grupo diversificado de bactérias, das quais a maioria é anaeróbia obrigatória. Entretanto, algumas espécies são facultativas e podem metabolizar material orgânico por via oxidativa. Isso é importante nos sistemas de tratamento anaeróbio de esgoto, porque o oxigênio dissolvido, eventualmente presente, poderia se tornar uma substância tóxica para as bactérias metanogênicas se não fosse removido pelas bactérias acidogênicas facultativas. (FORESTI, E. et al., 1999, p. 33 e 34). 31 Na acidogênese as substâncias resultantes da hidrólise são transformadas por bactérias fermentativas em ácido propanoico, ácido butanoico, ácido láctico, álcoois, e outros. 2.11.3 Acetogênese Segundo o mesmo autor supracitado Foresti et al., (1999, p. 34 e 35), a acetogênese é a conversão dos produtos da acidogênese em compostos que formam os substratos para produção de metano: acetato, hidrogênio e dióxido de carbono. O material resultante desse processo é transformado em hidrogênio, acetato e gás carbônico para finalmente serem transformados em metano. 2.11.4 Metanogênese Foresti et al., (1999, p. 35) nos designa que o metano é produzido pelas bactérias acetróficas, a partir da redução de ácido acético, ou pelas bactérias hidrogenotróficas, a partir da redução de dióxido de carbono. Tem-se as seguintes reações catabólicas: Metanogênese acetrófica ou acetoclástica: CH3COO- + H+ CH4 + CO Metanogênese hidrogenotrófica: 4H2 + HCO3- + H+ CH4 + 2H2O As bactérias que produzem metano a partir do hidrogênio crescem mais rapidamente que aquelas que usam ácido acético, de modo que as metanogênicas acetotróficas geralmente limitam a velocidade de transformação de material orgânico complexo. (FORESTI, E. et al., 1999, p. 35). O processo de digestão é desenvolvido por uma sequência de ações realizadas por uma gama muito grande e variável de bactérias, no qual pode-se distinguir quatro fases subsequentes: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese (Van Haandel e Lettinga, 1994). Tem-se, então, uma cadeia sucessiva de reações bioquímicas, onde inicialmente acontece a hidrólise ou quebra das moléculas de proteínas, lipídios e carboidratos até a formação dos produtos finais, essencialmente gás metano e dióxido de carbono. Na figura 5, mostra-se a sequência dos processos de formação do metano (biogás): 32 Figura 5: A sequência de processos na digestão anaeróbia de macro moléculas complexas. Fonte: Adaptado de Foresti et al., (1999). 2.12 Destino e Utilização do Biogás Os gases provenientes da ETE, devem ser considerados como emissão poluidora. Dessa forma, o destino pode ser: o tratamento, a combustão ou o reuso controlado (CAMPOS; PAGLIUSO, 1999). Ainda de acordo com Campos e Pagliuso (1999), o reuso precisa ser verificado sob o aspecto técnico, econômico e ambiental. As alternativas para o reuso, pode-se pensar em: uso em motores de combustão interna, uso direto do biogás, distribuição em rede após tratamento adequado, alimentação de caldeiras, geração de energia elétrica (geralmente, a eficiência de geradores alimentados com biogás tratado varia na faixa de 15% a 30%). Dessa forma, para ser utilizado em motores de combustão interna é necessário ser feito a retirada do gás carbônico, gás sulfeto de hidrogênio e vapor de água e outros compostos. Para a geração de energia elétrica, tendo o biogás como fonte, é realizada por meio do uso para a alimentação de grupos moto-gerador. São possíveis duas finalidades para a energia elétrica gerada: o primeiro e melhor remunerado é a comercialização com a concessionária de distribuição, por meio de uma chamada pública de compra de energia. A chamada pública é um mecanismo regulado, pelo qual a concessionária de distribuição pode comprar energia elétrica 33 de pequenos geradores. Outra finalidade é a adesão do gerador ao sistema de compensação de energia com a concessionária de distribuição. Neste sistema, o gerador utiliza o sistema de distribuição como uma bateria – quando gera mais energia do que consome, adquire crédito para compensar em momentos em que o consumo é maior que a geração. A venda dos excedentes de energia elétrica pode ser realizada por meio de contratos com concessionárias distribuidoras, em chamadas públicas, reguladas pelas instruções normativas da ANEEL. 2.13 Tratamento do Biogás Campos e Pagliuso (1999) ainda cita que o tratamento do biogás visa à eliminação do odor e redução de compostos poluentes, pode ser efetuado de acordo com as seguintes alternativas: bioinfiltração, adsorção em carvão ativado, absorção química, oxidação térmica. 2.13.1 Biofiltração O princípio de funcionamento do biofiltro é a passagem de uma gás, carregado com poluente, através de um meio suporte úmido, geralmente de origem natural, onde estão fixados os microrganismos. “Os biofiltros são constituídos por leitos de material orgânico enriquecido com inóculo e nutrientes, por meio do qual os gases a serem tratados escoam no sentido ascendente ou descendente”. (CAMPOS; PAGLIUSO, 1999, p. 256). A biofiltração deve ser destacada por sua importância como pré-tratamento antecedendo queimadores. Na figura 6, mostra-se um esquema de um biofiltro típico: Figura 6: Esquema de um biofiltro típico. Fonte: Campos e Pagliuso, 1999. 34 O processo de biofiltração consiste em duas etapas principais. Na primeira, o gás é transferido a partir da parte inferior para a parte superior, onde se encontro a película de líquido (água) e então é adsorvido num suporte sólido. Na última etapa, o poluente é biodegradado pelos microrganismos presentes no leito. 2.13.2 Adsorção em Carvão Ativado Na remoção de odores, o carvão ativado é um dos sólidos utilizado de maneira efetiva e o mais empregado. Outros sólidos são menos utilizados que o carvão, entre eles a alumina, a bauxita, a sílica gel e o “carvão de churrasco” (CAMPOS; PAGLIUSO, 1999). O que limita a utilização desses sólidos estão em geral ligadas à absorção de água, que reduz a eficiência de adsorção. 2.13.3 Absorção Química Fenômeno físico ou químico em que átomos, moléculas ou íons introduzem-se em alguma outra fase, nesse caso, a água pressurizada com as partículas do gás. A substância absorvida se infiltra na substância que absorve, diferentemente da adsorção, já que espécies químicas submetidas a absorção são absorvidas pelo volume, não pela superfície (como no caso de adsorção). 2.13.4 Oxidação Térmica De acordo com Domene (2015), a oxidação térmica é a transformação de componentes passíveis de serem oxidados termicamente e transformados em vapor d’água, dióxido de carbono e nitrogênio, sendo talvez a única solução efetiva para resolver determinados problemas de emissão de poluentes. Nesse tipo de processo, há dois tipos de incineração: térmica e catalítica. Na incineração térmica, é necessário adicionar um combustível auxiliar para auxiliar na combustão dos gases, pois por si só são incapazes de manter a combustão. Já na incineração catalítica, requer temperaturas menores que a térmica, tendo a necessidade de pré-aquecimento menor. 35 2.14 Tecnologias de Conversão Pode-se utilizar de duas situações possíveis para o aproveitamento do biogás: o primeiro caso consiste na queima direta (aquecedores, esquentadores, fogões, caldeiras); o segundo caso diz respeito à conversão de biogás em eletricidade. Isto significa que o biogás permite a produção de energia elétrica e térmica. Diante disso, pode contribuir para a resolução de problemas de poluição de efluentes. Existem diversas tecnologias para efetuar a conversão de energética do biogás. Nesse caso, a conversão energética caracteriza-se como a transformação de energia em outro tipo. Ou seja, a energia química contida em suas moléculas é convertida em energia mecânica por um processo de combustão controlada, que por sua vez ativa um gerador que a converte em energia elétrica. (COELHO, S. T. et al., p. 3). Entre as tecnologias para conversão energética do biogás mais utilizada atualmente, destacam-se os motores de combustão interna – Ciclo Otto e as microturbinas. Além de poder substituir os combustíveis fósseis, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa. Dessa forma, pode resultar em externalidades positivas, capazes de serem mensuradas – além de ser viável economicamente. Pode-se obter receita pela venda de energia elétrica gerada ou pela comercialização de créditos de carbono no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto pelo protocolo de Quioto – um acordo internacional, estabelecido em 1997 no Japão, que prevê metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, bem como mecanismos de implementação para que estas metas sejam atingidas. 2.14.1 Motores Ciclo Otto De acordo com o ICLEI – Brasil, o motor ciclo Otto é o equipamento mais utilizado para queima do biogás, devido ao maior rendimento elétrico e menor custo quando comparado às outras tecnologias. Para promover a queima do biogás, são necessárias pequenas modificações nos sistemas de alimentação, ignição e taxa de compressão. Comumente conhecido como motores de 4 (quatro) tempos, pois seu funcionamento ocorre sequencialmente em quatro etapas. Segundo Bertulani (1999), adaptado pelo ICLEI – Brasil, o princípio de funcionamento consiste em: Admissão: abertura da válvula de admissão através da qual é injetada ao cilindro a mistura ar-combustível e o pistão é empurrado para baixo com o movimento do virabrequim; 36 Compressão: fechamento da válvula de admissão e compressão da mistura (ordem de 10:1) e conforme o pistão sobe (antes de chegar a parte superior) a vela gera uma faísca; Combustão ou Explosão: onde ocorre a combustão da mistura e expansão dos gases quentes formados. Essa expansão dos gases promove uma determinada força, permitindo que o pistão desça; Exaustão ou Expulsão: abertura da válvula de escape através da qual os gases são expulsos pelo pistão. Na figura 7, apresenta o funcionamento de um motor tipo ciclo Otto: Figura 7: Esquema de funcionamento de um motor ciclo Otto. Fonte: http://abastecendoavida.blogspot.com.br/2010/10/diferencas-entre-motores-alcool.html, 2010. O ICLEI – Brasil mostra que as vantagens para uso dos motores tipo Otto são: geração de energia elétrica para o próprio consumo, economia de dinheiro em relação à energia proveniente da concessionária, possibilidade de obtenção de receita adicional pela venda de excedente de energia, possibilidade de obtenção e comercialização de créditos de carbono (considerada 100% de eficiência de queima). Como também o ICLEI – Brasil apresenta as seguintes desvantagens: motores de grande porte são importados, já que, no Brasil, a maior potência disponível é de aproximadamente 230 kW (isso faz com que o investimento seja elevado, pois as potências hoje disponíveis no mercado variam de 5 kW a 1,6 MW), baixo rendimento - aproximadamente 28%, altos valores 37 de emissão de NOx (gás de grande impacto ambiental). Dependendo do porte do motor, a emissão de NOx varia entre 250 e 3.000 ppm (parte por milhão). 2.14.2 Microturbinas a Gás As microturbinas são utilizadas em aplicações de geração de energia elétrica que incluem cogeração, uso de combustíveis renováveis, energia elétrica de alta qualidade e veículos elétricos híbridos (VHE). Nas microturbinas, o ar é forçado para seu interior a alta velocidade e pressão, misturado ao combustível, para então, ser queimado na câmara de combustão. Os gases resultantes da combustão são expandidos na turbina e o calor remanescente dos gases de exaustão pode ser aproveitado para aquecimento do ar de combustão (ICLEI – BRASIL). Na figura 8 apresenta-se a ilustração de microturbina a gás contendo os detalhes internos do equipamento. Figura 8: Ilustração da microturbina à gás. Fonte: www.heimer.com.br/v3/br/microturbina.html, 2012. Além das vantagens apresentadas nos motores Ciclo Otto, as microturbinas apresentam os seguintes benefícios segundo o ICLEI – Brasil: baixos níveis de ruídos e vibrações, flexibilidade de combustível (dentre eles o biogás), dimensões reduzidas e simplicidade de instalação podendo ser instaladas em locais cobertos ou ao ar livre, emissões de NOx são 38 menores que 9 ppm nas microturbinas de baixa potência (30 a 100 kW) e podem chegar a 100 ppm nas de maior potência. Da mesma forma, apresentam as desvantagens: equipamentos importados (investimento inicial elevado; as potências hoje disponíveis no mercado variam de 30 kW a 1,0 MW), alto custo de operação e manutenção, quando comparada a outras tecnologias existentes, necessidade de um rígido sistema de limpeza do biogás e remodelação da microturbina para sua queima, já que é um gás de baixo poder calorífico. Além dessas desvantagens anteriormente citadas, possui um baixo rendimento aproximadamente 28%. Porém, quando utilizadas em instalações de cogeração, sua eficiência pode chegar a mais de 80% (HAMILTON, 2003). 2.15 Cenário e Panorama Futuro do Uso do Biogás no Setor Energético O potencial de aproveitamento energético do biogás depende, sobretudo, da viabilidade econômica dos projetos integrados de produção, coleta e utilização do biogás. Na avaliação da viabilidade econômica dos projetos devem ser considerados inicialmente os custos de investimento e operação e manutenção para cada projeto específico e as receitas obtidas com a venda de energia ou a redução de custos proporcionada. O uso final do biogás, neste caso, é o fator determinante, uma vez que todos os parâmetros econômicos dependem da utilização do combustível, seja para produção de calor, eletricidade, co-geração ou simplesmente a comercialização do gás. (ZANETTE, 2009, p. 44). No Brasil, o aproveitamento do biogás ainda é incipiente, com apenas 42 MW de capacidade instalada e 20 MW em construção (ANEEL, 2009). Considerando a elevada concentração da população brasileira em grandes centros urbanos e a expressiva produção agropecuária e agroindustrial (e, portanto, de resíduos e efluentes domésticos, agropecuários e agroindustriais), é natural acreditar que o atual aproveitamento do biogás no Brasil encontra-se bastante aquém do seu potencial. Considerando o estágio atual dos serviços de coleta e tratamento de esgotos no Brasil, o potencial de aproveitamento energético do biogás é pouco expressivo, limitado a algumas estações de tratamento que possuem reatores anaeróbicos ou digestores de lodo. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000 (IBGE, 2002), dos 1.383 distritos brasileiros que possuíam tratamento de esgotos, cerca de 300 utilizavam reatores anaeróbicos. Dos estados brasileiros que mais utilizavam esse tipo de tratamento destaca-se o Paraná, com 112 reatores anaeróbicos, o que indica um razoável potencial de aproveitamento energético do biogás nesse estado. O estado de São Paulo também merece destaque, por concentrar quase 70% das estações de tratamento que utilizam processos aeróbicos de lodo 39 ativado, muitas das quais com digestores de lodo. A pesquisa destaca ainda a elevada utilização de sistemas de tratamento pouco eficientes, como as lagoas anaeróbicas, aeróbias e facultativas. A expansão dos serviços de coleta e tratamento de esgotos pode modificar substancialmente essa situação, e a possibilidade de aproveitamento energético do biogás pode, inclusive, influenciar a escolha da tecnologia adotada para a expansão dos serviços de tratamento de esgotos. Na indústria de papel e celulose, apesar do crescente investimento em processos de tratamento anaeróbico de efluentes (que apresentam elevada eficiência na redução da DQO – da ordem de 80%), os processos de lodo ativado (aeróbicos) ainda predominam (THOMPSON et al., 2001). Finalmente, destaca-se a aplicação dos processos anaeróbicos de tratamento de efluentes com o aproveitamento de biogás nas principais indústrias de bebidas do Brasil (especialmente em cervejarias), como a AmBev e a Schincariol. Em geral, o aproveitamento do biogás é viável em estações de tratamento de efluentes com digestão anaeróbica do lodo e em aterros sanitários que atendem a uma população superior a 200.000 habitantes, e em fazendas de suínos e de pecuária leiteira com pelo menos 5.000 animais e cerca de 1.000 animais, respectivamente. 2.16 Eficiência Energética a Partir de Biogás O potencial de aproveitamento energético do biogás depende, sobretudo, da viabilidade econômica dos projetos integrados de produção, coleta e utilização do biogás. Na avaliação da viabilidade econômica dos projetos devem ser considerados inicialmente os custos de investimento e operação e manutenção para cada projeto específico e as receitas obtidas com a venda de energia ou a redução de custos proporcionada. O uso final do biogás, neste caso, é o fator determinante, uma vez que todos os parâmetros econômicos dependem da utilização do combustível, seja para produção de calor, eletricidade ou co-geração. O poder calorífico do biogás tratado é da ordem de 0,60 do de gás natural, demonstrando potencialidade de uso controlado. Seu poder calorífico é muito variável, porém resulta geralmente próxima a 5,9 kWh/m3, quando seco e previamente tratado. (CAMPOS; PAGLIUSO, 1999, p. 255). Em contrapartida, deve-se levar em consideração a sua agressividade, em termos de corrosão, pois afetará diretamente na vida útil dos equipamentos utilizados e em sua eficiência. 40 2.16.1 Poder Calorífico Segundo Azevedo (2000), o poder calorífico superior e inferior de biogás apresenta faixas de variação conforme a tabela 7. Define-se poder calorífico superior o poder calórico de combustão que resulta água na fase de vapor e poder calorífico inferior que resulta em água na fase líquida. Tabela 7: Faixa de poder calorífico. Poder Calorífico Superior (MJ/kg) Inferior (MJ/kg) Faixa de Variação 17 a 37 15 a 34 Fonte: Azevedo, 2000. Em posse do poder calorífico do biogás, é possível compará-lo com outros combustíveis, conforme a tabela 8: Tabela 8: Poder calorífico de combustíveis em MJ/kg. Combustível Metano Gás Natural Gasolina Diesel (leve) Diesel (pesado) Gás de Refinaria Etanol Carvão Vegetal Metanol Madeira Seca Madeira (25% a 30% umidade) Poder Calorífico Superior Poder Calorífico Inferior 55,5 50,0 50,0 45,0 47,3 44,0 44,8 42,5 43,8 41,4 42,3 38,6 29,7 26,9 29,7 n/d 22,7 20,0 19,8 a 20,9 n/d 14,6 n/d Fonte: Azevedo, 2000. Verifica-se que o biogás apresenta um poder calorífico inferior ao do metano sendo comparável com o etanol, metanol, carvão vegetal e madeira. Para que o biogás possa ser utilizado como combustível, seja em motores, turbinas a gás ou microturbinas, é necessário identificar sua vazão, composição química e poder calorífico, parâmetros que determinam o real potencial de geração de energia elétrica, além de permitir dimensionar os processos de pré-tratamento do biogás, como a remoção de H2S (ácido sulfídrico) e da umidade, com o propósito de evitar danos aos equipamentos da instalação e aumentar seu poder calorífico. (COELHO et al., p. 2). 41 Com os parâmetros supracitados pelos autores, pode-se identificar os tipos de tratamentos para os gases, evitando assim o comprometimento do rendimento do motor e danos ao equipamento. Esses parâmetros são de fundamental importância, podendo-o comparar com outros materiais, designando a eficácia de cada um deles. De acordo com a tabela 9, apresenta-se a comparação entre diversas propriedades do metano e da gasolina para fins de alimentação de um motor de combustão interna. Tabela 9: Comparação entre propriedades do metano e da gasolina. PROPRIEDADE Densidade (Kg/N.m³) Poder calorífico inferior (Kcal/Kg) Razão ar-combustível estequiométrica (massa) Razão ar-combustível estequiométrica (volumétrica) Conteúdo energético da mistura (Kcal/N.m³) Calor latente de evaporação (Kcal/Kg) Temperatura de auto-ignição a 1 atm (°C) Limite de inflamabilidade (%) Energia mínima para ignição (Mj) Velocidade de chama laminar (cm/s) Temperatura adiabática de chama (°C) Número de octanas CH4 0,718 ~11900 17,2 9,55 ~810 122 ~650 5,3 a 36 0,28 33,8 2227 120 GASOLINA 5,093 ~10600 14,9 59 ~900 ~70 ~500 1,2 a 6 0,25 ~38 2270 92 ~ 98 Fonte: CIBIOGÁS – ENERGIAS RENOVÁVEIS; Embrapa; CIH – Centro Internacional de Hidroinformática; PTI – Parque Tecnológico Itaípu; ITAIPU BINACIONAL, 2015. Observa-se que, a partir das propriedades relacionadas apesar do metano possuir um poder calorífico inferior 12% maior que a gasolina, o conteúdo energético por unidade de volume da mistura estequiométrica do metano/ar é 10% menor em relação à mistura ar/gasolina. Isso implica em uma queda de potência de 10%. 2.16.2 Equivalência Energética Verifica-se que o biogás in natura apresenta um poder calorífico inferior ao do metano sendo comparável com o etanol, metanol, carvão vegetal e madeira. De acordo com a tabela 10, para Santos (2000), 1 m³ de biogás equivale a 6,5 kWh. Há também a equivalência energética do biogás com outras fontes de energia, como mostra na mesma tabela 10: 42 Tabela 10: Equivalência energética do biogás com outras fontes de energia. Energético Gasolina (L) Querosene (L) Diesel (L) GLP (kg) Álcool (L) Carvão Mineral (kg) Lenha (kg) Eletricidade (kWh) Ferraz e Mariel (1980) Sganzerla (1983) Nogueira (1986) Santos (2000) 0,61 0,58 0,55 0,45 1,43 0,613 0,579 0,553 0,454 0,79 0,735 1,538 1,428 0,61 0,62 0,55 1,43 0,8 0,74 3,5 - 0,6 0,6 1,6 6,5 Fonte: Adaptado por Catapan, A.; Catapan, D. C. e Catapan, E. A., de Ferraz e Mariel (1980), Sganzerla (1983), Nogueira (1986) e Santos (2000). Dessa forma, percebe-se que o biogás pode ser aproveitado como uma fonte altamente energética no âmbito de geração de energia elétrica, co-geração e como combustível. No entanto, dependendo da finalidade alguns processos de tratamento e adaptações precisarão serem feitos. 43 3 METODOLOGIA 3.1 Classificação da Pesquisa Neste trabalho, o procedimento metodológico foi desenvolvido inicialmente a partir de uma revisão bibliográfica com autores nas temáticas inerentes ao presente estudo tais como sistema de esgotamento sanitário, estações de tratamento, geração de biogás e tecnologias para implantação e geração de energia elétrica a partir deste processo. Dessa forma pode-se classificar a pesquisa como sendo realizada de forma exploratória, como também trata-se de um estudo de caso uma vez que todos as coletas de dados e análises foram realizadas a partir de uma unidade específica localizada na cidade de Caruaru. A problemática delineada para este estudo teve uma abordagem quantitativa, ou seja, expor e quantificar a geração de energia através do biogás. Para subsidiar este trabalho foi necessário a coleta de informações acerca da extração do biogás e de que forma pode-se utilizá-lo tendo como cenário de estudo a Estação de Tratamento de Esgoto – ETE, do bairro das Rendeiras, em Caruaru – PE. Aliado aos fatos mencionados foram ainda analisadas as técnicas e os custos envolvidos para implantação, extração e utilização do biogás na unidade citada. Sendo assim, o método escolhido foi o de estudo de caso, pois permite a realização de uma pesquisa detalhada e aprofundada, através da definição da unidade para o estudo referido, permitindo um amplo conhecimento (GIL, 2008). 3.2 Universo e Amostra A cidade escolhida para o estudo foi Caruaru, pois além de ser uma cidade muito promissora acerca do desenvolvimento econômico (atualmente figura entra a 5ª cidade com maior PIB do Estado de Pernambuco e 1ª fora do Recife, Região Metropolitana e Zona da Mata), há uma demanda considerável de esgotos de uso doméstico na Estação de Tratamento de Esgoto, localizada no bairro das Rendeiras. Dessa forma, a escolha baseou-se na limitação do uso de energia elétrica fornecida pela concessionária elétrica (CELPE – Companhia Elétrica de Pernambuco), na qual, o biogás gerado na ETE servirá para o próprio uso de energia, tornando-o uma fonte viável. 44 3.3 Coleta e Análise de Dados Após a escolha do tema e do local de estudo, buscou-se fontes que pudessem ajudar na contextualização do universo e da amostra da pesquisa em questão. A fim de evidenciar, através das informações coletadas e obtidas por meio de relatórios internos da concessionária de coleta de esgoto, o quanto de energia está sendo desperdiçada através da não utilização do biogás como fonte energética sustentável, destacando assim, a relevância do trabalho. 3.3.1 Contextualização da Cidade de Caruaru Caruaru é um município brasileiro do estado de Pernambuco, situado na região Nordeste do país. Pertence à mesorregião do Agreste Pernambucano e a microrregião do Vale do Ipojuca. Localiza-se a oeste da capital do estado – Recife, distando desta cerca de 130 km. Ocupa uma área de 920,611 km2, sendo que apenas 16,650 km2 estão em perímetro urbano e os 903, 961 km2 restantes formam a zona rural. As cidades limítrofes são Brejo da Madre de Deus e São Caetano, a oeste; Toritama, Vertentes e Frei Miguelinho, a norte; Riacho das Almas e Bezerros, a leste; e Altinho e Agrestina, a sul. De acordo com os dados obtidos do último censo realizado em 2014 pelo IBGE, a população de Caruaru é em torno de 342.328 habitantes, sendo então mais populoso do interior pernambucano. É também conhecida como “Capital do Forró”, “Capital do Agreste” e a “Princesinha do Agreste”. Logo abaixo, na figura 9, encontra-se a localização geográfica de Caruaru no estado de Pernambuco: Figura 9: Mapa de Pernambuco com destaque para Caruaru. Fonte: COMPESA, 2015. 45 O desenvolvimento do município teve seu apogeu a partir de 1896, após a construção da Great Western, a linha férrea que conecta a cidade à capital pernambucana. Pelos seus trilhos era escoada a produção agrícola, além das mercadorias tradicional da feira. Iniciada em 2001 pelo governo do Estado, a duplicação da principal rodovia que dá acesso ao município, a BR232, foi crucial para a industrialização da sua economia e o crescimento do setor de serviços, já que com a nova rodovia o número de turistas em dada época do ano era maior, visto que a duplicação trouxe uma redução no tempo de viagem e mais segurança. O primeiro trecho das obras foi iniciado no sentido Recife - Caruaru e concluídas em 2003, quando foi dado início a outro trecho, Caruaru - São Caetano. O município vem exercendo um importante papel centralizador no Agreste e interior pernambucano, concentrando o principal pólo médico-hospitalar, acadêmico, cultural e turístico da região. Possui a maior Festa Junina do mundo, segundo registro do Guinness World Records (o livro dos recordes), e é internacionalmente conhecida pelos festejos. Detém ainda a Feira de Caruaru, conhecida por ser uma das maiores feiras ao ar livre do mundo e ter sido tombada como patrimônio imaterial do país pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Seu artesanato com barro ficou mundialmente conhecido pelas mãos de Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, que representou Pernambuco na exposição de Arte Primitiva e Moderna Brasileira no ano de 1955, em Neuchâtel, na Suíça, podendo atualmente ter suas obras contempladas no Museu do Louvre, em Paris, e em sua antiga residência no Alto do Moura, em Caruaru. A vegetação predominante é a caatinga, com presença de remanescentes de Mata Atlântica em brejos de altitude. Possui apenas uma unidade de preservação, o Parque Florestal Serra dos Cavalos, também chamado de Parque Ecológico João Vasconcelos Sobrinho, no limite com o município de Altinho, conta com 359 hectare de área protegida. A caatinga é composta por espécies hiperxerófilas, com a forte presença de arbustos com galhos retorcidos e com raízes profundas. As espécies mais encontradas são os cactos, caroá, aroeira, angico, juazeiro, mandacaru e xique-xique. Já a Mata Atlântica, típica dos brejos de altitude no sul do município é constituída por árvores de médio e grande porte, formada por floresta densa e fechada. Sendo muito rica em biodiversidade, as árvores de grande porte formam um microclima dentro da mata, com sombra e muita umidade. As espécies mais comuns são: palmeiras, bromélia, begônias, orquídeas, cipós, briófitas, pau-brasil, jacaranda, peroba, jequitibá-rosa, cedro, andira, ananas e figueiras. O município está situado na unidade geoambiental da Província da Borborema, sendo formada por maciços e outeiros altos, com altitudes que variam entre 600 a 1 000 metros. O 46 relevo é predominantemente movimentado, com vales profundos e vales dissecados, com altitude média de 554 metros acima do nível do mar. Está localizado no Planalto da Borborema e seu ponto culminante é o Morro do Bom Jesus, com 630 metros acima do nível do mar. O território municipal é recortado por rios perenes de baixa vazão, tendo também pequeno potencial de água subterrânea. Situa-se na bacia hidrográfica do Rio Ipojuca e do Rio Capibaribe, tendo como seus principais cursos hidrográficos os riachos Tabocas, Caiçara, Borba, da Onça, Olho d'água, Mandacaru do Norte, Caparatós, São Bento, Curtume e Taquara. Seus principais corpos de acumulação de água são os açudes Eng°. Gercino de Pontes (13.600.000 m³), Taquara (1.100.000 m³), Guilherme (786.000 m³), Serra dos Cavalos (761.000 m³) e Jaime Nejaim (100.000 m³). 3.3.2 Contextualização da Estação de Tratamento de Esgoto – Rendeiras A ETE localizada no bairro das Rendeiras, em Caruaru – PE, não opera com seu sistema em sua totalidade. Apesar disso, é obtido um DBO aproximadamente em torno de 90%. Percebe-se que a lagoa de decantação está em fase de construção, por exemplo. Na figura 10, será apresentado a localização da ETE com relação a cidade de Caruaru. Figura 10: Localização da ETE frente a cidade de Caruaru. Fonte: Google Earth, 2015. Na figura 11, mostra-se a vista aérea da ETE, com destaque para a UASB e a lagoa de decantação, além de ser cercada pelo Rio Ipojuca. 47 Figura 11: Vista aérea da ETE. Fonte: Google Earth, 2015. Atualmente a ETE contempla vários bairros, alguns em sua totalidade, outros parcialmente. Dessa maneira, podemos citar alguns bairros que o esgoto é tratado, como por exemplo: Boa Vista I e II, Nova Caruaru, Salgado, INOCOOP, Centro, Indianópolis, Maurício de Nassau, Rendeiras, Cedro, Cohab III, entre outros. Apenas 40 % dos esgotos de Caruaru é tratada pela ETE, os demais não são tratados e são jogados no Rio Ipojuca sem nenhum ou quase nenhum tratamento prévio. Na figura 12, temos uma visão sobre as áreas saneadas e não saneadas, com seus respectivos percentuais de captação. Figura 12: Áreas saneadas e não saneadas, e seus respectivos percentuais de captação. Fonte: COMPESA, 2015. 48 3.3.3 Caracterização da ETE – Rendeiras O município de Caruaru possui um moderno sistema de tratamento que está baseado no uso de duas tecnologias: anaeróbia e aeróbia. 3.3.3.1 Tratamento de Esgotos na ETE - Caruaru Na figura 13, será mostrado através de uma ilustração o funcionamento da ETE – Caruaru: Figura 13: Tratamento de Esgoto da ETE – Caruaru Fonte: COMPESA, 2015. De acordo com as numerações acima referenciadas, logo abaixo será indicado o processo e operação: 1. O tratamento de esgotos tem início nas GRADES DE BARRAS – unidade que tem a função de remover os sólidos: plásticos, garrafas, madeiras, etc. As grades ficam nas estações elevatórias de esgoto que enviam para a ETE Caruaru. 2. Ao chegar na ETE, os esgotos seguem para a CAIXA DE REUNIÃO, local onde são reunidos os esgotos de todas as estações elevatórias. 49 3. Após a caixa de reunião, os esgotos seguem para a CAIXA DE AREIA, que tem como objetivo retirar a areia que chega com os esgotos, protegendo os equipamentos, tubulações e o correto funcionamento do sistema. 4. A CALHA PARSHALL tem a função de medir a vazão dos esgotos que chegam a ETE. 5. Após passar pela Calha Parshall, os esgotos chegam ao UASB – Reator Anaeróbio, onde passam por tratamento biológico que reduz uma grande carga de poluentes (orgânicos, inorgânicos, etc); produzindo gás metano e um efluente com melhor qualidade. 6. Na LAGOA DE AERAÇÃO os esgotos recebem continuamente oxigênio por ar difuso, processo que elimina ainda mais os poluentes, formando um subproduto lodo fresco. Uma parte deste lodo é recirculado e misturado com esgoto novo, logo após a caixa de reunião, com objetivo de melhorar o processo. 7. Após a lagoa de aeração, os esgotos passam para a LAGOA DE DECANTAÇÃO, onde o lodo sedimenta para o fundo da lagoa, sendo separado do esgoto tratado, que sai pela parte superior da lagoa. 8. No QUEIMADOR DE GASES será queimado o gás metano produzido pela UASB. 9. O ESGOTO TRATADO segue para o CORPO RECEPTOR (rio). Nas figuras 14, 15, 16, 17 e 18 serão mostradas algumas etapas supracitadas: Figura 14: Caixa de Reunião de Esgotos. Fonte: Autoria própria. 50 Figura 15: Caixa de Reunião dos Esgotos e Caixa de Areia. Fonte: Autoria própria. Figura 16: Vista Superior do UASB - Reator Anaeróbio. Fonte: Autoria própria. 51 Figura 17: Queimador dos gases produzidos no UASB. Fonte: Autoria própria. Figura 18: Flare - queimador de gás. Fonte: Autoria própria. 52 4 ANÁLISE E RESULTADO DOS DADOS 4.1 Infraestrutura Necessária do Projeto Neste tópico, a intenção é apresentar a análise realizada do projeto elaborado na forma de parceria entre o Centro de Gestão de Tecnologia e Inovação – CGTI, Bueno & Gama Pesquisa e Desenvolvimento – BGPD, Associação Politécnica de Consultoria – POLICONSULT, COMPESA e CELPE na unidade de Caruaru. O projeto proposto visa adequar uma infraestrutura de forma a possibilitar a implantação de uma usina piloto de geração de energia com o mínimo de 200 kW, usando o biogás da ETE em Caruaru. A infraestrutura necessária para a implantação da usina, considera a parte de geração de biogás e a sua conversão em energia elétrica. Dessa forma, será apresentado os dados obtidos a partir do projeto citado. Para a parte de geração de biogás, foram consideradas os seguintes itens: Existência do Esgoto: Torna-se fundamental a existência do esgoto a ser tratado na ETE de forma que o lodo gerado no processo de tratamento produza o biogás necessário. Neste item, considerando que a ETE Caruaru atualmente encontra-se com uma vazão em torno de 150 litros/s. Como a ETE não encontra-se em pleno funcionamento, estimou-se o potencial de 450 litros/s. Produção do Biogás: Para a produção do biogás no sistema atual na ETE Caruaru, no qual o lodo seja destinado à lagoa, torna-se necessário realizar as seguintes ações: Ajustes na ETE – tubulação fora de prumo de coleta de esgoto na UASB (em todas as 4 câmaras), e da UASB; Completar as campânulas para evitar vazamento de gás por elas, melhorando assim a captação de gás (não estão cruzando – assim o gás escapa pelo reator); A coleta de gases não está sendo feita pela tubulação de biogás, pois, os locais de captação estão inadequados. A tubulação é curta e não há pressão negativa para que o biogás preferencialmente entre na tubulação de coleta de biogás; 53 Consertar e impermeabilizar os vazamentos de gases pelas lajes que deveriam captar o biogás (o biogás estava borbulhando em algumas partes da laje na UASB, mostrando vazamento de biogás); Isolar a câmara de biogás no ponto de contato da cobertura das telhas de alumínio com a laje superior de concreto da câmara de biogás. Armazenamento do Biogás: com a atual vazão de afluente e sendo recuperada a UASB conforme informado anteriormente, torna-se possível a cobertura da Lagoa de Aeração existente através de uma manta geotêxtil de forma a se formar o biodigestor, obtendo o biogás com lodo. Depois do biogás ter sido armazenado, deve ser filtrado de maneira a atender às especificações mínimas de qualidade para ser destinado ao sistema de queima, seja através de queimadores ou no sistema de motorização para geração de energia elétrica. Outro elemento importante é dar condições técnicas para que a vazão e pressão desse biogás possa manter a geração constante, sem flutuações. 4.2 Descrição dos Equipamentos Necessários Os seguintes equipamentos serão necessários para a purificação do biogás e manutenção da qualidade da geração de energia: Purificador de H2S para evitar corrosão no motor; Medidor de vazão de biogás para monitoramento do biogás conforme exigência do projeto pela ANEEL; Analisador de qualidade de biogás (H2S, CH4, CO2, O2) para avaliar a qualidade e manter as condições mínimas de funcionamento do motor. Além disso, para monitoramento do biogás conforme exigência do projeto pela ANEEL; Queimador automático em aço inox. Funciona como válvula de segurança em casos de parada na geração e para evitar emissão de metanos no meio ambiente; Sistema de eliminação da água condensada que passa pela tubulação do biogás (drenos de água); Conexão através de tubulações entre os sistemas de tratamento e o sistema de geração; Válvula de segurança e sensor de pressão e temperatura; Biodigestor com cúpula, manta geotêxtil e lagoa aeróbica, flares, dispositivo de descarga, válvula de alívio e flanges para conexão, com tubulações diversas; 54 Bomba e tubulações para retirada do lodo. Para o sistema de geração de energia, considerando a existência de biogás sendo gerado pela estação de tratamento: Motogerador a biogás para geração de energia com tratamento acústico; Quadro de comando automático para o paralelismo entre a central geradora e a rede de distribuição de energia; Medidores de energia para geração e consumo. TPs e TCs para medição e relés para proteção. Materiais elétricos de infraestrutura; Sistema de telemetria ou similar para leitura dos dados de geração conforme exigência do projeto pela ANEEL. 4.3 Orçamento Previsto Para Implantação Para viabilizar a implantação de toda a infraestrutura prevista, serão necessários a realização do investimento conforme apresentado na tabela 11 a seguir, para que a unidade de tratamento de esgotos em Caruaru fique adequada para a otimização da produção do biogás necessário para geração de energia. Tabela 11: Parte do orçamento para adequação da unidade de tratamento em Caruaru. Descrição Biodigestor Enterrado + Cápsula Quantidade Preço Unitário (R$) Total (R$) 1 unidade 165.291,53 165.291,53 3087 m² 3,85 11.884,95 4 peças 8.500,00 34.000,00 7 unidades 250,00 1.750,00 Flange 6 Polegadas 28 unidades 44,00 1.232,00 Flare (Queimador) 7 unidades 500,00 3.500,00 Lagoa Aeróbica (PVC 0,80mm) 3435,19 m² 19,96 68.566,39 21 750,00 15.750,00 Manta Geotêxtil Dispositivo Gerador de Descarga Válvula de Alívio Instalação TOTAL GERAL ORÇAMENTO Fonte: Projeto elaborado pelo convênio CELPE – COMPESA, 2015. 301.974,87 55 Além desses materiais supracitados, precisa-se dos equipamentos para tratamento e utilização do biogás, desde a captação até a co-geração de energia. Na tabela 12, serão descritos os equipamentos e o orçamento previsto. Tabela 12: Investimento dos equipamentos previstos. Item Quantidade Sistema de tratamento de biogás com compressores 1 Sistema de medição de biogás 1 Analisador de biogás 1 Grupo motogerador 1 Relé de proteção microprocessado 1 Controlador automático com transferência em rampa 1 Chave selecionadora 1 Quadro de comando 1 Investimento Total R$ 640.767,00 Fonte: Projeto elaborado pelo convênio CELPE – COMPESA, 2015. O sistema de tratamento e filtragem do biogás com compressores conta com um filtro químico/físico, com a finalidade de reduzir as concentrações de sulfeto de hidrogênio (H2S), bem como eliminar eventuais partículas sólidas que circulam junto ao biogás, e reduzir a concentração de umidade. A primeira etapa do filtro é química composta por um sistema de lavagem e a segunda etapa é física composta por decantadores. Além disso, deverá possuir um resfriador do biogás, dreno condensado, abertura para limpeza e filtro de H2S para biogás. Dessa forma, certifica-se que a qualidade do biogás está comprovada para utilização como combustível no gerador. O sistema de medição de biogás é composto por um medidor de vazão tipo turbina para uso com gás e um computador com indicador/totalizador e transmissor de vazão, pois este possui entrada de compensação de temperatura e pressão. Estas variáveis devem ser consideradas na medição de vazão dos gases em função de sua compressibilidade. A regulagem e medição deve ser garantida através de sopradores para manter a pressão constante no motogerador, com medidor de vazão e medidor de gás metano, e filtro de carvão ativado. O analisador de gás baseia-se em um instrumento eletrônico com tipicamente até 20 canais de medição, configurado para atender determinada aplicação. É projetado para fornecer informações sobre o gás e gerar alertas caso algum nível pré-configurado seja ultrapassado. 56 Esse equipamento tem as seguintes características: controle de composição, log de dados do biogás, medição de fluxo e vazão, medição de temperatura e sistema de telemetria integrado. O grupo motogerador deverá seguir as seguintes características: motor apropriado para biogás, não podendo ser adaptado de diesel ou outro combustível, potência de 100 kW/h, seis cilindros transformado para biogás (Otolizado), turbinado e interculado, refrigeração a água por radiador, contendo um sistema de lubrificação, acoplamento monobloco, gerador síncrono, tensão trifásica 220/380V, frequência 60 Hz, controlador por quadro de comando micro processado, além de sensores, sistema de escape e possuir a base de aço sem carenagem. Para proteção, controle, monitoramento e automação de alimentadores com sistema de detecção de arco elétrico em painéis de baixa e média tensão, foi utilizado o relé digital micro processado. O controlador automático com transferência em rampa é utilizado para proporcionar controle total de um grupo gerador em operação singela ou em paralelismo momentâneo com a rede. Possui controle para dois contatores ou disjuntores, permitindo a transferência automática de carga com transição aberta, transição fechada ou transição suave (rampa). A chave selecionadora é utilizada no quadro de comando, permitindo a seleção de forma visível do circuito, possuindo uma ligação de intertravamento, evitando assim a abertura do sistema em carga. O quadro de comando, onde envolve todo o sistema de comando dos equipamentos e indicação através de displays, deve conter as seguintes características: indicação de potência elétrica gerada, indicação de energia elétrica em kWh, horas de funcionamento, medidor de temperatura, nível de água, nível de óleo do equipamento e alarmes. E o principal de todo o sistema, deverá ter a conexão com a rede elétrica, pois é o ciclo que fecha o processo, com painel de geração distribuída ao inserir a energia elétrica gerada na rede elétrica para ser distribuída Além desses materiais e recursos anteriormente citados, será fundamental a utilização de recursos não previstos no projeto e necessários para adaptação na ETE. Dentre eles estão: 2 (duas) bombas para lodo de esgoto tipo peristáltica para retirada total do lodo e bombeamento para o biodigestor. Deverá contar as seguintes características: vazão máxima de 4.500 l/h, pressão máxima de descarga de 16x105 Pascal, diâmetro das mangueiras de 32mm, potência do motor de 2,5 kW, com flanges de engate das mangueiras na sucção e recalque; 4 (duas principais e duas reservas) mangueiras de tubo flexível com diâmetro de 32mm para sucção da bomba. O comprimento da tubulação de recalque será de 25m, 50m e 57 100m (duas de cada com diâmetro de 50mm), fabricado com o material PEAD ou similar; Conexões (flanges de conexão com as mangueiras de recalque e sucção – 32mm). Quantidade: 4 (duas principais e duas reservas), fabricado de PEAD ou similar. 4.4 Dados Atuais da ETE Caruaru Segundo informações fornecidas pela Companhia Pernambucana de Saneamento COMPESA, gerência regional de Caruaru, responsável pela ETE, estes são os dados de 18/03/2014: vazão constante em torno de 150 L/s, com a perspectiva de atingir uma vazão média de 250 L/s após as desobstruções dos emissários, o que eventualmente, daria uma vazão de pico de forma intermitente. Para a DQO e a DBO, os dados medidos e coletados da ETE Caruaru variaram conforme a tabela 13: Tabela 13: Variações de DQO e DBO. Medição Local Entrada UASB DQO (mg O2/L) DBO (mg O2/L) 559 334 169 117 Saída da Lagoa de Polimento (Secundária) 87 45 Entrada UASB 810 728 198 143 Saída da Lagoa de Polimento (Secundária) 81 140 Entrada UASB 616 322 218 108 42 28 1ª Medição Saída do Reator UASB 2ª Medição Saída do Reator UASB 3ª Medição Saída do Reator UASB Saída da Lagoa de Polimento (Secundária) Fonte: COMPESA, 2015. De acordo com as medições coletadas da DQO e DBO, deve-se utilizar os valores no qual estão na mesma faixa, ou seja, mais próximos. Dessa forma pode-se obter a eficiência da ETE e realizar outras análises. Para o Potencial Hidrogeniônico (pH), os valores de entrada no UASB variaram de 7,3 a 7,5, enquanto que os de saída variaram de 7,4 a 8,0, conforme mostram os resultados na tabela 14 a seguir: 58 Tabela 14: Variações do pH conforme medições efetuadas. Medição Local Entrada UASB 1ª Medição Saída do Reator UASB pH 7,4 7,9 Saída da Lagoa de Polimento (Secundária) 8,2 Entrada UASB 7,3 2ª Medição Saída do Reator UASB Saída da Lagoa de Polimento (Secundária) Entrada UASB 3ª Medição Saída do Reator UASB Saída da Lagoa de Polimento (Secundária) 7,4 8 7,5 8 8,1 Fonte: COMPESA, 2015. No que se refere aos óleos e graxas, somente determinados na saída da lagoa secundária, foi obtido o valor máximo de 8,6 e o mínimo de 0 (zero), sendo mais comum valores variando de 3,8 a 4,3. 4.5 Atendimento às Condições Atuais da ETE – Caruaru à Resolução CONAMA 430/2011 Segundo os dados fornecidos pela COMPESA, o pH, temperatura, óleos e graxas do efluente da lagoa secundária estão dentro da conformidade pela legislação. No que se referem à DBO5, das três análises, uma delas está fora de conformidade, pois, a DBO5 apresentou valores de 140 mg/L. A Resolução CONAMA 430/2011 não fornece limites para a DQO, embora este seja um parâmetro bastante importante para determinação do grau poluidor e de produção do biogás do efluente. 4.6 Análise do Custo Benefício Neste tópico foram analisados o custo benefício e o retorno apenas sob o ponto de vista financeiro do investimento utilizado para viabilização deste piloto. Para subsidiar esta análise, foi utilizado como parâmetro o valor a ser obtido com a geração de energia mensal; e dessa forma, obtido o tempo necessário para o retorno. 59 A ETE é tarifada pela tarifa horo-sazonal verde. Para esse presente estudo, foi analisado a de maio/2015, como está descrito na tabela 15 abaixo, utilizando os valores finais com ICMS e PIS/COFINS (encargos e tributos): Tabela 15: Tarifação horo-sazonal verde no período de maio/2015. Fonte: CELPE, 2015. Supondo a instalação de 200 kW elétricos, a tarifa à ser paga considerando horário ponta e horário fora de ponta será de R$ 49.189,45/mês. Pode-se perceber através da tabela 16, onde será apresentado a fatura mensal: Tabela 16: Fatura mensal de consumo. PONTA FORA DE PONTA Potência (kW) 200 200 Dias no mês 30 30 Horas por dia 24 24 Horas/mês 66* 654** Consumo Mensal (kWh/mês) 13200 130800 Tarifa (R$/kWh) 1,56265 0,28584 Fatura (R$/mês) R$ 17.532,93 R$ 31.779,69 Fatura Total Mensal (R$/mês) R$ 49.312,62 * Horário ponta = 22 dias com 3 horas ** Horário fora de ponta = 22 dias com 21 horas + 8 dias com 24 horas Fonte: Autoria própria. Utilizando a minigeração ou microgeração de 100 kW até 1 MW, supondo a instalação de 200 kW elétricos e sendo gerado na ponta, tem-se o benefício de R$ 17.532,93/mês, obtendo R$ 210.395,16/ano. Foi considerado o desconto de 15% na fatura pela concessionária à CELPE. Apresentamos os principais resultados da implantação do sistema de geração de biogás na unidade em Caruaru: 60 Potência estimada da geração: 200kW; Investimento Inicial pela COMPESA de R$700.000,00, sendo o restante advindo da CELPE para viabilizar o sistema e o projeto. Geração de Energia na Ponta com possibilidade de compensar o excedente não consumido em outra ETE da própria COMPESA, conforme resolução ANEEL nº 482/2012. Vida útil do sistema: 20 anos. Custos de O&M associados com motogerador, filtros, óleo, medições de gases. 4.7 Análise Qualitativa dos Benefícios Neste tópico, a análise levou em consideração outros aspectos, tais como, inovação tecnológica, geração sustentável e renovável de energia, redução de poluentes ambientais e incentivo a pesquisa. Quanto a inovação tecnológica, verificou-se que no início dos trabalhos, foi possível agregar vários profissionais da área de pesquisa dentro do estado de Pernambuco e fora do mesmo. Vislumbra-se que o referido projeto piloto possa servir de base para outras implantações de sucesso em todo o estado, uma vez que agrega valor sobretudo sob o ponto de vista ambiental e inovação tecnológica. Os parâmetros utilizados podem comprovar a utilização de gases que seriam normalmente lançados para atmosfera gerando poluição e sem nenhum aproveitamento sustentável. E por fim, é notório que servirá de incentivo a outros pesquisadores dentro da temática estudada. 4.8 Análise do Potencial de Geração de Energia Nesta seção estão apresentados e discutidos inicialmente a apresentação do método de cálculo de produção de metano em reatores UASB, como o que é utilizado na ETE; e o cálculo do potencial de geração de metano e de energia elétrica para as diversas vazões que são utilizadas em Caruaru. 61 4.8.1 Método para Cálculo de Potencial de Geração de Biogás em Reatores UASB O método utilizado para a análise do potencial foi a citada no livro Reatores Anaeróbios (CHERNICHARO, 1997). Este método é baseado na DQO removida no reator UASB. A DQO acidificada é uma parcela da DQO biodegradável que estará disponível para as metanogênicas, pois uma parte desta é convertida em novas células bacterianas. Assim, a quantidade de DQO biodegradável afluente que pode ser acidificada é o somatório das parcelas convertidas em ácidos graxos voláteis e em metano (CHERNICHARO, 1997, p. 35). A DQOcel refere-se ao substrato que é consumido pelos microrganismos fermentativos e convertido em células. Dessa forma, nem toda a DQO estará disponível para as bactérias metanogênicas, uma vez que parte da mesma é convertida em novas células bacterianas (Ibid., p. 35). A estimativa teórica de produção de metano em função da demanda química de oxigênio (DQO), definida por Chernicharo (1997), é dada pela equação 3: VCH4 = DQOCH4 / K(T) (3) Onde, VCH4 = volume de metano produzido, em litros; DQOCH4 = DQO removida do reator e convertida em metano, em gDQO; K(T) = fator de correção para temperatura de operação. O fator de correção para temperatura é dado pela equação 4: K(T) = ( ) (4) Onde, P = pressão atmosférica (101.325 Pa); COD = carbono orgânico dissolvido por mol de CH4 = 64 gDQO/mol; R = constante universal dos gases = 8,31 J/mol.K; T = temperatura de operação do reator em °C. A produção de metano pode ser avaliada pela medição da vazão média do biogás e do teor de metano, em porcentagem volumétrica. O teor de metano no biogás é medido por 62 cromatografia gasosa usando padrões de gases presentes no biogás, enquanto a vazão de biogás é medida na saída do flare de cada linha de tratamento. A produção de metano REAL (medida) é obtida por meio da equação 5: QCH4 = A x v x N x [CH4] (5) Onde, QCH4 = vazão de metano no queimador, em m³/s; A = área do tubo na saída do queimador, em m³; v = velocidade do biogás na saída do queimador, em m/s; N = número de linhas; [CH4] = fração volumétrica de metano no biogás, em %. Para a ETE de Caruaru, da COMPESA, que utiliza a tecnologia UASB, foram calculados os potenciais teóricos, baseados na eficiência da ETE na redução do DQO e na vazão atual. Os dados referentes à DQO na entrada e saída do reator UASB estão ilustrados na tabela 17. Vazão do efluente atual (Q): 150 L/s = 12.960.000 L/dia Tabela 17: Dados da DQO da ETE - Caruaru em 2014. AMOSTRA 18/03 23/04 26/05 18/06* 17/07 13/08 MÉDIA Entrada UASB 559 502 616 317 810 415 580,4 Saída UASB 169 176 218 289 198 79 168,0 DQO Removido 390 326 398 28 612 336 412,4 69,8% 64,9% 64,6% 8,8% 75,6% 80,9% 71,0% Eficiência do UASB *Dados não utilizados por estarem muito fora da média Fonte: COMPESA, 2015. Para os cálculos, foi utilizado a média de cinco valores de DQO. Entrada da ETE: DQO = 580,4 mg O2/L Saída da ETE: DQO = 468 mg O2/L DQOREMOVIDA = DQOENT – DQOSAÍDA = 580,4 – 168,0 = 412,4 mg O2/L = 0,4125 g/L 63 4.8.2 Produção Teórica de Metano nas CNTP As condições normais de temperatura e pressão (CNTP), são padronizadas como temperatura de 0°C (273 K) e pressão de 1 atm (101,325 kPa). Para determinação do fator K, foi utilizado a equação 4. K(0°C) = (1 atm x 64 gDQO/mol) / (0,08206 atm.L/mol.K x 273 K) K(°C) = 2,86 g/L Para determinar o volume de metano, foi utilizado a seguinte equação: QCH4 = DQOCH4 x Q (L/dia) / K(T) (6) QCH4 = (0,4125 g/L x 12.960.000 L/dia) / (2,86 g/L) QCH4 = 1.869.230,77 L/dia = 1.869,23 m³ de CH4/dia 4.8.3 Produção Teórica de Metano a 27 °C (média das temperaturas no UASB) Utilizando as equações 4 e 6 descritas anteriormente, tem-se: K(27°C) = (1 atm x 64 gDQO/mol) / (0,08206 atm.L/mol.K x 300 K) K(27°C) = 2,60 g/L QCH4 = (0,4125 g/L x 12.960.000 L/dia) / (2,60 g/L) QCH4 = 2.056.153,846 L/dia = 2.056,15 m³ de CH4/dia O poder calorífico do metano a 27°C e 1 atm é 50,00 MJ/kg e a densidade é de 0,718 kg/m³. Logo, o PCI do metano é de 35,9 MJ/m³. A energia disponível por dia é de: Energia disponível/dia = 2.056,15 m³ x 35,9 MJ/m³ Energia disponível/dia = 73.815,785 MJ 4.8.4 Estimativa de Produção de Energia Elétrica a Partir do Biogás Produção de Energia (PE) = Energia disponível/dia x ŋgerador 64 ŋgerador = 0,30 PE = 73.815,785 MJ x 0,30 = 22.144,736 MJ/dia A capacidade de produção de energia em um período de tempo é expressa normalmente em watt-hora e seus múltiplos, como, quilowatt-hora (kWh) ou megawatt-hora (MWh). Na tabela 18, pode-se encontrar alguns fatores de conversão para energia. Tabela 18: Fatores de conversão para energia. De Joule (J) British Thermal Unit (BTU) Caloria (cal) Quilowatt-hora (kWh) Tonelada equivalente de petróleo (tep) J BTU cal kWh tep 1,0 947,8 x 10-6 0,23884 277,7 x 10-9 2,388 x 10-11 1,055 x 103 1,0 252,0 293,07 x 10-6 2,52 x 10-8 4,1868 3,968 x 10-3 1,0 1,163 x 10-6 10-10 3,6 x 106 3.412,0 860,0 x 103 1,0 8,6 x 10-5 41,87 x 109 39,68 x 106 10,0 x 109 11,63 x 103 1,0 Fonte: Adaptado de Atlas de Energia Elétrica do Brasil. Como 1 kWh = 3,6 MJ, logo temos: PE = 6.151,32 kWh/dia Ou seja, uma potência média estimada de 256,30 kW. Bertulani (1999) considera o rendimento dos motores a biogás como 25% e não 30%. Portanto, sendo conservativo na geração de energia. Neste caso, a potência gerada seria de 213,59 kW. Segundo informações fornecidas pela COMPESA, a ETE possui vazão de pico em torno de 250 L/s. E a capacidade total de tratamento é de 450 L/s. Com o aumento da vazão, o tempo de detenção hidráulica fica menor, e reduz a eficiência do reator. Logo, espera-se que na vazão de pico, este rendimento seja menor ainda. Mas como não foram obtidos dados com vazões maiores, foram usados os dados com vazões menores. Portanto, utilizando um rendimento de 30%, estima-se que com a vazão de 250 L/s, a potência teórica chegue a 427,17 kW, e com a vazão de 450 L/s, a potência gerada teórica 65 chegue a 768,9 kW. Caso opte-se por um funcionamento somente no período de ponta, que são de 3 (três) horas diárias, as potências seriam de 2.050,40 kW (150 L/s), 3.417,36 kW (250 L/s) e 6.151,20 kW (450 L/s). Apenas como ilustração, a vazão mínima necessária para garantir a potência de 200 kW firme é de 117,10 L/s, que é inferior a vazão atual da ETE, o que geraria em horário de ponta 1.600 kW. Na tabela 19, será mostrado o comparativo entre as vazões e suas respectivas potências geradas. Tabela 19: Comparativo entre as vazões, potência gerada e potência em horário de ponta. VAZÕES POTÊNCIA TEÓRICA POTÊNCIA EM HORÁRIO DE PONTA 117,10 L/s 200,00 kW 1.600,00 kW 150,00 L/s 256,30 kW 2.050,40 kW 250,00 L/s 427,17 kW 3.417,36 kW 450,00 L/s 768,90 kW 6.151,20 kW Fonte: Autoria própria. Considerando que toda cidade de Caruaru tivesse toda a rede de esgoto coletada e tratada pela ETE, pode-se estimar a contribuição de esgoto máxima através da equação 7: Q= . (7) Onde, Q = vazão em L/s; K1 = coeficiente do dia de maior consumo; K2 = coeficiente da hora de maior consumo; P = população; q = consumo per capta. Logo, têm-se: K1 = 1,2, K2 = 1,5, população estimada para 2014 de 342.328 habitantes (IBGE, 2014), e considerando-se um per capta de 200 L/s. 66 Q = (1,2 x 1,5 x 342.328 x 200) / 86.400 Q = 1.426,37 L/s = 1,43 m³/s Considerando um coeficiente de retorno água/esgoto de 0,8, tem-se: Q = 1.141,10 L/s = 1,14 m³/s. Dessa forma, utilizando os mesmos parâmetros de DQO das análises, podemos estimar a potência máxima instalada, obtendo 1.949,76 kW, e no período de ponta 15.598,08 kW. Utilizando o método de van Haandel e Lettinga (1994), que considera que o metano gerado em reatores UASB pode estar dissolvido no efluente, presente no biogás coletado no interior do separador trifásico ou, no gás residual liberado na superfície do compartimento de decantação. Ou seja, este método de análise leva em consideração que seriam quatros opções para degradação do material orgânico em sistemas de tratamento: (i) conversão em lodo (anabolismo); (ii) conversão em metano (catabolismo fermentativo); (iii) conversão por oxidação (catabolismo oxidativo) e (iv) permanência na fase líquida - descarga no efluente (Lobato, 2011). Portanto, a massa diária de DQO no afluente tem que ser igual à soma das massas diárias de DQO convertida em metano, lodo ou presente no efluente, mais a massa diária de material orgânico oxidado, conforme a equação 8: DQOafl = DQOefl + DQOlodo + DQOCH4 + DQOOxi (8) Onde, DQOafl = massa diária de material orgânico afluente; DQOefl = massa diária de material orgânico no efluente; DQOlodo = massa diária de material orgânico convertido em lodo; DQOCH4 = massa diária de material orgânico convertida em metano; DQOOxi = massa diária de material orgânico oxidada. Na figura 19, apresenta-se as rotas de conversão de matéria orgânica no sistema anaeróbio e no sistema aeróbio. Podem-se visualizar algumas das vantagens da digestão anaeróbia, em relação ao tratamento aeróbio, notadamente no que se refere à produção de biogás e à baixa produção de sólidos. 67 Figura 19: Rotas de conversão de matéria orgânica - a) sistema anaeróbio e b) sistema aeróbio. Fonte: Chernicharo, 2007. Portanto, para os cálculos do volume real de metano gerado foram utilizados a situação típica mostrada na figura 20, mostrada logo abaixo: Figura 20: Rotas de conversão da matéria orgânica no sistema UASB. Fonte: Lobato, 2011. Segundo Lobato (2011), o percentual de recuperação do metano no biogás atingiu 39% da DQO afluente ao reator. E de toda DQO convertida em metano, a parcela recuperada no biogás variou de 50 a 75%, a depender das perdas mencionadas. É esperado, um rendimento do UASB em remoção do DQO de cerca de 60%. Desta forma, estima-se que somente 39% do metano vai ser captado pelas campânulas do UASB, e utilizado para geração de energia, enquanto 30 a 40% do efluente será descartado. Portanto, ao usarmos este valor de 39% de metano nas condições teóricas de produção, terão as seguintes condições de geração de energia elétrica: Para 150 L/s de vazão afluente = 0,39 x 256,30 kW = 99,96 kW. Portanto, se o método de determinação de metano de Lobato (2011) estiver correto, a geração de energia firme por 24 68 horas seria de 99,96 kW x 24 h = 2.398,97 kWh. Se for decidido gerar apenas no horário de ponta (3 horas por dia), no qual o custo de energia é mais caro (elevado), poderia ser gerado 799,66 kW. E se na pior das hipóteses, com somente 19% do metano gerado fosse captado pelas campânulas, para a vazão atual de 150 L/s ter-se-ia uma geração firme de 48,70 kW. Em 24 horas, seriam gerados 1.168,73 kWh, e a depender da forma de operação, como somente por 3 horas por dia, durante o horário de ponta, ainda assim seriam gerados aproximadamente 390 kW. 4.9 Desafios e Limitações do Piloto Apresenta-se a seguir os principais desafios e limitações do projeto piloto para geração de biogás na unidade de tratamento de esgotos na cidade de Caruaru. Destaca-se que o sistema de biodigestão e geração de energia está dimensionado para uma vazão afluente de esgoto mínima de 150 litros/s e desta forma a vazão afluente na ETE Caruaru deverá atender a este requisito. Outro aspecto importante é quanto a necessidade do conserto do sistema de captação de gases no sistema UASB (inspeção e ajustes dos defletores de gás e das campânulas) para possibilitar a coleta do biogás na tubulação específica na ETE, conforme informado anteriormente. Há ainda a necessidade de se adaptar o reator UASB através de conexão entre a fundo do reator com o biodigestor para coleta do lodo de esgoto através da bomba de lodo. Como também faz-se necessário realizar o direcionamento do efluente do UASB para o biodigestor através de uma tubulação. A subestação de energia da ETE Caruaru precisará ser adequada para comportar a carga atual/expansão prevista pela COMPESA, adicionando-se a potência elétrica do sistema de geração distribuída a biogás a ser instalado. Desta forma, torna-se necessária a sua verificação e adequação. E por fim a há necessidade também que os quadros internos de energia precisam também ser compatibilizados para receber o sistema de geração distribuída com o sistema de proteção e medição adequados, conforme normas CELPE. 69 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES Neste estudo verificou-se, que embora haja um potencial de aproveitamento decorrente do volume elevado de esgotos gerado, são relativamente poucos ou quase nenhum os projetos de aproveitamento do biogás em operação no Brasil, e sobretudo no estado de Pernambuco, e em vários países do mundo, com destaque para os Estados Unidos, Canadá e alguns centros europeus. As principais dificuldades encontradas dizem respeito à viabilidade técnica e econômica e aos problemas operacionais do sistema, indicando que ainda há espaço para o aperfeiçoamento tecnológico e o emprego dessa fonte de energia em escala regional. O Brasil apresenta ainda dificuldades adicionais, a primeira dela condiz ao elevado déficit nos serviços de saneamento básico, especialmente em relação à coleta e tratamento de esgotos sanitários nas áreas urbanas, que hoje resulta em sérios problemas relacionados à propagação de doenças de veiculação hídrica e à mortalidade infantil. Podemos notar essa ausência de coleta de esgotos na própria cidade de Caruaru, onde apenas 40% da totalidade das casas são coletadas. Outra dificuldade diz respeito aos equipamentos necessários, que apresentam custos elevados por serem, em sua maioria, importados, requerendo ainda recursos para sua manutenção. Pode-se perceber também, no que diz respeito a estrutura construída para uso e operação da ETE, pois a lagoa de aeração encontra-se em estágio de finalização da estrutura. Verificou-se uma alta concentração de gás sulfídrico, que é corrosivo e confere um odor muito desagradável, além de poder ser tóxico para o processo de metanogênese. Esse processo pode estar sendo gerado pela redução do sulfato para sulfeto, que pode estar presente em concentrações elevadas no esgoto, ocasionando a redução biológica em digestores anaeróbios, que por sua vez é uma etapa indesejável por duas razões: o sulfato oxida o material orgânico que deixa de ser transformado em metano e no processo forma-se o gás sulfídrico. Dessa forma, a produção de metano encontra-se em torno de 3 a 4%, tornando-o insignificativo. O aproveitamento energético do biogás promove a utilização ou reaproveitamento de recursos renováveis; colabora com a não dependência de fonte de energia fóssil; aumenta a oferta e possibilita a geração descentralizada de energia próxima aos centros de carga; promove economia no processo de tratamento de esgoto, aumentando a viabilidade de serviços de saneamento básico. Dessa forma, as tecnologias de aproveitamento do biogás têm-se revelado eficazes no tratamento e na mitigação do efeito estufa, evitando custos ambientais correspondentes ao uso de fontes convencionais de energia elétrica. 70 Diante das considerações apresentadas, é notório a relevância do presente trabalho face aos benefícios econômicos e ambientais assinalados. Por fim, sugere-se a continuidade dos estudos, com monitoramento da implantação dos procedimentos tecnológicos com cronograma previsto para conclusão ainda no ano de 2015. Como também, que pesquisas sejam realizadas para o acompanhamento da geração de energia através do biogás com a comparação entre as vazões afluentes atuais e as vazões futuras previstas na unidade foco deste estudo decorrente da ampliação da cobertura de esgotamento sanitário já vislumbradas, através de um outro programa denominado PSA, que tem como objetivo a universalização da cobertura e tratamento de efluentes domésticos em 100% da cidade de Caruaru. 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABASTECENDO A VIDA. Motor à álcool. Disponível em: <http://abastecendoavida.blogspot.com.br/2010/10/diferencas-entre-motores-alcool.html>. Acesso em: 09/04/2015. ANDERSSON, F. A. T., et al. ”Occurrence and abatement of volatile sulfur compounds during biogas production”. Journal of the air & waste management association 54 nº07 85561 jl. 2004. ANEEL. Banco de Informações de Geração. 2009. Disponível em: <www.aneel.org.br> Acesso em: 24/05/2015. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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